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5.A erianga evacuada (Palestra radiofOnica dirigida a pais adotivos, 1945) ‘Tanto tempo parece ter-se passado desde a primeira evacua- ‘20, e podemos admitir que a maioria dos problemas agudos rela- tivos & evacuaciio estejam resolvidos. Mas quero falar hoje espe- i 2 vocés, pais adotivos, lembrando algumas de svas experiéncias. ‘A ampla divulgagdo de conhecimentos findamentais a res- peito das questdes ligadas & crianga poderia surgir como conse- qléncia de tudo aquilo por que as pessoas passaram. Quase todos os lares da Gr3-B heres me sua experigncia e seus pontos de vista sobre a questo. Acho que seria uma pena desperdicar toda essa experiéncia, Falarei principalmente para aqueles que durante anos mantiveram sob sua responsabitidade uma crianga evacuada, pois acho que sio voces que mais tém a ganhar com qualquer tentativa de pér em palavras 0 que fizer Quando houve éxito, suponko que vocés concordarfio que ain sorte com a ctianga que Ihes foi enviada. O menino ou a enina tinha um certo grau de confianga nas pessoas. Vocés di punham, assim, de material para trabalhar; & realmente mentalmente muito instavel, ou exces: rar coisas boas no que os pais adotives tém te insegura para e a lhe oferecer. rive detingtncia \Vooés alojaram uma crianga que jé iniciara satisfatoriamente seu desenvolvimento emocional. Tudo estava correndo bem antes de voce , se ficaram com ela por um longo perio- do, significa que possibilitaram que sua personalidade continuas- se a se descnvolver ¢ a alimentaram para que seu corpo conti- jcos com uma erianga jé so, por si s6s, uma seu proprio cuagio deve cuidados so apenas parte de algo muito mais amplo: os cuidados ‘ crianga como um todo, @ erianga que é um ser hurnano com uma .de constante de amor ¢ compreensio arguta, A questio . pais adotivos, fizeram muito mais do que fornecer a fol tirada do lar dela ¢ recebi- da no lar de voeés. E a palavra lar parece entéo desligar-se da idéia de amor. Pode acontecer que alguém ame uma crianga e, n0 entanto, fracasse porque essa cria estar em casa, Acho que a questio consiste em que, se voce cons ‘r6i umn Jar para uma crianya, voce ido que ela pode compreender ¢ em que pode acreditar, nos em que 0 amor falha, Pois 4s vezes, necessariamente, elo menos superfici Ha momentos em que iultos podem sobreviver aos perio dos de desentendimento, Assim, acho que podemos supor que se voc manteve uma erianga evacuada que a acolheu em seu lar, 0 que é ‘em sua casa, ea crianga correspondeu e Crangas sob etresve experidnta em tampo de guerra Ee 8 A crianga confiou e acreitou em voeé, ¢ 20s pousos tomnou-se , passou a ser temporariamente @ deve ter encontrado algum modo dé seguiram chegar a um acordo, e mesmo fazer amizade, quando hhouve tantos motivos para mal-entendidos recfproces. da, aparentemente posta paca fora de seu proprio lar ¢ jogada entre estranhos? Nao é de admirar que necessitasse de compreen- No inicio, quando as criangas eram enviadas para longe das zonas de perigo, geralmente estava com elas a professora que jé as conhecia bem. Essa professora constituta um elo coma cidade natal ¢, na maioria dos casos, desenvolvia-se entre as criangas e a ais forte do que o relacionamento dias de evacuagao, to agitados Mais cedo ou mais tarde, a te e admit 8 acontecia entio dependia da idade da crianga, do que era e do tipo de lar de onde vinla; mas todas frentar essencialmente 0 mesmo problema: ou a c1 tava e accitava 0 seu novo las, ou entdo apegava-se seu proprio lar, tratando o lar adotivo como um lugar onde passa~ ria umas férias um tanto Jongas. ‘Muitas eriangas se adaptaram e pereciam nfo apresentar ne- rnhum problema; contudo, talvez se possa aprender mais a partir das dificuldades do que dos éxitos faceis. Por exemplo, eu que a crianga que se adaptou imediatamente ¢ que nunca parecia estranhar o fato de no estar em casa ndo estava necessariamente #4 ___. Privagiioe delingiiéncia faz € a tinica comida gostosa! © mais vomum foi a crianga levar até muito tempo, para se adaptar. E acho que isso foi bom. E preciso dar tempo ao tempo. A crianga permane- ceu francamente angustiada em relagdo ao seu lar e dos seus pais , a verdade, tina boas razSes pare estar ansiosa, uma vez que bombardeadas nio se locais nem participavam de todas 4s brincadeiras; tendiam a man- terse afastadas, arre cotes que recebiam de em casa e em vez de . para compreen- Isao com as bom- ada para manter viva a uando no existe oportunidade para ver ¢ falar com essa pessoa, e ai esté 0 verdadeiro problema. Durante al jas Ou mesmo semanas, tudo corre bem, e ent3o que nao consegue sentir que sua mae seja real on ia de que algo de ruim vai acontecer, de algum mo- mente. Sonha com todo tipo de ‘63 conflitos muito intensos em sua mente. Pior do que isso, depois de algum tempo poderd descobrit que nfo tem nenhuma mentos de amor, ¢ acabara por confiar neles to pacifico e encontrando neles uma refers terre estranha, De repente, numa apoio de qualquer sentimen sabe que se recuperard se conseguir es- de vestuario resgatada de casa, em relagdo a0 qual a crianga con- freqiientemente acaba em brigas. As criangas comegam a rondar tem busca de confusio e quando alguém se zanga ocorte verda- deiro alivio; mas esse alivio no ¢ duradouro. Na evacuagio, as criangas séo obrigadas a simplesmente suportar esse periodo de Giivida e incerteza, impossibilitadas de voltar para casa, e € preci- so lembrar que eles nio esto numa espécie de internato, volten- do para casa nos fins de semana e nas fers. Tiveram que encor ‘rar um novo lar longe do lat. como guardides das eriangas, tiveram que lidar com lidade. Reconhecer compreensfo. Foi num periodo como esse, certamente, que # erianga que vvoeé abrigou olhou para voeé e para seu lar, que, de qualquer mo- éo, era real para ela. Se ni teria voltado ppara casa e para © perigo real, ou entio poderia acabar tendo um desenvolvimento mental perturbado ¢ distorcido, e provavelmen- te passaria por grandes dificuldades, Foi justamente entdo que vooé Ihe prestou um grande servigo. Até este ponto, a crianga estivera travando conhecimento ‘com voces, usando a sua casa e comendo a sua comida. EntZo, cla passou a buscar © seu amor ¢ 0 sentimento de ser ameda. Voce deixou de ser apenas uma pessoa que trabalha para ela & passou & ser quem a compreendia e ajudava a manter-Ike viva a meméria da familia. Vocé também estava presente pare receber as ‘entati- vvas que essa crianga fazia de recompensar algo que estava sen¢ Ges amedrontadoras com 0 mundo estranho que @ cercava, tam- $6 rina ting bem na escola, onde as outras criangas nem sempre eram amisto- confianga no nov ira como voce o geria para tor- isla capes. de integrar-se a ele. Finalmente, ela se terd tornado ‘uma erianga do lugar, como as outra, até indo © dialeto local, Inémeras criangas até genharam muito através de suas experifncias, mas isso ocorreu como o climax de je complexa de eventos, e houve muitos pontos em que 0 fracasso. esti vor, com ums cranga Sab sens euidadon snorme, aiém do bem real feito a cada crianga? da evacuagéo (em si mesma uma tragédia) € que todos os pais adotivos que abrigaram com sucesso uma crianga evacuada passaram a conhecer as,difi des, bem como as recompensas, que envolvem cuidar dos de outras pessoas, e poderio ajudar outras familias que esto fa- zendo a mesma coisa. Sempre houve criancas carentes, e sempre iram pais adotivos realizando o tipo de trabalho que voeés fazendo — e fazendo bem. Quando se trata de cuidar total- fncia é a tinica coisa que con estiver apto, por e solicito de pais

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