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caPtruLo2 ADOMINACAO PESSOAL | “Se queres ser oniporente, sistema social. Como ponto de partida, Jembro que foi na fimbria do sistema econdmico organizado-para.a produgio e comercializacio do café que emergiram as atividades a ele relegadas. Foram esses servigos residuais, que na maior parte nao podiam ser realizados por escravos © ndo interessavam. aos homens com. patriménio, que ofereceram. as ‘oportunidades ao trabalhador livre. 1 Tropeiros e vendeiros: a abertura do sistema social Das atividades acima referidas | wportante foi a ligada a0 transporte em lombo de burros, ve ra.o escoamento das sa- fras e para o abastecimento das fazendas. O tracado das estradas ea INS LIVRES NA ORDEM ESCRAVOCRATA @ estrada de ferro, wer escoar a produ lessa precarissima b portacio ou de gneros| de subsisténcia So vari calmente ser fo farinha”.® Ei im punhado de uum tipo que nao ape- conteiido precisado a lus do regime de propriedade, nas através de sua expressio codificada, que prescreve direitos “formais" a 4 como © por que as relagoes entre nprir pelas v \Veja-se, na passagem segt das transagées comerciais: dispor de alguns animais ... Penso mulada conforme me disse. Dos tr HOMENS LIVRES NA ORDEM ESCRAVOCRATA 6 porque > equipa- um homem des: do. A organiz priedade de um io que Ihe fal asto e de al na pro- apresentava e “pelas iro para ceder estabelece 0 se ss, De tempos em tem- iinhanga e vende os qu reparados ganho, © preco que inconscientemente iti aga por isto ndo € pequeno, pois at ine Pouco importa que essa © seu estoque, o tropeiro readquira seu espago “quando todos os seus burtos sio vendidos, os, faz novas compras, havera sempre um senor, sob cuja égi nercé dependerd o éxito de seu trabalho. ple 70 MARIA SYLVIA RANCO OMENS /RES NA ORDEM ESCRAVOCRATA de comerci deito no comércio d Pequenos ica exceptional tmaiores). Nas im, desde as curtas e simples vi grande e complexa caravana por ca aqueles que de aq 1m tropeiro experime irante a viagem. Qt rroducente € 2 Nesse grupo de co es de empreitada. Sto os mais o. Entretanto, do grupo, sesso e complicada dessas caravanas nos ranchos F janta a parte, 8 de fardos gu homem pobre livre: “Todos eles trazem um grande tar madeir de tras .. Serve para arreios, cortar carne, e em caso de necessidad para se defen: ‘mesmo assaltarem" ro lado da sociedade. Espectalment um 10 socioeconémica. Bemsucedi lucrati tem necessidade de ser a as intengbes do tropeito, homem j de algumas posses e que nio aspira sen finitivamente HOMENS LIVRES NA ORDEM ESCRAVOCRATA (© movimento de tropas foi, em larga medida, também responsivel solidao e do aspecto em geral inculto da regia (Ge encontra) um grande rancho dos ranchos era, por toda a parte, a mesma: barracio sustentado. por tamanho ¢ limpezs Destes tiltimos estabe- as provisées espalhadas em confusio, a co: cobertura de telhas, os interiores em ordem e com. nfo estavam circunscritas a vizinhanga de vilas e cidades.* 19 SuineHil 20 Walsh, op. ci, p.248 el, espectvemente 21 CE. rambéen Rugendas, 1954, 22 SeiyeLongchamps, 1875, p70; Saine 23 Wal di mY 2 SeiyeLangchamps, 54,9 1954, p28, 89, 116 12 * MARIA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO s vendas, aparecendo uso “é gratuito e os proprie- scesso as suas terras?.? As vezes las, ¢ isto nas regides afastadas da trajetsria dos carguel iandose ao abastecimento e recreacio dos habitantes dos arredores ligada a atraem seu provavel fazenda, ran io se pode fa'acima especi as propriedades ter wenda. complexe HOMENS LIVRES NA ORDEM ESCRAVOCRATA isto se desenvol o de terras pode ser jos personagens centre esses trés processos & a figura no que con na entre os dois fazendeiros. Je se achavam Rodri regados, em frente a casa d Rodrigues lhe 0G, 8665, 1895, IA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO Em lamente tachada co penalidades era exatament ia: mais compensava vend bbem onganizada em estratos definidos, apresentav. vel fluides, Esse esta de coisas manifestavase, fez parte de um forte sistema cefetivamente existentes. Reto: sues, 105 0s processos que le mesmo hor revela as circunstn tada, ocort se crime. Apos a agregado e 0 Ci este “montou a cavalo e seguit para a sua fazenda; 6.9751, 1892 OMENS LIVRES NA ORDEM ppara sua casa, sendo acompenl mesmo caminho que seguiu Rodri deu wor de pri 3 ines foi que Tereuli Rodrigues, vendo e Por essa morte foram res; 1 testemunha acima e o vend com 0 Comen do que o também seguide .endador sofres ues, que estava disposto a De seu lado, no proces- crime, o Comendador cde que fora por engano cestava por terra, deixando irse o agressor: » deu vor se a contraprestacio de ser submetido com os i 3s: de uma parte, a eresses do mais podero até 20 assassinato; de outra, o cumpri estranhos. Voltemos a situagio de MARIA SY esperar: 0 da lei e da p lara carta no bolso com sossé percebe como a te entre as camadas de homens 12 em que status e dist iscricto bem menor n tempo ot trazia 08 escravos ¥i MARIA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO. teram em certa medida num may ia sociedade co tamente ixam bem. A desprezo ¢ reprovacio por parte dos p Assim, contestan vendeiro, que as ouvira nada pode resultar do presente depoi re a0 dito de um escravo, sé tendo mérito de mostrar que @ testemunhha tem relagds le com o escravo, a quem recebe ite em sua casa, sem ciéncia de seu senhor, por cuja informagbes pi escravo, diz sade se interessa e a q) 1a nfo ser assiduo uise uma ameaca para fazer ntra as quais serd de hoje em di sm seu proprio eq expediente consistem, para a uma ordem social em que st A malandragem, possivel de acomod sista, nao é para dotar aquele que a exerce de uma situa. io e uma correspondente po Para que se compreenda a real posigio do vendeiro na socied enfatizar a sua condig tegrava o grande propt local, transcorrendo as suas operagdes nos centros urbanos. Mesmo a aquisicéo de géneros e artigos nao HOMENS LIVRES NA ORDEM ESCRAVOCRATA 8 parte esporidé nias suficientes para suprit as suas reduzi- s necessidades, Isto faz do pequeno comerciante do bairro ou da beira inheiro de mane desse fluxo, que ele € necessariamente intermitente, leva o vend vias menos licitas a falta de regularidade no rendimento de seu negécio. 2 duplo les comercial e desintegrado do sistema local e outro de dose apropr lade que se insere a planos (depende do comé nio Ihe sobra muita escolha sendo explorat vorazmente todas as oportunidades de lucro que Ihe aparegam € que sejam capazes de compensata rot abastecimento supérfluo ‘uma populacio sem c sem necessidades Com esses elementos compreendese bem as reclamagoes vivas€ fre quentes dos viajantes sobre os abusos de set ia na venda aparece rto um grupo de “que nfo Fa nfo ser por ot ue (0 vendeiro) tena sido a furtos feitos pelos denunciados; que sabe que za mesma casa em que mora o vendeiro, que nao sabe mas que observou que o dito (denunciado) atecendo esperar a noite para sedusit 08 escravos nunca aparecia d da visinhang taddoss que ipado, morand: roles, 1941, p84 82 MARIA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO. (o dono da venda) comprando produtos da lavoura furtados, provavel- mente o fora por ordem de seu patrlo, porque essas vendas de bairros e 4 ra de est wee de fi Nese relato revemos 0 padio de relacdes atrés indicado, repetido ratificagio social: de novo 0 de dependéncia sumer formas mais sutis qu 0s ¢ eficazes de domi- Sobre um deles informa Saint Hilaire que “adquire café para o revender no Rio de Janeito e a venda oferec de comps cemse de géneros na sua venda, ra época da colheita café por muito bom prego”. Desse mod ela o , as funcoes de vendeiro e feitor 5 aguele que as exerce dispoe de uma arma ext senhor sua demisséo de feitor. Na manha se 1 ndoos quando eseravos ede rerras, encontra o que Ihe vezes chega a dignidade de comendadk Por ai se avalia o ren > € se percebe que tropei dessa am mos integrado av ento quanto sua fregues Assim: “achandose Quinti casa de ney ando Joao Raimundo, © es de contas jo vozes de parte a parte, sugere nos padroes de violencia 8 MARIA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO suficiente pat indiferenciagao social se define. um do homem livre € px indicar que sob uma io hierarquizador da sociedade foram também aparecendo as re- sistencias a ele. A agressdo do proprietirio de terras pelo vendeiro e o ataque a este por seu fregués evidenciam como as respostas ‘opdem a0 exercicio da dominaggo. Ambos os processes - tanto a do- tensdes que suportam a estrutura social e apreender por que essas ten- sGes slo canalizadas para uma expresso violenta, 2 Sitiantes: os fundamentos da dominacio pessoal manteve o grande propri que aparentemente os nivelava. O ponto de part seguinte seré uma entrevista com um memibro de abastada familia de fazendeiros de café em Resende, nascido na década de 1870. De acordo com suas palavras, “no hi ¢ sitiantes; havia mesmo amizade. ros “frequentemente eram compadres HOMENS LIVRES NA ORDEM SCRAVOCRATA 85 virias ocasibes © que este necessitava, ¢ frequentemente tomas Ao mostra, também, que a des de transformarse numa peca do processo de as da casa et uma relagko fortuna cinio do; 10 um pateo- ferior. Quand goes decorrentes do batismo de josas sho interpretadas no sentido de encaminhar a crianga na vida. “Como naturalmente o padrinho deseja cumprir sua promessa com a menor despesa possivel, o gue de melhor pode fazer sendo prover o jover, tio logo tenha idade adequada, com no tem o suficient Po ria a influencia do Duque, Marques, Bardo, Comendador, set mantida mais facilmente que criando novos cargos © novos funcionsrios?”* Para que se tenha presente o quanto ‘esse recurso foi explorado, basta lembrar o: juiriu_na vida publica eo suporte p: thados". Ampliandose as trocas do cor mpreendese como deriva dele toda uma inerincada rede de dividas ¢ findaveis porque sempre renovadas em cada 1am process sm cada um do em que se consome. portante nao igr mento de equi ca sobre 0 q os de significa inte e o Erato © comhes , Seria empobrecer estratégico para se 86 ADECA que pese a diver le sua prop como.técnica de don evidenciaram u tropeiro e do vend rizagio dos homens livres bem como a social, por sua vez, fica e a0 d lestino di deiro entrevistado: “se os sitiantes da redondeza estava de terra, emprest sempre o acompanhava, er chefe conservador da zon HOMENS LIVRES NA ORDEM SCR OCRATA 8 ". Aiest tes: a depend lado contritio. Umass Por esse motivo mesmo, a8 1 10 do poder politico né ado ou 0 aliciamento de prosélitos, mas se orga: ado das elei- ia, sem diivida, recursos di menos pon 1856), MARIA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO je uma certa durabilidade. Tanto es entre eles estiveram dotados 0 como sitiante foram donos de terras, Jessa propriedade e nela vivens as suas relagbes permanéneia e continuidade. Essa ‘08 seus interesses € consequente afastamento daque! terrenos. Essa persisténcia de u frio fundamentou, para m sistema de referéncia em que o tempo mnstituiu um fator de grande importincia: 0 presente e o passado est m encadeados numa sucessio de gracas recebidas e de servicos pres- fururo firmemente confit assim fixadas. Desse podero Nessa ordem © voro ndo encontrava condigées para se jo de uma auto- utonomos. Neste determinagio enraizada na consciéncia de interesses ra algumas de suas ra este trabalho, distanciado do cotidiano das popul interesses. Isto no deixa de ser um pont midades de Jacan es, evidenciam como esses acontecimentos nao atingiram nem. provocaram reagdes entre os moradores da regi sem ela, a vida desses homens nio se n ‘Mas mesmo a parte da populacio afetada por essas transfor- que se influencia sobre os habitantes desta zona paulista.... a mudanca de 3 fer mal nem bem, por conseguinte no sentem 0 menor ES NA ORDEM ESCRAVOCRATA % restabelecimen- thes causaria dano porque se os portugueses fossem os tnicos compradores de set teresses co” itico cariter de c “Professam como mpl utrora © mesmo res iam sempre do rei como érbitro supremo de cus filhos. E sempre a0 rei que pertencem os n dos ris etc." Nesse cho esta a pista ea compreender por que as implicagées politicas dos Basicamente, a nogio de nntritio, Estado na consciéncia ym a pessoa do principe e governo se tos e decisdes ou com as de seus representantes. cas de governo, q tariam da autonomia da coldnia, jo caiam na esfer scitncia desses homens como @. O que ha de certo é que q posta tio répida q por si decidia e isto é muito desagr indo nosso general tudo Aparecem que deve ser para a asfixia da conscigncl to dado. Nao s6 ficam visfveis apenas os segmentos ilumi ded ora, mas sobn fe p10. * MARIASYIVIA L CARVALHO FRANCO iedades e as qualidades da “autorid ados com 0 de sua apreensio no. Pareceme que esses comentarios p es diretas. As resti ide representam Na verdade, essas pect revelam- tia de um minimo de estereotipacio em relagces xiedade em que o poder Idades pessoais, ¢ imediato compreen- grand idade e apresentavam uma intensa mobilidade belecidos nbém aqui dos grandes p representavam, A area da pol observar a dependén ante parcela do cleitorado, era certo e seguro, mas desde que mantidas as con- o. Nessa medida, influéncia nesse setor, precisava continuamente preservar & a vontade de seus seguidores. Assim, é nessa drea que se perceb: imitacio do poder exerci vida econdmica nada restringia sua arbi dem fa que entre homens livres no escravo, ea eventual privagio de ot afetava tas ocorresse uma transferéncia difusa di VRES NA ORDEM ESCRAVOCRATA, a 2 MARIA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO nentos que apreendem ¢ goes, a comunidade de destino em da ago do fazendeiro para a observin- ¢ obrigagées, requisito fundamental para a am ser semelhante. E desse reconhecimento, por- ea de dominacao social sa “consciéncia de indifes neste trabalho de seus direitos. Muito p a dessa dimens’ lades de de ordem psicolé- os fatores decisivos para que os homens s espertos, di HOMENS LIVRES NA ORDEM ESCRAVOCRATA 93 eis de ‘como categoria so- se manifesta mento que postula diferencas individuais e fr protetor e benevolent. 7m efeito, ¢ necesséria a premissa de uma sociedade na qual todos , que oferece s para todos, os seres humanos, tanto, que nfo s6 no tratamen- 0, como na representagdo consciente do fazendeiro, o si lade se reforca quando domina ves ps pessoal, mobilizava basicamente de uma associacéo moral. idade enc © sentido de conceber e alentar a s reconhecimento do beneficio recebido, o sentimento de gratidio por ele © 0 im ro de vista fe como pessoa era com- coma pratica do pleto. A con ito de propri ostram como a la social se cia dos at faculdade da razio. iplexo que encerrava senhor, da humanidade de seus depei ajustamen- de seus predicados moras, ids. Ea a OMENS LIVRES NA ORDE AVOCRATA we de seu depen ak pelo mené projecao ind asa partir das te desenvolvida, a dominaci pessoal transforma aquele que a softe numa eratura domestcada: prote- io € benevoléncia lhe si quais ela poderia se const hecida, confinandoas a em troca de fidelidade e servigos reflexos. Assim, para aquele que esti preso ao poder pessoal se define fecha insensivelmente no conformismo. XIX quase no ha referéncias a conflitos entre 6 combinarse um que as tensdes emerjam e venha visto que ida pela simples desig expropriagio da terra: em regra esta ocorreu sem que os detentore is forte sobre ado mais, 6 MARIA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO equenas parcelas de terreno, donos ou posseiros, pudess se posseiros, simplesmente no podiam fazer frente a pulsavam. Em qualquer ido era seu afastamen ra. comercial A seg 2 observar 0 modo par gam a se enfrentar por mais de meio da grande propriedade pri 10 antes que uma forma de dominag época em que se imitrofes, requ um grupo de originalmente eram “pos terras entre proprieti aderentes umas artes, parentes, ami esté configurad entre as partes. Outro fator, q antepassados, aos quais foram legados em te Embora a sit terras foi nesse ENS LIVRES NA ORI ESCRAVOCRATA 7 do dito capitiomor & ue dele, segundo consta, recebeu assisténcia essas rela ‘0 fato de ele conti juiz conf da propriedade e em 1897 tem Ses tinham raizes num est inclusive o uso da terra favoravel as pretensbes do grand armada a execusao d que se ertenciam ycentes a seu convivio. Ela 3. Agregados e camaradas: necessidade e contingéncia da dominagao pessoal fe acesso & terra p taram o ajustamento social do homem pobre pela sua incor relativamente autossuti fi perso e q sso de formacio da socieda = 08 be 1g0 peri brasileira, pers ide a adapta s, mas de modo a perm jal se compl ‘grande propriedade EI ceconomias de mercad sociais. Houve sincron res em terras devolutas ou nao explorads fora dessa série aquele que se transforma em camarada lista ¢ sua desorgun 58 Sobre o a “Antonio C reflete novas e adversas de existéncia. O dade de abs OMENS LIVRES NA ORDEM ESCRAVOCRATA % amente, ibutos do tipo social anterior. O agres idades im processo que em 1 setor da sociedade que esti articulado) a carente de suas proprias bases: solicitar datas em. sma familia, levou a da producia.e,.o.que ¢ ainda m: MARIA SY 10 FRANCO s mesma, isto & a wwoura, mesmo quando a f yndicses baisicas em que ac mente limitada ~ perm tradicional 0 preservaram da transformacao em “tr que 0 agregado fosse 10 de ficar na terra. O far e tendo nfo tratou scons plicam queelees em c com o setor mercantil. O tante que sua a ia desconti NA ORDEM ESCRAVOCRATA, to -mprego escassa ¢ incerta, deram a esse homem a liberdade de tor pesar de nao haver imposigio n 5 encargos pessoais que 0 confiar. Prossegue o depoimer . ham de depor perante a ssa incumbé © encarregarase dessa com! \Gdes pessoais aparecem igualmente associa cumprindoas também 0 fazendeiro: “Ro- ima é parte d este trabalho, referentes ao assassinato de fazendeiro. Prossegue m trazer a esta cidade, mente ao deleyado”. Do depoimento de outra mbém que o fazendeico “foi a sua casa do caminho, pois a esse tempo era seu agregado, e dissethe q casa de Rodrigues passar a noite com ele que estava esfaqueado”, ninentemente pessoal que toda a documentagao. esentada revela no trato entre fazendeiro e seus dependentes. Mas caso, num ass c dessas relacies vista o ofendido enquanto pessoa, isto é, a obseredncia de humanidade. © fazendeiro, em ver de dariedade seria frontalmente transgredir a um imperativo social. A agio do agregado, bem & posses. Quando incorporado 4 esfera da Justi das de terras registrar adlos como pecas para qu speitas, inadmissives, Essas testemunha MENS LIVRES NA ORDEM ESCRAVOCRATA os procuraram consente que ele e a far ando precs for que o serve por conta de s Sua afiemacto de independen: iténoma. Em processo vem, uma das testemunhas relata que o-rétt le Ihe respon. n.o consentimento de seu patrio, porque cera agrega com o risco de transgredir A fidelidade we de incorrer na des end familia, como s a propria episédio: dele depoente e 1 de 200$000, ps Disse que o de scar a mulher que havia no a deixasse ir sem que dose de raz Completa uma das foi tentar se opor a que Z; intes de er m rr corolétio a atitude do 104 MARIA SYLVIA DE CARVALH mana, Num crime de agressio em qi narada e dois escravos, relataram estes 0s omem livre fosse culpado. Seu sent ara “Antonio, que ha pouco tempo hav ito José e que isto f to, declara io, este Ihe as que “indo lara dizer qu cial do homem po- para 0 exercicio dos mesmo a a eitos do c como 0 r ign. Escre- Sérgio da seu nobre e d pram colonos 0 meritissi hada e ex Jos”.® Sem disfarces I desses individu (Como fecho da reconstituigio HOMENS LIVRES NA ORDEM ESCRAVOCRATA, legalmente sancionada. Procurando resolver das, um dos de sujeitilo & servida ® apresenta uma onde se I: serdo feitas de mo pelos visinhos que dela se n a quarta parte dos seus 1 pessoalmente fazer 0s “Art. 12 - O inspetor, avisos para of trabalhos ar ssoas para conjuntamente © fazerem. Essas duas pessoas fica iio para que convidarem. is ou extraordinatios, poder encarr balhar na reu! dos os servigos e obras da estrada, respectivo petor comunicara ao fiscal, remetendo trabalha- dores que concorreram pi concorrer. Servird de p de quando h Com bre na consciéncia da camada lade, as escancaras, entre 0 do a natureza dos en: dez este documento projeta a visio d minante. Ela 0 aproxima do escravo legalmente sujeitos. Eneret ao dese homem pobre para ages que Pr de seus atributos humanos em sua expresso 1 Notese também como um padiio sua palavra d mandose a trabalho coletivo ~ ¢ reelaborado, t 1s de ajuda métua em canal para a dominagio € MARIA SYLVIA DE CARVA FRANCO cria impostos que se tra itiva de sua sua pessoa como sua pro- imos documentos apresentados, a contradigio ssoal aparece em su depe ese levada a0 extremo a assimet bitrariedade do mais forte e ref reando a sul mais fraco, is de interesses. Destas di interesse prevale dia a preservacao mesma da romessas agregados ou c se achavam presos, segundos ¢ onde as regr interesses - INS LIVRES NA ORDEM ESCRAVC nais”. Assim orien is dependentes. Sempre que co sScios, 0 propri Je terras deu prio Sse seus nterrompesse 503 sobre assentava, em larga medida, 0 lavrador, nos da a conhecer como avel mento fzem 0. is ou trés mi 1a fazenda, tal u,¢ pedivthe sua protesio € ado a vitima por neces estar fosse trabalhar do que o defeiadesse”" istragdo das expet ‘bes de dependén + pre 1 G.272 1691/ 108 MARIA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO HOMENS LIVRES NA ORDEM ESCRAVOCRATA ~Teodoro =, com um fetor a seu ser s lvouras tr: 5 eu. Apesar da diferenga io expe, p mina de nivel social, a ligacio entre homem e mulher amasiados nao ocorreu ildade dos compromissos pesscais, a “consciéncia niveladora” mediante uma degradagéo desta, como no esquema de relagdes lade de um: entre senhor eescra , pela insergio regular do homem no as partes do processo nos desenham fem seu reverso, por um estado real de arranjo estrutural e dos processos mia. Postos & margem do, vida social e ec . Zeferino, estabelecida. Quero frsar, con- ¢ com tet a porque entre fi lagBes baseado no reconhecimento dependentes subsistiu o padrio de rel seseus sa dela informante”. A propria vitima, antes de morrer per tinha ofendido, respondeu sit ‘outro como semelhante, como pessoa. Compreendese afinal como, sido seus amis numa sociedad economicamentediereniadac autoeritca, que postu Essa telacio “niveladora” se conjugiva & presta la € a0 mesmo tempo ni bi ns, embora pou a, au °. Depde um vendeiro “que Zeferino pediwihe uma vez dinheiro para dar 3 dita Ignés e bem assim pagouth minagdo, vem confirmado nas declaragdes do réu 20 adi fendido, eram, o condi desvencilhamento e por Processo se radicaliza. Tornase, desse modo, enfrentem ousadamente a exemplo, relata qu is mandando cha com qu asa, da ca a em pagamento de seus vam”. A certa altura dessas relacoe que ocorreu este ntudo, as expect seu autor participava regularmente d ‘em perfeita hs um certo tempo, porém rustrad: im dos proceasos sobre assassinate pdeem foc aque integra diferencin tendo por resultad las passageiras entre ele 0s ignés, Isto aparece re relatadas por N diatamente anteriores & morte, ne aparece em casa del 1-0 dito Zeferino, pedindolhe seus fillhos. Disse mais que Zeferi ashi cerca de um ano. Seen, 19 59 0 MARIA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO ‘em que se sa mao do acusadlo e aquele Ihe em semelhante hipétese, dar nos c pratica ces da ordem dependentes atra- vase também a auto- . a cometido o crime sem “io e por um arrebatamento inesperado do m definiuse num io das rela nto”. Em resumo, o destino do homem pobre regido por os divergentes de o: te estereotipadas as relagdes sociais bisicos para a constituigio de uma mem pobre a pc Nessa ordem de coisas, de integrarse aos grupos dominantes. das numa jiquecer e ascender sc em que progressi ‘como uma graga ¢ ele préy lealdades que 0 prendia aos m: de voluntariamente aceita, fechandose a poss cle nem sequer perceber o contexto de dominio a que esteve circunscrito. Nao obstant existéncia ~ a mesma dispense jue poderiam lagdes entre ambos. Num horizonte em que prevaleciam os intereses econdmicos, ¢ sob a pressio destes, 0 50s que © prendiam a0 2 MARIA SYLVIA DE CARVALHO FRANCO ido de mi wo poderia chegar a ser form caminho, esti, novamente pobre do século homem, sujeicio advieram justamente fe esse vazio no poderia se organizasse para romper ir um mundo seu. Apenas epi ia a partit da qu: 1¢ 0 prendiam e para consti sodicamente, cor as travas crural exite agrupamentor ue ge de poder ce interpre como “restesio IVRES NA ORDEM ESCRAV, RATA iy esforgo de organiza que se c ipira: estas se sublimaram em representactes nost bora estivesse dada como pi le de querer iam sentir mais seu desafio a orde s suas proprias foreas para afirmarse. Ni mmo, a negacio da ordem so e sua resistencia apareciam personificadas io © em seu opositor ial. Neste ponto, reaparece 0 leas relagoes entre homer varcas € onde a pessoa emerge como o ponto de referéncia fundamental para pensar ¢ agir: nesse mundo, 0 movimento teflexivo ‘movimento em directo » podia ter do mundo em qt limites da transcendéncia gem e a violencia reapatecer vida do caipira. cal 3 O HOMEM COMUM, A ADMINISTRAGAO E O ESTADO

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