Você está na página 1de 15
Carlos Fausto Os indios antes do Brasil Jorge Zahar Editor Rio de Janeiro Copyright © 2000, Carlos Fausto Todos os direitos reservados. A reprodugio nio-aucorizaa desta publicagso, no todo ou em parte, consti volagso de direitos autoras. (Lei 9.610198) 2000 Direitos para esta edigio contratados com: Jorge Zahar Editor Leda rut México 31 sobreloja 2031-144 Rio de Janeiro, RJ cel: (21) 2240-0226 / Fae (21) 2262-5123, e-mail: jre@zahar-com.br site: wwnwzahar.com.be Capa: Carol Sd e Sérgio Campance ustrasao da capa: Guache sobre papel canson de Fabio Antdnio Demétrio, indio tikuna. (Selecionado a partir de um conjunto de desenhos feitos pelos Tikuna, ‘especialmente para esa edigo) Vinheta dz colecio:ilustragio de Debrer ‘Composigao elecrdnica: TopTextos EdigBes Graficas Leda Impressio: Cromosece Grifica e Edivora (CAP- Brasil, Caalogagso-nafonte Sindicato Nacional dos Editors de Livios, RJ. Fausto, Carlos F272i Os indios antes do Brasil / Carla Fausto. — Rio de Janeito: Jorge Zahar Ed, 2000 il. — Descobrindo o Brasil) Apindice Inelui bibliografia ISBN 85-7110-543-X 1. Brasil ~ Histéria~ Até 1500. 2. ndios do Brasil Titulo, I. Serie. CDD 981.01 0.0106 cpu ssi Sumario Introdugao_ 7 Uma visao continental 9 A sombra do Inca 16 Sob as altas montanhas, a natureza 22 O. nosso Nilo 30 No reino dos caciques 36 A virzea na historia 42 Fortes entre canais 51 Aterceita margem 60 As margens do mar 68 Apéndice 82 Cronologia 84 Refertncias ¢ fontes 87 Sugestoes de leitura 91 Agradecimentos 93 Sobre 0 autor 94 Hustragbes (entre p.48-49) Créditos das ilustragdes Mopas Mopo 1. Adaprado de Handbook of South American Indians, Bulletin of the Bureau of American Ethnology 143, Smithso- nian Insticution, 1949, vol.5, p.670 Mopo 2. Adaprasio de Irving House, The Tainos. New Haven, Yale University Press, 1992 Mapo 3. Bacia do tio Amazonas ‘Mapa 4. Adaptado de Michael Heckenberger in Adauto Novaes (org), A outra margem do Ocidente. Rio de Janeiro, Funar- ce/Companhia das Letras, 1999, p.141 ‘Mapo 5. Area de ocorréncia do cerrado ‘Mopo 6. Expansio pré-histériea dos Guarani e Tupinambé (Segundo Brochado, 1984) Caderno de ilustragdes 1, Urna com decoragio excisa. Aterro Fortaleza, Marajé. 2, Maloca no rio Aiari, Alto Rio Negro. Foto de Theodor Koch-Griinberg, 1903 3. Ritual intertribal no Alto Xingu. Foto do autos, 1998 4, Aquarela de Joaquim Freire (1787), desenhista da Viagem Filosifica de Alexandre Rodrigues Ferzeira 5. Vista aérea de uma aldeia xavante no rio das Mortes. Foto de Helmut Sick, década de 1940. Arquive Museu do {ndio 6. Indios Aikand (RO) praticando headball, Comissio para 0 Escudo das Jazidas Auriferas do Urucumacuam. Foro de Victor Dequesh 7. Tatora, falante de lingua tupi-guarani. Foto do autor, 1989 8. fndio Bororo. Foto de Heinz Foerthmann, 1956. Arquivo Museu do [ndio Introdugéo Imagine-se nas Américas no momento de sua “desco- berta”. Imagine-se um membro da expedigio de Co- lombo deixado, em 1492, na ilha de Hispaniola. Ima- gine que, trazido a0 continente, vocé teve tempo de conhecer a América do Sul, de ponta a ponta, antes de Cabral aportar por aqui. O que teria visto? Como viveriam os indios? Quantos eram? Como se organiza- vam? Como eram suas aldeias? Quem eram seus chefes e especialistas religiosos? Como conduziam a guerra e cultivavam a paz? Estas sto algumas das perguntas que este livro prevende enfrentar. A tarefa nao é facil, pois vocé, leitor, se aqui esteve antes de Cabral, nao nos deixou nenhum escrito. Para conhecer os indios antes do Brasil temos que recorrer as evidéncias fornecidas pela arqueologia e pela lingiifs- tica histérica, conhecer as descrig6es legadas pelos co- lonizadores e missiondrios dos séculos XVI XVI € estudar as populagées indigenas contemporaneas. Mas nem assim estamos em terteno seguro. As 4reas tropi- cais colocam obsticulos consideriveis 8 arqueologia. ate CARLOS FAUSTO| Os solos dcidos ¢ as intempéries naturais destréem boa parte dos registros da presenga humana. Tudo, exceto apedra trabalhada ea ceramica, vira p6: ossos, madeira, palha, restos de alimentos preservam-se mal. Ademais, a floresta densa esconde a maior porcdo dos sitios ocupados pré-historicamente, Ha vastas 4reas do con- tinente que sio ainda hoje terra ignotado ponto de vista arqueolégico. Tampouco podemos esperar respostas seguras da lingiistica, pois estamos longe de esgotar as tarefas de descricdo, comparagao e classificacao das linguas indi- genas, que sao bisicas 4 reconstrugio histérica. Quanto 20s escritos dos primeiros séculos da colonizacao, além de lacunares, devem ser lidos com cuidado. E preciso interpreté-los criticamente, pois neles misturam-se os medos € os desejos dos conquistadores, que buscam descobrir ouro, catequizar os gentios, ocupar a terra, ‘escravizar os nativos, Ademais, nenhum texto baseado ¢m permanéncia prolongada entre os nativos pode ser considerado fora do contexto colonial — o Brasil de Anchieta, 20 menos no litoral, jé ndo era mais o mesmo daquele de Cabral. Por fim, devemos considerar 0 que os grupos indi- genas contemporaneos podem nos dizer sobre as po- pulagdes do passado. Sera que os sistemas sociopoliti- cos e cosmologias atuais guardam alguma semelhanca com aqueles existentes na época da conquista? Em matéria de demografia ¢ geografia, as dessemelhangas a8 (0 INOIOS ANTES BO BRASIL sio notiveis: hoje hé possivelmente 1/20 da populacao indigena de entao, e a calha dos grandes rios ¢o litoral encontram-se reocupados por pessoas que nao se iden- tificam como indios, Poroutzo lado, 0 encapsulamento los povos nativos em um estado nacional e sua insergao na economia de mercado trazem conseqiiéncias dantes ausentes, Todavia sugiro que a etnologia pode fornecer um olhat critico as interpretagées histéricas e arqueo- légicas. Para isso, no entanto, deve-se explorar um plano de continuidades entre o passado € 0 presente que nem sempre é evidente. Tudo somado, é possivel dizer que vivemos em uma ilha de conhecimento rodeada por um oceano de ignorancia. Sabemos menos do que deveriamos, mas felizmente ainda podemos saber mais. Para avancar cumpre fazer as perguntas certas. Uma visao continental Antes de focalizarmos algumas regides da América do Sul, é preciso ter uma visto geral do continente, Ha duas razdes para isso. Os sistemas sociais indigenas existentes as vésperas da conquista nio estavam isola- dos, mas articulados local regionalmente, Ao que tudo indica, vastas redes comerciais uniam dreas povos distantes, Movimentos em uma parte produ- ziam efeitos em outra, por vezes a quilémetros de CARLOS FAUSIO distancia. O comércio, a guerra ¢ as migragées articu- Javam as populagées indigenas do passado de um modo mais intenso do que observamos hoje. Uma visio continental é também necesséria porque muitos dos modelos sobre a pré-histéria ¢ a histéria do continente foram forjados a partir de uma oposigio entre as terras altas e as baixas, De um lado, a grande formagio montanhosa andina, que se engue paralela 4 costa do Pacifico; de outro, todo 0 resto a leste (mas, principalmente, a floresta tropical). Oposigio entre terrenos dridos e montanhosos, grandes escarpas, va- les-odsis e costas secas, e uma floresta luxuriante, verde, densa e imida. Nessas matas, porém, néo floresceu uma civilizagdo capaz de cultivar intensivamente o solo, domesticar animais, dominar a metalurgia e co- nhecer os ardis do poder; a0 contrério, foi na aspereza andina que se ergueu um império, cujos tracos ficaram marcados em pedra e metal Daf advém uma questio tecorrente: por que nas terras baixas nao se desenvolveram sociedades politica- mente centralizadas, estratificadas e urbanas como nos Andes? A indagagio ronda como um espectro a antro- pologia deste continente, refletindo uma visio que é contemporinea & prépria “descoberta” do Novo Mun- do. Os indios do Brasil foram logo caractetizados como gente sem religiso, sem justiga e sem estado — uma idéia que, elaborada pela filosofia politica, serviu de base ao imagindrio sobre o homem natural ¢ o estado 10+ (5 INDIDS ANTES DO BRASIL de natureza. No século XIX, outras dicotomias soma- ram-se & oposigao entre natural e civil — parentesco versus politica, sangue versus territério, status versus contrato —, constituindo um corte entre sociedades, organizadas por lagos de parentesco (mais “naturais”) e aquelas estruturadas segundo vinculos politicos (mais “sociais"). Essa dicotomia est na base das hipdteses ¢ questdes sobre a América do Sul is vésperas da conquista. O mais influente modelo continental foi proposto pelo antropdlogo norte-americano Julian Steward, na déca- da de 1940, quando da publicagao dos cinco volumes do Handbook of South American Indians (Guia dos indios sul-americanos, referido daqui para frente como HGAl]. Para organizar a diversidade das culturas do continente, Steward propés classificé-las em quatro grandes tipos, hierarquizados em fungio do nfvel de complexidade. A tipologia, embora utilizando um con- junto de tragos variados, fundava-se em uma associagio estreita entre ecologia, modo de produgio ¢ organiza- ¢40 sociopolitica. A esses tipos corresponderia uma distribuiggo geogréfica dererminada, conforme se vé no mapa 1 No estrato inferior, temos os chamados povos mar- ginais, um conjunto heterogéneo de sociedades defini das por possuirem uma tecnologia de subsisténcia mui- to rudimentare por carecerem de instituigées politicas Seriam predominantemente cagadores-coletores nd- =i & Mapa 1. Mapa da Distribuigio dos Tipos Culturais da América do Sul segundo Julian Steward. Em preto, os Andes Centrais;em linhas horizontals, os cacicados do mar do Caribe; em xadlrez, a tribos da floresta tropical; em pontihado, os marginals. As linhas diagonals referem-se aos semi-marginais, categoria que o autor nao elabora 12. (05 iNDIOS ANTES DO BRASIL mades, vivendo em pequenos bandos e retirando seu sustento em ambientes indspitos. Esses povos estariam concentrados em trés éreas de campos abertos, embora com condigies climéticas bastante diversas: 0 Cone Sul, 0 Chaco ¢ 0 Brasil Central Acima dos marginais, terfamos as tribos da floresta tropical. Estas viveriam em aldeias mais permanentes, porém dispersas no territério. Congregariam um nui- mero maior de pessoas do que os bandos marginais, gragas & agricultura de queima ¢ coivara ¢ exploragao de recursos aquiticos, mas careceriam de ins tuigdes propriamente polfticas. O principio organizacional continuaria a ser parentesco — nio haveria poder politico ou religioso destacado, ¢ 0 panorama social seria dominado por um notivel igualitarismo. Socie- dades desse tipo estariam dispersas pela maior parte do continente, ocupando quase toda a Amazdnia, a costa do Brasil e das Guianas e os Andes meridionais. Na regio circuncaribenha e nos Andes setentrio- nais, apareceria um outro tipo de formacio social, caracterizada por um desenvolvimento inicial de cen- tralizagao politica ¢ religiosa, estratificagdo em classes € intensificagio econdmica, Embora apresentassem tecnologia e cultura material semelhantes as das tribos da Floresta tropical, Steward considerava que essas s0- ciedades tinham ultrapassado 0 nivel de organizagio social baseado apenas em lagos de sangue: grupos fandados em categorias de parentesco, idade © sexo wigs CARLOS FaUsTO davam lugar a classes sociais ¢ & especializacio ocupa- cional. O poder e a religiao institucionalizavam-se, levando ao aparecimento de chefes supremos, sacerdo- tes, templos ¢ idolos, O igualitarismo da floresta cedia lugar & hierarquia c a0 poder. Por fim, no topo da classificagio encontramos a civilizagao que se desenvolveu nos Andes Centrais e na costa do Pacifico ¢ que teve como ponto culminante o império inca — uma experiéncia expansionista que durou cerea de cem anos antes de ruir com a chegada dos espanhéis. Populagées densas, sistemas intensivos de produgio agricola, criagio extensiva de animais, aparelho estatal desenvolvido com formas sofisticadas de administragio puiblica ¢ extragao de tributos, estra- tificagio social, especializago e desenvolvimento de técnicas como a metalurgia; tudo isso faria do mundo andino uma excegao frente 3s outras sociedades do continente, Essa classificagao quadripartite dos povos da Amé- rica do Sul est4 na base de uma tipologia geral dos estigios de desenvolvimento sociopolitico, proposta por Elman Service em 1962. Service designow tais estigios bando, tribo, cacicado ¢ estado, consagrando uma seqiiéncia evolutiva até hoje influente na arqueo- logia. O modelo do HSAI acabou, assim, refraseado ¢ generalizado na literatura posterior. A discussio sobre a paisagem etnogrifica do conti- nente no momento da conquista foi dominada por essa ih (05 iNDIOS ANTES 00 BRASIL tipologia evolucionista, realizada & sombra do estado. A prépria classificagio de Steward fora, na verdade, concebida de cima para baixo. O império Inca, como o pice do desenvolvimento no continente, acabou por definir os demais tipos por caréncia, levando A carac- tetizagao dos povos das terras baixas pela negativa. ‘Comisso, restringiram-seos problemas a serem enfren- tados pela arqueologia a duas perguntas bisicas: ser que todos 0s povos das tertas baixas, de fato, nao tinham aquilo que os incas tinham? E por que nao tinham? Como ninguém ditia que houve alhures sociedades a0 complexas como nos Andes Centrais, a primeira questio deslocou-se para o tipo seguinte, os cacicados. Assim, ela se traduziu em: serd que sé existiram socie- dades estratificadas e hierarquizadas de tipo cacicado em torno do mar do Caribe e no norte dos Andes? Ou poderfamos reencontré-las, ao contrario do que pensa- va Steward, em outras regides do continente? Nisto reside uma das polémicas mais 4speras da arqueologia americanista contemporanea, dividindo aqueles que negam e os que defendem a existéncia de cacicados na Amaz6nia pré-conquista. Jm dos pontos nevrilgicos refere-se & demografia,, ‘ou mais especificamente’t densidade demogréfica. Nos modelos de Service ¢ de Steward, a cada uma das formas organizacionais corresponde um limiar demo- grifico, pois se supde que o desenvolvimento institu- +156 CcaRtas FAUSTO cional é uma resposta adaptativa ao crescimento popu- lacional. A medida que a populagéo aumenta ¢ se adensa, novos mecanismos de integragio c onganizagao tornam-se necessérios para produzir e distribuir recur- sos, garantir a paz interna e a defesa externa. Esse processo implica a progressiva diferenciacao social € politica: 0 igualitarismo antes prevalecente cede lugar A estratificagao € 3 divisio entre dominantes e domina- dos. O motor de todo esse proceso é 0 incremento populacional. Deste pressuposto surgiram as principais hipéteses para responder & segunda pergunta colocada acima sobre 0 porqué de os povos das terras baixas nao terem o que os incas tinham. Como se poderia esperar, as respostas acabaram por focalizar os fatores que te- iam prevenido 0 crescimento demografico em areas como a Amazénia, Antes, porém, de chegarmos & floresta ¢ suas rixas, vejamos 0 que, afinal de contas, os incas tinham que 0s outros nao tinham. A sombra do Inca Nio houve nada em toda a América do Sul que se compare a0 desenvolvimento ocorrido nos Andes. Em 1500, 0 império inca estendia-se por cerca de 4.300km, desde 6 que é hoje a fronteira sul da Colom- bia até o rio Maule, no Chile. A expansio comegara no 216. (05 INDIOS ANTES DO BRASIL século XIV, ¢ em menos de cem anos a elite incaica conseguira controlar um vasto territério habitado por, talvez, 10 milhdes de pessoas. O império estava dividi- do territorial e administrativamente em quatro can- es, que por sua vez dividiam-se em provincias. Cada canto possufa um comandante; cada provincia, um governador. Esses postos eram ocupados por membros da nabreza inca, escolhidos pelo imperador, o Sapan Inca. A nivel provincial, havia chefes clasificados hie- raquicamente de acordo com o niimero de casas ou familias (unidades de tributagao) sob sua responsabili- dade. A administragio do estado nao era sustentada pelo pagamento de impostos em dinheiro ou produtos, mas em trabalho, Cada regio tinha suas terras divididas em trés porgdes: para o Inca, para a religido e para 0 uso da populagio. Os homens adultos tinham que cultivar, durante parte do ano, os campos do estado, além de prestarem outros servigos adicionais (como servir 0 exército € trabalhar nas minas ou nas construgdes puiblicas). Em cada regio, o governo mantinha dois depésitos (um para o produto dos campos do Inca outro para os da religiao); havia também armazéns na capital das provincias e outros em Cuzco, 0 centro do império. Os armazéns serviam para sustentar a nobre- 2a, 0s servidores do estado, os sacerdotese funciondrios dos templos, os trabalhadores a servigo do governo, 0 exército € 0s artesios especializados, bem como para wigs CARLOS FAUSTO promover ceriménias ptblicas. Além dos recursos agri- colas, o estado tinha hegemonia na criagio de Ihamas e alpacas. Apesar da complexidade da administragao do impé- rio, nfo havia escrita. Utilizava-se o quip, um sistema baseado em cordas com nés que funcionavam como recurso mneménico para servidores do estado, cuja fungao era memorizar e recontar as histérias, mitos € ccensos estatisticos. Para a comunicacao administrativa, utilizava-se a transmissao oral de mensagens: ao longo das vias principais, em intervalos regulates, havia um posto com jovens corredores, que estabeleciam uma cadcia de informagio entre as provincias € Cuzco. O tertitério era recortado por uma rede de estradas, tota- lizando cerca de trinta mil quilémetros. As duas prin- cipais vias atravessavam o império de norte a sul — uma ao longo da costa, outra pelo planalto —e, junto com estradas menores, ligavam todos os seus rincdes. A margem das estradas erguiam-se abrigos e armazéns com provisbes, permitindo 0 deslocamento de grande niimero de pessoas. Tal organizagao permitiu néo apenas a expansio do império como sua relativa unificagio. Um dos problemas centrais para a elite inca era administrar uma popula- fo muito diversa, Apés conquistar Um administrador ‘examina um quipu 18. (0 iNDIOS ANTES D0 BRASIL um novo territério, 0 estado promovia uma ampla reotganizagio. Fazia-se um levantamento da topografia € dos recursos da regizo e realizava-se um censo demo- gtifico; a partir daf, redistribufa-se a populagio local, alocavam-se terras, escolhia-se uma capital provincial ¢ implantava-se uma nova administragéo em moldes incaicos. Acolhiam-se os chefes locais que se submetes- sem, transfarmando-os em funciondrios, ¢ levavam-se seus filhos para serem educados em Cuzco. Designava- se um governador, proveniente da nobreza, para a regido © enviavam-se colonos ¢ administradores de outras provincias para instalar 0 novo sistema ¢ disse- minar 0 quechua, a lingua franca do império. Poi essa estrutura que cai: nas maos de Francisco Pizarro ¢ de um punhado de espanhéis no fatidico ano de 1532, As razées de sua derrocada sao varias, e cabe aqui destacar duas. Alguns autores sugerem que, na década de 1520, a variola jé havia sido introduzida e se espalhava pelo império, causando danos em Cuzco e nas provincias. A se julgar pela grandeza dos danos causados por eventos varidlicos posteriores, registrados por cronistas espanhéis, a mortalidade pode ter alcan- gado a casa das dezenas e até centenas de milhares de pessoas. As epidemias teriam, assim, aberto o caminho para Pizarro anos antes de ele colocar os pés no altipla- no. As doengas nao teriam apenas afetado a populacio doimpério em geral, masimposto umaalta perda sobre a nobreza inca, matando inclusive © Inca, Huayna -19- ‘cantos FAUSTO Capac. Sua morte repentina levou a uma feror disputa pelo poder ¢ a guerra civil sucessor legitimo era Huascar, filho de Huayna Capac com sua prépria irma; fruto de um lidimo casamento incestuoso real. Mas havia Atahualpa, filho do Inca com uma esposa secundétia. Ele governava Quito, tinha participado das campanhas militares de seu pai no Equador e estava junto a ele no leito de morte, Contestando os direitos de seu. meio-irmao, Atahualpa sustentava que o pai, antes de falecer, havia decidido dividir o império, conferindo-lhe soberania sobre a parte setentrional. Se resultasse apenas dos desejos e capacidades de Atahualpa, a rivalidade pela sucessio no teria prosperado. Porém ela tinha ingre- dientes estruturais profundos. A razio estrutural atende pelo nome de heranga dividida, um sistema de transmissio de bens direitos implantado pelo imperador Pachakuti (1438-1471), que fora o motor das conquistas. Segundo essa regra, quem herdava o poder nao tinha legado material. Quando da morte do Inca, um de seus filhos assumia a chefia do estado. Recebia o dircito de governar, declarar guerras, fazer a paz, cobrar impostos, mas no recebia qualquer propriedade material. Tudo o que pertencera ao Inca morto passava pata seus outros descendentes em linha masculina, que formavam um grupo social corporado denominado panaca, Eles eram responsdveis pela preservagio da mimia do Inca e pela 20+ (0 iNDIOS ANTES DO BRASIL manutengao de seu culto. Para sermos fidis & concepgao nativa, 0 Inca morto, representado por sua miimia, continuava a possuir os bens ¢ ser servido por seus descendentes. A regra da heranga dividida significava que tudo 0 que resultara da administraggo anterior — obras conquistas — safam da esfera do estado. A cada suces- sdv cra preciso comegar tudo de novo: o rei recém-che- gado nao tinha alternativa senéo ampliar os limites do império, conquistando novos povos e novas terras. No infcio do século XVI, os Incas mortos jé detinham o maior quinhao das terras ¢ nao havia mais para onde se expandir sem correr riscos insuportéveis. E nao obstante a necessidade de expansio, o império jé era grande demais ¢ administrava uma populacio diversa demais. Os panacas dos reis mortos formavam verdadeiros estados dentro do estado, enfraquecendo o poder do Inca e alimentando a rivalidade no interior da elite. A alternativa para Huascar manter sua lideranga seria, portanto, reformar o sistema e enfrentar as cortes dos Incas mortos. Nao foi capaz de fazé-lo. Por volta de 1530, a disputa pelo trono resultou em guerra civil. O império se dividiu em combate. Atahualpa venceu, mas nfo levou. Pizarro ¢ seus homens atalharam-no em Cajamarca, quando estava a caminho de Cuzco. Cap- turaram-no, receberam um vasto resgate em metal precioso e, 20 cabo de alguns meses, o executaram. Fra sid ‘CARLOS FaUsTO o fim da trajetéria expansionisca de uma populagao que conquistara o mundo andino. Nao cabe aqui recuperar a histéria dessa expansio. Cumpre notar apenas que os incas nfo construitam um dos maiores impérios de seu tempo a partir do nada. Eles o fizeram sobre trilhas antes exploradas por outros povos, em particular em dois dos grandes centros irradiadores do desenvolvimento cultural na regio: 0 altiplano meridional, em torno do lago Titicaca — hoje na Bolivia —ea costa norte do Peru. Nessas 4reas, ha indicagGes arqueol6gicas da presenca de sociedades centralizadas e estratificadas desde 1500 a.C. Muitos autores empregam o termo cacicado para caracterizé- las; em certos casos, falam em reinos, estados, ¢ mesmo civilizagio ou império. A despeito das incertezas de qualquer reconstituigéo arqueolégica e das improprie- dades das categorias tipolégicas, o certo ¢ que na regiao andina e na costa do Pacifico assistimos ao desenvolvi- mento de formas sociopoliticas cujos paralelos com outras regides da América do Sul sio dificeis de se estabelecer. Sob as altas montanhas, a natureza A sombra monumental do Inca obscureceu durante muito tempo a floresta tropical. Julgada ao revés, por aquilo que nao tina, cla tendew a ser vista como um +225 0 INDIOS ANTES 00 BRASIL lugar estérl e indspito. Os Andes ¢ a costa do Pacifico, ao contrario, surgiam como o principal, senao tinico, centro de invengio cultural no continente: lugar de origem da domesticacao de plantas e animais, da ma- nufarura de ceramica, do uso do metal, de um sisterna religioso baseado no trio sacerdote-templo-idolo, da centralizagio politica e da estratificagao social. O olhar de Steward construiu-se em acordo com uma visio profundamente enraizada na cordilheira em tempos coloniais. Segundo essa visio, o império inca teria uma fronteira intransponivel a leste, ali onde se estendia uma floresta malsa e perigosa, povoada por gente selvagem de costumes animalescos. Tal versio da relagio entre terras altas ¢ sua vertente oriental foi elaborada ‘a partir de uma visio nativa, anterior 3 colonizacio espanhola, que resultou das fracassadas tentativas de expansio inca sobre a mata tropical. Os exércitos imperiais, acostumados a percorrer grandes extenses em estradas bem providas ¢ a hutar em campo aberto, definhavam ¢ mortiam na vegetacao cerrada; perdiam-se, adoeciam, passavam fome e eram alvo facil das setas certeiras dos guerreiros da floresta Os incas, e depois os espanhéis, construfram uma dicotomia entre, de um lado, formagées plenamente “politicas” do altiplano ¢, de outto, aquelas quase “naturais” das terras baixas. A floresta seria, assim, associada negativamente as artes da civilizagio e posi- tivamente aos poderes magicos do xamanismo, oscilan- +23. ‘CARLOS FaUSTO do entre o natural ¢ o sobrenatural. Acultura co estado civil, por sua vez, ficariam reservados is tetras altas, Foi essa a imagem que Steward trouxe para dentro das ciéncias sociais. Extremamente difundida, ela nos fez ignorar que, desde um periodo remoto, recuando tal- vez20 VI milénio a.C., havia uma intera¢io importante entze a costa do Pacifico, os Andes e a floresta tropical; € que essa interacio se fez também no sentido oeste. leste, como difusio de idéias ¢ técnicas dos Andes para a floresta. Foram necessérias algumas décadas de pesquisas Para que essa visio comecasse a mudar. Até os anos 1970 ela foi dominante na antropologia do continente. Para isso contribufram decisivamente os trabalhos da arquedloga norteamericana Betty Meggers, cujo livro de sintesc e divulgacdo chama-se, significativamente, Amazonia: Man and Culture in a Counterfeit Paradise [Amazénia: a ilusio de um paraiso]. Ao mito do El Dorado, da flotesta como um repositstio desconhecido de vida ¢ riquezas, Meggers contrapds a imagem de um inferno verde, cuja pobreza em recursos naturais im- potia limites estreitos ao desenvolvimento das culturas nativas. Esposando um estrito detetminismo ambiental, a autora propés que a baixa fertilidade do solo teria impedido tanto 0 crescimento e o adensamento popu- lacional quanto a fixagio em um mesmo local, resul- tando dai uma existéncia mévele uma ocupacao espar- 2 Bie 10 INDIOS ANTES 00 BRASIL sa dos territérios, Ambas as caracteristicas teriam de- cerminado a estagnacio dos povos da floresta tropical no estagio de tribo. : A paisagem humana na Amaz6nia em 1500 d.C. pouco diferiria, assim, daquela descrita pelos etndlogos do século XX, mais de quatrocentos anos depois do inicio da colonizagio. Se vocé, leitor, tivesse de fato chegado aqui antes de Cabral e pudesse passear pela mata com salvo-conduto, encontraria entio popula- es pouco expressivas e relativamente isoladas, viven- do em aldeias de pequeno porte ¢ praticando uma agricultura itinerante baseada na mandioca. As intimeras escavagSes que Meggers ¢ seus colabo- radores realizaram nos anos 1950 e 60 pareciam con- firmar a hipétese de que a floresta tropical é o habitat por exceléncia de sociedades simples, igualitatias e de pequeno porte. Assim, completava-se 0 raciocinio: nés n3o tinhamos 0 que os incas tinham porque o incre- mento ¢ adensamento populacional nas tetras baixas tetiam esbartado na pobreza de recursos naturais, o que inibia o desenvolvimento de formas sociopoliticas complexas. Alguns dados arqueolégicos e etno-histéricos, con- tudo, maculavam esse quadro. As evidéncias adversas concentravam-se nos formadores e na calha principal do rio Amazonas. Clifford Evans e Betty Meggers, j& naquela época, escavaram em duas areas que apresen- 225% CARLOS FAUSTO tam registros arqueolégicos indicativos de complexifi- cagio social (entendida, nesse contexto, como processo de intensificagio econdmica, diferenciagio social e centralizagao politica): a bacia do rio Napo, um forma- dor do Solimoes que nasce na cordilheira equatoriana, ea ilha de Marajé, na foz do Amazonas. A ilha, com uma area de quase 50 mil km?, é arqueologicamente conhecida por grandes tesos, que ocorrem em sua porgio centro-oriental. Os tesos so aterros artificiais construfdos em campos inundéveis, com fins habitacionais, cerimoniais e/ou funerdrios; clevam-se de 3 a 20m acima da atual planicie, tendo em média 7m de altura. Comecarama surgir no século IV dC. e parecem ter sido erguidos em estigios suces- sivos até o século XIIL-XIV. A maioria possui de 1 a 3ha, mas chegam a ter dimensdes bem maiores, em particu- lar os sitios arqueolégicos formados por um sistema de varios tesos (como 0 de Camutins, que possui uma érea em torno de 50ha). Anna Roosevele, que coordenou um grande projeto arqueolégico na regido nosanos 1980, sugere que sobre 98 sitios maiores erguiam-se vilas de 1 a5 mil habitan- tes, chegando a 10 mil onde havia miiltiplos atetros articulados entre si— uma escala que seria, definitiva- mente, urbana, Sua estimativa para a populacio total na area é de 100 a 200 mil pessoas, correspondendo a uma densidade de 5 a 10 habitantes por km?, Estes +26. 10 INDIOS ANTES DO BRASIL niimeros, contudo, devem ser lidos com cuidado, pois nao sabemos sequer se 0s tesos foram ocupados simul- tancamente ¢ sempre para fins habitacionais. Nio séo apenas os aterros, porém, que chamam a atengio dos arquedlogos. Ha a magnifica ceramica marajoara, cujo refinamento e sofisticagio nao tém paralelo contemporineo na Amaz6nia indigena (em- bora tenha com outras cermicas pré-coloniais, como a da chamada cultura Santarém). Os tesos conten cemitérios, onde se encontra ceramica policrémica (nas cores vermelho, preto ¢ branco), ricamente deco- ada, com grafismos pintados ou incisos, além de apli- ques em alto relevo com representacdes de homens € animais, As pegas de maior dimensio sio urnas fune- ratias, contend esqueletos bem preservados. A inter- pretagio do significado desse complexo mortuario € ainda incerta; sequer sabemos quais individuos eram sepultados em urnas. Haveria uma distingéo entre as. formas funerdrias de uma lite eas de gente docomum, ou eram 0 sexo € a idade do morto os fatores determi- nantes? Estaria 0 sepultamento em belos potes de cerimica associado a um culto aos ancestrais (tal qual o conhecemos nos Andes, mas que é raro na Amazénia indigena hoje)? ‘Ainda que pesquisas futuras venham al esclarecer tais questées, parte daquele mun- do nos ser pata sempre inacessivel, pois os ira funervia habitantes dos tess desapareceram antes —marajoare “ae CARLOS FaUSTO Aue pucessem ser observados. Nao hd quaioquere ttos histérics sobre os povos que ld viveram, Pact maioria dos autores, o colapso da cultura matajoans ocorreu antes da conquista, pois nao hi ascoracsa entre os atertos e objetos europeus, nem deearn posteriores ao século xiv. : a Betty Meggers e Clifford Evans, que realizaram Pesquisas arqueoldgicas em Marajé na década de 50, spostavam qua dscadénci manifstada pela simpli : ica da cerdmica encontrada nos estratos superiores das escavagses) teria ocortido por cata d limites impostos ao desenvolvimento cultural pele ame biente amazénico. Como igen explicar, porém, o surgi 5 porém, 0 surgimen- to da cultura marajoara, H onde se encontram r. centtalizadas ¢ estratificadas? A resposta de Meeaers « Evans foi postular a migragdo de uma populasso ea, bandina, que se assentara na fox do Amazonse neq séculos1V-v d.C, jé dotada de um padrio civilizacionel slevado. Ela nao se desenvolvera nas planicies mundi. veis, onde vicejam as gramineas eos mosquitos, an chegara pronta, perfeita em seu esplendor, Conrudo Seguia 0 argumento, assim como uma cultura se desen. volve em condigées favoréveis, também regride se meio Ihe for desfavordvel: a partir do século Xl, come, satia, entio, 0 declinio dos Marajoara. Implacdvel, a atureza amaz6nica teria detetminado a involucio da queles intrusos afeitos as nascentesgeladas. +28. (08 INDIOS ANTES 00 BRASIL Poucos especialistas, hoje, aceitam esta hipétese mi- gratdria. Primeiro, porque existem indicios de que a indiistria cerdmica na ilha desenvolveu-se int locos Ma- 19j6 seria, assim, antes um local de invengao do que de importagio cultural. Segundo, porque as datagoes mais antigas de ceramica policrémica na Amazénia ocorrem em Marajé, ¢ nao préximas aos Andes; portanto, se formos postular uma difusio (¢ nao desenvolvimentos independentes), seria mais razoavel supor que esta se deu de leste para oeste. Terceiro, porque a teoria da decadéncia nio explica como uma sociedade demogré- fica ¢ culturalmente robusta poderia ter resistido du- rante varios séculos em um ambiente supostamente tao restritivo. E quarto, porque simplificacao estilistica nao significa necessariamente regressio cultural, podendo resultar de uma produgéo em maior escala. Marajé ainda nos reserva varios enigmas. Néo sabe- ‘mos, por exemplo, qual o tempo de construgao de cada um dosaterros. Teriam sido eles rapidamente erguidos, com mobilizagao de trabalho em larga escala, ou se formaram lentamente, a0 longo dos séculos, como os sambaquis do litoral? Desconhecemos também os mo- dos de articulagao entre os diferentes tesos ese existiam, dentre eles, centros politico-cerimoniais. Sobretudo, restam obscuros quais foram 0s processos histéricos que determinaram o apogeu ea queda dos Marajoara. Nas terras baixas da América do Sul, hé outros exemplos, além de Marajé, de uma arte cerdimica sofis- +29 Cantos Fausto ticada (como aquelas encontradas 20 longo do rio ‘Amazonas ¢ de seus formadores), e de socicdedes construiram extensos sistemas de atettos (como ors anos de Mojos, na Bolivia; no triéngulo de Apure ‘20 Orinoco; ou no litoral das Guianas). Se admitinmer que a existéncia desse tipo de obta e/ou de cert patticularmente rfinada podem apontar para sovieda: des mais sedentirias,centralizadas e hietérquicas do que aquelas caracteristicas da chamada “euliies de floresta tropical”, entio os modelos de Steward « Je Meggers necessitam ser revistos, i O nosso Nilo A varzea €0 caleanhar-de-aquiles daqueles que defen- dem a existencia de uma limitagéo ambiental etre Amaz6nia. Os primeiros crfticos de Betty Meggers como Robert Carneiro ¢ Donald Lathrap, logo evan, taram a regiio como um desmentido A generslidade do modelo, Ali ndo haveria nem limitagio 4 produca, agricola ea fixagio territorial, nem escasser de cron animal (um dos facores considerados limitantes aoe cimento eadensamento demogréfico na terra frie) Em sentido récnico, mente inundével que oe © na foz de alguns de bacia do Orinoco), Ess superficie € formada pe denomina-se vi se virzea a planicie sazonale ore ao longo da calha do rio Amaronas ses pincpaiafluentes ( ambém na a planicie & chamada aluvial porque sus elo depésito, sempre renovad, de ma, +30. 10 ino10s ANTES 00 BRASIL Lathrap defendia a idéia de que a Amaz6nia central fora um grande pélo de desenvolvimento cultural: centro de domesticacio de plantas e do sistema produ- tivo baseado na mandioca amarga, local do desenvol- vimento da primeira indvstria cerimica e de estilos artisticos sofisticados. De sua vérzea, (do rica quanto disputada por uma populagio sempre crescente, teriam partido levas migratérias que iriam povoar a América do Sul. O modelo de Lathrap baseava-se na idéia de que a combinagao entre um ambiente rico € ao mesmo tempo restrito funcionaria como uma espécie de cora- 40, bombeando populagao e cultura para ourras éreas do continente. O crescimento demogrifico, possibili- tado pela abundancia de recursos, provocaria compe- tigdo e guerra; parte da populagio seria obrigada a migrar, levando consigo as realizagoes culrurais da ‘Amazdnia central para regides distantes, Lathrap propunha uma visio alternativa sobre a floresta tropical, invertendo 0 olhar “andes-cénttico” de Meggers ¢ Steward. A Amazdnia — pelo menos a terial em suspensio transportado pelo rio, © Amazonas é um rio quimicamente tico ¢ farto em material depositivel, pois seus formadores, nascendo nas serranias andinas, descem ve- lozmence em direcio leste, erodindo as margens e carregando grande quantidade de sedimentos. Costumacse opor a virzea A tetra firme, que representa mais de 95% do tettitério amazinico. Essa categoria é no encanto, por demais genérica, e nfo da conta da diversidade de solos e ambientes da regio wit «

Você também pode gostar