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Introdução:

Existem certos tipos de pessoas que são assombradas pelos atos de seu passado, pelo remorso de
ações que tiveram que fazer e que se condenam por elas sempre, se privando da própria vida devido à dor.
Markus Blakk é assim.
Um bom homem forte de corpo, mas com seu espírito completamente destroçado e devastado pela
dor de um ato que foi forçado a cometer para ajudar outras pessoas, mas que feriu muito a si mesmo.
E aqui vemos a sua vida...

Capítulo 01:

Tudo se inicia numa bela e ensolarada manhã de Quinta-feira, em Dezembro, quando o clima já
está muito quente, embora o verão carioca ainda não tivesse começado oficialmente.
Aproximadamente às 10:00 horas da manhã, Markus vem em pé num ônibus lotado oriundo da
rodoviária Central do Brasil em direção à Magé, sua cidade natal, para onde retorna após nove anos de
ausência.
Descendente de italianos, ele tem 28 anos de idade, e está com barba e bigodes negros longos, tão
mal feitos que chegam à esconder sua boca e maçãs do rosto; óculos escuros grandes, um surrado boné
vermelho em sua cabeça, colete e calças de jeans desbotados pela ação do tempo, camiseta de malha com
mangas cheia de buracos pequenos, e um par de tênis que algum dia tivera por cor o azul, pois está bem
descolorido devido à longos anos de uso, e também estão sujos de lama seca e poeira, evidenciando que a
muito não eram limpos.
Tem também duas enormes mochilas negras, onde carrega suas roupas e alguns de seus pertences
pessoais.
Resumindo:
Mais parece um mendigo sujo, tanto que as pessoas evitam contato com ele, desprezando-o. Mas
ele também não pronunciara uma palavra desde que entrara no ônibus, apenas um leve “bom dia” e um
educado “obrigado” ao trocador do ônibus.
Ao fazer o contorno na entrada de Magé, em frente a entrada do bairro Barbuda, ele toca o sinal de
parada, agradece de forma muito polida ao motorista por seu serviço, lhe deseja um bom dia de trabalho e
desembarca do ônibus, para então caminhar, carregando suas duas mochilas pesadas, em direção à um
prédio de seis andares que existe ali.
O prédio, onde em seu primeiro andar funcionam uma loja de peças de carro e uma borracharia,
que também pertencem ao proprietário do mesmo, um português simpático chamado Antenor.
Ali, no último andar, mora o irmão mais velho de Markus, Newton Blakk, que é genro de Antenor.
Newton é magro, olhos negros como os de Markus, barba e cabelos negros ralos, e tem 40 anos de
idade. Ele é casado com Cristiana, uma mulher de 36 anos, loura, e juntos têm dois filhos, Juan e Ofélia.
Markus se dirige lentamente em silêncio na direção da portaria, e nem vê que Antenor, que não o
reconhece, mesmo tendo ele estado ali muitas vezes no passado com seu irmão, telefona para o porteiro,
mandando que ele tome cuidado com aquele pobre mendigo que vai em naquela direção.
Ao chegar à portaria, Markus diz ao porteiro, que se chama Agenor, com a voz recheada de um
estranho sotaque, mas sua voz evidencia uma grande tristeza:
- Bom dia, meu senhor! O senhor, por um feliz acaso, saberia me informar se o senhor Newton
Blakk se encontra?
Apesar de surpreso pela educação fina daquele homem, ele responde:
- O que um mendigo mulambo como você quer com seu Newton? Quer pedir esmolas pra ele? E
se for isso, é bom dar o pira, senão eu te ponho pra fora na base do tapa!
Sem se irritar, mas pensando em como os seres humanos podem julgar outros apenas pela sua
aparência, sem ao menos se importar com quem elas realmente poderiam ser, ele responde, com sua suave
voz, sem o mínimo de agressividade em sua voz triste:
- Eu sou o irmão mais jovem dele...

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Ao ouvir estas palavras, mesmo surpreso, o porteiro diz, evidenciando sua falta de educação:
- Vamos parar de falar besteiras! Eu não conheço você!
Ainda inalterado, Markus lhe diz:
- Por favor, não se irrite comigo! Se o senhor não crê em minhas palavras, por favor, telefone para
ele ou para Cristiana e avise que Markus acabou de chegar e deseja muito vê-los...
À contragosto e resmungando, o porteiro entra em contato com o apartamento de Newton pelo
interfone.
Ouvindo o interfone tocando, o próprio Newton atende e diz:
- Pronto, seu Agenor! O que foi?
E, de forma desdenhosa, o porteiro responde:
- Desculpa, seu Newton! É que tem um mendigo esquisito pra cacete aqui, pedindo pra falar com o
senhor!
Newton, perplexo, pergunta:
- Mendigo? Eu não conheço nenhum mendigo! Qual é o nome dele?
Sentindo que poderá expulsar aquele homem estranho, Agenor responde arrogantemente:
- Acho que se chama Markus, e diz que é o irmão caçula do senhor! Se quiser, ponho ele pra
correr agora!
Newton fica completamente lívido e mudo naquele momento.
Ele sabia que seu irmão mais novo em breve voltaria para Magé, e que Markus pedira para ele
fazer alguns preparativos a alguns meses, mas nunca imaginou que seria neste dia de sua chegada, embora
tudo já esteja pronto.
Interrompendo a surpresa de Newton, Agenor pergunta:
- E então, seu Newton? Posso meter o pé no traseiro deste cara?
Newton diz, nervoso, quase gritando:
- De jeito nenhum! Ele é mesmo meu irmão! Espera que eu já estou descendo aí!
Agenor fica pálido de susto e engasga com sua própria saliva amarga, pois não acreditara nas
palavras daquele mendigo e o tratara muito mal. Agora, ele pode perder seu emprego, sendo que tem uma
família para sustentar, e então começa a rezar em seu íntimo, prometendo à Deus e todos os santos que, se
escapar dessa encrenca, irá melhorar sua má conduta e nunca mais irá destratar nenhum mendigo,
inclusive até indo à missa todo Domingo e ajudando os mais pobres.
Ele se vira para Markus e diz:
- Seu Newton disse que já tá vindo! Por favor, o senhor gostaria de se sentar?
Com a expressão triste, sem retirar seu óculos, Markus responde, como se lendo os pensamentos
de Agenor:
- Não, muito obrigado! Aguardarei meu irmão de pé, e digo que não se preocupe! Nada irei dizer
sobre o comportamento do senhor para comigo junto à meu irmão, e prometo que não deixarei que ele ou
o senhor Antenor faça algo que venha a prejudicá-lo...
Após dois minutos, Newton termina de descer as escadas, pois naquele prédio não existe elevador,
e vê a face de seu irmão mais novo.
Apesar de sua aparência maltrapilha, ele reconhece-o, e o abraça e dizendo:
- Markus, meu irmão! Que bom que você voltou! Vamos subir! A Cris tá te esperando, assim
como as crianças, já que eles não te conhecem! O Juan e a Ofélia tão doidos pra conhecerem o tio deles...
Quantas saudades Markus sentiu de seu amado irmão.
Eles nunca foram grandes amigos, mas sempre se respeitaram, sendo que Newton sempre o ajudou
com dinheiro e outras coisas no passado.
Assim, ele sobem as escadas, sendo que Newton o ajuda com suas mochilas, diante do olhar
surpreso do velho porteiro, que pensa na estranha figura daquele homem.
Ao chegarem no apartamento, Newton manda que ele entre.
Markus retira seus tênis, e logo se sente o odor de flores que vinham de seus pés, que são bem
cuidados para um homem tão mal vestido como ele, assim como suas mãos.
Ao entrar, os dois pequenos filhos de Newton se agarram as pernas dele, dizendo:
- Tio Markus! Tio! O senhor trouxe algum presente pra gente?!

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Embora seu rosto não esboce nenhum sorriso, Markus se agacha, os abraça com toda ternura, os
beija, e abrindo uma de suas mochilas, retira dois embrulhos e os entrega aos seus sobrinhos, dizendo
com sua voz triste:
- Pronto! O titio Markus trouxe estes para vocês dois, mas quero que sempre obedeçam seu papai
e sua mamãe, certo? Espero que gostem...
As crianças os abrem, e vêem que era um belo carro a pilha para Juan e uma linda boneca para
Ofélia. Retirando outros dois embrulhos, entrega um à sua cunhada dizendo:
- Este é seu, Cristina! Que saudades tive de vocês dois! Lembro claramente que a última vez que
os vi foi assim que retornaram de sua lua de mel, e agora que retorno, tenho dois sobrinhos lindos...
Após se cumprimentarem, eles se sentam à mesa para tomar café, e apesar da insistência de seu
irmão e de sua cunhada, Markus só toma uma xícara de chá preto, pois ele não bebe café a alguns anos.
Ele tira um cigarro de um maço que traz em seu bolso, pede licença para fumar, e ouve seu irmão
dizer:
- Quanto tempo, hein? Só uma pergunta, Markus: Por que você voltou? Eu pensava que nunca
mais ia te ver! O que houve? E por que esta cara de enterro? E que aparência é essa?
Markus responde, novamente com seu tom tristonho de voz:
- Newton, eu não desejo falar nisso, pois é algo que só me traz grande sofrimento! Um dia, quem
sabe, eu posso lhe contar tudo, mas por favor, hoje não...
E Newton lhe diz:
- Tudo bem, eu entendo você. Você sempre foi assim mesmo! Mas mudando de assunto, que tal ir
ver sua casa nova agora? Tá tudo como você me pediu pelo telefone! Vamos lá agora?
Markus consente com um aceno de sua cabeça, e ambos descem de volta à portaria, onde Agenor
trata Markus com educação, e Antenor agora sabe quem ele é, e se arrepende em silêncio, pois sabe muito
bem quem é Markus na realidade.
Após saírem do prédio, Markus aguarda por alguns minutos em frente à entrada, pois Newton fora
apanhar seu carro na garagem do prédio para levá-lo à sua nova casa.
Newton encosta o carro em sua frente, eles colocam então suas mochilas no porta-malas, entram
no carro e partem em direção ao centro de Magé, para um prédio onde Markus agora irá residir.
Ele pedira à Newton para não ficar no prédio de Antenor, apenas por desejar privacidade, e seu
irmão atendera seu pedido, comprando um luxuoso apartamento em um prédio ao lado da praça da
prefeitura de Magé.
Todo o dinheiro que Newton usou para pagar o apartamento e sua decoração pertencia à Markus,
que não desejou nunca em ser um peso a mais para seu irmão ou quem quer que fosse.
Dois minutos depois, ambos chegam ao centro de Magé, onde ficava em o prédio onde Markus
residirá.
Assim que saem do carro de Newton, eles logo vêem o proprietário, um homem de 56 anos de
idade chamado Enoque, que reconhece prontamente o homem que comprara o apartamento, o
cumprimenta e pergunta:
- Quem é esse mendigo? Ele vai trabalhar no seu apartamento?
Sem perder seu bom humor, Newton responde:
- Não, este é meu irmão mais novo, o dono do apartamento...
Enoque fica boquiaberto pela surpresa, mas saúda Markus, e recebe de volta palavras cordiais
dele, o que mais o surpreende, pois percebe que, pelo tom baixo de sua voz, que Markus é um homem
muito educado, apesar dela revelar uma grande tristeza.
Após se separarem de Enoque, eles sobem para o novo lar de Markus, e ele percebe que seu
apartamento é muito bem decorado, pois Newton tem muito bom gosto:
Móveis de estilo colonial, televisão de 50 polegadas, aparelhos de som e DVD, sofás grandes e
confortáveis, cama de casal, geladeira cheia de alimentos não perecíveis, pois Newton não imaginava que
Markus chegaria tão cedo; e em seu quarto, um computador de última geração, com acesso à Internet e
tudo mais.
Assim que deixa suas mochilas no quarto, sem nem mesmo desfaze-las, Markus suspira fundo e
pede à seu irmão:

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- Newton, tem algo que tenho que fazer agora. Preciso ir ao cemitério de Andorinhas, na sepultura
de papai e mamãe... Eu não pude estar aqui quando mamãe morreu, e quero muito ir lá, para levar flores,
e quero fazer isso agora, pela manhã... Você poderia me levar lá de carro? É só para me levar e me deixar
lá. Para retornar, eu virei de ônibus...
Newton resolve atender o pedido de seu irmão, após deixarem o apartamento, passam em uma
floricultura, onde ele compra muitas flores, e vão até Andorinhas, e Markus mantém em seu rosto uma
expressão serena, mas muito triste, como se estivesse suportando em seus ombros um terrível sofrimento.
Após vinte minutos de viagem, às 11:30 horas, eles chegam em frente ao cemitério, e Markus se
despede de Newton, que o convida para almoçar com ele, mas Markus diz que irá passar o resto do dia
arrumando seu apartamento após sair dali, e que irá comer em um restaurante em Magé.
Newton aceita o que Markus lhe diz e retorna à Magé, enquanto Markus entra no cemitério com as
flores que comprara para adornar o túmulo de seus pais.
Ninguém está ali naquele momento, só alguns poucos coveiros trabalham bem afastados dele.
Markus caminha lentamente até o jazigo de sua família, e ao chegar à seu destino, deposita as
flores delicadamente na sepultura de seus pais, põe água limpa nos jarros de mármore, apanha uma
esponja e sabão que havia trazido consigo e limpa o túmulo.
Emocionado, com lágrimas abundantes em seus olhos cansados e tristes, ele retira os óculos e diz:
- Mãe, pai, finalmente eu voltei! Desculpe, mãe, por eu não ter estado aqui quando a senhora
faleceu, mas sei que a senhora me entende, e sabe que nunca deixei de amá-la muito um minuto sequer
desde que parti! Hoje em dia, eu carrego uma mágoa imensa, essa dor que arde em meu coração, que me
fere dia e noite sem cessar, e que não tenho mais como me livrar dela! Quero tentar recomeçar tudo de
novo aqui em Magé, sem ferir ou magoar quem quer que seja! Peço que sempre que a senhora e papai me
ajudem e guardem, mesmo eu tendo estado tão longe de vocês por nove anos! Bem, eu vou para Magé
agora, mas voltarei sempre aqui! Eu prometo...
E então, enxugando suas últimas lágrimas, ele deixa o cemitério, e desce lentamente a ladeira que
o leva até o ponto de ônibus.
Ele espera até que seu transporte de volta para Magé venha, mas o primeiro que passa não pára, já
que o motorista pensa que Markus é apenas mais um mendigo a pedir carona.
Sem reclamar, ele aguarda o próximo veículo, que demora 30 minutos para vir, mas que desta vez
pára. Ele sobre, paga sua passagem, se senta em um lugar isolado na parte traseira do ônibus e volta para
Magé.
Eram 13:00 horas quando Markus chega à Magé.
Neste momento, ele sente fome, e resolve ir até um restaurante self service próximo da praça da
prefeitura do município, que é também bem perto de seu novo lar.
Markus caminha até lá de forma lenta, sendo evitado pelos transeuntes devido à sua aparência,
mas quando está entrando no estabelecimento, um funcionário põe a mão em seu peito, impedindo que ele
entre, dizendo:
- Mendigo não entra aqui! Vai pedir comida em outro lugar, vagabundo!
Sem alterações, Markus diz, com sua voz cheia de melancolia:
- Eu não sou um mendigo! Desejo apenas comer algo, e pagarei pelo que eu vier a consumir...
O funcionário ri e pergunta:
- Você!? Pagar?! Hahahahah... Não me faça rir! Pagar com o que?! Mostre seu dinheiro, então, aí
eu te deixo entrar!
Markus põe então sua mão no bolso, retira sua carteira e mostra várias notas de 50 e 100 Reais que
trazia consigo, deixando claro que pode ser muitas coisas, menos um mendigo em busca de esmolas. Até
sua fala evidencia isso, se as pessoas não se levassem pelas aparências.
O rapaz que o destratara engasga com a surpresa, para então dizer:
- Desculpe, senhor, eu não quis ofendê-lo!
Markus faz uma expressão triste com o rosto, e diz:
- Não tem importância...
E entra, se serve e começa a comer.
Muitos dos clientes reclamam de sua presença, por aparentemente ser um mendigo, mas se eles

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pudessem perceber, comprovariam que o corpo dele não tem odores de quem vive pelas ruas, mas um
forte aroma de essência de caros perfumes; que sua pele é extremamente limpa e sedosa; que suas mãos
são finas e macias. Se os olhos não os enganasse tanto, talvez pudessem ver quem é aquele homem triste,
e imaginassem o porque de se vestir daquela forma tão maltrapilha...
Suas maneiras à mesa são extremamente refinadas, e após terminar de comer, ele se levanta, vai
até o caixa, paga sua conta, e antes de sair dá uma nota de dez Reais ao rapaz que o atendera no princípio,
dizendo:
- Espero que esta lição de vida o ajude sempre... Tome, uma gorjeta para você comer ou beber
algo com sua namorada no fim de semana que está se aproximando...
O rapaz segura a nota, agradece por sua bondade, e ao ver ele indo embora, de forma lenta e
silenciosa, fica imaginando o por que de um homem com aquela educação e com uma aparente boa
situação financeira se esconde com as roupas de um pobre.
Markus retorna à seu apartamento, e recebe das mãos de Enoque um sinalizador, para se caso ele
tiver ou comprar um carro, aquele dispositivo é para abrir a porta da garagem, e avisa também que a vaga
número 602 na garagem é dele, pois é o número de seu apartamento.
Ele agradece à Enoque por sua presteza, entra no elevador e vai para seu santuário de solidão,
onde sabe que terá de arrumar suas roupas.
Ao entrar em seu lar, e vê novamente que há muitas coisas lindas ali, e agradece mentalmente por
sua cunhada e seu irmão terem tanto bom gosto para decorações de interiores, e sentindo o efeito do forte
calor, ele resolve tomar um banho e trocar de roupas, para então abrir suas mochilas e começar a guardar
suas roupas.
Ele retirava cases que contém ternos, muitas calças e camisas sociais de mangas longas e curtas,
sobretudos, casacos para tempos extremamente frios, como só se vê no extremo sul do Brasil, muitas
roupas íntimas, meias sociais, gravatas e muitas outras peças de seu vestuário.
Por fim, ele apanha o último case, e fica olhando para ele.
Ele contém em seu interior seu pior fantasma particular, algo que parece existir só para acusá-lo e
lembrá-lo todos os dias de sua vida amargurada do ato dele que feriu tanto à uma boa pessoa que ele
conhece.
Ele começa a chorar muito, e resolve esconder aquele case em uma parte do armário onde ele
nunca mais irá mexer, que estará sempre fechada com chave, para tentar manter longe as lembranças
tristes que ele lhe traz sempre.
O que quer que seja o conteúdo daquele case, ele não pode nunca queimar, rasgar, doar ou jogar
fora, pois fora um presente carinhoso de uma pessoa que, um dia, fora extremamente importante para ele,
e agora o conteúdo daquele case vive a atormentá-lo todos os dias que ainda tem em sua vida...
Ele resolve então tentar distrair sua mente e liga o computador que, conforme o pedido que fizera
à Newton, tem acesso à Internet, pois assim ele pode realizar alguns trabalhos em sua própria casa.
Mas ao abrir seu e-mail privativo, vê uma mensagem em inglês, que diz:
- Para meu querido Markus:
Por favor, pare de se magoar com todo esse remorso! Você já sofreu demais, assim como eu sofri
muito um dia, mas eu superei a dor, e hoje estou muito feliz com meu marido e meu filho! Gostaria de vê-
lo em breve, pois o menino já vai completar dois anos e quero que esteja aqui para sua festa! Eu, James e
o pequenino Curt desejamos muito rever você!
De sua eterna amiga:
Sharon Jackson Stewart Phillips.
Após ler esta mensagem, Markus começa a chorar amargamente, se deitando em sua cama, se
punindo por seus atos passados. O que quer que tenha feito, ele se feriu muito, e agora carrega o remorso
por seu ato.
Há outro e-mail urgente, que é do escritório da Jackson Stewart Inc. no Brasil, e ele nem mesmo o
lê, deixando para vê-lo com mais atenção mais tarde
E chorando muito, ele dorme um sono pesado, se preparando, sem saber, para algo que irá
começar ainda neste mesmo dia...

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Capítulo 02:

Markus desperta às 17:00 horas, e resolve sair um pouco de seu lar e rever a praça da prefeitura de
Magé à noite.
Ele veste uma bermuda jeans velha e muito surrada, tanto que está bem desbotada, uma simples
camiseta de malha verde escura, sandálias de dedos velhas. Ele continua com seu estranho boné na
cabeça, e ainda usa um estranho óculos de grossas lentes e armação negras, para tentar esconder seus
olhos, já que ele não precisa de tais óculos, pois possuí, quando necessário, lentes de contato.
Ele caminha pela praça, observando muitas pessoas que conhece, mas não quer ser reconhecido
por elas, e por isso se mantém em silêncio, até mesmo quando um par de meninos que brincam nos
playground que ali existe o chamam de “mendigo maluco”, sendo que eles não são repreendidos por seus
pais.
Em Magé, a educação nunca esteve muito em voga entre a maioria das pessoas que lá moram,
principalmente entre os mais ricos, que pensam que podem fazer de tudo...
Ainda caminhando e pensando em seu passado triste e no e-mail que recebera, Markus começa a
cogitar a possibilidade de partir dali em breve e retornar à sua vida nômade, sem se fixar em lugar algum,
pois isso alivia sua grande mágoa interior, pois nunca, desde que fizera o tal ato de que tanto tem
remorso, ele deixa e pensar naquilo um só dia.
Mas o destino tem outros planos para ele...
Ainda na praça, ao passar em frente para o fórum da cidade, ele ouve às suas costas um choro
triste, acompanhado de soluços intermitentes, pressentindo a dor de um ser humano que sofre, e isso toca
seu coração.
Markus, apesar de tudo, tem um coração muito bondoso.
Fora sempre um bom filho e irmão, e um ser humano de extrema caridade. Nunca se negaria a
ajudar quem quer que fosse que estivesse sofrendo, mesmo estando imerso em tanto amargor pessoal.
Ele se vira e vê um casal de namorados, que aparentam estar por volta dos 20 anos de idade, e para
sua surpresa, vê que o rapaz chora no colo de sua amada, que tenta com doces palavras consolá-lo, e
assim percebe que eles não estão discutindo, mas que é uma dor particular do rapaz.
Não podendo mais suportar aquela triste cena, Markus se aproxima lentamente, e pergunta, após
um suspiro longo e doloroso:
- Desculpe pela minha intromissão, mas será que posso ser de algo auxílio para você, meu jovem?
A menina, chamada Débora, o olha de forma dura, pois não está acostumada a ver um estranho
sendo gentil sem nada querer. Pensa que, talvez, ele seja só mais um homem miserável em busca de
esmolas, e então pega uma nota de um Real em sua bolsa, oferece à ele e diz:
- Toma! Se quer dinheiro pra encher a cara de cachaça, aqui está, mas vê se some e não enche a
paciência da gente!
Mesmo sendo extremamente bem educado e estando triste, Markus diz, de maneira polida, mas
seca:
- Escute bem, minha jovem: Eu não desejo dinheiro, pois não preciso dele! Meu único desejo é
realmente ser de alguma ajuda para ambos! E só um comentário: Não é de meu costume andar ébrio pelas
ruas de uma cidade, pois nem mesmo consumo bebidas alcoólicas em grandes quantidades...
O rapaz então levanta sua cabeça, revelando seu rosto, que Markus prontamente reconhece, apesar
da marca da tristeza:
Ele é Luiz, irmão de seu melhor amigo, Fábio.
Luiz tem apenas vinte anos de idade então. É magro, alto, moreno, de cabelos e olhos negros, e é
militar.
Ao ver aquele menino que tanto fora querido para ele, assim como seu irmão mais velho, quando
ainda morava em Magé, Markus diz numa voz baixa, se ajoelhando e pondo ambas as mãos sobre os
ombros dele:
- Luiz, sou eu, Markus! Lembra-se de mim?
Apesar de tão diferente, Luiz o reconhece, mas pergunta, ainda chorando, enquanto sua namorada
se cala, pois se arrepende por ter tratado de forma tão grosseira um amigo de seu namorado:

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- Markus?!? É você mesmo?
- Sim! Estou de volta após uma longa ausência, e logo no primeiro dia em Magé, o vejo aqui
chorando! Deve estar com um problema muito grave! Me diga o que é, para que eu possa tentar ajudá-
lo...
Luiz, enxugando suas lágrimas, dia à Markus:
- Cara, o problema não é comigo, mas é com o Fábio! Se realmente quer ajudar, é melhor ir lá em
casa, pois ele tá lá com Shellen, a noiva dele...
- Noiva?! – Pergunta Markus, que continua:
- Como o tempo passa e muitas vezes nem mesmo damos importância a sua marcha... Bem, irei
para lá agora! Vocês continuam morando na rua Comendador Reis, na mesma casa de antes?
Luiz responde:
- Sim, mas não precisa ir a pé! Eu te levo lá de carro!
Assim, eles se dirigem à um carro verde que estava estacionado ali perto, embora Débora não
desejasse muito que ele entrasse no carro, pois acredita que ele deve ter um odor desagradável, pois
aparentemente é um homem relaxado, sem os mínimos cuidados com sua higiene pessoal, mas assim que
entram no carro, ela percebe que o corpo de Markus exalava um aroma muito bom, como só os perfumes
franceses mais caros podem ter.
Após dois minutos, eles chegam à casa de Fábio.
Markus se surpreende, pois da última vez que ali estivera, não havia um andar superior naquela
casa, e agora vê um, mas não demonstra sua perplexidade, e entra junto com Luiz, mas para sua nova
surpresa, eles sobem por uma escada externa para o andar superior da casa, e então percebe que a parte de
cima é uma casa separada da debaixo, mas por que?
Mesmo com essa pergunta em sua mente, ele termina de subir a escada e seu amigo de juventude e
a noiva dele chorando juntos, ela deitada com a cabeça sobre o colo dele, ambos sentados em um sofá que
ainda possui a cobertura de plástico de proteção que os móveis têm quando saem de suas fábricas.
Eles estão na companhia de Giselle, uma prima de Shellen, que tentava em vão consolá-los.
Fábio é moreno e magro como seu irmão mais novo, e tem 27 anos. Shellen tem 24 anos, morena
de cabelos negros encaracolados, com um rosto de uma linda menina, sendo que conhecera Markus pouco
antes dele desaparecer subitamente anos atrás.
Fábio não possui ânimo para levantar sua cabeça, mesmo ele percebendo a presença de um
estranho em seu lar, mas logo tem sua percepção inicial desfeita ao ouvir uma voz que, mesmo cheia de
dor e solidão, ele reconhece:
- Fábio, meu grande amigo, sou eu...
Fábio se levanta lentamente, boquiaberto, pois sempre imaginou que seu amigo estava morto ou
morando longe dali, mas mesmo agora, estando ele tão maltrapilho e mudado, reconhece seu maior e
melhor amigo:
- Markus?! É você mesmo?! Que bom vê-lo de novo, cara!
Mas sua face se torna triste novamente e ele continua, sem conseguir se levantar do sofá,
chorando:
- Se bem que agora é uma hora muito triste pra mim e pra Shellen...
Então Markus pergunta:
- Fábio, eu encontrei Luiz chorando na praça junto com a namorada dele, e quando eu chego aqui,
você e Shellen também estão às lágrimas! O que está acontecendo com você, afinal de contas?
Luiz e Débora saem, e Markus se senta em uma outra poltrona.
Após alguns segundos respirando fundo e depois de beber um copo de água com açúcar para
tentar se controlar, Fábio diz, triste e abaixando sua cabeça, e Shellen o abraça neste momento:
- Bem, é que eu e Shellen vamos casar amanhã, mas já tivemos dois problemas: O primeiro é que
o padrinho da gente desistiu hoje, dizendo que não tinha grana pra alugar um terno...
Markus pede licença para fumar um cigarro, e recebe de Fábio um cinzeiro, então puxa um maço
de cigarros estranho à eles de seu bolso, acende um e pergunta, após expulsar lentamente a fumaça de
seus pulmões:
- Então esse é o grande problema... Se você desejar, eu pagarei o aluguel do terno de seu padrinho.

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Telefone agora mesmo para ele e o avise...
Shellen o interrompe, e diz:
- Agora ele já desistiu, e até saiu da cidade por uns dias por causa da vergonha que fez pra gente!
Mas eu tive uma grande idéia: Já que você vai mesmo alugar um terno, que tal você em pessoa ser o
padrinho da gente? O Fábio vive sempre falando que se você não tivesse sumido, você é que ia ser o
padrinho oficial do nosso casamento! Já que você voltou e quer mesmo ajudar...
Fábio sorri com a idéia e diz, beijando sua noiva:
- Amor, você é demais mesmo!
E se virando para Markus, pergunta sorrindo:
- E aí, cara? Tá afim de entrar com a gente na igreja?
Markus deseja ajudar seus amigos, mas nunca cogitou esta possibilidade.
Sente que um dos seus muitos fantasmas particulares está voltando para assombrá-lo uma vez
mais, pois já tivera uma experiência semelhante a esta antes, e sabe o preço que irá pagar novamente por
fazer isso, mas Fábio e Shellen são amigos dele, e precisam muito de sua ajuda, que somente ele pode dar
neste momento.
Embora não deseje nunca mais em sua vida passar por tal dor novamente, ele quer ajudar seu
amigo, e dá sua resposta, sabendo o sofrimento que essa decisão o levará a passar:
- ... Certo, eu aceito!
Giselle não gosta nem um pouco do que ouve, pois é ela quem deverá entrar com ele no outro dia,
e diz:
- Epa, peraí! Eu vou ter mesmo que entrar com esse tribufú na igreja amanhã?! Nem morta!
Markus já havia suportado por demais o julgamento das pessoas devido à sua aparência, e sua
paciência já fora forçada muito além de seu limite.
Durante todo aquele dia em que retornara à Magé, desde que saltara do ônibus, fora julgado e
maltratado por sua aparência, e não por ser o homem que realmente é, então diz de forma seca sem se
alterar, deixando evidente que está irritado com o gesto fútil de Giselle:
- Ora, então somente por minha aparência não a agradar, você agora irá deixar de lado sua
responsabilidade? De modo algum permitirei isso! Fábio e Shellen já sofreram demais por culpa de um
irresponsável que resolveu desaparecer na véspera de seu casamento, e você agora começa a também
querer deixar tudo de lado, fugindo tal qual um rato de um navio que está afundando? Se não gosta de
minha aparência, então façamos o seguinte trato: Entre à meu lado na igreja amanhã, para a cerimônia, e
só isso! Depois, você irá para onde desejar, e eu o farei o mesmo, concorda?
A contragosto, Giselle responde:
- Tá, eu faço esse sacrifício, mas eu vou embora agora mesmo! Não desejo que ninguém me veja
com um homem tão feio do meu lado!
E Giselle parte apressadamente, indo para sua casa.
Shellen, envergonhada pelas palavras de sua prima, diz:
- Poxa, Markus, me desculpe pela minha prima...
Markus, diz, de forma calma e branda:
- Não é necessário se desculpar, minha amiga! Eu compreendo... A maioria da pessoas desta
cidade são de uma grande futilidade, não julgando um homem pelo que é, mas por aquilo que ele possui
ou pelo que aparenta ser! Uma cidade de aparências, isso sim é Magé!
E Fábio diz, com um leve sorriso em seu rosto:
- Bem, agora que você vai ser nosso padrinho, é um problema à menos...
Markus se vira e pergunta:
- Um problema à menos? Por que? Existe mais algum?
Shellen olha para Fábio e faz um sinal positivo com sua cabeça, para que ele contasse o restante
para Markus.
Fábio suspira e diz:
- Bem, é que nós tivemos um problema com dinheiro. Tava quase tudo certo, mas então o governo
baixou um plano econômico doido nos últimos dias e a gente teve que contar até as moedas pra fazer
tudo, mas no fim, não conseguimos grana pra comprar a nossa geladeira...

9
Markus cruza seus braços e diz:
- Então, este é o grande problema de fato?
Shellen diz:
- Sim...
Markus então toma uma resolução, mas quer fazer uma surpresa à ambos, então lhes diz:
- Bem, vamos na loja de eletrodomésticos ali na rua da igreja...
Mesmo sem entender o que ele pretende, eles vão junto com ele no carro de Fábio até a loja, pois
já são 18:15 horas, e a loja fecha às 19:00 horas.
Após dois minutos, eles chegam à loja e entram, mas um funcionário tenta impedir que Markus
entre, dizendo:
- Aqui mendigo não entra!
Irritado, pois não consegue mais suportar tamanhos destratos devido à sua aparência, Markus lhe
diz, retirando a mão dele de seu ombro:
- Por um acaso, esta cidade é habitada somente por pessoas mal educadas? Todos aqui nunca
ouviram falar nas palavras “cortesia” ou “educação”? Eu já estou farto disso! Eu não sou um mendigo, e
se tentar me impedir, eu me queixarei contra esta loja em um tribunal de justiça! Em nenhum outro lugar
no mundo alguém é tratado assim, só neste lixo de cidade! Aqui, quem é belo ou possui dinheiro, faz tudo
o que quer e é aplaudido em praça pública, como se fosse um gênio ou coisa parecida! Mas chega disso!
Eu entrarei nesta loja agora!
O funcionário diz:
- Tá pensando que é o que? Se veste igual à um Judas, e quer ser chamado de doutor, é? Se
realmente não é um mendigo, prove!
- Se é um prova que você quer, seu grande tolo, uma prova terá... – Diz Markus, abrindo sua
carteira, mostrando cartões de crédito e muito dinheiro, e o funcionário logo tenta bajulá-lo, mas Markus
o dispensa, preferindo ser atendido por uma jovem gentil que ali está, que não se importa com sua
aparência.
Fábio e Shellen ficam olhando para as geladeiras, e vêem um modelo pequeno, mas o preço é
muito elevado, e Markus, se aproxima de ambos e pergunta:
- Viram alguma que os agradou?
Fábio responde:
- Cara, essa aqui é legal, mas nós já dissemos que tamos sem dinheiro... Por falar nisso, por que
trouxe a gente aqui?
Markus se aproxima de um outro modelo, uma de duas portas branca, de um lado geladeira e do
outro freezer, e diz, virando-se para a menina que o atende:
- Essa aqui é bem bonita e combina com a cozinha... Bem, iremos levar essa!
Fábio e Shellen ficam boquiabertos, e então Shellen pergunta:
- O que você vai fazer com essa geladeira?
Markus responde:
- O que eu vou fazer? Ora, vou comprá-la e dá-la a vocês como meu presente de casamento...
Shellen e Fábio mal podem acreditar nas palavras que acabam de ouvir. Markus está lhes dando
um presente caro, e sem nem ao menos pensar no preço.
Fábio diz:
- Markus, vamos parar com a brincadeira!
Markus lhe diz, sereno:
- Eu estou falando sério, Fábio! Este é meu presente! Não é justo que vocês sofram privações no
dia do casamento de vocês se eu puder ajudá-los! Sou seu padrinho e amigo, e é minha função dar-lhes a
mão amiga numa hora de necessidade, como esta...
Markus e a jovem atendente que está com ele vão até o balcão, e ele retira de sua carteira um talão
de cheques de um banco internacional que possui filiais no Brasil inteiro, escreve o valor, assina e paga à
vista o preço da geladeira, e se vira para a mocinha e pede:
- Por favor, faça o possível para que esta geladeira esteja no endereço desse casal amanhã pela
manhã! Se tiver que pagar alguma cota a mais, isso não será problema...

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A menina lhe diz que isso não é necessário e garante que tudo será feito como ele deseja; e após
Fábio dar-lhe o endereço de sua casa, Markus se prepara para retornar à seu lar, para descansar até o outro
dia, e pergunta:
- Fábio, a que horas será o casamento de vocês?
Fábio, sorridente de tanta alegria, responde:
- 19:30 horas, na igreja Matriz! Esteja lá, hein?! Mas tem certeza que não quer voltar com a gente
lá pra casa e ficar conversando um pouco mais e tomar umas cervejas?
Markus responde:
- Não, caro amigo! Desejo retornar à meu lar e descansar um pouco... Além do mais, eu pouco
bebo algo que contenha álcool... E peço que não diga meu nome à ninguém nesta cidade amanhã no
casamento, pois como só julgam as pessoas por sua a aparência e pelos rótulos que lhes põe, eu desejo
que minha identidade seja mantida em segredo, até que eu ache que a hora de me revelar chegou...
Mesmo sem entenderem o pedido dele, Fábio e Shellen resolvem atender seu pedido, e avisarão
Giselle de que não revele a quem for o nome dele.
Markus acrescenta:
- Se desejarem, me chamem pelo meu sobrenome: Blakk...
E assim eles se despedem, e Markus caminha para seu lar, onde chega após cinco minutos.
Ao entrar, lembra da mensagem importante que não lera antes, e liga seu computador novamente e
a lê.
É uma convocação para que compareça no escritório da firma assim que puder.
Ele se levanta da cadeira e vai até a sala.
Após sentar em um sofá, ele apanha seu telefone e liga para o escritório daquela firma, e é
atendido por uma secretária:
- Escritório da Jackson Stewart Inc., boa noite! Quem é e com quem deseja falar?
Com sua voz triste, Markus responde:
- Eu sou Markus Blakk, e desejo falar com o Senhor Graccia, pois recebi uma mensagem dele...
Interrompendo-o, ela diz:
- Senhor Blakk! Estávamos aguardando ansiosamente seu contato! Irei transferir agora mesmo sua
ligação para o senhor Graccia... Aguarde um momento, por favor...
Ernesto Antunes Graccia é o representante brasileiro da JSI, e fora ele próprio quem enviara a
mensagem para Markus.
Após alguns segundos, Markus ouve a voz feliz dele:
- Senhor Blakk, que bom poder falar novamente com o senhor! A quanto tempo, hein?
Markus pergunta:
- Digo o mesmo, meu amigo... Mas por que me enviou aquela mensagem? Alguma coisa errada?
- Não, senhor! É que recebemos uma coisa aqui, e as ordens são para o procurar e entregar algo ao
senhor! É de suma importância e urgência! – Responde Graccia.
- Entendo! Irei amanhã pela manhã até seu escritório, velho amigo... Ele continua no mesmo
endereço de antes? – Diz Markus, suspirando, pois aquela situação lhe traz tristes lembranças, as quais ele
deseja por tudo enterrar, mas lhe é impossível.
Graccia lhe responde positivamente e Markus marca o horário de sua chegada, e então se
despedem.
Após desligar o telefone, Markus se levanta de seu sofá, e vai em direção à seu quarto, para então
abrir a porta de seu armário onde está aquele case que ele nunca mais quer ver em sua vida, o retira de seu
lugar e diz:
- Certos fantasmas teimam em assombrar uma pessoa pelo resto de sua vida, e você é o meu!
Amanhã, terei que usá-lo uma vez mais!
E o coloca gentilmente sobre uma cadeira, pois irá aproveitar sua ida ao Rio de Janeiro para levá-
lo à uma lavanderia e também procurar melhorar sua aparência para o casamento, pois como está é
impossível comparecer lá sem ser incômodo e deselegante.
Ele então se deita na cama, prepara o despertador para soar o alarme às 05:30 horas, pois quer
aproveitar o dia para fazer muitas coisas antes de retornar à Magé para o casamento.

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Neste dia, ele mal imagina que de seu passado irá retornar uma pessoa extremamente especial de
suas sombras, mas não numa tentativa de amargurá-lo ainda mais, mas para tentar resgatá-lo de seu
sofrimento...

Capítulo 03:

O despertador soa o alarme na hora marcada, e Markus se levanta rapidamente de sua cama.
Ele vai até o banheiro para tomar um rápido banho e escovar os dentes para livrar-se do hálito
deixado pelo sono, vai até a cozinha e abre a geladeira, para pegar um copo de leite gelado, e o bebe
rapidamente, acompanhado de uma maçã.
Depois, ele escova novamente seus dentes, que são perfeitos e muito brancos, se veste com uma
bermuda nova branca, camiseta pólo azul turquesa e um par de tênis novos em folha.
Após apanhar seus documentos e dinheiro, ele caminha até um ponto, onde apanha um ônibus que
o levará até o bairro Castelo, no centro da cidade do Rio de Janeiro, onde fica a sede brasileira da JSI,
para onde se dirige.
Após uma hora e vinte minutos de viagem, ele chega ao seu destino, saltando no ponto final do
ônibus. Ele caminha até um táxi, e lhe diz o endereço para onde quer ir.
Após dez minutos, Markus chega à seu destino:
O prédio da divisão brasileira da JSI, onde ele já estivera uma vez no passado, e que novamente
está à sua frente.
Ele contém-se para não chorar de tristeza, pois aquele lugar também o lembra sua terrível sina de
dor, e caminha até a portaria, onde mostra um documento de identificação ao segurança, que ao vê-lo,
imediatamente permite seu acesso à sede da JSI, e telefona para informar ao senhor Graccia de sua
presença ali.
Após três minutos sentado em uma poltrona e lendo uma revista em uma sala de espera, Ernesto
aparece na porta, sentado em sua cadeira de rodas motorizada.
Ernesto tem 60 anos de idade, cabelos grisalhos, pele negra.
É advogado formado, e sofrera um grave acidente de carro à alguns anos que o deixou
paraplégico, mas ele nunca deixara de sorrir ou de ter gosto pela vida, ao contrário do homem que está em
sua frente.
Markus se levanta, vai até sua direção, se agacha e o abraça amigavelmente por um longo tempo.
Ernesto é um grande amigo dele, pois tudo que Markus é agora deve uma grande parte disso à ele.
Markus diz:
- Bom dia, meu grande amigo! Como está, senhor Graccia?
Ernesto sorri e responde:
- Para você, eu não sou senhor! Sabe muito bem que sou seu amigo! E como vai você, o nosso
presidente mundial da área de desenvolvimento de tecnologia da JSI? Como tem passado?
Esse é um dos grandes segredos de Markus.
Apesar de ser jovem, ele é o responsável pela área de desenvolvimento de novas tecnologias da
JSI, mas nunca deixara isso claro para muitas pessoas, nem mesmo para sua família.
Markus responde:
- Estou muito bem, meu caro amigo! Mas por que me chamou? Creio que sabe que estou de férias
por dois meses!
Ernesto lhe diz:
- É que o senhor Stewart nos enviou algo para você, e pediu que nós entregássemos em suas mãos
assim que chegasse ao Brasil, e seu irmão me avisou que você havia chegado ontem, mas como ainda não
tenho seu novo telefone, enviei uma mensagem via e-mail. Ainda bem que você a viu o mais rápido
possível...
Markus, ao ouvir o nome do proprietário mundial da JSI, suspira triste e baixa sua cabeça, mas
Ernesto percebe isso, e como já sabe o que está se passando com ele, diz:
- Markus, não precisa ficar remoendo essa dor em seu coração! Isso já passou a muito tempo, e

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não há ninguém que esteja acusando você...
Markus responde:
- Desculpe, Ernesto, mas eu não posso me perdoar pelo que fiz! Você sabe muito bem que aquilo
foi terrível...
Vendo que nada adiantará discutir sobre esse assunto com Markus, Ernesto diz sorrindo, guiando
sua cadeira motorizada até um dos elevadores do prédio:
- Bem, vamos esquecer isso por agora! Venha comigo, pois o que o senhor Stewart lhe enviou está
lá embaixo, na garagem...
Markus o segue de perto, e ambos entram no elevador.
Ao chegar na garagem, Markus se surpreende ao ver uma BMW azul escuro metálico nova, com a
placa de Tampa, Flórida, que já conhece muito bem, e se dirige lentamente na direção dela.
Vendo a reação dele, Ernesto pergunta:
- Markus, você por um acaso sabe por que o senhor Stewart lhe enviou esse carro? Será que é
algum presente para você?
Markus, encostando sua mão naquele veículo, responde com sua voz triste, pois tal carro lhe traz
mais lembranças de seu passado sofrido:
- Sei, sim! Esse é meu carro....
Ernesto sabe bem da vida de Markus, e nada mais fala.
Após entregar as chaves e os documentos do carro à ele, Ernesto e Markus sobem até o escritório
principal, onde ele e Markus tomam uma xícara de chá enquanto conversam por algum tempo.
Quando são aproximadamente 11:30 horas, Markus se levanta e diz:
- Meu grande amigo, tenho que partir agora, pois existem muitas coisas que devo fazer ainda esta
tarde! Qualquer dia desses, almoçaremos juntos, certo?
Ernesto afirma positivamente, e Markus desce pelo elevador até a garagem, apanha seu carro e sai
do prédio, indo em direção à Copacabana, onde sabe que existe uma lavanderia muito boa, que ele
conhece por recomendação de Ernesto, e lá chegando, deixa o case com as roupas e pede que eles lavem à
seco, e que ele voltará para apanhá-la mais tarde.
O atendente lhe diz que retorne em uma hora que ela estará pronta.
Assim Markus se retira, indo em direção à um salão de beleza para ambos os sexos próximo dali,
onde ele pretende melhorar sua aparência, que está péssima para um homem de sua importância e nível
social.
Ao entrar no salão, ele é recebido pelo dono, um rapaz homossexual de 25 anos chamado César.
César é franzino, de olhos claros, pele clara queimada de sol e longos cabelos negros lisos. Seu
pai, um sargento da Polícia Militar, o expulsara de casa no dia que descobrira que seu filho era um
homossexual.
Assim é a tolice de certos homens que não sabem respeitar o direito de outras pessoas serem e
fazerem o que quiserem de suas vidas...
Vendo a aparência maltratada de Markus, César diz com educação:
- Escute aqui, meu velho, aqui eu não dou esmolas!
Markus responde, com seu tom triste de voz:
- Eu sei, e só desejo melhorar minha aparência! Eu posso pagar por seu trabalho, não se
preocupe...
Vendo que ele é um cliente e sem nem mesmo lhe pedir garantias de suas condições financeiras,
César lhe diz:
- Por favor, me desculpe querido, mas sabe como é a vida nessa cidade...
Markus lhe diz, enquanto suspira triste:
- Está tudo bem! Eu entendo...
E completa:
- Desejo fazer um tratamento geral, pois quero que apare bastante minha barba e meu bigode, para
que ambos possam ficar um pouco mais apresentáveis; uma limpeza de pele em meu rosto, que cuide das
unhas de meus pés e mãos e me faça uma leve maquiagem, só para melhorar um pouco minha aparência...
Ah, sim, e por favor, lave e cuide de meus cabelos, aparando as pontas...

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César, educado, pergunta:
- Cabelos? Que cabelos?
Markus então retira aquele encardido boné de sua cabeça, e deixa que sua vasta e bela cabeleira
negra lisa e brilhante lhe desça até o meio de suas costas.
César percebe que ele não deve ser tão feio como imagina, e que é extremamente educado, então
lhe pergunta:
- Desculpe, mas qual é o nome do senhor?
- Me chamo Markus, mas não precisa me chamar de senhor! Não sou tão velho assim... Tenho
apenas 28 anos... – Responde Markus.
- Certo, Markus! Venha! Sente-se nesta cadeira... – Diz César, que logo chama:
- Meninas, venham aqui e me ajudem com nosso cliente!
E outros dois rapazes homossexuais e uma bonita moça, todos com aparentes 21 anos, se
aproximam.
Markus está sentado conversando com eles com toda educação, pois não é uma pessoa tola e
preconceituosa, e eles são extremamente educados e competentes, e têm todo o cuidado para não ferir seu
cliente.
Após uma hora e meia de trabalho, todos se assustam com a real aparência de Markus:
Seus cabelos negros são belos e brilhantes; seus lábios, antes escondidos por sua barba e bigode,
são finos e bem vermelhos como sangue; seus dentes são claros como a neve; seus olhos negros
contrastam de maneira bela com sua pela alva e sem rugas; a barba e o bigode que antes brutalizavam seu
belo rosto agora estão bem menores, e um fino cavanhaque lhe dá ares de nobreza.
Tal como um sapo de uma fábula infantil se torna um belo príncipe, Markus agora mostra sua
aparência real:
É um homem com a aparência de um jovem de pouco mais de 20 anos de idade, mas muito belo,
mais ainda que a maioria dos galãs de TV. É capaz de fascinar a mais bela mulher do mundo, e todos no
salão ficaram pasmos com sua aparência verdadeira, mas o respeitam, pois os homossexuais, além de
bons profissionais, são também pessoas boas.
O que define se um homem é bom ou ruim não é sua opção sexual, mas seu caráter, e isso tanto
César como seus auxiliares possuem.
César então diz, sorrindo e brincando, pois percebe que Markus não irá se irritar ou se ofender
com aquilo:
- Uau, você tá um arraso, querido! Um gatão!
Markus fica ruborizado, e diz com a sua peculiar voz tão cheia de tristeza:
- Obrigado por seus elogios, César! Peço que me dê um cartão de seu salão, pois só irei cuidar de
minha aparência aqui! Gostei muito de seu trabalho, César...
César havia conquistado a amizade e respeito de Markus, e como é extremamente perspicaz, lhe
diz:
- Markus, me desculpe por me intrometer em sua vida, mas agora vou falar muito sério: Você
parece carregar um mágoa muito grande! Não se assuste, pois é fácil perceber isso em você, e te dou um
conselho de amigo: O que quer que seja, deixe isso no passado, pois o que importa é o presente, e o futuro
ainda virá! Se ficar assim, vai perder muito tempo em sua vida! Levanta esse astral, querido!
Markus se surpreende como César havia percebido sua dor, e lhe diz:
- Espero sinceramente que, algum dia, eu possa seguir seu conselho, César... Mesmo assim, muito
obrigado...
E assim ele paga pelo serviço de César, inclusive dando gordas gorjetas para todos, e parte em seu
carro de volta para a lavanderia, onde sua roupas estão prontas e aguardando seu retorno.
O atendente não o reconhece, mas tanto sua voz como o cartão de identificação provam que é ele o
dono daquela roupa que haviam limpado e tratado com esmero.
Após pagar por esse serviço, ele caminha para uma grande loja de eletrodomésticos e compra um
telefone celular, pois tem a clara impressão de que precisará de um em breve.
Ao sair da loja, ele olha para o relógio e comprova que já são 16:00 horas, e então parte às pressas
de volta para Magé, chegando em seu lar por volta da 17:00 horas.

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As pessoas se assombram em ver aquele belo carro passando pelas ruas e contornando a praça da
prefeitura, mas não conseguem ver quem o dirige devido ao vidro com isulfilm que ele possui.
Markus entra pelo portão do prédio onde mora, põe seu carro na vaga correspondente à seu
apartamento, e os poucos que o vêem não o reconhecem como o homem estranho e maltrapilho que mora
naquele prédio.
Markus entra em seu apartamento, pega um pedaço de pão que havia comprado no meio do
caminho de volta, põe um pouco de queijo e apanha na geladeira uma garrafa de mate que está lá desde
antes dele retornar à Magé e faz um rápido lanche, para então ir para o chuveiro e tomar um longo e
refrescante banho.
Após o banho, ele retoca um pouco sua maquiagem, se perfuma e prepara para uma vez mais
vestir a roupa que ele tanto deseja nunca mais ver em sua vida, muito menos usá-la.
Mas ela é a roupa mais indicada para um casamento, e ele irá usá-la, mesmo que se arrependa
muito por isso...

Capítulo 04:

São 18:45 horas.


Fábio, Luiz e sua família estão em frente à igreja, aguardando a noiva.
Giselle também lá está, esperando em breve ver aquele homem feio que será o seu par, e imagina
as brincadeiras que terá que suportar de suas amigas, fúteis como ela, por algum tempo.
Mas de repente as luzes de toda a cidade se apagam, e ninguém mais é capaz de enxergar nada,
pois está frio e o céu encoberto, coisa rara para o mês de Dezembro no Brasil.
Então todos vêem um par de faróis acesos vindo em direção à igreja, evidenciando que um carro
está chegando de forma lenta em direção à Matriz.
Os faróis param e se apagam, mostrando que o caro estacionara e alguém acaba de chegar.
Fábio, pensando que seu cunhado havia chegado com sua noiva, ao ouvir o som da porta batendo,
chama pelo nome de seu cunhado:
- Fernando? É você?
Então ouve uma voz triste dizer:
- Não, Fábio! Sou eu, Blakk...
Ouvindo aquela voz e aquele nome, Fábio percebe que é seu amigo, mas vê apenas uma leve
silhueta em meio à escuridão, que se aproxima e o cumprimenta:
- Boa noite, meu amigo... O casamento já começou?
Lembrando do pedido dele, Fábio responde:
- Não, Blakk, ainda não! E nem sei como vai ser sem luz!
Repentinamente como se foram, as luzes retornam e revela a forma de Markus.
Todos se surpreendem, principalmente Fábio e Giselle, pois não é o que esperavam ver.
As vestes que ele não desejava vestir nunca mais são um belo conjunto formado por fraque e capa
com revestimento cinza; uma linda faixa negra que cingia sua cintura; as mangas do fraque possuem
belos babados adornados com fios prateados; sua gravata é negra, contrastando com o branco e prata da
camisa interna; e ainda existe um alfinete de prata que adornando seu peito.
Fora isso, agora está muito belo e formoso, com sua vasta cabeleira negra amarrada ao longo de
suas costas por uma fina corda negra.
Surpreso, Fábio pergunta, incrédulo, mas sem revelar a identidade de seu amigo:
- Blakk, é você mesmo?
Markus afirma com um silencioso balançar de sua cabeça.
Nesse momento, Giselle caminha até o lado dele e lhe dá o braço, mas Markus o puxa com grande
delicadeza e diz:
- Por que está tentando me dar o braço? Ainda não está na hora da cerimônia...
Ela fica perplexa, mas responde:
- É... é que... você tá... tão bonitão!

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Markus lhe diz, de forma educada, mas bem mais sério do que ele costuma ser:
- Ouça bem, minhas palavras ditas ontem continuam válidas hoje! Você me desprezou devido à
minha aparência anterior, nunca imaginando que eu não sou realmente daquela forma, e agora que vê o
homem real, tenta permanecer à meu lado com alguma idéia estranha em sua mente? Desculpe-me, mas
só iremos entrar juntos na igreja, e mais nada!
E baixando sua cabeça com sua expressão triste, ele suspira e continua:
- Além do mais, não quero nunca mais em minha ter nenhum tipo de relacionamento amoroso...
Giselle não gosta do que ouve, mas se cala, por saber que as palavras de Markus são verdadeiras.
Realmente fora extremamente grosseira com ele no dia anterior, e agora está recebendo o justo
pagamento por sua futilidade, além de testemunhar a total ausência de vontade de amar em um homem...
Encerrada sua conversa com Giselle, Markus então começa a conversar com Fábio sobre vários
assuntos, mas começa a sentir preocupação, pois já eram 19:15 horas e Shellen não chegara para a
cerimônia até o momento.
Extremamente tenso, Markus apanha seu telefone celular, pergunta à Fábio o número da casa de
Shellen e telefona para ela, mas se distancia das pessoas para poder falar com ela sem preocupar ninguém
e sem se revelar.
O telefone chama duas vezes, e logo ouve a voz de Michele triste, e diz:
- Shellen, sou eu, Markus! Aconteceu algo? Você está muito atrasada...
Ele a ouve chorar e percebe que alguma coisa estava muito errada, e pergunta:
- Shellen, o que está acontecendo?
Shellen responde entre soluços:
- É que o carro que ia me levar pra igreja quebrou aqui em frente de casa, e não tem ninguém pra
me apanhar... Meu Deus...
Markus então diz:
- Se acalme! Estou indo neste exato momento até sua casa buscá-la! Me passe o endereço...
Ela, mesmo nada entendendo, lhe diz seu endereço e lhe dá como ponto de referência a igreja de
São Nicolau, em Suruí.
Então ele se despede dela e desliga o telefone, e anda rapidamente até seu carro, e todos se
surpreendem uma vez mais em ver que aquela bela BMW está com ele.
Markus manobra o carro, pára por um momento próximo de Fábio e diz:
- Fábio, houve um pequeno problema com o carro que traria Shellen à igreja, e eu irei buscá-la
agora... Não saiam daqui, e mantenham o padre pronto para o casamento! Peça ao padre que aguarde mais
um pouco, e lhe diga que receberá uma doação em dinheiro para as obras da igreja por sua boa vontade...
E então parte, nem mesmo dando tempo de Fábio perguntar de quem era aquele carro...
Após dez minutos em que guia o carro em alta velocidade, Markus está em Suruí, onde Shellen
mora, e procura pela casa dela, e após dois minutos, ele está em frente à seu destino.
Ele então sai do carro, e chama por ela, que logo vem até a porta da casa, mas não o reconhece, e
pergunta:
- Blakk?! É você mesmo?
Ele responde:
- Sim, vamos o mais rápido possível! Já estamos bem atrasados! Traga sua mãe e seu irmão logo!
Markus sabe que Shellen é órfã de pai e que só tem, além da mãe, um irmão mais velho chamado
Fernando.
Eles logo vem, e se surpreendem ao ver aquele homem e aquele carro tão belos, mas Markus abre
a porta traseira para que Shellen entre com sua mãe, ao passo que Fernando irá na frente junto com ele.
Assim que todos entram, Markus se senta ao volante e parte em disparada em direção à Magé em
silêncio, até que a mãe de Shellen, uma idosa senhora chamada Ângela, lhe diz:
- Obrigada, meu filho...
- Não é necessário agradecer, minha senhora! Sua filha e seu genro são meus amigos! Eu faria
qualquer coisa que estivesse ao meu alcance para ajudá-los...
Shellen pergunta:
- Blakk, de quem é esse carrão?

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Sereno, mas com sua voz triste, ele responde:
- É meu...
E assim eles conversam durante a breve viagem até a igreja, mas então ouve Fernando dizer:
- Poxa, Blakk, vamos fazer o seguinte: Já que você é amigo de Fábio e Shellen, e tá bonito pra
caramba, que tal você entrar com minha irmã e levá-la até o altar?
Markus, surpreso, responde:
- Mas você é o irmão dela, e é seu direito levá-la até o altar...
Fernando lhe diz:
- Ah, cara, você tá vestido que nem um príncipe, e eu não ligo muito pra isso! Vai lá... Eu vou
entrar com minha mãe...
Após a insistência de Fernando e ver que tanto Ângela e Shellen não se importam em ser ele quem
a levará até o altar, ele diz:
- ... Certo, então! Eu a levarei...
E assim eles chegam em frente à igreja, e Markus sai do carro às pressas e diz à Fábio:
- Ouça bem, eu irei conduzir Shellen até o altar, até você, Fábio... Você, Fernando, entrará com
sua mãe...
Giselle pergunta:
- E eu? Não vou entrar com ninguém?
Markus responde:
- Bem, eu não poderei entrar à seu lado, então peço que me aguarde lá...
Ouvindo aquelas palavras, ela se frustra, mas irá ter que fazer o que ele diz e não poderá de
maneira alguma contestá-lo.
Assim que todos os preparativos estão prontos, Markus e Shellen estão à sós em frente à igreja,
esperando a hora de entrar, de braços dados.
Markus percebe que ela está muito nervosa, e ele diz:
- Se acalme, pois o pior já passou... Tudo dará certo...
Shellen sorri e diz:
- Sim... Tudo graças à você! Obrigada...
Ele diz:
- Não é preciso me agradecer! É muito importante para mim auxiliar alguém, quanto mais meus
amigos... Isso ajuda a diminuir minha própria dor...
E então ele se cala e seu rosto se mostra mais triste que antes.
Shellen se prepara para lhe perguntar que sofrimento era esse, mas a marcha nupcial é tocada, e
eles entendem que estava na hora de entrarem.
Assim que entram, todos os olhares eram só para eles, e todos ficam admirando aquele homem tão
elegante, que traz no rosto uma expressão séria e calma, mas levemente amargurada.
Markus a entrega à Fábio, e diz num tom baixo de voz:
- Parabéns à ambos! Cuidem bem um do outro...
Assim, a cerimônia se inicia e Markus toma seu lugar ao lado de Giselle, que percebe que a
expressão dele parece triste e nostálgica, como se o casamento em si lhe trouxesse recordações muito
dolorosas.
A cerimônia é muito bonita, e é selada por um simultâneo “sim” daquele belo casal, que
finalmente está unido pelos laços do matrimônio para sempre.
Eles se beijam apaixonadamente, declarando em silêncio o grande amor que sentem um pelo
outro.
Após o fim da cerimônia, todos os presentes saem e Fábio, Shellen e Markus permanecem um
pouco em frente à igreja.
Giselle nem ao menos tenta uma nova investida, pois sabe desde já que será inútil.
Nesse meio tempo, o carro de Fernando chega, pois o mecânico viera traze-lo por saber da
importância do veículo lá.
Fernando recebe as chaves do veículo e respira aliviado, pois poderá levar sua mãe até a recepção
e depois de volta para casa de carro.

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Fábio diz, enquanto abraça seu velho amigo:
- Blakk, muito obrigado! Você salvou a gente mais uma vez! Mas por que você tá sempre com
essa cara de enterro? Até sua voz é triste demais! O que houve com você? O Blakk que eu conhecia era
sorridente e otimista, e você parece até que tá cansado de viver!
Markus não deseja falar sobre si, mas também não quer dizer não à seus amigos, mas antes que ele
fale algo, ouve um grito estridente feminino à suas costas, então se vira e vê um homem dar uma bofetada
no rosto de uma mulher.
Ele reconhece aquele homem prontamente:
É Edu Capeta.
Eduardo, mas conhecido por Edu Capeta, é um rapaz de 25 anos de aparência de nordestino. Forte,
de cabelos crespos e, apesar de muito belo, tem um gênio terrível. É estúpido, semi analfabeto, mas se
impunha pelo medo.
Edu então diz, levantando sua mão para um novo golpe:
- Sua vagabunda! Que negócio é esse de ficar me dando toco agora?! Eu quero você, e você é
minha, entendeu, cachorra!? Minha!
Markus se aproxima rapidamente, segura o braço dele e diz:
- Pare com isso, Eduardo! Não é direito bater em uma mulher...
Eduardo se vira e diz:
- Que foi, mauricinho? Eu nem te conheço! Só por que tá bonitão acha que pode tirar onda com
minha cara? É melhor sumir da minha frente, senão...
Markus lhe diz de forma gentil e educada:
- Ouça, Eduardo, eu não desejo lutar com você, mas não posso permitir que agrida uma mulher...
Pare com isso, e se vá em paz...
Edu tenta lhe dar um soco, mas ele segura sua mão e lhe torce o braço e o joga contra o chão.
Eduardo tenta um novo soco, mas Markus se desvia lhe dá uma violenta cotovelada em seu
estômago, fazendo com que Edu Capeta se contorça e se dobre até o chão. Quase ninguém sabe, mas
Markus fora praticante de Tai Chi Chuan durante seus anos de ausência.
Uma viatura da polícia pára em frente à eles, pois foram chamados para prender aquele homem
que agredira uma mulher, e Markus lhes diz para que o levem embora, e os policiais assim o fazem.
Edu Capeta, depois de ser liberado pela polícia alguns dias depois, vai embora para sempre de
Magé, pois a vergonha que sentira devido à ser posto fora de combate por alguém com um único golpe, e
nunca mais será visto nem por aquela que agrediu, nem pelo homem que a defendeu, e nem por ninguém
nesta cidade nunca mais...
Após a partida da viatura, Markus ouve os soluços e gemidos da jovem que fora esbofeteada, e se
vira lentamente.
Embora não possa ver o rosto dela, pois ela está com sua face escondida por suas mãos, devido à
vergonha, ele se agacha, estende a mão na direção dela e então diz de forma gentil, pois a reconhecera
prontamente:
- Senhorita Ana Carolina, por favor, segure em minha mão e se levante...
A jovem caída se surpreende ao ouvir alguém chamar por seu nome, e se vira e dá sua mão ao
desconhecido que a auxiliara, sendo erguida gentilmente do chão pela mão.
Antes que ela diga algo, Markus retira de seu bolso um lenço e vai retirando a poeira que está
sujando seu belo vestido cor de vinho, até que ele esteja limpo.
Ana Carolina tem 26 anos, é alta, de longos cabelos castanhos lisos que chegam até o meio de suas
costas, seios fartos, rosto de menina e corpo muito belo.
Markus a conhece de um curso de preparação para o vestibular que haviam feito juntos nove anos
antes, alguns meses antes dele partir, e ele havia nutrido por ela um amor platônico, pois Markus sempre
fora muito tímido.
Eles sempre conversaram muito e foram amigos muito íntimos, até o dia em que Markus a vira
começar seu primeiro namoro com Edu Capeta, o que o fez ficar muito triste e deprimido, e não mais se
falaram até o dia em que ele desapareceu por completo.
Ana contempla aquele estranho homem, e surpresa em ver que ele a conhece, pergunta:

18
- Você me conhece?
Com sua voz triste, Markus responde:
- Sim, pois nós já fomos colegas...
Ela reconhece aquela voz, mas não se lembra de onde já a ouvira ou de quem ela pode ser, mas
não lhe é estranha.
Ela, ainda enxugando as lágrimas, pergunta:
- Mas eu não me lembro de te conhecer... Quem é você?
Ele a olha nos olhos e diz:
- No momento, por motivos particulares, estou evitando de revelar às pessoas quem na realidade
sou, mas você pode me chamar de Blakk...
- Blakk!? Esse nome não me é estranho! De onde é que eu o conheço? – Pergunta Ana a si mesma
em seus pensamentos, tentando recordar quem ele poderia ser. O que já lhe é óbvio é que conhece este
homem estranho e elegante.
Quando ele já se prepara para ir de volta para junto de Fábio e Shellen, ele a ouve dizer:
- Blakk, desculpe por não ter agradecido antes.... Muito obrigada por sua ajuda...
Ele responde, sem se virar para encará-la:
- Não precisa me agradecer, pois só fiz o que qualquer homem deveria fazer num caso destes...
Ela então diz, tremendo:
- Só que eu tô com medo dele voltar da delegacia e me bater de novo...
Markus pára e pensa no que ele pode fazer para ajudá-la por alguns segundos, e tem uma idéia que
pode trazer-lhe mais dor do que já está sentindo, mas diz à Ana:
- Se desejar, pode ficar em minha companhia até o fim da recepção do casamento, pois irei levar
os noivos para sua lua-de-mel, e então a levarei até sua casa...
Ela se surpreende pela oferta dele, ao mesmo tempo em que pode sentir uma profunda e velada
tristeza na voz dele, que lhe é cada vez mais familiar.
Seu subconsciente já sabe quem é aquele homem, mas ela ainda não o reconhece, e embora
desconfiada, ela responde:
- ... Então tá! Eu aceito!
Então Ana caminha ao lado dele até os recém casados, que a reconhecem, pois além de amigo de
Markus, Fábio havia sido professor no curso que eles fizeram, e a conhece muito bem, assim como
Shellen, que auxiliara a parte de secretária daquele curso.
Inclusive Ana fora convidada por eles para o casamento, que testemunhara, mas depois fora
abordada por Edu, que nunca aceitou o fim de seu namoro.
Após os cumprimentos mútuos entre o casal e Ana, Markus lhes diz:
- Bem, pelo que sei, agora vocês irão tirar as fotos de seu álbum de casamento, não é? Iremos em
meu carro, pois eu serei seu chofer esta noite...
Após marcarem onde será o local das fotos, no jardim da casa de um amigo dos noivos na rua
Major Magalhães, Fábio, Shellen, Ana e Markus entram no carro e se dirigem para lá.
Markus vê a felicidade dos noivos pelo retrovisor e suas palavras de extremo carinho um para com
o outro, e seu semblante se torna cada vez mais amargurado, o que Ana percebe logo, e começa a
reconhecer quem pode ser aquele homem elegante, mas ainda não consegue perceber quem ele é na
realidade.
Após cinco minutos, eles chegam até a casa onde as fotos serão feitas, e o fotógrafo já havia
preparado tudo com antecedência.
Assim, eles começam a sessão, bem como a serem filmados, imortalizando aquela data tão bela e
importante.
Markus a tudo observa de longe, fumando e sentindo a sua própria amargura crescer, pois aquela
visão lhe traz amargas lembranças de seu passado...
Ana observa Markus atentamente, tentando lembrar-se sobre quem poderia ser ele, e ao ver seu
olhar triste em direção aos noivos, finalmente o reconhece.
Ele é um homem por quem um dia ela nutrira uma grande afeição, e que ao começar a namorar
Eduardo, ele desaparecera por completo, sem deixar sinais ou recados.

19
- Caramba, eu conheço ele, sim! Esse sobrenome Blakk é de um homem maravilhoso que eu
conheci, e só ele tinha esse olhar triste! Quantas vezes eu vi ele olhando assim pra mim, melancólico,
como se querendo dizer com os olhos algo muito importante enquanto a gente conversava...
Ela então se aproxima dele, lhe dá o braço gentilmente e diz, enquanto um belo sorriso lhe adorna
seu formoso rosto de menina:
- Puxa, você tava sumido, hein?! A quanto tempo eu não te vejo, Markus...
Ele se surpreende, pois ela o reconhece sem a ajuda de ninguém, apenas de olhá-lo.
Vendo que sua máscara de mistério não pôde esconder de Ana quem ele realmente é, ele diz:
- Você conseguiu me reconhecer, então... Por favor, Ana, não revele a ninguém, por enquanto,
quem eu sou na realidade...
Ela sorri e afirma com a cabeça e diz:
- Não entendo o por que de você se esconder dos outros, mas pode deixar, eu vou guardar seu
segredo...
Mas mesmo assim, ela lhe faz muitas perguntas:
- Por que você sumiu? Aonde você esteve? E por que essa cara triste? Parece até que vai enterrar
alguém! Hoje é dia de felicidade, e você não deveria estar assim...
Ele responde educadamente, num tom muito melancólico em sua voz, ao mesmo tempo em que
retira delicadamente seu braço das mãos dela:
- Desculpe-me se minha expressão a incomoda, mas ainda não desejo contar à ninguém sobre
aquilo que carrego em meu íntimo...
Ela percebe que ele não deseja ser rude, mas apenas está muito triste, mas nem por isso desiste de
tentar ajudar seu antigo amigo.
Após a sessão de fotos, eles vão em direção à um clube de Magé onde será realizada a recepção
dos noivos, onde muitos convidados já aguardam para cumprimentar os recém casados.
Já em seu interior, Markus e Ana ficam em uma mesa solitária, ao passo que os noivos recebem os
cumprimentos de todos.
Ana conversa com Markus, que se dirige à ela com um semblante calmo, mas triste.
Após meia hora de conversa entre eles, uma mulher se aproxima de ambos. Seu nome:
Fabiane.
Ela é uma mulher linda.
Alta, com seu corpo muito bonito esculpido com longas horas de exercícios físicos, longos e lisos
cabelos negros, e olhos na mesma cor.
Em certa época da vida, Markus sentira uma forte atração por ela, mas Fabiane nunca lhe dera
atenção, já que, apesar de bonita, era extremamente fútil, preferindo sempre homens que possuem carros e
dinheiro, ao passo que naquela época, Markus era pobre.
Em suma: Fabiane é uma alpinista social...
Ela estivera no casamento, e reparara na figura altiva e bela de Blakk, e vendo o belo carro dele,
resolveu se insinuar para ele, já tendo até descoberto seu nome.
Ao se aproximar com seu belo sorriso, Fabiane diz:
- Oi, gatão! Seu nome é Blakk, não é?
Markus de pronto a reconhece, e logo percebe as intenções de Fabiane, mas resolve ser educado.
Com sua voz indiferente, ele diz:
- Boa noite, senhorita Fabiane... Sim, este nome que disse é meu... O que a senhorita deseja de
mim?
Ela se surpreende ao ver que ele sabe quem ela é, e ainda sorrindo, pergunta:
- Ué, você sabe meu nome? Você me conhece?
Ele afirma apenas com um sinal positivo de sua cabeça, mas Fabiane continua a se insinuar para
ele, até que Ana pede licença para ir ao banheiro.
Na realidade, Ana sente muito mal estar devido ao papel de Fabiane, que está claramente se
atirando sobre Markus, como uma simples mulher de prostíbulos.
Ao se levantar, Markus lhe pede:
- Por favor, Ana, volte logo... Eu gosto muito de sua companhia...

20
Ela nem repara no que ele tenta dizer com tais palavras, e então vai ao banheiro do clube, e lá
chegando, Ana começa a chorar, pois parece que, mais uma vez, Markus será arrancado de perto dela.
Ela sentiu muito a falta de Markus nestes longos anos, pois era sempre ele, com seu sorriso meigo
e palavras amigas de grande incentivo, que a tiravam de suas depressões; era sempre ele que ia à casa dela
buscá-la para passearem pela praça da prefeitura nos Domingos para tomarem sorvete, fruto do suor de
Markus, que fazia pequenos biscates para ter um pouco de dinheiro, e sempre fora ele que a ajudara a
estudar até poder passar pelo vestibular e ir para uma universidade pública.
Resumindo:
Markus é o homem que sempre estivera por detrás de suas maiores alegrias e conquistas, o amigo
e companheiro certo das horas incertas, e por isso, Ana não quer perdê-lo uma vez mais.
Mas isso parecia inevitável, já que ela sabe que, no passado, bem antes deles se conhecerem, ele
fora apaixonado por Fabiane.
Após quinze minutos de pranto por parte de Ana, Shellen vai até o banheiro, para retocar um
pouco sua maquiagem e vê a sua amiga chorando, e logo pergunta:
- Ana, o que houve com você? Não foi o Blakk, foi?
Ana acena negativamente com a cabeça, e responde por entre soluços:
- Não, Shellen... É que a Fabiane tá dando encima de Markus... Poxa, depois de ele voltar pra
perto da gente, ela quer tirar de novo? E tudo só por que ele tem um carrão e tá lindo demais?
Shellen sorri e diz:
- Sua boba! Eu acho que você gosta dele, não é? E se gosta, é bom saber que ele acabou de dar o
fora na Fabiane!
- O que!? – Pergunta Ana, surpresa ao ouvir as palavras de sua amiga.
- É isso mesmo! A Fabiane sentou do lado dele assim que você saiu, e ficou se jogando pra cima
de Markus e tentou segurar na mão dele um monte de vezes, mas ele sempre tirou a dele, até a hora que
ela deu uma cantada descarada, que apenas disse com toda a calma do mundo que “Mesmo se eu
desejasse estar com alguma mulher à meu lado, Fabiane, esta não seria você, já que só tem olhos para
bens materiais, e uma mulher assim não tem valor para mim...”. A Fabiane ficou fula da vida, e tentou
falar algo para ele, que acendeu um cigarro e disse pra ela com mais calma ainda do que da primeira vez:
“Seja mais educada e nada diga, pois não é certo que estrague o dia de hoje com suas palavras de ira!
Apenas me deixe em paz e vá embora, pois nada desejo com a senhorita...”
Mesmo com lágrimas nos olhos, Ana sorri e diz:
- Eu nunca ia imaginar que o Markus dissesse isso pra ela! Ninguém aqui em Magé nunca deu o
fora assim na Fabiane antes!
Shellen sorri e diz:
- Tá parecendo que você quer ficar com ele, né? Se quer mesmo, vai a luta e não desiste! Você é
uma pessoa boa, e não sei porque, mas sinto que só você pode ajudar ele! O Markus tá muito triste,
parecendo até que tá com muito remorso de algo! Vai lá, e tira ele dessa fossa!
Ao ouvir o conselho de Shellen, Ana sorri e a abraça, e então refaz sua maquiagem e retorna
lentamente para a mesa, onde Markus bebe com extrema calma um copo de vinho e fuma mais um
cigarro.
Ao vê-la se aproximando, ele se levanta, puxa a cadeira de forma educada para que ela se sente à
seu lado, e ele, percebendo pela de demora dela no banheiro e pela maquiagem que fora levemente
retocada, pergunta:
- Me perdoe pela intromissão, mas aconteceu algo com você no banheiro? Esteve chorando, por
um acaso?
Ana, vendo que ele percebera algo, responde sorrindo:
- Não, Blakk! Tá tudo bem comigo! Foi só o sono, mesmo...
A face sempre tão triste de Markus se torna menos tensa, como se ele estivesse se alegrado um
pouco com as palavras dela, pois ele percebe que ela tentara enganá-lo, apenas para não lhe dar novas
preocupações, embora ele bem saiba que ela estivera chorando, mas não pode imaginar o motivo.
Desfazendo a estranha sensação que os envolvera devido à pergunta dele, Ana pergunta com
calma:

21
- Por que você não me contou que ia embora antes de você sumir? Eu fiquei muito preocupada
com você...
- Foi tudo um tanto quanto às pressas na época, e não pude contar à ninguém meu paradeiro ou o
que estive fazendo nestes anos... Mas, por favor, não comentemos mais sobre este hiato de tempo em que
estive fora de Magé... Quando chegar a hora certa, exporei meus motivos e o porque de estar sempre tão
triste... – Ele responde, expondo um pouco da verdade que ele esconde.
E continuam a conversar, onde Ana se mostra muito atenciosa e animada com suas palavras,
tentando pôr abaixo a muralha de tristeza que ele construíra a seu redor, mas ele não mostra falhas nela.
Mas embora Ana não pudesse perceber, seus esforços não estão sendo em vão, pois mais e mais
ela se aproxima do segredo de Markus com suas palavras.
Enquanto conversam, um casal chega ao clube, e ao verem aquele homem elegante, se
aproximam.
São Adriano e Luciana.
Adriano é um rapaz moreno de olhos azuis, muito magro, de cabelos crespos e castanhos. Ele fora
outro amigo de infância de Markus, e mesmo ele estando tão mudado, o reconheceu, e logo foi
cumprimentá-lo.
- Markus? É você mesmo, meu amigo? – Ele pergunta à Markus.
Ao ver seu velho amigo, ele se levanta e pergunta:
- Adriano?
Ela afirma com a cabeça e abraça Markus, pois sabe que ele é seu antigo amigo.
Markus retribui o abraço e confirma quem é, mas novamente pede segredo sobre sua identidade à
um amigo, que lhe diz que o fará, mas Luciana logo o chama para irem se sentar em uma cadeira, pois ela
está grávida e cansada de estar de pé.
Ao partirem, Markus continua conversando com Ana, sentindo que sua alegria, a tanto tempo
enclausurada em seu coração, começa a sair de sua prisão junto com outro sentimento...
Neste momento, Fábio se aproxima do microfone e diz:
- Bem, agora eu e a Shellen deixamos de ser noivos e estamos amarrados para sempre! Eu não
tenho mais como fugir!
Todos os presentes começam a rir daquela brincadeira de Fábio, exceto Markus, que nem mesmo
consegue sorrir com o gesto de seu amigo, e nunca o reprimiria por isso, pois sabe que ele está muito
feliz, e a felicidade justifica esse tipo de ação.
Após todas as risadas cessarem, ele diz ao microfone:
- Bem, agora eu vou falar sério. Eu e minha esposa tamos felizes demais hoje, e tudo graças à um
amigo nosso: Blakk!
Markus fica rubro devido à sua timidez, e Ana sorri para ele.
Neste momento, todos começam a aplaudi-lo, ao passo que ele se levanta e agradece com uma
reverência por aquilo, e torna a sentar-se, mas ouve Fábio perguntar:
- Blakk, a hora é agora?
Markus fica mudo.
Ele sabe o que Fábio quer dizer com aquela pergunta, e imagina que tal revelação pode ser um
problema para ele, mas também está consciente que algumas pessoas já sabem de seu segredo, e que cedo
ou tarde estará exposto.
Então, ele resolve desfazer o mistério que o encobre e acena com sua cabeça positivamente, e
Fábio, percebendo o consentimento de seu amigo, diz ao microfone:
- Bem, vocês viram aquele rapaz bonitão que entrou com a Shellen na igreja? Ele é Markus Blakk,
filho de dona Anita e seu Tomas Blakk, aquele que muitos viviam dizendo que era louco e outras coisas
sem pé e cabeça dele! Ele não é só o padrinho de meu casamento, mas meu amigo de infância, e se não
fosse por ele, eu e Shellen não estaríamos aqui, felizes e casados! Valeu, amigão!
Todos se silenciam ao ouvir estas palavras.
Realmente, todos sabem quem ele é e Markus sempre fora visto como louco na sociedade
mageense por seu comportamento completamente atípico, pois em Magé, ou você segue os padrões
ditados pelos mais ricos, ou é considerado louco e posto à margem da sociedade, embora tais comentários

22
nunca tivessem sido um grande incômodo para Markus, mas lhe fecharam muitas portas no passado.
Markus, embora falasse com todos na cidade, pela necessidade de conviver com as pessoas, tem
muito poucos amigos reais.
Mas como a hipocrisia é a força motriz de Magé, todos o aplaudem, embora Markus não faça caso
ou questão de tais apupos, uma vez que bem conhece o coração da maioria esmagadora dos moradores da
cidade.
Logo, muitas pessoas vêm até sua mesa para conversar com ele, interrompendo aquele momento
de tranqüilidade que está vivendo ali, ao lado de Ana.
Shellen, percebendo que aquilo não é do agrado de Markus e Ana, diz à Fábio:
- Amor, pede à um dos garçons da festa pra chamarem eles dois pra nossa mesa! Do jeito que tá,
essas pessoas vão sufocar o Markus e a Ana...
Fábio atende o pedido de Shellen, e logo o garçom vai e os chama, e ambos se dirigem para perto
dos noivos, fugindo do assédio cheio de interesses dos outros convidados.
Assim que se assentam, todos na mesa começam à conversar animadamente, e embora Markus
mostrasse seu semblante ainda muito carregado, ele está mais solto, e conversa com todos que estão à
mesa, tendo Ana à seu lado, e neste momento, arriscando sua sorte, ela lhe dá o braço, esperando logo
uma rejeição.
Mas, para espanto dela e de todos, ele não a rejeita, e embora o olhar dele seja muito triste, parece
consentir com seu gesto.
Com este ato, ela começou a destruir a dura muralha que impede Markus de sorrir e sentir alegria,
que Ana está começando a restaurar...
Após 20 minutos conversando, um conjunto musical composto por amigos de Fábio, que se
ofereceram para tocar em seu casamento e recepção começa a apresentar músicas para que todos os
convidados dancem, e os recém casados se levantam para bailar, ao passo que Markus observa com triste
nostalgia a mais este momento que lhe traz doloridas memórias.
Ana deseja dançar, mas as músicas tocadas são para duas pessoas dançarem juntas, como valsas e
outras.
Ela sabe dançar, pois freqüentara por muito tempo uma academia de dança, mas fica sem ter como
pedir a Markus que dance com ela, uma vez que nem ao menos tem conhecimento se ele sabe dançar.
Mesmo triste e contra sua vontade pessoal, Markus, que percebe a vontade de Ana, se levanta,
estende para ela sua mão destra e pergunta:
- A senhorita Ana Carolina poderia me conceder o prazer desta dança?
Ana sorri ao ver que ele lhe convida para dançarem juntos, e logo responde com grande alegria:
- Sim...
Ela lhe dá a mão, se dirigem para o centro do salão e começam a bailar. Ana sorri para Markus, ao
passo que ele está com sua expressão melancólica um pouco menos tensa.
Ana se surpreende ao ver que Markus sabe dançar muito bem, e que os passos dele são como se
ele sempre, desde muito criança, houvesse dançado.
Um rapaz vem e lhe pede licença para dançar com ela, mas Markus lhe diz:
- Sinto muito, meu caro, mas não abrirei mão de minha parceira de dança...
Ana, ao ver que Markus não deseja partilhar de sua companhia com ninguém na festa, sorri feliz.
Ela sempre gostou de Markus, mesmo com ele distante de si, mas agora começa a perceber a
intensidade de seus sentimentos por ele...
Neste instante, os músicos começam a tocar canções românticas, e logo ela se vê com o rosto
recostado no ombro de Markus, sentindo a fragrância de seu perfume e a maciez de sua pele bem cuidada.
Nos braços dele, Ana percebe que se sente protegida de tudo e todos, como no passado em que
sempre estiveram abraçados conversando nas praças de Magé, no curso que fizeram juntos, na casa dela
ou na dele, quando faziam refeições juntos ou viam filmes comendo pipocas, mas nunca ela percebera a
dimensão de seus sentimentos por ele.
Ela começou a namorar Edu apenas por ninguém mais interessante ter lhe pedido em namoro, mas
sentira que, desde que começara seu relacionamento com ele, que aquilo nunca daria certo, pois o destino
escolhera um único homem no mundo que poderia fazê-la feliz no amor pelo resto de sua vida, e este

23
homem agora possui um nome, que ela pode claramente enxergar neste momento:
Markus Blakk, o homem que ela amara por toda sua vida até ali...
Mas não entende o porque de tanta tristeza e dor em um ser humano tão bondoso e prestativo
como ele, e logo ela toma a resolução de se declarar à ele, para não o perder nunca mais e ajudá-lo a se
livrar de seu sofrimento.
Tomada por seus próprios sentimentos, Ana começa a chorar nos braços dele, que percebe e
pergunta à ela com seus lábios próximo ao ouvido dela:
- Ana, o que houve com você? Está sentindo algo?
Ela logo responde, sem tirar seu rosto do ombro dele:
- Sim, mas não quero conversar sobre isso aqui, no salão... Podemos ir pra outro lugar?
Ele logo olha para as mesas, mas todas já estão ocupadas, e ele diz, ainda triste:
- Ana, aqui no salão não há um lugar mais reservado para conversarmos, mas se realmente desejar,
podemos ir para o campo de futebol! Mas não sei se seria conveniente, pois poderiam dizer calúnias
contra você, e isso eu não posso permitir...
- Não me importa o que os outros vão dizer de mim! Eu preciso falar uma coisa com você, e tem
que ser agora! Eu não agüento mais! – Ela diz com a voz baixa, mas resoluta.
Ao ouvir estas palavras, Markus, mesmo apreensivo, se encaminha com ela para um pequeno
portão de aço que os leva para o campo de futebol atrás do salão do clube.
O campo está iluminado pelo luar, já que as nuvens que antes encobriam os céus haviam sido
dispersas pelo vento que soprava do mar, e por luzes postas ali.
Após caminharem até a arquibancada de concreto feita ali para alguns poucos torcedores, eles se
sentam e, antes que começassem a conversar, Ana começa a tremer de frio, pois já são mais de 23:00
horas, e aquela noite de verão está muito fria, algo estranho para a época.
Fria como a aparência externa de Markus.
Markus logo retira sua capa aveludada e a cobre com toda a gentileza, e Ana começa a chorar
ainda mais, escondendo seu belo rosto com suas mãos, pois acha que ele a rejeitará como à Fabiane, mas
mesmo assim, ela diz:
- Markus, o que eu quero dizer é que eu tô apaixonada você! Eu te amo!
A face de Markus se tornou pálida como mármore no momento em que ele ouve tais palavras.
Ele não consegue acreditar no que ouve, e tentando se controlar, ele diz, ainda mais triste que
antes:
- Mas, Ana, como você pode estar amando um homem que passou nove anos longe de Magé? Isso
pode ser somente atração...
Antes que ele conclua sua frase, ela o interrompe:
- Não, Markus! Eu sempre amei você! Só que eu fui uma idiota de não ter visto isso antes! Eu te
amo desde antes de você sumir, e te amo até hoje! Eu nunca amei o Edu! Eu acho que só tentei me
esquecer de você com ele, mas eu nunca te esqueci! Eu te amo muito, Markus!
Ao ouvir estas palavras, Markus sente um amálgama de sentimentos em seu coração.
Pela primeira vez em muito tempo, Markus está completamente confuso, sem saber o que fazer
diante do amor de Ana Carolina.
Sua única reação só pode ser uma de um homem tão triste, esmagado por seu próprio passado:
Ele começa a chorar amargamente até o ponto de soluçar, e começa a dizer, com sua cabeça baixa
e seu rosto por entre suas mãos:
- Não, por favor, não! Meu Deus, não! De novo não! Eu não quero sofrer mais e muito menos
fazer alguém sofrer por minha causa! Por favor...
Ana, percebendo que Markus finalmente está colocando para fora sua grande dor, e querendo
muito ajudar o homem que ama, pergunta, ainda com lágrimas em seus olhos ao mesmo tempo em que
acaricia as mãos dele por entre as suas:
- Markus, o que aconteceu com você enquanto você tava fora de Magé? Você sempre foi tão
sorridente, otimista, alegre... Eu quase não consigo reconhecer o homem que eu conheci e por quem eu
me apaixonei...
Mas Markus não consegue dizer uma única palavra, somente chorar e soluçar.

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Ana então o abraça com toda a ternura de seu ser, deixando que ele desabafe toda sua dor em seus
braços, acariciando os longos cabelos dele e dizendo palavras carinhosas, tentando reerguer o homem que
ama.
- Markus, eu te amo e quero muito te ajudar! Mas eu preciso que você me conte o que ou quem fez
isso com você! Me conta, meu amor, por favor...
Markus então diz, ainda chorando:
- Eu sou o único culpado dessa dor, e não posso escapar dela...
Ele então levanta seu rosto, e pergunta à Ana:
- Você realmente quer ouvir minha estória? Quer saber o por que de eu ser tão triste hoje em dia?
Ana Helena responde, segurando as mãos de Markus com uma das suas, ao ponto que com a outra
mão acaricia o rosto dele:
- Sim, amor! Você precisa desabafar...
Então Markus resolve contar tudo para Ana, pois ela sempre fora sua confidente, e talvez ela possa
ajudá-lo.
- Ana, minha estória é longa, mas peço que a ouça e entenda o por que de eu ter tanta mágoa
contida em meu ser...
E Markus começa a expor todo seu passado para ela...

Capítulo 05:

A estória da grande dor de Markus começa nove anos antes daquela noite, em Magé, no dia em
que Markus e Ana Carolina terminaram o pré vestibular.
No último dia, Eduardo busca Ana na escola, diante do olhar triste de Markus, que sofre ao ver a
mulher que ama ir embora com outro homem, mas culpa apenas a si mesmo por nunca ter se declarado à
ela.
Ao chegar em casa, ele toma um banho, come uma fruta e vai para seu quarto ler um livro, para
tentar conter sua dor.
Ele não irá sair esta noite, pois não há sentido em ir à qualquer lugar que seja da cidade, pois ele
sabe que poderá ver sua amada nos braços de Edu, e isso será algo extremamente doloroso.
Em meio à dor, seu irmão Newton bate à porta de seu quarto e diz:
- Markus, eu quero falar com você!
Markus abre a porta e pede que ele entre, e ao ver seu irmão mais novo com aquela expressão
triste, logo Newton pergunta o que acontecera, mas Markus não diz nada, apenas diz que está com muito
sono.
Newton, acreditando em seu irmão, diz:
- Markus, eu tava conversando com o seu Ernesto lá na firma, e ele disse que eu podia te levar lá,
pra ver uma vaga de emprego de auxiliar de escritório pra você! Vamos lá na Segunda, certo?
Markus, querendo fazer algo para desviar sua mente de Ana, logo responde:
- Tudo bem! Que horas a gente vai pro Rio?
- A gente sai daqui uma 6:00 horas, tudo bem?
Markus acena positivamente com sua cabeça, e Newton parte para a casa de sua namorada, ao
passo que sua mãe vem até o quarto e pergunta se ele não quer jantar para sair. Markus responde que não
se sente com fome, mas com sono, e que irá dormir mais cedo.
Assim, Markus passa o fim de semana muito triste, sem sair de sua casa.
Ele desperta na Segunda-feira às 5:00 horas, junto com Newton.
Eles tomam um leve café da manhã com um pão que sua mãe havia comprado no Domingo à noite
e vão para o ponto de ônibus para apanhar sua condução até o Rio de Janeiro.
Ao chegarem ao Castelo, já são 7:30 horas, e eles se dirigem ao escritório da Jackson Stewart Inc.,
onde Markus conhece Ernesto Graccia.
O bondoso senhor na cadeira de rodas o cumprimenta com grande cordialidade, e diz:
- Então, você é o irmão mais novo de Newton! Me parece um jovem muito inteligente e aplicado!

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Vamos fazer um teste com você por um mês, então nós lhe daremos a resposta, certo? Não se preocupe,
pois a JSI irá pagar suas refeições durante o expediente de trabalho, seu transporte durante o teste, e o
pagará pelos dias de trabalho, mesmo que não seja aprovado...
- Tudo bem... – Responde Markus sorrindo, ao mesmo tempo em que aperta a mão de Ernesto e
começa sua saga de dor...
O tempo do teste se passa rapidamente, e Markus, sendo muito tenaz, consegue o emprego, e usa
seu salário para ajudar nas despesas da casa, já que Newton pode se casar a qualquer momento, e sua mãe
necessitará muito de seu auxílio.
Dois meses depois, tempo em que Markus desaparecera por completo da vida social de Magé sem
dizer nada à quem quer que fosse sobre seu novo emprego, surge na empresa uma notícia que deixa a
todos os empregados da firma surpresos:
O senhor George Jackson Stewart, o grande proprietário da empresa JSI, está no Brasil, e irá
realizar um teste com todos os funcionários. Aquele que for melhor avaliado terá como recompensa um
treinamento de seis meses nos EUA, para trabalhar como instrutor de serviços na empresa, para agilizar
todos os processos de trabalho da JSI.
Markus não se importa com tal teste, nem com o senhor Stewart. Ele só deseja dar uma melhor
condição de vida à sua mãe e irmãos, e pensa que nunca poderá competir com engenheiros, químicos,
advogados e outros graduados que a firma possui.
O comentário causa uma competitividade enorme em todos os setores da JSI, com todos os
funcionários da empresa se importando apenas em vencer a disputa. Markus, por sua vez, se mantém
sempre calmo e não se ilude, permanecendo humilde em seu lugar, exercendo sua profissão com calma e
competência, não imaginando o que lhe acontecerá nos próximos dias...
Quinze dias após o anúncio, o escritório da JSI onde Markus trabalha recebe, aproximadamente às
10:00 horas, a visita de um novo faxineiro, um homem de cabelos grisalhos, de aparentemente 60 anos de
idade, que possui leve sotaque estrangeiro.
Ele entra no escritório onde Markus trabalha e começa a fazer seu serviço de limpeza.
Olhando para Markus, o velho faxineiro diz:
- Bom dia, meu jovem! Eu sou o novo faxineiro...
Markus sorri e diz educadamente para o faxineiro:
- Bom dia! Esteja à vontade, meu senhor! Se precisar de algo, o senhor pode me chamar...
O velho empregado começa seu trabalho, mas logo se curva diante de Markus e diz:
- Ai, que dor no estômago!
Markus acode o faxineiro, o põe sentado em uma cadeira e lhe dá um pouco de leite.
O velho tenta se erguer da cadeira, dizendo:
- Meu filho, eu tenho que trabalhar...
Markus sorri e lhe diz:
- Fique sentado um pouco, que eu limparei o escritório para o senhor...
- Mas meu jovem, se alguém vir você fazendo meu serviço ao invés do seu, você será despedido!
Ai... – Diz o faxineiro, pondo a mão no estômago novamente, evidenciando que não estava passando
bem.
Markus lhe pergunta se ele tinha alguma doença no estômago, mas o velho lhe diz:
- É que eu estou com muita fome! Eu venho de muito longe, tomo apenas um copo de café de
manhã e fico com fome até o almoço. Deve ser isso...
Markus se comove com a situação do velho faxineiro, então apanha uma maçã e um pedaço de
pão que traz em sua bolsa para lanchar à tarde, na hora em que ele sente fome, e dá ao senhor que estava à
sua frente faminto, dizendo:
- Por favor, pegue esse pedaço pão e essa maçã e coma enquanto eu limpo o escritório. Quando o
senhor melhorar, poderá continuar à trabalhar...
- Mas meu filho, você vai ficar com fome depois... – Diz o idoso, olhando com extrema atenção.
Markus sorri uma vez mais e, se ajoelhando diante do idoso senhor, lhe diz gentilmente:
- Minha mãe sempre me ensinou à ajudar os outros que estão numa situação pior que a minha!
Daqui a pouco eu almoço e vai ficar tudo bem comigo! Não vai ser só porque eu não lanchei um dia que

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eu vou ficar doente! Ainda sou bem jovem e forte, e posso suportar a fome...
O velho então começa a comer o lanche que a mãe de Markus preparara para ele com todo o
carinho materno que tinha em si, e Markus varre o escritório, lustra os móveis, esvazia as lixeiras
colocando o lixo em sacos pretos e depois os põe em um carrinho de limpeza.
Mas, nesse momento, o chefe de sua seção, chamado Isaías, entra na sala e o vê terminando de
fazer o serviço do velho faxineiro.
Markus é chamado a atenção com muita arrogância por Isaías, que grita e o ameaça de demissão,
ao passo que Markus se mantém em silêncio, ouvindo à tudo calado, mas não existe nenhum sentimento
de ira em relação ao idoso senhor que auxiliara ou medo de ser demitido ou de culpa por tê-lo auxiliado,
pois tem uma certeza na vida:
Toda vez que auxiliamos alguém, nós também somos auxiliados.
Após ouvir tudo o que Isaías diz, ele retorna à seu serviço sem nada dizer, apenas olhando para o
faxineiro, que sorri para ele agradecido, mas não há somente gratidão em suas feições, mas outra coisa
que Markus não percebe.
Na hora do almoço, Markus se encontra com o velho faxineiro novamente e o convida para que
almocem juntos.
O velho diz:
- Jovem, você já fez muito por mim hoje! Não precisa...
Markus insiste, e ele paga o almoço do idoso senhor, que após a refeição se despede com um
sorriso, dizendo:
- Que deus lhe pague, meu filho! Tenho certeza que, em breve, você será bem recompensado por
sua bondade...
Markus se despede uma última vez do humilde senhor e retorna ao escritório, tendo que trabalhar
ainda mais por imposição de Isaías, que quer castigá-lo duramente por desobedecer as normas da JSI,
além de querer crescer às custas da dor alheia, já que alcançara sua posição desta forma.
Após o encerramento do expediente, quando todos já se encontram saindo do prédio, Markus é
chamado para a sala de Ernesto às pressas.
Imaginando que será demitido por culpa de Isaías, ele vai até lá de cabeça baixa, pensando em se
desculpar por seu ato e pedir uma nova chance, já que não quer perder este emprego.
Ele chega à sala da secretária, que pede que ele sente e aguarde um pouco, pois Ernesto está um
pouco ocupado recebendo uma pessoa extremamente importante.
Markus se senta e espera, mesmo querendo ir embora, pois já estava em plena hora do rush na
cidade, e tal horário acarreta sempre em grandes congestionamentos de trânsito, fazendo com que sua
viagem venha a demorar ainda mais, e assim poderia preocupar a sua mãe.
Mas ele não irá embora sem saber o seu destino, que provavelmente será a demissão...
Após 20 minutos, Ernesto fala pelo telefone com sua secretária para que peça à Markus que entre,
e ela transmite-lhe o recado, então ele se levanta nervoso do sofá onde está e entra pela porta, e se logo se
surpreende ao ver as pessoas que estão na sala de Ernesto:
Fora Ernesto, está lá o faxineiro que ajudara, mas ele não está com roupas de serviço, mas com um
caríssimo terno italiano azul escuro e calças na mesma cor de linho, fora sapatos pretos caros e muito bem
engraxados.
Embora um clima um pouco tenso esteja presente naquela sala, o idoso senhor sorri para ele
contente e satisfeito, como se querendo demonstrar algo ao jovem que o acudira mais cedo naquele dia.
Devido à tais roupas, Markus quase não conseguira reconhecê-lo, e logo ouve Ernesto dizer:
- Markus, primeiramente, sente-se.... Este é o senhor Jackson Stewart, o dono da JSI...
Markus sente o coração bater com mais força em seu peito, ao mesmo tempo em que fica pálido
devido à grande surpresa.
Ele está diante do proprietário de uma imensa multinacional, e pensa que ele apenas se fizera de
faxineiro para apanhar funcionários incompetentes e os demitir, pois em sua mente, o senhor Stewart é
um homem muito severo, que o demitirá ali mesmo, sem direito à explicações.
Respirando fundo, Markus começa a suar frio, para então baixar sua cabeça e dizer, chorando:
- Senhor Stewart, por favor, me desculpa pelo que eu fiz hoje... Eu não queria deixar meu serviço

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de lado, mas não podia ver alguém precisando de ajuda e não fazer nada! Por favor, não me manda
embora! Eu preciso desse emprego pra ajudar minha família...
Neste momento, ouve-se uma risada amistosa dentro da sala.
É o senhor Stewart que ri, mas não é por mal que faz isso, mas por ver a imensa humildade de
Markus, e logo lhe diz com seu sotaque norte-americano:
- Acalme-se, meu jovem, pois não irei demitir mais ninguém hoje! Só demiti o responsável pelo
seu setor por ele ser tão mesquinho! Você não perderá seu emprego, mas será promovido...
Markus ergue sua cabeça com seu rosto surpreso cheio de lágrimas, deixando à mostra que está
chorando.
Sua surpresa ao ouvir as palavras de seu chefe é imensa.
Acendendo seu cachimbo, o senhor Stewart continua:
- Sim, você será promovido, pois é você que eu procurava! Uma multinacional como a JSI precisa
de pessoas boas como você, que auxiliam as outras sem deixar de lado suas obrigações, ou seja, que agem
em nome do grupo e não de seus interesses! Você passou no teste que havia sido anunciado, e quero que
você viaje ainda esta semana para New Jersey, para receber seu treinamento! Vai ficar nos EUA por seis
meses por conta da JSI, estudando para depois treinar outros funcionários quando retornar de lá...
- Mas... mas... mas... – Gagueja Markus.
Ernesto então diz:
- Pode deixar, Markus, pois já avisamos sua mãe, e ela está orgulhosa de você! Seu irmão já deu
entrada em seu passaporte hoje, e estará liberado para partir na Sexta-feira à noite...
Neste momento, o senhor Stewart diz:
- Já li sua ficha pessoal e sei que fala meu idioma, e por isso sei bem não terá problemas de
comunicação por lá... Mas isso é, se você quiser...
Markus então sente sua cabeça girar, pois recebera notícias muito boas em poucos minutos, e fora
demais para ele assimilar rapidamente, e ainda tem que pensar em sua resposta, mas lembra que não tem
uma família própria e nem ninguém que o mantenha no Brasil, pois Ana está namorando com Eduardo, e
sua mãe pode ficar aos cuidados de Newton.
Então Markus se levanta de sua cadeira e responde:
- Senhor Stewart, eu aceito...
Após isso, o proprietário da JSI diz sorrindo:
- Muito bem, Markus! Estarei pessoalmente esperando você em New Jersey no Sábado próximo,
no aeroporto! Até lá! Ah, antes que eu me esqueça: Compre roupas de frio pesadas, pois é Inverno por lá,
e a temperatura cai abaixo de zero...
E sai sorridente da sala após apertar as mãos de Markus e Ernesto.
Markus abraça Ernesto e agradece pela oportunidade, mas ele mal imagina que isso será o
princípio de seus piores tormentos...

Capítulo 06:

Os dias se passam, e depois de muitos preparativos para sua viagem, na manhã de Sexta-feira
Markus se despede de sua família, pedindo à eles que nunca revelem seu paradeiro à quem quer que seja,
e foi trabalhar pela última vez antes de ir para os EUA.
Markus passa o dia em seu escritório, terminado alguns trabalhos pendentes que quer fazer antes
de partir, pois não deseja deixar nenhum serviço sem estar completo antes de viajar.
Quando são 17:00 horas, ele sai do escritório, se despede de Ernesto e vai até um dos banheiros da
JSI para se banhar, já que irá diretamente dali para o aeroporto, por não haver tempo para ir até sua casa e
retornar até a hora de sua partida.
Markus caminha lentamente até o aeroporto, que é próximo à JSI, e no caminho vai até uma
padaria para fazer um lanche antes de ir.
Após lanchar, ele pede um cafezinho, pois quer beber um café brasileiro antes de embarcar, já que
sabe que passará um longo tempo longe do Brasil.

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Na realidade, será bem mais tempo do que ele pensa...
Ao chegar no aeroporto, ele aguarda a hora do embarque com ansiedade, pois está indo em direção
à um outro país, uma outra cultura.
E o mais importante:
Queria deixar a dor de perder Ana Carolina para trás.
A vida é assim mesmo:
Fugimos de um problema apenas para trocá-lo por outro, que muitas vezes, é pior que o primeiro...
Ele entra no avião e logo adormece, só despertando quando faltam menos de 20 minutos para a
aterrissagem.
Após o pouso e toda a burocracia da alfândega, Markus está em New Jersey, nos EUA, onde está a
sede mundial da JSI e ele ficará por seis meses.
Ao sair da alfândega, o senhor Stewart, que o aguarda como lhe prometera, o recebe com um
abraço cordial e diz:
- Bem, eu o levarei agora para seu hotel, onde você vai ficar até o fim do treinamento!
E partem numa bela limusine negra de propriedade do senhor Stewart, e Markus observa admirado
e contente pelo vidro de sua janela a bela cidade onde residirá pelos próximos meses, ao passo que Jack
Stewart sorri ao ver sua alegria tão jovial.
Após alguns minutos, Markus está no hotel onde residirá durante sua permanência lá, onde é
conduzido por seu patrão até seu quarto, que é de tamanho médio, mas quente e bem acolhedor.
Após deixarem suas coisas ali, eles partem novamente, pois o senhor Stewart quer lhe mostrar um
pouco da cidade, e Markus, ao lembrar-se de que ainda não conhece a cidade, pergunta em inglês à seu
chefe, como faria sempre de agora em diante:
- Senhor, como irei me deslocar do hotel até o local do treinamento?
- Não se preocupe, Markus, pois um carro da JSI o apanhará todos os dias em frente ao prédio
pontualmente às 8:30 horas, pois aqui nos EUA, nós costumamos trabalhar de 9:00 às 17:00 horas, e esse
será o expediente. Mas você terá que estudar fora do curso, entende?
Markus sorri e diz:
- Tudo bem, senhor, pois eu não conheço nada por aqui, e nunca fui muito de viver na noite! Eu
estou aqui para trabalhar, não para me divertir...
Ao ouvir tais palavras, o senhor Stewart ri de forma amiga e diz:
- Hehehehe... Também não é assim que se leva a vida, Markus! Você deverá se divertir de vez em
quando também, pois um homem deve se distrair às vezes, para não enlouquecer devido ao estresse do dia
à dia, entende?
Markus responde, ainda admirando a cidade:
- Sim, mas vou levar um tempo para me acostumar com a vida por aqui... é tudo tão novo pra
mim...
E continuam conversando, até que eles chegam ao complexo da JSI nos arredores da cidade, e
Markus vai ao lado de seu chefe, que explica qual é a área de atuação da JSI:
Informática e desenvolvimento de novas tecnologias de ponta, tanto em relação a softwares e
hardwares de computadores, especialmente em placas de vídeo e som e seus programas, quanto na parte
de robótica.
Após caminharem meia hora pelas instalações da empresa, o senhor Stewart e Markus se dirigem
à um restaurante caro, onde Markus sente dificuldades em comer lagostas, pois nunca precisara usar
tantos talhares em sua vida, e come fazendo o que pode, sendo observado por todos os outros clientes, que
cochicham devido à sua falta de modos à mesa de um lugar tão fino.
Após saírem, Markus se sente envergonhado, ao passo que seu chefe sorri alegre, embora não seja
por zombaria, mas da ingenuidade dele.
Então o senhor Stewart diz, sorrindo:
- Um dia, você terá que aprender a comer em lugares assim... Pode ser que precise!
- O senhor me desculpe, mas ainda prefiro um belo prato com arroz, feijão, batatas fritas e um bife
de carne de porco do que aqueles bichos esquisitos! Eles até que são gostosos, mas dão um trabalho pra
comer...

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Ao ouvir isso, o senhor Stewart ri alegre, pois aquele que o acompanha agora é muito rústico e
jovial, e isso o deixa mais contente, uma vez que muitos de seus dias são de constantes preocupações com
a JSI.
Markus promete a si mesmo que, assim que puder, fará um curso de boas maneiras, para nunca
mais envergonhar ninguém que esteja em sua companhia em lugares da alta sociedade.
- Se é que irei em outro lugar assim... – Pensa Markus, que mal imagina o que ainda irá lhe
acontecer no futuro...
Após caminharem um pouco, eles retornam à limusine e o senhor Stewart o deixa em frente à seu
hotel, e diz, entregando à Markus um cartão pessoal dele:
- Bem, devo ir para minha casa agora, mas se precisar, pode me telefonar... Aqui estão os números
de minha casa e de meu celular... Pode me telefonar à vontade e na hora que desejar...
Markus responde:
- Até breve, senhor Stewart, e obrigado por tudo... Espero algum dia poder pagar por toda sua
bondade...
E eles se separam, cada um deles indo para seu lar, sem saberem que seus destinos estão ligados
por uma dor que flagelará Markus por muito tempo...

Capítulo 07:

Na fria Segunda-feira seguinte, o treinamento de Markus se inicia.


Ele é apanhado em casa por um carro da empresa, com um motorista experiente que ficará à seu
dispor sempre que ele precisar, mas somente em seu horário de trabalho.
Ao entrar, o motorista entrega um crachá à Markus, dizendo:
- Meu jovem, o senhor Stewart me instruiu a entregar esta identificação ao senhor, e devo dizer-
lhe também que o use sempre enquanto estiver nas instalações da JSI. Compreendeu, senhor?
- Sim, mas não precisa me chamar de senhor! Eu não sou tão velho assim...
O motorista sorri ao ver sua humildade, e continua guiando o veículo até seu destino, e carro
chega à sede da JSI com antecedência.
Markus é deixado em frente ao prédio onde são ministrados os cursos da empresa.
Já na porta, ele explica o que fará à um porteiro, que olha seu crachá e lhe indica a direção à seguir
e o que deve fazer.
Ele chega à uma sala de aula vazia, onde estão dispostas placas com nome de cada aluno e sua
procedência, e logo encontra uma com seu nome, onde existem cadernos, lápis com borracha e canetas
dispostos sobre elas.
Markus se senta e espera a chegada dos outros participantes, que não demoram muito à chegar, e
logo a sala está com os 30 participantes, vindos de vários países diferentes.
Mas uma pessoa em especial chama sua atenção:
Uma linda jovem de cabelos ruivos, que sentava-se à sua direita e também fará o treinamento.
Ela tem um corpo muito bonito, embora suas roupas não evidenciem muito suas belas formas; usa
um par de óculos de aros finos; seus seios são de porte normal; sua boca é muito vermelha, contrastando
com sua bela pele clara como as nuvens do céu.
Ainda olhando para ela, Markus nem percebe a entrada do instrutor, que logo sorri para todos e
diz:
- Bom dia! Vocês foram escolhidos para serem treinadores da JSI em seus países de origem, mas
terão que ser preparados para esta grande responsabilidade! Durante seis meses, vocês terão que aprender
tudo sobre os protocolos da JSI, e aprenderão como podem ganhar tempo em seus trabalhos, para não
haver desperdício nem de tempo e nem de materiais. Outro ponto é a aprendizagem do trabalho em grupo,
pois ninguém vive ou trabalha solitário. E mais uma coisa: Os que se saírem melhor no final do curso
receberão um bônus extra surpresa. Entenderam?
Ninguém faz perguntas, e logo se inicia o curso, onde Markus pode perceber que aquele
aprendizado será muito rígido, e logo começa a escrever cada palavra dita pelo instrutor, prestando o

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máximo de atenção que pode às palavras dele, enquanto a maioria dos participantes se mostra um pouco
relapsa em seus estudos, excetuando por Markus e pela jovem ruiva.
Após 4 horas de curso, onde só houve uma pausa de vinte minutos para todos poderem ir ao
banheiro, veio o almoço, que é servido no refeitório do prédio, e todos se sentam à mesa e comem com
certa pressa.
As mesas só comportam duas pessoas cada, e Markus se senta só em uma mesa de canto, ouvindo
todos os outros envolvidos no curso comentando que irão apreciar a vida noturna da cidade.
Pensativo, Markus resolve que não irá em tal empreitada com seus colegas, mas permanecerá em
casa, descansando e revendo em suas anotações tudo o que havia sido ministrado em seu primeiro dia de
treinamento. Esse será seu proceder por todo o tempo do treinamento.
Ele sabe que ficará muito solitário, mas para sua grande surpresa, a jovem ruiva que ele vira em
sua sala logo sentou-se na mesma mesa que ele sem nada dizer, apenas sorrindo para ele de forma
amistosa.
O sorriso dela é lindo, e deixa Markus muito encabulado, e ela, aparentando perceber isso, logo
pergunta:
- Bom dia! Qual é seu nome?
Markus, sorrindo sem jeito e com seu rosto totalmente rubro, responde:
- Bom dia! Eu sou Markus Blakk, mais um dos funcionários da JSI...
Ela, interrompendo-o, pergunta:
- De onde você veio? O que fazia na JSI lá?
- Eu sou brasileiro, e trabalhava como auxiliar de escritório na JSI do Rio de Janeiro... Mas e
você? Qual é o seu nome? – Pergunta Markus, curioso.
- Meu nome é Sharon... Eu sou da JSI daqui mesmo... – Ela diz, sorrindo timidamente para ele.
Markus não pergunta o sobrenome dela, e continuam a conversar e comer tranqüilamente, até que
já é hora de retornarem à sala de treinamento, onde permanecem lado à lado, e de em algumas vezes, eles
se entreolham e sorriem um para o outro.
O final do dia chega, e todos os participantes saem da sala e vão em direção aos seus hotéis, para
descansarem para o outro dia.
Assim que entra no hotel onde está alojado, Markus vê Sharon na recepção com suas malas, e logo
se aproxima e pergunta:
- Oi, Sharon! Tem algum problema com você? Se precisar de uma mãozinha, eu estou aqui!
Sharon logo sorri maravilhosamente ao vê-lo e responde:
- Oi, Markus! É que minhas coisas só chegaram agora, e eu não tenho como levar tudo para meu
apartamento de uma vez sozinha...
Markus retribui o sorriso e diz:
- Bem, eu posso ajudar você a carregar tudo... Eu também vou ficar nesse hotel durante o curso...
Com o rosto demonstrando satisfação com que ouve, Sharon diz:
- Vai mesmo? Que bom! Vamos ser colegas de curso e de hotel! Que tal nós sermos colegas
também de estudo? Eu não sou muito boa em certos assuntos, mas podemos ajudar um ao outro, que tal?
Markus responde:
- Seria maravilhoso! Vamos, sim...
E ali se inicia uma grande amizade, onde ambos partilham de seus estudos e conclusões, sendo
durante o treinamento os melhores alunos, já que eles pouco saem à noite, e quando o fazem, eles vão
juntos e não demoram muito nas ruas de New Jersey.
Markus nunca pergunta à Sharon de onde ela vem, ou quem são seus pais. Tudo o que importa é a
sensação de bem estar que ambos sentem quando estão juntos, pois eles gostam muito de sair um ao lado
do outro, de caminhar pelas ruas da cidade nos Domingos à tarde, para se distrair um pouco das pressões
da semana.
Após cinco meses estudando juntos, eles estão chegando ao final do curso, e sabem que em breve
serão separados para sempre.
Tal pensamento não agrada à eles, que tentam sempre evitar de pensar nisso à todo custo, mas à
cada dia que se passa, mais Sharon e Markus se sentem tristes em seus corações, mas sem nada dizer um

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ao outro.
O curso termina com uma prova simples, onde Markus foi o de melhor nota, sendo que Sharon foi
o segundo melhor desempenho.
Ao saberem do resultado, todos ficam muito contentes, pois logo retornarão à suas famílias, que
haviam deixado à tanto tempo.
Todos, exceto Markus e Sharon...
Ao saírem do complexo da JSI, eles estão com seus rostos muito tristes, sendo que eles estão
quase chorando, só evitando para não ferirem um ao outro, pois agora ambos já sabem que não estão
felizes em se separarem.
Ao chegarem em frente ao quarto de Sharon no hotel, ela abaixa a sua cabeça e começa a chorar
de forma silenciosa, mas Markus logo levanta o rosto dela delicadamente com sua mão destra e diz, com
a voz embargada:
- Não fique assim, Sharon... Eu também estou muito triste por ter que me separar de você... Vamos
escrever um para o outro, e nunca iremos perder nossa amizade...
Sharon então abre a porta do quarto com sua chave e diz chorando, com sua voz doce:
- Amizade? Eu acho que não gosto de você como amigo... Eu... Eu te amo, Markus, e não quero
perder você...
- Eu também não quero, pois também amo você, Sharon... – Ele diz, enquanto a abraça com muito
carinho.
Ao ouvir a declaração de Markus, Sharon retribui o abraço dele, e lentamente ambos se beijam de
forma carinhosa e plena de ternura.
Eles entram no apartamento dela, e ainda se beijando, eles vão para o quarto e se deitam juntos,
fazendo carinhos mútuos, mas sem que tenham relações sexuais um com o outro, pois aquilo poderá
tornar sua separação próxima ainda mais dolorosa.
E assim, eles se entregaram ao carinho e amor um do outro, se beijando e acariciando pelo resto
daquela tarde, não desejando de modo algum se separarem.
E com tal sentimento, ambos selam seus destinos com o signo da dor...

Capítulo 08:

Naquela mesma noite, haverá um coquetel para comemorar o fim do curso, e após tal recepção,
todos os participantes retornarão à seus lares.
No hotel, após se acariciarem por muito tempo, Markus e Sharon percebem que está quase na hora
de irem ao coquetel.
Sharon, quase chorando, diz:
- Markus, eu queria tanto que você ficasse comigo... Eu sempre pensei que não existia nenhum
homem no mundo que eu pudesse amar, e então eu conheci você... E agora, vou te perder... E você nem
mesmo sabe de um grande segredo meu...
Markus diz, enquanto afaga os longos cabelos dela:
- Sharon, eu também não queria ir embora... E não me importa qual seja o seu segredo, pois eu
vou continuar amando você...
Sharon pergunta, chorando muito:
- Mas por que você tem que ir?
- Eu não tenho como ficar aqui! Além do mais, eu tenho minha mãe e irmão, e sinto muitas
saudades deles... – Responde Markus, enquanto carinhosamente encosta a cabeça de Sharon em seu peito,
tentando consolá-la.
Então Sharon faz a pergunta cuja resposta exilará Markus nas forjas do sofrimento por muitos
anos:
- E se você pudesse ficar e sua família dissesse para que você ficasse? Você ficaria? Diga que
sim...
Após pensar, Markus responde, assinando a própria sentença de suplício:

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- Sim, eu ficaria... Mas não existe como isso acontecer...
Sharon põe seus dedos nos lábios dele e diz:
- Shhhh... Amor, nada é impossível quando se ama...
E torna a beijá-lo mais uma vez.
Ao verem o rádio-relógio no quarto dela, eles se levantam da cama, e Sharon se prepara para ir
tomar banho e se arrumar para o coquetel, mas antes ela pede à Markus:
- Amor, é melhor que nós dois cheguemos separados no coquetel! Eu esperarei você lá...
Mesmo com a insistência de Markus, Sharon afirma que devem ir separados, e ele concorda após
relutar muito.
Enquanto Markus vai para seu quarto para se aprontar, Sharon sai do hotel e é recebida por uma
limusine, cujo motorista lhe faz uma educada reverência.
Após tomar banho e vestir com terno e gravata, Markus sai do hotel e vai até a rua, onde entra em
um táxi que o leva até o clube onde será realizado o coquetel.
Após se identificar na portaria, ele adentra o imenso salão onde a festa está sendo realizada, e
Markus é cumprimentado por todos por ter tido o melhor desempenho no treinamento, mas a mente dele
está em Sharon, que ele ainda não havia visto por ali, e logo seu coração fica apreensivo pela ausência
dela.
Ele pensa que Sharon talvez houvesse antecipado sua partida, mas logo sorri, pois tal pensamento
é um enorme tolice, pois ela é muito educada para fazer isso.
Markus sempre desejou saber mais um pouco sobre Sharon, sua família e onde ela mora, mal
sabendo que todas as suas perguntas sobre ela serão respondidas naquela mesma noite...
Após alguns minutos andando entre seus colegas, ele vê Sharon próximo à uma mesa repleta de
iguarias finas.
Ele logo se aproxima dela, que ao vê-lo o abraça e o beija nos lábios com muito amor em frente à
todos os presentes, mas mal Markus imagina que, sem que perceba, alguém da família dela o observa às
escondidas...
Após se beijarem por um longo tempo, ela sorri e lhe dá o braço, dizendo:
- Markus, eu acho que aquilo que ia nos separar já está resolvido...
Markus, perplexo, pergunta:
- Como assim? Eu não estou entendendo...
Ela sorri e lhe diz, ao mesmo tempo em que o beija de leve nos lábios:
- Daqui à pouco, você vai entender, amor...
Afastando suas perguntas de sua mente, Markus sorri e continua ao lado dela, que lhe ensinara
durante os meses que passaram juntos como se portar em tais lugares, bem como as requintadas maneiras
à mesa que ele tanto necessitava para freqüentar festas da alta sociedade, embora nunca compreendesse o
porque de tal atitude dela.
Após alguns minutos, Markus sente uma mão em seu ombro e ouve uma voz familiar dizer:
- Então, nos encontramos de novo, Markus...
Ao se virar, ele vê o senhor Stewart, que raramente ele vê desde o início de sua estadia em New
Jersey. Agora, ele ali está, em sua frente, sorrindo amigavelmente.
Markus pensa que o seu patrão ali está para se despedir de todos os participantes do treinamento.
Esta é apenas uma parte da grande verdade...
E então, nesse momento, o segredo de Sharon é enfim revelado, no momento em que o senhor
Stewart sorri e diz:
- Boa noite, Sharon... Como é que está a minha filha?
Markus se torna pálido ao ouvir estas palavras.
Ele pensa que está delirando ou ouvindo muito mal, mas logo vê Sharon o abraçar com muito
carinho e dizer:
- Papai, que bom ver o senhor de novo! Senti muitas saudades do senhor! Ainda bem que o senhor
veio! O senhor fez o que eu pedi?
Este é o grande segredo de Sharon:
Ela é a filha mais velha do senhor Stewart.

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Sharon deixara a casa de seu pai pouco depois de sua mãe morrer, mas não por raiva. Ela queria
apenas ter um tempo para pensar sozinha em sua vida, e nem mesmo testemunhara o casamento de seu
pai com sua madrasta ou os aniversários de seu irmão mais novo, Ryan, de agora 12 anos de idade.
Quando retornara para perto de sua família, resolveu fazer o curso na multinacional de seu pai
apenas para conhecer melhor os procedimentos dos funcionários da JSI, para poder auxiliar seu pai em
tudo.
Então Sharon diz sorridente à seu pai uma frase que faz o coração de Markus gelar de puro medo
naquele momento:
- Pai, este é o Markus, meu namorado. Mas pelo que eu vi, o senhor já o conhece...
Markus sente o suor gelado descer em suas têmporas, assim como é capaz de sentir seu coração
bater cada vez mais acelerado.
Markus ama Sharon, mas ela é uma moça milionária, filha do proprietário da firma onde trabalha,
e isso pode significar que ele será demitido, pois Markus é de origem muito humilde, e talvez o pai dela,
seu grande benfeitor, nunca aceitasse o relacionamento dos dois, mesmo porque ele já está de partida para
o Brasil.
Então a voz amiga do senhor Stewart retira Markus de sua reclusão mental e o arrasta de volta à
realidade:
- Sim, eu o conheço muito bem, pois fui eu mesmo quem o trouxe do Brasil para cá, para que
fosse treinado e pudesse retornar à seu país como um multiplicador, para que ele treinasse outros
funcionários da JSI em seu próprio país...
E após uma pausa, Markus o ouve dizer uma frase que põe seu coração em pânico:
- ... Mas, pelo visto, terei que arrumar outra pessoa para o lugar dele...
Markus começa à tremer dos pés a cabeça, sentindo sua própria saliva amargar sua boca, e pensa
que ele o demitirá por amar sua filha, uma vez que a maioria dos ricos não podem aceitar que uma pessoa
pobre se case com seus filhos.
Sharon, percebendo o estado de Markus, logo lhe pergunta com certa preocupação:
- Querido, você está bem? Por favor, fale algo!
Mas nada Markus consegue dizer. Ele só pode balbuciar algumas sílabas de palavras, mas que são
sem nexo para quem as ouve.
O senhor Stewart, vendo-o assim, logo percebe o que se passa com ele, e então sorri e diz:
- Ora, meu filho, por que está assim?
Markus, ainda se recuperando do choque, mas com seu tom baixo e triste de voz, diz:
- O senhor disse que vai ter que arrumar outro para fazer o meu trabalho... Eu sei que o senhor vai
me demitir...
Logo que termina de dizer esta frase, Sharon o abraça com muito carinho, o beija nos lábios e diz
com ternura, ao mesmo tempo em que encosta a cabeça no peito de Markus:
- Amor, você entendeu tudo errado! Papai não vai mandar você embora! Ele quer que você fique
aqui na JSI de New Jersey, para trabalhar com ele...
O senhor Stewart confirma com um aceno positivo de sua cabeça, para então apanhar seu
cachimbo, o acender e dizer enquanto inspira a fumaça:
- Sim, meu filho, é isso que eu desejo de você. Você foi o que teve o melhor desempenho no
treinamento, e isso demonstra que tem um imenso talento na área de tecnologia! Quero que fique, pois a
JSI pagará uma faculdade para você, para que apure seus conhecimentos e trabalhe comigo! Além do
mais, você agora é meu genro, e minha filha não suportará ficar longe de você! Só não iremos forçá-lo a
ficar aqui, pois a decisão é sua...
Ainda um pouco zonzo com tantas coisa boas juntas vindo para ele, Markus se lembra de sua
família, e então pergunta:
- Mas senhor, e a minha família? O que será de minha mãe?
Sorrindo, o senhor Stewart responde:
- Eu tomei a liberdade de pedir à Ernesto o número do telefone de sua casa e telefonei para sua
mãe. Conversei com ela por muito tempo... Ela é uma senhora muito simpática, e disse que você deve
ficar nos EUA, uma vez que você tem possibilidades de crescer na vida! Depois, conversei com Newton,

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seu irmão, que pediu-me para lhe dizer que fique e que não se preocupe com nada, pois ele cuidará de sua
mãe... Agora, você pode ficar, pois todos os seus familiares mais próximos querem que fique e prospere...
Ainda um pouco confuso, Markus pede licença para telefonar e conversar com sua mãe e irmão,
não por não acreditar em seu benfeitor ou em sua namorada, mas por querer muito falar com eles.
Seu agora sogro lhe dá a permissão, e Sharon o leva até o telefone, onde ele conversa por mais de
vinte minutos com sua mãe, que embora senta muita saudade dele, o incentiva à permanecer por lá e
crescer na vida, bem como seu irmão.
No fim da conversa, sua mãe lhe diz:
- Meu filho, agora, seja feliz com essa moça que você gosta... Fique com Deus e me dê um netinho
em breve...
Então Markus se despede de sua mãe, retorna com Sharon para perto do senhor Stewart e dá sua
resposta:
- Senhor, eu vou ficar e trabalhar com o senhor...
Sharon o abraça muito apertado e o beija nos lábios e rosto repetidas vezes, ao passo que seu
sogro lhe diz:
- Não, você não irá mais trabalhar por um longo tempo... Nos próximos anos, você deverá estudar
em uma boa faculdade, para se formar e ser o homem que, um dia, irá dirigir a JSI ao lado de minha
filha...
E assim, eles passam o resto da recepção conversando para acertar a vinda de seu histórico escolar
para os EUA, e de como seu visto de permanência será estendido por mais alguns meses, até o momento
em que Markus tenha condições de se nacionalizar norte-americano, para que, mais tarde, possa se casar
com Sharon.
Markus passa à residir permanentemente em seu apartamento, que será pago por seu sogro, e onde
ele passará quatro anos estudando.
Sharon também está indo à universidade com ele, pois ambos tem a mesma idade e ela ainda não
havia ido para uma.
Markus resolve cursar engenharia da computação, ao passo que Sharon faz administração de
empresas, e sempre vão juntos para o Campus, onde estudam juntos e, durante alguns intervalos entre
suas aulas, eles se encontram e ficam namorando.
Mas no coração de Markus está começando a surgir um estranho sentimento, algo que ele ainda é
incapaz de descrever, pois nunca passara por tal situação antes em sua vida jovem.
É o sentimento que, mais tarde, irá destruir seu coração...

Capítulo 09:

Seis anos se passam desde então, e tanto Markus quanto Sharon se formam no tempo certo.
Mal terminara seus estudos universitários e ele iniciara seu doutorado em desenvolvimento de
novos softwares, ao passo que Sharon preferiu não continuar seus estudos, mas se dedicar mais aos
negócios da JSI, pois já está prestando auxílio à seu pai, que está doente devido a grande pressão de
dirigir uma multinacional e à sérios problemas de família.
A confusão no coração de Markus se intensifica com o passar do tempo, e isso é cada vez mais
visível em seu semblante, que se tornara cada vez mais carregado e triste, principalmente quando ele está
junto de Sharon e falam em seu casamento, que ocorrerá em alguns meses, logo após o final de seu
doutorado; e para tornar pior sua confusão, sua mãe falecera à poucos meses, e ele não pudera estar no
enterro dela por estar em período de provas.
Sua própria mãe, antes de expirar, dissera à Newton que o mandasse permanecer concentrado em
seus estudos, fosse pelo que fosse, e assim ele o fez, embora sua grande vontade fosse estar ao lado da
gentil senhora que o trouxera ao mundo.
Apesar de tanto sofrimento e da carga de estudos com que tem que arcar, ele sempre freqüenta a
mansão de seu sogro, onde é tratado como um filho do próprio senhor Stewart, exceto por Ryan, que está
com 18 anos.

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Ryan se tornara um adolescente sem nenhum senso de responsabilidade, provocando muitos e
seguidos aborrecimentos à seu pai, sua madrasta e sua irmã, que sempre tentou conversar com ele, que
nunca quis ouvir o que ela tinha a dizer.
Os problemas de Ryan ficaram ainda piores, e quando está próxima a época do término do
doutorado de Markus, Ryan foi preso por porte de drogas pesadas, sendo que isso tornou ainda maior o
desgosto de seu pai, que está cada vez mais doente por sua culpa.
Markus resolve ele mesmo ir até a delegacia onde ele se encontra para tentar conversar com ele,
para poupar seu sogro e Sharon, e tentar descobrir o porque de Ryan carregar tamanha revolta em seu
coração ainda tão jovem, mal sabendo que, neste mesmo dia, sua vida irá se tornar plena de amargura e
dor...
Ao chegar à delegacia, Markus se identifica e é levado até a cela em separado onde Ryan está
detido.
O jovem se encontra sentado no chão, com sua cabeça sobre os joelhos e seus braços em volta das
pernas, mas está acordado e ciente de tudo que se passa à seu redor.
O policial diz à Markus:
- Se o senhor precisar, é só me chamar, pois ficarei do lado de fora da cela! Esse tipo de animal
pode se tornar bem violento...
Markus, após entrar na cela e acender um cigarro, logo diz:
- Ryan, sou eu, Markus! Por favor, Levante-se e converse comigo...
- Eu não quero papo com você! Vá embora! Suma daqui! – Diz Ryan, com sua voz cheia de rancor
e ira.
Markus se aproxima e diz:
- Não! Hoje, iremos conversar muito sério! Sei que você nunca gostou de mim, desde que eu
comecei a namorar sua irmã, e nem imagino o porque disso, mas sei que é por isso que você é tão
problemático! Se eu sou o problema, fale logo, pois nem sua família e nem eu merecemos tamanha dor de
cabeça!
Ryan se ergue do chão e, encarando Markus nos olhos, diz cheio de ódio:
- Você quer saber da verdade, não é? Então está bem, eu vou dizer!
E acendendo um cigarro, Ryan começa seu relato:
- Desde o dia em que você entrou na minha casa e na minha vida, meu pai nunca mais foi o
mesmo! Ele só vivia dizendo que você e a Sharon iriam tomar conta da JSI quando ele morresse, mesmo
sendo eu o filho homem dele! Ele sempre teve orgulho de você, ao passo que sempre me ignorou! Você
só entrou na minha vida para me destruir e roubar minha herança! Você não ama de verdade a minha
irmã! Eu sei disso! É só olhar para você e eu percebo isso!
E começa a tentar agredir Markus, que por praticar artes marciais, se desvia e resiste às agressões
dele, até que Markus o abraça e Ryan começa a chorar e gritar:
- Eu odeio você! Eu odeio...
E Markus logo percebe que ele sempre tivera apenas ciúme do grande carinho que seu sogro tinha
por ele, e logo diz:
- Ryan, seu pai sempre o amou muito, mas você fechou os olhos à isso! Se ele não o amasse, ele
estaria muito bem agora, sem nenhum problema de saúde sério! Mas ele está em sua casa, devido à uma
crise de hipertensão nervosa! Ryan, se o problema é só este, converse com seu pai! Não fuja mais dele,
pois ele é um bom homem, e irá entender o que você pensa!
E após dizer tais palavras, Ryan se assenta novamente, e Markus chama o policial, que o leva de
volta para a sala do delegado, onde Markus paga a fiança de seu jovem cunhado e o leva para casa, onde
Ryan se aproxima da cama de seu pai e começa a conversar, expondo os motivos de sua ira, e logo após
terminar sua confissão pessoal, ele chora próximo de seu pai, dizendo:
- Pai, me desculpe! Eu não queria magoar o senhor, mas eu estava cego! Me perdoa...
O pai do jovem afaga seus cabelos e diz:
- Meu filho, está tudo bem... Eu também errei em não dizer que Markus só iria ajudar sua irmã até
o dia em que você estivesse preparado para assumir a frente da JSI! Por favor, não sinta mais tanto ódio
dele, pois Markus é um bom rapaz, e será um bom marido para sua irmã...

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Markus observa a cena e sente-se melhor, mas um fator agora é claro para ele, graças à Ryan:
Realmente, Markus não ama mais à Sharon, e só permanecera ao lado dela para não magoar nem à
ela e nem ao pai dela, que tanto lhe deram apoio financeiro e sentimental. É como se ele estivesse
pagando pela bondade deles, e bem sabe que, caso se case com Sharon, ele nunca será feliz, e muito
menos poderia fazer dela uma mulher feliz.
E com tais pensamentos em sua cabeça, ele toma a decisão mais acertada...
À noite, após terminar de estudar, ele vai até a casa de Sharon, e lá chegando, a chama até um
ponto deserto do jardim para conversar com ela.
Sharon o beija, mas Markus está com seu rosto transtornado pela tristeza, e ela, que logo percebe
isso, perguntou:
- Amor, o que houve com você?
Ele responde, com a voz triste:
- Sharon, eu... Eu não sei como dizer isso, mas...
Ela diz:
- Markus, você tem que me dizer! Logo, nós vamos nos casar, e você precisa me contar o que é!
Confie em mim!
Então Markus faz a revelação:
- Sharon, é que... Eu não posso me casar com você...
Sharon fica pálida e muda com a surpresa, e diz com sua voz baixa e triste:
- O... O que?!
- Por favor, me escute... Eu descobri que não te amo o suficiente para nos casarmos... Se eu fizesse
isso, só iria tornar você uma mulher muito triste, e isso seria errado... – Ele diz, já começando a chorar
por fazer Sharon ficar tão triste.
Ela passa a mão no rosto dele e diz, soluçando de tristeza, mas tentando consolá-lo:
- Markus, você está sendo sincero comigo, e isso é muito bom! Eu prefiro que seja assim! Eu vou
sofrer muito porque te amo, mas é melhor assim...
E o abraça e começa a chorar mais ainda, ao passo que ele a abraça mais forte, e sofrendo como
nunca em sua vida, ele diz:
- Por favor, me perdoe... Eu só quero que saiba que nunca quis tirar proveito da boa vontade de
seu pai ou de você, por mais que possa parecer isso! Me perdoe...
E Sharon o deita em seu colo e deixa que ele chore toda a sua mágoa, pois ela percebe que
ninguém está sofrendo mais com aquilo do que ele próprio, que sente a dor e o remorso de ferir à ela, que
sempre o apoiou e ajudou, e ao pai dela, que o tratava como à um filho.
Após aquele momento, Markus vai até o quarto do pai dela e comunica o fim de seu
relacionamento com Sharon.
Markus ainda diz, com a voz triste:
- Senhor, eu não mereço sua ajuda, e por isso, assim que terminar meu doutorado, daqui a três
meses, irei me demitir da JSI e retornar ao Brasil! Trabalharei por muito tempo para reembolsar todo o
dinheiro que o senhor investiu em mim! Por favor, me desculpe...
Então Markus sai do quarto dele e parte para seu apartamento sem nem mesmo ouvir o que o
senhor Stewart tinha a dizer daquele momento.
Ao passar pela sala, ele vê Sharon sentada no mesmo sofá onde tantas vezes eles namoraram às
lágrimas, e olha para ela com um olhar de quem implora por perdão devido à um crime muito grave. Ao
vê-lo assim, Sharon se levanta e o abraça com carinho e diz:
- Markus, não fique assim... Você não tem culpa de nada...
E ele responde, passando um lenço sobre seu rosto cheio de lágrimas:
- Eu nunca me perdoarei por isso... Em breve, espero poder partir para sempre e nunca mais causar
dor à você ou à sua família... Não posso me perdoar por isso, mas peço que você me perdoe...
Ela aninha seu rosto no ombro dele e diz:
- Não se preocupe, pois eu não guardo mágoa de você... Vamos ser amigos sempre...
E Markus parte da mansão dos Stewart, indo para seu apartamento e chorando o resto da noite, e
no outro dia, ele foi à universidade onde está cursando seu doutorado com olheiras negras e com os olhos

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muito vermelhos, tanto que todos os seus orientadores lhe perguntam o que está acontecendo, mas ele
apenas responde que é uma grave crise estomacal que indispusera-o a noite inteira.
Ele passa seus dias restantes estudando e indo à longas caminhadas à esmo pela cidade, e dois
meses depois, Sharon, após superar uma crise de depressão, está iniciando um novo relacionamento
amoroso com James Phillips Junior, filho de um dos maiores acionistas da JSI. O jovem James tem a
mesma idade de Markus, e apesar de ser muito rico, é muito simpático e humilde, e ama de verdade
Sharon, por quem ele sempre carregara um amor platônico.
Embora a visão da felicidade de Sharon ao lado de James seja muito bom para ele, por vê-la feliz
uma vez mais, Markus não consegue se perdoar, e seu semblante é sempre muito triste, sem nenhum traço
de felicidade.
A dor e o remorso consumiram-no inteiramente por dentro, e a alegria não mais está presente em
sua vida.
E por isso, Markus faz a si mesmo uma promessa:
- Eu juro, por tudo que me é mais sagrado, que nunca mais irei fazer outra pessoa infeliz
novamente! Nunca mais irei ter uma mulher à meu lado para feri-la, como fiz com Sharon! Eu prometo!
E a lembrança da promessa que fizera e da dor que Sharon sentira nunca saíram de sua memória,
marcando para sempre o interior daquele homem triste...

Capítulo 10:

Após defender sua tese e receber o título de doutor, Markus se dirigiu à casa do senhor Stewart,
para anunciar o fim de seu período nos EUA e que está se demitindo da JSI.
Ao entrar na casa, Ryan o recebe com um sorriso, ao passo que Markus está com a cabeça baixa,
como se ele estivesse sendo acusado de algum crime hediondo que tinha cometido sem nenhum pudor.
Ryan vê, pela primeira vez desde que saíra da prisão, a expressão de Markus e sente a imensa
tristeza que ele está carregando em seu coração, e por isso diz:
- Markus, por favor, pare de se culpar tanto!
Markus nem mesmo responde suas palavras, apenas olhando-o nos olhos com sua imensa tristeza,
e Ryan logo percebe isso e nada mais diz, vendo-o caminhar de forma lenta e dolorosa até o gabinete de
seu pai, onde ele está analisando alguns documentos da JSI e aguardando a chegada de Markus, com
quem terá uma séria conversa.
Assim que Markus entra, o senhor Stewart sorri, mas Markus é incapaz de tal ato devido ao
esmagador peso de sua tristeza.
Markus se aproxima e entrega um envelope onde está um pedido de demissão assinado por ele,
mas assim que seu patrão lê o documento, o rasga e diz de forma serena:
- Eu não irei demiti-lo de forma alguma...
- Mas... – Markus tenta se explicar, mas é logo interrompido pelo senhor Stewart, que faz sinal
para que ele se sente e diz:
- Eu não posso aceitar seu pedido, meu filho! Você é sincero, honesto, bom de coração, além de
ser extremamente inteligente e capaz de fazer muito pela JSI! Quando o conheci, pude perceber logo seu
talento, que é complementado por seu coração caridoso, e por isso resolvi que investiria em você, e não
porque era o namorado de minha filha! A JSI é uma coisa, o seu relacionamento com Sharon era outra!
Também desejei muito que se casassem, e foi uma pena o fim de seu noivado. Mas ela hoje está muito
feliz com James, e em breve eles se casarão! Ryan está totalmente recuperado de seus atos e tem sido de
muita ajuda para todos nós, e isso graças à sua ajuda...
E após dizer estas palavras, o senhor Stewart entrega à Markus um documento que mostra qual
será o seu futuro na JSI, algo que já estava preparado para ele desde antes dele começar à namorar
Sharon:
- Este documento que eu assinei pouco antes de você entrar! Leia e veja o que desejo de você a
partir de hoje...
Markus lê, e logo fica sem palavras.

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O documento é sua nomeação para o cargo de presidente mundial da área de desenvolvimento de
tecnologia da JSI, sendo que seu salário será bem elevado.
Após lê-lo, Markus diz:
- Senhor, eu não posso aceitar essa responsabilidade! O senhor já fez muito por mim, e eu retribuí
com o sofrimento de Sharon...
- Eu já lhe disse, meu filho, que você ajudou minha filha muito mais do que a fez sofrer, e isso não
importa diante de sua capacidade de liderança! É de pessoas como você que a JSI precisa em seus cargos
mais elevados! Sei que você fará um excelente trabalho, e confio plenamente em você...
Markus, sem poder recusar o que está sendo dado à ele, responde:
- Se o senhor insiste tanto, eu aceito... Mas não pelo dinheiro, mas para pagar pelo investimento,
compreensão e apoio que sempre me deram, tanto o senhor quanto Sharon...
Neste momento, Sharon e James entram na sala de mão dadas, e Markus se sente muito triste ao
vê-los, embora James o abrace com amizade e Sharon o beije no rosto.
James lhe diz, sorrindo:
- Eu e Sharon soubemos que você quer ir embora para o Brasil, mas você ainda não pode ir ainda!
Eu e Sharon vamos noivar em breve, e sua presença na festa é obrigatória! Sem sua bondade e
sinceridade, nós não seríamos felizes!
Markus, triste, responde:
- É o mínimo que posso fazer para tentar compensar a dor que causei à Sharon...
Ela o abraça e diz:
- Markus, esqueça o passado! Eu amo James e quero muito que você seja o padrinho de nosso
casamento também!
Markus aceita a responsabilidade, e diz com sua voz carregada de tristeza:
- Bem, eu agora deverei viajar pelo mundo inteiro, para conhecer toda a JSI, mas prometo que
estarei em seu casamento...
Então ele se levanta de sua cadeira e sai em silêncio pela porta, deixando um casal feliz com sua
união, um homem idoso contente com o noivado e futuro casamento de sua filha e o comportamento
bondoso de seu filho, e um jovem rapaz agora redimindo-se de seus erros passados.
A única coisa que ele não consegue esquecer é a dor e o remorso constantes em seu coração, que
são sua herança para o resto de sua vida triste e cheia de amargura...
Markus passa pouco mais de um ano e meio viajando por várias filiais da JSI pelo mundo inteiro,
mas sem retornar à seu país de origem, pois lembra muitas vezes de Ana Carolina, mas ela agora deve
estar casada com Eduardo e ser mãe de muitos filhos; e mesmo que não estivesse, provavelmente ela já o
esquecera, estando formada na universidade e trabalhando em um bom emprego.
Ele retorna aos EUA para o noivado e casamento de Sharon e James, que fora um pouco apressado
por ela estar grávida. Markus usa o mesmo fraque que fora encomendado para seu casamento com ela que
nunca se realizou, e após a cerimônia e recepção, ele continua suas viagens pela JSI, sem nunca escolher
um lugar para residir por mais de dois meses.
Markus então passa deixar sua aparência ficar cada vez mais sem cuidados, mesmo ele tendo
aprendido a cuidar de si mesmo.
Tal ato é proposital, pois ele nunca mais quer atrair nenhuma mulher para perto de si, pois não
quer causar sofrimentos à mais ninguém durante o resto de sua vida.
Quando estivera na Itália, mais precisamente em uma visita turística ao Vaticano, ele teve contato
mais íntimo com o Catolicismo, e viu que, de acordo com seus ensinamentos, tudo na vida tinha um
propósito, embora não entenda muito bem o porque de ter causado dor à Sharon, e nem mesmo o porque
de tantas coisas pelas quais passara até chegar ao posto em que está na JSI.
Em certo momento, ele sente necessidade de parar um pouco e descansar, em vista de estar à nove
anos fora do Brasil e querer rever seu irmão, sua cunhada e os sobrinhos que ele nunca conhecera.
Ele então pede dois meses de férias para poder descansar no Brasil, e resolve comprar um
apartamento onde ficará sempre que necessitar, e o decorará à seu gosto para sentir-se à vontade e tentar
desfazer um pouco da tristeza em que submergira a si mesmo por três anos.
É Newton quem deverá aprontar tudo para sua chegada, e logo ele o procura por telefone para que

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ele compre e decore seu novo lar, e o dinheiro necessário é depositado na conta de sue irmão.
E agora, novamente em Magé e próximo de Ana Carolina, está retornando um velho sentimento
que, na realidade, nunca morrera, e que somente assim, talvez ele possa retornar à vida...

Capítulo 11:

Após mais de 40 minutos, Markus encerra seu longo relato chorando ainda mais por remexer em
lembranças tão tristes e dolorosas para si, sendo envolto pelo quente e amoroso abraço de Ana.
Em meio à suas lágrimas, Markus ouve a voz doce de Ana dizer:
- Meu anjo, eu entendo o seu remorso, mas você não pode ficar assim! Já tá mais do que na hora
de superar o seu passado e caminhar em direção ao futuro! Um futuro onde eu quero estar...
Markus, enxugando as lágrimas, diz:
- Mas será que eu posso realmente posso ser feliz e fazer a felicidade de alguém depois do que fiz
à Sharon?
Ana, acariciando o rosto dele, diz:
- Pelo que você disse, a Sharon não quer que você fique triste pra sempre! Se ficar assim, ela, o
marido e o filho sempre vão sentir remorso pela sua tristeza! E isso sem falar do Ryan e do pai deles, que
irão se sentir culpados por você estar sofrendo tanto! Por favor, querido, chega de se torturar com algo
que já acabou...
E ao terminar, Ana recosta o rosto no peito dele e começa a chorar, ao passo que Markus começa a
pensar em tudo o que se passara em sua vida até ali e chega à uma conclusão que nunca havia pensado
antes:
Ele percebera que nunca seria feliz com Sharon por não ter esquecido Ana, que embora não
estivesse próxima de si, nunca estivera longe de seu coração, que sempre a amou, e que agora, enfim,
pode ser sua amada companheira.
E com tal pensamento, ele resolve tomar uma atitude, e logo acaricia o rosto de Ana e diz:
- Agora eu entendo que sempre amei você, Ana... Desde que conheci você, eu a amei, e por isso,
não podia ser feliz com nenhuma outra mulher... Mas preciso pensar se realmente é isso que devo fazer, e
também é necessário que você pense se realmente deseja estar à meu lado, pois irá se arriscar a sofrer se
não for capaz de me retirar deste labirinto de infinita melancolia. Por isso, proponho que tenhamos um
tempo para pensar se é realmente isso que queremos. Você concorda?
Ana o olha, beija a mão dele de forma amorosa e diz:
- Eu aceito, mas por quanto tempo a gente teria que pensar?
- Uma semana, mas durante este tempo, é melhor que não nos vejamos, para que não haja
interferências em nossas resoluções e para que possamos ter certeza. Você aceita?
Ana sorri, apesar das lágrimas que ainda tinha no rosto, e responde:
- Tudo bem, mas tem umas coisas que eu queria antes deste tempo...
- E o que seria? – Pergunta Markus, curioso.
- Um, queria ver você sorrir de novo, como no passado; e dois: Um beijo... – Ela responde,
apreensiva com a resposta dele.
Markus responde, suspirando:
- Eu não consigo sorrir por nenhum motivo à anos, mas sei que, se realmente ficarmos juntos,
pode ser que eu venha a sorrir novamente no futuro, e por isso, peço que tenha paciência; e o beijo, eu
não sei se deveremos...
Ana baixa sua cabeça diante da resposta dele, mas de repente sente a mão macia dele pegar de leve
seu queixo, levando-a a levantar sua cabeça, para ouvi-lo completar sua frase:
- ... Mas embora eu não saiba, eu quero, acima de tudo, beijar você... Posso?
Ela sorri com alegria e afirma positivamente com a cabeça.
Então, eles se abraçam com muito carinho, começam a acariciar um o rosto do outro, e com os
olhos fechados, eles se beijam por longos minutos.
Ana sentia-se feliz nos braços de Markus, pois agora sua certeza de que ele realmente é o homem

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de sua vida está confirmada, e sentir os lábios quentes e macios dele de encontro aos seus revelam a
totalidade de seu amor por ele.
Markus, por sua vez, sente que a pesada muralha de tristeza, que revestiu seu coração por anos,
desmorona de uma única vez, pois os carinhos e o amor de Ana estão curando as feridas de seu coração
triste, e sabe agora que ela é a mulher de sua vida.
Um amor puro que havia sido negado por nove anos agora está sendo ressuscitado e selado por um
beijo...
Após longos minutos se beijando e trocando carinhos, eles se afastam um pouco e Ana recosta o
rosto no peito dele novamente.
Feliz, ela diz:
- Markus, eu não preciso dessa semana pra dar uma resposta pra você...
Markus diz, com a voz revelando que ele está, pela primeira vez em anos, contente uma vez mais:
- Mas é necessário, pelo nosso bem... Por isso, peço que não diga nada ainda, mas que pense bem
em tudo nestes dias...
Ela afirma com sua cabeça ainda recostada nele, e ele entende, enquanto continua afagando os
longos cabelos dela, que beija o coração dele e ergue seu rosto, para então ter uma linda surpresa:
Markus estava sorrindo para ela.
- Amor, você... – Ana diz, surpresa e feliz.
Ele responde, com a voz enfim feliz:
- Sim, eu estou sorrindo, e você é o motivo de meu sorriso! Você conseguiu ressuscitar minha
alegria, e bem mais rápido do que eu imaginava...
Ela lhe dá um novo beijo e pede:
- Puxa, será que a gente podia ficar hoje? Só hoje, vai... Depois, eu espero até Sexta da semana
que vem...
Sentindo o doce e maravilhoso sabor da alegria pela primeira vez em anos, Markus lhe diz, ao
mesmo tempo em que acaricia o rosto dela:
- Não creio que devamos fazer isso, mas eu também quero, e por isso, façamos um trato: Se
ninguém nos viu aqui, nós ficaremos como estávamos antes; mas se alguém tiver nos visto, ficaremos
juntos esta noite, mas somente nesta até Sexta-feira da próxima semana. O que lhe parece?
Ana, sorrindo, lhe diz, brincando com ele:
- Ah, mas ninguém viu a gente... Mas tá legal, eu aceito o seu jogo...
Ana pensa que ele faz aquilo para não ficar com ela naquela noite, mas não imagina que terão uma
surpresa.
Markus diz, ainda sorrindo para ela:
- Venha, pois já ficamos muito tempo aqui, e podem fazer comentários que poderiam manchar sua
honra...
Ele lha dá o braço e ele lhe beija a testa com carinho, para então caminharem de volta para a
recepção dos nubentes, e ao chegarem, Fábio se aproxima deles e logo diz, ao mesmo tempo em que dá
leves tapas nas costas de Markus:
- Você não é mole, hein?! Preferiram ficar namorando lá no campo, né? E pensaram que ninguém
ia ver, mas eu e Shellen vimos tudinho, tudinho!
Markus sorri sem jeito, ao passo que Ana o abraça carinhosamente, pois sabe que ele irá cumprir
sua palavra e estar ao lado dela pelo resto da noite.
Markus está completamente tímido, pois seus amigos haviam visto aquela cena romântica, mas
Fábio e Shellen se surpreendem ao vê-lo sorrir sem a já tão peculiar expressão de tristeza em seu rosto.
Então, Fábio e Shellen convidam Markus e Ana para que permaneçam em sua mesa pelo resto da
recepção, o que eles aceitam e começam a conversar animadamente.
Fábio percebe que seu velho amigo está de volta à sua normalidade, pois está feliz e muito bem
humorado, contando piadas, ao passo que Ana se diverte ao lado dele, sem soltar a mão dele, que está
com os dedos entrelaçados com a sua.
Em certa hora, Fábio diz:
- Pô, vocês dois ficaram se beijando bem à vontade lá no campo naquela hora! Que tal se beijarem

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aqui, na frente da gente? Vamos lá!
Markus fica sem saber o que fazer, mas Ana logo sorri para ele, e ambos trocam um beijo bem
longo e carinhoso, que é aplaudido por todos os presentes na mesa.
A noite se passa, e quando já são 4:00 horas da madrugada do Sábado, Fábio diz:
- Markus, agora nós vamos pra nossa lua-de-mel...
Fábio diz isso não para pedir que ele cumpra sua palavra, mas apenas por aviso, pois Fábio pensa
que já havia incomodado demais seu amigo.
Mas, para sua surpresa, Markus se levanta e diz, ainda sorridente:
- Bem, então vamos! Eu prometi que os levaria para sua lua-de-mel, e irei cumprir minha
palavra... Só peço que me permitam deixar Ana em casa antes de partirmos...
Ana o interrompe e pede:
- Ah, amor... Deixa eu ir com vocês, pois quero aproveitar um pouco mais do tempo que tenho do
seu lado...
Fábio, antes que Markus dissesse algo, diz:
- Pô, meu velho, por mim e Shellen tá tudo bem! Só depende de tu!
Markus sorri para Ana e pergunta:
- Você realmente que ir? Não está cansada?
Ana responde, passando a mão em seu rosto:
- Nem que eu tivesse morta eu deixava de ir com você!
Ao ouvir esta resposta, Markus se levanta, dá o braço à Ana e acompanha o casal, que terá suas
núpcias na cidade de Angra dos Reis.
Markus não conhece muito bem o caminho, mas Ana sim, e ela será seu guia no retorno.
Então eles entram no carro, vão até a casa dos agora casados, onde Markus e Fábio apanham as
bagagens deles e põem no carro, para então seguirem seu caminho.
Ana e Shellen estão no banco traseiro para descansar e dormir, ao passo que Markus e Fábio estão
nos bancos da frente, para que Fábio lhe mostre o caminho.
Fábio sempre lhe pergunta se ele quer revezar a direção do carro com ele após algum tempo, mas
Markus lhe diz não ser necessário, pois não está com sono devido ao fato de ainda não ter se acostumado
com o fuso horário do Brasil, e após uma hora de viagem, quando os primeiros raios de luz do sol já
despontam no horizonte, eles chegam em frente à casa que eles alugaram para passar uma semana,
retornando à Magé na Sexta-feira seguinte pela manhã.
Após desembarcarem as malas, Markus e Fábio retornam ao carro e acordam Shellen e Ana.
Ana pede um copo com água à Shellen e Fábio, que entram na casa e retornam com dois copos e
uma jarra com água gelada, mas logo vêem Ana, que está encostada na parte dianteira com ambas as
pernas juntas, beijando Markus com muito amor, sendo que eles trocam muitos carinhos.
Os nubentes sorriem ao ver aquilo, e Shellen diz:
- É, Markus! Este é o remédio que o doutor receitou pra curar você: Muito amor e carinho de uma
mulher que te ama...
O casal enamorado cessa seu beijo e os olha com um sorriso, para então se despedirem e Markus
prometer que ele mesmo irá buscá-los na Sexta-feira da outra semana pela manhã para retornarem à
Magé.
Durante a viagem de volta, Ana acaba dormindo, mas Markus já havia memorizado o caminho de
volta, e não a desperta, pois sabe que ela deve estar muito cansada.
Ao chegarem em Magé, Markus a desperta com carinho e pergunta:
- Ana, você ainda reside em Guapimirim?
- Sim... – Ela responde, despertando com um lindo sorriso em seu rosto.
Ana reside na entrada da cidade de Guapi, no bairro chamado Paiol. Ela mora em uma casa na 6a.
rua transversal, onde Markus a leva.
Já são aproximadamente 6:30 da manhã de um Sábado ensolarado quando ele sai do carro para
abrir a porta gentilmente para Ana, e já existem algumas poucas pessoas caminhando pelas ruas do bairro,
que se surpreendem ao ver um carro tão belo por ali.
Ao sair, o rosto de Ana está triste e ela começa a chorar, e Markus logo pergunta, ao mesmo

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tempo em que entrega seu lenço à ela:
- Meu anjo, o que houve com você? Por que está tão triste?
Ana responde, usando o lenço para enxugar suas lágrimas:
- É que eu já tô com saudades... Eu sei que só vou ver você na Sexta que vem mesmo...
Markus a abraça gentilmente e diz sorrindo:
- Ana, eu também não queria me separar de você, mas é necessário...
Então ele retira seu telefone celular do bolso, entrega à ela junto com um pequeno papel onde está
o número de seu apartamento, e diz:
- Neste pedaço de papel tem o telefone de minha casa e, sempre que quiser, é só me telefonar...
Use à vontade, pois não há problema...
Ana baixa sua cabeça de maneira triste, mas Markus a levanta delicadamente com a mão e a beija
demoradamente, para então dizer:
- Até Sexta-feira, meu anjo...
- Até Sexta, amor... Já tô com saudade de você... – Ana responde.
E Markus entra no carro e parte para seu lar, ao mesmo tempo que Ana entra em sua casa para
tomar banho e ir dormir.
Após todos os preparativos, ela se deita e fica com seus pensamentos voltados para ele, em qual
será a reação de sua mãe e irmão ao saberem que aquele que fora seu grande amigo de juventude agora
poderá ser seu namorado, e futuramente, se tudo desse certo, será seu esposo e pai de seus filhos.
Mas nesse momento, ela sente a saudade dele se tornar mais forte. Parece que ele tinha partido
para seu apartamento a anos, e não a apenas meia hora.
Não conseguindo mais segurar sua ansiedade, Ana pega o telefone celular que Markus lhe dera e
disca seu número para, poucos toques depois, ele atender:
- Bom dia... – Diz a voz feliz de Markus.
- Amor, sou eu... – Diz Ana de forma mimosa e carinhosa.
Reconhecendo a voz dela, ele sorri e diz:
- Que bom ouvir sua voz... Eu já estou sentindo sua falta, Ana...
- Eu também, amor... Eu não te incomodei?
- Não, meu anjo! Eu ainda não me adaptei ao horário no Brasil, e por isso, estou um tanto quanto
sem sono...
E ambos ficam conversando por muito tempo, até que Ana sente-se muito sonolenta e resolve ir
dormir, permitindo que Markus também descansasse após tantas emoções em uma única noite.
E em uma semana, o simples espaço de sete dias, um novo encontro poderá definir os destinos de
dois jovens que se amam, que poderão ou estarem juntos para sempre ou se separariam...

Capítulo 12:

A semana se passa lentamente, com Ana e Markus sentem muito a falta um do outro, mas também
estão muito apreensivos com a resposta de um para o outro.
Eles conversam horas ao telefone todos os dias, mas isso não basta para sanar a imensa sede de
amor que um tem pelo outro.
Na Sexta-feira, pela manhã, Markus vai buscar Fábio e Shellen como havia prometido, e ao chegar
à Angra dos Reis, seus amigos vêm à seu encontro, o cumprimentam e abraçam-no, mas logo Shellen
pergunta:
- Markus, cadê a Ana? Ela não veio com você?
Markus responde negativamente com a cabeça e explica todos os motivos de ela não estar em sua
companhia enquanto eles colocam no carro todas as malas, e ao fim, Fábio diz:
- Markus, você a ama, não é?
Sorrindo feliz ao ouvir a pergunta de seu amigo, ele responde, com um certo tom de preocupação
em sua voz:
- Sim... Mas tenho medo que tudo o que aconteceu na Sexta-feira que passou tenha sido somente

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um sonho ou uma coisa de momento...
Shellen, ao ouvir sua frase, diz:
- Entendo sua preocupação, Markus, mas eu acho que ela também te ama e vai querer ficar com
você!
Markus, agora com a expressão um pouco triste:
- Eu não sei... Pode ser que ela queira agora ser livre por um tempo, já que Eduardo não mais a
perturbará... Além do mais, eu já não sou mais nenhum adolescente, mas um homem já um pouco...
Fábio o interrompe e diz:
- Velho?! É isso que você vai dizer, cara? Ora, vai tomar banho! Você deixou todas as mulheres lá
do nosso casamento babando por sua causa! Eu também acho que ela vai ficar contigo, e pro resto da
vida! Vai preparando o pescoço, pois isso me cheira à forca, quer dizer, casamento! Você vai ser o
próximo!
Markus ri da brincadeira de seu amigo, e logo vê Shellen lhe dar um tapa de brincadeira no braço,
e dizer:
- Ah, então casar comigo foi uma forca, né?!
Fábio ri da atitude de Shellen e diz:
- Que nada! Você sabe que eu te amo!
E se beijam apaixonadamente, fazendo com que Markus pense em Ana, que durante a semana não
saía de sua mente.
Durante a viagem, Fábio, Shellen e Markus conversam animadamente, e Fábio diz:
- Markus, espero que eu e Shellen sejamos os padrinhos do seu casório, hein!
- Vamos com calma, Fábio! Nós ainda nem estamos namorando! – Diz Markus, sorrindo com a
brincadeira de seu amigo.
- Ora, e você acha que não vão namorar? Depois de ver ela te tirar da depressão que tu tava, eu
acredito que o casamento de vocês dois não vai demorar muito... Vocês se amam demais, e vão ficar
juntos! Disso eu tenho certeza!
E continuam a conversa até chegarem em Magé às 12:30 horas, onde Markus os leva até a casa do
casal, mas após ajudar a desembarcar as malas, ele diz que está indo embora para sua casa, mas Fábio diz:
- Nada disso! Você vai almoçar com a gente hoje! É um almoço pra família, e você faz parte dela!
Dá um tempo aí, pô!
Shellen diz:
- Markus, minha família também já tá aqui! Sem você, o almoço não vai ter graça!
Após a insistência de seus afilhados, Markus sorri e diz:
- Está bem, eu fico...
E assim, ele adentra a casa e lá estão ambas as famílias unidas, e Markus conversa com grande
alegria e entusiasmo com todos, mas sua mente está em Guapi, junto de sua tão querida e redescoberta
Ana...
Após o almoço, Markus retorna à seu lar, confere os e-mails que recebera, e responde ao que
Sharon lhe enviara:
- “Cara Sharon:
Enfim, minha dor terminou, e descobri a verdade sobre tudo que se passou entre nós. Eu nunca
poderia ter casado com você porque meu coração pertence à uma pessoa de meu passado, uma jovem a
quem amei antes de conhecer você, e pelo que comprovei à poucos dias, continuo amando até os dias de
hoje. Ao que me parece, eu e ela iremos namorar, e quem sabe um dia, seremos felizes juntos, assim
como você e James... Espero um dia poder convidar você, James, seu pequeno menino, seu pai e Ryan
para meu casamento.
Do eternamente amigo seu:
Markus Blakk.”
E envia-o.
Ele toma um banho e se deita um pouco para dormir e descansar da longa viagem de volta de
Angra dos Reis.
Ao despertar, Markus olha para seu relógio de pulso e vê que já são 18:00 horas.

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Ao se levantar, ele apanha seu telefone e disca o número do celular que está com Ana, que após
três toques, atende:
- Markus! É você, amor?
- Sim, anjo... eu acordei agora, e vou só tomar uma ducha fria e estou indo para sua casa, tudo
bem? – Markus diz.
- Tudo bem... Eu vou tá te esperando, hein? Tô morrendo de saudades... – Diz Ana, brincando
com Markus.
- Pode me esperar tranqüila, pois estarei em seus braços daqui à meia hora... Um beijo, anjo... –
Diz Markus com a voz apaixonada.
- Um beijão... Te amo...
E Ana desliga o telefone.
Markus toma uma ducha rápida, se veste com uma bermuda marrom clara e camisa branca de
malha, desce até a garagem, apanha seu carro e parte em direção à Guapimirim, a terra da senhora de seu
coração.
Ao chegar em frente ao portão da casa de Ana, Estela, a mãe de Ana, o aguarda.
Estela, uma viúva de 50 anos de idade, magra, cabelos negros, é professora, e sempre gostou
muito de Markus, pois sempre foi ele que ela quis para ser o namorado de sua filha.
E ao vê-lo, tão belo e feliz, sabe que em breve sua filha estará contente nos braços dele...
Durante toda a semana, Ana ficara nervosa e apreensiva com a resposta de Markus, tanto que
pouco comera e dormira nos primeiros dias, mas após contar à Estela tudo o que se passava com ela, sua
mãe lhe disse:
- Minha filha, o Markus sempre gostou de você, e agora, voltou depois de tanto tempo.... É a hora
de ser feliz com ele, que sempre te amou tanto...
E assim ela melhorou de tanto nervosismo.
Markus salta do carro e cumprimenta Estela, que o abraça, o beija no rosto e diz:
- Markus, seja bem vindo de volta... Você se tornou um grande e belo homem, como eu sempre
imaginei... Entre, pois Ana está esperando você ansiosa...
Markus entra pelo portão daquela casa que tão bem conhece, e logo se senta na poltrona da sala,
onde muitas vezes estivera estudando junto com Ana no passado, sonhando acordado com ela.
Estela lhe dá um copo com café e lhe pede que aguarde um pouco, pois Ana está terminando de se
arrumar.
Markus, sorrindo, diz:
- Eu a aguardarei o tempo que for preciso...
Mas nem passam 10 segundos após Markus dizer esta frase, pois Ana surge vinda de seu quarto,
onde se arrumara.
Vestida com uma bermuda azul turquesa, camiseta de mangas branca, tênis simples, mas adornada
pelo sorriso ao ver Markus em seu rosto.
- Markus! – Ana diz feliz, ao mesmo tempo em que o abraça e coloca seu rosto no ombro direito
dele.
Após se despedirem de Estela, eles partem em direção à Magé, onde irão conversar na praça da
prefeitura, o ponto de encontro para sua conversa.
São 19:30 horas quando eles chegam à praça, e logo saem do carro de mãos dadas, indo em
direção à um banco onde, nove anos antes, eles costumavam conversar por horas à fio.
Eles se sentam, e Markus logo diz:
- Ana, e então, pensou bem no que você quer?
Ana sorri e responde com um aceno positivo de sua cabeça, para então dizer:
- Sim... eu quero ficar do seu lado pra todo o sempre, Markus... Eu te amo, como quando ainda
estudávamos juntos...
Markus sorri e diz:
- Eu pensei muito durante essa semana toda, e lhe digo que também desejo ficar à seu lado, pois eu
te amo, Ana... Sempre te amei e para sempre irei amar você... Por favor, fique à meu lado como minha
namorada...

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Ana sorri com as palavras de seu amado, então eles se abraçam, se apertam um contra o outro e se
beijam selando um namoro que começa com anos de atraso, mas como dizem, nunca é tarde demais para
se amar...
Após longos momentos se beijando, Ana lhe devolve o celular, mas Markus lhe diz:
- Pode ficar com ele, meu amor... Eu já tenho outro... Desejo que tenha um telefone celular com
você sempre, já que, quando precisar, poderá entrar em contato comigo facilmente... E pode deixar, pois
eu pagarei sua conta...
Neste momento, o telefone celular de Markus toca, e ele atende.
É Fábio, que lhe diz:
- Markus, e aí? E você e Ana?
Markus responde:
- Nós estamos aqui, e já decidimos que vamos namorar...
Fábio dá uma risada e diz:
- Eu não te falei?!? Agora, é sua vez de se enforcar, velho! Faz o seguinte: vai ter uma festa no
mesmo clube da recepção do meu casamento! Vem pra cá com a Ana! Tamos esperando vocês!
- Tudo bem, nós já vamos...
E logo o casal de namorados viaja de Guapimirim até Magé, e ao chegarem no mesmo clube da
Sexta-feira, vêem as luzes apagadas, então Markus logo se pergunta:
- Ora... Será que chegamos cedo demais ou a informação de Fábio estava errada?
Eles se aproximam do portão, e constatam que está aberto, e logo Ana lhe diz:
- Markus, será que a gente não deve entrar e dar uma olhadinha? Pode ser que a gente tenha
chegado muito cedo...
- Claro... Vamos dar uma espiada...
E o casal de namorados adentra as dependências do clube, se lembrando dos eventos da Sexta-
feira anterior, mas logo as luzes se acendem repentinamente e um brado de várias pessoas juntas é
ouvido:
- Surpresa!
Fábio, Shellen e muitos dos amigos de juventude de Markus ali estão, então começam à cantar:
- Parabéns pra você
Nesta data querida...
Markus sorri surpreso, se questionando quem seria o aniversariante, e ouve o nome de para quem
é cantado o parabéns:
- Markus! Markus! Markus!
Ele olha para os lados perplexo e diz:
- Ora... Meu aniversário é em Janeiro!
- A gente sabe, amor! É que imaginamos que à muito tempo mesmo você não tem uma festa de
aniversário, então resolvemos fazer uma pra você hoje! – Lhe diz Ana.
Fábio o agarra por um dos braços, ao passo que Luiz e outros dois amigos o seguram firme pelo
outro braço e ambas as pernas, levando-o até a piscina.
Na borda, Fábio lhe diz rindo:
- Foram a Shellen e a Ana quem armaram tudo! E já que ganhou um presentaço que nem a Ana
como namorada hoje, tá na hora do banho!
E jogam Markus vestido dentro da piscina, de onde ele se levanta rindo e dizendo:
- Faz anos que eu não me divirto assim! Obrigado mesmo, apesar de estar todo ensopado agora!
Ana se aproxima da piscina e Shellen a empurra para dentro da água, onde ela nada até Markus, o
abraça e diz:
- Tá feliz, amor?
- Muito, querida... Você é a mulher mais maravilhosa do mundo!
E tornam à se beijar apaixonadamente, demonstrando em público seu grande amor e sendo
aplaudidos por isso.
E assim, após anos de sofrimentos para Markus, a felicidade lhe sorri nos braços de sua amada
Ana, que dois anos depois, no mês de Janeiro, se torna Ana Carolina Blakk, esposa de Markus em uma

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linda cerimônia de casamento, com a presença de Sharon e James como um dos casais de padrinhos, bem
como Newton e Cristina, e obviamente Fábio e Shellen, que está grávida de dois meses do primeiro filho
deles. O próprio senhor Stewart lá está, uma vez mais saudável, e Ryan, um belo jovem que arranca
suspiros das jovens que o observam.
A cerimônia é longa e muito bela, e ao final, Markus e Ana se beijam apaixonadamente.
A Lua de Mel deles é em Angra dos Reis, e após uma semana ali, partem para uma viagem de um
mês por vários países europeus.
Depois de 5 meses de um casamento feliz, Ana dá uma novidade alegre à seu marido:
- Markus, eu tô grávida! Nós vamos ter um filho, querido!
Assim, Markus e Ana ficam felizes durante toda a gravidez dela, e ao dar à luz ao primeiro filho
deles, a alegria de trazerem ao mundo uma linda menina, que é batizada com o nome de Mary, é enorme
para estes dois que, após nove anos de separação e sofrimentos, agora estão unidos para sempre...



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A estória por detrás da “Estória de um Homem Triste”

1998, ou seja, três anos antes de eu começar à escrever meu primeiro livro, O Cavaleiro Celeste,
de 2001, eu sempre imaginava estórias em minha mente, mas como já mencionei acima, só comecei à
escrever minhas estórias em 2001.
Mas um dia, me lembrei desta estória que havia criado em 98, quando estava em forte período de
depressão, numa espécie de fuga de meus problemas para um mundo onde realmente houvesse o chamado
final feliz para a vida.
Desde então, em minha mente, sempre fugi para este mundo onde posso me refugiar das dores tão
comuns nos dia à dia do ser humano. Me vi criando estórias, personagens, lugares, e então, em 2001, eu
resolvi começar à escrever o que pensava durante os dias e noites. Daí para frente, quem me conhece sabe
que surgem, vez por outra, livros com estórias que não poderiam acontecer no mundo real, pois muitos de
seus elementos são puras fantasias, mas apenas na minha imaginação.
Mas então me pergunto: Qual ser humano nunca sonhou em ser um mestre de artes marciais, um
guerreiro de um sistema estelar distante, ou mesmo um assassino daqueles que os perseguem sem que
tenham um motivo justo? Creio que todos nós já tivemos tais sonhos.
E destes sonhos, criei minhas estórias...
Sempre e sempre escreverei conforme o que anseio, e muitas vezes, expresso opiniões que não são
minhas, mas elementos que tornam as estórias que escrevo especiais.
A Estória de um Homem Triste é um apelo cheio de amor e esperança de um coração fragmentado
na época (1998), mas que nunca foi atendido, e por isso, sepultado, mas quando lembrei-me dela, em
2002, resolvi escrevê-la, mas muito do que pensava foi mudado e o livro é mais curto que em meus
pensamentos, e ficou muito melhor assim do que eu sonhava em 98.
Bem, cada livro tem sua estória, e a deste está encerrada.
Espero que se divirta lendo, pois me diverti escrevendo!
Grande abraço à todos:

Kamus Orf

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Mais uma vez, para uma pessoa extremamente especial:

Mais uma vez, para uma jovem que muito amo e admiro, dedico esta que foi a primeira estória que
criei em minha vida. Em 1998, eu comecei à pensar nesta estória, que não é longa como outras, mas que
possui em si uma beleza ímpar. E como tudo que é belo em minha vida, dedico à minha tão querida e
estimada

$Q  &DUROLQ  .LVV

Pois você, somente por existir e ser tão próxima e íntima de minha pessoa, me faz tão feliz, não
deixando que eu me torne um homem triste...

Com todo meu carinho e afeto:

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