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Jost EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN EXMO. SR. PRESIDENTE DO EGREGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AC? 3950-3 A CONFEDERAGAO NACIONAL DO COMERCIO - CNC, entidade sindical de grau superior, estabelecida na Av. General Justo, n° 307, 5° andar, na cidade do Rio de Janeiro - RU, inscrita no CGC/MF sob o n® 33.423.575/0002-57, vem, por seu advogado infra-assinado (doc. n° 1), respeitosamente, perante V, Exa, para propor ACAO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE, nos termos dos arts. 102, I, “a”, e 103, IX, todos da Constituigao Federal, contra o Exmo. Sr. Governador do Estado de Sio Paulo e a colenda Assembléia Legislativa do mesmo Estado, tendo como objeto o artigo 1° da Lei Estadual n® 7.844, de 13 de maio de 1992, pelas razdes que sto a seguir aduzidas, [SRN ED. BRASILIA RADIO CENTER, {+ ANDAR, GALA 1000, BRASILIA DF CEP 70718.00 TEL /FAR: (69) 328-000 — DOS FATOS A Assembléia Legislativa do Estado de So Paulo eprovou o Projeto de Lei n° 111/91, de autotia do deputado Jamil Murad, que, merecendo sango do Chefe do Poder Executive, 0 Exmo. Sr. Governador do Estado, transformou-se na Lei Estadual n° 7,844, de 13 de maio de 1992, que “assegura a estudantes o direito a0 ! i d pagamento de meia entrada em espeticulos esportivos, culturais e de lazer, € di ' providéncias correlatas” Reza o art. 1° da ja citada Lei Estadual n° 7.844/92: Art, 1°, Fica assegurado aos__estudantes regularmente matriculados em estabelecimentos de ensino de primeiro, segundo e terceiro graus, existentes no Estado de Sdo Paulo, 0 pagamento de meia-entrada do valor efetivamente cobrado para_o ingresso em casas de diversio, de espetdculos teatrais, musicais e circenses, em casas de exibigfo cinematografica, pragas esportivas e similares das 4reas de esporte, cultura e lazer do Estado de Sdo Paulo, na conformidade da presente Por sua vez, 0 art. 2° estabelece: Art. 2°. A carteira de identificagao estudantil — CIE — seré emitida pela Unido Nacional dos Estudantes — UNE — ou pela Unido Brasileira dos Estudantes Secundaristas — UBES — e distribuida pelas respectivas entidades filiadas, tais como Unido Estadual dos Estudantes, Unido Paulista dos Estudantes, Unides Municipais, Diretérios Centrais José EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN de Estudantes, Diretérios Académicos, Centros Académicos e Grémios Estudantis. A Lei Estadual n° 7.844/92 veio a ser regulamentada pelo Decreto n° 35.606, de 3 de setembro de 1992, restando, desde entdo, assegurado aos estudantes paulistas 0 direito de pagar meio-ingresso, assim entendida a metade do valor efetivamente cobrado do piiblico em geral, em casas de diversdo ¢ lazer, desde que apresentem a carteira de idemtificagao estudantil — CIE. Ora, € flagrante a inconstitucionalidade da Lei "stadual_n® 7,844/92, bem como de seu regulamento, exatamente porque plicam indevida intervengio do Estado de Sao Paulo no dominio econémico, mercé de planejamento vinculante e efetiva fixagdo de pregos privados, em franca agress4o aos artigos 170 e 174 da Constituigio Federal. I1- DO DIREITO Reza a atual Constituicao Federal: Art. 170 - A ordem econémica, fundada na valorizagéo do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existéncia digna, conforme os ditames da justica social, observados os seguintes Principios: \. soberania nacional; II - propriedade privada; Ill - fungao social da propriedade; IV- livre concorréncia; V - defesa do consumidor, VI- defesa do meio ambiente; SSRTH.- EO. BRASILIA RADIO CENTER, 5 ANAM. SALA.1029, HASIIA- DF-CEP 7071800. TeL FAX (06H) 3282000 José EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN ‘AnvocaDo: 4 Vil - redugdo das desigualdades regionais e sociais; Vill - busca do pleno emprego; IX = tratamento favorecido para as empresas de Pequeno porte constituidas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administragdo no Pais. Paragrafo Unico. E assegurado a todos o livre exercicio de qualquer atividade econémica, independentemente de autorizag3o de érgZos publics, salvo nos casos previstos em lei Lendo @ norma supratranscrita, observa o intérprete que a Carta de 1988 adotou, sem reservas, 0 modelo capitalista de produgio, Tal conclusio, com efeito, surge da consagragao da liberdade d fa em matéria de atuagio econdmica deferida aos entes fisicos ou juridicos, os primeiros protegidos pela também consagrada liberdade de associacdo para fins licitos, erigida a categoria de direito fundamental (CF, art. 5°, XVII). E, se a liberdade de agir no campo econdmico 6 a regra, € certo que a intervengaio do Poder Publico € excegaio que vem delimitada na propria Carta Politica, estes exatos termos: Ait.174 - Como agente normativo e reguiador da atividade econémica, o Estado exercera, na forma da lei, as fungdes ‘de fiscaliza¢ao, incentivo e Planejamento, sendo este determinante para o setor Pliblico e indicativo para o setor privado. Cotejando as normas constitucionais sobre a ordem econdmica antes transcritas, CELSO RIBEIRO BASTOS (in Coment: Saraiva, 1990, 7° Volume, p. 16/17), com a perspicacia de sempre, preleciona jos 4 Constituigao do Brasil, “Na verdade esta liberdade & uma manifestacio dos direitos fundamentais e no rol daqueles devia estar incluida. De fato 0 homem nao pode realizar-se Plenamente enquanto nao Ihe for dado o direito de Jost EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN projetar-se através de uma _realizagao transpessoal, vale dizer, por meio de organiza¢ao de outros homens com vistas a realizagéo de um objetivo. Aqui a liberdade de iniciativa tem conotagao econémica Eqiiivale dizer ao direito que todos tem de langarem-se ao mercado da produgao de bens e servigos por sua conta e risco. Alias, os autores reconhecem que a liberdade de iniciar a atividade econémica implica a de gestao e a de empresa. “A liberdade de iniciativa e de empresa pressupée 0 direito de propriedade da mesma sorte que é de certa forma uma decorréncia deste. O seu exercicio envolve uma liberdade de mercado, 0 que significa dizer que 880 proibidos os processos tendentes a tabelar os pregos oumesmo a forgar a venda em condices que nao sejam as resultantes do mercado. A liberdade de iniciativa exclui_@ possibilidade de um planejamento vinculante,O empresério_deve ser 0 senhor_absoluto_na_determinagdo_do_que_deve produzir, como produzir, e por que prego vender. Esta liberdade, como todas as oulras de resto, n&o pode ser exercida de forma absoluta, Ha necessidade sim de alguns. temperamentos, O importante, contudo, énotar que a regra é a liberdade. Qualquer restrigao a esta hd de decorrer da prépria Constituigao ou de leis editadas com fundamento nela” (destaques de agora), Assim, embora a erdade de agir no mercado nao seja absoluta, a possibilidade de intervengio do Estado como agente regulador limita-se, exelusivamente, as hipoteses previstas na Constituicfo € nas leis promulgadas segundo os seus ditames. A liberdade € a regra e a intervengdo a excegao. Isto posto, cabe assinalar que nfo ha no ordenamento constitucional amparo para que os Estados da Federagao, intervindo na liberdade econdmica, impinja aos ‘agentes econdmicos a cobranga de pregos diferenciados para determinada categoria da populagio. Nada ha na nossa Carta Magna que permita ao Estado interferir na administragdo dos negocios privados para exigir a cobranga de pregos diferengados em relagdo aos estudantes, Na verdade, a interveng&o na economia somente é cabivel, em José EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN anvoasno 6 termos excepcionais, Unido Federal. Ora, aqueles que consideram legitima a intervengao nao poderiam desprezar, ¢ certamente no desprezam, a Lei Delegada n° 4, de 26 de setembro de 1962, cujo art. 1° dispde: A Unido, na forma do artigo 146 da Constituigdo, fica autorizada a intervir_ no dominio econémico para assegurar a livre distribuigéo de mercadorias e servigos essenciais ao consumo e uso do povo, nos limites flxados nesta Lei E 0 artigo 2° da mesma lei acima citada, por sua vez, delimita as espécies de intervenco, autorizando, pelo inciso segundo, a hoje banida “fixagdo de pregos” € © ainda possivel “controle do abastecimento”. Interessa notar, outrossim, que haveria até orgio federal encarregado da “fixagio de pregos”, no que toca a prestagto de servicos de diversdes publicas, como dispie o Decreto-lei n° 422, de 20 de janeiro de 1969, explicitamente. An 7° - & da exclusiva competéncia da Superintendéncia Nacional do Abastecimento (SUNAB) @ fixagdo de pregos maximos de taxas, anuidades de’ estabelecimentos de ensino, de ingressos em diversdes publicas populares, inclusive cinema, bem como a aplica¢éo de qualquer outra forma de intervengo prevista no artigo 20 da Lei Delegada nimero 4, de 26 de setembro de 1962, com relagao a esses servigos. Assim, ainda que se admita estar assegurado ao Poder Puiblico 0 direito de intervir no dominio econdmico para regular 0 mercado — no incluida a autorizagio para fixar pregos porque, como ja visto, tal fixagdo de cima para baixo contraria frontalmente a atual Constituigao Federal, especialmente os artigos 170, que consagra a livre iniciativa, ¢ 174, que veda planejamento estatal vinculante para o setor privado — tal intervengao, preservada a legislagdo compativel, tocaria exclusivamente Unio, nunca aos Estados José EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN Anvooane 7 Membros ou aos Municipios. Portanto, seja do angulo da competéncia legislativa, seja do prisma do contetido normativo, o dispositive enfocado colide com a Constituigao Federal, ensejando, via controle concentrado, a decretagao de sua inconstitucionalidade Til - DO PERICULUM IN MORA © artigo cuja constitucionalidade vem de ser contestada est a gerar gravissimos prejuizos para as empresas que atuam no ramo de casas de espetéculos, impedindo o exato planejamento econdmico dos shows a serem levados, pela impossibilidade de se saber previamente qual a parcela da platéia sera de estudantes que pagam meio-ingresso. Com efeito, normalmente 0 que faz 0 empresirio ¢ calcular o prego de ingresso do espetéculo de acordo com seus custos, rateando este € a sua margem de lucro pelo nimero de espectadores, que corresponde normalmente a lotagao das casas No entanto, com o fator da meia-entrada acrescenta-se um dado imponderavel, pois jamais se sabe ao certo qual o nimero de estudantes que comparecerd. Tal circunstancia est levando os empresirios do setor a experimentar repetidos prejuizos, comprometendo o desenvolvimento desse importante segmento da area de diversdes piblicas. A manifesta queda de receita esta acarretando perdas irrepardveis, sem a menor possibilidade de ressarcimento e, cada vez mais, esto diminuindo os estabelecimentos que se dedicam a esta atividade, causando desemprego em uma época na qual a criagdo de postos de trabalho & um imperativo. So notérios os casos de fechamento de casas de espeticulos no Estado de Sto Paulo (v.g. 0 “Palladium”, estabelecido no Shopping Eldorado, na cidade de Sao Paulo). Diante da efetividade do argumento juridico, sobra 0 raciocinio no sentido de que a indevida intervengao da unidade federativa em assunto que nao Ihe diz ‘ORTN.-£D, BRASILIA RADIO CENTER, 1*ANDAR, GALA 1620, RABILIA- DF CEP 7071000 - TEL. AX (051) 8.2600 Jost EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN respeito, possa determinar a suspensto da eficicia do citado dispositive que impde a concessiio do meio-ingresso. A suspensio do dispositivo atacado apenas ao fim do processo ird permitir a ocorréncia das conseqtiéncias acima delineadas, sendo, bem ¢ de ver, irrecusavel © periculum in mora, Dai ser indispensavel 0 pedido de suspensdo cautelar do 1° da Lei Estadual n° 7.844, de 13 de maio de 1992. IV - CONCLUSAO Conelui-se, mercé dos sélidos argumentos aqui elencados, pela absoluta inconstitucionalidade do art, 1° da Lei Estadual n° 7.844, de 13 de maio de 1992, especialmente de seu artigo primeiro, que implica em intervengao do Estado de Sao Paulo no dom jio econémico para obrigar prestadores de servigos de diverstio e lazer a vender ingressos pela metade do prego a estudantes que, no mais das vezes, pertencem as classes econdmicas superiores. Assim agindo o Estado de Sao Paulo, violou o principio da livre iniciativa (CF, art. 170, caput), que implica, segundo 0 j aqui citado CELSO BASTOS, ser 0 empresério, agente econémico livre, senhor absolute na determinagao do que deve produzir, como produzir, e por que prego vender, especialmente por impor ao particular planejamento estatal vinculante (CF, art, 174), mercé de fixagio de prego privado e imposi¢ao de sangzo pelo n&o cumprimento de regra juridica viciada ab initio. Isto posto, requer-se que seja deferida por esse colendo Supremo Tribunal Federal liminarmente a suspensio cautelar do dispositivo questionado, pelos graves € irreparaveis danos que vém sendo causados as empresas de diversdes publicas. Outrossim, colhidas as manifestagdes do Exmo. Sr. Governador do Estado e da douta Assembléia Legislativa, aguarda a requerente que seja a presente aco julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade do citado art. 1° da Lei Estadual Paulista n® 7.844/92, tudo como medida, SSRTW-£D. ORABILIARADIO CENTER, !7ANOAR, SALA 2020, BRASILIA OF CEP 70718400 TL rAX 081) 3282800 José EDUARDO RANGEL DE ALCKMIN da mais lidima JUSTICA! Brasilia, 2 de fevereiro de 1999 José vaantdA rg de Alckmin OABIDF n° 2947 ‘mT ED. BRABILIA RADIO CENTER, + +ANDAR, BALA 1020, BRASILIA: OF CEP 70718:800 TEL FAX (081) 2282800

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