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1 GÊNERO, SEXUALIDADE E CIDADANIA

Você já notou que, quando falamos sobre a sexualidade humana,


acabamos limitando o assunto ao funcionamento dos sistemas
reprodutores masculino e feminino, aos métodos contraceptivos
e à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis? Isso
acontece porque o tema da sexualidade é quase sempre abordado
nas aulas de Ciências ou Biologia. É claro que todos esses
conhecimentos biológicos são muito importantes e não podem
deixar de ser abordados em sala de aula. Porém, a questão da
sexualidade envolve aspectos que vão muito além da abordagem
biológica, como por exemplo as questões de gênero.
As relações de gênero são estabelecidas pela sociedade e
podem ser modificadas segundo a época e os padrões culturais.
Ou seja, quando falamos em gênero, estamos nos referindo ao
significado de “ser homem” e de “ser mulher” na sociedade.
Você já percebeu que com o passar dos anos os papéis exercidos
por homens e mulheres na família e na sociedade foram se
modificando? Há algumas décadas, não era muito comum que
as mulheres estudassem ou exercessem uma profissão fora de
casa. A mulher deveria dedicar-se exclusivamente ao cuidado da
casa, do marido e dos filhos. Ao homem cabia a responsabilidade
de sustentar a casa. Ele era considerado o “chefe do lar”.
Mas não era apenas em casa que o homem tinha tratamento
diferenciado. No trabalho, os homens recebiam remuneração
superior à das mulheres, mesmo quando desempenhavam
funções idênticas. Ainda hoje, muitas mulheres enfrentam esta
condição de desigualdade.
Contudo, as mulheres têm conquistado cada vez mais espaço
no mercado de trabalho, até mesmo nas profissões consideradas,
antigamente, exclusivamente masculinas. Homens e mulheres
têm descoberto que precisam dividir tarefas e responsabilidades
dentro e fora do lar, o que demonstra que as relações de gênero,
ou seja, os papéis desempenhados por homens e mulheres na

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sociedade, estão se modificando. Estas modificações se refletem
em nosso cotidiano nas produções artísticas e culturais, até
mesmo no comportamento sexual. Na atividade a seguir você
poderá ver um exemplo disso.

Atividade 1
Leia as letras das músicas abaixo. A primeira foi escrita no final
da década de 1950 e as duas seguintes são composições bem
mais recentes. A partir das letras dessas músicas, você pode
perceber diferenças nas relações de gênero nessas diferentes
épocas? Discuta com seus colegas e justifique sua resposta.

1. MINHA NAMORADA
(Vinícius de Moraes e Carlos Lyra)
(...) Se você quer ser minha namorada, ai, que linda
namorada você poderia ser.
Se quiser ser somente minha, exatamente esta coisi-
nha, esta coisa toda minha,
Que ninguém mais pode ser.
Você tem que me fazer um juramento de só ter um
pensamento: Ser só minha até morrer.
E também de não perder esse jeitinho, de falar devaga-
rinho essas histórias de você.
E, de repente, me fazer muito carinho e chorar bem de
mansinho, sem ninguém saber por que.
E se mais do que minha namorada, você quer ser mi-
nha amada.
Minha amada, mas amada pra valer,
Aquela amada pelo amor predestinada, sem a qual a
vida é nada, sem a qual se quer morrer,
Você tem que vir comigo em meu caminho e talvez o
meu caminho seja triste pra você.
Os seus olhos têm de ser só dos meus olhos e os seus
braços o meu ninho, no silêncio de depois.
E você tem que ser a estrela derradeira, minha amiga
e companheira, no infinito de nós dois...

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2. TCHUTCHUCA 3. ELA VAI VOLTAR
(Bonde do Tigrão) (Charlie Brown Jr.)
Vem tchutchuca linda, senta aqui (...) Ela não é do tipo de mulher
com seu pretinho! Que se entrega na primeira
Vou te pegar no colo e fazer muito Mas melhora na segunda
carinho.
E o paraíso é na terceira
Eu quero um rala quente para te
Ela tem força
satisfazer.
Ela tem sensibilidade
Escute o refrão, é do jeitinho que
eu vou fazer. Ela é guerreira

Vem! Vem! Tchuchuca! Ela é uma deusa

Vem aqui pro seu tigrão! Ela é mulher de verdade...

Vou te jogar na cama e te dar Ela é daquelas que tu gosta na primeira


muita pressão... Se apaixona na segunda
E perde a linha na terceira
Ela é discreta
E cultua bons livros
E ama os animais
Tá ligado, eu sou o bicho...

Mesmo sendo um comportamento pessoal e íntimo, a atividade


sexual é também influenciada pelas normas e valores socioculturais
de uma determinada época. Muitos comportamentos, que em
outras épocas seriam considerados impróprios e reprováveis,
hoje são socialmente aceitos. Você já deve ter percebido o
quanto o erotismo é explorado pela mídia. Corpos bonitos são
expostos na tentativa de atrair a atenção dos consumidores para
os mais diversos produtos. Há algum tempo, esta exposição não
seria aceita com tanta naturalidade, o que revela que os padrões
morais e os costumes da sociedade mudam ao longo do tempo.
É claro que alguns mitos e tabus resistem ao tempo. Por outro
lado, muitas mudanças também são observadas.
Infelizmente, têm se tornado cada vez mais comuns os casos
de exploração sexual. Para denunciar e evitar esta situação,
durante o XV Congresso Mundial de Sexologia, ocorrido em Hong
Kong (China), entre 23 e 27 de agosto 2000, a Assembléia Geral
da WAS – World Association for Sexology (Associação Mundial de
Sexologia), aprovou as emendas para a Declaração de Direitos

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Sexuais, decidida em Valência, no XIII Congresso Mundial de
Sexologia, em 1997. Todo cidadão deve conhecer seus direitos e
exigir que estes sejam garantidos. Nada pode justificar violências
morais a homens, mulheres, crianças ou adolescentes. Portanto,
fique também por dentro dos seus direitos sexuais:

Os direitos sexuais são direitos humanos universais baseados na liberdade


inerente, dignidade e igualdade para todos os seres humanos. Saúde sexual é
um direito fundamental, então saúde sexual deve ser um direito humano bási-
co. Para assegurarmos que os seres humanos e a sociedade desenvolvam uma
sexualidade saudável, os seguintes direitos sexuais devem ser reconhecidos,
promovidos, respeitados e defendidos por todas sociedades de todas as ma-
neiras. Saúde sexual é o resultado de um ambiente que reconhece, respeita e
exercita estes direitos sexuais, sem jamais interferir nos direitos dos outros.
O direito à liberdade sexual – A liberdade sexual diz respeito à possibi-
lidade dos indivíduos em expressar seu potencial sexual. No entanto, aqui se
excluem todas as formas de coerção, exploração e abuso em qualquer época
ou situações de vida.
O direito à autonomia sexual, integridade sexual e à segurança do
corpo sexual – Este direito envolve a habilidade de uma pessoa em tomar
decisões autônomas sobre a própria vida sexual num contexto de ética pessoal
e social. Também inclui o controle e prazer de nossos corpos livres de tortura,
mutilação e violência de qualquer tipo.
O direito à privacidade sexual – O direito às decisões individuais e aos
comportamentos sobre intimidade desde que não interfiram nos direitos sexu-
ais dos outros.
O direito à igualdade sexual – Liberdade de todas as formas de discri-
minação, independentemente do sexo, gênero, orientação sexual, idade, raça,
classe social, religião, deficiências mentais ou físicas.
O direito ao prazer sexual – O prazer sexual é uma fonte de bem estar
físico, psicológico, intelectual e espiritual, que deve ser desfrutado, sem ferir
os direitos sexuais dos outros.
O direito à expressão sexual – A expressão é mais que um prazer erótico
ou atos sexuais. Cada indivíduo tem o direito de expressar a sexualidade, com
responsabilidade e bom senso, através da comunicação, toques, expressão
emocional e amor.
O direito à livre associação sexual – Significa a possibilidade de casa-
mento ou não, ao divórcio, e ao estabelecimento de outros tipos de associa-
ções sexuais responsáveis.
O direito às escolhas reprodutivas livres e responsáveis – É o direito
em decidir ter ou não ter filhos, o número e tempo entre cada um, e o direito
total aos métodos de regulação da fertilidade.

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O direito à informação baseada no conhecimento científico – A in-
formação sexual deve ser gerada através de um processo científico e ético e
disseminado em formas apropriadas e a todos os níveis sociais.
O direito à educação sexual compreensiva – Este é um processo que
dura a vida toda, desde o nascimento, pela vida afora e deveria envolver todas
as instituições sociais.
O direito à saúde sexual – O cuidado com a saúde sexual deveria estar
disponível para a prevenção e o tratamento de todos os problemas sexuais,
precauções e desordens.

Atividade 2
Discuta com seus colegas a Declaração dos Direitos Sexuais
e responda:
A) Você tem conhecimento de situações em que esses direitos
estejam sendo desrespeitados?
B) Que medidas seriam necessárias para que a sexualidade
saudável fosse vista como um direito de todos os cidadãos?
Como dissemos anteriormente, há inúmeras questões liga-
das à sexualidade humana, que vão muito além do domínio da
Biologia e das Ciências Naturais. Por isso a

Google
discussão não se esgota por aqui.
O importante é que você reúna o máximo
de informações e nunca perca a oportunida-
de de refletir e se posicionar em defesa do
seu direito a uma sexualidade saudável.

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