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Imagine o que jovens ousados podem fazer

Alceu A. Sperança

Imagine jovens militares,


arrancados dos grandes centros
para vir prestar serviços no remoto
e isolado anterior, saudosos das
namoradas, dos bailes e dos
estádios de futebol.
Imagine também, nesse isolado
interior, jovens vibrantes, filhos de
laboriosos caboclos e imigrantes,
ansiosos para construir um mundo
novo e próspero, cujos desejos
encontraram os sonhos dos jovens
militares e determinariam uma
Sargento José Rufino Teixeira, vontade comum, consensual.
diante do Hotel Pompeu dos Reis

Imagine agora que estamos no início de 1949. O mundo passou


por uma terrível guerra e o desejo de paz e progresso é predominante
na sociedade. Manoel Ludgero Pompeu rasga estradas para ligar esta
região ao Norte e ao Sudoeste. Explodia a indústria madeireira no
Oeste paranaense, trazendo riqueza.
No Brasil, a ditadura acabara. No mundo, o Exército Popular
libertava a China de séculos de escravidão para encaminhá-la a uma
posição de liderança no mundo.
Felizes asiáticos: foi justamente em 1949 que a Coreia do Sul
começou sua reforma agrária, com a qual esse país se encaminhou
ao atual quadro de prosperidade, boa educação e ótimos salários.
Mas em Cascavel havia aquele grupo vibrante de jovens militares
da Aeronáutica e os jovens filhos de caboclos que ansiavam por
melhores dias também para este abandonado interior do Brasil.
Foi assim que eles imaginaram sua grande sacada. Sagazes,
primeiramente se entenderam entre eles, entre uma e outra partida de
futebol. Depois, como não tinham recursos, deram um jeito de
convencer os “velhos” a concordar com sua proposta: criar um clube
social, esportivo e recreativo.
O sargento aviador José Rufino Teixeira e os jovens da família
Pompeu foram o centro irradiador inicial da proposta, que logo
contaminou a juventude e teve a aceitação do comandante de
Rufino, João Arquelau Soares, que comandava o posto da
Aeronáutica em Cascavel. Os jovens filhos e genros do madeireiro
Florêncio Galafassi foram combatentes de primeira hora

Primeira sede do Tuiuti

Num tempo em que mulheres jamais apareciam, havia uma delas


no rol de líderes do movimento: Maria Maceno, de uma família
ligada ao PCB. A bendita fruta ali apareceu porque ela era a dona do
terreno desejado para construir a primeira sede.
Então a imaginação se completou: a ideia se tornou força, os
cidadãos mais influentes da cidade se renderam à sugestão dos
rapazes, o comandante militar aderiu.
O sargento Rufino, um carioca espírita e esperto, imaginou o 25
de agosto, Dia do Soldado, para organizar a assembleia de formação
do Clube e, voilá!, eis que todos os fundadores do Tuiuti estão agora
reunidos no Hotel Pompeu dos Reis, de onde sairão para a história.
Eles acabavam de criar o Tuiuti esporte Clube, entidade que a
partir de então comandaria todos os primeiros avanços comunitários
e sociais em Cascavel.
Alguns dias antes de morrer, Lauredil Pereira da Cruz, o
folclórico Tefé, ex-jogador do Tuiuti, pediu para nunca esquecer o
seguinte: o Tuiuti foi um dos melhores times de futebol do Sul do
Brasil, tendo, inclusive, jogadores das seleções paraguaia e
catarinense. Está lembrado, portanto.

Grande equipe do Tuiuti na década de 60. A flechinha aponta Dercio Galafassi


Foi na sede do Tuiuti que se reuniu a comissão para criar o
Município. Ali surgiu a Associação Comercial e Industrial de
Cascavel (Acic). Ali brotou o CTG. Foi um braço dele que nos deu a
exitosa Associação Atlética Comercial.
Esse é o Tuiuti, o Leão do Oeste, que tive a honra de historiar, a
chamado de Luiz Carlos Marcon, no livro Tuiuti, A Presença Azul.
Parabéns, Tuiuti! Parabéns, Cascavel! Tomara a juventude atual
se inspire nessa conquista, para novas conquistas nos trazer.
alceusperanca@ig.com.br

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