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SEMINARIOS AVANCADOS EM EDUCAGAO PAULO FREIRE PUC/SP e UNI CAMP "Ultrapassando a concepgao vulgar, segun- do a qual a politica é a arte do pos- sfvel, Lenine demonstrou que é antes a arte de transformar 0 que é aparentemen: te Impossfvel em possfvel (tornar pos~ sfvel o impossfvel), rejeitando categori_ camente o oportunismo. Assim definida, @ agao politica implica uma CRIATIVIDADE permanente’ Amt lear Cabral "Uma luz fecunda ilumina o caminho da luta’ De uma_pequena brochura, editada pela Comissao de Informacao do PAIGC - Parti- do Africano para a independéncia de Gui- né-Bissau e Cabo Verde. As palavras de Amficar Cabral introduzem-nos em dois motivos pelos quais pas samos a editar as reflexes que se seguem, resultadas dos "'Seminarids Avanca orientados pelo Prof. Paulo Freire, que acontecem na UNI- dos em Educagai CAMP. 0 primeiro, diz respeito ao carater de convicsao com que anbas as pala vras so expressas, tanto nos discursos de Cabral, quanto nos dos participan tes destes encontros, conviccao esta fruto do comprometimento com as causas populares, expressa na necessdria relagao que passam a assumir, enquanto ad- ministradores, todos aqueles que se dedicam & causa piblica. 0 segundo moti- vo,.consequéncia do primeiro, resulta da trajetéria destes mesmos administra dores que, uma vez ocupando um "pedaco do poder", como afirma Paulo Freire , passam a refletir sobre os inevitaveis conflitos que surgem desta opgao, nu- ma 6tica diferenciada das anteriores. Numa perspectiva semelhante as preocupagoes de A. Cabral, ha o interesse de preservar, mesmo dentro do quadro referencial de poder que € 0 burgués, um horizonte que desperte a necessidade de transformagdes sociais. Assim, o tem po dedicado a este pensar criticamente a educagao, dentro de parametros poll tico-partIdarios-administrativos em que a mesma se Insere, resulta por produ zir uma teoria de sustentagao de praticas pedagdgicas que visem a concreti - zar toda a expectativa popular sobre as mesmas. Nesta relacdo, as fungdes da administracdo passam a Incorporar fungées de tradugo: traduzir e re-apresentar expectativas populares em torno da forma- g80 escolar, como fundamentagéo de um agir polftico-educacional. E, eis que segue... p. 20 - estudos geic n? O4- jun/89 Como provocagao para nossa reflexio ¢ troca de impressdes quero tra~ zer aqui um primeiro assunto; e esse assunto é justamente o convite. Refiro-me ao convite feito pela Prefeita Erundina, para que a viesse a dedicar-me a um trabalho na Secretaria de Bducagao. Comento com vocés que me senti um tanto impactado: por um lado, a experiéncia de Secretério da Educagdo deveria ser al go muito gostoso; por outro lado, confesso que senti um certo susto, um certo medo quanto a esse trabalho. Comentei isso com minha mulher, pedi a ela que reunisse filhos e filhas para, também com eles, refletir as posturas que iria assumir. E comentava com eles essa sensagao dupla, sentia-me conquistado pelo convite e, ao mesmo tempo, temeroso dele. A partir de um certo momento, refletindo, me dei conta de que meu susto tinha a ver com uma postura individual, até individualista; meu medo era 0 receio de expor, era o receio de colocar na esfera da atuacao publica um nome e uma trajetéria. Havia um certo receio de expor um perfil que eu préprio havia construfdo. Talvez o receio de interromper uma carreira de pensador e in telectual comprometido prética e teoricamente com certas prioridades. Ro perceber isso eu me pus contra meu préprio receio. Refleti algu - nas coisas assim: péxa, se eu vier a perder esse perfil, se eu vier a comprome ter essa trajetéria... ou eu terei merecido perdé-los... ou entBo eu tenho que ainda melhor entender o que é 0 poder, ainda melhor entender o que é a ideolo- gia e essas instanciastodas da vida social e politica. Pois bem... quando refleti que ESSE tipo de receio nao era o melhor’ e mais sensato a proceder naquele momento...entéo dei mais um passo em dire- so & aceitagéo do convite para trabalhar junto & Administracao Piblita DESSE governo eleito em Nov/88. Vejam vocés...como as coisas se somam...eu j4 estava refletindo outro passo muito importante para contrariar ao individualism: re firo-me ao seguinte, eu ndo estaria s5, eu nao iria administrar sozinho. mais ainda: eu jé estava refletindo sobre a responsabilidade politica de acei- tar um cargo de Secretdrio; ou seja, j4 estava refletindo a partir de minha - condigao de homem politico, militante em um determinado partido, com mais de 60 anos de vida e refazendo minha vida com minha segunda mulher...ou seja, per cebam comigo, estava refletindo o conjunto de’ elementos individuais, familia - res e sociais que minha historia de vida permitia, Tratava 34 de refletir uma possivel continuidade entre minha prdtica de vida de ANTES com minha prdtica A ‘TUAL e para esse 1989, Bem...dentro desse quadro...ressalto aqui alguns pontos. © primeiro deles, refere-se a um aspecto de minha postura individual © profissional: toda minha vida eu fui contrério a posigées elitistas na Educa go. E, vejam vocés, depois...na sequéncia desses Semindrios, poderemos voltar a age tena do elitism na sducacée brasileirs; © voltarenos a esse tema tendo em mos os elementos de minha postura de secretdrio, tendo em mAos as postur: de vocés como profissionais também convidades por administracdes piblicas. ' Pois bem...minha posigio de cr{ticas 4 Educagdo para que esta viesse a ser di ferente, com uma outra cara...pois bem...quando' sou convidado por esta adminis tracdo Popular que me diz "tens af, Paulo Freire, um pedago do poder, exerga-o dentro dos parametros dessa Adninistragéo Popular..."E eu me perguntava se po~ deria dizer "ndo” a esse convite. Dizer "nao" a esse convite seria negar-me a participar em um pedago do poder, seria ndo contribuir para que o exercicio ' desse poder aumentasse no Brasil a significaco importante DESSE tipo de Admi- nistracdo; vale dizer o seguinte, eu teria todas as chances de concretizar pos turas em Educagao que alinentassen uma antiga luta de minha vida. Para dizer "ndo" e estar tranquilo comigo mesmo eu deveria retirar de circulagéo os meus livros, eu deveria abandonar minha prética docente...e ficar retirado, quieto em minha casa. Como eu gosto de cavar a coeréncia, fazé-la emergir de dentro de meus compromissos, eu deveria assumir. E assumir com consciéncia de meus estudos geic n? Ol- jun/89- p. 21 Limites: sabendo de meus alcancese minha competéncia, sem ter medo de assumi- 1os...sabendo dos limites de meu alcance...Chamo a isso: humildade. Partilho contigo, Paulo, nessa tua reflexdo, ea alguns pontos. Tu te referias ao receio, ao medo, e eu me identificava contigo ao (também eu) assu mir um cargo na gestao piblica, convidada por um partido cujas propostas e exi géncias sdo marcentes e definidas pela prioridade popular. 0 peso dessa deci Sido de asounir teve que considerar a importincia histérica que, hoje, tem no pais as administragdes petistas. Quando tu dizias da tua reagdo...me | lenbrei de um texto teu...comentavas acerca da ousadia e da covardia. Por um lado hé a vontade de enfrentar esse desafio que é posto NESSA forma de administra: por outro lado, e justamente pelas posturas que a gente vem tendo, sent: muito pequena diante do desafio grande. Chegued a pensar assim...quem sabe ou tra pessoa?...e eu ficaria por trés, assessorando, ficando aqui no meu canti- nho de UNICAMP, dando forca, mobilizando,..Tudo isso se colocou no que eu cha- maria uma diffcil decisdo: consultei, como tu, marido e filhas, a quem eu sa crifico em termos de tempo, em termos de atengao, E consegui que eles entendes sen que estavam assumindo, junto comigo: assim como hé um grupo grande que as sumiu junto. E gosto de ouvir-te, gosto de ouvir mais pessces que estao aqui, esto passando por essa situagéo. Permita-me sublinhar un tema que surge af, en tua colocagéo: ‘tu per guntas..."serdé que isso tudo ndo é uma ilusdo? Penso que a esse tema voltare- mos. Essa pergunta que a gonte se faz, ela implica em certos matizes... certas concepgdes da realidade: ¢ isso precisa ser posto para andlise, para conversa. Para aprofundar nossa compreensc sobre a revolugdo é que retomarencs essa te mética que tu colocaste. Ou seja, encaminhar nossa reflexdo para desvendar “se vale a pena” esse compromisso, com ESSA administraglo...e isso é comego de fa zermos melhor teoria sobre exercfcio de governo que prepara, facilita a revolu gdo nos procedimentos culturais, educativos. Também eu, Paulo, compartilho contigo esse receio medroso. Tendo sido convidada pela adninistragao eleita en minha cidade, nao sendo eu explicitamen te uma petista nos anos anteriores a essa gestao, 6 frequente comigo esse re- ceio que tu dizias, talvez até um pouco maior em termos da responsabilidade as sumida. Me sinto aliviada quanto tu dizes isso, ouvir voces comentando as ma neiras pelas quais vieram a assumir um cargo me remete de encontro a min mesma. Convivo melhor com minha tensdo e preocupagio com a responsabilidade assunida. Logo nos comegos, quando nés vencenos ac eleigdes, ou pensava que te xiamos o poder de fazer as coisas acontecerem; agora percebo mais a fundo que’ 2 gente nao tem esse poder de "fazer as coisas", as burocracias existem, mui tas e muitas vezes a gente tem a verba, vé onde é prioridade e néo pode gastar com a urgéneia que 6 preciso. Outra coisa, tanbém muito conentada, as pessoas’ @izendo “agora o PT vai deixar a posicio de estilingue, vai se tornar en vidra ca". Eu, pré dizer a verdade, ndo gosto nem um pouco de me sentir como vi draga. Fago um pequeno paréntesis em tua reflexdo, acerca desse teu comenté- rio, ease que diz do PP se tormar agora a vidraga. Vejam, meus amigos, essa ex pressio nos mostra uma certa concepgao de governo, nos mostra uma concepgio do que seja oposigao, Eu me pergunto o seguinte: o fato de minhas posigées me co locarem em oposigao @ algo (ou alguém) isso nfo se torna um estilingue: o fato de assumir responsabilidades em um pedago do poder nao me torna simplesmente - vidraga, nen me isenta de fazer oposigdes, Podenos refletir melhor, compreen - der melhor o que seja fazer a critica necesséria; fazer, portant, oposigao a certgs posicionamentos. Estamos vivendo um momento histérico em que se explici ta, fs em que outros momentos, 0 conflito entre posigges de classe social. ~ Quem dizer o seguinte: quando algumas prefeituras sao assumidas pela ges tao » esas prefeituras (em diferentes graus) provocarem na imprensa uma ex- pressio mais forte. £ essa expresso que a imprensa escreve, agora mais que em p. 22 - estudos geic n? Ol- jun/89 outros momentos, é aquilo que eu chamo de “expressdo dos conflitos entre inte resses de classe". Por exemplo, a imprensa de S.Paulo essume hoje os intere: ses de classes doninantes contrérios a administracdes populares} dai, entdo, eles caem de porrete sobre essas administragées que se tornam, entao, a vidra ga. Vidraca quer dizer, distracao para os porretes das classes dominantes que (ineapazes de fazer critica e trabalhar conjunto) sabem apenas se colocar co- mo estilingues. A questiio que se coloca pode ser assim formulada: como é que eu aumento minha competéncia pol{tica para ganhar maiores espacos nessa luta que se trava. Devo saber isso. Mais do que ficar irado...que as vezes fico. mais que irar-me devo alcangar um nivel de sabedoria em que ndo me espanto - com essa obviedade: é ontolégico, é normal que as classes dominantes se fa gam distrair com estilingadas, e passem a vender essa imagem. Corresponde, & 1ids, & imagem antiga que classes dominantes tém vendido: dizem que o poder 2 aquele sacrificio, & aquele peso que pessoas desinteressadamente assumem por que estdo se sacrificando pelo bem comm contra essa simplificagao que es tou contrério, vale dizer, politica é mais complexa do que essa barateagio’ que classes dominantes fazem sobre ela (polftica). Estou tentando elaborar meus pensamentos, Paulo, ocorridos durante - esse teu perfodo de aceitagio e trabalhos como secretério; eu me perguntava ' se uma pessoa, investida desse tipo de cargo, se essa pessoa se tornaria algo mais pesado, Como um rinoceronte burocratizado. Eu refletia se a qualidade de uma pessoa, em Si mesma muito superior ao cargo e ao papel, refletia seo fa to de aceitar um cargo iria dificultar 4 expressao e & criagao dessa pessoa. ‘Tento responder a esse teu comentério. E lhe digo que muitos amigos, alguns parentes até, me explicitaram esse receio. Temiam por exemplo, que @ coisa degringolasse. Temiam algo que ocorre quando, por exemplo, a Folha de So Paulo pie manchetes dizendo que o secretdrio Freire é um quase-mongoléide que nao junta e explicita quatro ou cinco palavras ou frases. Temiam essa a- fetagdo que atinge ao homen Paulo Freire. Esse teu receio me revela considera cao, me revela afeto e eu me sinto gostosamente agradecido. E vou fazer uma enorme forga pra que continue criando e exprimindo minhas opgdes de vida. Acrescento algo, Paulo, ao que tu dizes, quando me dou conta de que hd intmeros amigos, iniimeros profissionais que estao dando forca para que a coisas acontecam, as coisas deem certo enfim. Percebo que minha caréncia é complementada pela forca de gente assim, pessoas que torcem pr& que as coisas deem certo. Onde ainda néo houve porretada, por parte da Folha de Sio Paulo, é no que se refere & efica de atiministrar. Por exemplo: tenho Madalena, filhi como una das grandes capacidades pedagdgicas desse pafs. E ela mora em Sao Paulo. Mas, embora venha ela a prestar servigos em alguns aspectos, no vai ser contratada por mim. Nao serd funciondria nomeada pelo Secretdrio Paulo’ Freire. Talvez, Paulo, refletindo contigo nesse Angulo que tu colocas, tal vez fosse menos problendtico uma nomeagao de pessoa assim, reconhecidamente’ competente e necesséria, como uma nomeagao feita pelo partido; vale dizer Seguinte, as varias insténcias do partido serian consultadas, 0 curriculo da profissional seria submetido 3 apreciagao, e quando aprovada em vérias instin cias do partido (através da diretiva) faria a nomeagdo. Seria uma nomeagao - ndo da administracao, mas sim da diregao do partido que foi eleito para admi- nistrar. Talvez, Paulo, fosse um caminho menos problemitico e bastante profig sional de nao criar dificuldades éticas a um Secretério. Outro dia, comento com vocés, almocei com uma professora, Secretéria de Educagao, e ela me dizia que tinha dificuldades com as seis (6) escolas do municipio dela...eu sorria c4 comigo...pensando nas seiscentas e tantas esco- las de S.Paulo. Quero dizer o seguinte, pré nossa reflexdo encaminhar-se. estudos gelc n? O4- jun/89- p. 23 por um lado hé um déficit quantitative muito grande, por outro lado hé um aé- ficit qualitativo também grande. Esses dois déficits se apresentam na Escola, seja em que municipio for. ” =m seguida, avangando na reflexdo desses dois déficits, 6 importante Lembrar que estamos’ enfrentando-nos con um problema POLITICO que tem seus as- pectos técnicos a serem estudados. Por isso mesmo,,a”pessoa que assumir & Se cretaria, ela nunca assume cargos ela-sé, sozinha/ quem assume junto com pessoa é un quadro partidério. Isso é uma decisio politica que é tonada grupo. Por ai As vezes, 6 que entendemos que uma pessoa a quem conhecemos - como séria, a quem reconhecemos como decente...essa pessoa assume um cargo @ aceita posicionamentos menos decentes do que ela prépria. Lembremo-nos do ca~ so do ministro Portela, aquele que descobriu que “estava ministro". Foi um ca 80 em que uma ‘situagdo e um quadro de elementos politico-partidérios assumiu uma gestSo e nomeou algumas pessoas; quando sérias (mesmo que nao revolucioné- rias) corriam esse risco de se desconhecerem no desdobramento de seus atos. Ou seja, o fulano que aceitar um cargo deve se lembrar que (para permanecer sério e decente) ele deve estar em conjunto com quadros também sérios e tam bam decentes. Em nosso caso, o PI na administraco, pretendendo de maneira séria' revolucionan as condigées de ensino junto com os quadros que acrediteme tra balham para essa transformacio, esse partido deve tentar refletir e elaborar condigdes técnicas para que politicamente essa transformagao se viabilize. & © que eu dizia, antes, acerca de ser coupetente e suficiente para alargar os fespacos de concretizacéo DESSA proposta, DESSA administragao. Deverd“haver en genhosidade para melhor se aparelhar e, na polftica, administrar o problema ' dos dois déficits que mencionei. Me lembro do exemplo do Leonel Brizola que, sem pretenséo de ser revoluciondrio, desejava enfrentar os dois déficits da educagio, cercousse de técnicos suficientemente competentes e viabilizou sity agdes que enfrentaram aos déficits; mas é importante lenbrar, essas engenhosi dades técnicas séo precedidas da decisio polftica de orientar assim ou assa eo. Entdo...se voc’ se decide, digamos, a enfrentar 0 desafio de superar © déficit da (pouca) quantidade de espago escolar para as criangas populares, voc estaré necessariamente se pondo (2 médio prazo) a questo qualitativai pais'e nics de criangas que tenham mais acesso a escola serao mais exigentesi Griangas com mais acesso e maig frequéncia 80 proceso educative so criangas mais exigentes, todo mundo requer una escole qualitativamente melhor. Paulo, nessa questo que tu ests colocando...concordo que sej2 una questo nacional nesse pais. O municipio de Campinas, que 34 foi considerado um dos melhores do Brasil em ternos de urbanidede, nos-permite refletir sobre a jungéo destes 2 aspectos: qualidade e quantidade de ensino e escola. 0 meni no ou menina, ele teve acesso & escola, e o perfodo de frequéncia dele (a) nessa escola nos é indicador...# permanéncia dessa crianga é que nos indica ' g quantidade/qualidade estdo de ben com a necessidade infantil. Pois... se es ‘Sa crianca entrou para a escola e tempos depois dela se retira _sentindo-se curpado de um "fracasso” ocorrido...entdo essa jungio quantidade/qualidade - nao anda bem. Esse desafio acontece em Campinas, na regiso 7, aquela mais ope réria, formada pela iitima grande migragdo aqui sofrida, pois nessa regiéo a evasao escolar alcanga a cifra de 92,5%. Esse dado, no que se refere ¢ uatri- cula de primeira a oitava série. Esse eu denominaria conc um momento dranético da experiéneia educati va de uma classe sociail Para se levar a sério una administragio popular & fundamental resolver essa "reprovago" que tem sido sistenaticamente posta em cima de classes trabalhadoras. Una certa ideologia Liberal tem concordado, ul p. 24 = estudos geic n? Oh- jun/89 timamente, em instituir a chamada aprovagao sistemética. Quer dizer, a crianga “passe de ano automaticamente, da primeira para a sequn’a série, sem qualquer atericéo de saber. Essa crianga leva pré case um certo triunfo desse primeiro “passer de ano” ¢, na passagem da segunda para terceira série, acontece a mas siva"reprovagao". Essa aferigio de saber que é camufiada num perfodo...e € reprovadora num outro perfodo...isso temos por enfrentar. Tens, pela frente, de melhor capacitar o ensino/aprendizagem nos primeiros anos da vida escolar’ (e, nisso, temos a contribuicdo de Em{lia Ferreiro) para que nessa crianga se forme uma certa disciplina educativa, se forme um certo hdbito cultural de ex periencia escolar...essa crianga 6 mais teimosamente a favor de prosseguir ~ seus estudos. Talvez vocts j4 tenham ouvido mencionar isso...tenho teimado muito na cidade de Séo Paulo com a questéo; conservagao de prédios. As_vezes me pa- rece que este é um pafs das inauguragoes...se inaugura com total énfase, mas ndo se preserva; em minha Secretaria, cerca de 60% dos prédios escolares estao carentes de um sério reparo, Isso é abuso e m4 administracao da coisa publica; hd algumas 50 escolas que necessitam reconstruir, outras tantas foram interdi~ tadas pela periculosidade...houve escolas inauguradas que esto sem dgua, sem luz, sem carteiras...havendo diretoras ou professoras nomeadas, apenas. — Fui convidade, 15 dias atrés, por uma Associacéo de Moradores...o8 familiares de 800 criangas, irritados, dada a completa falta de condigées, queriam depredar um prédio, queriam arrencar uma ostensiva placa que anunciava "inaugurado em tanto de tanto". E eu comentava com eles o seguinte: devemos preservar esse ti po de placa, essa documentagdo de um tipo de governo que inaugura fantasmas =. «quando povoarmos de fato aos prédios colocaremos uma “anti-placa" anuncian- G6" verdadeira inauguragio, a verdadeira ocupagao dos prédios pelos usudrios No tenho, portanto, prometido ineuguragbes...tenho tentado preservar e mater a esses fantasuas que tem sido apenas inaugurados. Lhe digo, Paulo, de minha experiéncia, em alguns locais da Amazénia nos quais se anuncia (pelos papéis) e existéncia de escolas inauguradas; pois, nesses locais, se tu vai ver de perto, existe uma sala, pouco mobiliada, e a essa sala que se denomina como escola. F para ela se canalizam vérias v bas, a ela se referem os politicos em discursos estatisticos. Outro desafio, ainda dentro daquilo que antes denominei criar eng nhosidades técnicas que facilitem posturas politicas, é 0 desafic de superar- mos burocratismos descabidos. Por exemplo, se chega a minha mesa, para o Secr, tério assinar, um despacho que 34 soma mais de 20 assinaturas e carinbos, refe rentes a duas faltas abonadas de uma professora no més de setembro/88... isso. 6 precise superar. Tenho insistido em grupos de-agao, onde por exemplo, vido tras ou cinco pessoas pera discutirmos e aprimorarmos uma idéia, ou mas semanas para esse grupo estudar e me trazer essa idéia conduzida e mais concretizada. Desse grupo de ago decorreré, possivelmente, bona programas, bo as medidas. Administrar é, também, desenvolver a capacidade de contornar ¢ supe rar certos problemas postos no cotidiano pela “tradigéo de burocracias secula- res" neste pafs, Trata-se quase de uma adivinhacao, na qual se conta com pet soas e energias presentes a cada momento para elaborar uma superagao. Por exem plo...numa expressao nordestina...vocé néo pode "se emprenhar pelos ouvidos" ou Seja, elaborar jufzos e tomar atitudes a partir (somente) de boatos, cochi- chos, etc. Assuno isto que tu dizes, Paulo, numa esfera outra. Bstou aqui pene sando num partido em que, por fertilidade talvez, hé in‘meras tendéncias e ing meras linhas de ago... importante nao nos "enprenharmos pelo ouvido"... E, retomando, aqui reflito a nossa relaglo com os menbros do parti~ do. Pedimos, recentemente, uma relagao de reunides sistemiticas com toda a estudos geic n? O4- Jun/89- p. 25 bancada do PT em nossa Camara de Vereadores. J4 tivencs uma destas, quero ver Se alargo isso, para que nossas instancias de poder na Cimara Estadual, Fede ral saibam quem somos, o que fazemos aqui. 5 isso tendo em vista o seguinte: o sujeito que ocupa a cadeira de Secretdrio, bem como seus assessores mais 1iga- dos, so pessoas de partido. Penso na relagio entre administrago e partido da seguinte forma ...8 importante que essa adninistragio possa enchergar ao partido, é importante que, na poeira que essa administragao levanta, ela possa ver ao partido através da poeira levantada. Ou seja, se ela deixa de enchergar ao partido por causa da poeira levantada, essa administragao esta, ao meu ver, demasiadamente longe de seu partido. Ou seja, ela estd andando muito depressa em sua gestéc, e vai se adiantando demasiadamente a ponto de ocultar (com a poeira) as suas origens partidérias. Por outro lado, essa administragao nao deve, a meu ver, colar-se! denasiadamente ao partido, a ponto de té-1o sempre colado a si. Isso significa ria que essa administragao estaria demasiado lenta e seria apenas ompurrada pe lo partido. Entao, esse seria o caso de cle, partido, estar governando em lu- gar da administragao. Com esse caso eu nao Concordaria, sem princ{pio. Parando por aqui...penso que poder{amos, na préxima semana, refletir ' sobre nossa tentativa de mudancas “na cara da escola” P. 26 - estudos geic n? 04 - jun/89 um dos temas que haviamos refletido, em nosso encontro anterior, di gia respeito ao seguinte fato...uma pessoa que assuma um cargo dg diretor, ou cargo de confianga em Educacio...pois ben, dizfamos que é necessario que essa pessoa tenha refletido bastante sua posicao politica, seu engajamento partidd tio. Essa pessoa, diziamos também, vai tomando contato com as condigdes mate- riais de seu setor e se depara com aquele duplo desafio..,a melhora qualitati va ea melhora quantitativa na Educagdo (principalmente, nos referfamos, na E ducagSo alfabetizadora). Essa pessoa, pens4vamos aqui, quando se perguntar 3 cerca das ‘respostas" oferecidas pela escola que temos...e, vejam voces, off recidas a certas ‘expectativas propestas pelo bairro, pelas famflias... essa pessoa se depara com alguns problemas; sdo problemas de nivel local, alguns problemas de nivel mais anplo ¢...para o enfretamento diante desses problemas haverd 'respostas' oferecidas pela pessoa em questo, POIS BEM, essas respos tas aos desafios aqui mencionados seréo respostas compronetidas politicamente, Vale dizer o seguinte...o problem é politico (além de pedagégico...) eas ' respostas serao politicas (além de pedagégicas...). endo esclarecido qual é 0 colorido polftico com o qual se vai en- frentar aos problemas da qualidade e da quantidade...vamos, entao, descobrin do os obstéculos. Por exemplo: na cidade de S.Paulo, alguns dados estatisti - cos mencionam (e eu penso que os niimeros sdo ainda maiores) duzentas mil cri fangas sem escola, evadidas, algunas delas simplesmente com outro projeto de vida que no a escolaridade. Claro...nés jé sabemos...esses 200 mil séo ele- mentos oriundos das camadas populares; 0 desafio que se poe é, portanto, uma escola que atenda as expectativas populares de escolaridade. Temos, pela fren te, © problema de encontrar espacos, encontrar locais em que se possa cons. truir, E Al JA APARECEU o problema seguinte...que é a questao de manuten - desses prédios construidos. Tenho comigo a impressdo que esse 60 pais das inauguragdes; se inaugura muito...fazendo espalhafatosa propaganda da inaugu- ragdo...e em seguida se abandona, néo se previne nem se planeja a manutengao! @a coisa piblica. 0 gasto com a manutencéo é um gasto que nao traz prestigio politico nem traz votos. Isso tem me chanado mito a atengao. Aproximadamente 60% de edificios escolares em S.Paulo esto pedindo urgente manutencao. Pois bem, deixo aqui esse meu depoimento que tem a ver com o momento ‘em que estamos politicamente dando ‘respostas'...vocé, diretor, vocé adminis- trador deve preocupar-se com inaugurar e, também, preocupar-se com 0 planeja- mento de manlitengao. Pois mito se estraga neste pais com este gasto que consumide através do abandono Paralelamente a esse problema do descaso com a coisa piblica hé ow tra questo, também mito onerosa para o cofre municipal, estadual, etc.i quando voce vai construir un prédio, faz a licitagdo na forma legal, surge lima firma grande ¢ ganha o contrat nessa licitagdo...ocorre af que essas fiz mas grandes (de posse do contrato) repassam a contrugso para uma firma peque- nam de poucas posses; claro que esté ccotrende o seguinte...a firma pequena é Sub-contratada por miseraveis pregos, que no so iguais a0 prego pelo qual a grande firm recebeu na licitagao. Vejan voces: @ pequena firma, mal remunera @a, constréi porcarias, tenta comprar as pessoas que sio responséveis pela fiscalizagdo qualitetiva das construgdes. Evidentenente que néo so todos, - claro que hd excegdes entre as construgies feites...mas estou mencionando’ aqui esse espirito muito comum de tratar "mal" a coisa piblica; administra-se Ge modo privado, ou seja, lucrando pessoalmente, as coisas que so pagas pe- 10 orgamento piblico. Outro exenplo, eu desconheco qualquer industrial, qual- quer indistria particular no pas que tenha dois, trés ou dez funcionérios @ Giosos en seu setor de trabalino; nenhum gerente particular admite pessoas estudos geic n? O4- jun/89- p. 27 para ter ompregados mal ocupados. Pois bem...quando esses mesmos gerentes es Bo nuna eatatal, quando esto num gabinete do funcionalismo pibiico comur vermos gerentes contratando vérias pessoas mal ocupadas, © até ociosas. A par tir daf temos o seguinte: surge aquele discurso segundo o qual a coisa pabli ca ndo vale nada; a administracdo publica nada vale, tendo em vista essas col sas que ocorrem. 0 discurso néo-liberal que est4 vivo por af apregoa que deve nos, entéo, privatizar tudo, tendo en vista que 6 0 privado que conduz bem a economia. ORA,bastaria que politicama te houvesse mais dectncia, melhor ori- entagdo ética para a diregdo administrativa piblica. Isso ndo se diz. Algunas elites nesse pafs conseguem, com habilidade, administrar "domesticamente" ao patriménio piblico e, paralclamnte, conseguem desmoralizar as iniciativas ' que séo necessariamente tarefas do estado. Claro que essa orientagao pode ser politicamente midada: 6 importante mudarmos maneiras de governar. Em seguida' teremos melhor direcao, melhor rendimento na coisa piblica. E E CIARO QUE NKO SKO OS TRABALHADORES que esto desencaminhando e maltratando a politica ' administrativa piblica. Estamos refletindo alguns passos, entre nés, na Secretaria da Educa- so, do enfrentamento que é polftico-pedagégico diante desses fendmenos....con vocamos As famflias, convocamos acs organismos representativos da localidade’ @, em reuniGo, em uma espécie de “comfcio", os administradores da coisa pabli ca demonstram (com dados) as atitudes e as medidas que sao nocivas ao dinhei- ro piblico. Trata-se af de educar & populaglo para que esta seja "fiscal" das atitudes e medidas da Administracdo; chamar a atengao para que ele préprio, - administrador, seja acompanhado < vigiado. Estarenos contribuindo para que inexista neste pais este espfrito de inauguragdo de obras como se fosse favor ou:bondade de politicos/candidatos: estaremos entendendo a administrag3o como dever de politicos e candidatos. Nao se inaugura coisa alguna como campanha:~ isso é dever do administrador. H4 um outro obstéculo a ser enfrentado. Trata-se daquela burocracia que é exageradamente concentradora de ta refas e de poder. Nao se trata, portanto, daquela burocracia que é um_m{nimo de facilitagao dos trabalhos. 0 ritmo burocrdtico de uma Secretaria nio deve ser (como tem sido...) um obstdculo ao andamento dos trabalhos. Neste momento af, Paulo, de tuas colocagdes, temos um exemplo recen te, na cidade de Campinas. Tendo pela frente a. inauguracao de algunas cre ches, fizemos algumas reunides com familiares, reunimos aos érgaos representa tivos das regiSes em que estdo situadas as creches e comentamos acerca da con tratagio necessdria de algums funcionérias; fizemos anotagdes de nomes, fize mos inscrigdes organizadas pelos érgéos de bairros, fizemos um perfil das fun cionérias que seriam as mais desejadas tendo em vista a contratagio de pes- seas daqueles bairros préximos & creche...por ai tudo podes ver como tragamos junto Aquela populagao, um perfiz da profissional da creche mais desejada. De pois de um grande trabalho feito constatamos que ndo havia estrutura nem jurf dica, nem administrativa no préprio poder piblico municipal para efetivarmos’ tais providéncias; ou seja, as decistes tomadas a nivel de bairro, a nivel de regiao nao cabem dentro dos parametros jur{dico-administrativos. Anulamos aos esforgos feitos até ent&o, mandando carta a cada pessoa inscrite. abriu-se, ent&o nova inscrigéo, de cardter abrangente, as novas inscrigées abertas, nao podem ser feitas em bairro, séo necessariamente processadas no Pago Munici = pal, Secretaria de Administracéo; os critérios de selegao néo podem incluir © critério de moradia no local de trabalho (bairro). Foi uma longa conversa,~ com aquelas pe para aclarar que os interesses de um bairro (ou reg p. 28 ~ estudos geic n? 04 - Jun/89 podem ndo coincidir com os interesses de toda a cidade. Esse episécio rendew muita imprensa, jornais dramatizando 0 ocorrido Outra questdo, também acontecida, que foi desafiante ¢ merece nossa reflexdo: como é que ta podes transformar um levantamento de perfil, feito en tre as pessoas da regiao, de modo a obter uma prova, ou um teste com aiguma ob jetavicade? Como fazer com que concurso tenha a objetividade relacionada 3- quele trabaiho (de bairro)?. Foi um desatio & intelagéncia competente de téona cos. Essa prova ro: feita, num primeiro momento era eliminatéria, constava = questées sobre a prdética de servico de uma funcionéria/auxiliar em creche; qua se nennuma pessoa for eliminada nessa primeira tase. Surgiram respostas in- teressantes de refletirmos aqui: por exemplo, numa questao de assinalar certo ou errado, hava perguntado se devia a auxiliar obedecer em tudo, no caso, sig nificava Obediéncia a quaisquer ordens. Quase 100% das respostas assinaleram ' "sim", disse certo. OUTRA QUESTXO: perguntava se todas as questées ocorridas na creche devem passar pela Prefeitura (no caso, o prédio central); quase cem por cento assinalou "certo". Veja bem, pudemos refletir que tais respostas bus cam interpretar aquilo que elas (examinadas) imaginam ser o certo para a insti tuigdo. O DESAFIO QUE AQUI COLOCO é aquele, por nés enfrentado, de conseguir transportar para © papel (para uma certa objetividade juridica) algums no- gées e alguns principios trabalhados no interior do bairro. Como transportar ' tais princfpios pare critérios da instituigio? E esse desafio prossegue. Tenos por elaborar alguns critérigs de ava liar pessoas, considerando que tais pessoas j4 puderam (subjetivamente) enten der © participar nessa objetividade avaliadora; critérios surgem...como socia bilidade, participacio, cooperagio, etc. E mesmo com todo esse cuidado para al cangarmos uma objetividade normativa que seja, portanto, geral para a cidade, hd Fiscos. Sabemos que correnos riscos. E julgamos que 0 risco maior seria ten tar evitar ao risco. Dou um exemplo, contribuindo nessa tua reflexdo. L4 em S.Paulo, quan do houve concursos desse tipo, era fornecida uma certa bibliografia, alguns au ‘ores, © pedia-se que o examinando soubesse discorrer a partir desses autores mencicnados. De passagem, digo que o M. Gadotti e o Paulo Freire eram autores proibidos de constar em listas. Mas, vejam vocés, penso que uma selecio melhor empreendida poderia mencionar alguns temas, cabendo aos examinandos desenvol- ver esse ou aquele tema. Claro que autores surgiriam nesse desenvolvimento de temas, mas o fundamental seria a criagdo efetuada pelo examinando. Pois bem, continuando, quando voc’ se pée a enfrentar a quaisquer da quelas duas formas de desafio (0 desafio quantitative e o desafio qualitativo) voc’ estaré, necessariamente, pensando e trabalhando a partir de una certa op gio polftica, Vale dizer, vocé vai buscando melhor escola e mais prédios esco lares de acordo com alguns interdases, e edo os interesses das maiorias que buscam a escola piiblica. Um inimigo forte, vimos aqui, é a burocracia, ele tr: va. Nessa altura, vemos também, ndo apenas a burocracia é inimiga, mas també hé obstéculos de natureza politica, ideolégica. Eases obtdculos surgem interna e externamente em uma Secretaria. E tais obstdcuios, sendo enfrentados, eles faze parte da resposta que é oferecida; ou seja, a melhoria da qualidade, a ampliacdo quantitative, elas contém en si maneiras de enfrentamento aqueles * obstéculos. E é ai que essa Administragao, assim posicionaua pelos interesses da maioria, é uma Administragao que vai provocando "“mi-querenga” por parte da im- prensa. Principalmente naquela imprensa que defende interesses dominante: ai vocé diz uma coisa "A",..a imprensa repde o teu "A" de maneira a anunciar ' estudos geic n? O4- jun/89- p. 29 que teu "A" foi, na verdade, um "B" que (ela imprensa) couo dona do desvendamen te da realidade' interpreta ¢ anuncia, Quero dizer: néo cabe, para a imprensa es cudada om interesses burgueses, néo cabe e ndo vale dizer © proceder transparen temente; isso nao vale, na medida em que (imprensa) é que se supdes tnica porta dora de interpretacéo. Claro, né? se vocé se posiciona buscando orientar-se por interesses das classes populares...entao voc? ndo prioriza interesses de menino (2) rico ou quase rico. E af vem 3 imprensa que diz de vocé como alguém que prejudica alguns...fstou me lembrando aqui, quando surgiu aquele tema da lingua gem; 2 Folha de S.Paulo pée manchete assim "Freire vai brigar com professora. que corrigir aos nés cheguemo". ORA...tenho dito, até escrito, que o fenémeno - vital implica, necessariamente, em corregio; inexiste vida sem contar com aque 12 correcio de processo. Até mesmo a nocao e 0 exercicio da liberdade, eles se Gio na medida em que hé limites; s&o os atos de superar e repor acs limites que constituen ao "livre" no ser humano. CLARO...sabendo disso tudo, claro que eu ndo diria nunca aquilo que a Folha diz que eu disse. E ela, Folha, coloca essa manchete de modo a aparecer que interpretou Aquilo que eu, subjacentemente, a- fixmei em meu dizer. A ISSO QUE ESTA ACONTECENDO eu denomino como sendo uma fa- eta da luta de classes. Ela, imprensa, reage de modo defensivo, alegando una maioria" desatendida por minha opeao polftica popular...e é ela, também, quem nega, sempre negou, a tal de luta de classes. Afirmando-se defensora de um vago caréter universal da educagdo"...ela Folha ndo pode reconhecer como em uta contra 05 interesses das populagées periféricas. Vejam bem, meus amigos, eu nfo estou reinvidicando aqui que a, imprensa devesse rasgar-se em elogios & administragao atual; o que eu exijo é que ela,- imprensa, diga na integra e sem distorcer aquilo que nés dissermos ou fizermos Por exemplo, tenho vivido a experiéncia de dar depoimentos a jornais norte-ame- ricanos, sabendo de antemio que esses jornais discordam de mim; pois bem,recorp © Jornal e vejo que eles publicam sem Gistorcer minhas palavras, publicam a in- tegralidade de palavras © atos. Claro que ele, jornal, poderé fazer um editor ale, ao lado da noticia, discordar ou criticar aquilo que eu disse. Mas isso respeita a uma ética que, mesmo na luta de classes prevalece. E essa ética pode ser demandada por nés todos. Ou seja, é possivel para as esquerdas, na medida em que estas amadurecam sua experiéncia ética...é possivel fazer crescer & di - reita, Tenho uma impressio...reflitam isso comigo...parece-me que nés, esquerdg &s vezes minimizamos demasiado a compreenséo popular da ética. Se nés tomdsse - mos posigoes, se nés publicamente faldssemos dessas posicées, claro que sem van gloriar... penso que poderiamos crescer todos, penso que ajudariamos as massas, populares a melhor fiscalizar o que se faz neste pais. As vezes, 6 tentador a quele gozo (eu diria um gozo safado) de desimportar-se coma postura ética. Por exemplo: conversando com mitas e miuitas pessoas, em nossos “com{cios politico- Pedagégico", nessa conversa encontra um jeito e, rapidamente, deixo claro que minha filha, embora altamente competente...e por isso presente na Secretaria... nao @ pessoa contratada, nem tem saldrio. Porque contratar parente tem sido una ética que eu desaprovo. Penso que atitudes como essa, sem vangloriamentos, sao atitudes educativas do ponto vista ético. Digo para vocts uma coisa: isso se respeita. Planta-se posturas éticas. Denomino a isso postura pedagégica. Sei que as condigées materiais séo as criadoras de uma ética vigente...das que a ética vigente esté nun acordo com © que se passa no contexto. Mas, também sei que a ética vai mudando (a seu modo com sua peculiaridade influenciadora) as condigdes que a criaram. Vale dizer, a ética néo puro reflexo de condigdes materiais...ela retroalimenta a essas con Gigées, dentro da especificidades que sdo dela, ética.Dentro da luta de classes que est4 af, se dando;uma administreg&io popular tem (como uma de suas facetas.) p. 30 - estudos geic n? 04- jun/89 © papel de evidenciar a uma outra ética, possive!, embora eticamente desaprova da pelas condigdes materiais da sociedade capitalista em que vivemos. Essa exi Géncia, penso eu, é posta a um governo PT Ainda nesse assunto, meus amigos, reflitam comigo e interfiram con forme a experiéncia de voces. Penso que ua das razdes pelas quais 0 PP esto- rou nas ditimas eleigdes...acho isso bacana.. foi a razio ética. Penso aqui, por exemplo, na comentada "ingenuidade" do Eduardo Suplicy, penso aqui (por Xemplo...) nas posturas do PT diante de intimeros momentos do colégio eleitoral (em Brasilia) e »esse PT convicto de certas posturas "chatas", e as pessoas de bom senso dizendo: Por que nao?, PT...e esse PT, como se fosse um meninéo, - caigas curtas, teimosamente convicto de nao ir: néo vou porque é safado! mas todo mundo té indo, PT, porque nao experientar ir? E ele, meninao teinosamente_ convicto: vou no, é safado, t8 Besconfiado. Pois vejo por af uma afirmacao é tica: convicco forte. E nesses 10 anos algumas atitudes pareceram demasiado * "ing@nuas"...mas 0 povaio esteve lendo e decifrando tudo isso. Parece que o po vo quer isso. Claro, yejan bem meus amigos, no estou afirmando que basta isso. - basta essa afirmago ética para transformar uma estrutura capitalista... estou @izendo que esse é um ingrediente importante na transformacao. Paulo...penso que devemos todos crescer nesse assunto de enfrentar' ¢ dimensionar & luta de classes em seu aspecto imagindrio...ou simbéiico, Pa- rece-me que "$ mais fécil" enfrentarmos ao Roberto Marinho ou enfrentarms 20 ‘Estadio! , aqueles érgdos declaradamente da direita...mas fica o desafio de en frentarmos & Folha...aquela que néo é 0 que parece...nem é 0 que que é... nem parece ser o que realmente é...como desconfundir? como tratar com esse _pes- s0al? Sei que a questao é compiexa...na cidade metropolitana voc®, Secretério, governa € necessita comunicagao; como é que vocé vai encontrando Caminhos... - ume situagdo em que a administragdo municipal nem tem rédio, nem tem Jornal, nem monopoliza sistemas de formagao de opiniao publica? Vale dizer, Paulo penso que é por ai que ocorreu aquela afirmacdo de Luiza Erundina...PT foi ¢ leito, venceu segundo regras de jogo néo populares, venceu segundo critérios burgueses (o voto...) ¢ esté trabalhando, tem o que dizer e tem o que fazer, - trabalnando dentro desses pardmetros ndo muito revolucionérios. No 6 por acaso...continuo tua reflexio... n&io & por acaso que ela, prefeita, anunciou em seu discurso de 100 dias que vai partir rum & criacao de um banco municipal. Evitaré por ai uma enorme espoliacao...aquela que os - bancos particulares fazem, ganhando com explorar em cima do saldrio (ou do Pun do de Garantia) do operério municipal. Isso faz parte do necessério caminho de maior autonomia do poder municipal. E temos descoberto, meus amigos, temos afirmado a necessidade cria- tiva de trabalhar com "poros abertos", trabalhar sem freios na inaginagSo cria tiva,..dou um exemplo, recente, em que concordamos Marilena e eu...referindo = nos aquele canal comunidador que sac os “pixadores" de muros. £ um canal. Me lembro, no Chile de Allende, me lembro do potencial enorme desse canal de comu nicagio. Me lembro, na Chicago des negros, me lembro do enorme potencial comu: nicador desses murais. Outro exemplo, eu o vi durante contatos com movimentos de moradores Ge periferia, esses veiculos de comunicagdo via sistema de auto falantes, que permite o contato com aproximadamente 5 mil pessoas. E me pergunto se pode mos inerementé-10s, aparceiramo-nos com tais experiéncias de fértil comunicabi lidade; minha pergunta tem a seguinte preocupegao: ao aparceirarmo-nos, pol {ti cae economicamente, com esses movimentos suciais, estamos ou no estamos in- if estudos geic n? O4- jun/89- p. 31 \ terferindo demasiado, estanos.ou ndo estamos cooptando demasiado a essa ferti, lidade criadore? Se absorvernos demasiado...estaremos ou ndo estaremos desar= ticulando essas experiéncias pequenas e férteis? Estou perguntando, vejam bem acerca de esses aparceiramentos com organismos oriundos das periferias. A experiéncia tem mostrado o seguinte se um organismo (ou movimento) de peri feria se une, se faz parceiro de uma determinada gestéo...entao ele passa a ser quase un cabo eleitoral...e fica criativamente comprometido com os acer tos e 0s erros dessa gestdo. E esse movimento: ganha gratuitamente inimizades por esse fato. © esse organisuo se limita a certas "tradigées" da vida politi ca-eleitoral brasileira... Mas...mesmo colocando essas questdes...penso no’ enorme potencial cri ativo-cominicader de organismos assim constituldos. Com poucos recursos ¢ muita criatividade eles tém tido vitalidade comunicadora. E tém ume penetrabi lidade nas dreas populares que é peculiarmente popular...eles poderiam infor mar, comunicar acerca do que estd havendo nesta gestéo. Além disso, nessa reflexdo, ainda, de enfrentamento no campo simbé1i co, hé a possibilidade de dar entrevistas teimosamente pré-acertadas.. quando voce aposta (uma vez mais...) na sensatez profissional de algum comunicador.- Em meu caso, porque isso me é possivel, tenho recebido inimeros comunicadores, intimeros jornais ou TV do chamado primeiro mundo. Tenho dito, mostrado dados acerca do que estamos fazendo © pensando..Inimeras vezes essa refle: com profissionais da comunicagao tem sido mais uma tentativa...me lembro, agora, de uma entrevista com um jornal chamado "tira" jornal de policiais de. (Sao Paulo), ¢ considero importante conversar com o "tira". Me lembro também de uma conversa que saiu ben documentada na revista ELLE, e fizerem uma boa re portagem, tanto que me animei a redigir e mandar pelo correio uma opiniao mi nha sobre @ reportagem deles. Resumindo, para gente ter em mios essa reflexio de aqui, resumindo a queles dois déficits que mencionei (a pouca quantidade e a qualidade que pre cisa ser melhorada...) diria, finalmente, que nao sao déficits "em si", mas eu diria que so déficits "referentes a". Hé um déficit de quantidade na esco la pablica que é déficit em relagao a quen...e hé outro déficit, o da qualida de da escola publica, que é um deficit em relagdo a que...e a quem. Cabe equipe administrativa das secretaries ensaiar respostas politico-pedagégicos’ a eles. Vejo...Paulo.,.prosseguindo nessa tua refiexio, vejo que inexiste rigor um interesse e um vigor pré mudanges de situacao; em nossa experiencia de Secretaria de Educacao vejo que existe sim um certo anseio de —progressis, mo, existente sim uma vontade de atualizar-modernizar pedagogias (de preferé cia seguir aquela mais em moda: por exemplo, esteve em mode K.Kami, esté em moda E.Ferreiro, etc). Mas essa ansia de progressismo nao acontece acompanha da da necesséria posture politizada...ocorrendo, muites vezes, que a falta de ma decisao politizada pela mudanga faz acontecer mudancas de modo mais auto- ritério do que propriamente decidido. Até mesmo gente de esquerda...jé quem trabalhe bem intencionado...mas com meia diizia de inteligéncias, sem muite £¢ nos quadros.. .no 'povao" Mais um ingrediate, Paulo, ¢ que decorre desse momento de reflexio' sobre 0 trabalho com “povao". Vejo que estamos, gente de esquerde, progredindo no sentido de aprender com o "povéo"muito mais sobre ela, “povéo”. Quero di zero seguinte: se a direita é competente para criar e divulgar a personagen polftica Sassé Mutema (por exemplo...)entéo cumpre-nos recriar a partir dessa personagem. Estaremos maximizando, estarenos redimensionando o entendi p. 32 = estudos geic n? 04 - jun/89 mento possivel acerca da politicidade de Sassé; 0 risco que a direita corre ao tentar por no ar uma certa versdo (a dela...) sobre o egir-politico é tanto! maior risco quanto melhor soubermos A PARTIR DE RECRIAGAO e COMPETENCIA acompa nharmos os entedimentos que ele (povao) elabora. Estamos crescendo, penso eu, nesse trabalho de "desideologizar". E como fazer é algo de inventar, criativa- mente “reideologizando". Algo ocorre af, Paulo, que nés pouco sabems...e me refiro & re-elaboracdo que o "povao" sempre vive e discute em seu dia a dia. Pois bem, essa re-elaboragdo, eu a vejo parceira necessdria daquilo que tu di, ziag acerca da politicidade com que a Adninistragéo enfrenta obtéculos. A nove la, no exemplo que mencionei, a novela é tomada ¢ retomada pela re-elabora popular de vérias maneiras; dizer que tudo isso é apenas inculcagao ideoldgica de direita & entender apenas parte do que ocorre. Me ocorre, teorizando um tanto mais em cima do que vocé diz, me ocoz re dizer que estamos melhor mostrando & cotidianeidade. Vale dizer, criadora = mente temos pela frente o desafio de ler melhor ao cotidiano que a imprensa, a TV, trazem "Jé 1ido" ao ser humano popular. Propomos a ela, cotidieneidade, - como problema para o entendimento de seres humanos, cidadaos, por nés envolvi- dos em atos de pedagogia politizadora. O sujeito toma, assim, o seu dia a dia como pré-ccupagio. Na anlise pré-ocupada de suas ocupacées didrias esse sve. to vai descobrindo a razdo de ser desvantajosa das ocupacses. £ caminho para melhor ainda descobrir a razio de ser que ele, Sujeito, sofre como espoliado ' cultural pela imprensa e pele TV burguesas. Coleco um dado ai, Paulo, que todos nés sabemos de atuar com ele: a grande imprensa de direita, as revistas tipo ‘veja", elas se dirigem nio é ao povdo; elas se dirigem @ classe média, em geral, ¢ elas contam com essa classe como intermediéria (as vezes aliada...) para alcangar o povéo, propriamente di to. 0 combate ideoldgico passa por esse momento, aquele em que se formam agen- tes intermediérios de formaglo de opiniao piblica... Nesse sentido, pego aqui ao Wanderley - linguista - pré ele, em nog sa préxima sessio reflexiva, inicie comentando o que est4 sendo feito, 0 que ele anda tematizando. Imaginem vocés...quero contar aqui um episédio...tenho me —_reunido com varios garotos, reunidos de diversas escolas, reunidos em um Centro de Cul tura, da Secretaria de Cultura...reuni-me com essas criangas, sem a presenca ' de suas professoras . Cerca de 50 criangas, um dia inteiro, batendo papo comi- go e com outros profissionais. Duas assessoras prepararam esse encontro, ¢... uma das atividades foi expressar 0 QUE ELAS TEM COMO POSIGKO ACERCA DE ‘SUA (DELES) ESCOLA. Eles desenharam, expressando, durante um certo tempo, sua con cepgo da escola. Notei que sairam desenhos ou montagens fortes: houve quem fi, zesse escola como una fortaleza, houve quem concebesse escola como prolongamen to de casa...Em outro perfodo, houve representacdes deles mesmos (criancas) re presentando a relaglo professor/aiuno: Notei como a figura do professor é au- toritariamente representada. Aquele (a) que pune, aquele que manda maivadamen te...Ao final, as criancas me entrevistaram, eu sentado numa espécie de palco, notei que aquelas criangas muito soltamente se dirigiram a mim..."Oh, Paulo... e vinham perguntas. Uma coisa que eu reflito, meus amigos, ndo sei se é ques- tdo de expressiio, nio sei se é questdo de meu tipo ou meu patte...mas as crian gas muito soltamente vinham..."Olha, Paulo", e sem se atropelar en titulos, * Sem se acanhar com degraus hierdérquices. Gosté disso, tenho observado isso no mundo todo... Pois bem, eles vinham e diziam: = Paulo...um aluno faz algo errado...na escola. Af, Paulo, ven a professora e coloca no chao duas pedrinhas e, em cima das pedrinhas coloca a estudos geic n? O4- jun/8S- p, 33 erianga de joelho. Vocé acha isso certo? = eu vou e@ digo: nao, eu nao acho isso certo - eles prosseguem: e vocé vai deixar que isso continue assim, desse modo? eu digo: olha, eu n&o concordo com essa medida. Sou contra. E vo c@, crianga, pode observar que faz muitos anos que, no Brasil, essa atitude foi inventada, pré domesticar pessoas. Bu vou acaber com isso...mas essa coisa’ nao se acaba assim: da noite para o dia. mas, Paulo, vocé vai punir ou no vai punir essa profe: : ore que im? E eles acabem perguntando logo 0 que é que eu pretendo fazer para pu nir essa professora. Querem é me botar logo na parede pré arrancar do Secreté- rio uma posigdo...queriam saber se eu ie botar professoras de joelno tambén. Rigo que nao, n&o posso. Digo que tenho aqui alguns profissionais, os juristas, eles me dizem que é que pode ser feito pra ajudar ao Secretério nesses casos. £ surge af uma repreensao, uma adverténcia. Escreve-se. faz E as criang: Mas, olha Paulo, tem outro castigo também. Tem professora que bota aluno pré ficar "cheirando parede", em pé. Ouvi isso, ao vivo, numa das muitas visitas que andei fazendo, Visitas assim, de improviso. Quando eu entro, a pro fessora vai dizendo prés criangas voltam a atacar. E eu, meus amigos, nem imaginava que ainda houvesse disso. Perguntei, algumas vezes, dentre outros assuntos: e a professora a qui, de vocés, ela é brava? Eles: "naao!" Eu pergunto, sem seguida: ms tem hore de ele dar af uma bronca? Eles: Sim,..ela d4 bronca, e bota nés para = “Cheirar parede". A professora me chamou, assim de lado, dizendo: professor, era outra, viu, havia outra professors tou substituindo. Af...naquele dia de reunigo com os 50 alunos...aproveitei e coritei! essa minhe visita, contei esse episédio e perguntei se havia. ou nao um certo exagero. E eles, meninos e meninas, notem que a escola constréi isso com el hé uma certa positividade. escola permite uma certa desenvoltura, ele: lam, usam da linguagem, com excelente postura. Vale dizer, escola constréi = isso apesar de uma severidade. Vejam, meus amigos que situaggo. Eu nao devo, nem posso, me apresen- ter em qualquer dessas escolas como uma ameaca. Como um perigo, Mesmo que eu tivesse absoluta certeza de quem ameaca criangas...eu néo posso ser, eu mesmo, outro perigo...pois provocarei resistencia e medo. Mas no terei frrovocado mu dangas, caso seja eu proprio um perigo. Devo entio, provocar mudancas; davere Seduzir pessoas para que estas sintam-se tentadas a mudar. Vejam: claro que nenhuma professora esté obrigada « amar aquelas criangas...ndo pode amar aque- 1a crianga como se fosse um filho. Mas eu, pedagogo e administrador, posso con tribuir para despertar aquela amorosidade para com o processo. Quando se amar a0 processo de alfabetizacio...desapareceréo os meninos de cara cheirando pare de. Além disso, como contribuigao minha pré extrojetarmos a velha marca da edu cagio brasileira (refiro-me ao autoritarismo), para desararecermos com isso... outra contribuicéo é 0 aperfeigoamento cient{fico, Outro exemplo, Paulo, quero te comentar, acerca do autoritarismo 34 - estudos geic n? O4- Jun/89 Além do “‘cheire-parede", autoritarismo contra o que a crianga pode e acaba se aquele da castragéo, Da interdigao do corpe. # autoriteris- no contrério & expressividade. Trouxe aqui duas redagdes, dois escritos de uma mesma crianca. O primeiro deles, do 2* dia de aula, a crienga escreveu - uma histéria em 20 de fevereiro. Comenta o carro, 0 sol perdido, comenta a frequéncia 3 piscina (publica, do parque dele crianga). Comenta que se cansou de nadar e foi brincar de carrinho. © texto que foi escrito no segundo dia de aule recebeu trés avalis- goes "ft" de fraco: idéia "£", ortografia "£" e pontuagdo também "e", — ava- Liagdes também da professora. Ele coloca trés "F" nele. Essa professora veio me dizer que tal crianga, aprovada pelo ciclo bésico nao merece estar em segundo ano, terceira série. E ela me trouxe um segundo texto da mesna crianga: texto doa dia 05 de abril. 0 texto se compe apenas de frases, é um ditado, frases desarticuladas, se analisanos a orto - grafia ELA PIOROU, Obviamente a professora notou isso e concluiu que essa, crianga nao merece estar aprovada em 3# série. Ela diz que tal crianca me rece voltar, retroceder 3 2" série. Quero dizer, esse tipo de castragao va inibindo a crianga tanto pelas avaliaces que apenas dirigem a atencao para uma perfomance de tipo “certo/errado"...como também desviem a crianga do ag pecto criador de discursos ou textos escritos. F o autoritarismo pela via Gidética, agio em sala de aula, cuja fungéo é apenas verificacao: verifica- Se que 0 sujeito sabe ou ndo sabe algo J4 pronto, uma ifngua acabada. Ele inicialmente na elfabetizagdo torna-se um aprendiz, aquele que age ., apenas para introjetar. De af a importancia do controle. Pois as atividades néo estimulam a criar, nem estimulam ao convivio criador de textos/linguagem. A didética se torna controle. Bem, meus amigos...introduzindo-nos nesse tema preparamo-nos para conversar, semana préxina, com o Wanderley. estudos geic n? Ol jun/89- p. 35

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