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GINÁSTICA DE AQUECIMENTO OU
DE EMBURRECIMENTO?
Um-dois-três-quatro!
Um-dois-três-quatro!
Um-dois-três-quatro!
De que se trata?
De um grupo de recrutas de nosso glorioso
exército?
Ou de um pelotão de valorosos marines
(fuzileiros navais americanos), que estamos
cançados de ver treinando nos filmes made in
USA?
É o que nos indagamos ao ver o instrutor
solidamente plantado no chão, peito
estufado, expressão marcial, berrando numa
poderosa voz de comando. Os alunos (pois
são alunos, e não recrutas), com o cenho
contraído e rangendo os dentes, seguem
como podem a contagem.
Por incrível que pareça, não se trata da
escola militar mas de uma academia de
capoeira!
Atenção!
Apesar de ser uma brincadeira, este é um exercício pesado.
Preste atenção para não exigir demais das pessoas,
especialmente os iniciantes e pessoas mais velhas.
Atenção!
Apesar de ser uma brincadeira, este é um exercício pesado.
Preste atenção para não exigir demais das pessoas,
especialmente os iniciantes e pessoas mais velhas.
a. Em pé:
Somente agora, após vivenciar a Unidade ("os animais"), e a
Grande Dualidade ("homens e animais"); o aluno vai se
“individualizar” e interagir aos pares. Ele vai se movimentar
em pé com um companheiro.
Neste exercício, semelhante aos anteriores, eles continuarão
a responder em coro ("ai, ai, ai, ai") ao canto de capoeira
“puxado” pelo professor.
Os alunos se dividem aos pares, e vão imaginar que estão
dentro de um "círculo imaginário" de uns 2 a 3 metros de
diametro, e não podem sair de dentro do círculo.
Os dois alunos devem se movimentar em pé, dentro deste
círculo, "respondendo" ao movimento do outro.
Se um ocupa um determinado espaço e começa a andar, o
outro procura o espaço vazio; um deles pode tomar a
iniciativa, depois é o outro, mas não há regras. Se um deles
insiste em "mandar" na movimentação, tomando sempre a
iniciativa de ir para lá ou para cá, isto é melhor para o outro
que está treinando a "resposta" (que é o mais difícil; que é o
essencial deste exercício).
b. No chão
É a mesma dinâmica, só que ao invés de se moverem em pé,
os dois iniciantes vão se mover no chão utilisando aquelas
maneiras de se movimentar, inclusive "passando pelos túneis",
que eles experimentaram em "os animais".
A única diferença é que nos animais o iniciante interagia
com toda a turma, e podia se movimentar por toda sala; e aqui
ele vai interagir somente com seu par, dentro do "círculo
imaginário" de uns 2 a 3 metros de diâmetro.
Atenção!
Apesar de ser uma brincadeira, este "No chão" é um exercício
pesado. Preste atenção para não exigir demais das pessoas,
especialmente os iniciantes e pessoas mais velhas.
CONCLUSÃO
Será que vale a pena (ou não) explicar para os alunos que a
"aula inaugural" segue, de algum modo, o próprio
desenvolvimento dos "métodos de ensino de capoeira" através
das gerações:
- inicialmente, na "primeira parte da aula" temos o
aprendizado "livre", onde os alunos aprendem uns com os
outros (exercícios "animais", e "homens e animais"); algo
semelhante ao aprendizado "livre" que existia antes da década
de 1930, e antes da criação das "academias de capoeira"; onde
a função do mestre era apenas a de organizar a roda, com os
berimbaus, e os novatos aprendiam no próprio jogo; onde a
função do mestre - mais do que “ensinar” - era “criar as
condições” para as coisas acontecerem;
- e, mais tarde, na "segunda parte da aula", o novato é
introduzido ao ensino "autoritário" típico de nossa sociedade
ocidental, e típico de todas as academias de capoeira de todos
os estilos como, p.ex., no exercício "Professor à frente", onde o
professor estará à frente executando a “ginga” e os alunos,
passivamente, recebendo a informação, tentam imitá-lo em
uníssono.
- e que minha (Nestor) proposta é inserir treinamenos
"livres" que incentivem o brincar (na primeira parte da aula), dentro
da estrutura "autoritária" (na segunda parte da aula) dos métodos
de ensino de nossos dias.
NOTAS:
211 O histórico de todos estes métodos serão
estudados a fundo nos dois outros 2 volumes desta
nova Trilogia do Jogador, de Nestor Capoeira, que seão
publicados em 2013. (Nota do editor)
212 CAIAFA. Op. cit., 1985, 1991, 1992.
213 BATESON. Steps to an ecology of mind. NY: Ballantine,
1972, pp.177-193.
214 LEWIS, J.L Ring of liberation. Chicago: Univ. of Chicago
Press, 1992, p.2.
215 WINNICOTT, D.W. O brincar e a realidade. RJ: Imago,
1975, passing.
216 WINE. Pulsão e inconsciente. RJ: Zahar, 192, p. 32.
217 Ibidem, p. 32.
218 WINNICOTT, op. cit., 1975.
219 DELEUZE E GUATTARI. Op. cit., 1980, pp.
192-197.
220 WINNICOTT, D.W. O brincar e a realidade. RJ: Imago,
1975, passing.
221 Neste período, mestre Nestor morou e ensinou capoeira
na Dinamarca; foi convidado pela Prefeitura de Copenhague
para desenvolver um programa de "introdução à capoeira"
para as turmas das escolas do nível básico. (Nota do editor)
222 Este texto, do mestre Nestor, é do tempo em que deu
aulas de capoeira no Institut for Idraet, da Universidade de
Odense (Dinamarca); e publicou um livro, junto com J.
Borghal, para aquela instituição: Capoeira, kampdans og livsfilosofi
fra Brasilien. Odense: Odense Universitetsforlag, 1997. (Nota
do editor)
223 CAPOEIRA, Nestor. Galo já cantou, capoeira para
iniciados. RJ: ArteHoje, 1985, pp. 63-64. (Ed. ampl. e rev., RJ,
Record, 1999).
224 Revista Época, 21/03/2004.
2. A "ilusão de onipotência".
Vimos, com Winnicott, a necessidade da mãe dar,
inicialmente, uma "ilusão de onipotência ao bebê" (o bebê
chora, "aparece" um seio para mamar); e comentei que
também deveríamos fazer isto nas nossas aulas.
Todos alunos (iniciantes, avançados, etc.) participam da
minha roda. No entanto, os de nível "médio" e "avançado",
quando jogam com os "iniciantes", não dão chutes (eles apenas
se movimentam, executam "floreios", e esquivam-se dos golpes
dos "iniciantes") - a tal da "ilusão de onipotência" para o
iniciante.
Desta maneira, o iniciante começa imediatamente a
interagir na roda (começando a entender o que é a capoeira). O
iniciante também desenvolve mais rapidamente os movimentos,
golpes, etc., que está aprendendo nos treinos, pois tenta
reproduzir estes movimentos na roda, sem medo de ser contra-
atacado.
Mais tarde, o iniciante é introduzidos à parte de "esquivas e
defesas", através treinamentos "mecânicos e repetitivos"
específicos (um aluno ataca com determinado golpe, e o outro
se esquiva). E começa a jogar "normalmente" (atacando, e
também sendo atacado e se esquivando) - mas somente com os
professores (que já têm um domínio do corpo que evitará
atingir um iniciante, sem querer, durante o jogo).
4. Democracia do tempo
Durante a roda, os "iniciantes" têm o mesmo espaço e tempo
para jogar que os "avançados" e, até mesmo, que os professores.
Não existe, na minha roda no final das aulas, a compra de jogo:
quem joga é quem "entrou na fila", e um aluno graduado não
pode passar na frente do jogador inciante.
Isto em oposição aos "métodos de ensino de nossos dias",
onde o iniciante fica aprendendo movimentos básicos nos
treinos, durante alguns meses; e só então entra na roda. E então,
os mais avançados usam os novatos como cobaias para suas
rasteiras e, até, chutes. E, o que é pior ainda, os novatos tem
pouquíssimo tempo para jogar; pois os mais velhos passam na
sua frente na hora de jogar, e quando conseguem entrar na
roda, logo alguém mais graduado "compra" o jogo, e tira o
novato da roda.
Isto é uma reminiscência da época (que conheci quando
comecei nos 1960s) na qual o aluno "aprendia apanhando"; e
achava-se que aluno ficaria "mole e fraco" se não aprendesse
apanhando. Na roda, a lei era: "entra quem quer, sai quem
pode".
Treinar o som
Diminuir o autoritarismo