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Reserved todor oF direitos por Moresio Dose Fun Pirestrunge, 200 13100 — Campinas, SP Pedidos: ©. Portal 1828 — 12.100 Campings, S° (01921520919 Eee Bron pe spueacto | tipo limitada, financiada pelo organizador, com a colaborepto de proessores © ‘alunos do departamento de lingiletca, Inettuto de Estudos do Linguagem, UNICAMP INDICE DO VOLUME II PARTE II: FONOLOGIA Introdugao Jurn Phitipsor A Fonologia Atual ..........se00eeceeeeeee 15 Nikolay Trubetzkoy A Realidade Fonolégica dos Fonemas ......... 37 Edward Sapir Sobre Algumes Afi cand Recentes na Teoria PARTE (it. calts- Stnanpngdeasonsocnoagengseanenan 133 Antonio Carlos Quicoli e Marcelo Dascal Constituintes Imediatos ........ 02. .0es0eee8 145 Rulon S. Wells O Método da Gramatica Universal ............ m1 Paul M. Postal Advérbios Instrumentals e 0 Conceito de Estru- ceito de Estrutura Profunda .. . Joan W. Bresnan nossa mente com 0 que os indiot igualmente equipedes, ‘nos podem, ensinar? J. Philipson AFONOLOGIA ATUAL* Nikolay Trubetzkoy 0 dialet6logo sufgo J. Wintel tudo tobre 0 patod suigo-alemio do canto de Glarus (Wit 376), foi quem, pela primeira vez, apontou a necessidade de ir duas espécies de opo- fonicas: umas utilizadas na lingua dada para expressardiferengas set considerado como a pris fica & descrigfo de um patod alemio, teve um merecido éxito e serviu dde modelo para muitas outras obras. Mas € signifiativo que a brilhante idéia de J, Winteler sobre a distingo das duas espécies de oposigbes fonicas nfo tenha exercido nenhuma influéncia sobre 0 desenvolvi- mento da cigncia, Mal foi enunciada e foi relegada ao esquecimento. Mais tarde, uma idéia andloga foi formulads pelo célebre foneti- cista inglés H. Sweet, sem que, ppossa supor uma relapio qualquer entre ele e J, principio de distings0 de duas transmitido por H. Sweet JTespersen. Mas € preciso nos, principalmente 10 confessar que nem H, Sweet, nem o Sr. O, Jespersen chegaram a compreender todo o alcance deste principio: sem tirar dele nenhuma conseqiiéncia metodolégica, estes dois estudiosos continuaram a * “La Phonologic Actuelle”, Journal de Prychologle Normale et Pathologique 30 (1933) Cnimero especial com 0 nome de La Prychologle du Laneege), 227-246, Agradecomos i Presses Universitaires de France pela permissfo part ‘aduzi e publicaro presente texto. estudar todos os sons ¢ todas as oposigdes fOnicas através dos mesmos Saussure no chegot Qurso de L \¢FO entre © som para descrever ¢ estudar os fonemas outro método senso o que os fone- ticistas empregam. A ciéncia que trata dos fonemas, a Yonologia’ (n0 nt que “depende 36 da fala” (idem, io reconhecido 0 eariter imaterial foe relativo dos ele- i igua”; se-ocuparia destes eleme diferenciais do significante imaterial, € a outra, “dependente da fala", tefla por Gbjeio os sons da linguagem humana, fazendo_abstracio Sua fungdo diferencia, Esta delimitagio das duas di vez por J. Baudouin de Courtena Saussure? Foi ele quem proclamou ‘entre os sons da linguagem humana e poem as palavras de uma lingua, e foi ele também quem tirou desta afirmagio consequéncias metodol6gicas a exigir a existéncia de duas a ‘tem por objeto os sons; outra, aparentada com a psicologia, ¢ que estuda as imagens fénicas em suas fungoes linghisticas. Por dt . Baudouin de Courtenay quem fixou o temo ‘fon ido atual’. J. Baudouin de Courtenay concebia sua [ocupa dos sons), Tal modo de expressdo estava errado uma vez que, por um-lado, 0s “sons” no so fendmenos puramente fisicos, mas psicofisicos por definigZo (um som é “um fendmeno fisico perceptivel por meio do ouvido”, ou melhor, uma “impressio auditiva causada por lum fenémeno fisico”) e, por outro lado, o que distingue o fonema do som nfo é seu carder puramente psiquico, mas antes seu cariter 16 de Saussure no s¢ sdiferens © que taz_dele_um{talor_lingihisticg Mas tais erros de ‘nfo impediam nem so proprio J. Baudouin de Courtenay rnem a seus adeptos (pelo menos a seus adeptos russes") fazer us0 dda nopdo de fonema no sentido que € conveniente ¢ tirar proveito 4a splicagTo peitica da\distinean ‘entre pons o fonwecedS®) Alder des, no curso de seu desenvolvimento, “a escola de Baudouin de Courtenay” (principaimente seus discfpulos russos) tendeu a liberar-se do psicolo- sismo das primetras definig0es de seu fundador. AAs teorias de Baudouin de Courtenay permaneceram por muito tempo despercebidas para 0s lingistas europeus, apesar de em 1895 Jf ter sido traduzida para © alemfo a primeira obra em que este ‘autor expds 08 seus pontos de vista sobre os fonemas ¢ 0s sons. Baudouin de Courtenay era conhecido de um lado como eslavsta, ¢ de ‘outro, como partidério da lingua artificial intemacional, mas suas teo- rias no campo da lingiistica geral ficavam fora das grandes Linhas do desenvolvimento da lingiistica. Nao se falava nelas, e isto nfo somente nna Europa, mas mesmo na Russia, fora de Sio Petersburgo natural mente®, Somente nos dtimos tempos, hé mais ou menos quinze anos, 4 idéia de uma ire sons e fonemas comes | propagerse s chegaram a ela indepen- itar em primeiro lugar zam a nogdo de ‘fonema” em suas obras fonétiea, parecem influencta- dos pela escola de J. Baudouin de Courtenay, principalmente pelo Sr. Seerba. Quando um grupo de lingistas russos (S. Karceviski, J. R. Jakob- son € 0 presente autor) — dos quais, por acaso, nenhum era aluno de J. Baudouin de Courtenay, nem de nehum de seus ditefpulos ~submeteu ‘em 1928 ao Primeiro Congresso Internacional de Lingiistas em Haia, Juma proposta, ou melhor, um pequeno programa de declaracio, referente a0 estudo dos sistemas de fonemas (v. Premier Congrés International de Linguistes, Propositions, p. 36-39), 0 terreno ja se achava preparado, Foi sobretudo 0 Cfreulo Lingitstico de Praga que demonstrou um interesse muito particular pelo problems. Um ano fe meio depois do Congresso de Hala, o Circulo Lingiistico de Praga apresentou perante 0 Primeiro Congresso de Filélogos 0 primeiro ‘olume de seus Traux, que continha uma quantidade de artigos de diversos autores, a maior parte dos quais tratava de “fonclogia”. 7 wis BV), we ‘Ao. mesmo tempo apareceu o segundo volume dos mesmos Travaux, que inclufa a bela obra do Sr. R. Jakobson: “Remarques sur Evolution Phonologique du Russe”, um primeiro ensaio de fonologia hist6rica, obra cheia de profundas e fecundas idéias. Gragas a estes dois volumes, a “fonologia” (como “parte da lingUistica que trata dos fenémenos ffonicos do ponto de vista de sua fungo na lingua”) atraiv o interesse de muitos lingdistas, e um ano mais tarde foi possivel convocar em Praga uma Reunido Fonologica Intemacional, organizada pelo mesmo Creulo Lingiistico de Praga e na qual tomaram parte os representantes de nove paises. Fundou-se uma Associagio Intemacional para 0s estudos fonclogicos, € © Segundo Congresso Intemacional de Lin- sistas, celebrado em Genebra em que aprovou a crisgo daquela Associagao, recomendou a0 ”” (Comité Intemacional Permanente de Lingdstica) que mantivesse com ela relagGes oficiosas. ‘Ao longo deste breve resumo hist6rico, tentamos caracterizar 2 “fonologia’ em seu estado atual, (© que antes de tudo salta aos olhos que existe entre fonologia ¢ fonética. Consciente desta diferenga I, a fonologia no deixa de acentué-la com toda a ener- gia de que é capaz. A fonética atval se propde estudar os fatores materiais dos sons da fala humana: seja as vibrag6es do ar que a oles correspondem, seja as posigdes e movimentas dos 6rgfos que 0s pro- © que a fonclogia quer estudar no sio os sons, 6, 06 elementos constitutives do significante lingiistico®, elementos imateriais, uma vez que o proprio significante rofunda diferenga © € (segundo F. de Saussure), © som nio € para 0 fon6logo senzo a © ‘oneticista tenta descobrir aquelas diferengas de sons que um hhomem comum, falante de sua Lingua matema nio percebe de modo alguum. O fon6logo, pelo contrario, quer estudar somente as diferencas que cada um deve notar em sua Lingua matoms, uma vez: que sio clas que servem para diferenciar o sentido das palavras e das frases. © foneticista tenta, por assim’ dizer, penetrar nos Orgaos articulat6- rios e estudar em todos os detalhes seu funcionamento, assim como se estuda 0 trabalho de um mecanismo. © fon6logo, em troca, trata de penetrar na consciéncia lingiifstica de uma comunidade lingifstica (Povo, classe social, etc.), estudando 0 contetido das idéias fonicas 18 diferenciais de que se comptem os significantes das palavras da lingua dada. Grosseiramente falando, diremos que a fon brit 0 que de fato se promuncia 20 falar um: (0 que se cré pronunciar, “O que de fato se pi mento a momento e de um para outto individuo, franceses pronunciarem repetidas vezes a palavra temps € registrando sua prontineia por meio de um aparelho fonético, nos 6 dado compro- var diferengas, no s6 na proniincia dos diversos individuos, como na palavra pelo mesmo individuo em menos numa dada fase da lingua). Cada um dos franceses que acabamos dde-mencionar cr€ pronunciar cada vez a mesma palavra temps. Ele cré pronunciar nesta palavra 0 mesmo primeiro som que em fot, rge, tache (um som que difere do primeiro som de dent da mesma maneira ‘como 0 primeiro som de pas difere do de bas, ou o de camp difere do de gant, etc), e 0 mesmo som final que em champ, gland, vent (Gom que difere do final de fa da mesma maneira que 0 final de champ difere do de chat ou 0 final de vent difere do de vas, etc.) “o que de fato se pronuncia”, far-se necessirio duas disc 2 seu objeto, O fontiiia 6 necesriamen (eo sentido groteclogeo do tr). Cada som da fala humana 36) E cada afirmagdo geral referente a todos os sons de uma lingua, a sua “base articulat6ria”, ou melhor, a todos os sons do mesmo tipo, nfo poderd ser sendo uma sintese de uma quanti- dade suficiente de’ estudos parciais consagrados a sons isolados. / Semelhante procedimento & impossivel em ae Uma ver. que © fonema | nfo pode ser estudado fora do sistema fonol6gico, Definir um fonema € indicar seu lugar no sistema fondlogico, 0 que sb & possivel se 3° tem em conta a estrutura deste sistema. Deste modo, 0 ponto de par ‘ida do fonélogo se acha no sistema fonolégico em conjunto, € s6 19 pode ser estudado de forma isolada, fora de toda 7 . \% | 4 partindo dele s¢ poderd chegar 20 fendmeno isolado, Esta circuns: jen da ene fonologia. A font por natureza, parte do sistema como de um todo ot > cuja estrutura ela estudd!!? Esta atitude metodologica universalista, propria da fonologia atual, constitui uma de suas particularidades ‘mais essenciais, apesar das objegdes de certos De acordo com sua atitude metodol6gica, a fonologia atual edica enorme atengio a0 estudo das “oposicbes fonoldgicas” (para a definigGo deste termo veja-se acima nota 8). Dentro deste campo, 1 fonologia atual tem estabelecido alguns principios de classificapio que, segundo cremos, podem também se mostrar fecundos em outras disciplinas cientificas. Os fondlogos distinguem duas espécies de oposigdes fonoldgicas: as disunpdes © as comelazdes. A “propriedade da correlagfo” consiste na oposigao da presenga e da auséncia de uma qualidade fonologica que distingue vérios pares de unidades fono- logicas: por exemplo, em francés a oposigdo da presenga e da auséncia da sonoridade que distingue os pares p : 6, t :d,k:g, 8:2, f:¥,etc., fou a oposigo da presenca ¢ da auséncia da ressondincia nasal que distingue os pares a :4(an, en), :é Cin, ain), 0 :0 (on), (ev) :8 (un), eic!®. Os dois membros de um par de correlaggo (por exemplo Pp ¢ b, a © @) so comelativos ou unidades correlativas, © 0 sistema de oposigdes caracterizadas por uma “propriedade de correlaggo” comum leva 0 nome de correlapdo (assim, por exemplo, em francés, a “correlagio de sonoridade”, a “correlagdo de nasalidade”). Quando duas (ou varias) unidades fonologicas pertencentes ao mesmo sistema se opdem uma a outra sem formar entre si um par de correlagdo, dizom-se disjuntas, © sua oposigo € chamada disjunpao (por exem- plo, em francés, as disjungtes a: u, pz, m :, etc)!*. A andlise das diferentes relagdes entre estes dois tipos de oposigies (pares correlativos e disjunges) e de todos os fendmenos fonolégicos que s© relacionam com eles, permite descobrir uma quantidade de distingoes novas e criar novas nogGes que exigem também uma termi- nologia nova, Esta terminologia irrita um pouco os estudiosos tradi- cionais ¢ dificulta talvez 0 éxito da fonologia atual. Mas é indispen- 20 estuda os fendmenos fonices isolados; a fonologia, univer- ° iramente novas ¢ sivel, uma vez que se trata de nogdes de fato de tertenos absolutamente inexplorados, E impossivel para n6s entrar aqui em pequenos detalhes Limitarnotemos asim a algumas observag6es sobre a natureza das correlagdes fonol6gicas. Dissemos que em cada correlapio, uma série de unidades 6 caracterizada pola presenga de uma qualidade fonologica, ¢ a outra série pela auséncia desta mesma qualidade (chamamos a primeira de “série marcada”, a segunda de “série ngo marcada”'*), Insistimos nesta afimmagfo, cujo aleance ¢ muito grande ¢ ultrapassa os limites da fonologia propriamente dita. Certos lingiistas (os Srs, Melt ¢ van Wijk) consideram-na duvidosa ¢ propuseram restringit seu alcance aos casos em que o membro da correlagio caracterizado pela presenga de uma determinada qual dade produz a impressio de um fendmeno simples seguido de alguma utra coisa. Como exemplo, o Sr. Meillet cita as consoantes moles (Palatalizadas) do rusto, “porque temse a impresséo de que, nas cconsoantes moles, existe a consoante tipo + uma espécie de iod” Me sd., p. 12) 0 Sr. van Wijk cita, al6m das consoantes moles, spiradas'®, No é por acaso que os dois emi- tipo+ uma espécie 0 6 mole de pos (“cao”) € para um russo um fonema indecom- I no tempo, nora b em bos (“ele esta) descalgo’ a percepgio dos fonemas que faltam em sua lingua materna como uma sequéncia ou um grupo de dois elementos ¢ caracteristica: assim & que os alemies do norte percebem as vogais nassis do francés como send ong, ting, 0s observadores estrangeiros percebem as consoant das linguas caucésicas e americanas como espécies de etc. E impos gua matema’”. Na maior Parte dos casos, essa avaliago pode facilmente ser colocada em evi- déncia através do estudo cuidadoso de todo o contexto fonol6gico. Em_certos casos poiegs, cgar ace mesmos reniados mediante experiéncias psicolbgicas'®) Para evitar qualquer mal-entendido, apon-<1~ 21 Uma qualidade fonolégica s existe como termo de uma oposigio temos que a maior parte dos membros de uma comunidade li fonolbgiea. Do ponto de vista fonétco, 0 f fancés & sonor, uma vez tica nfo perccbe a verdadetra natureza da “marca” de uma corelagfo. aque provoca a vibragGo das cordas voetis. Mas como 0 francés no Um russo nfo versado em fonologia ou em fonética sente simplesmente possui um / surdo, cuja oposiggo com 0 I sonoro pudesse diferenciar ue p (mole) € & (onors) tipo de fonemas cujo repre: 0 sentido das palavas, a sonoridade dos ! nfo tem importiciafono- | sentante é p, Ele tem pe logica. E apenas uma particularidade “inteiramente natural” da pro- | teés fonemas, 0 mais “simples”, © mais “normal”, 0 que se acha rmincia deste fonema, e nfo se a leva em conta, Contudo, ocorre | destituido de toda qualidade secundaria. Mas nfio se encontra em con: freqientemente que uma qualidade fénica aparega como elemento digdes de formular exat ie Be bi diferem de p: sabe diferencial (portanto com valor fonol6gico) somente em certs posi- somente que a diferenga igual 4 que existe en fes,hen,etc.,e que a De p igual dexistente det,zes,gek, etc, Aliés, o mesmo acontece em todas as op gicas e, acrescentemos, na malor parte das oposig Certas correlagdes possuem a faculdade de combi si para constituirem } que a conseiéneia lin ¢62s. Segueso daf que em outras posigBes os fonemas correspondentes se vem privados desta qualidade, Assim, por exemplo, em francés a ‘oposicdo de sonoridade s6 tem valor fonol6gico diante de fonemas neutros do ponto de vista da sonoridade, isto 6, diate das vognis © das “soantes” (cf. pas : bas; poids : bots; plant : blanc; prune : bruné), enquanto que diante das consoantes sonoras e das surdas esta oposica0 no existe: diante de r a oclusiva labial s6 pode ser surda (oper: abte- nif), diante de d cla s6 pode ser sonora (abdiquer)'” . Nesta posigio 8 prsenga ou mance de tonrdae no 6 mas do qe wm pre afirmavam que as vogsis de sua lingua possufam qua (por exemplo 4, 4, 4, a) e davam descrigdes mais ou menos vagas de cade uma delas, sem notar que na realidade 0 servo-croata i seu dialeto stokavio) possui unicamente duas entonayoes, dente (é, d) ¢ outra descendente (é, d), cada uma das quais pode atingir uma vogal longa (4, 4) ou uma breve (é, @), de maneira que existe aqui um feixe constitufdo pela combinagéo da correlagto mel6d (ascendente:descendente) com a correlag0 quantitativa (longa:breve Nem todas as correlagdes fonolbgicas si0 capazes de for a” da prontncia destas consoantes, da jridade sempre 0 & para J, Assim, além da da surda p, o francés possui ainda uma oclu- ida em relaydo 4 sonoridade: do ponto de vista esta terceira oclusiva coincide sempre com uma das outras, duas (com a surda em apte ou com a sonora em abdiquer), mas do ponto de vista fonoldgico ¢ um fonema a parte. Vé-se pais que 0 feixes. contedido de um fonema, definido sempre como o conjanto das Para isto ¢ sem duvida necessirio um certo gra de 0 das oposigses fonologicas das quais participa, pode mudar de acordo,| | “marcas de correlapfo”. Isto é 0 que confere aos fondlogos a possi- com a posigfo deste fonema. Daf a necessidade de estudar as regras 1%, bilidade de estabeecergraus de paentesco entre as diferentes corte= ss ceenraga deal ermantoal oon dsces seen el ee oal ope todas em um sistema hlerirquico, 0 estudo dos |? gio fonica dada possui um valor fonoligico, e as combinayes de feixes de correlagdo que esté 1981a, p. 99 e $8), parece-nos 1as no comego (cf. Trubetzkoy, fonemas admitidas na lingua dads. to importante, Observemos que,~ 20 lado do tipo representado pelo sistema de entonagées © de Fy eats Cotuadsaeres’ dal empmye caiinttadee reamegee er quantidades vocélicas em servo-croata, no qual cada membro de liga o estudo dos graus de utilizagio de diferentes oposicdes fonol6- feixe participa ao mesmo tempo das duas correlagdes combinadas, ever para eh cleveta Seas Ve er lecat cM tae ocean frame existe um outro tipo de fixe no qual um s6 membro participa de dada (“rendimento funcional”), Para um estudo deste tipo, @método todas as correlagSes combinadas: por exemplo o sistoma das oclusivas estatistico se impoe. Aplicando-o de modo racional, obtémse uma gregas, no qual a correlagto de sonoridade (7: 8m :Ax:7) _s¢ com- expresso matemitica da importéncia relativa das diferentes oposi- | bina com a correlagio de aspiraggo (r :8, 7 :¢, x :k’) . Neste iltimo g6es Fomolégicn ¢ das diferentes partes das palavras (conform 0 | caso, acontece comumente que 0 membro “ndo-marcado” seja comum. sentido se ache diferenciado por uma oposigao fonoldgica no eomego, as correlagdes combinadas. -—» entre a lingua e a esc lizagdo das oposigGes s6 pode ser realme nada com uma estatistica da frequéne! agrupamentos de fonemas?®,) Todos est tam e animam o quadro dosistema fonoldgico de um: flexivel ¢ conferindo-he perspectiva. Eles poem em pontos fracos e fortes do sistema, as preferéncias © aversGes que 0 regem, permitindo entrever, sendo as tendéncias de sua evolugfo, pelo ‘menos os problemas que esta evoluedo esté tentando resolver. Vv Os problemas que acabamos de abordar sumariamente nos capi- tulos precedentes se referem & estrutura dos sistemas fonol6gicas em geral © a “fonologia lexical”. Mas uma vez que a fonclogia estuda todas 2s fung6es linglisticas das oposigdes fOnicas, ele devers ser subdividida em tantos ramos quantos tem a gramética (no sentido saussuriano deste termo). Além da fonologia lexical, existe pois uma ‘fonologia morfologica (ou morfonologia? + simplesmente) e uma fono- Togia sintética (cf. Karcevskij, 1931). Cada um destes ramos da fono- logia apresenta problemas especiais muito interessantes que, entre- tanto, nfo poderiam ser tratados aqui por razdes de espago, Também nos vemos obrigados a nfo falar sobre as novas perspectivas que a fonologia abre para a métrica e para o estudo da linguagem postica cm ger (parte da lingiicn onde até gore alo do onto de vista ¢ dos métodos fonéticos tem sido particularmente nefasta) ara o estudo da formagio das If fom os dialetos populaes?®, para a daletologa (ef, Trubetzkoy, 1931b), ¢ finalmente para,os,problemas que se referem aos vinculos ‘aqui as diferentes aplicagoes no ensino de linguas es de moron sxemas dees par pveecronts dela ou om sto fembaragosos, para o aperfeicoamento da taquigrafia, ¢, por ultimo, para o estudo (e talvez, para o tratamento) de certas formas de afasia. Protendemos t#0 somente dar uma caracterizapo geral da fonologia atual nfo sb como cifncia, mas também como movimento cientifico. Para isto faz-se necessirio voltar a historia da fonologia 14 ‘encontrar os tragos essenciais pelos quais a fonologia atual ue das tentativas de seus predecessores. Baudouin de Courtenay. F. de Saussure constatou que 0 cante lingUstico & “imaterial”, que no so os sons, mas a8 opo- sigBes fOnicas que importem para a Lingua, ¢ por dltimo que os fone- ‘mas s6 existem como membros de um sistema. E proclamou como Principios metodologicas a severa distinco entre a fala e a lingua, 4 concepgfo da lingua como um sistema em que todos os elementos so solidérios © a necessidade de estudar cada elemento da lingua ‘em suas relacdes com a totalidade do sistema, Mas quanto ao aspecto fonico da lingua, P, de Saussure se limitou a esta declaragio, ¢ sua escola no deu um passo adiante. O interesse principal de F. de Saussure € de sua escola se achava dirgido para 0 aspecto “‘conceitual” da lingua, para 0s problemas de semintica, de estilistica e de sintaxe. Nem F. de Saussure nem nenhum de seus adeptos tentaram aplicar seus prinefpi tebricos 4 solugo de lemas fonologicos mais ou menos compli cados ou a deserigio ci de um sistema fonolbgico concreto, Ora, € somente trabalhando com materiais concretos que se pode chegar a aperfeigoar e pormenorizar uma teoria. Privada desta fonte de aperte- soamento, a teoria de F. de Saussure ficou incompleta no que diz es peito 20 aspecto fénico da Baudouin de Courtenay insistia miuto menos que F. de Sa ‘roca tinha, no que diz respe jas mais claras do que as do mes escola se interessavam pelo aspecto fOnico da lingua muito mais do que a escola de Genebra. Entretanto, 6 preciso ter em conta que as desco- bertas de Baudowin de Courtenay no eampo da fonologla das lingvas cconeretas que havia estudado nio foram numerosas. J, Haudowin do Courtenay parece néio ter percebido completamente todo © seas que tinha a descoberta da distingflo entre som « fexiema 6 revoligo ue tal descoberta dovia produzit no estudo das Miguas vonoretas, Bat ‘uma certa indecislo nos casos em quo, para ser Conseqdente, Of pe ciso romper bruscamente como 0 ponto de vista tradiclonal, liste fal ta de coragem restringla o campo de aplicayto da teora © impedia por isto mesmo seu desenvolvimento, A nova geragto de fondlogos se distingue antes de tudo pela resolugio com que aborda os proble- mas da fonologia de linguas diferentes e pela coragem com que se deck de a desenvolver as teorias fundamentais da fonologia até suas diltimas 25 |< % jgngho de leis fonolégicas conseqiéncias. Como resultado disto, o campo das investigabes oe a teoria se tomna nfo 36 mais pormenorizada, mas ‘mais conseqiente e rad fed do que era com F. de Saussure ¢ J. Baudouin de Courtenay. Mas, © que sobretudo ¢ importante, € que esta teoria se apéia sobre uma massa de fat fe a circunstincia de que toda ela tenha nascido dos trabalhos sobre problemas concretos da fonologia das mais diferentes linguas. A fonologia atual ndo se limita a declarar ique os fonemas so sempre membros de um sistema, ela mostra sistemas fonol6gicos concretos, pondo_em_evidéncia_sua_estrutura. Esse cardter-COnCTETO™ las para todas as Iinguas do mundo. jlogia a uma porgio de Iinguas, com 1s sistemas fonologicos, no se ‘Aplicandd-os-prinefpios-d © objetivo de por em evidénci ‘lemora a constatar que certas combinag6es de cortelagdes podem ser encontradas nas mais diversas Knguas, enquanto que outras no exis: tem em nenhuma?®, Tratase aqui de leis da estrutura dos sistemas Fonolbgicos. Mesmo quando sfo obtidas por pura indugfo empitica, tais leis se deixam 5 vezes deduriclopieamente2', 0 que 5 um ‘earfter absoluto, Procurar descobrir tis leis constitu - teristica da fonologia atual. Nem F. de Saussure nem J. Baudo Courtenay nunca tentaram 2 formulagio de leis fonoldgieas concretas (mesmo quando a existéncia det de “sistema onde todos os seus elementos so solidi dliz respeito a isto, a fonologia atual ndo tem prodecessores ent 0s linghistas das geragbes anteriore®?. = "A investigagdo das leis fonol6gicas gerais sup6e 0 estudo compa: rado des sistemas fonol6gicos de todas as linguas do mundo, abstrain- dose de suas relagdes genéticas, Fste estudo comparado, que até agora jamais tinha sido empreendido em tal escala, permitiu aos fonblogos ftuais nfo s6 estabelecer certas leis gerais, como também constatar Gque muitos dos fendmenos fonolbgicos se difundem em regiGes trogrifcas mais ou menos vastas e ocupadas por linguas de diferentes familias, Este fato esté longe de ter uma explicapdo (4 que a hipbtese da agio de “substrates” & muito insuficiente), Mas sua constatagio texipe 0 estabelecimento de uma nova disiplina — 2 “geografia fono- 1ogica”™*. ‘As teorias de F. de Saussure e de J. Baudouin de Courtenay nasceram numa época em que “lingiistica cientifica” era quase um Sindnimo de “lingistica histrica”, E como esta lingiistica historica 26 sua teotia. Segundo sua concepgio, & si nica (estética) que tem como objeto a ‘gas parciais que sZo causa de desordem no sistema da lingua e que em si mesmas so desprovidas de todo sentido, A fonologia atual nfo pode aceitar este ponto de vista, que considera como uma concessio 20 Se, a qualquer momento dado, ngua tema onde todos 0s seus elementos so soli- aries", a passagem de um estado da lingua a outro nfo pode ser --efetuada através de mudangas isolada desprovdas de todo sentido, Tma vez que um légico nao é a soma mecénica de fonemas iearar 0 sistema fonol6gicc | gicas e fonéticas adquirem um sentido e uma razdo de ser, Sendo até certo ponto determinada pelas leis gerais de estrutura — que excluem Ee combinagdes e favorecem a existéncia de outras — a evoluso do sistema fonolégico esti govemada em qualquer momento dado pela tendéncia para um fim. Se nio se admite a existéncia deste ele- ‘mento teleolégico, € impossivel explicar a evolugéo fonologica. Esta evolugo tem portanto um sentido, uma légica intema, que compete 4 fonologia hist por em evdénit. A fonloi aul inst sobre este ponto, E af talvez, que a diferenga entre a fonologia atual as teorias de F, de Saussure se faz mais evidente?® Bibiiorees swTOR DU CIBNCL! 27 BUMANAE UBTRAS E ARTES suron DB BDDOAOKS | eae pa os logia atual. Acontece que nao s6 a lingtistica, mas toda a ciéneia desta ‘poca se echava dominada pelo individualismo ¢ pelo foriologia atual encontra-se neste particular em condigdes muito mais favoréveis. A época em que vivemos se acha caracterizada pela ten- déncia que manifestam todas as disciplinas cientificas a substituir © atomismo pelo estruturalismo e o individu (no sentido filos6fico destes termos, pode ser logia, em ciéncias econdmicas, etc. A fonclogia atual nfo se pois, isolads. Faz parte de um movimento cientifico mais amplo. Resta somente esperar que as demais partes da lingUistica (a morfo- logia, a sintaxe, a lexicologia, a semantica, etc.), venham se unir muito rapidamente a fonologia, no que a este aspecto se refer. (tradurido por Rosa Attié Figueira) NOTAS 1. Ct. por exemplo as seguintes afirmagGes: “O que importa na palavra nfo é 0 som em si mesmo, mas as diferencas fbnicas que peri: tem distinguir esta palavra de todas as outras, pols sfo elas que trazem em sia significagfo” (Saussure, 1922, p. 163); .. “(Dols sons considera: dos como termos de uma oposiefo fénica) so fundamentalmente inca- pazes de chegar como tais até as regi6es da consciéncia, a qual nfo ppercebe sendo a diferenga (que existe entre eles)" (p. 163); .. “Em sua esséncia ( 0 significante liguistico) nfo é de modo algum de natu- reza fOnica, mas imaterial, constitufdo nfo por sua substincia mate- rial mas pelas diferengas que separam sua imagem acistica de todas as outras... os fonemas so, antes de tudo, entidades opositivas, rela- tivase negativas” (p. 164). 28 2. J. Baudouin de Courtenay reconhecia que ao eriar sua teoria ichava-se a prine{pio influenciado por seu aluno Kruszews- ‘trios, da unidade ouvida e da unidade falada, uma condicionando a outra” (Saussure, 1922, p. 65). Direcaoaeaet teeta con eee maior parte de sua vida na Riissia como professor, primeiro na Univer- sidade de Kazan, depois na de Sao Petersburgo. Assim, a maior parte de clipart ost et eae ea on ahr odie rm “foc” ma ota in de Courtenay, assim como nas de seus adeptos e dos sleieastesh asa soem a ened aaa pf eaielcoct onisfcomuaray int cosy eat definigdes provisérias, em geral vagas ¢ inexatas. £ preciso estudar es- Eacearan iteicter ome ex peau ceed Teenie eae arena Se peat cee Provisorias, em geral repetidas automaticamente mesmo depois de ‘haver mudado © emprego do termo, corre-se 0 risco de perder tempo numa critica superficial e estéril. Mesmo que as formulas psicologistas de J. Baudouin de Courtenay e de alguns de seus discfpulos tenham ia fesataa ona ct eaoemen sas Tense como o Sr, W. Doroszewski trata de fazélas aparecer, (Doroszewski, 1931, p. 61). Deste modo, mesmo que a impressdo actistica imediata tal perce let cper soca aes ‘nos psiquicos, nem por st diferentes. Pelo termo “intengio (Absicht) fonética”, o Sr, Benni da pace sled aT Ga a03 musculos articulatérios, mas sim “o -que_se cré pronunciar”. Ora,/-— “o que se cré pronunciar” difere essencialmente do que na realidade se Pronuncia, Tudo isto ¢ muito evidente, E somente por preconceito que Se pode fing nfo compreender expresses, talvez inexatas do ponto de vista formal, mas completamente claras e incapazes de criar qualquer

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