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T S Wiley,
Antropóloga e teórica médica, com passagem pelo jornalismo
investigativo. Trabalha atualmente em pesquisa médica, com
especial interesse nas áreas de endocrinologia e biologia evolutiva
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É por isso que um número cada vez maior de pessoas busca aju-
da médica contra a depressão.
Os antidepressivos atuam nos níveis de serotonina através dos
inibidores seletivos de reabsorção de serotonina (SSRIs). O termo
“reabsorção” se refere à volta da serotonina ao neurônio, após sua
mensagem ter sido enviada. Essas drogas atuam aumentando
ainda mais o nível já anormalmente elevado de serotonina, até um
estado mais absurdamente transbordante. Elas conseguem isso
bloqueando os receptores que reabsorvem (sugam) a serotonina e
a retiram do espaço entre os neurônios, para ser utilizada
novamente. Um inibidor seletivo de serotonina trabalha apenas para
inibir o retorno da serotonina a determinados receptores. A
quantidade real de serotonina que você produz não aumenta; só
que o volume que você têm fica disponível por mais tempo, dando-
lhe uma espécie de “lucro”. Com um nível de serotonina mais
constante, seus receptores buscam e alcançam a homeostase.
Neste estado você apresenta resistência aos receptores de
serotonina, o que silencia esses receptores.
A resistência à serotonina, neste caso, significa que o pânico e a
paranóia físicos e mentais despertados da memória genética
coletiva por um estado crônico de serotonina elevada acabam, ou
pelo menos são neutralizados. Como você não registra mais o nível
elevado da serotonina no nível dos receptores, na realidade virtual,
o perigo passou.
Instala-se aí uma sensação de bem-estar idêntica à percebida se
a serotonina estivesse, na realidade, num nível normal (baixo).
A forma de fazer isso virar realidade é apagar as luzes.
O sono neutraliza os níveis de serotonina porque a melatonina
produzida durante o sono só pode ser fabricada com o uso da
serotonina disponível. É por isso que as pessoas deprimidas
tendem a se automedicar, ou dormindo o tempo todo ou não
dormindo de uma vez. Ambas as opções funcionam exatamente
como os antidepressivos. Ficar sem dormir por 24 horas provoca a
elevação da serotonina a níveis de exaustão antidepressivos,
porque ela nunca se transforma em melatonina. Quando ela sobe
muito, “ultrapassa o limite” e a sobrecarga faz com que os
receptores vão lá embaixo, e – voià! – é exatamente como se a
serotonina estivesse baixa, ou igualzinho a tomar Prozac.
O “sono de fuga” – dormir o dia inteiro e parte da noite – funciona
ainda melhor, porque a serotonina na qual você está mergulhado
vai virar melatonina em cascata, levando-o a um estado de
serotonina normal ou baixa, pelo menos por um tempo. Mas a
maioria de nós não
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consegue dormir o dia inteiro, a menos que tenhamos sido
demitidos ou estejamos nos divorciando, de modo que precisamos
de uma “coisinha”, só para sobreviver. Como lamentou Aldous
Huxley, em Admirável mundo novo:
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lucros nos Estados Unidos chegaram a US$ 1,37 bilhão. Setenta
por cento das prescrições do Prozac são feitas por clínicos gerais –
os médicos de família. Embora seja razoável imaginar que alguém à
beira de uma doença mental deva consultar um psiquiatra, seu
médico não concorda. Custaria caro demais. Agora, se você se
sente sem ânimo para ir à ginástica por causa de todas as luzes
flamejantes e barras de cereais em sua vida, tudo o que tem a fazer
é pagar aquela consulta anual com seu médico e pedir uma receita
de algo que o levante, já que você está lá. Qualquer clínico geral
resolve.
Em 1996, foram registradas 735 mil prescrições de Prozac para
crianças. (Apesar disso, a Eli Lilly ainda não pode anunciá-lo como
um remédio para crianças, porque a FDA diz que ainda está
estudando essa aplicação). O fato mais sinistro é que a Eli Lilly
desenvolveu uma versão com sabor menta – para potenciais
consumidores que são CRIANÇAS. Isso significa que qualquer
médico tem condições de prescrever Prozac sabor menta para uma
criança, sem sequer a necessidade de uma avaliação psiquiátrica.
LIVRO:
“Apague a luz!” Durma melhor e: perca peso, diminua a
pressão arterial e reduza o estresse, Bent Formby e T. S. Wiley,
384 páginas, Rio de Janeiro, Editora Campus, 2000.
http://www.livrariasaraiva.com.br/