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PARTE I.

PRODUÇÃO DE ALUNOS DOS CURSOS DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO

O CRIMINOSO X OS MOTIVOS QUE LEVAM AO


MUNDO DO CRIME
Hipólito Matos Júnior 5
Danieli Aparecida From 6

RESUMO
Este artigo pretende demonstrar que o problema da criminalidade, já muito deba-
tido, ainda não encontrou solução adequada. As pesquisas iniciais utilizadas pela
medicina tinham como objetivo criar um estereótipo para o criminoso, buscando
maior controle social, tendo como consequência, a exclusão do indivíduo. Diante
desse contexto, buscou-se, com o auxílio da Psiquiatria e a Psicologia, identiicar
a formação da população carcerária e os fatores de risco que a motiva a cometer
crimes. O estudo trouxeum novo olharpara concepção de uma visão sistêmica do
processo, permitindo identiicar a realidade existente sobre um tema tão sensível
e complexo. Tem por base teorias de vários estudiosos que analisam o criminoso
e os fatores relacionados à Criminologia, buscando subsídios necessários para im-
plementação de políticas públicas, objetivando controlar e reduzir a criminalidade,
proporcionando assim, benefícios para a sociedade.
Palavras-chave: Criminologia. Fatores de risco. Políticas públicas.

ABSTRACT
Much discussed theme of the utmost importance, the crime remains unsolved by
means of public policies. Well-established revealed by statistics. Many researches
seek scientiic explanation as a means of subsidizing measures for reduction of inci-
dences. he study brought a multidisciplinary vision into reality on a sensitive and
complex theme. It was considered the theories of scholars who analyze the criminal
and the risk factors that inluence the practice of crimes thus contributing to the
formation of their authors.
Keywords: Criminology. Risk factors. Public policy.

5 Aluno do Curso de Pós-Graduação em Direito Penal e Direito Processual – Faculdade Dom Bosco.
6 Orientadora. Professora da Disciplina de Metodologia Cientíica – Faculdade Dom Bosco.

Revista Dom Acadêmico, Curitiba, v.1, n.1, p.21-28, jul/dez. 2016. 27


PARTE I. PRODUÇÃO DE ALUNOS DOS CURSOS DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
O problema da criminalidade vem, continuamente, sendo discutido. Através
das estatísticas constatam-se aumentos consideráveis da criminalidade e a ausência
de mecanismos de controle.
Um assunto da mais alta relevância para a sociedade não encontra nos órgãos
públicos responsáveis pela segurança, o empenho necessário e vontade política para
resolver o problema. Discute-se a super população carcerária, como justiicativa para
o problema da criminalidade existente no Brasil.
Políticas públicas são necessárias para nortear o trabalho de combate à cri-
minalidade. O próprio Estado cria o problema social através da ausência de uma
política eiciente de distribuição de renda e melhoria na educação, surgindo, assim,
a igura do cidadão excluído. Para justiicar sua ineiciência utilizam-se das institui-
ções legalmente constituídas para legitimar as diversas formas de violência, empre-
gadas contra a própria população, que o Estado tem o dever de proteger.
Mas, antes do crime, há algo muito mais importante a ser analisado, qual
seja a sua causa, a partir da qual se podem buscar medidas para reduzir sua incidên-
cia.
A pesquisa pretende demonstrar que um indivíduo não se torna criminoso
por uma simples opção, e ainda, que antes que ele “opte” por seguir tal caminho, há
inúmeras situações que inluenciam sua formação, fazendo dele um criminoso em
potencial, ou não.
A revolução tecnológica, aliada aos novos conceitos sociais e culturais, ofe-
rece grandes desaios para as famílias, considerando fatores como desemprego, falta
de informações, violência urbana, facilidades para uso de drogas, nível cultural de
seus membros, entre outros. Nesse sentido, a família tem um papel da mais alta im-
portância na formação do indivíduo. Saber lidar com os fatores de risco, oferecendo
proteção e orientação, deve começar dentro do sistema familiar, continuando na
escola, nos grupos e nas redes sociais.
Dependendo do contexto em que está inserida a família, atribuições básicas
de cuidado icam prejudicadas, surgindo um fenômeno conhecido como invisibi-
lidade familiar e social, dando margem para o surgimento de ambiente vulnerável,
favorecendo a marginalidade e exclusão social.
Esses aspectos são de grande relevância para o estudo da Criminologia, consideran-
do o Direito Penal, para a elaboração de Políticas Públicas de Segurança, buscando
assim, harmonizar a convivência na sociedade.

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Assim, analisou-se o sistema, buscando a essência do problema para mostrar suas


causas e os seus efeitos provocados na sociedade. Diante dos fatos, o tema merece
um estudo aprofundado para identiicar os verdadeiros responsáveis que provocam
essa situação, as responsabilidades governamentais, mostrar os direitos que são ocul-
tados, tanto na população carcerária, quanto na sociedade e os direitos humanos e
fundamentais que são violados.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Uma das preocupações do mundo atual é com o aumento da criminalidade
(ABREU; LOURENÇO, 2010, p.1). Lemos e Leal (2001) observam que as pesso-
as, cada vez mais, se trancam dentro de suas próprias casas, com medo da violência
que se instalou na sociedade.
Parte integrante dessas condições depende de políticas públicas sobre o mo-
derno Direito Penal. Alguma questão de violência justiica que o legislador, em um
Estado de Direito, prescreva uma pena à realização de determinado comportamen-
to. Dessa forma, atribui-se a qualidade de crime à conduta praticada. Porém, a rela-
ção do criminólogo com os conlitos violentos não ica compreendida apenas dessa
maneira: “as próprias prescrições realizadas pelo legislador contêm uma dose elevada
de violência” (ANITUA, 2008, p. 31-32).
De acordo com Anitua (2008, p. 160), a questão da violência deve ser vista
não apenas sob o enfoque das penas. Um estudo criminológico do indivíduo, bus-
cando os fatores que contribuem para a formação da pessoa criminosa teria resulta-
do mais efetivo na redução da criminalidade, visto que, o modelo punitivo existente
contém medidas violentas, sem soluções concretas para o problema.
Além da identiicação dos fatores que levam indivíduos a cometerem crimes,
devem ser associadas às políticas públicas como instrumento de inserção, de forma
justa e igualitária (BRENNER, 2009). Associado a isso, se faz necessária a elabora-
ção de legislações, doutrinas e jurisprudências que deem conta da realização de um
Direito, sempre mais célere e justo (ALBRECHT, 2010).
Os fatores determinantes para a prática de crimes podem estar relacionados,
tanto com fatores internos, quanto com fatores externos. Relacionados aos fatores
internos estão os de cunho biológico, psicológico e psiquiátrico (PRATA, 1980).
A Antropologia (Biologia Criminal) segue a escola positivista que tem como
seu precursor, o médico César Lombroso, classiicando o criminoso em seu aspecto

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biológico. Na concepção de Lombroso (1836-1909,citado por ANITUA, 2008),


existia uma tipologia antropológica que deinia o “criminoso nato”.
A Psicologia reconhece a importância do cérebro humano na conduta do
comportamento:

Este conjunto de conhecimentos, guardados na célula


nervosa do cérebro humano, forma a personalidade inte-
lectual e moral do homem, diferente de cada indivíduo,
fazendo de cada um deles um ser peculiar, com defeitos e
virtudes, orgulhoso ou frustrado, saudável ou neurótico,
praticando benemerências ou crimes, algumas vezes com
fundamentos estranhos (PRATA, 1980, p. 135).

A formação de cada indivíduo ocorre através das várias experiências ocor-


ridas ao longo da vida, inluenciando seu comportamento, explicando, de certa
forma, suas atitudes diante da sociedade (PRATA, 1980).
Fatores psicológicos que inluenciam os indivíduos no comportamento cri-
minoso estão relacionados à neurose, à psicose e à perversão.
Conforme Webwe e Scheerer (1989, citados por ALBRECHT, 2010), a Cri-
minologia como ciência empírica,surgiu no inal do século XIX, época em que a ci-
ência possibilitava avanços técnicos devido ao progresso, e cada vez mais rápidos. As
crenças foram substituídas por verdades cientíicas e as transformações aumentaram
a produtividade, proporcionando mais conforto à vida das pessoas.
A prisão foi o local de nascimento da Criminologia, com o surgimento dos
primeiros criminólogos, tendo como método a medição dos criminosos (ALBRE-
CHT, 2010). Os precursores do estudo da Criminologia foram os médicos, que
buscavam uma explicação para o crime na formação congênita ou hereditariedade
dos indivíduos (ANITUA, 2008).
De acordo com Anitua(2008), há diferenças físicas ao comparar diferentes
criminosos e doentes mentais, através de pesquisas antropométricas.
A Justiça Criminal utiliza o sistema penal de forma seletiva, procurando
identiicar os comportamentos antissociais apresentados pelos indivíduos.
Conforme Albrecht (2010), a persecução penal segue o caminho a seguir:

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O jurista penal precisa saber que a persecução penal se


apresenta como um processo de seleção progressiva. Con-
trole social informal já é amplamente realizado na área
procedente. Origem, educação, posição sócio-estrutural,
formação escolar e proissional, são variáveis centrais de
determinação, que controlam a iltragem no Sistema de
Justiça Criminal e, inalmente, produzem o ‘homo juridi-
cus criminalis’ (ALBRECHT, 2010, p. 221).

Algumas teorias segundo Giddens (2005), explicam a causa da criminalidade


como a atributiva, da subcultura, das técnicas de neutralização e do etiquetamento.
Assim, a Criminologia deixa de estudar as causas da criminalidade e passa a estudar
os processos de criminalização.
Para Foucault (2012, p. 245), “os condenados são tomados como bodes ex-
piatórios servindo como espetáculos para a população no sentido de dar exemplos
punindo os que cometem delitos”. A sociedade procura identiicá-los através de seus
trajes, rosto ou proissão.
A identiicação, utilizando a medicina como meio de controle, foi idealizada
por Bertillon(1879, apud PASQUALI; ARAÚJO, 2007). Foi o primeiro método
cientíico de identiicação civil e criminal observado por Pasquali; Araújo (2007).
Elese baseia em métodos antropométricos do esqueleto e do corpo, em caracteres
morfológicos cromáticos e individuais.
Posteriormente, Vucetich (1894, apud PASQUALI e ARAÚJO, 2007), des-
cobriu um método de identiicar as pessoas isicamente consideradas, por meio dos
desenhos formados pelas cristas papilares da derme, nas extremidades dos dedos
(PASQUALI; ARAÚJO, 2007).
Augusto Comte (1798-1857), teórico francês, criou a corrente de pensa-
mento denominada de Positivismo quando percebeu a necessidade de um estudo
cientíico da sociedade.
Para Durkheim (1973, citado por GIDDENS, 2005, p. 176) um dos princi-
pais teóricos funcionalistas, o crime é normal nas sociedades, especialmente, quan-
do icam mais complexas, tendo em vista o seu crescimento e desenvolvimento,
“Durkheim via o crime e o desvio como fatos sociais; acreditava que ambos fossem
elementos inevitáveis e necessários nas sociedades modernas” (GIDDENS, 2005,
p.176).
De acordo com Taborda (2012), a Psiquiatria considera três campos impor-
tantes para o estudo da formação social dos indivíduos: o cognitivo, o afetivo e o

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psicomotor.
José Taborda (et al., 2012) aduzem:

O exercício da medicina deve compreender três domínios,


ou áreas indissociáveis entre si: o cognitivo, o afetivo e o
psicomotor. O domínio cognitivo é a expressão do conhe-
cimento intelectual e cientíico do médico. É por meio das
ciências biológicas, psicológicas e sociais que o médico
adquire o saber que lhe permitirá exercer a medicina nos
moldes e parâmetros cientíicos, ou seja, fundamentado
na citologia, genética, histologia, anatomia, isiologia,
imunologia, microbiologia, isiopatologia, bioquímica,
biofísica, psicologia e sociologia (TABORDA, et al., 2012,
p. 28).

Ao considerar as atitudes individuais das pessoas é necessário ter em mente


o cuidado de veriicar, não só os aspectos biológicos, mas também, as emoções, os
desejos, os sentimentos, as motivações e as inclinações.
Para identiicar essas reações deve-se considerar no comportamento humano,
os processos mentais e a personalidade de cada indivíduo, fazendo uma associação
da relação com a família, a sociedade e a inluência das múltiplas culturas (MATOS,
2014).
Zaluar (2004, p. 234) explica que “a violência é sinônima de desigualdade,
exploração, dominação, exclusão, segregação e outros males usualmente associados
à pobreza ou à discriminação de cor e gênero”. Os jovens que se utilizam da vio-
lência nas suas ações criminosas, não é meramente porque eles querem ser violen-
tos, mas porque também foram violentados pelo Estado, pela própria sociedade e
principalmente, por policiais despreparados. O medo da criminalidade violenta, na
opinião de Zaluar (2004), está vinculado às posições assumidas diante dos pobres
pelos políticos e representantes, encarregados da ordem pública e da lei.
As maneiras de ser do criminoso não são iguais. O que faz um criminoso ser
diferente do outro? Porque aconteceu? Porque se desenvolveu? O Direito Penal não
dá conta de resolver e se utiliza de outras disciplinas como a Psicologia, Sociologia,
Psicopatologia e Psiquiatria para entender a formação da personalidade dos indiví-
duos.
Conforme Zimmermann (2011, p. 90), o ato criminal é decorrente de um
processo de percepção e apreendido pelo indivíduo:

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A passagem do ato criminal seria, portanto, um processo


de aprendizagem das comunicações e deinições favoráveis
ao crime, que se daria através de um ‘processo altamente
seletivo e contingente que se faz pela associação do sistema
psíquico às ideias disponíveis, e, sobretudo (mas não ex-
clusivamente), com a ajuda das interações face a face com
pessoas próximas’ (DEBUYST, et al., 2008:385). Ou seja,
o sistema psíquico, que seria independente de qualquer
condição material, como pobreza, constituição biológica
etc., selecionaria as ideias, disponíveis no ambiente, que
contribuiriam para a escolha da prática criminal.

Quando se percebe algo, os objetos são armazenados no cérebro, sendo pos-


teriormente, usados no caso de uma rememoração. Essa percepção tem como deter-
minantes o propósito, a atenção, a consciência e o pensamento (ZIMMERMANN,
2011).
O estilo parental constitui as práticas educativas parentais utilizadas pelos
responsáveis, objetivando educar, socializar e controlar o comportamento dos ilhos
(BRANDENBURG, 2005). São as atitudes dos pais que criam um clima psicológi-
co-emocional, através do comportamento deles. Esse estilo, muitas vezes, desenvol-
ve práticas negativas que devem ser evitadas como: punição inconsistente (ausência
de rigidez nas regras); supervisão estressante; disciplina relaxada; abuso físico e mo-
ral e correção inluenciada pelo humor.
Na concepção Taborda (et al., 2012, p. 99):

Assim a família passou a constituir uma unidade socio-


lógica, incumbida de transformar organismos biológicos
em seres sociais. Os pais, agentes socializadores por exce-
lência, são os responsáveis primordiais pela transmissão
dos padrões culturais, ideológicos e morais. Na perspecti-
va histórico-cultural, todo indivíduo é formado nas e por
meio das relações sociais.

Os fatores sociais e culturais existentes como, por exemplo, os costumes, a


religião, a densidade da população, as condições econômicas e políticas, a justiça,
as condições da família, entre outros, são responsáveis pela formação das pessoas,
(PRATA, 1980). Elas agem de acordo com as situações externas vivenciadas, e não,

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pela sua simples vontade. O indivíduo é produto também do meio a que está sub-
metido. Fatores como a pobreza, a falta de emprego, aliados à falta de educação, de
formação moral levam os indivíduos à falsa representação da realidade.
Todas as crianças apresentam algum distúrbio de comportamento em al-
guma fase da vida (BEE, 1984). Se forem desordens de conduta (agressividade,
delinquência), geralmente, estão inseridas em um meio familiar desequilibrado, no
qual os pais são desajustados ou inconsistentes à disciplina dos ilhose demonstram
hostilidade e rejeição. Como consequência, as crianças não estruturam de forma
saudável suas relações afetivas e autoestima, aprendem a ser agressivas e violentas
com os outros (BEE, 1984).
Todo indivíduo submetido durante seu desenvolvimento a pressões, violên-
cia e negligência desenvolve um comportamento distorcido e, conforme sua forma-
ção, por ter um comportamento vitimizado, antissocial ou resiliente (ANHTONY,
1980, apud ANAUT, 2005).
O Código Penal Brasileiro, Lei 7.209/1984, estabelece normas legais disci-
plinadoras sobre inimputabilidade, em seus Artigos 26, 27 e 28.
Conforme Anaut (2005, p. 43) “a resiliência é a capacidade de sair vencedor
de uma prova que poderia ter sido traumática, com uma força renovada”. A resili-
ência pode ser trabalhada para que alcance um desenvolvimento desejável em cada
indivíduo. Para isso, é necessário estimular a autoestima, a coniança, o sentimento
de esperança, a autonomia, a independência, a sociabilidade, as relações sociais, que
permitam enfrentar problemas e resolvê-los, adquirindo a capacidade de prever as
consequências.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo o exposto e de tantas considerações oriundas do presente
trabalho, veriicou-se que para compreender as consequências da criminalidade na
sociedade se faz “mister” estudar a formação e de que maneira o indivíduo se tor-
naum criminoso. Analisar os processos para sua educação é de suma importância
para identiicar os fatores determinantes para a prática do crime.
Para uma compreensão mais sistêmica do fenômeno da criminalidade deve-
-se considerar na análise todos os fatores: o crime, o criminoso e os motivos deter-
minantes. Portanto, para entender os aspectos da Criminologia e as consequências
na sociedade, é necessário conhecer todo o processo para que se tenha informações

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necessárias no sentido de poder obter maior controle social, na busca de programar


políticas públicas eicientes para garantir a redução da criminalidade, necessária para
a tranquilidade e harmonia entre os cidadãos.
Já em relação ao comportamento e à formação do criminoso, conclui-se que
desde os estudos iniciais de Bertillon (1879), Vucetich (1894) e posteriormente
Lombroso (1909), utilizando a Medicina para identiicar o criminoso, tinha-se
como objetivo o controle da sociedade, buscando construir um peril antropométri-
co do esqueleto e do corpo, ou seja, identiicar um estereótipo.
Entretanto, o estudo cientíico que buscou explicar a verdadeira origem da
formação do criminoso surgiu com a Psiquiatria e a Psicologia.Ao se concluir que o
indivíduo não possuía um tipo físico, buscou-se identiicar os fatores que contribu-
íam para que aspessoas tivessem desvio de conduta.
Através de pesquisas, percebeu-se que cada indivíduo possui percepções di-
ferentes e que, a partir dessas percepções armazenadas na mente, ele vai construindo
sua personalidade. Essas percepções são inluenciadas por vários fatores dos quais
três têm importância fundamental: o biológico, o sociocultural e o parental.
É fundamental o estudo da vítima, visto que, em sendo ela a maior prejudicada de-
vido ao descaso dos órgãos públicos, além do medo e da vergonha que ela enfrenta,
na maioria dos casos, não busca seus direitos, o que mascara as estatísticas.
Tudo isso faz com que não se tenha a verdadeira noção do problema, tornan-
do deicientes as medidas em busca de soluções adequadas. O grau de importância
dessas informações é que elas são resultado da própria vítima e não do sistema legal.
É possível ainda, veriicar a efetividade do sistema, revelando os erros que causam
enormes sofrimentos à população em geral, mas especiicamente, e com maior ex-
tensão, às pessoas pertencentes às classes sociais menos favorecidas.
Muitos autores acreditam que os criminosos são portadores de transtorno
antissocial, intratáveis e irremediáveis e que deveriam ser imputáveis. Outros, os
consideram semi-imputáveis porque têm consciência de seus atos, mas não contro-
lam sua vontade, precisam satisfazer suas necessidades e realizar seus desejos imedia-
tos.
Deve-se discordar dos autores que os incluem numa determinada categoria, pois
cada indivíduo é diferente. Devem ser realizados exames, entrevistas e todos os
meios necessários para se identiicar o grau de perturbação mental e daí, sim, dizer
se pode ser responsabilizado penalmente e responder pelos seus atos.
Os manicômios judiciários deveriam atuar no tratamento das pessoas con-

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sideradas semi-imputáveis ou inimputáveis, dependendo o tipo de regime ao qual


foram sentenciadas, mas, pouca coisa mudou em relação à sua inalidade descrita
por Foucault (2012), pois continuam depósitos humanos destinados a isolar da so-
ciedade quem não condiz com o cenário, com as aparências.

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