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fa Bu ood4Gsrre BSE 82 tstoom 190 EELS) teadusio do oxiginal er ngs Nations end Noma, g & ne 118) Programing, xh really 8 <5 Cope 848 Pinky Wainer eae a Oypteh See3 Misio Rogério Q, Moraes eee ‘Becioie fee" Marcelo N. Morales 3°28 Carmen TS. Conia BSS) Tstrozt € capa gue Paul Kise goas Moruntain Vitlage (Avscumnal), 1984 (detalhe) 382% hea x! madelra compensa, 90,03 54cm 2088 Galeria Rosengart, Lucezne $868 Dados de Catalogacio na Publicagéo Internacional (CIP) (Gamart Brasileira do Livro, SP, Brasil) Hobsbawn, Bric], 19P ‘Nagbea e nacloralismo desde 1780 : programa, mito € realidade / EJ. Hobsbawm ; [traducio Maria Celia Paoli, ‘Anna Maria Quis). Rio de Janeico : Paz e Terra, 1990, 1. Morimentos de liberagio nacional ® Nacionalismo 8, Nagdea I Thule. be con a905¢ gene 2 ww AYFFOATKURCG BS Indices para catélogo sisteméticc 1 tibenet secon: Monnens: Ctrl poten $2.09 2 Movant lbragie mac Conea plea $2109 $Nokines “ae sae tir Oops oti sie Direlws sdgulridon peta EDITORA PAZ E TERRA ¢ Tua do Teun 177 i angie storage Tel (O11) e289 oe Rua Sto Joss, 90-11" andar > ‘20010 - Rio de Jeneleo/R ‘Tel, (021) 922-8065 Ge que ve seserva a propriedade desta wadvsso Crnathe Bitoriat Antonio Candide Femando Gasparian Bemando Henrique Cardoso 1991 Impresso no Beasil/ Paved i Braid SETONiaL OF fos AGAG Indice Prefécio Introdugio 1. A nagio como novidade da revolucao ao liberalismo IL. O protonacionalismo popular II]. A perspectiva governamental IV. As transformagées do nacionalismo: 1870-1918 V. O apogeu do nacionalismo: 1918-1950 VI. O nacionalismo no final do século XX Indice remissive 27 10r 195 159 195 219 e283 38. Nordmann, in. Nora (org), Lat Liss de Mémoi, vel. U**, p. 52, idem, pp. 5556. Brix, Die Umgangpachen, p90. Richard Béckh, “Die statsische Bedeutung der Volkssprache als Kennzeichen der aationaliii" (Zaischnft fir Vithrpychologie und sprachuissenschaft, 4, 1866, pp. 259402); do mesmo autor, Der Deutschen Volksahl sn Srachgebit inden ewopischen Staaten (Beslr, 1869). ‘Ate Hitler distinguia os alemacs do Reich daqueles ‘alemies nacio- nals” (YoBsdewschd) que viva fora de suas fronteras, mas acs qusis cera dada a opgio de volar “para casa", no Reich. Brix, Die Ungangypachen, p. 94. Thidem, p. 114, 124 Vv As transformagées do nacionalismo: 1870-1918 Uma vee tendo sido alcangado um certo grau de desenvolvimento ‘europeu, as comunidades de povos, lingtisticas e culturais, tendo ruaturado silenciosamente através dos séculos, emergem do mundo da existéncia passiva como povos (pasiver Vokhai. Tornamse cconscientes de si mesmas como uma forca que passui destino his. térico. Demandam o controle do Estado como © mais alto instru mento de poder disponfvel, ¢ lutam pela sua autodeterminacio politica, O aniversirio da idéia politica de nagio eo ano em que nasceu esta nova consciéncia 6 1789, 0 ano da Revolucio Francesa?! Duzentos anos apés a Revolugo Francesa, nenbum historia- dor sério e, espera-se, ninguém que leu este livro até aqui poderd considerar afirmacSes como a acima citada mais do que um exer- Cicio em micologia programatica. No entanto, essa citacdo parece ser uma declaragio representativa do “principio da nacionalida- de” que convulsionow a politica internacional da Europa depois de 1880, criando um miimero de Estados novos, dos quais a meta- de corresponderia, até onde era possivel, ao principio que Maz- inj formulava como "Cada nacio, um Estado”; entretanto, esse ‘grupo poderia ser menor se comparada a outra metade, que se- guiria a formulacdo “apenas um Estado para toda a nagio"? Esse Principio € particularmente representativo, considerando cinco diregdes: a énfase na comunidade cultural ¢ lingtistica, que era uma inovagio no século XIX; a énfase no nacionalismo, cuja ax 125 piragio era a de formar ou tomar os Estados, € ndo as “nacies", cexistentes; o seu historicismo € o sentido de missio reivindicagio da paternidade de 1789; e, no menos, a sua ambigiidade terminolégica ¢ retérica. No entanto, se a citagio parece, & primeira vista, algo que 0 préprio Mazzini poceria ter escrito, de fato ela foi escrita setenta ‘anos depois das revolucdes de 1830, por um socialista mnarkiano, de origem morévia, em um livro sobre os problemas especificos do império Habsburgo. Em poucas palayras, embora pudesse set confundida com o “principio de nacionalidade” que transformou ‘© mapa politico da Europa entre 1830 ¢ 1870, pertence de fato a ‘uma fase posterior ¢ distinta do desenvolvimento nacionalista na historia européia. ‘© nacionalisino dos anos 1860-1914 diferia em trés grandes aspectos da fase maxziniana de nacjonalismo. Primeiro, abando- ava o “principio do ponto critico” que, como vimos, tinha sido central ao nacionalismo da ea liberal. Doravante, qualquer corpo de pessoas que se considerasse uma “nagao” demandatia o dircito 4 autodeterminagfo, o que, em iiltima andlise, significava 0 direi- toa um Estado independente soberano separado para seu territé- rio, Em segundo lugar, ¢ em conseqiténcia dessa multiplicagio de nagées “nao hist6ricas” potenciais, a etnicidade ¢ a lingua torna- ramsc o critério central, crescentemente decisivo ou mesmo tini co para a existéncis de uma nagéo potencial. Entretanto, havia uma terceira mudanca que afetava ndo tanto os movimentos nacionais nio estatzis, entio cada ver mais numerosos ¢ ambici- ‘os04, mas os sentimentos nacionais dentro dos Estadosnagbes es tabelecidos: uma mudanga aguda no direito politico a naglo © bandeira, para a qual o termo “nacionalismo” foi realmente in- ventado na(s) iltima(s) década(s) do século XIX. A citagdo de Renner representa as primeiras duas mudangas, mas evidente- mente no a terceira, pois esta vinha da esquerda. Existem és razdes pelas quais freqiientemente nao se reco mhece que muito tardiamente o critério emolingiistico se ternou de fato dominante para definir uma nacio. Primeiro, os dois ‘movimentos nacionais no estatais mais proeminentes da prime ra metade do século KIX eram essencialmente baseados em co- munidades de letrados, unidos através de fronteiras politicas ¢ 126 geograficas pelo uso de uma lingua estabelecida da alta cultura € por sua literatura, Para os alemdes e italianos, a sua lingua nacio- nal no era meramente ums conveniéncia administrativa ov um meio de unificar a comunicagio ampliada do Estado, como o francés tinha sido para a Franga desde a ordenacio de Villers Cottcrets em 1539; ou nem mesmo como plano revoluciondrio para trazer as verdades da déncia, do progresso € da liberdade para todos, assegurando a permanéncia da igualdade para os cida- ‘dios e prevenindo a revivescéncia da hierarquia do ancien regina como era para os jacabinos.‘Era até mesmo mais do que veiculo de expressio para uma literatura de prestigio ¢ para expressio imelectual universal. Era, na verdade, a unica coisa que 0s fazia alemaes ¢ italianos, € conseqiientemente tinha um peso maior para a identidade nacional do que, digamos, o inglés tinha para quem o lia ¢ escrevia. No entanto, nessa época, para as classes médias liberais italianas ¢ alemas a lingua provia entio um argu: mento central para a criacio de um Estado unificado nacional, © isto nao tinha acontecido em lugar nenhuum, na primeira metade do século XIX. As demandas politicas por independéncia na Po- Ionia ou na Bélgica nao cram baseadas na lingua, nem tampouco as rebelides de varios povos talcanicos contra o império otomano, ‘que produziram alguns Estados independentes. Menos ainda era ‘0 caso do movimento irlandés na Gri-Bretanha, Alernativamen- te, quando 08 movimentos lingdisticos ja tinham uma base polit ‘ca significativa, como nas terras tchecas, a autodeterminacao nar ional (como oposta a0 recenhecimento cultural) no era ainda ‘uma questio, ¢ nao se pensava seriamente no estabelecimento de um Estado separado. No entanto, desde o final do século XVIII (¢, em grande parte, sob influéncia intelectual alema), a Europa havia sido varr da pcla paixdo romantica pelo campesinato puro, sirmples © nio corrompido; e para essa redescoberta folclética do “povo” foram essenciais as Iinguas verndculas que este falava. Contudo, embora ese renascimento cultural populista tena fornecido a base para muitos movimentos nacionalistas subseqientes, e tenham justift cavelmente entrado no que Hroch classificow como a primeira fase (“fase A”), © proprio Hroch deixou claro que, em nenhura sentido, isso implicava um movimento politico do povo que o 197 fazia nem alguma aspiracio ou programa politico. Na verdade, mais freqitente do que a descoberta da tradigéo popular eide sua transformarao em “tradicéo nacional” de alguns grupos campone- ses esquecidos pela histéria era o fato de serem fruto de um trabalho de alguns entusiastas da classe dominante ou elite (ex trangeira) como os alemies bilticos ¢ os suecos finlandeses. A Sociedade de Literatura Finlandesa (fundada em 1881) foi esta- belecida por suecos, e seus registeos eram feitos em seco, € todos os escritos do principal idedlogo do nacionalismo cultural fin- Jandés, Snellman, parecem ter sido feitos em sueco.* Embora nic se possa negar a formario ampla de movimentos de revivescéncia lingitistica e culturai no periodo de 1780 a 1840, 6 um erro com fundir a fase A de Hroch com a fase B, quando passou a existir umm corpo de ativistas devotados a agitagéo potitica pela “idéia nacional”; € menos ainda com a “fase C", quando se pode contar com apoio de massa pera a “idéia nacional". Como mostra 0 caso briténico, nfo hi casualmente nenhuma conexio necesséria entre a revivescéncia de movimentos desse tipo e as agitacoes nacionais ou movimentos de nacionalismo politico subseqiientes, ¢, a0 coniririo, esses movimentos nacionalistas podem nao ter nada a vet, originalmente, com a revivescéncia cultural. A Sociedade Folelore (1878) ¢ 0 reflorescimento, na Inglatenza, das cangies folcléricas nao eram mais nacionalistas do que a Gypsy Lore So ety. A terceira razdo st refere mais ao problema da identificagio étnica do que da identificacao Linguistica. Isso esta relacionado com a falta de teorias influentes, ou pscudoteorias, que identifica- yam as nacdes com descendéncia genética (estas 86 apareceram muito tardiamente no século XIX). Mas esse assunto serd cuidado ‘mais adiante. A crescente significagio da “questio nacional” nos quarenta anos que precederam 1914 ndo € medida simplesmente por sua intensificacao nos velhes impérios multinacionais austro-hiingaro € turco. Havia se tornado uma questio importante da politica interna de quase todos os Estados europeus. Assim, precisamente no Reino Unido cla nio ficou muito tempo confinada ao irlan- dés, até mesmo o nacionalisino irlandés crescia com esse nome — © mimero de jomais que sc autodescreviam como “nacionais” ou 128, jacionalistas” cresccu de um em 1871 para treze em 1881, che- gando a 33 em 1891 —*e se torraram politicamente explosives na politica britinica. Contudo, é freqientemente esquecido que esse foi o perfode no qual pela primsira vez foram reconhecidos ofice almente os interesses galeses como nacionais (a lei galesa do fe- chamento aos domingos, em 1881, foi descrita como “a primeira Jei do Parlamento especificamente galesa”),” € quando a Escécia conseguiu ndo s6 wm mecanismo modesto de regulamentacio mera, um escritério escocés no governo, mas também a partici paso nacional garantida no gasto publico do Reino Unido, através da chamada Coschen Formula, O nacionalismo interno po- também tomar a forma de ascensio daqueles movimentos de direita para os quais o termo “nacionalismo” foi de fato cunhado nesse periodo — como na Franga, Itélia ¢ Alemanha — ou, mais geralmente, da xenofobia politica que encontrou sua expresso mais deploravel, embora nio fosse a tinica, no antisemitismo. Que um Estado tdo relativamente trangiilo como a Suécia pudes- se ter sido, nesse periodo, sacudido pela secessio nacional da Noruega,(1907) — que nao foi 2roposta por ninguém até a déca- da de 1830 — é, sem diivida, tio significativo quanto a paralisia da politica dos Habsburgo diante das agitagdes rivais nacionalistas. ‘Além disso, € durante esse periodo que encontramos movi ‘mentos nacionalistas se multiplicando em regides onde eram ple- namente desconhecidos, ou enire povos até entio interessantes apenas para os folcloristas; e, mesmo que pela primeira ver, fane asticamente também no mundc nao ocidental. Nao € muito claro ‘© quanto esses novos movimentos antiimperialistas podem ser ‘olhados como nacionalistas, embora seja irrecusdvel a influgncia da ideologia ocidental nacionalista sobre seus porta-vozes e ativis tas — como no caso da influénca irlandesa sobre o nacionatismo indiano, Entretanto, mesmo se ficarmos apenas na Europa e em seu entorno, encontramos em 1914 muitos movimentos que nio haviam existido em 1870: entre arménios, geongianos ¢ lituanos € ‘outros povos balticos, entre os judeus (e versdes sionistas € no sionistas), entre macedénios ¢ albaneses nos Balcds, entre rutenos ¢ croatas no império Habsburgo — o nacionalisimo croata nio deve ser confundide com apoio anterior croata para © nacio- nalismo iugoslavo, ou ‘ilirianismo” —, entre os bascos ¢ catalies, 129 ‘entre os galeses, na Bélgica com um movimento flamengo radi fizado deforma dsunia bem como inesperades eines ‘ques ‘de nacionalismo locel em lugares como a Sardenha. Podemos até mesmo detectar os primeiros sinais do nacionalismo érabe no império otomano. ‘Como ja foi sugerido, a maioria desses movimentos destaca- va agora 0 elemento lingiistico ¢/ou étnico. Que isso Fosse, com freqiéncia, novo pode ser prontamente demonstrado. Antes da fundagao da Liga Gaélica, em 1898, que inicialmente nao tinba fins politicos, a lingua irlandesa ndo cra uma questiio do movi mento nacional irlardés. Nao figurava nem na agitacéo do apelo de O'Connell — embora o libertador fosse um koryman de fala ‘gaélica — nem no programa feniano. Mesmo as tentativas sérias de criar uma lingua irlandesa uniforme a partir do comum com plexo de dialctos née foram feitas antes de 1900. O nacionalismo finlandés tematizava a defesa da autonomia do grao-ducado sob 0 governo dos czares, ¢ 0s liberais finlandeses que surgiram depois de 1848 assumniram a idéia de que representavain uma nagio tnt «2: linge, © nacinaliamo finlandés apenas se tormou esenciah mente lingifstico na década de 1860 (quando wm decreto in tal melhorou a posio pablia da lingua finland dante dos suecos), mas até a década de 1880 a lula lingiistica permanecen, ‘em grande parte, uma luta de classes interna entre os finlandeses de classe baica (representados pelos fenomen, que queriam. uma nica nagio tendo 6 finlandés como lingua) e a minoria sueca de classe ata (representada pelos svecomen, que argumentavam que 0 pais tinha duas nagdes e, portanto, duas linguas). Somente depois de 1880 € que coincidiram a Iuta pela autonomia ¢ a luta pela lingua ¢ pela culture, dado que © ciarismo destocouse para scu préprio nacionalisme russificador® Da mesma forma, 0 catalonismo, como um movimento cul turablingiistico (conservador), nao pode ser historiado mais além de 1850, ¢ seus Jocs Florals (andlogos ao Fisteddjodau galés) ndo foram revividos antes de 1859. A prépria lingua nao foi padroni- zada, de forma oficial, até o séeulo XX,! ¢ 0 regionali niio se preocupou com a questio lingaistica até 1880. getido que o desemvolvimento do nacionalisino basco ficou uns trinta anos atras daquele do inovimento catakio, embora a mu: 130 danga ideoidgica do autenomismo basco (que foi da defesa da restauragao de privilégios feudais antigos para o argumento lin- ilistico-ractal) tenha sido sibita: em 1894, menos de vinte anos dlepois do final da segunda guerra carlista, Sabino Arana fundow ‘0 seu Partido Nacional Basco (PNV), inventando, a propésito, o Jnome basco para o pais (Euskadi) até entao inexistente.” ‘Na outra extremidade da Europa, os movimentos nacionais dos povos bilticos ainda estavam apenas saindo de suas primeiras fases (culturais) no ltimo terco do século ¢, nos remotos bikes, onde a questio maced@nia fez aparccer sua carga sangrenta de- pois de 1870, a idéia de que as virias nacionalidades que viviam ewe territério deveriam ser diferenciadas por sua lingua foi a Sitima que ating os Estados da Sérvia, Grécia, Bulgaria ea Subli me Porla, os quais passaram a lutar por cla? Os habitantes da Macedénia foram difercnciados por sua religito; ou entio as réi- vindicages por esta ou aquela parte da Macedénia foram basea- ‘las em uma histria que ia da Idade Média 20 Mundo Antigo; ou fentéo a diferenga vinha por conta de argumentos etnograficos sobre costiimes ¢ priticas rituais comuns. A Macedénia se tornou jum campo de batalha para os filblogos apenas no sécule XX, a0 paso que os gregos, que nio podiam competir nesse terreno, Compensaramse ao destacar urna etnicidade imaginaria. "Ao mesmo tempo — mais cu menos na segunda metade do século KIX —, 0 nacionalismo éinico recebeu reforgos enormes; fem termos prilicos através da crescente © maciga migragio geo- grafica; na teoria, pela transformagio da “raga” ein coneeito cen fal das ciéncias sociais do séeulo XIX. Por um lado, a velha ¢ tstabelecida divisio da limnanicade em algumas poveas “racas” que se diferenciavam pela cor da pele pasiou a ser elaborada ‘agora em um conjunto de diferenciagaes “raciais” que separavam pessoas que tinham aproximadarnente a mesma pele lara, come Farianos” e “semitas” ou, cntre os “arianos”, 08 nérdicos, 0s alpi- ‘nos ¢ os mediterrineos. Por outro lado, © evolucionismo darwt nista, suplementado pelo que seria depois conhecido como ge- nética, alimentou o racismo com aquilo que parecia ser um con- junto poderoso de razbes “cientificas” para afastar ou mesmo, ‘Comoe aconteceu de fato, expulsar ¢ assassinar estranhos. Tudo fsso aconteceu comparativamente tarde, O antisemitismo nio 131 adquiriu um cardter “racial” (diferente de um cardter religioso cultural) até por volta ce 1880; os maiores profetas do racismo alemao e francés (Vacher de Lapouge, Houston Stewart Cham berlain) pertencem a década de 1890, ¢ os nérdicos nao fiveram nenhum discurso, nem 0 racista, até por volta de 1900." Os liames entre 0 racismo e 0 nacionalismo sio dbvios. A lingua e a “raca” eram fecilmente confundidas como no caso dos “arianos” ¢ “semitas", para indignagao de estudiosos,eserupulosos como Max Muller, para quem a “raga, um conceito genético, néo podia ser inferida da lingua, que ndo era herdada, Além disso, hd luma evidente analogia entre a insisténcia dos racistas na pureza racial € nos horrores da miscigenagao, ¢ também a insisténcia de tantas formas de nacionalismo lingitstico — & maioria, talvez — sobre a necessidade de purificar a lingua nacionat de elementos estrangeiros. No século XIX, os ingleses foram bastante excepcio- nais em exagerar suas origens hibridas (bretdes, anglosaxdes, e candinavos, normandos, escoceses, irlandeses, etc.) e orgulharse da mistura floldgica de sua lingua. Contudo, 0 que trouxe 2 “raga” e a “nacio” mais verto ainda foi a pritica de usé-las como sinénimos postiveis, generalizando, de modo igualmente inexato, © carter “racial /nacions)”, como era entio a moda. Assim, como ‘observou um escritor francés, antes da Enlente Cordiale anglo- francesa de 1904, os do's paises tnham considerado um acordo como impossivel porque haveria uma “inimizade hereditéria” en- tue as duas ragas."* Des forma, 0 nacionalismo lingiistico ¢ © éinico reforgavamrse um ao outro. ‘Nao é surpreendente que o nacionalismo tenha conseguido espago tao rapidaments nos anos que vao de 1810 @ 1914. AS mudangas tanto politicas quanto sociais eram em fungio dele; isso, sem mencionar uma situagio internacional que fornecia abundantes desculpas para pendurar manifestos de hostilidade a estrangeiros, Socialmente, trés fatos deram um alcance crescente para o desenvolvimento de novas formas de invengao de comuni- dades — reais ou “imaginarias” — como nacionalidades: a resis téncia de grupos tradicicnais ameacados pelo ripido progresso da modermidade, as novas classes ¢ estratos, nao tradicionais, que rapidamente cresciam nas sociedades urbanizadas dos paises de- senvolvidos ¢ as migragées sem precedentes que distribuiram uma 132

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