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Mestrado em Design
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Setembro de 2015
INTRODUÇÃO
Durante intercâmbio que realizei em 2012, uma questão foi posta por um professor
em um exercício de ergonomia: deveríamos caracterizar um produto esteticamente, neste
caso uma garrafa d’água, e estabelecer para ele associações com o público-alvo em sua
faixa etária, estilo de vida e gênero. O objetivo do exercício era pensar ergonomia para
além da otimização do produto para o corpo humano, neste caso considerando também
um aspecto cognitivo. Ou seja, trabalhávamos com a hipótese de que o produto deve ser
legível em sua estética para que o usuário possa escolher o objeto com que mais se
identifica. Encontrei então uma dificuldade em caracterizar o produto como feminino ou
masculino, e isto despertou um interesse em prestar maior atenção na forma como os
objetos se expressam para o potencial consumidor. Como designer e mulher feminista,
me preocupo especialmente com as razões que motivam o desenvolvimento de produtos
caracterizados como sendo destinados a um gênero específico.
O tema central da pesquisa que venho propor com este projeto é a manifestação
subjetiva das características culturais de gênero nos produtos de uso pessoal. Pretendo
analisar a reprodução de valores socioculturais no processo de design, em especial aquele
que se relacionam com a imagem do que é feminino ou masculino. Trata-se de uma
pesquisa inteiramente nova em minha trajetória, uma vez que não estou partindo de
nenhum trabalho próprio anterior. Por este motivo, as leituras pertinentes estão passando
por estruturação e a pesquisa deverá avançar mais durante o período do mestrado.
A escolha desta categoria de objetos se deve à sua relação cotidiana com o íntimo do
indivíduo, que por sua vez enxerga nas formas, cores do produto ou de sua embalagem
fatores decisivos para a compra1. Se é possível dizer que escolhemos algum produto com
base em nossas leituras individuais da estética e nossas ideologias culturais, este produto
provavelmente estará incluído na categoria apresentada.
1
Segundo reportagem do site da Associação Brasileira de Supermercados. Minas Gerais, 2012. Aceso
em: setembro/2015. Disponível em:
<http://www.abrasnet.com.br/clipping.php?area=1&clipping=30110>
2.2 O DESIGNER COMO SUJEITO NA METODOLOGIA DE PROJETO
Os autores Leite, Iracema, Waechter, Hans e Campos, Fábio abordaram em seu artigo
intitulado “A representação do gênero no design” tema semelhante ao proposto neste
projeto. Nele, articulam-se ideias e críticas acerca das tradicionais metodologias de
desenvolvimento de produtos, no que diz respeito à formação do designer enquanto
sujeito. No processo de design existe uma preocupação com as necessidades e anseios do
público-alvo, e cabe ao designer decodificar estas necessidades, agregadas a um
complexo conjunto de significados do contexto em que eles estão inseridos2. Para além
da inserção de valores técnicos e necessidades funcionais no desenho, ocorre também a
reprodução e incitação de valores culturais individuais, estilos de vida e
comportamentos3. Para a pesquisa aqui apresentada, assim como para o artigo
supracitado, considerarei o aspecto subjetivo dos produtos e sua capacidade de
comunicação com o usuário, levando em conta que sua configuração é realizada por um
designer que é sujeito integrante de uma realidade sociocultural. É possível então deduzir
que um objeto não é formado apenas por fatores funcionais práticos, mas que funcionam
também como símbolos. Tais valores simbólicos são introduzidos no produto pelo
designer, que é o principal envolvido na caracterização daqueles e que não se posiciona
em um lugar neutro, pois atua utilizando-se não apenas de conceitos aprendidos durante
sua formação profissional, mas também de seus valores e experiências em sociedade.
Estas diferentes visões socioculturais podem incluir tendências sexistas ou
discriminatórias, caso este seja o pensamento vigente no meio em que se insere o designer
(MACHADO e MERKLE, 2010, p. 2).
2
LEITE, WAECHTER E CAMPOS apud ONO, 2006
3
LEITE, WAECHTER E CAMPOS apud DIAS FILHO, 2007
projeto podem ser resumidas em: 1. Problemática, 2. Coleta e análise de dados e produtos
similares, 3.Geração de alternativas, 4. Desenvolvimento do conceito escolhido, 5.
Testes, experimentações e ajustes4. Este conjunto de processos, embora efetivo na maioria
dos projetos, representa uma visão lógica e racional. A crítica que faço é a de que tal visão
desconsidera as vivências do designer e como estas serão transpostas subjetivamente no
produto, bem como coloca a interpretação emocional do usuário em segundo plano
quando comparada às necessidade físicas e práticas.
“(...) O efeito da dominação simbólica (seja ela de etnia, de gênero, de cultura, de língua
etc.) se exerce não na lógica pura das consciências cognoscentes, mas através dos
esquemas de percepção, de avaliação e de ação que são constitutivos dos ‘habitus’ e que
fundamentam, aquém das decisões da consciência e dos controles da vontade, uma
relação de conhecimento profundamente obscura a ela mesma. Assim a lógica paradoxal
da dominação masculina e da submissão feminina, que se pode dizer ser, ao mesmo tempo
e sem contradição, espontânea e extorquida, só pode ser compreendida se nos
mantivermos atentos aos efeitos duradouros que a ordem social exerce sobre as mulheres
(e os homens), ou seja, às disposições espontaneamente harmonizadas com esta ordem
que as impõem.”
4
MACHADO E MERKLE apud MEYER, 2006, p.4
2.3 IDEAIS E DIFERENÇAS DE GÊNERO
Lauretis (1987, p.207) define diferença sexual como conceitos abstratos que obtemos
acerca do que é masculino e feminino, mas principalmente a diferença da mulher em
relação ao homem. Esta classificação é feita no campo do inconsciente político, que é
perpetuado pela sociedade como um todo, inclusive pelas mulheres. As denominadas
tecnologias de gênero representam as características e os ideais de cada gênero e
contribuem para a continuidade deste modelo regulatório. Ao classificar os indivíduos
por gênero, os posicionamos dentro de um grupo social, ao qual a escolha de se pertencer
não é livre, mas também não é por determinação externa arbitrária. Dentro de uma cultura,
a noção de que o masculino e o feminino são distintos e se complementam
simbolicamente atribui a cada sexo um conjunto de conteúdos sociais, valores e
hierarquias (p. 211).
4.2 ESPECÍFICOS
Definir os conceitos culturais de feminilidade e masculinidade e problematizar a
naturalização destes;
Relacionar estética e função dos objetos ao conceito de imaginário;
Definir as diretrizes para a identificação do usuário com o produto;
Buscar e estudar metodologias que incluam preocupações sociais;
Entender o papel do designer na reprodução de valores culturais;
Observar e compreender a subjetividade nos objetos;
Comparar a intenção do design com a interpretação do usuário;
Realizar estudo de caso com objetos para cuidados pessoais, analisando a presença
de ideais de gênero em seu design.
5. JUSTIFICATIVA
6. FACILIDADES E OPORTUNIDADES
Uma das maiores oportunidades que vejo no mestrado é a convivência com outros
mestrandos que, assim como eu, visam o aprofundamento teórico das questões de design.
A estrutura da pós-graduação da PUC-Rio e o contato que ela me proporcionará com seu
corpo docente e possíveis orientadores, oferecem as ferramentas ideais para o
desenvolvimento da pesquisa e também para meu crescimento pessoal e profissional.
Certamente, no decorrer o mestrado, o trabalho tomará caminhos interessantes e novas
questões e problemáticas surgirão durante as disciplinas e orientações.
A literatura pertinente está em fase de levantamento e construção, uma vez que não
houve em minha trajetória de graduação uma pesquisa prévia dentro desta temática. Os
conceitos teóricos que considero fundamentais para o desenvolvimento da dissertação
incluem: metodologia de design, subjetividade dos objetos e ideais e diferenças de gênero.
8. METODOLOGIA
Como mencionei anteriormente, trata-se de uma pesquisa nova, para a qual não estou
partindo de nenhum trabalho anterior. Dessa forma, é preciso primeiramente realizar o
levantamento da bibliografia que será pertinente à dissertação, junto ao orientador. É
recomendável que estes textos sejam fichados, facilitando a consulta durante a elaboração
do texto. Definida a estrutura da pesquisa, ou seja, como a leitura será aplicada aos
estudos de caso e transposta para o texto, posso iniciar a produção textual da dissertação,
etapa mais longa do processo. A intenção é de que a coleta e a análise dos dados referentes
aos estudos de caso ocorram simultaneamente. Este estudo será feito com a seleção de
produtos da classe escolhida (objetos para o cuidado pessoal), seguida da categorização
destes e, finalmente, a análise dos objetos em relação à pesquisa desenvolvida. Ao mesmo
tempo, esta pesquisa deve ser redigida e incluída no texto, para evitar o acúmulo de dados
a transpor para redação. Ao final, espero chegar a conclusões sobre a reprodução de
ideologias de gênero nos produtos.
9. CRONOGRAMA
Levantamento da literatura
pertinente
Fichamento de textos
Conclusões
Produção textual
Entrega final
Introdução
1. Objetivos
1.1 Geral
1.2 Específicos
2. Revisão Bibliográfica
2.1 Metodologia de design
2.2 Subjetividade dos objetos
2.3 Ideais e diferenças de gênero
3. Hipótese e problema de pesquisa
4. Estudos de caso: produtos para cuidados pessoais
5. Conclusões
Referências bibliográficas
Anexos
BIBLIOGRAFIA