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CENTRO DE EDUCAÇÃO
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
RECIFE
2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO
RECIFE
2011
SANDRA REGINA PAZ DA SILVA
RECIFE
2011
Silva, Sandra Regina Paz da
Inclui Bibliografia.
COMISSÃO EXAMINADORA
Dedico ao int elect ual e pesquisador, meu quer ido e est imado
orient ador Profº. Dr. Ramon de Oliveira, que cont r ibuiu para que est e
t rabalho brot asse em silêncio, na escut a, na cr ít ica const ant e, nas idas e
vindas. A você, minha grat idão, respeit o e admiração.
AGRADECIMENTOS
A Lula, Cleide, Nilsa e Marce lo, meus grandes e sempre a migos, que na
hora da dor, no mo ment o de doença, que marcaram est a t ese, souberam
demo nst rar amor, car inho e dedicação. A Lula pe los cu idados e at enção.
À Maur iza, amiga quer ida, presença ami ga e exemplo de so lidar iedade.
Est a leu o mat er ial para qualificação do trabalho, assim co mo sempre
rezou e me est imulou a co nt inuar per sist indo se m perder as forças.
A Rô mullo, pessoa quer ida, obr igada pe lo apo io, solidar iedade, escut a
amiga e por dizer: “a f orça est á dentro de você, não desanima, persi ste
[...].”.
À S heila Bezerra, minha mana do coração, obr igada pela escut a, car inho e
afet o, em t ant os mo ment os de so lidão.
À Rosa, minha assist ent e para cu idar das roupas, da casa, quando não
t inha t empo para ligar para mais nada. Obr igada.
Aos amigos e amigas, ant igos sem dedicação exclusiva do CEDU, Cent ro
de Educação da UFAL. Obr igada pela aprend izagem na lut a, na busca de
const ruir co let ivament e um espaço de t rabalho mais hu mano e just o.
Às bibliot ecár ias da Univer sidade Feder al de Alagoas, que gent ilment e
cont r ibuíram co m a pesquisa e so li c it ação de alguns t raba lhos import ant es.
Muit o obr igada!
Aos pro fessores Mart a Mar inho, Inêz e Gonzalo pela revisão ort ográfica,
gramat ical e t radução dos resumos em inglês e espanho l. Muit o obr igada!.
SIGLAS
BM - Banco Mundial
CEPAL -Co missão Econô mica para Amér ica Lat ina e o
Car ibe
Est e est udo analisa a no va po lít ica nacio nal de qualificação pro fissio na l
do Brasil, e t em co mo objet o empír ico os P lanos [P lanfor e P NQ]. O
objet ivo consist iu em analisar a inst it ucio nalidade da nova po lít ica,
buscando ident ificar as similit udes e difer enças e/ou as rupt uras e
cont inuidades ent re aqueles P lanos. A inst it ucio nalidade imp le ment ada
sinaliza co mo as po lít icas públicas de governos de educação profissio nal,
se acoplam a um pro jet o societ ár io do capit al, de qualificar para mant er
os níveis de explor ação do t rabalho humano. Nossa t ese é que t al
inst it ucio nalidade e os discur sos, a inda que apr esent em est rat égias,
cont ornos e arcabouços diferenciados, não deixam de submet er -se, co mo
polít ica de E st ado, ao modelo de acumulação capit alist a flexíve l. Modelo
que exige uma for ma específica de for mação, e que demanda um per fil de
força de t rabalho para at uar nesse mo delo de acumu lação, além de
fort alecer a hegemo nia do capit al sobr e o t rabalho. A abordagem da
pesqu isa é qualit at iva, e t eve co mo metodologia o est udo de nat ureza
document al e bibliográfica. A análise document al fo i realizada p or
considerar mo s os regist ros como const rutos hist ór icos result ant es dos
embat es ent re as forças sociais no int er ior do Est ado. Para efeit o de
mat er ial dest e est udo, ut ilizamos os const rutos, produções e
nor mat izações de do is minist ér io s: o MEC e o MTE. A t écnica ut ilizada
para análise document al é a análise de cont eúdo. Além das fo nt es
document ais, recorremos às pesquisas e produções acadêmicas que t ê m
co mo objet o de est udo e análise as po lít icas de for mação do t rabalhador
da década de 1990 at é a at ualidad e. A pesquisa est á est rut urada em quat ro
capít ulo s que se co mplement am. Co mo result ados, ident ificamos que fo i
const it uído um pro jet o ident it ár io acerca da necessidade de qualificação
dos t rabalhadores, que envo lveu o empresar iado, sindicat os, organizações
do t erceiro set or e a burocracia est at al, e expr ime um ca mpo vast o de
consenso, sob a hegemo nia do capit a lismo. Par a minimizar as
cont radições própr ias da sociedade civil, nossa invest igação t ambé m
ident ificou co mo as classes do minant es impuseram ao Est ad o a
responsabilidade de mediar as necessidades de qualificação dos
t rabalhadores, dilu indo o carát er de classe aí present e. No lugar do
conflit o e lut a, o que se ver ificou fo i o fort aleciment o de uma dimensão
que reúne r epresent ações e int eresses indifer en ciados. A invest igação
t ambém r evelo u que a nova inst it ucio nalidade dest a po lít ica se
sediment ou a part ir de uma ideo logia ─ a pedagogia das co mpet ências e
da t ese da empregabilidade. No que t ange à análise co mparat iva das
polít icas, mesmo do pont o de vist a conceit ual e argument at ivo, sobret udo
co m a concla mação de polít ica pública, o PNQ não represent a u m
“avanço” em relação ao PLANFOR. Aquele vem represent ando um elo de
cont inuidade da po lít ica pública de qualificação do Est ado capit alist a
brasileiro ; est e t em at uado como inst rument o de regulação social que
beneficia o capit a l em det r iment o do t rabalho.
Palav ras- chave: r eestr utur ação capitalista, polít ica de qualif icaçã o
pr of iss ional, ideologia das comp et ências e empr egabilida de, Polít ica de Estado.
ABSTRACT
This work analyses t he new nat ional po licy o f pro fessio nal qualificat io n
in Brazil and has as empir ical o bject t he gover nment al plans known a s
P lanfor and PNQ. T he object ive consist ed o f analyz ing t he
inst it ut io nalit y o f t he new po licy, t r ying t o ident ify s imilar it ies and
differences and/or t he rupt ures and co nt inuit ies bet ween t he t wo plans.
The imple ment ed inst it ut ionalizat io n signals as professio nal educat io n
gover nment al public po licies, and t he y are connect ed t o a societ ar ia n
project of capit al is m, in order t o qualify and t o maint ain t he levels o f
explo it at io n o f human labor. Our t hesis is t hat such inst it ut ionalizat io n
and t he discourses, alt hough t hey present so me different st rat egies,
cont ours and fra meworks, t hey are really submit t ed, as st a t e po licy, t o
t he model o f flexible cap it alist model. This model de mands a specific
way o f for mat ion, and demands a labor force pro file t o perfor m
according to t his accumulat io n model, as well as t o st rengt hen t he
capit al hegemo ny o n human labor. The research carr ied out is
qualit at ive, and invo lved document al and biblio graphical met hodo logy.
The document al analys is is just ified because we co nsider t he regist er s as
hist or ical const ruct s result ing fro m t he conflict s amo ng t he social forces
in t he int er ior of st at e. The mat er ial st udied consist ed o f const ruct s,
product ion and nor malizat io ns o f t wo minist r ies: ME C and MTE
(Educat ion and Labor). The t echnique used for t he document al analys is
was t he co nt ent analys is. Besides t he document al sources, we sear ched
for researches and academic product ions which have as st udy object and
analys is worker for mat ion po lic ies since t he decade o f 1990 up t o
nowada ys. T his work is organized int o four connect ed chapt ers. As
result s, we concluded t hat an ident it y project on t he need for worker
qualificat io n was const it ut ed. This pro ject invo lved ent repreneur s, labor
unio ns, organizat ions o f t he t hir d sect or and t he st at e bureaucrac y. Al l
t his repr esent s a vast consensus field under capit alis m hegemo ny. I n
order to minimize t he co nt radict ions of t he civil societ y, our
invest igat ion also ident ified how do mina nt classes imposed t o t he st at e
t he respo nsibilit y o f mediat ing workers‟ needs for qualificat ion, dilut ing
t he exist ing charact er o f class. I nst ead of conflict and st ruggle, we
ver ified a real empower ment o f a dimensio n which jo int s different
represent at ions and int er est s. The invest igat ion also revealed t hat a new
inst it ut io nalit y o f t his po licy has cr yst allized fro m an ideo logy – t he
pedagogy o f co mpet ences and t he pr inciple o f emplo yment . In reference
to comparat ive analysis o f po licies, even fro m t he concept ual and
argument at ive po int o f view, especially wit h t he proclamat io n o f public
polic y, t he PNQ does not represent an “advance” in relat io n t o
PLANFOR. T he for mer has been repr esent ing a link o f cont inu it y o f
qualificat io n public po licy o f t he capit alist st at e; t he lat t er has bee n
act ing as social regulat io n inst rument which benefit s t he capit al t o t he
det riment o f labor.
K ey-Word s: capit alist rest ruct urat io n; professio nal qualificat io n po licy;
ideo logy o f co mpet ences and emplo yment ; st at e polic y.
RESUMEN
Est e estu dio ana liza la nu eva p olít ica nacio nal de cua lif icación pr of es iona l d e
Br asil, y t iene como ob jet o emp ír ico los P lanes [PL ANFOR - P la no Nacional d e
For maçã o Pr of iss iona l y PN Q - Pla no Naciona l de Qualif icaçã o ]. E l ob jet iv o
cons istió en ana lizar la inst itu cionalida d de la nu eva p olít ica, buscand o
ident if icar las s emeja nzas y dif er encias y/ o las r uptur as y cont inu ida des entr e
es os p lanes. La inst itu ciona lida d imp lem enta da indica como las p olít icas
públicas sobr e la educación pr of es ional de los diver s os gobier nos, se acop la n a
un pr oyect o del cap ital, de cualif icar para mant ener los niveles de exp lotació n
del tr abajo hu ma no. Nu estr a t es is es la de qu e esa tal inst itu c iona lida d y su s
discur sos, aunqu e pr es ent en estr ategias, cont or nos y or ígenes dif er encia dos, n o
deja n de s omet er s e, como p olít ica de Es tado, al modelo de acu mu lació n
capitalista f lexible. M odelo qu e ex ige u na f o r ma esp ecíf ica de f or mación, y qu e
dema nda u n p er f il de fu er za de tr abajo para actuar en es e modelo d e
acu mu lación, además de f or talecer la heg emonía del capital s obr e el tr abajo.
Esta invest igación tien e u n enf oqu e cualitat ivo, con u na met odología basada en
un estu dio de natur aleza docu mental y b ib l io gr áfica. El anális is docu mental fu e
r ealizado p or qu e cons ider a mos los r egist r os como constr uct os hist ór icos
r esu ltant es de los embates entr e las fu er zas socia les en el int er ior del Esta do.
Para ef ect o de mat er ial de est e estu dio, utiliza mos los constr uct os,
pr oducciones y nor matizaciones de dos mi nist er ios : el MEC y el MT E. La
técnica ut iliza da par a anális is docu mental es el aná lisis de cont enido. Ademá s
de las fu ent es docu mentales, r ecur r imos a las invest igaciones y pr oducciones
académicas qu e t ienen como ob jet o de es tudio y a nális is las polít icas d e
f or mación del tr abajador de la década de 1990 hasta la actualida d. La
investigación está estr uctur ada en cuatr o capítu los qu e s e comp lementa n. Como
r esu ltados, identif ica mos qu e fu e const itu ido u n pr oyect o id ent itar io s obr e la
necesida d de cua lif icación de los tr abajador es, qu e envolvió al empr esar ia do,
sindicat os, or ga nizaciones del t er cer s ect or y a la bur ocr acia estatal, y qu e
expr ime u n ca mp o vast o de cons ens o, ba jo la hegemo nía del capita lis mo. Par a
minimizar las contr adicciones pr op ias de la s ocieda d civil, nu estr a
investigación ta mb ién ident if icó cómo las clas es domina nt es impus ier on a l
Estado la r esp onsabilida d de mediar las neces ida des de cualif icación de los
tr abajador es, dilu yendo el car ácter de clas e qu e estaba ahí pr es ent e. E n lu gar
del conf lict o y lucha, lo qu e s e ver if icó fu e el f or talecimient o de u na dimens ió n
qu e r eú ne r epr es entaciones e int er es es no dif er enciados. La invest igación
tamb ién r eveló qu e la nu eva institu cionalidad de esta p olít ica s e s edi ment ó a
par tir de u na ideología ─ la p eda gogía de las comp et encias y la t es is de la
emp leab ilida d─. En lo qu e r esp ecta al aná lisis compar ativo de las p olít icas, aú n
des de el pu nt o de vista conceptual y ar gu mentat ivo, sobr e todo con la
pr ocla mación de p olít ica púb lica, el PN Q no r epr es enta u n “ava nce” en r elació n
al PL ANFOR. Aqu él, r epr es enta u na cont inu ida d de la p olít ica púb lica d e
cualif icación del Esta do cap italista br asileño; ést e, ha actuado como
instr u ment o de r egu lación s ocial qu e b enef icia al capita l en detr iment o del
tr abajo.
Palabras clave: r eestr utur ación cap italista, polít ica de cualif icació n
pr of esiona l, ideología de las comp et encias y emp leab ilida d, Política de Esta do.
Parad a do Velho Novo
1
T er min ol ogi a ut i l i z a da por OLIVE IRA, R. e m seu l i vr o: (De s)q ual i fi c aç ão da
e duc aç ã o pr ofi s si onal br asi l e i r a . Sã o Pa ul o: Cor t ez , 2003. Nest e l i vr o, o a ut or
di scut e a pr obl em á t i ca da educa çã o pr ofi ssi on a l br a si l ei ra na s úl ti m a s déca da s, bem
c om o en fa t i z a com o a educa çã o pr ofi s si on a l é nor t ea da pel a s m udan ça s oc or r i da s n o
â m bi t o do ca pi t a l i sm o gl oba l , com o i n vól ucr o do pr oc e ss o de gl oba l i z a çã o
ec on ôm i ca e a s m uda n ça s do set or pr odut i vo c om o a dven t o de um a pr oduçã o d e
ca r á t er m a i s fl exí vel . D ess e m od o, a r gum ent a com o e st e s pr oce ss os (de s)qua l i fi ca m
a educa çã o pr ofi s si on a l n a per spect i va de for m a çã o da cl a sse t r a ba lh a dor a.
2
Qua n do ut i l i z a m os n est e est ud o a ca t eg or i a pol í t i ca públ i ca , est a m os l e va n do em
c on si der a çã o os c on st r ut os e for m ul a çõe s de pol í t i ca públ i ca des en vol vi dos p or
Az e ved o Li n s (2004, p. 5 -7) em seu l i vr o A educ aç ão c omo pol í t ic a públi c a e de
Hofl i n g (2001) E st ado e pol ít i c as (públ i c as) soc i ai s. De a cor do c om est a s a ut or a s,
pol í ti c a p úbl i c a r epr esen t a a m at er ia l i da de da i n t er ven çã o d o E st a do, ou o “ E st a d o
em a çã o” , c om vi st a s a i m pl an t ar um pr ojet o de gover n o, a tra vés de pr oj et os, pl a n os,
pr ogr am a s e a ções vol t a dos pa r a set or es e spe cí fi c os da s oci eda de. De ss e m od o, pa r a
Az e ved o Li n s (2004, p. 5), con cei t ua r pol í t i ca públ i ca i m pl i ca t a m bém con si der a r os
r ecur sos d e p oder que op er a m n a sua defi n i çã o e que t êm , n a s in st it ui çõe s d o E st a do,
sobr et ud o n a m á quina est a t al , o seu pr in ci pal r efe r en t e.
3
Pl an o Na ci on a l de For m a çã o Pr ofi ssi on a l – PLANF O R e Pl a n o Na ci on a l de
Qua l i fi ca çã o - PNQ.
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4
Sa l i en ta m os que ut i l i z ar em os n o dec or r er do e st udo o t er m o qua l i fi ca çã o
pr ofi s si on a l , a pesa r de e st a n om en cl a t ur a t er si do su bst i t uí da c om a LD B 9394/ 96
por educa çã o pr ofi s si on a l . Entr et a nt o, a expr essã o educa çã o pr ofi s si on a l t em um a
h i st ór ia r ecen t e n a educa çã o br a si l ei r a. E sta foi in tr oduz i da com a pr om ul ga çã o da
LD B, que n o Ca pí t ul o III, Ar t i go 39, a fi r ma : “ A e duc aç ão prof i ssi onal , i nt e grada às
di f e re nt e s f ormas de e duc aç ão, ao t rabal ho, à c i ê nc i a e à t e c nol ogi a, c onduz ao
pe rmane nt e de se nv olv i me nt o de apt i dõe s para a v i da produt i v a ” . Mesm o
c on si der an do que e st a m udan ça possa t r a z er em seu boj o m uda n ça s con cei t ua i s, n a
pr át i ca a in da se en con t r a vi gen t e o t er m o qua l i fi ca çã o pr ofi ssi on a l . Nest e est ud o,
pr i vi l egi a m os qua l i fi ca çã o/ educa çã o pr ofi ssi on al c om o t oda s a s a ç õe s educa t i va s ,
for m a i s e n ã o for m a i s, dest i na da s à qua l i fi ca çã o de um a det er m ina da
pr ofi s sã o/ ocupa çã o. En tr et an t o, par a Ci a va t ta (1998), o t er m o educa çã o pr ofi ssi on a l
c on st i t uir -se-i a em a l go a m bí guo, à m edi da que t om a a par t e com o o t od o. O
c on cei t o d e educa çã o, c on t i n ua a a ut or a , ser i a al go m a i s am pl o, poi s c om pr een der i a
a un i ver si da de da cul t ura n eces sá r i a à r epr oduçã o s oci a l , de for m a que in cl ui a
di m en sã o t ra ba l h o. Ma s o t ra ba l h o e a sua di m en sã o r est ri t a à educa çã o pr ofi s si on a l
n ã o esg ot a o l equ e de c on h eci m en t os n eces sá r i os à vi da em soci eda d e. De ssa for m a ,
r essa l t a a r efer i da a ut or a : “educa çã o d os t r a ba l h a dor es n ã o de ve e st a r subm et i da à
i dei a de pr epa r a çã o pa ra o t r a ba lh o ou pa r a o d es en vol vi m en t o d e i n ova ç õe s
t ecn ol ógi ca s (CIAV AT T A, 1998, p. 23). Ent r et an t o, nã o pod em os dei xa r de
c on si der ar que est e i m per at i vo é o que t em vi g or a do.
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est rut urant es do sist ema produt ivo e, por conseguint e, as mudanças
polít icas e ideo lógicas que o regulam e o legit imam. A no va
inst it ucio nalidade da qualificação profissio nal é co ndicio nada pelas
t ransfor mações promo vidas pela denominada Terce ir a Revo lução
Indust r ial 5. Essas t ransfor mações co mpreendem a emergência de novas
t ecno logias de gest ão e produção, desenvolvidas num cenár io po lít ico e
ideo lógico dominado pelo s pilares do neo liber alis mo 6.
5
De a c or do c om Al bor n oz (2000), o m ar co r efer en ci a l d a pr i m eir a r evol u çã o
i n dustr ia l da t a da cr ia çã o da m á quina a va por . A segun da r evol uçã o de c or r eu do
pr oce ss o de i n dust ri a li z a çã o, des en vol vi do n o sé cul o XVII I, c om a d es c ober t a da
el et r i ci da de. E a t er cei r a é de ba se t ecn ol ógi ca . E st a é e n gen dr a da pel os
si gn i fi ca t i vos a va n ç os da ci ên ci a e da t ecn ol ogi a com o pr i n ci pai s m ei os de pr odu çã o
de ben s e s er vi ç os. Um a spe ct o i m por t an t e a con si der a r é que a va l or i z a çã o da
ci ên ci a e da t écn i ca é si m ul tan ea m en t e a va l or i z a çã o do ca pi t a l , com o fi m de
a um en tar os pr oc e s s os d e expl or a çã o a m pl i a da do ca pi t a l , ou se ja , n o pr oce ss o d e
t ra ba l h o a m pl ia -se a ext r a çã o da m a i s -va l i a em sua for m a a bs ol ut a e r el a t i va
(NE VE S, 1999).
6
O n eol i ber a l i sm o n a sceu l og o a p ós a II Gu er r a Mun di al , n a E ur opa e n a Am ér i ca do
Nor t e on de i m per a va o ca pi t a l i sm o. Pa r a Sa der (1996, p. 151), o n eol i ber a l i sm o do
pon t o de vi st a h i st ór i co r epr esen t a um a das est r a t égi a s de sobr evi vên ci a do
ca pi t a l i sm o, ou s e ja , sem pr e qu e o ca pi t a l i sm o en fr en t a um a cri se fun da m ent a l ou
di fi cul da de s e st r ut ur a i s n a sua op er a ci on a l i za çã o, el e bus ca s em pr e s ol uç õe s
pr a gm á ti ca s. En tr et ant o, é t a m bém con fi gur a do com o um a r ea çã o t e ór i ca e pr át i ca
c on tr a o E st a do In t er ven ci on i st a de Bem -e st a r s oci a l . Den t r e os s eus pr i n ci pa i s
r epr esen t an t es, est ã o Fr i edr i ch Ha yek e Mi l t on Fri edm an . E ssa t en dên ci a
ca r a ct er i za -se por a pr egoa r que o E st a do i nt er ven h a o m ín i m o n a econ om i a ,
m an t enha min i ma m ent e a r egul am en ta çã o da s a t i vi da des e c on ôm i ca s pr i va da s
dei xa n do a gi r l i vr em en t e os m eca n i sm os d o m er ca do. At ua l m en t e, es sa t en dên ci a
pa ssou a s er em es ca l a m un di a l. É, segun do Ander son (1995, p. 9 -23), “um proj e t o
de soc i e dade que t e m se mat e ri al i zado, e fe t ivame nt e , nas aç õe s polí t ic as c om a
de sre gul ame nt aç ão do pape l do E st ado e nquant o prov e dor”. Ca t eg or i a s ch a ve qu e
si n a li z am a a çã o obj et i va d os pr es supost os n e ol i ber a i s, sã o el a s: E st a do m í n im o pa r a
a s pol í t i ca s s oci a i s, di m in ui çã o e c on t en çã o dos ga st os pú bl i c os, pr i va t i z a çã o e
t ran sfer ên ci a s pa ra a soci eda d e ci vi l d e r esp on sa bi l i da des e t a r e fa s qu e c om pet em a o
E st a do.
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int rodução de novas t ecno logias de gest ão, produção e ser viço s;
t ecno logias que passaram a exigir um novo per fil de t rabalhador
assalar iado. Um per fil for mado nos processos pedagógicos esco lares,
capazes de desenvo lver novas co mpet ências e habilidades. Essas
co mpet ências 7 são assim definidas:
7
Pa r a um est udo cr í t i co a cer ca da P eda gogi a da s Com pet ên ci a s, ver o l i vr o d e
RAM OS, M. N. A pe dagogi a da s c ompe tê nc i as : a ut on om i a ou a da pt a çã o? Sã o
Pa ul o: Cor t ez , 2001. Outr o t ext o que pr obl em a t i z a a quest ã o é o d e RO D RIG UE S,
Da n i el (2007), int i t ula do: a i mpossi bi l i dade d a r e ssi gn i fi c aç ão das c ompe tê nc i as
n uma pe r spe c ti va mar xi sta. Di sp on í vel em : h t tp: / / www. a n ped. or g. br . GT : Tra ba l h o
e E duca çã o. Rodr i gues t a m bém di s cut e os l i m i t es t eór i c os da s a bor da gen s que
t en t am r ede fi n ir ou r essi gn i fi ca r “a peda gogi a d a s c om pet ên ci a s” a fa vor da s cl a sse s
t ra ba l ha dor a s.
8
Ma r x n os en si n a que a com posi çã o or gâ n i ca do ca pi t a l en vol ve a r el a çã o en t r e
ca pi t a l con st a n t e (Mei os de pr oduçã o) e ca pi t a l va r i á vel (F or ça de t r a ba lh o). Com o
pr oce ss o de r eest r ut ur a çã o pr odut i va , o a pr i m ora m en t o e en r i queci m en t o do ca pi t a l
va r i á vel pa ssa r a m a ser uma da s prin ci pa i s es t ra t égi a s ca pi t a l i sta s c om o fi m d e
a um en tar a ca pa ci da de pr odut i va .
9
Sa l ern o (1997, p. 245) ca ra ct er i za a r eest r ut ur açã o pr odut i va c om o um con jun t o de
m udan ça s n ã o h om og ên ea s que est ã o a c on t ecen do n o si st em a pr odut i vo, en vol ven d o
desd e a s r el a ç ões en t r e a s em pr esa s di st i n t a s a t é a a t i vi da de r ea l do t r a ba lh o, jun t o a
um equi pa m en t o, con duz in do a im pl i ca ções e c on ôm i ca s, pol í t i ca s e s oci a i s.
21
e o t oyot ist a 10. Est e últ imo, caract er izando o novo processo de
acumulação de capit al.
10
O m odel o d e a cum u l a çã o fl exí vel é m a r ca do pel o c on fr on t o di r et o c om a ri gi dez do
for di sm o. E l e se a poi a n a fl exi bi l i da de d os pr oce ss os d e t r a ba l h o, dos m er ca dos d e
t ra ba l h o, dos pr odut os e pa dr ões de c on sum o. Ca r a ct eri z a -se pel o sur gi m en t o de
n ovos s et or es d e pr odu çã o, n ov a s m a n ei r a s de for n eci m en t o de s er vi ç os fi n an cei r os,
n ovos m er ca dos e, s obr et ud o, t a xa s a l t a m en t e i nt en si fi ca da s de i n ova çã o c om er ci a l ,
t ecn ol ógi ca e or gan i za ci on a l . A a cum ul a çã o fl e xí vel en vol ve r á pi da s m udan ça s dos
pa dr ões d o d es en vol vi m en t o de si gua l , t a n t o en tr e os s et or es c om o em r egi õe s
ge ogr á fi ca s, cr i an do um va st o m ovi m en t o do ch a m a do em pr ego n o „set or de
ser vi ç os‟ ( HA RVE Y, 2000, p. 140).
11
Pa r a um a aná l i se a cer ca dos e fei t os n e fa st os d o pr oc es s o de r e est r ut ura çã o
pr odut i va ca pi t a l i st a n os m ovi m en t os si n di ca i s, ver os s egui n t es e st udos:
MAT T OSO, J. O Br a si l des em pr ega do: c om o for a m dest r uí dos m a i s de 3 m i l h ões d e
em pr ego n os a n os 90. Sã o Pa ul o: Fun da çã o P es eu A br a m o, 1999. BOIT O Jr . , A.
P ol í ti c a Ne ol i be r al e Si ndi c al i smo n o B r asi l . Sã o Pa ul o: Xa m ã , 19 99. Ai n da, par a
a pr ofun dar a t em á t i ca, ver a segun da par t e do li vr o de Ru y BRAGA, i n t it ul a da : Da
c r i se c onte mp or âne a à e str até gi a de pas si vi z aç ão . In : A r est a ura çã o d o ca pi t a l : um
est ud o s obr e a cr i se con t em por â n ea. Sã o Pa ul o: Xa m ã , 1999. p. 153 a 263.
22
12
E st a t erm in ol ogi a t em com o obj et i vo, de a c or do com An t un es (2000, p. 101),
c on fer i r va l i da de con t em por ân ea a o con cei t o m a r xian o de cl a ss e t r a ba lh a dor a, a ssi m
c om o pr et en de se c on tr a por à s i deol ogi a s a pol ogét i ca s de fi m da hi st ór i a e,
c on sequen t em en t e, do fi m da s cl a sses fun da m en ta i s e da cen tr al i da de do tr a ba lh o. O
c on cei t o de cl a s se s oci a l que vi ve d o t r a ba lh o a m pl i a o c on c ei t o d e cl a ss e
t ra ba l ha dor a , in cor por an do est r a t os c om o os t er cei r i z a dos, pr eca r iz a dos, den tr e
out r os, que est ã o i n cl usi ve for a do m un d o do t r aba l h o, c om o os d e sem pr ega dos, bem
c om o di fer en ci a da cl a sse de m an do r epr esen t at iva do ca pi t a l .
23
13
BRAVE RMA N (1987, p. 54), de for m a pri m or osa , a tr i bui um sent i do si gn i fi ca t i vo
à for ça d e t r a ba l h o. Pa r a est e a ut or , a for ça d e t r a ba lh o c om o ca pa ci d a de h um a na de
exe cut a r tr a ba lh o nã o pod e ser c on fun di da com o pod er de qua l quer a gen t e n ã o
h uman o, seja el a n at ur a l ou fei t a pel o h om em . O t r a ba lh o h um an o, seja di r et a m en t e
exer ci d o, se ja a rm a z en a do em pr odut os c om o fer ra m ent a s, m a quinar i a ou a n im a i s
dom e st i ca dos r epr esen t a o r ecur s o excl usi vo da h um an i da de par a en fr en t ar a
n at ur ez a . Assi m , para os h um an os em s oci eda de, a for ça de t r a ba l h o é um a ca t egor i a
esp eci a l , dest i t uí da e n ã o i n t er ca m bi á vel c om o qua l quer out r a, si m pl esm en t e por que
é h uman a .
14
Pa r a um est udo a pr ofun da do, r i co e cr í t i co a c er ca da s ba s es e fun da m en t os da P ós -
m oder n i da de, ver a Par t e I do l i vr o de HA RVE Y, D. A c ondi ç ão pós - mode r na . 3 . ed.
Sã o Pa ul o: L oyol a , 2000. Pa ssa gem da m oder nida de à pós -m od er n i da de n a cul t ur a
c on t em por ân ea , (p. 13 -109). No c on t ext o fi l os ófi co, a p ós -m od er n i da de se c on st i t ui
c om o l egí t i m a r ea çã o à “m on ot on i a ” da vi sã o de m un do do m od er n i sm o uni ver sa l ,
cuj o si st em a é g er a l m en t e per cebi d o c om o p osi t i vi st a , t ecn oc ên t ri co e r a ci on a l i sta .
O m oder n i sm o un i ver sa l t em si do i d en ti fi ca do c om o a cr en ça n o pr ogr esso l i n ea r,
n a s ver da des a bs ol ut a s, n o pl a n eja m en t o r a ci on al de or den s s oci a i s, i dea i s, e c om a
pa dr oni z a çã o do c on h eci m en t o e da pr oduçã o. O p ós -m od er n o, em c on tr a st e,
pr i vi l egi ar i a a h et er ogen ei da de e a di fer en ça c om o fo r ça s l i ber t a dor a s n a r ede fi n i çã o
do di s cur so cul t ur a l , quer di z er, a fr a gm en t açã o, a i n det er m in a çã o e a i n t en sa
des c on fi a n ça de t od os os di s cur sos un i ver sa i s ou, pa r a usa r um a t er m in ol ogi a
fa vor i t a, “t ot a l i z an t es” . É m ar co d o p en sa m en t o pós -m od er n o a des c o ber t a d o
pr a gm a ti sm o n a fi l os ofi a , a m udan ça de i dei a s s obr e a fi l os ofi a da ci ên ci a
pr om ovi da por Kuhn (1962) e Fe yer a ben d (1975), a ên fa se fou ca l t i an a na
24
Essas pedagogias for am sendo incorporadas pe las refor mas dos sist ema s
de ensino, realizadas na Europa, Ásia e Amér icas. Daí a necessidade de
inst it ucio nalizar novas prát icas pedagógicas de esco lar ização e
qualificação da fo rça de t rabalho, em t odos os mo ment os da
esco lar ização. No caso do Brasil: da educação infant il à educação
super ior.
Esses acont eciment os se int ensificaram nas t rês últ imas décadas do
sécu lo XX, mas apresent am t endênc ias de est abilização nas pr imeiras
décadas do século XXI ; ainda que co m sucessivas cr ises, congênit as e
hist ór icas, mas sem co mpro met er as bases da reprodução socio met abó lica
26
16
Segun do a LD B 9394/ 96, a E duca çã o Pr ofi ssi on a l deve e st a r in t egr a da à s
di fer en t es for m a s de educa çã o, à ci ên ci a e à tecn ol ogi a . Tr a ta -se da est r a t égi a do
E st a do pa r a fa vor ec er o de sen vol vi m en t o s oci oec on ôm i c o n a ci on a l , bem com o pa r a
r eduçã o da s de si gua l da des s oci a i s e r egi on a i s. Os objet i vos da LD B, n o que t a n ge à
for m a çã o pr ofi ssi on a l , coa dun a m -se c om a n ova i n sti t uci on a l i da de dos Pl a n os qu e
pr et en dem os a n a l i sar. Nova i n st i t uci on a l i da de, va l e di z er , é a in st i t uci on al i za çã o d e
n ova s pr á t i ca s soci a i s de qua l i fi ca çã o pr ofi s s i on a l , com o o i n gr esso de n ovos
suj ei t os s oci a i s, c om o os si n di ca t os e a s c en tr a i s si n di ca i s, n o pr oces s o d e
el a bor a çã o e ex ecu çã o da s p ol í t i ca s pú bl i ca s d e qua l i fi ca çã o pr ofi ssi on a l ; pr oce s s os
que a n t es er a m r ea l iz a dos a pen a s pel a s em pr esa s ca pi t a l i st a s, m edi a da s pel o Si st em a
S, e pel o E st a do.
27
Ent ret ant o, são as po lít icas públicas est at ais que, em nossa
co mpreensão, expressam a programação e as decisões, mais
concret ament e, sobre as var iadas for mas, objet ivos, condições, cont eúdos
e per fil da força de t raba lho, sob a orient ação da reest rut uração
produt iva do capit al e da refor ma neo liberal do Est ado. Mais do que
reguladoras, nor mat ivas e legais, est as po lít icas subst it uíram a
inst it ucio nalidade exist ent e at é ent ão, mat er ializadas nas le is e for mas de
fazer qualificação profissio nal para, com isso, adequar -se à est rut ura
societ al emergent e co m a reest rut uração produt iva. Confor me explica
Cêa et al (2007, p. 30):
17
No ca s o br a si l ei r o, a educa çã o pr ofi ssi on a l , com o el em en t o ess en ci a l à pr oduçã o,
só en t ra n a a gen da do ca pi t a l com a op çã o d e fi n it i va pel a sua i n du stri a l iz a çã o. Ness e
sen t i do é qu e, a pa r t ir dos a n os 1940, sã o t om a da s a s de ci s õe s g over n a m en t ai s que
ca r a ct er i za m defi n i t i va m ent e o a poi o d o ca pi t a l i n dustr i al à for m a çã o pr ofi ssi on a l ,
r econ h eci da com o fa t or n ecessá r i o a o s eu fun ci on am en t o. Ao ser pl an ta d a a sem en t e
do ca pi t a l i sm o i n dustr i a l n a ci on al , com o p es a do a p oi o e st a t a l , é que, de for m a
expl í ci t a , a educa çã o pr ofi ssi on a l va i a o en con t r o dos i n t er esses d o ca pi t a l , a par tir
do seu m od el o de d es en vol vi m en t o. E sse en c on t r o m a t eri a l iz a -se em i n i ci a t i va s
c om o a cr i a çã o da s E sc ol a s T écn i ca s (Fed er a i s) e os SE NAI (PE RE I RA, 2007, p.
151).
28
Est as são algumas das razões que just ificam nosso int eresse em
apreender a mat er ialidade hist ór ica dest a nova institucionalidade , dent ro
das po lít icas de qualificação profissio nal, efet ivadas no Br asil nas
últ imas décadas do sécu lo XX, num per íodo de mais de uma década,
prat icament e, 16 anos.
18
Pa r a um est udo a pr ofun da do da r efor m a da ed uca çã o pr ofi s si on a l , ver a t e se de
dout or a m ent o de OLI VE IRA, Ra m on : Pol í ti c as do Ensi n o M é di o e da Ed uc aç ã o
Pr ofi s si onal n o B r asi l – anos [19]90 : su bor di na çã o e r et r oc es s o educa ci on a l. 2001.
349f. T es e ( D out or a do em E duca çã o) – Fa c ul da de de E duca çã o, Un i ver si da de
Fed er a l Fl um in en se. Ni t er ói / RJ.
29
Nossa t ese é que a inst it ucio nalidade e os discursos das po lít icas
de qua lificação profiss io nal, ainda que apresent em est rat égias, cont ornos
e arcabouços diferenciados (PLANFOR e PNQ), não deixam de submet er -
se, co mo po lít ica de Est ado, ao modelo de acumulação capit alist a
flexível (HARVEY, 2000; OLI VEIRA, 2003; 2006). Modelo esse que
exige uma for ma específica de qualificação profissio na l, e que demanda
um per fil de força de t ra balho para at uar nesse modelo de acumulação,
além de fort alecer a hegemo nia do capit al sobre o trabalho.
Isso significa dizer que, nas at uais co ndições sociais e hist óricas, a
qualificação profissio nal se faz de acordo co m as lut as exist ent es ent re
os diverso s “campos de forças polít icas” (GRAMSCI, 1999) ;
fundament alment e, ent re o “campo de fo rças po lít icas” do capit al e do
t rabalho, ou seja, o que est á em disput a no campo de forças ent re capit al
e t rabalho é a for ma co mo se pode amplia r a capacidade de t rabal ho, sua
for mação, como processo de qualificação/enr iqueciment o, for mas de se
gerar mais r iquezas, qual seja: a qualificação da força de t rabalho co mo
geradora de r iquezas via produção de excedent e. Não obst ant e, a
for mação da força de t rabalho, a inst it ucionalidade que a regula e
legit ima será ana lisada dent ro dest a perspect iva.
Não obst ant e, est e est udo procura demo nst rar que, independent e do
per fil e das est rat égias das po lít icas de gover no, a for mação da classe
que vive do t rabalho est á associada às cond ições objet ivas e mat er iais de
reprodução da sociedade capit alist a (SILVA JR. & SGUISS ARDI, 1998 ;
OLIVEIRA, 2003; CÊ A, 2003).
Que similit udes e diferenças e/ou rupt uras e cont inuidades exist e m
ent re aqueles planos nacio nais de qualific ação, em t er mos est at ais e
est rat égias po lít icas?
19
Di scur s o é a qui c om pr een di do c om o r e sul t a do da s r el a ções s oci a i s, “a t i vi da de e
a çã o d os su j ei t os, i n scr i t os em c on t ext os det er m i na dos” . Sen do pr oduz i d o
soci a l m en t e, em um det er m in a do m om en t o h i st ór i co, pa r a r espon der à s n eces si da de s
post a s n a s r el a ções en t r e os h om en s pa r a pr oduçã o e r epr oduçã o d e sua exi st ên ci a ,
ca rr ega o h i st óri co e o i de ol ógi c o dest a s r el a ç õe s (MAING UE NE A U, 1996). Nã o h á,
pa ra Ca va l can t e (2007, p. 35), di scur so n eut r o ou i n ocen t e. T odo di s cur so é
i deol ógi c o, vi st o qu e, “a o pr oduz i -l o, o su jei t o o fa z a pa r t ir de um l ugar soci a l , de
um a per spect i va i d e ol ógi ca , e a s si m ve i cul a m va l or es, cr en ça s, vi s õe s d e m un do qu e
r epr esen t am os l uga r es s oci a i s que ocupa . O di scur so é, p oi s, ca m po d e m edi a ç õe s
que a r t i cul a n ovos sen t i dos a os já c on h eci dos. E l e t em a ca pa ci da de d e (r e)si gn i fi ca r
o já di t o e i n st i t uir um a n ova m em ór i a di scu r si va ” .
33
E m que aspect os e dimensões est es P lanos cont r ibuem para for jar
uma po lít ica de Est ado de qualificação profissio nal?
20
Fun do Pú bl i c o, d e a c or do c om Fi da l go & Ma ch ado (2000, p. 169 -170), c on si st e em
um a par cel a si gn i fi ca t i va da r i quez a pr oduz i da por um a soci eda d e, que s e en con t r a
sob o c on t r ol e do E st a do ou m e sm o d e or gan i za ções pú bl i ca s n ã o g over na m en t a i s,
dest i n a da a o fi n an ci a m en t o de a t i vi da de s i m por t an t es pa ra o cr es ci m en t o d o
i n vest i m en t o ca pi t a l i st a ou pa r a o fi n a n ci am en to d e ben s e ser vi ç os n e ce ssá r i os à
r epr oduçã o da for ça de t r a ba lh o. En gl oba h a ve r es e r ecur sos fi n an cei r os de qu e a
soci eda d e p ode di sp or ou d est i n ar par a ta i s fi n s. O fi n an ci a m en t o públ i c o, pa r a
em pr een di m ent os ca pi t a l i st a s e r epr oduçã o da for ça de t r a ba lh o, sem pr e c on st i t ui um
i n str um en t o de expa n sã o e r esol u çã o d e probl em a s ger a dos n o pr oc es s o d e
a cum ul a çã o e c on c en tr a çã o de ca pi t a l . A o r i gem dest e s r ecur sos pr ovém de i m post os ,
t a xa s ou m eca n i sm os d e p oupa n ça c om pul sór i a − c om o o FGT S − a r r eca da dos pel o
E st a do ou s et or es or ga ni z a dos da soci eda d e, c om o objet i vo d e i n t er vi r n a s
a t i vi da des e c on ôm i ca s ou pr om over a r edi str i bui çã o de r i quez a s . A ut i l iz a çã o de
fun dos pú bl i c os pa r a fi n an ci ar in vest i m en t os pr i va dos é um a for m a de pr i va t i z a çã o
do E st a do e a el a bor a çã o d e m edi da s de c on t rol e s oci a l dest es r ecur s os é um dos
pr in ci pa i s desa fi os da s s oci eda de s dem ocr á t i ca s, r essa l t a m os a ut or es.
34
sindical co mbat iva, as quais, infe lizment e, foram cedendo às po lít icas
neo libera is de qualificação profissio nal.
21
Im por t ant es est ud os t êm ofer e ci do c on str ut os t eór i c os cr í t i cos pa ra
pr obl em a t i z a çã o da em pr ega bi l i da de ( LE IT E , 1997; OLIVE I RA, 1999; GA NZ, 2001;
GE NT ILI, 2002). Na a c epçã o d e Ol i vei ra (1999, p. 14), c on cei t ua -s e
em pr ega bi l i da de “c om o a ca pa ci da de da m ã o -de -obr a [si c] de se m a n t er em pr ega da
ou en c on tr ar um n ovo em pr eg o qua n do d em i t i da . O pr in cí pi o que e st á por t r á s do
c on cei t o é de qu e o des em pr ego t em c om o ca usa a ba i xa em pr ega bi l i da de da m ã o de
obr a , ou seja , sua i na dequa çã o em fa ce da s exi gên ci a s do m er ca do ” . Já , para Lei t e
(1997, p. 64 -65), a n oçã o de em pr ega bi l i da de pa r t e do pr i n cí pi o de qu e os
t ra ba l ha dor es des em pr ega dos en c on tr a m -se n essa si t ua çã o, n ã o por que h a ja fa l t a de
em pr ego, m a s pel a ba i xa ca pa ci da de d e a for ça de t r a ba lh o s e a da pt a r à s n ova s
exi gên ci a s da s em pr esa s ou, em out r a s pa la vr a s, por que n ã o a pr esen t am o per fi l d e
qua l i fi ca çã o exi gi d o pel o n ovo m od el o d e a cum ul a çã o fl exí vel . E m a m bos os
pr in cí pi os a pon t a dos, o d e Ol i vei r a e o de L ei t e , r essa l t a -se o a spe ct o i de ol ogi z a n t e
do c on c ei t o de em p r ega bi l i da de, que en c obr e os r ea i s m ot i vos da fa l t a de em pr ego.
35
Para proble mat iz ar t al quest ão, part iremos da rea lidade hist ór ica
const ruída pelo ser social do capit al (LUCKÁCS, 1989), para apr eender a
co mplexidade das relações sociais for jadas por est e ser.
22
De a cor do c om Br oh m (1979), a di a l ét i ca de Ma r x é essen ci a l m en t e cr í ti ca e
r evol uci on á ri a e n ã o um a vi sã o de m un do pr on ta e a ca ba da , m a s um m ét od o d e
a ná l i se e a çã o. P or ser um m ét odo d e a pr een sã o da r ea l i da de seus r esul t a dos sã o
pr ovi s ór i os, pa r ci a i s e ina ca ba dos. Dessa for m a , segun do o a ut or , o m ét odo d o
m ar xi sm o n ã o é um dogm a , m a s um gui a par a a a çã o. Nã o h á a çã o r evol u ci on á r ia
36
sem t e or i a r evol uci on ár i a. Assi m , n oss o desa fi o é bus ca r n a tra jet ór i a da n ossa
i n vest i ga çã o p er ce ber t odo o di n a m i sm o, pr ovi s or i eda de e t ran sfor m a çã o do pr oce ss o
h i st ór i co (MINA YO, 1994) qu e en vol ve a i n st i t uci on a l i da de da n ova p ol í t i ca d e
qua l i fi ca çã o pr ofi s si on a l .
23
Apr oxi m a ções su c essi va s p or que, com o Ma r x e E n gel s post ul a m n a Ideol ogi a
Al em ã e n a s T es es s obr e Feu er ba ch , a s c on t ra di ções s oci a i s qu e o pen sa m en t o
pr ocur a a pr een der n ã o se r es ol vem n o p en sa m en t o, m a s com a s r evol uç ões s oci a i s.
Da í da 3ª T es e de Ma r x sobr e Feu er ba ch : “a pr á ti ca [l ei a -se a r ea l i da de c on cr et a ] é o
cr i t ér i o da ver da de [. . . ]” (MARX, 1984, p. 208).
37
A cat egoria que dá aport e a est e est udo é a da t ot alidade 24. Como
nos explica Löwy (1975, p. 16), “a totalidade signif ica a percepção da
realidade social como um todo orgânico, estruturado, no qual não se
pode entender um elemento, um aspecto, uma dimensão, sem perder a
sua relação com o conjunto ”. Por isso, propomo - nos a analisar as
polít icas de qualif icação profissio nal, de for ma específica o PLANFOR e
o PNQ, como mat er ialidade das relações est abelecidas ent re os campo s
de forças do cap it al, do Est ado e das ideo logias pedagógicas, co mo
24
Pa r a Lucká cs ( op. ci t . ), o c on h eci m en t o da t ot a l i da de soci a l c on cr et a nã o é, de
m an ei ra n enh uma , da do i m edi a ta m ent e a o pen sa m en t o. “O c on cr et o é c on cr et o, di z
Ma r x, por que é sí nt ese de di ve r sa s det er m i na çõe s, por t an t o, un i da de do m úl t i pl o” .
38
tot alidade co ncret a de campos de forças que co nst it uem, no per íodo em
análise (GRAMS CI, 1999).
A esco lha por est a perspect iva t eórica just ifica - se,
pr ior it ar iament e, por ser, na nossa avaliação e confront o com out ras
perspect ivas, um referencial que nos permit e apreender as cont radições
iner ent es ao Est ado como aquele que propaga e objet iva as po lít icas de
qualificação do t rabalhador a part ir de uma lóg ica reprodutora das
relações sociais subalt er nas. Decert o a argument ação de Cêa et al (2007,
p. 26) corrobora com o nosso posicio name nt o:
Just ificamo s, fina lment e, nossa opção por esse refer encia l, porque
ele nos per mit e apreender as mediações significat ivas do nosso objet o de
invest igação. O Est ado é concebido como aquele mediador q ue propõe,
efet iva e propaga as po lít icas de qualificação co mpro met idas co m a
dinâmica do capit a l. Uma dinâmica que, ao cont rário de qualificar a
39
educacio na is esco lar es e não esco lar es, responsáveis pela qualificação,
mas co mo cont eúdos vivenciados por sujeit os sociais em lut a (GIROUX,
1997) ; cont eúdos que dão significa do jur ídico e polít ico à reest rut uração
produt iva, cuja co mbinação mat er ializa - se nos P lanos. Est es são lócus
que sint et izam as relações de poder exis t ent es no âmbit o da sociedade.
Port ant o, como qualquer ação do Est ado, os P lanos apr esent am limit es,
possibilidades, rupt uras e cont inuidades, que ganham legit imidade e
unidade co m as ideo logias, no caso, as ideo logias da pedagogia das
co mpet ências e a t ese da empr egabilidade, co mo pr incípio educat ivo,
emanados pelo no vo discurso int egrador da inclusão/exclude nt e.
Para efeit o de mat er ial dest e est udo, ut ilizamo s os const rutos,
produções e nor mat izações de do is minist ér ios: o MEC (Minist ér io da
Educação) e o MTE (Minist ér io do Trabalho e E mpr e go). São est es
órgãos que t êm gerado polít icas públicas de grande impact o socia l no
âmbit o da for mação do t rabalhador.
A t écnica ut ilizada para análise document al é a análise de
cont eúdo. Ela nos per mit irá organizar e class ificar os document os, de
acordo com as t rês t emát icas relacio nadas à inst it ucio nalidade da
qualificação profissio nal: a reest rut uração produt iva, os P lanos de
qualificação propostos pelos gover nos e as ideo logias pedagógicas que
legit imam as po lít icas no âmbit o das ins t it uições de ens ino . Os t emas,
co mo mencio na Bardin (1979, p. 105), são “a unidade de signif icação
que se li berta naturalmente de um text o analisado segundo crit ério s
relati vos à teoria que serve de guia de lei tura”.
41
Nesse sent ido, será uma leit ura desafiadora e cr ít ica que
buscaremo s empreender no decorrer de todo percurso invest igat ivo da
“no va/ velha” po lít ica de qualificação profissio nal no Brasil.
Ao realizar mos a leit ura refer ent e aos P lanos, fo mos ident ificando
os t emas e cat egorias que adquir iram significação. Est es serão
apresent ados, analisados e cot ejados co m a lit er at ura, de for ma que no s
deem vis ibilidade dos element os que expr essam as s imilit udes e
difer enças e/ou as rupt uras e cont inuidades dos P lano s Nacio nais de
Qualificação. Est es conso lidam a nova polít ica pública de qualificação
profissio nal do Brasil.
Dest art e, o est udo é est rut urado a part ir da seguint e exposição:
[2] no segundo capít ulo, discut iremos o processo de reest rut uração
capit alist a, iniciado no limiar do século XX, co mo for mas feno mênicas
de acumulação capit alist as, co m o recrudesciment o do s mode lo s
produt ivos, a part ir do binô mio t aylor is mo/fordismo “para” o t oyot ismo.
Enfat izamo s que não há rupt uras subst anciais ent re os modelo s
produt ivos, mas co nt inuidades hist ór icas. Dessa for ma, apresent aremo s
as novas exigências de qualificações e co mpet ências pro fissio nais
requer idas pelo no vo padrão de acumulação, concebidas co mo for mas de
o capit al amp liar o processo de valor ização e acumulação.
t rabalhadores se const it ui co mo uma est rat égia de hegemo nia do capit al,
sendo est a for jada em t orno de um pro jeto de busca do consenso at ivo
dos gover nados, cuja expressão é a part icipação at iva das organizações
de vida social na pro moção da refer ida polít ica.
Tendo em vist a a problemat ização realizada nos capít ulo s
precedent es, fina lment e, nas co nsid erações finais, discut iremo s
sint et icament e os desdo brament os da nova inst it ucio nalidade da s
polít icas públicas de qualificação.
Não obst ant e, espera mos que co m a leit ura desse t rabalho possa m
ser lançadas luzes ao limit e do t empo e das circunst âncias hist ór icas de
sua produção, de maneira que no encont ro de o lhares possa emergir
novas possibilidades de apropr iação e produção de conheciment os, assi m
co mo nos propõe Vinícius de Moraes (2009):
Ent ret ant o, as transfor mações na base produt iva e na vida social,
ense jadas pela Terceira Revo lução Indust r ia l, apresent am -se
cont radit oriament e, lo nge de for jar mudanças abissais nas r elações
sociais, de modo a ampliar a possibilidade do t empo livr e do ser social.
Est a t em sido a pr incipal expressão do novo ciclo de acumulação
capit alist a, or ient ada pelo aument o expo nencial das t axas de lucro co m a
expropr iação e degradação do t rabalho humano, sob no vas bases e
dimensões.
28
A expr essã o “m un di a l i za çã o do ca pi t a l ” est a bel ec e i n tr ín seca r el a çã o com o t er m o
Gl obal i zaç ão . Segun do Ch esna i s (1996, p. 17), n a sua obr a Mundi ali zaç ão do
Capi t al , o t er m o gl oba l i z a çã o t r a duz a ca pa ci dade est r a t égi ca de t od o gr a n de gr upo
ol i gop ol i st a , vol t a d o pa r a a pr oduçã o m a n ufa t urei r a ou pa r a a s pr in ci pai s a t i vi da des
de s er vi ç os, de a d ot a r , por con t a pr ópr i a, um en foqu e e c on dut a “gl oba i s” . Pa r a ess e
a ut or , o m esm o va l e, n a esfer a fi n an cei r a, pa ra a s ch a ma da s oper a ções d e
a r bi tr a gem . A int egr a çã o in t erna ci on a l dos m er ca dos fi n a n cei r os r esul t a, si m, da
l i ber a l i z a çã o e d esr egul a m en t a çã o que l e va m à a ber t ur a dos m er ca d os n a ci on a i s e
per m i t e sua i n t er l i ga çã o em t em p o r ea l . Ma s, ba sei a -s e, s obr et udo, em op er a ções d e
a r bi tr a gem fei t a s pel os m a i s i m por t ant es e m a i s in t erna ci on a l i za dos gest i on ár i os de
ca r t ei ra s de a t i vos, cu j o r esul t a d o d eci d e a i n t egr a çã o ou a excl usã o em r el a çã o à s
“ ben es se s da s fi n an ça s de m er ca do” . Pa r a Ch esn ai s, ba st a pouca c oi sa pa r a que um
l ugar fi n an cei r am en t e “a tr a ent e” dei xe de sê -l o e m quest ã o d e di a s e, de cer t a for m a ,
fu ja da ór bi t a da m un dia l iz a çã o fi n an cei r a .
47
uma nova divisão int er nacio nal do t rabalho, que separa os países
empobrecidos dos enr iquecidos, inst aurando uma nova hegemo nia. Par a
Ianni (2002, p. 17), a glo balização/ mundialização se c onst it ui co mo:
Alé m de Ant unes, do is out ros import ant es aut ores têm
problemat izado a cr ise est rut ural do capit a l; são eles: Braga (1996) e
Mészáros (2002). Para Ant unes, o capit a l t em operado de for ma a
aprofundar a separação ent re a produção gerada, genuina ment e par a
at ender às necessidades de aut orreprodução de si própr io. Quant o mais
aument am a co mpet ição e a concorrência int ercapit ais, m a is nefast as são
as co nsequências, das quais duas são part icular ment e graves: a
dest ruição e/ou precar ização, sem paralelo s em t oda a era moder na, da
força humana que t rabalha e a degr adação crescent e do meio ambient e,
na relação met abó lica ent re ho mem, t e cno logia e nat ureza, conduzida
pela lógica societ al subordinada aos parâmet ros do capit al e do sist ema
produtor de mercador ias ( ANTUNES, 2000, p. 26).
29
Des em pr ego est r ut ura l ou t ecn ol ógi c o que se or i gina em m udan ça s n a t ecn ol ogi a
de pr oduçã o (a um en t o da m eca n i za çã o e a ut om a ç ã o) ou n os pa dr ões d e dem a n da dos
c on sum i dor es (t or n an do obs ol et a s c er t a s in dústr ia s e pr ofi ss õe s e fa z en do sur gi r
out r a s n ova s ): em a m bos os ca s os, gr an de n úm er o de tr a ba lh a dor es fi ca
des em pr ega do, em cur t o pr a z o, en qua n t o a m in or ia espe ci a l i z a da é ben efi ci a da pel a
va l or i z a çã o d e sua m ã o-d e- obr a [si c] (GO RE N DE R, 1985). E n tr et an t o, i sso n ã o é
r egra n o Br a si l .
49
[...] Este s ist ema emer giu, no cur s o da histór ia, como
u ma estr utur a de contr ole „t otaliza nt e‟ das mais
poder osas, [...] dentr o do qual tu do, incluindo os s er es
hu ma nos, deve a justar -s e, pr ova ndo em cons eqü ência
[sic] sua „ viab ilida de pr odut iva‟ ou, ao contr ár io,
p er ecendo. Não s e p ode p ensar em outr o sist ema d e
contr ole ma ior e inex or ável – e ness e s ent i d o
„tota litár io‟– qu e o sist ema de cap ital globalment e
domina nt e, qu e imp õe „s eu cr it ér io de viabilidade‟ e m
tudo, des de as menor es u nida des de s eu „ micr ocos mo‟ at é
as ma ior es empr esas tr ansnaciona is, des de as ma is
ínt imas r elações p ess oais at é os ma is comp lex os
pr ocess os de t oma da de deci s ões nos cons ór cios
monop ólicos industr iais, favor ecendo s empr e o ma is f or t e
contr a o ma is fr aco‟. E, neste „ processo de alienação, o
capital degrada o suj eito real da produ ção, o trabalho, à
condição d e uma obj etividad e reificad a – um mero „fato r
material de produ ção‟ – transformado, dess e modo, nã o
só na teoria, mas também na prática social ma is
palpável, a r elaçã o r ea l do su jeit o/ ob jeto [...]‟. O
50
30
Ver a pesqui sa que an a li sou o pr oce ss o de r ees t r ut ura çã o pr odut i va na s in dústr i a s
de O ba r a & Fi lh o (2009), in t i t ul a da “Os efe i t os d o pr oc es s o de r ee st r ut ur a çã o
pr odut i va em um a i n dúst ri a de t r an sfor m a dos p l á st i cos da r egi ã o m et r opol i t a n a de
Cur it i ba ” . Nessa p esqui sa , os a ut or es d em on st r am com o c on vi vem for m a s a r ca i ca s e
52
Para super ação da cr ise, o capit al deflagr ou vár ias t ransfor mações
no próprio processo produt ivo, por meio da const it uição das for mas de
acumulação flexível, da gest ão organizacional co mo modelo s alt er nat ivos
ao binô mio t aylor ismo / fordismo 31, em que se dest aca o toyot ismo ou
modelo japo nês (BRAGA, 1996; ANTUNE S, 2000).
32
Um a ca r a ct er í st i ca cen tr a l do t oyot i sm o é a vi gên ci a da “m a n i pul a çã o” do
c on sen t i m en t o dos t r a ba l h a do r es, obj et i va da em um con jun t o d e i n ova ç õe s
or ga ni z a ci on a i s, in st it uci on a i s e r el a ci on a i s n o com pl ex o de pr oduçã o d e
m er ca dor i a s, que per m it em “super a r ” os l i m i t es post os p el o t a yl or i sm o - for di sm o. É
um n ovo t i po d e ofen si va do ca pi t a l n a produ çã o qu e r ec on st i t ui a s pr á ti ca s
t a yl or i st a s e for di st a s n a per spect i va d o qu e p oder í a m os den om i n ar um a ca pt ur a da
subj et i vi da de op er ár i a pel a pr oduçã o d o ca pi t a l . É um a vi a de r a ci on a li z a çã o do
t ra ba l h o que in st a ur a uma sol uçã o di fer en t e – que, a r i gor , n ã o dei xa de se r a
m esm a , ma s que n a di m en sã o su bj et i va é out r a – da exper im en ta da por T a yl or e
For d, pa r a r esol ver , n a s n ova s c on di ç õe s d o ca p i t a l i sm o m un di a l, um dos pr obl em a s
est r ut ura i s da pr oduçã o d e m er ca d or i a s: o c on se n ti m ent o (ou d e r om per a r esi st ên ci a
à sa nha d e va l or i z a çã o d o ca pi t a l , n o pl a n o da pr oduçã o), s e ja a t ra vés da pr odu çã o
em equi pe, a c ei t a çã o da s suge st ões e a sp e ct os i n ova d or es d os t r a ba l h a dor es n o a t o
pr odut i vo, den t r e out r os (ALVE S, 2000, p. 44).
33
A fl exi bi l i da de é um fa t or ch a ve e d et er m i nan t e da pr odut i vi da de. É por i ss o que o
t oyot i sm o sur ge c om o a m ai or expr essã o da a cumul a çã o fl exí vel .
56
Ent ret ant o, o grande pot encial h eur íst ico do toyot ismo, de acordo
co m Alves (2000), não pode ser reduzido à co mpreensão de surgiment o
de uma nova lógica de produção de mer cador ias, gest ão do t rabalho e
refuncio nalização das capac idades int elect ivas dos t rabalhadores, mas a
58
Para efeit o de ilust ração 34, bast a ver ificar no setor de ser viços ou
mesmo na grande indúst r ia co mo se convivem har mo nio sament e os
modelo s produt ivos em t ela. Por mais que o “novo” modelo enfat ize a
part icipação dos t rabalhadores na gest ão, sua part icipação é merament e
para efeit o figurat ivo, pois o cont role no processo produt ivo, bem co mo
os processos decisór ios co mpet em aos gr andes execut ivos. Considerando
essas dimensões, o t oyot ismo co mo modelo hegemô nico é uma falácia,
no qual sua “universa l ização” é ainda inc ipient e, so bret udo em países de
econo mia per ifér ica co mo o Brasil.
Ent ret ant o, t al fenô meno é inerent e à dinâ mica reprodut iva do
sist ema. Mar x (1983), em O Capital, mencio na que o capit a l em seu
met abo lis mo não necessit a de t oda a for ça de t rabalho, é part e de sua
dinâmica reprodut iva a exclusão e a produção de uma população
excedent e, desnecessár ia à produção. Como demo nst ra o autor:
for mal, so bret udo o indust r ial, e no est reit ament o progressivo da
front eir a que ant es separavam ocupações formais e infor mais.
35
Pa ra um est udo a pr ofun da do a cer ca do pa pel que t em desem p en ha do o Br a si l n a
di vi sã o i n t er na ci on a l do T r a ba lh o, ver a pes qui sa de: T E IXE IRA J R. August o
Wa gn er Men ez es, i nt i t ula da : pol í ti c as de de se nvol vi me nt o e e str até gi as de
Inse r ç ão i nte r nac i onal c ompar adas: Br a si l e C or éi a do Sul . (2009). Di spon í vel em :
R e v i st a Trê s Pont os , per t en cen t e a o Ce n t r o Aca dêm i c o d e Ci ên ci a s S oci a i s da
UFMG, n o pr i m ei r o sem est r e d e 2007. ISSN: 1808 -169X. Nes se est ud o, o a ut or
a fi r m a com o r esul t a do que o Br a si l é con s i der a do com o sen do um pa í s em
des en vol vi m en t o, r ec ém i n dust r ia l iz a do e um a da s gr an des ec on om i a s m un di a i s.
Por ém , segun do a ut or es r el e va n t es, ess e pa í s a in da se m an t ém n o qua dr o de
subd es en vol vi m en t o, depen dên ci a e c om gr an des di spa r i da des r egi on a i s e soci a i s.
E ssa si t ua çã o é a gr a va da se c on si der a r m os o p os sí vel pr oce ss o d e
“de si n dust ri a li z a çã o” em cur so, o qua l pod er á a l t era r o l ugar do Br a si l na di vi sã o
i nt ern a ci on a l do t r a ba lh o, de gr a n de exp or t ador de ben s m a n ufa t ura dos e d e
c om m odi t i es, pa r a o pa pel de pr oved or de a l i m en t os de en er gi a s r en ová vei s
(T E IXE IRA Jr . , 2007, p. 10).
64
O est udo apont a que t rês quart os dos empr egos da Áfr ic a
Subsaar iana, mais de do is t erços no sul e sudest e da Ás ia, met ade na
Amér ica Lat ina, Or ient e médio e no norte da Áfr ica são infor mais. Isso
sem cont ar co m o set or agríco la. S e est e for incluso, esses nú meros
crescem assust adorament e, ou seja, a info r malidade chegar ia a 90% só no
sul da Ásia. Esse levant ament o, divu lgado recent ement e, fo i realizado
t endo por base os dados ma is recent es dis poníveis em cada região.
Ent ret ant o, o aument o do empr ego não est á relacio nado ao
aument o da remuneração do t rabalho. Out ro aspect o a considerar do
pont o de vist a social são os indicadores de pobreza; est es sinalizam par a
índices inco mensuráveis. A desigualdade no Brasil é uma das maiores do
mundo. No ent ant o, o Brasil não é um país pobre, mas um país co m
muit os po bres e co m uma enor me desigualdade na dist r ibuição de renda e
das oport unidades de inc lusão econô mica e social. BARROS (2006)
realiza um est udo acerca da pobreza e dis t ribuição de renda e demo nst ra
que a fat ia da renda tot al apropr iada pela parcela ma is r ica da população
é da mesma magnit ude que a apropr iada pelo s 50% mais po bres, e o s
10% mais r icos se apropr iam de mais de 40% da renda, enquant o os 40%
mais po bres se apropr iam de menos de 10%. Ou seja, apesar desse
per íodo de declínio, a desigualdade de renda per manece ext rema ment e
67
36
Pa r a Sa l es (2006), sã o expr es s õe s de m od er n a s est r at égi a s de s obr e vi vên ci a :
c om bei r os, m ot o t á xi de t r an spor t es a l t ern a t i vos, l a va -ja t os d e e squi n a , m ot o boys,
ca t a dor es d e r eci cl á vei s, a m bul a n t es de ba r r a quinh a s, ven dedor es de ca ch or r o quen t e
a m bul a nt e, ven ded or es d e á gua e qu en t inh a s de r ua , ven dedor es d e CDs e DV D s
pi ra t a s, byke l a n ch es, ven ded or es de ch urr a squinh os, den tr e out r os. E sse s t i pos d e
a t i vi da des s e ca r a ct er i z am por uma t a xa de r ot a t ivi da de, pel a i n exi st ên ci a de ca r t ei ra
a ssi n a da e por n í vei s sa l a r ia i s (quan do exi s t en t es) a vi l t a nt es. E m gera l , sã o
c on si der a da s a t i vi da des cl a n dest in a s e i l ega i s per ant e o pod er públ i c o.
69
der es gu la mentar dir eit os hist or ica ment e conqu ista dos ;
aumentar a fr agmentaçã o no int er ior da class e
tr abalha dor a; destr u ir o sindicalis mo de class e e
conver t ê-lo em u m s indicalis mo dócil, de par cer ia,
pr ecar ização e t er ceir ização da f or ça de tr abalho.
Ent ret ant o, a t ese da dest ruição dos postos de t rabalho, que
vimo s discut indo at é est e pont o com Alves; Ant unes; Har vey ent re
out ros, é cont est ada por pesquisadores que apont am o cresciment o das
at ividades de ser viços nas grandes met rópoles. P ara est es pesquisadores,
as novas t ecno logias t êm aument ado vert igino sament e os “ser viço s
econô micos int ensificados em conheciment os”. Conheciment os
socializados, t anto pelas unidades educat ivas de produção e socialização
do co nheciment o, como produt ivas e co mercia is. Nesse co nt ext o,
aproximam- se ainda mais as front eiras ent re trabalho e educação
mediadas pelas ideo logias da profiss io nalização. A co mpet ência e a
empregabilidade são for mas dessa ideologia, que d iscut iremo s no
t erceiro capít ulo dest a invest igação.
2.3. A quali ficação p rofissional como resposta à cri se do emp rego 37: a
emergên cia das políticas de quali ficação profi ssion al
37
A fa l t a de qua l i fi ca çã o pr ofi s si on a l a in da é um dos en t ra ves pa r a quem pr ocur a
em pr ego. E st a é a con cl usã o que c on st a n o A nuári o do Si ste ma Públ i c o de E mpre go e
R e nda 2008 , di vul ga do em 29 d e a br i l de 2009 pel o Depa r t a m ent o In t er sin di ca l de
E st a t í st i ca s e E st udos S oci oec on ôm i c os (DIE E SE ) e pel o Mi n i st ér i o do T r a ba lh o e
E m pr ego (MT E , 2009).
71
produção e int rodução de novas t ecno logias base adas na microelet rônica,
sobret udo, em face da convivência passiva e int egrada de modelo s
produt ivos, paut ado no t rinô mio t aylor ismo / fordismo/t o yot ismo,
paradigma cujas empresas int egradas e “flexibilizadas” admit em para se
inser ir em um mer cado ext remament e compet it ivo. Essas mudança s
t rouxeram co mo desafio s para a reprodução capit alist a a necessidade de
se invest ir em novos requis it os da for mação profissio nal. Hirat a (1994)
explicit a as novas exigências e os novos disposit ivos da lógica de
produção capit a list a co m o Toyot ismo:
38
Di scut i r em os a c on c epçã o d e c om pet ên ci a n o pr óxi m o ca pí t u l o, c om o for m a de
i deol ogi a da pr ofi ssi on a l i z a çã o, c om o t a m bé m da em pr ega bi l i da de. Sobr e a s
c om pet ên ci a s, a n a l i sar em os a c on c ei t ua l i z a çã o d e Per r en oud, um dos m a i s
dest a ca d os t e ór i c os do ca m po da s peda gogi a s da s com pet ên ci a s.
72
Est e novo mode lo, reco nfigurado com o “no vo” modelo
produt ivo, é responsável pela inst alação de uma nova for ma de
organização da produção e de um relacio nament o ent re o capit al e o
t rabalho, sendo mais favorável ao capit al quando co mparado ao
t aylor ismo / fordismo, uma ve z que possibilit ou, pelo menos em t ese, o
advent o de um t rabalhador mais qualificado, part icipat ivo,
mult ifuncio nal, po liva lent e, dot ado de “maior realização no espaço de
t rabalho” sem a cont rapart ida necessár ia do preço da força de t rabalho
enr iquecida e valor izada. Est as car act eríst icas ino vadoras co nt ribue m
co m a “no va fase” de acumulação capit alist a. Mais apropr iada à
int eração ent re capit al e t raba lho 39, essas caract er íst icas apr esent am uma
pseudossuperação do est ranha ment o do t rabalhador no processo de
produção, por concorrer para a apropriação das capacidades int elect ivas
e de t rabalho dos t rabalhadores. Co mo analisa Mar x (1985, p. 23):
39
A LD B (9. 394/ 96) cum pr i u um a fun çã o n or m a t i va si gn i fi ca t i va a o for t a l ecer a
l ógi ca pr odut i va ca pi t a l i st a. O ei xo est r ut uran t e da r efer i da Lei é a for m a çã o pa r a o
m er ca do. Fun da da n a r el a çã o en t r e t ra ba l h o e educa çã o, i r á for t a l ecer em s eu s
objet i vos a for m a çã o dos educa d or es a pt os a c on tr i buí r em com a pr epar a çã o dos
educa n dos pa r a se i n ser i r em n o m er ca do de t ra ba l h o c om n ova s h a bi l i da des e
c om pet ên ci a s em fa ce da s m uda n ça s e e vol u ç ões ci en t í fi ca s e t ecn ol ógi ca s. De ssa
m an ei ra , os cur r í cul os de vem se est r ut ur ar ba se a dos em c om pet ên c i a s e h a bi l i da des
que qua l i fi quem pa r a um a in ser çã o pr odut i va e “ci da dã ” , n em que seja um a
ci da da ni a a pen a s par a a l gun s.
73
40
E st udo r ea l iz a do em Por t uga l, por E ugén i o Rosa , en tr e 2005 e 2007, i den t i fi cou
um a um en t o cr esc en t e do n í vel de qua l i fi ca çã o d a po pul a çã o em pr ega da . No en t an t o,
a pesa r do ní vel de es c ol a r i da de da popul a çã o em pr ega da t er a um ent a do n os doi s
úl t i m os a n os, o n úm er o de post os de t r a ba l h a dor es r el at i vos a pr ofi s s õe s qu e
pod em os c on si der a r com o de "qua l i fi ca çã o m a i s el e va da " (qua dr os sup er i or es,
esp eci a l i st a s de pr ofi ss ões i n t el ect ua i s e ci en tí fi ca s, e t é cn i cos pr ofi ssi on a i s de
n í vel i nt er m édi o) di m in ui u em 115, 9 m i l. Pel o c on t rár i o, duran t e o m esm o p er í od o, o
n úm er o de post os d e t ra ba l h o r el a t i vos a pr ofi s sões qu e for a m desi gna da s com o d e
"qua l i fi ca çã o m édi a " a um en t ou em 59, 7 m i l , e os c om "qua l i fi ca çã o m a i s ba i xa ”
cr esc er a m em 72, 1 m il . A con cl usã o que ch ega o e st udo é que a c r i a çã o i n sufi ci en t e
de em pr eg o qua l i fi ca d o g er a desqua l i fi ca çã o e des em pr ego cr esc en t e en t r e os d e
m a i or escol a r i da d e. No Br a si l , est udo r ea l i z a do p or T um ol o, L. & T um ol o, P. S
(2009) con cl ui que o de sem pr eg o a t in ge pess oa s de t odos os n í vei s de e sc ol a r i da de,
e que, m esm o a quel a s qu e t êm um gr a u m ai s el e va do de es c ol a r i za çã o, c om o é o ca s o
da ma i or i a dos en t r evi st a dos, n ã o t êm en con tr a do fa ci l i da de em con s egui r em pr ego.
74
Um espaço t ípico e caract er íst ico para const it uição da ident idade
de classe é o sindicat o. Ent ret anto, est udo apont a que, ent re 1992 e 2002,
a t axa de sindicalização em t odo o mundo vem decaindo, confor me
podemos visualizar no gráfico abaixo:
FO NTE: Repr oduz i da a par t ir dos da dos da pesq ui sa CUT / DIE SE / IBGE / 2009 .
75
41
Rel a t ór i o di sp on í vel em New Y or k T im es. Si t e:
h tt p: / / www. n yt i m es. c om / 2011/ 01/ 22/ busi n ess/ 22 un i on.h t ml ?_r = 2
76
Cont radit oriament e, est e s aut ores analisam que, por sua vez, as
pesqu isas ma is recent es procuram pôr em evidência que as mudanças
ocorridas no cont eúdo e nas condições de produção necessit am de u m
t rabalhador co m uma nova for mação. A ampliação da qualificação
profissio nal t ornar -se- ia exigência, na medida em que impedir ia a
inadequação ent re a ofert a e a demanda de força de t raba lho, ou seja, as
empresas em busca dos t rabalhadores mais qualificados e o mercado
oferecendo t rabalhadores co m pouca preparação pro fissio nal par a ocupar
os post os de t rabalho exist ent es.
Nesse sent ido, os requisit os pro fissio nais que poder iam facilit ar
o ingr esso e a per manência no mer cado de t rabalho, co mo os
conheciment os cient íficos e t ecno lógicos, só poderiam ser obt idos por
meio de um maior níve l de esco lar ização dos trabalhadores, mes mo que
não acompanhado com o aument o de salár io. Com isso, à população e m
geral, ser ia exigida uma for mação que promo vesse o desenvo lviment o da
flexibilidade, o desenvo lviment o int elect ual e cognit ivo, o espír it o
cr ít ico , a capacidade de ino vação, a adapt abilidade às mudanças, o
espír it o de cooperação, uma vez que qualquer indivíduo, a qualquer
mo ment o da vida, poder ia ser at ingido pelo desempr ego. Para alcance
desse o bjet ivo, Paiva r essalt a a importância da adoção da lóg ica da
flexibilidade nos processos pedagógicos da qualificação profissio nal:
[...] ser ia[ m] esp ecialment e valor adas qua lif icações
ma nua is e int electua is qu e at endess e[ m] às necessida des
da vida diár ia, com car áter p oliva lent e, enqua nt o
qua lif icações ar tesa na is s er ia m r equ er idas não ap enas
par a o des envolviment o de ativida des indep endent es, ma s
tamb ém par a novas for mas de ins er çã o par cial ou
int er mit ent e no mer cado (p or ex emp lo, t r abalho p or
encomenda ) qu e es capa m às f or mas tr adiciona is d o
contr ato. Ao tr aba lho f lex ível dev er ia[ m] cor r esp onder , a
77
1- Po st os de ge rê n ci a, di re ç ã o, pl a ne j a me nt o e p ro gr a m a ç ã o de n ív e l s u pe ri o r.
2- Po st os de co nt ro le de s u pe rv is ão, ope r ad o res e ad mi ni st r ação .
3- Po st os de at iv id a de s si m ple s, m a n u ai s e de e xe c u ç ã o.
42
Com o se sa be, a i n sti t uci on a l i da de que r egul am en t a va a pol í t i ca de qua li fi ca çã o
pr ofi s si on a l dos t r a ba l ha dor es, desd e a dé ca da de 1930, pr i vi l egi ou o Si st em a S,
c om o um a da s pr in ci pa i s in sti t ui çõe s r esp on sá vei s pel a qua l i fi ca çã o e pr epa ra çã o
dos t r a ba lh a dor es do Br a si l , com o a p oi o e a por t e fi n an cei r o do E st a do. A
ca r a ct er í st i ca da peda gogi a da f or m a çã o er a de ca r á t er i n str um en ta l , pa ut a da n o
m odel o de pr oduçã o t a yl or i st a / for di st a .
80
43
O est udo r ea l i z a do por OLIVE IRA, Ra m on , int it ul a do Empr e sar i ado br asi l e i r o e
a e duc aç ão br asi l e i r a : qua li fi ca r par a com pet i r ? Sã o Pa ul o: Cor t ez , 2005, é um dos
m a i s r el e va n t es est ud os n o â m bi t o da edu ca çã o qu e t em di s cut i do o pr oj et o
soci et á r i o d o em pr esa r ia do br a si l ei r o. Ness e e st udo, o r e fer i do a ut or a na l i sa de
for m a m in uci osa a r el a çã o en t r e ec on om i a e e duca çã o e o a pel o d o em pr esa r i a do
pa ra a m pli a çã o da s ca pa ci da des i n t el ect i va s e d e pr odu çã o d os t r a ba l h a dor es c om o
for m a de garan t ir o a um en t o da s sua s r i quez a s.
81
44
Pa r a Gr am sci , o “c onse nt i me nt o at i v o ” di z r espei t o a os i n di ví duos e gr upos que
pa rt i ci pa m con sci en t em en t e de um a da da con ce pçã o de m un do ( GRAMSCI, 1978) .
Nes se s en t i do, é op or t un o m en ci on ar o pa pel que a ssum i u o em pr esa r i a do br a si l eir o
n a par t i ci pa çã o de um a con cep çã o de m un do a cer ca da qua li fi ca çã o d os
t ra ba l ha dor es, de m od o a ben e fi ci á -l os.
83
Para Alves (2002, p. 23), todo discurso que just ificou o PLANFO R
fo i baseado no toyot ismo, concorrendo, em grande part e, para a
divulgação dos conceit os e da ideo logia do modelo flexíve l no Brasil,
mo vidos pela just ificat iva da flexibilidade. Gover no, esco las e sind icat os
passaram, ent ão, a difundir o discur so da nova pedagogia do capit al,
associando o conceit o de empregabilidade às noções de co mpet ências e
de novas habilidades cognit ivas e co mport ament ais exigidas pela nova
racio nalidade capit alist a. Para isso, fo i organizado todo um co mplexo de
aparelho s pr ivados e públicos que passaram a disseminar, por meio de
cursos de curt a duração, a nova racio na lidade da produção capit alist a.
Ressa lt amo s, ainda, que est amos ut ilizando a cat egoria inc lusão -
excludent e a part ir do aport e t eórico e das pesquisas de Kuenzer (2009).
E m vár io s art igos, a refer ida aut ora t em proble mat izado a quest ão da
inc lusão -excludent e, a part ir da análise da pedagogia do t rabalho na
acumulação flexíve l. Segundo est a aut ora, do pont o de vist a do mer cado,
ocorre um processo de exclusão da força de t rabal ho dos post os
est rut urados, para inc luí- la de for ma precar izada em out ros programas da
cadeia produt iva. Já do ponto de vist a da educação, est abelece -se u m
mo viment o cont rár io, dialet icament e int egrado ao primeiro: por força de
polít icas públicas “professa das” na direção da democrat ização, aument a -
se a inc lusão em t odos os pont os da cadeia, mas se precar izam o s
processos educat ivos, que result am na mera oport unidade de cert ificação,
os quais não asseguram ne m inc lusão, nem per manênc ia.
E m resumo, do lado d o mercado, um processo de exclusão -
inc ludent e t em garant ido difer encia is de co mpet it ividade para os set ores
est rut urados por meio da co mbinação da cadeia produt iva, invest iment o
em t ecno logia int ensiva de capit al e de gest ão de consumo precar izado
da força de t rabalho. Do lado do sist ema educacio nal e de Educação
profissio nal, um processo de inclusão que, dada a sua desqualificação, é
excludent e (KUENZER, 2009, p. 871 -880).
A part ir dos referenciais dest a aut ora, nosso est udo compreend e
que a inclusão -excludent e no mundo do trabalho refer e -se às condições
de t rabalho precár io, co m for mas de subemprego, t erceir ização, be m
86
co mo dest it uição de dir eit os sociais aos quais serão submet idos os
t rabalhadores qualificados, compet ent es e empregáveis. Uma inc lusão
que, no mínino, não garant e o exercíc io da verdadeir a cidadania liber al.
87
Co m est e est udo, não pret endemo s realizar um t rat ado acerca da
cat egoria ideo logia, dado a vast idão de est udos, polissemia do t ermo e a
t rama de fios conceit ua is que a envo lve (EAGLETON, 1997). Michae l
Lowy (1975, p. 9) argument a sobre a exist ência de poucos conceit os na
hist ór ia das ciências sociais moder na t ão enigmát icos co mo o de
ideo logia. Para est e aut or, “ao longo dos dois últ imo s século s o conceit o
de ideo logia se t ornou objet o de uma acumulaçã o incr íve l e fabulosa de
ambigüidades [si c] , paradoxos, ar bit rar iedades, co nt ra -sensos [sic ] e
equívocos”.
Para Gramsc i (1985), nos vár ios co mp lexos sociais são for jado s
concepções e conheciment os que inoculam visõ es de mundo que
fort alecem a sociabilid ade, cr iando ident idade e ho mogeneidade cult ural,
bem co mo co nso lida t radições ideo lógicas vigorosas. A cat egoria
ideo logia adquir e, em Gramsci, duas perspect ivas; inclusive, pode
assumir um sent ido posit ivo. Ela não se reduz à fals ificação da realidade,
à consciência alienada. A ideo logia t ambém é concebida co mo visão de
mundo.
Ent ret ant o, mesmo não sendo cont rár io à concepção de Mar x &
Engels, Gramsci amplia o significado de ideo logia. Mar x & Engels
(1980) concebia m a ideo logia co mo inver são da realidade ou
represent ação do ser no pensament o; eles enfat izam as ideo logia s
burguesas co mo repr esent ações da aparência que falsificam o “mundo
89
hegemô nicas 45, necessit am do consent imento dos gr upos sociais que se
pret ende subjugar.
45
Gr a m sci n os Cade rnos do Cárc e re de sen vol ve o c on c ei t o d e h eg em on i a , o qua l
est á l i ga do a um com pl ex o si st em a de r el a çõe s e m edi a ç ões. E ssa s m edi a ç ões s e
c on fi gur a m em estr a t égi a s pr át i ca s pel a s qua i s um poder dom i nan t e obt ém o
c on sen t i m en t o a o seu d om í n i o da quel es que su bjuga . Pa ra con qui st ar a h egem on i a e
est a bel e c er l i der an ça m or al , pol í t i ca e i n t el ect ua l na vi da soci a l , di fun di n do sua
“ vi sã o de m un do” pel o t e ci d o da s oci eda de, é n e ce ssá r i a a garan t i a do con sen t i m en t o
dos su ba l t ern os (G RAM SCI, 2001). Desen vol ver em os o c on cei t o d e h egem on i a ,
a ssi m com o bus ca r em os d i s cut i r a pol í t i ca de qua l i fi ca çã o pr ofi s si on a l dos
t ra ba l ha dor es, c om o um a da s di m en sões da h eg e m on i a do ca pi t a l c om a m edi a çã o d o
E st a do n a úl ti m a par t e dest e est ud o.
91
ideo logia é, para o sist ema c apit al, mecanis mo imprescindível par a
manut enção da dinâmica reprodut iva, que co mpreende, reciprocament e, o
processo de valor ização do capit al, a part ir da concent ração, ampliação e
acumulação de r iquezas, produzidas socialment e pelo t rabalho humano.
Co m a reest rut uração capit alist a das últ imas t rês décadas do século
XX, a compet ência e a empregabilidade se configuraram co mo
mat er ialidade hist ór ica, e cont r ibuír am para for jar, no âmbit o dos
processos de for mação humana e po lít ic as educacio nais, a const it uiç ão
de “no vos conceit os, pr inc ípio s e discur sos”, sendo, port ant o,
“port adores de novos significados que operam co mo inst rument os
ideo lógicos” ( FRIGOTTO, 1989). Est es inst rument os, a que se r efere
Fr igotto, fort alecem a exploração do capit al sobre o t rabalh o e,
simult aneament e, ser ve de diret r iz para implant ação das refor mas
educat ivas no seio da qualificação da for ça de t rabalho 46. Fr igotto (2001,
p. 13), ao analisar a t rama hist ór ica que envo lve a base produt iva e o s
processos de for mação humana, acrescent a :
Est e capít ulo o bjet iva discut ir a pedagogia das co mpet ências e a
t ese da empregabilidade co mo for mas específicas da ideo logia da po lít ic a
de qualificação profissio nal. Est as fo r mas ideo lógicas realizam a
46
No â m bi t o da s p ol í t i ca s educa ci on a i s par a o E n sin o Médi o, esp e ci fi ca m en t e, n a s
Di r etr i z es Curr i cul ar es Na ci on a i s, a c om pet ên ci a e a em pr ega bi l i da de t êm
cen t r al i da de, bem c om o n a s Di r et r iz es Na ci on ai s de F or m a çã o d e Pr ofes s or es. Pa r a
a pr ofun da m ent o, ver a T ese de D out or a m ent o d e CA RD OZO, M. J. P. B. A r e f or ma
do En si n o M é di o e a for maç ão d os tr abal ha dor e s : i de ol ogi a da em pr ega bi l i da de.
For t a l ez a , 2007. E o ar t i go de m inha a ut or ia in ti t ul a do: Pol í ti c a de for maç ã o
doc e nte : um est ud o da s di r et r iz es cur r i cul ar es na ci on a i s de for m a çã o d o pr ofe ss or de
l et r a s. UFA L/ 2009.
92
mediação ent re a base produt iva e as normat izações legais dos processo s
de qualificação da força de t rabalho. Pois funcio na co mo nexos que
art iculam as co ndições produt ivas 47, que for jam a necessidade de um
t rabalhador co mpet ent e e empregável, co m as condições educat ivas,
mat er ializadas, parcia lment e, nas po lít icas educacio nais, em part icular, a
de qualificação profissio nal.
47
Na s egun da pa rt e dest e est ud o, di s cut i r em os a s c on di ções e c on ôm i ca s, c om o
pr oce ss o d e r ee st r ut ur a çã o pr odut i va ca pi t a l i st a que er i gi u o c on cei t o d e
c om pet ên ci a e em pr ega bi l i da de.
93
adot aram t ais po lít icas econô micas. At é aquele mo ment o, segundo
Nogueira Bat ist a (1995), as únicas exceçõe s eram o Brasil e o Peru. A
adoção da agenda neo liber al fo i, desde 1980, sist emat icament e vinculada
co mo condição para a cooperação econô mica ext er na, bilat eral e
mult ilat eral, at ravés das r efer idas ent idades int er nacio nais. Port ant o,
para que os países “e mergent es” da Amér ica Lat ina pudessem co nt ar co m
a ajuda financeira int er nacio nal, eles t er iam que adot ar as medida s
liber alizant es propost as por Washingt on – exat ament e co mo uma
chant agem – e levadas a cabo pelos organismos financeiro s
int er nacio nais sediados na capit al amer icana. E m suma, “não se t ratou,
no Consenso de Washingt on, de for mulações no vas, mas, simplesment e,
de regist rar, co m aprovação, o grau de efet ivação das po lít icas
reco mendadas” (BANDEIRA, 2002).
Os pr incipais pont os do receit uár io inc lu íam: (a) disciplina fisca l,
(b) reor ient ação dos gast os públicos, (c) refor ma t ribut ár ia, (d)
liber alização financeir a, (e) t axa de câmbio do mést ica unificada e
co mpet it iva, ( f) libera lização do comér cio, (g) abert ura para o
financiament o ext er no diret o, (h) pr ivat ização e ( i) desregula ment ação.
Co mo consequência desse ajust e, deu -se a refor ma ger encia l do Est ado
brasileiro. Refor ma que englo ba, inclusive, a ação educat iva or ient ada
por organismos int er nac io nais. No todo, essas refor mas respondem à
cresce nt e necessidade de cr iar as condições de reprodução do sist ema.
48
Nã o n os c om pet e n est e e spa ç o t e cer um a pr ofí cua di scussã o a cer ca da cr i se do
t ra ba l h o na s di m en sões t e ór i ca s e pr á t i ca s. Na di m en sã o pr á t i ca, vi ven ci a m os o
des em pr ego em sua di m en sã o est r ut ur al e os di ver sos a sp ect os da sua pr eca r iz a çã o,
a ssi m com o a n ec essi da de de os s er es h um an os c on t i n uar em gar an t in do sua
r epr oduçã o e exi st ên ci a a pa r t ir do t r a b a l h o. Na di m en sã o t e ór i ca , o de ba t e é i n t en so
a cer ca da cr i se d o t r a ba l h o. Aut or es c om o G or z (1982); Offe (1989 ); Ha ber m a s
(1997), den tr e out r os, gua r da da s a s devi da s di fer en ci a ç õe s e pa r t i cul a ri da des
t eór i ca s, t êm a r gum en t a do sobr e a per da da cen t ra l i da de do t r a ba lh o n a
c on t em por an ei da de. E st udos cr í t i cos c on tr ár ios a est a per sp ect i va p odem ser
vi si t a dos, den tr e el es, os d e Mész á r os, An t un es e Les sa .
95
Cabe dest acar que além do Banco Mundial há out ros organis mo s
mu lt ilat erais t ais co mo: CEPAL, UNI CEF, UNESCO, BIRD, PLAN.
Est es organismos t êm co nt r ibuído na definição de est rat égias
educacio na is, po lít icas e econô micas para os países, sobret udo os co m
menor índice de desenvo lviment o hu mano assim co mo t êm fort alecido
u ma das dimensões da refor ma ger encial do Est ado que é a
inst it ucio nalização da part icipação e da parcer ia t r ipart it e: gover no,
empresár ios e t rabalhadores. Est es organismo s t êm est imulado e
financiado um número significat ivo de organizações do t erceiro set or
para est abelecer parcer ias e assumir funçõ es no int er ior do Est ado est rit o
senso.
49
Aut or es c om o GIL & SIL VA (2006, p. 45) defi n em pol í t i ca s com pen sa t ór i a s com o
i nt er ven çõe s do E st a do, a pa r tir de dem an da s da soci eda de, pa r a gar ant ir o
cum pr i m en t o de di r ei t os s oci a i s n ã o a ss egur a dos ou pa r ci a l m en t e a cessí vei s à
popul a çã o. E st a s pol í t i ca s com p en sa t ór i a s foca l i z a da s vi sa m r em edi ar os r esul t a dos
de p ol í t i ca s pr e ven t i va s i n sufi ci en t es e a p er m an ên ci a de m eca n i sm os soci a i s d e
excl usã o. E st a s dever i a m t er vi gên ci a de cur ta dur a çã o, poi s el a s dei xa r i am de
op er ar , desde que d esa pa r eça m os m e ca n i sm os s oci a i s que l h es der a m or i gem . Den tr e
a s pol í t i ca s ca r a ct er i za da s de com pen sa t ór i a s es t ã o: a bol sa f a m í l i a, a s pol í t i ca s de
c ot a , os pr ogr a m a s de qua l i fi ca çã o pr ofi s si on a l , den tr e out r os. O pr obl em a é qu e
est a s p ol í t i ca s t êm a ssum i do a con di çã o de p ol í t i ca per m an ent e; n a m edi da em que a s
c on di ções que a s g er a m nã o for em exa ur i da s, fa z sen t i do a per man ên c i a da s r efer i da s
pol í t i ca s.
98
50
A c om p et ên ci a c om o pr i n cí pi o educa t i vo é u m ei xo e st r ut ur ant e da r efor m a do
en si n o m édi o, cuj o cur rí cul o s e or i en t a por ta l pr essupost o. Pa r a um est udo m a i s
a pr ofun da do, ver o t ext o d e: LO PE S, A. C. Compe tê nc i as na or gani z aç ã o
c ur r i c ul ar da r e for ma do e nsi n o mé di o . Di sp on í vel em :
h tt p: / / www. s en a c. br / in for m a ti vo/ bt s/ 273/ bol t ec2 73a .h t m. Acess o em : 02/ 11/ 2009.
99
cult ural” ( OLIVEIRA, 2006), sust ent ado pelas agências mult ilat erais 51.
Est e simbo lis mo é capaz de mo bilizar e realizar u m amp lo co nsenso
ent re amplos segment os sociais e m t orno de pro jet os educa t ivos que
minimize a po breza e inclua socialment e par a uma cidadania
co mpet it iva. Est e t em sido o novo discurso int egrador da década de
1990, propagado pelas agências mult ilat erais, co m fort es impact os na s
polít icas educat ivas, mor ment e as po lít ic as de qua lificação pro fissio nal,
especifica ment e o PLANFOR e o PNQ, objet o de análise dest e est udo.
Dest a maneira, est e ideár io cumpre uma dupla função ideo lógica: a
educação “diminu i” a pobr eza, eleva as chances de empregabilidade, e,
por fim, gar ant e a cidadania para t odos. Em t empo, ocult a q ue as
possibilidades de inserção produt iva dos sujeit os não decorrem da sua
incapacidade, mas, s im, são consequências de um modelo eco nô mico cuja
base é o aument o cada vez maior da exclusão e pobreza.
51
O espa ç o de st e est ud o s e t or n a l i mi t a do pa ra a pr ofun da m en t o do i deá r i o e
r ecei t uá r i o da s Agên ci a s Mul t i l a t er ai s par a educ a çã o br a si l ei r a com for t es i m pa ct os
n a s pol í t i ca s educa ci on a i s. En tr et an t o, a pesqui sa in ova d or a r ea l i z a da por Oli vei r a
cum pr e de for m a ri gor osa est e pa pel . Ver : OLIVE IRA, R. Agê nc i as M ul ti l ate r ai s e
a e duc aç ão br asi l e i r a . Ca m pina s/ SP: Al ín ea , 2006.
100
52
A t e or i a do ca pi t a l h uman o sur gi u n os E st a dos Un i dos n a dé ca da de 50 c om um
gr upo de est ud os c oor den a do por T h eodor o S ch ul t z , pr êm i o Nobel de e c on om i a na
déca da de 1980. O pr essupost o d essa t e or i a é de que um a cr ésci m o m a r gina l de
i n str uçã o, tr ei n am ent o e educa çã o pr oduz um a cr ésci m o m a r gina l n a ca pa ci da de de
pr oduçã o e d es en vol vi m en t o. N o Br a si l , el a a dqui r i u im pul so a pa r t ir do p er í odo d o
“m i l a gr e ec on ôm i c o” . Pa r a ent en der os pr essupost os da T C H, ver o l i vr o: SC HULT Z,
T . (1973) O val or e c onômi c o da e d uc aç ã o.
53
Ver a t ese d e dout or a m en t o em Soci ol ogi a de: Bez er r a, C. (2006), in t i t ul a da:
Ambi val ê nc i a d o c on he c i me nt o n o pr oje t o e manc i patór i o na mode r ni dade : Ma r x
e Gr a m sci . Nessa t es e, o p esqui sa dor en fa t i za com o s e dá a r epr oduçã o
soci om et a ból i ca do ca pi t a l , o com pl ex o s oci a l da educa çã o. O a ut or a r ti cul a
c on cei t os i m por t an t es c om o f orç a de t rabal ho doc e nt e e f orç a de t rabal ho di sce nt e
na apropri aç ão soc i al de c onhe ci me nt os . É um a an á li se que c on t ri bui pa r a
c om pr een der a r el a çã o en tr e educa çã o e e st r ut ur a ec on ôm i ca ca pi t a l i st a.
102
insumo capaz de ser acumulado pelos t rabalhadores 54. Ent ret anto, o
mér it o de Schult z fo i reco nhecer que a aquis ição de novos
conheciment os t ambém cont r ibui para de senvo lver as novas
co mpet ências e habilidades que ampliam, simult aneament e, a capacidade
produt iva na cont emporaneidade. A apropr iação dos novo s
conheciment os e o desenvo lviment o de novas habilidades é, para Schut z,
a for ma pela qual os t rabalhadores est ão se t ornando capit alist as. Est a
assert iva post ula que os novos conheciment os, compet ências e
habilidades, socializados e desenvo lvidos no percur so da educação
básica e da educação profissio nal, cont r ibuem para valor izar a força de
t rabalho ; logo, valor izar o próprio capit al.
Out ro aspect o import ant e a considerar é a perspect iva de
invest iment o na força de t rabalho associado a invest iment o na
qualificação pro fissio nal, co mo co ndição necessár ia par a o acesso ao
emprego ou à ocupação profissio nal. Fr igott o (1 989) obser va que, para
est a abordagem, um acréscimo marginal de t reinament o e de educação
corresponder ia a um acréscimo margina l na produt ividade da força de
t rabalho, e, port ant o, como result ado do invest iment o em educação,
t eríamos, aut omat ica ment e, maio res t axas de ret orno econô mico e social.
Há, nessa concepção, um vínculo diret o ent re educação e produt ividade
do t rabalho. Esse vínculo, par a Fr igotto, dá -se mais ao nível do
aprendizado de co mpet ências e habilidades, do desenvo lviment o de
at it udes e post uras funcio nais do que propriament e à elevação da
capacidade produt iva da força de t rabalho . O que é mais grave: t al t eor ia,
sust ent ada pelo s organis mo s int er nac io nais, enfat iza que invest iment os
em educação cont ribuem para melhorar os indicadores de pobre za do s
países e, consequent ement e, t êm a vir t ude pot encial de reduzir a s
desigualdades sociais 55. Esse aspect o é, assim, cr it icado por Fr igott o:
54
Di scut i r em os a s c on t r i bui ções d e Hodgski n , especi fi ca m en t e, n a par t e qua tr o dest a
i n vest i ga çã o.
55
E st a é um a c on cep çã o qu e s e fa z pr es en t e n os Pl a n os Na ci on a i s de Qua l i fi ca çã o
Pr ofi ssi on a l , do PLAN FO R a o PNQ.
103
O element o cent ral dest a t eoria é afir mar que a educação possu i
at ribut os de um invest iment o na força de t rabalho, porque est a é um be m
do t rabalhador. Quer dizer, é um invest iment o dest inado à aquis ição de
habilidades geradoras de capit al de novo t ipo capaz d e mit igar o
problema da po breza e da desigualdade social. Não obst ant e, a t ese de
Schult z esconde a função po lít ica e ideo lógica de sua t eor ia, no sent ido
mar xiano de ideo logia, ou seja, que a educação, na sociedade capit alist a,
ino cula visões just ificador as e d issimuladoras da explor ação econô mica e
da do minação polít ica dos capit a list as sobre os t rabalhadores. Na
acepção de Schult z, t odos são capit alist as e não há lut a e conflit os de
classe, porque “os t rabalhadores vêm se tornando capit alist as ( sic) no
sent ido de que t êm adquir ido muit os co nhec iment os e diver sa s
habilidades” (SCHULTZ, 1973, p. 35).
56
Br a ver m a m, em s ua obr a Tr abal ho e Capi tal M on op ol i sta (1974), en fa t i z a que
qua nt o m a i or for a va l or i z a çã o do ca pi t a l m a i or é a d egr a da çã o d o t r a ba l h o, ou s e ja ,
a desqua l i fi ca çã o da for ça de t r a ba lh o. A degra da çã o da for ça de t r a ba lh o oc or r e
c om o pr oc ess o d e pr oduçã o de um exc eden t e que n ã o é a pr opr i a do pel o t r a ba lh a dor.
104
57
A pr om essa i n t egr a dor a da T CH er a que i n vest i m en t o em educa çã o, qua l i fi ca çã o e
for m a çã o pr ofi ssi on a l gar an t ia a t oda s a s pess oa s c ol oca çã o n o m un do do t r a ba lh o. A
es c ol a , n esse s en t i do, t inh a com o pr o m e ssa e fu n çã o soci a l pr epar ar os suj ei t os pa r a
ga l gar em êxi t o e a scen sã o s oci a l vi a in vest i m en t o n a educa çã o (GE NT ILI, 1999).
106
58
A p eda gogi a da c om pet ên ci a que t em c om o pr es supost o a i de ol ogi a d o “ apre nde r a
apre nde r”, c om o sl oga n do p er í odo h i st ór i co d e t ran sfor m a çõe s ca pi t a l i st a s, a dquir e
for ça n o ca m po edu ca ci on a l a pa rt ir do d ocum e n t o pr oduz i do p el a UNE SCO, BM e
out r os or ga n i sm os m ul t i la t era i s, a part ir da Conf e rê nc i a Mundi al de E duc aç ão para
Todos. O r el at ór i o que si st em a t i z ou t a i s pil ar es fi c ou c on h e ci do c om o n om e de
110
Ja cque s Del or s (1998), si st em a t i z a dor dest e i deá r i o (DUA RT E , 2001; ME LO, 2005).
Al ém de a pr en der a apr en der, com o um dos pi l ar es pa ra educa çã o d o fut ur o,
en con t r am -se o ap re nde r a f aze r, ap re nde r a c onv i v e r e apre nde r a se r ( UNE SCO,
2001). E st e docum en t o expr essa el em en t os que t êm or i en ta do a pr á ti ca peda gógi ca
n a s escol a s d o en si n o m édi o e a qua l i fi ca çã o pr ofi s si on a l dos t r a ba lh a dor es.
111
Todos esses no vos requisit os t êm por fim at ender aos pr inc ípio s
imper ialist as do capit al, ist o é, dinamizar seu met abo lis mo de
acumulação e expansão. Para conso lidação desse propósit o, no cenár io
brasileiro, mudanças na legis lação educacio nal e a imple ment ação de
polít icas públicas co mpensat órias de qualificação profiss io nal ent rara m
em cena, co m a int enção de “alavancar” o pa ís para o
“desenvo lviment o”. Como cenár io dessas mudanças, a década de 1990
vai ser palco de refor mas educacio nais, e, nest as, de uma no va
inst it ucio nalidade de qualificação profissional.
Para garant ir a co mpet ência, é preciso uma for mação per manent e,
cujo foco é a empregabilidade.
3.2.2. Emp regabi lidade: p rin cípio edu cativo da quali ficação
para o desemp rego
Corrobora com a per spect iva anunciada por Olive ira (1999), Leit e
(1997, p. 64-65). Essa aut ora argument a que
mat er ial capit alist a. A segunda, aos significados s imbó licos, quando ela
se t ornou um mecanis mo efic ient e de enq uadrament o da consciência, ou
seja, um mecanis mo ideo lógico que objet ivou a produção de u m
consent iment o dos t rabalhadores a aceit arem ou se confor marem co m a
sit uação de dese mprego. Nessa dimensão, a noção de empregabilidade:
3.3. Emp regabi lid ade e compet ências nas políticas de quali fi cação
profi ssional
A for mação e a educação do ser humano, ainda que elas se jam uma
ação individual do sujeit o, sit uam- se, hist oricament e, co mo uma
necess idade do gênero humano. O ser humano co mo ser social é
result ant e das relações sociais que se est abelecem ent re a
individualidade e a gener alidade, co mo expressa Mar x (1978, p. 10) no s
Manuscritos Econômi cos e Filosóf icos :
119
A qua lificação profissio nal no Brasil, como ideo logia das agência s
mult ilat erais, pret ende ajust ar o per fil do t rabalhador aos “t empos
moder nos” do capit alis mo flexíve l. É nesse cenár io que a nova
inst it ucio nalidade, que orient a as po lít icas nacio nais de educação
profissio nal, emergem. A difusão da concepção de empregabilidade e
co mpet ência adquir iu cent ralidade nas polít icas de qualificação co mo o
60
Na con di çã o de s er soci a l , o ser h um an o, m edi a do pel o t r a ba l h o, r ea fi r m a com
m a i s ra di ca l i da de a sua h um an i da de; um a h uman i da de que per m i t e em er gi r
c om pl ex os s oci a i s que c on t r i buem pa ra a r ea l iza çã o da h um ani da de do ser h um an o.
Assi m , um c om pl ex o s oci a l e spe cí fi c o que pe r mi t e a pr im or ar o t r a ba lh o d o s er
h uman o é o c om pl ex o da edu ca çã o. A e spe ci fi ci da de des se c om pl ex o é d e a pr i m orar
a l a bor a l i da de h um an a que, n o ca pi t a l i sm o, a ssum e ca r a ct er í st i ca s di fer en t es em
r el a çã o a o seu c on t eúd o e fun çã o or i g in ár ia .
120
novo ideár io par a ins erção produt iva da classe t rabalhadora no novo
modelo eco nô mico capit alist a.
61
Um a ut or que va i i n t r oduz ir o i deá r i o da c om pet ên ci a n a esc ol a é P er r en oud
a tr a vés d e d oi s l i vr os: PE RRE NO UD, Ph i l i ppe. Constr ui r as c ompe tê nc i as de sde a
e sc ol a. P or t o Al egr e: Ar t es Médi ca s Sul , 1999. PE RRE NO UD, Ph i l i ppe. 10 Nova s
c ompe tê nc i as p ar a e nsi nar . Por t o Al egr e: Ar t Med, 2000.
121
PCNs e das DCN do Ensino Médio, são a noção de co mpet ências e a t ese
da empregabilidade.
As co mpet ências que t êm nort eado as po lít icas do ensino médio e
da qualificação profiss io nal básica são as seguint es: 1) capacidade de
abst ração; 2) desenvo lviment o do pensa ment o sist êmico, ao cont rár io da
co mpreensão parcia l e fr agment ada do s fenô menos; 3) cr iat ividade,
cur iosidade; 4) capacidade de pensar múlt ip las alt er nat ivas par a a
so lução de um proble ma; 5) desenvo lviment o do pensament o divergent e;
6) capacidade de t rabalhar e m equipe; 7) disposição para procurar e
aceit ar cr ít icas; 8) desenvo lviment o do pensament o cr ít ico e saber
co municar-se (BRASI L, 1999/2000).
Nossa hipót ese é que no âmbit o da “no va” po lít ica de qualificação
profissio nal consubst anciada co m o PNQ há mais aspect os de
125
cont inuidades e similit udes que difer enças e rupt uras. De for ma que, t al
polít ica, independent e das est rat égias po lít icas dos gover nos, t e m
at endido à lógica capit alist a de qualificação da força de t ra balho,
sust ent ada pela t r íade: reest rut uração produt iva do capit al, refor ma do
Est ado e ideo logia da co mpet ência e empregabilidade, co m o discurso
int egrador que afir ma que, qualificando -se a força de t rabalho ,
diminuem-se os índices de pobreza e promo ve -se a inc lusão social. Essa
est rut ura t em conso lidado e fort alecido a hegemo nia do capit a l so bre o
t rabalho. É sobre est e pr isma que analisar emos os P lanos nacio nais co mo
expressão da propost a hegemô nica de qualificação do capit al.
Mészáros (2002, p. 16), a o analisar o sis t ema socio met abó lico do
capit al, ident ifica sua co mplexidade, assim co mo consegue perceber a
abrangência e as r elações que est e est abelece. De maneir a que, sendo
poderoso e abrangent e, seu núcleo é co nst it uído pelo t r ipé for mado pelo
“capital, trabalho e E stado , sendo est as t rês dimensões fundament ais
para o sist ema, mat er ialment e const it uído e int er -relacio nado”. Est e
aut or ainda reco nhece o papel fundament al que exer ce o Est ado no
est abeleciment o da ordem social capit alist a, que impõe a um só t empo
um s ist ema produt ivo e um modo de vida (GRAMS CI, 1974).
Ent ret ant o, como há uma relação dir et a e orgânica ent re a bas e
produt iva e as for mas sociais educat ivas, operam-se, conco mit ant ement e,
mudanças na condução e est rat égias das po lít icas educacio nais, cuja
expressão são as refor mas na po lít ica educacio nal br asile ira, nos seus
diversos aspect os e dimensões, como já mencio namos na t erceir a part e
dest e est udo.
Exist em, no ent ant o, poucos t emas t ão difíceis de proble mat izar ,
quant o se t rat a de refor ma, em virt ude dos diferent es sent idos e
propósit os. “Ref ormar”, co mo assina la Cavalcant e (2007, p. 9), “pode
significar mudar a for ma, dar melhor for ma, modificar o est ado ou modo
de ser de alguma co isa; rest aurar; corrigir ; emendar e at é reconst ruir”.
No ent ant o, quando adent ramos na mat er ialidade socio hist ór ica da
sociedade brasileira, as refor mas implant adas no Brasil, so bret udo no
âmbit o polít ico, eco nô mico e educacio nal, nada é mais desalent ador. As
refor mas apresent am uma dist ânc ia enorme ent re as est rat égias que
propõem e o alcance dos result ados efet ivos.
Ent ret ant o, ser ia por demais ingênuo esperar de mudanças jur ídica s
e nor mat ivas t ransfor mações radicais na po lít ica da educação
profissio nal brasileira.
62
Pa ra um a an á li se a pr ofun da da e cr í t i ca da Re for m a im pl ant a da com o D ecr et o
5. 154/ 2004, ver o t ext o d e F RI GOT T O; CIAVAT T A & RAMO S, i n t it ul a do: A
pol í ti c a de e d uc aç ão pr ofi ssi onal n o g ove r no L ul a: um per cur so h i st ór i co
c on tr over t i do. Di spon í vel em : h t pp/ www. ced e s. un i ca m p. br .
129
ênfase fo i o t rat ament o polít ico à for mação básica dos t rabalhadores. A
conciliação ent re elevação de esco lar idade co m a qualificação
profissio nal or ient ou o MTE a post ular os pr inc ipais conceit os e
fundament os, assim co mo as pr escr ições prát icas par a efet ivar ações
oficia is vo lt adas para for mação da força de t rabalho. Daí deu -se início o
processo de qualificação em massa, a fim de at ender aos dit ame s do
mer cado em t empos de reest rut uração produt iva co m o PLANFOR.
Ainda, para Cêa (2003, p. 7), essa condição de polít ica públic a
reno vada part e de uma nova relação ent re Est ado estrit o senso e
sociedade civil, paut ada na descent ralização das ações, propiciada pela
dist r ibuição de um fundo público específico, o FAT, configurando u ma
espécie de “t erceir ização” das po lít icas públicas. Ou seja,
63
An t es da cr i a çã o do PL ANFO R, o Si st em a “ S” er a r espon sá vel p or qua se t r ês
qua rt os d os t r ei n an dos i n scr i t os em cur s os d e qua l i fi ca çã o pr ofi ssi on a l n o pa í s
(BRA SIL, 1999).
131
A met a glo bal do P lano era const ruir, em méd io e lo ngo prazos,
ofert a de Educação Profissio nal - EP suficient e para qualificar, a cada
ano, pelo menos, 20% da PE A. Ist o significava, na época, cerca de 15
milhõ es de pessoas; a est rat égia era qua lificar em massa os
t rabalhadores. Acredit ava -se que co m est a proporção o Plano t ambé m
ir ia cont r ibuir co m a moder nização das relações ent re capit al e t rabalho .
Confor me expr essa Cêa:
64
E st a s ca t eg or i a s ga nh a m for ça c om out r os or ga n i sm os i n t erna ci on a i s t a i s c om o o
BM, CE PAL, den t r e out ra s, com o já m en ci on am os n a segun da par t e dest e est ud o.
Ma s, ca be r essa l t a r a r el evâ n ci a da da pel o BM à desc en t ra l iz a çã o n a con duçã o da s
pol í t i ca s pú bl i ca s. A c on cep çã o de d es cen t r al i z açã o d es sa s i n st i t ui ções a c en a par a o
pr ojet o n eol i ber a l .
134
Os inst rument os inst it ucio nais e ideo ló gicos que just ificaram a
refor ma gerencial, nos t er mos enunciados, enco nt rou respaldo na
perspect iva neo liberal. As po lít icas educacio nais e sociais,
desenvo lvidas a part ir dest e per íodo, parecem ader ir passivament e ao s
int eresses, est rat égias, mét odos e cont eúdos da perspect iva em quest ão.
As cat egor ias “participação e parceri a ” foram possíveis de sere m
disseminadas e co nst it uíram o que se denominou nova institucionalidade
da qualificação pro fissio nal bras ileira, c uja mat er ialidade é encar nada na
inst it ucio nalidade que deu funcio nalidade e operacio nalidade ao
PLANFOR co mo polít ica de qualificação, at ravés da rede de qua lificação
profissio nal, co mpost a por organizações e ent idades da sociedade civil,
cent rais sind ica is e sindicat os, além do empresar iado at ravés do S ist ema
S e inst it uições públicas e pr ivadas. Est a fo i a concepção que nort eou
todas as est rat égias de ação do P lanfor, ou seja, est abeleceu uma
int r ínseca r elação co m a refor ma ger encial do Est ado no cont ex t o
brasileiro e/ou possibilit ou as bases para que algumas de suas
concepções, fundament os e est rat égias fossem se conso lidando.
Ent ret ant o, discut ir emos de for ma ma is profícua a refor ma do Est ado na
quint a part e dest e est udo.
65
Lui z Car l os Br ess er Per ei r a foi o en t ã o m in i str o do MA RE (Mi n i st éri o do Apa r el h o
e Re for m a do E st a do) n o gover n o Fern an do Hen ri que Ca r doso.
135
66
E st a s ca t egor i a s fun ci on a r am com o i dei a -for ç a e a dquir ia m expr essi vi da de n ã o
a pen a s na Pol í t i ca d e Qua l i fi ca çã o Pr ofi ssi on a l , m a s for a m in cor por a da s n o â m bi t o
da Pol í t i ca d e Ge st ã o da E duca çã o Bá si ca c om o um t od o. Pa r a um m a i or
a pr ofun da m ent o ver os t ext os d e: MA RT IN S, A . M. A de sc e ntr al i z aç ão c omo e i xo
da r e for ma d o e n si n o; DO URAD O, L. A. P ol í ti c a e G e stão da Ed uc aç ão B ási c a no
B r asil : l i m it es e per spe ct i va s. Di sp on í vel em :
www. sci el o. br / pdf/ e s/ v28n 100/ a 1428100. pdf . Acess o em : 02/ 02/ 2010.
136
TABELA 3
INVEST.
TIPOS DE ENTIDADES ENTIDADES TREIN. %
ONGs 22 22 21
Outr as 6 4 7
qualificação e inst it ucio nalizar a “par cer ia” co nso lido u a part icipação da
sociedade civil, condição que ma is favoreceu o capit al do que o t rabalho,
vist o que, na realidade, a qualificação dos t rabalhadores ainda cont inuou
sob a t ut ela do empr esár io, pelo menos no per íodo de vigência do
P lanfor, beneficiando o s sempre beneficiados hist or icament e co m o
financiament o da qualificação pro fissio nal. Ent ret ant o, o fat o de a
qualificação dos t rabalhadores est ar sob a t ut ela do Est ado e do s
capit alist as já fo i ampla ment e proble mat izado por Hodgskin (1986, p.
294), desde o século XIX. Est e aut or percebeu o per igo da qualificação
ser ut ilizada co mo ideo logia e reprodução social das relações e for mas
sociais capit alist as. E le advert ia:
seu leque de at uação, funcio nando como empr esas t erceir izadas no
mer cado da qualificação, aspect o que revela uma dimensão da
pr ivat ização do Est ado e dos recursos públicos, iniciada co m o
PLANFOR.
A gest ão dos recursos originár ios dest e Fun do fo i e cont inua sendo
disput ada at ravés do CODEFAT 68. A gest ão dest e Fundo é um dos
pr incipais proble mas e desafios da po lít ic a de qualificação. E la impr ime
uma nova regulação social das po lít icas de qualificação profiss io nal no
Brasil.
Essa capt ura que faz menção Alves, t ambém, diz respeit o à
part icipação do mo viment o sindical, sobret udo os de car act er íst ica
cut ist a, na proposição e adesão de propost as e polít icas públicas de
68
O CODE FAT – In st ân ci a tri par t it e e pa r i tár i a, i ni ci a l m en t e com n ove m em br os,
sen do t r ês de cen t r ai s si n di ca i s de t r a ba lh a dor es (CUT , For ça Si n di ca l e CGT -
Con feder a çã o), t r ês de c on feder a ç õe s pa t r on ai s (Con feder a çã o Na ci on a l d a In dústri a ,
Con feder a çã o Na ci on a l do Com ér ci o e CN F - Con feder a çã o Na ci on a l da s In st i t ui çõe s
Fi n an cei ra s) e t r ês r epr esen t a n t es do g over n o fed er a l (As c on fed er a ções d o
T ran spor t e (CNT ); de Sa úde, Hospi t a i s, E st a bel e ci m en t os e S er vi ç os (CN S); a
Fed er a çã o Na ci on a l da s Em pr esa s de Segu r os Pr i va dos e d e Ca pi t a li z a çã o
(FE NASE G); e a Câ m ar a Bra si l ei ra da In dústr ia da Con st r uçã o Ci vi l (CBIC). Com a
i n cor por a çã o de n ova s r epr esen t a ções pa t r on a i s e op er á ri a s, o n úm er o de m em br os
a um en t ou si gn i fi ca t i va m en t e. E st e Co n sel h o Del i ber a t i vo é r esp on sá vel p el a
ger ên ci a dos pr ogr am a s e r ecur sos d o FAT (COD E FAT / MT E , 2009).
69
A ca pt ur a da subj et i va da oper á r i a n o t oyot i sm o t a m bém se dá pel a a pa r ên ci a do
n ovo a m bi en t e de t r a ba l h o. Segun do Al ves (200 0, p. 28), “O n ovo a m bi en t e é ca pa z
de d es en vol ver a i n di vi dua l i da de dos t r a ba l hador es e, c om el a , o s en t i m en t o d e
l i ber da de, i n depen dên ci a e a ut oc on t r ol e, a o m es m o t em p o em que i n st a ur a, em t oda
sua pl en i t ude, a con cor r ên ci a e a em ul a çã o en tr e os pr ópr i os t r a ba l ha dor es, a pesa r da
r et ór i ca do tr a ba l h o em equi pe” .
140
70
A c on cep çã o d e Si n di ca t o Ci da dã o ou Si n di ca t o Na ci on a l sur gi u n a segun da
m et a de da déca da de [19]90 pel a s t en dên ci a s de cun h o m a i s dem ocr á t i ca s da CUT .
Os pr i n cí pi os de fen di dos c on si st em n a defe sa do pa pel s oci a l que de ve a ssum i r o
m ovi m en t o si n di ca l n a soci eda de. “O si n di ca l i sm o n um a per spect i va m a i s s oci a l e
m a i s sol i dá r i a busca i n t egr ar a ci da dani a ”, na per spect i va d os s eus d e fen sor es, t a n t o
da s fá br i ca s, com o da s ci da de s. Um si n di ca t o or gâ ni co, m a s t a m bém ci da dã o, que
r epr esen t e os t r a ba lh a dor es e que seja m ovi m en t o s oci a l , que dê c on t a dos desa fi os
do ca pi t a l i sm o c om o m od o d e pr odu çã o e pr oc es so ci vi l i z a t ór i o. In t egr an do t r a ba lh o
e m ei o a m bi en t e, t r a ba lh o e educa çã o, t r a ba l ho e fem i n i sm o, t ra ba l h o e cul t ur a,
t ra ba l h o e ju ven t ude, t ra ba l h o e bem e st a r e tr a ba lh o e t er cei r a i da de. E st e n ov o
si n di ca l i sm o r equer um a in t egr a çã o en t r e c on sci ên ci a op er á r ia e a c on sci ên ci a da
ci da da ni a . A ci da dan i a for a do m un do d o t r a ba l h o c on voca o m ovi m en t o si n di ca l a
a m pl iar -se a n ova s for ça s e m ovi m en t os s oci a i s que s e si t ua m for a do m un do da
pr oduçã o. A ssi m c om o a dem ocr a ci a deve en tr ar n os l oca i s d e t r a ba l h o, o
si n di ca l i sm o de ca r a ct erí st i ca m ai s ci da dã , de ve a ba r ca r a ci da dan i a, o espa ç o
públ i c o dem ocr á t i co e popul a r (NASCIME NT O, 1999, p. 83).
141
71
An al i sa m os a s pr in ci pai s At a s do CODE FAT on de for a m con sol i da dos os Pl a n os
Na ci on a i s de Qua l i fi ca çã o (P LAN FO R e PN Q). Ne ssa s At a s, ver i fi ca m os m a i s
c on ces s õe s p or pa rt e dos M ovi m en t os Si n di ca i s do qu e r ea l m en t e gran des em ba t e s
pol í t i c os e i d e ol ógi c os, s obr et udo em r el a çã o à s a t a s r efer en t es à a t ua çã o d o
Con sel h o n o Gover n o Lul a .
72
E xpr essã o ut i l i z a da por Mész á r os (2002) e An t un es (2002) par a di fer en ci a r a
cl a sse que vi ve d o t r a ba lh o da cl a s se r epr es en t at i va e d e m a n do d o ca pi t a l . E st a, n a
a cep çã o d e An t un es, é for m a da pel os ór gã os bur ocr á t i cos e di r i gen t es do E st a d o,
c om seus t e cn ocr a t a s, e o gr an de em pr esa r ia do e seus g er en t es.
73
Pa r a um est udo a pr ofun da do a c er ca d o que vem s en do d en om i na do de
„c onse nt i me nt o at i v o dos t rabal hadore s ao proj e t o ne ol i be ral para a f ormaç ão e
qual i f i c aç ão prof i ssi onal ‟ , sobr et udo em r el a çã o à a desã o da C UT a o r efer i do
pr ojet o, ver o l i vr o de SO UZA, J. dos S. O si ndi c al i smo br asi l e i r o e a qual i fi c aç ão
do tr abal had or . L on dr ina : Pr á xi s E dit or a , 2009.
143
Mas, como se deu a operacio nalização da nova inst it ucio nali dad e
co m o PLANFOR?
144
74
Os PE Qs er a m el a bor a dos e ger i dos p el a s Se cr et a r ia s de Tr a ba lh o (ST bs), s ob
h om ol oga çã o d os C om i ss ões E st a dua i s de T r a ba lh o (CE T s), por vez a r t i cul a dos a
Con sel h os Mun i ci pa i s de Tr a ba lh o (CMT s). Os PE Qs er a m in str um en t os de
m obi l i z a çã o e a r t i cul a çã o da ofer t a e da dem a n da de E duca çã o Pr ofi ssi on a l em ca da
E st a do feder a t i vo ( BRA SIL, MT E , 2001, p. 12).
145
pou ca int egr ação entr e a Política Pública de Qua lif icaçã o
Pr ofiss iona l e as dema is P olít icas Púb lica s de T r abalho e
Renda (s egur o- des empr ego, cr édit o p opu lar , int er mediaçã o d e
mã o- de- obr a, pr odu ção de inf or mações s ob r e o mer cado d e
tr abalho, et c.);
desar ticu lação desta em r elaçã o às Polít icas Públicas d e
Edu cação;
fr agilida des das Comiss ões Estadua is e Municipais de
T rabalho – CET e CMT, como es paços capazes de gar ant ir
u ma par ticipaçã o ef et iva da s ocieda de civil na elab or ação,
fis caliza ção e conduçã o das Polít icas Públicas de
Qualif icaçã o;
baix o gr au de inst itu cionalida de da r ede nacional d e
qua lif icaçã o pr of iss iona l, qu e r es er va ao Est ado, p or meio d o
MT E, o papel de ap enas def inir or ientações ger ais e d e
fina ncia ment o do P lano Nacional de Qualif icação, ex ecutad o
int egr alment e p or meio de convênios com t er ceir os;
ênfas e do PL ANFOR nos cur sos de cur ta dur ação, voltados ao
tr atament o fu nda mentalment e das “hab ilida des esp ecíf icas”,
compr omet endo, com iss o, u ma ação educativa de car áter
ma is int egr al;
fr agilida des e def iciências no s ist ema de pla neja ment o,
monit or a ment o e a valiaçã o do PL ANFOR (BR ASIL, MT E,
2003, p. 19).
146
75
O g over n o Lul a t e ve i n í ci o n o a n o 2003. T e ve a poi o da s ca m a da s popul a r es e da
esqu er da br a si l eir a . T em se c on st i t uí do c om o um gover n o de c on t in ui da de,
c om pr om et i do c om os i n t er ess es da bur guesi a br a si l ei r a e in t ern a ci on a l. Sobr e o
ca r á t er con ser va d or do gover n o Lul a , Pi err e An der son (2002) em um a con fer ên ci a
pr ofer i da n o Ri o de Ja n ei r o, an t es da s el ei ç ões pr esi d en ci a i s, an un ci a va a
n eces si da de de n os t or nar m os vi gi l a n t es fr en t e à s pr opost a s p ol í t i ca s de pa r ti dos d e
esqu er da n o c on t ext o n e ol i ber a l . Outr o a ut or que t em t eci d o c on si der a çõe s a r espei t o
147
FO NTE : fi gu r a e x t r a íd a d o si t e d o M i ni s t ér i o d o Tr ab a l h o - M TE/ 2 0 1 0.
O PNQ é execut ado, est rat egicament e, por meio dos P lanos de
Qualificação Profiss io nal. As ações de qualificação social e pro fiss io na l
são imple ment adas, de acordo com o MTE (BRASI L, 2009), de for ma
descent ralizada, at ravés dos Planos Territoriai s de Qu ali ficação -
P lanT eQs (em parcer ia co m est ados, munic ípio s e ent idades sem fins
lucrat ivos), de Projetos Especiai s de Quali fi cação – ProESQs (em
parcer ia co m ent idades do mo viment o social e orga nizações não -
gover nament ais) e de Planos Setori ais d e Qualifi cação – P lanSeQs (e m
parcer ia co m sindicat os, empresas, mo viment os sociais, organizações do
t erceiro set or, governos municipais e est aduais). O o bjet ivo dos P lano s
As ent idades execut oras, at ravés do processo selet ivo de pro jet os
inst it ucio nais, efet ivam os cur sos de qualificação pro fissio nal e social.
Est es cur sos no at ual for mat o visam at ender às demandas pro fissio nais
dos municípios e r egiões. Os P lano s são definidos a part ir das co missões
munic ipais de emprego. É exigênc ia do Minist ér io que os P lano s reflit a m
as possibilidades e pot encia lidades dos t errit órios, e que, além do s
recursos previst os pelo FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhad or), as
secret ar ias est aduais e munic ipais co mplement em os recursos co m out ras
fo nt es par a at ender às demandas de qua lificação.
Apro vado pela Reso lução Nº. 333/2003 e refor mulado a part ir da
Reso lução Nº. 575/ de 2008 77, o PNQ na condição de po lít ica públi ca de
77
Re s ol uçã o Nº. 575, de 28 de a br i l de 2008, do Con sel h o D el i ber a t i vo d o Fun do de
Am pa r o a o Tr a ba lh a d or - CODE FAT , que est a bel ec eu di r et r iz es e cr i t ér i os pa ra
t ran sfer ên ci a s de r ecur sos do Fun do de Am pa r o a o T r a ba lh a dor - FAT (que fi nan ci a
a s a ções d o PNQ) a os e st a dos, m un i cí pi os e e n ti da des sem fi n s l ucr a t i vos, pa r a a
exe cu çã o d o Pl a n o Na ci on a l de Qua l i f i ca çã o - P NQ.
149
Est a polít ica t em set e objet ivos est rat égicos, os quais visa m
cont r ibuir co m:
I– A f or ma ção int egr al ( int electual, t écnica, cu ltur al e cida dã) dos/as
tr abalha dor es/as br asileir os/as;
II – O au ment o da pr obab ilidade de obt enção de empr ego e tr abalh o
decent e e da par ticipação em pr ocess os de ger açã o de op or tu nidades d e
tr abalho e de r enda, r edu zindo os níveis de des empr ego e sub empr ego;
III – A eleva çã o da es colar idade dos/as tr abalha dor es/as, por meio da
ar ticulaçã o com as Polít icas Públicas de E du cação, em par ticu lar com a
Edu cação de J ovens e Adu lt os;
IV – A inclusão s ocia l, r eduçã o da p obr eza, combat e à dis cr iminaçã o e
diminu içã o da vu lner abilida de das popu lações;
150
document os dos gover nos: “O P LANFOR visa const ruir e conso lidar a
nova institucionalidade da EP no País” (BRASI L/P LANFOR, 1999) ; “A
Polít ica Pública de Qualificação ir á assu mir nova perspecti va co m o
novo PNQ (BRASIL/PNQ, 2003, gr ifos nossos). Há que se co nsiderar que
o PLANFOR, de fat o, const ruiu as bases para a nova inst it ucio nalidade
da qualificação profissio nal brasileira e o PNQ t em aper feiçoado,
apr imorado, refor mado, mas nunca implement ado algo genuina ment e
novo, no sent ido do t ermo.
A pr ior ização desses t emas para anális e se just ifica por est es
serem os que me lhor expressam a mat er ialidade da po lít ica, ao t empo e m
que sinaliza sua cont inuidad e co mo po lít ica pública de qualificação que
ult rapassa as fro nt eiras da ação gover nament al.
Desse modo, rat ifica- se a nossa t ese: a mat er ialidade das po lít icas
de qualificação, consubst anciada no PLANFOR e PNQ não podem ma is
ser co mpreendidas co mo polít ic a fo calizada de gover no ; mas,
t ranscendem a t emporalidade gover nament al, por fazer part e de uma
152
78
Pa r a Rober t Ca st el (1998, p. 26), “a excl u sã o d esi gn a um est a do, ou m el h or ,
est a dos de pr i va çã o” . E st ar excl uí do c om pr een de, n a con cep çã o dest e a ut or , est a r
des fi l i a do. E st a n oçã o pa r a Ca st el per t en ce a o m esm o ca m p o s em â nt i co que a
di ssoci a çã o, desqua l i fi ca çã o ou i n va l i da çã o soci a l . Ser excl uí do ser i a n ã o fa z er par t e
do t e ci d o s oci a l , ser i a est a r à m ar gem , despr otegi do da s ga r an ti a s de c on di ções e
pr ot eçã o por pa rt e do E st a do e da soci eda de.
154
A t erceir a cat egoria cr iada por Mar x, par a explicar a for ma que o
capit al dispensa t rabalho humano excedent e, é a for ma est agnada. De
acordo com aut or, est a se const it ui a part ir do exér cit o at ivo de
t rabalhadores, mas co m ocup ação complet ament e irregular. E la
proporciona, assim, ao capit al, um reser vat ório inesgot ável de força de
t rabalho disponíve l. Sua cond ição de vida cai abaixo do nível nor mal da
classe t rabalhadora, e exat ament e isso faz dela uma presa fácil par a
cert os ra mos de exploração. E la é caract er izada pe lo máximo de t empo
de ser viço e mínimo de salár io (MARX, 1996, p. 272).
Co mo est rat égia do próprio capit a l int ensifica - se, nos países e m
“desenvo lviment o”, polít icas públicas compensat órias vo lt adas par a a
for mação e “r edução da desigualdade social”, não demo nst rando que as
quest ões sociais est ão present es no processo hist ór ico da lut a de classes,
desde a or igem do sist ema capit alist a de produção. Port ant o, ainda
argument a Sampaio (2007, p. 7): “no sist e ma socio met ábo lico do capit al,
sempre haverá po lít ica social, sobret udo as de car iz co mpensat ória 79 e
sempre haverá pobreza, po is est a é resíduo da sust ent ação sist êmica do
capit al. Deve-se não soment e compreender o ser -aí do sist ema capit al,
mas o “ainda- não ser”.
No âmbit o do PNQ e do PLANFOR, a quest ão social co mo po lít ic a
de inc lusão é apresent ada co mo algo capaz de ser reso lvido co m a
simples part icipação dos sujeit os sociais em processos for mat ivos.
Parecem inexist ir mediações ent re aqueles planos e a s condições de
dese mprego e precar ização das for mas de t raba lho. Os P lano s
apresent am- se co mo uma panaceia, pois, a part ir deles, t odos os
t rabalhadores sairão da sit uação de exclusão social, e o país t erá
desenvo lviment o, bast ando, para isso, que os t raba lhadores se
qualifiquem pro fissio nalment e, invist am no seu capit al humano e
cult ural, confor me anunciado pelas t eses da empregabilidade. Logo,
encont ra-se implíc it o, nest a argument ação, para os que não se
qualificar em, melhorando, assim, sua capacidade de empregabilidade e a
79
Com o d est a que de ssa a ss er t i va , n ã o si gn i fi ca que s e ja m os c on t r ár i os à
i m pl em en ta çã o de p ol í t i ca s s oci a i s. E nt r et ant o, c om pa r t ilh a m os da a cepçã o d e Ca st el
(2003) e Sa m pa i o (2007), em vi r t ude d e a s m es m a s [pol í t i ca s s oci a i s] em er gi r em em
m om en t os de pr e ca r i za çã o de di r ei t os e a us ên ci a de ga ran t i a s soci a i s por pa r t e do
E st a do. Ou s eja , a p ol í t i ca s oci a l a pr esen t a -se c om o pa l i a t i vo pa r a r esol ver os
pr obl em a s da vel h a quest ã o s oci a l . Out r o a utor que di scut e a pr obl em á t i ca da s
pol í t i ca s s oci a i s é O ffe (1989). Na vi sã o de O ffe, a s pol í t i ca s soci a i s sur gem co m o
um a for m a que o E st a do t en ta r esol ver os pr obl em a s da tr an sfor m a çã o dur a doura de
t ra ba l h o nã o a ssa l a r ia do, em t ra ba l h o a ssa l ar ia do. Nes se i n t en t o, com a
i n dustr ia l iz a çã o, há um pr oces s o de pr ol et a r iza çã o pa ssi va . Pa r a um est udo m a i s
a pr ofun da do s obr e o t em a , ver o l i vr o: O FFE CLA US. Pr obl e mas e str ut ur ai s d o
Estad o c api tal i sta . E di t or a t em po br a si l ei r o: Ri o de Ja n ei r o, 1989.
158
Ent ret ant o, quest iona -se: ser ia papel de programas de qualificação
reso lver o problema est rut ural das desigualdades sociais? Não obst ant e,
ver ifica-se que os P lanos fora m est rut urados co mo respost a ao problema
do desemprego e subempr ego, como fat ores det er minant es para ext inguir
a pobreza e a exclusão social de um número significat ivo de
t rabalhadores.
Gomes (2001) ana lisa os pilares que foram co nst it uindo a po lít ic a
de qualificação brasile ir a e sua relação com um mode lo de c resciment o
concent rador de r iquezas e disseminador da pobreza e exclusão.
QUADRO - 1
Quad ro síntese das carac terí sticas bási cas do PLANFOR e PNQ
- Financiament o
-Financiament o público
público FAT ; FAT ;
- Convênio s co m
-Convênios co m
Inst ru mentos Secret ar ias Est aduais
Secret ar ias E st aduais de
prin cipai s de Trabalho ; Trabalho ;
- Convênio s -co m Convênio s co m
inst it uições se m fins
inst it uições sem fins
lucrat ivos. lucrat ivos.
- CODEFAT ; - CODEFAT ;
-Co missões /
-Co missões/ conselhos
conselho s est aduais e
est aduais e munic ipais de
munic ipais de
emprego (P lant e‟Qs)
emprego (ho mo logação
Formas de (ho mo logação obr igat ória) ;
parti cipação obr igat ória). - Comissões de
concert ação (P lanS e‟Qs);
- Audiênc ias Públicas
(P lanS e‟Qs) ;
- Grupos tr ipart it es de
aco mpanhament o.
FONTE: E laborada a part ir dos document os base do PLANFOR e do
PNQ.
No que t ange à dimensão jur ídico -po lít ica, o aspect o que no s
chama at enção é a necessidade de afir mar o reco nheciment o da
qualificação co mo direit o e polít ica pública 82. Est e aspect o fo i recorrent e
nos discursos sobr e o PLANFOR e per manece no PNQ. Est a dimensão
conser va o paradoxo do “novo já nasce velho ”. E m um co nt ext o de
perdas de dir eit os sociais, sob a anuência do Est ado na sua for ma
neo libera l, co mo legit imar o discurso da geração de t raba lho e renda no
P lano ?
82
Sa n t os (1990) e Ci a va t t a (1998) sã o en fá t i cos qua n t o a os a spe ct os que
ca r a ct er i za m a s pol í t i ca s públ i ca s. Pa r a est es a ut or es, a s pol í t i ca s públ i ca s s e
de fi n em com o obj et o d e l egi sl a çã o, devem t er recur s os or ça m en t ár i os a ssegur a dos e
c on t in ui da de e qual i da de n a sua r ea l iz a çã o.
168
83
A t í t ul o de i l ust r a çã o, a pr esen t a r em os a a çã o d os Pl a n seQs n os e st a dos
feder a t i vos. O Pl a n seQ da Const ruç ão Ci v i l foi i m pl a nt a do em 13 r egi õe s
m et r opol i t a n a s: Man a us, Bel ém , F or t a l ez a , Re ci fe, Sa l va d or , Bel o Hor i z on t e, Ri o d e
Ja n eir o, Sã o Pa ul o, Ba i xa da San t i sta (SP), Ca mpi na s (SP), Cur i ti ba , Por t o Al egr e e
Di st r i t o Feder a l e ent or n o, V it ór i a, Goi â ni a , Pa l m a s, Sã o Luí s, Ar a ca ju, Ma cei ó e
Ca m po Gr an de. E m Nat a l, o Pl a n seQ da E con om i a Sol i dá r i a t eve c om o m et a
qua l i fi ca r cer ca de 5. 535 t r a ba l h a dor es de em pr een di m en t os e c on ôm i c os s ol i dá r i os
n os s egm en t os da pe sca , a gr i cul t ur a , ar t esa na t o, c o m ér ci o e c on fec ç õe s. N o Cea r á , o
Pl a n seq T r a ba lh o dom ést i c o ci da dã o t e ve c om o m et a qua l i fi ca r 6. 500 j oven s
cea r en ses e ca pa ci t a r m a i s 40 mi l a t é 2014. Ba st a sa ber se h á t ant a s pess oa s a s er em
qua l i fi ca da s n est a s r egi õe s do pa í s.
84
Al ém da r ea l i z a çã o d e vá r i os Pl a n seQs já r ea l i z a dos, foi r ea l i z a do o da E c on om i a
sol i dá r i a Pl an seQ/ E cos ol , pr op ost o em 2008 pel o MT E , a t ra vés da S PPE , e a
Se cr et a r ia Na ci on a l de E con om i a Sol i dá r i a (SE NAE S) ca pa ci t ou 4. 030 a l un os
a t en di dos pel o Pr ogr a m a , r ea li z a do em ci n co r egi ões d o pa í s; t a m bém for a m
ca pa ci t a dos 800 edu ca dor es em qua se t od o t er r itór i o n a ci on a l. O va l or t ot a l foi de 3
m i lh ões d e r ea i s. Con t ou c om a pa r cer i a do In st it ut o Pa ul o Fr ei r e e or ga ni z a ções qu e
a t ua m com a poi o, a ss ess or i a e for m a çã o de em pr een di m en t os sol i d á r i os or ga n iz a dos
em r ede.
169
[...] as dema ndas são ident if ica das a par tir de iniciativa s
empr esar ia is, socia is ou gover na mentais, cu j o
atendiment o nã o t er ia s ido passível de ant ecipaçã o n o
pla neja ment o dos estados ou mu nicíp ios convenia dos a o
PNQ (MT E, 2007).
A co missão de co ncert ação é for mada pelo empresar iado, sindicat os,
organizações do t erceiro set or e gover no. As propost as são apresent adas
e aprovadas nessas co missões, às quais cabe fazer o mo nit orament o e
85
E m 2008, for a m a pr ova dos R$150 m i l h ões pa r a a execu çã o do Pl a n seQ, vi a em en da
pa rl a m en t ar. As en t i da des que a der i r am a os Pl a n seQs, n est a m oda l i da de, t i ver a m a
obr i ga t or i eda de de i n ser i r pr ofi s si on a lm en t e ce r ca de 30% d os t r a ba lh a dor es qu e
pa ssa r em pel os pr oc ess os de qua l i fi ca çã o pr ofi ss i on a l (MTE , 2009).
86
E m n ovem br o d e 2009, t i ve a op or t uni da de de p a rt i ci par de um a a udi ên ci a públ i ca
pr om ovi da pel o MT E – Di r et or i a de Qua l i fi ca çã o e a D RT – D el ega ci a d o
T ra ba l h o/ AL pa r a di scus sã o d e 1. 000 m et a s pa r a o Pl a n seQ T ur i sm o. Na a udi ên ci a
est a va pr es en t e o Si st em a “ S” , se cr et a r ia s de gover n o, ONGs, OSCIP, Si n di ca t os
(For ça Si n di ca l e CUT ). Par a n ossa sur pr esa , a pr opost a já est a va de fi n i da e
el a bor a da pr evi a m en t e pel o Si st em a “S” . O pa pel n a quel a s in sti t ui çõe s er a
m er am en t e fi gur at i vo.
170
fiscalização das ações ( MTE, 2008). Ent ret ant o, as ações dessa s
co missões são frágeis e mar cadas por ambiguidades e cont radições. De
acordo com Oliveira Veras (2007), as Co missões de E mprego
vivenciar am duas pr incipa is referênc ias hist ór icas. A pr ime ira é marcada
pelas conquist as sociais dos anos 1980, part icular ment e quant o à
ampliação de espaços de part icipação na gest ão das po lít icas públicas, na
for ma de conselho s e fóruns públicos. A out ra, pela fort e pressão
conjunt ural dada pe las dinâ micas neo liberais, que redefine m o papel do
Est ado na so lução das quest ões públicas, buscando ext rair o carát er de
quest ão social de int eresse público de um grande número de t emas
sociais. Diant e dessas sit uações quase simult âneas, os co nselho s de
gest ão pública est abelecem uma ambiguidade ent re a condição de
espaços e de oport unidade de part icipação cidadã e a condição de recur so
e de est rat égia de coopt ação polít ica. Não obst ant e, t al ambiguidade
subjacent e aos conselho s de co nt role social t e r mina por gerar os ma is
dist int os desvirt uament os da função social que deve assumir as
co missões, sendo sua at uação inócua, bem co mo funcio nando co mo u m
obst áculo no conflit o no campo de força do t rabalho.
co mo os sujeit os que int egram a refer ida po lít ica; est es, desde o iníc io
da const it uição do Plano, t êm ser vido apenas para va lidar as diret r izes e
ações, já previament e definidas pelo s agent es do Est ado.
87
A T CU, desd e os a n os de 2001 a 2008, vem de n un ci an do a a t ua çã o de i n st i t ui ções
que n ã o a pr esen t a m per fi l pa ra r ea l i z a çã o da pol í t i ca de qua l i fi ca çã o. V er r el a t ór i o:
h tt p: / / port a l 2. t cu. gov. br / por t a l / pa g e/ por t a l /T CU/ publ i ca c oes_i n st i t uci on a i s/ r el a t ori o
173
inst it uições que se sit uam ent re a esfera do mercado e do Est ado,
deno minado de esfera pública não -est at al ou organizações do Terceiro
Set or, que abarcam um conjunt o de organizações da sociedade civil,
ent re elas, as ONGs. Est as inst it uições começaram, a part ir da segunda
met ade da década de 1990, a at uar no desenvo lviment o de projet os, na
prest ação de ser viços sociais e na assessoria às organizações populares
de de fesa de dir eit os, e est ão, genuinament e, r elacio nadas à
desregulament ação do papel do Est ado na econo mia e na sociedade.
via FAT 88 se frust ram no objet ivo de est abelecer no âmbit o da po lít ica de
qualificação, uma no va regulação social, sob o cont role dos suje it os
at ivos e at uant es nest a sociedade civil.
Dessa for ma, os proble mas de nat ureza social em geral deixa m de
ser at r ibuídos à acumu lação flexível capit alist a e às decisões do Est ado,
e passam a ser assumidos pela sociedade civil.
88
Pe squi sa r ea l i z a da por Pinh ei r o B. ; G on z a l ez , W. e Del ui z , N. i n t it ul a da O NG s e
P ol í ti c as P úbl i c as de Ed uc aç ã o Pr ofi ssi on al : pr opost a s pa r a educa çã o d os
T ra ba l ha dor es. Nest a pesqui sa , a s a ut ora s ca ra ct er i za m a s in st i tui ções, pr opósi t os e
pr ojet os a cer ca da for m a çã o d o t r a ba lh a dor. E l a s ch ega m à con cl usã o qu e t a i s
i n st it ui çõe s sã o d e ca r á t er a ssi st en ci a l i st a e fi l an tr ópi co. As pa r cer i a s r ea l i za da s n o
â m bi t o dos gover n os t êm se r evel a do n ã o c om o um a op or t un i da de de a m pl i ar a s
di scus s õe s s obr e a s P ol í t i ca s de E du ca çã o Pr ofi s si on a l , desen vol ven do a pr á t i ca
dem ocr á t i ca a tr a vés da pa r t i ci pa çã o s oci a l e d o c on t r ol e públ i c o da s oci eda de ci vi l
sobr e a s a ç ões e o a pa r a t o bur ocr á t i co e p ol í t i c o - a dm in i str at i vo d o E st a d o, m a s com o
m ei o d e vi a bi l i z a r sua exi st ên ci a e m a n ut en çã o dos s er vi ç os ofer eci d os vi a r ecur sos
públ i c os (PIN HE I RO; GON ZALE Z et a l , 2009, p. 10).
177
Cont udo, ver ifica- se nos plano s o est ímulo a um t ipo específico de
part icipação e parcer ia, em sua for ma subordinada, bem co mo at relada à
concessão de recursos, ou seja, há um grande apelo à pr ivat ização que
at inge t ant o as inst it uições sociais, que ficam sendo refém dos recursos,
sem aut onomia, assim co mo cr ia um mer cado cat ivo de ser viços de
qualificação, em que são as mesmas inst it uições que realizam t ais
ser viços. Acerca do papel social que t êm assumido essas inst it uições na
inst it ucio nalidade da propost a hegemô nica de qualificação, â mbit o dos
P lanos nacio nais, será discut ido mais amplament e no próximo capít ulo.
Pode-se afir mar que o PNQ represent a mais uma t ent at iva
inst it ucio nal de int egração das po lít icas no int er ior do MTE do que
realment e uma ação de int egração pio neir a e original co m as dema is
polít icas públicas. Os pr imeiros r esult ados d o PNQ revelaram uma maio r
int egração em relação ao PLANFOR (UNITRABALHO, 1999).
Ent ret ant o, nas últ imas avaliações do FAT, ver ificou - se a dificuldade e
179
89
Pa r a um est udo a pr ofun da do do Pr ogr a m a Int egr ar, ver a di sser t a çã o de m e st r a do
de SILV A, S. R. Pa z da . M utaç õe s n o movi me nt o si ndi c al c uti sta: a n á l i se do
Pr ogr a ma In t egrar de qua l i fi ca çã o pr ofi ssi on a l da CNM/ CUT . 2003. 280f.
Di sser t a çã o (M est r a do em E duca çã o) – Cen tr o de E duca çã o, Un i ver si da de Fed er a l de
Per n am buc o, Reci fe/ PE .
180
pr ior it ár io, int egração das po lít icas de emprego e renda e part icipação da
população negra, que os result ados foram insuficient es em r elação às
met as est imadas. Dent re todos os indicadores, so bressai - se co m índice de
baixo desempenho o de int egração das polít icas públicas de geração de
emprego, t rabalho e renda, ainda que t enha s ido o mais generosament e
cont emplado com recur sos. O desemp enho da int egração da po lít ica de
qualificação co m as dema is po lít icas públicas sociais result a mu it o
aquém do almejado, ist o é, fo i alcançada a met a de apenas 48% do
previst o. A CGU, a part ir dos dados da t abela 4 - int it ulada: execução
orçament ár ia dos pr ogramas que receberam ma ior aport e de recur sos
financeiros em 2008, ressalt a a insuficiê ncia da int egração das po lít icas
para capt ar novas vagas para o mer cado de t rabalho por int er médio do
SINE, e quest io na o pape l dest e ent e na int er mediação de mão de o b ra,
co mo se pode ainda obser var a part ir dos dados da t abela 4 - de previsão
orçament ár ia da CGU (2009), a seguir:
90
Si t e:
h tt p: / / port a l 2. t cu. gov. br / por t a l / pa ge/ por t a l /T CU/ c om un i da des/ pr ogr a ma s_gover n o
183
4.2.2.6 Avali ação e “cont role social” como di men são da políti ca
de quali ficação nos Planos Nacionais de Quali fi cação
91
E m 2007, em vi r t ude de in úm er a s den ún ci a s a cer ca do r ece bi m en t o de ver ba s p or
ONGs, foi cr i a do n o Sen a do a CPI da s ONGs pa r a in vest i ga r supost o fa vor eci m en t o
e de s vi o d e r ecur s os pú bl i c os p or or ga ni z a ções n ã o-gover n a m en t ai s, den tr e el a s, a
UNIT RA BAL HO. C om e ssa s den ún ci a s, ger ar am -se i m pedi m en t os d e r e ce bi m en t o d e
r ecur sos fed er a i s e n ã o s e deu c on t i n ui dade a o pr oce ss o de a va l i a çã o e
m on i t or am en t o por est a in sti t ui çã o.
184
E mbora o PNQ rat ifique essa or ient ação ét ica e indique ressalva s
do TCU para imple ment ação do P lano, há problemas que indica m
cont inuidade, e mbora co m menos incidência, de dist orções programát ica s
e financeiras, co mo o at raso no repasse de recursos em 2003 (CODE FAT,
2007), e a audit or ia so bre o uso dos recursos do FAT para execução de
ações de qualificação profissio nal, por meio do PNQ.
92
Pa ra ma i or es det a lh es, con sul t a r os r el at ór i os de Fi sca l i z a çã o da CG U n os est a d os
de P er na m buc o, Al a goa s, Sã o Pa ul o. Di sp on í vel em :
h tt p: / / www. p or t a l da tran spar en ci a . gov. br / c on ven i os/ . Ac es s o em : 18/ 03/ 2009.
185
Ent ret ant o, analisa-se que, daqu ilo que o PNQ explic it ament e
pret endia modificar em relação ao PLANFOR, merece dest aque a sua
fundament ação t eórica, expressa pe la di men são conceitual e/ou avanço
conceitual co mo é ressalt ado nos est udos de Cêa (2007), a qua l
passaremo s a analisar a part ir da próxima seção.
93
For a m a na l i sa dos 21 c on vên i os c el e br a dos en tr e os a n os 2003 e 2007, qu e
t ot a l i z am i n vest i m en t os d e r ecur s os da or dem de R$ 9. 823. 260, 55 (n ove m i l h ões,
oi t oc en t os e vi n t e e t r ês m i l , duz ent os e se ss en t a r ea i s e ci n quen ta e ci n co c en t a vos).
186
Out ro aspect o pode ser dest acado, referent e à pret ensão de avanço
conceit ual do PNQ, em r elação ao PLANFOR, junt o a concepções
“progressist as”, pr esent es em vár ios document os do PNQ ( BRASI L,
2003abc) – A visão da “qualif icação prof issional como campo de
disputa” (VERAS OLIVEIRA, 2006) . Disput a, em sent ido amplo,
envo lve a dist r ibu ição de recur sos do FAT, cujo cenár io é o CODE FAT e
as audiênc ias públicas de qualificação –, emancipação por meio da
inc lusão, t rabalho co mo pr inc ípio educat ivo, direit o ao t rabalho e à
qualificação profiss io nal. Co mo exemplo, est á o pressupost o de que esse
conjunt o deve ser or ient ado pelo nexo ent re trabalho, educa ção e
desenvo lviment o, que embasa a po lít ica de qualificação pro fissio nal e
social ( BRASI L/ MTE, 2007).
Corroborando co m Sales (2006) e Cêa (2007), ver ifica -se que há,
nest a percepção do MTE, a cont inuidade de uma visão marcada pe la
“hipert rofia da import ânc ia da qualificação profiss io nal no conjunt o das
polít icas de emprego”, o que já havia ocasio nado vár ias cr ít icas ao
PLANFOR. Per manece em evidência a id eo logia or iginár ia da Teor ia do
Capit a l Humano, a empregabilidade e a co mpet ência que at r ibui aos
condicio nant es educacio nais a respo nsabilidade p elo desenvo lviment o
individual e social. É nest es t er mos que se fundament a a defesa, nos
document os do PNQ, da import ância dos nexos ent re t rabalho, educação
e desenvo lviment o social (CÊ A, 2007).
Referent e à qualidade pedagógica apr esent ada nos P lant eQs, assi m
co mo est abelecido pelo MTE (2004, p. 4), envo lve -se uma nat ureza
pedagógica e po lít ica, por t raduzirem -se em u m co mpro misso co m a
qualificação co mo “direito do cidadão e da cidadã ”. A qualidade
pedagógica é um dos aspect os considerados como de ext rema relevância,
sobret udo co mo for ma de superar a cr ít ica realizada ant er ior ment e aos
cursos de qualificação de carát er aligeirado, descont ínuo, desenvo lvido s
pelo PLANFOR (SI LVA, 2003; OLIVEIRA, 2003a). Sobre est e aspect o, a
reso lução 333/2003 ( Art . 3º, cap. 10, incisos I a III), assim co mo a de
nº575/ 2008 são incis ivas:
189
O t om imposit ivo do “d evem inclui r” t ais cont eúdos for mat ivo s
nos do is P lanos não garant e mudanças subst ancia is nas or ient ações
curr iculares. Veja mo s co mo se opera na inst it ucio nalidade da Po lít ica a
191
E mbora, como se pode ana lisar a part ir dos ext rat os de t ext os dos
document os ofic iais acima, o PLANFOR t enha incorporado, na sua
propost a de desenvo lviment o, as diversas habilidades ( básicas,
específicas e de gest ão), a art icu lação ent re a educação geral e a
educação profissio nal, e a art iculação ent re as vár ias habilidades e ent re
elas os saberes relacio nados à educação geral, ver ifica -se um pouco
aprofundament o dos conhec iment os específicos nas áreas referen t es aos
cont eúdos da ocupação ou profissão.
A desart iculação pode ser const at ada pelos dados apresent ados na
t abela 5- int it u lada: mat r ículas do PLANFOR/PEQS (1996/1998) segundo
habilidades ofert adas nos cursos.
MATRÍCULAS ( mil)
HABILIDADES
1996 1997 1998 1996-1998
Bá si ca s 769 1. 019 1. 123 2. 911
E specí fi ca s 976 1. 429 1572 3. 997
Gest ã o 528 786 971 2. 285
Total 2. 273 3. 234 3. 666 5. 091
Total de 1. 193 1. 885 2. 013 5. 091
tr e i nandos
FONTE: R epr oduzida (BR AS IL/PL ANFOR, 1999).
t rabalho. Ao ser co mpet ent e em t udo, não se é efet ivament e co mpet ent e
em nada.
Quant o a essa quest ão, o MTE indica que, mesmo diant e dess e
avanço na qualidade pedagógica, expresso pela elevação da carga horár ia
média dos cur sos, “as at uais 200 horas de curso ainda são t ímidas. S er ia
ideal cont ar co m 1.000 horas de cur so, em uma perspect iva de for mação
cont inuada” (BRASIL, MTE, OIT, 2004, p. 14). Caso isso venha a
ocorrer, o que parece pouco provável t endo em vist a o quant it at ivo de
horas t écnicas rela cio nado ao aument o do mont ant e de recursos, haver á
um saldo significat ivo do enr iqueciment o da força de t rabalho
qualificada. Cont udo, sem impact o na elevação dos empregos.
Ressa lt a-se, ent ret ant o, que a magnit ude numér ica do PLANFO R
não corresponde, necessar iament e, à co ncret ização, de fat o, da elevação
da esco lar ização dos t rabalhadores envo lvidos especialment e em curso s
de qualidade pedagógica duvidosa . I sso significa que mudar os
fundament os e os conceit os básicos do Plano não significa mudar
efet ivament e a realidade concret a em que est es P lano s se o bjet iva m
(CÊA, 2007; SILVA, 2009).
t rês cat egorias: eficiência, eficácia e efet ividade . Est as são cat egor ia s
dos sist emas educacio nais t radicio nais da administ ração, alvo de cr ít icas
no PLANFOR, por t er incorporado acrit icament e essas cat egor ias co mo
cr it ér io de análise de desempenho.
Por fim, pode-se afir mar que a pr inc ipal rupt ura do PNQ e m
relação ao PLANFOR diz respeit o aos mont ant es de recur sos invest idos
nos P lanos, t ema não abordado nos document os ofic iais que ver sam sobr e
o PNQ (busca-se qualidade pedagógica no discur so, mas na prát ica não
se o ferecem as reais condições financeiras). Ver ifica - se t ambé m
inco ngruência ent re o discur so da qualidade social e peda gógica
profer ida pelo PNQ e a insuficiência, bem como a falt a de pr ior ização de
94
Os a r cos ocupa ci on a i s é a expr essã o da a desã o à l ógi ca da for m a çã o p or
c om pet ên ci a . Pr et en de -se for m a r um tr a ba lh a dor pol i va l en t e que a t en da à s
exi gên ci a s do m er ca do de t r a ba l h o. Assi m , a s 200 h or a s de qua l i fi ca çã o esp ecí fi c a
sã o fr a gm ent a da s na for m a çã o da s ha bi l i da des t écn i ca s.
198
TABELA 6: DISTRIBUIÇÃO DOS RE CURSOS EM MILHOES (R$) POR A NO DE EX ECUÇÃO DOS PLANOS
NACIONAIS DE QUALIFIC AÇÃO ( PLA N FOR/ PNQ)
2000 A 2009
PLAN O 2000 2001 2002 PLAN O 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
PLAN FO R
PNQ
(PE Qs) 304, 6 335, 7 70, 3 37, 3 61, 9 22, 6 22, 7 120, 7 70, 1 37. 5 95
(PLANT E Qs)
PLAN FO R
PNQ
(PA RCs) 154, 7 170, 3 100, 5 3, 4 6, 5 6, 5 96 Nhr x Nhr Nhr
(PROE SQs)
PLAN FO R
PNQ
TO TAL 495, 3 506, 0 170, 8 40, 7 68, 4 29, 1 22, 7 120, 7 97 70, 1 37. 5
TO TAL
95
Dest i n a çã o de r ecur sos d o PNQ pa r a a ções de qu a l i fi ca çã o n o â m bi t o dos est a dos fed er a t i vos.
96
Nest e p er í odo, n ã o for a m di spon i bi l i z a dos da dos n o MT E r efer en t es a os r ecur sos dest i n a dos a o Pr oes Qs. N os per í od os que c om pr een dem
2006 a 2009, os m on t an t es de r ecur sos or ça m e n tár i os pa r a qua l i fi ca çã o pr ofi s si on a l e s oci a l n ã o sã o a pr esen t a dos n o i t em r epa sses d e
r ecur sos. Rea l i z a m os vá r i a s busca s a cer ca de i n for m a ções. N o en t a n t o, o i t em da a va l i a çã o dos r ecur s os fi n a n cei r os fi ca pr e judi ca d o pel a
a usên ci a de i n for m a çã o e t r an spar ên ci a n a di vul ga çã o d os da d os. O m esm o n ã o oc or r eu com o P LANF O R, poi s n o p er í odo da vi gên ci a do
pl an o os da dos er a m di spon i bi l i z a dos t a nt o de for m a vi r t ua l quan t o em m a t er i al i m pr esso. O m esm o n ã o t em oc or r i do c om o PNQ; os
m a t eri a i s e docum en t a ções sã o es ca ss os em r el a çã o a o pl a n o ext i nt o. As pouca s i n for m a çõe s di spon í vei s n ã o sã o a t ua li z a da s.
97
In for m a çã o obt i da a tra vés d o si t e: h t t p:/ /por t a l 2.t cu. gov. br / por t a l / pa ge/ por ta l / TCU/ c om un i da des/ pr ogr am a s_gover n o. Aces s o em :
17/ 03/ 2009.
199
200
obser vada at é ent ão. Ou seja, se ant es parecia proble mát ico que apena s
cerca de 5% dos recur sos do FAT mo bilizavam efet ivament e os embat es
ent re gover no, t rabalhadores e empr esár ios no int er ior do espaço
t ripart it e do CODEFAT, deixando os “demais” 95% dos recur sos de lado,
a part ir do PNQ, essa quest ão se agr ava: é quase nula a possibilidade de
disput a efet iva dos recursos público s do FAT (CÊ A, 2007; ARAÚJO,
2007). Talvez est a seja uma das pr incip ais diferenc iações do PNQ e m
det riment o do PLANFOR, a escassez de recursos. E o go ver no concent ra,
novament e, assim co mo manipula a dist r ibuição dos recur sos dest inado s
à qualificação profissio nal.
Na co mpar ação, ver ifica -se, de for ma análoga, que o PNQ não
revela ino vações significat ivas em relação ao PLANFOR, port ant o, não
se t rat a de um novo P lano, mas de um inst rument o normat ivo e
regulat ivo da refor ma da inst it ucio nalidade da educação profissio nal, no s
mar cos de um processo de busca de hegemo nia burguesa. Não há
difer enças fundament ais em relação aos t emas e às est rat égias que
desenvo lve m. As t er mino logias ut ilizadas são, inclusive, de mesmo t eor,
ainda que o PNQ apresent e -as co mo difer ent es.
98
Gr a m sci (1985) a na l i sa o E st a do c om o “ ca m po d e for ça ” em m ovi m en t o, c om o um a
c om pl exi da de, per m ea do p or c on fl i t os e c on tr a di ções. O E st a do n ã o é a pen a s
est r ut ura do em sua for m a est r i ta , m a s com pr een de um a di m en sã o a m pl i a da , ou se ja ,
c on st i t uí do pel a s oci eda d e p ol í t i ca e a s oci eda de ci vi l . Os suj ei t os s oci a i s qu e a t ua m
n essa s i n st ân ci a s se c on fl i t ua m e sã o c om o a for m a de s er do E st a do. E m l ut a ,
di sput a m a h egem on i a . Par a um est udo a cer ca da T e or i a do E st a d o Am pl i a do em
Gr a m sci , ver COUT IN HO, C. N. Gr amsc i : um est ud o s obr e o pen sa m en t o pol í t i co.
Ri o de Ja n ei r o: Ci vi l i z a çã o Br a si l eir a , 2003.
205
A pro blemát ica do Est ado e a relação que est e est abelece co m as
dimensões objet ivas t em sido objet o de est udo de vár io s est udiosos
mar xist as, que t êm se preocupado em analisar as or igens e função socia l
do Est ado (MARX 99, 1980; MÉSZÁROS, 2002). Est es aut ores busca m
demo nst rar as cont radições do Est ado capit a list a moder no, que submet e a
força de t rabalho ao imperat ivo de explo ração do capit al, reproduzindo
nas dimensões est rut urais ou superest rut urais da sociedade est e
imperat ivo.
Difer ent ement e dos aut ore s que concebem o Est ado como espaço
de reprodução da ideo logia da classe dominant e e das for mas sociais
dominant es (do minação polít ica e exploração econômica), Poulant zas
207
(1985) analisa as cont radições sociais que exist em no âmbit o do Est ado,
em sua for ma capit alist a. Para o autor, “[...] est á em t odas as suas
funções ( ideo lógicas, repressivas e econô micas), mar cado pelas
cont radições, porque a lut a de classes t em lugar no âmago do Estado,
mesmo quando est e t ent a mant er uma hegemo nia ext erna da classe
dominant e” (POULANZT AS, 1985, p. 161) .
101
Ver : Am eri ca ni sm o e F or di sm o. In : GRAMSCI, A. Te or i a . Obr a s E scol h i da s. Vol .
II. Sã o Pa ul o: Li vr a r ia Mar tin s Fon t es, 1974 .
102
Pa r a Gr am sci (2000a , p. 20 -21), h á doi s “pl a n os” super est r ut ura i s: o que p od e s er
ch a m a do de “s oci eda de ci vi l ” , i st o é, o c on junt o de or ga n i sm os desi gn a dos
vul ga r m ent e c om o “pr i va d os” e o da “ s oci eda de p ol í t i ca ou E st a d o” . E st es d oi s
pl an os c or r espon dem , r espect i va m en t e, à fun çã o de “h egem on i a ” que o gr upo
dom i n an t e exer ce em t oda a soci eda de.
208
A part ir dest as refor mas, pret ende mos ressalt ar co mo a “no va”
polít ica de qualificação [ P lanfor e o PNQ] se co nst it uiu co mo expressão
de um pro jet o hegemô nico do capit al de formação da classe t rabalhadora
mediado pelo Est ado. Est e realiza o pape l socia l de “educar o
consenso”, apaziguando o conflit o ent re capit al e t rabalho, bem co mo
cr ia mec anis mos de absorção e disso lução da racio nalidade ant agônica
(AMARAL, 2005). Esse aspect o t em demo nst rado a int encio nalidade
hist ór ica das po lít icas de qualificação e sua t endência a se conso lidar
co mo polít ica pública de Est ado, expressão da at ual for ma d e ser do
Est ado, em sua feição neo libera l.
103
O r ecei t uá r i o n eol i ber a l or i gina do do c on sen so de Wa sh i n gt on , com sua a pol ogi a
a o m er ca d o, t r a z em seu boj o n ã o s om ent e a s r ec om en da ções d e a ju st e s
m a cr oec on ôm i c os, m a s, t a m bém , i n di ca ções cl a ra s n o s en t i do de qu e, pa r a que t a i s
r efor m a s se c on cr et i z em , el a s devem ser c on se n sua i s e ca pa z es de s e t or nar par t e
c on st i t uin t e da in st i t uci on al i da de do E st a do (OLIVE IRA, 2005; AMARAL, 2005).
210
Neves (2005, p. 26) ressalt a o pape l educador que cumpr e o Est ado
na sociedade capit alist a sob a hege mo nia burguesa. Na acepção da
aut ora:
Dest art e, int eressa, nest e capít ulo, proceder sua co nst rução a part ir
da seguint e est rut uração: na pr ime ira seção, em um mo viment o
simult âneo e int egrado analisa mos a configur ação do Est ado no cont ext o
brasile iro, as relações co m a base produt iva e as po lít icas públicas de
qualificação profissio nal, or iginár ias da for ma neo libera l de Est ado.
Procuramos demo nst rar como as dimensões relacio nadas à: efic iência e
eficácia, descent ralização, t erceir ização, minimizaç ão dos cust os,
dimensão t íp ica da for ma neo liberal de E st ado, part ic ipação da sociedade
211
5.1. Reest rutu ração capitali sta e as di men sões da Reforma Gerencia l
do Estado no contexto b rasi lei ro
A refor ma do Est ado, que se tornou cent ral nos anos 1990 em t odo
o mundo é uma respost a ao processo de glo balização em cur so, que
reduziu a aut onomia dos Est ados em for mular e implement ar po lít icas
públicas, so bret udo, as de carát er social, e, pr incipa lment e, a part ir da
cr ise do Est ado, que começa a se delinear em quase t odo o mundo no s
anos 1970, mas que só assume plena definição nos anos 1980
(CARDOZO, 2007).
104
O M ovi m en t o que s e d en om i n ou de T er cei r a V i a a dquir i u di m en sõe s e expr es sã o
i nt ern a ci on a l. As ba se s p ol í t i ca s da T er cei ra Vi a for a m si st em a t iz a da s pel o
soci ól ogo br i t â ni co An t h on y Gi dd en s. E st a t em c om o obj et i vo a r efor m a ou g over n o
do ca pi t a l i sm o por in t erm édi o de m uda n ça s na pol í t i ca e n a ec on om i a . Li ma &
Ma r tin s (2005) ca r a ct er iz a m a den om in a çã o de T er cei r a Vi a , com o d e cen t r o
esqu er da , n ova e squer da , n ova s oci a l ─ dem oc r a ci a m oder n iz a dor a ou gover n an ça
pr ogr essi va . E sse pr oj et o, de a c or do c om os a ut or es, foi di r eci on a do, pr in ci pa lm en t e,
à s for ça s de e squer da que ch ega r am a o poder n os úl t i m os a n os do s écul o XX ou qu e
l ut ar am in t en sa m ent e par a i sso. E st es pa r t em da s quest õe s c en tr a i s do n eol i ber a l i sm o
pa ra r efi n á -l o e t orn á -l o ma i s com pa t í vel c om sua pr ópri a ba se e pr in cí pi os
c on st i t ut i vos, va l en do-s e de exper i ên ci a s c on cr et a s des en vol vi da s p or gover n os
eur opeu s (LIMA & MA RT INS, 2005, p. 43).
214
Esses aspect os, imanent es ao Est ado em sua for ma neo liberal 105,
per mearam as po lít icas públicas imp lant adas a part ir de 1990,
ult rapassando a t emporalidade hist ór ica dos gover nos, co mo já
demo nst ramos na quart a part e dest e est udo , mor ment e na anális e
co mparat iva dos P lanos Nacio nais de Qualificação Profissio nal [P lanfo r
e PNQ]. Est as dimensões deram legit imidade às polít icas, assim co mo
reforçaram a for ma de ser neo liberal dos gover nos, na inst it ucio nalidade
est at al – co mo aquele que dest it ui direit os e se desr espo nsabiliza pela
garant ia e int egralidade das po lít icas de promoção dos direit os humano s
fundament ais.
105
Br a ga (1997, p. 224) fa z um a im por t an t e di st inçã o en t r e o m ovi m en t o de cr i se d o
ca pi t a l i sm o e a est r a t égi a n eol i ber a l , a fi rm an do qu e a quel a t em um ca r á t er ma i s
per en e e est r ut ura l e, por tan t o, a pr esen t a di m en sões m a i s pr ofun da s, que nã o a pen a s
pod em ser ul tr a pa ssa da s pel a vi sã o n eol i ber a l de en foca r os pr obl em a s soci a i s.
215
106
N o c on t ext o br a si l ei r o, a s r e for m a s pol í t i ca s, e c on ôm i ca s e s oci a i s i n i ci a da s a fi m
de m od er ni z ar o Pa í s e a just á -l o à l ógi ca da produ çã o en xut a , t í pi ca do t oyot i sm o
(HAVE Y, 2000), t i ver a m in í ci o dur an t e a pr esi dên ci a de Col l or de M el o (1990 -
1992), e s egui r a m pel os pr óxi m os g over n os, q ue a s a pr ofun da r am . O gover n o d e
F HC t e ve o m ér i t o de i n t en si fi ca r o pr oces s o de i n ser çã o l i ber a l i z ant e do Br a si l n a
ec on om i a i nt ern a ci on a l. Para con segui r t al fei t o, fez -s e n ece ssá r i o i m pl em en tar a s
r efor m a s (SILVA JR. 2002).
217
aos dit ames do capit al int er nacio nal, por meio de refor mas inst it ucio nais,
que pro mo vessem a mod er nização do país , e gar ant isse a sua condição de
Est ado Gestor modernizado, a part ir de
Essas refor mas, muit o ma is que refor mas do aparat o est at al,
assumiram um carát er de mudança na forma de ser do Est ado, ou a sua
adesão ao projet o societ ár io capit alist a em bases neo liberais. Para o
Brasil, est a refuncio nalização dos aparelhos est at ais não represent ou
apenas uma refor ma pont ual, mas sinô nimo de uma das expressões do
projet o civilizat ório burguês.
O Est ado como qualquer relação social no sist ema societ al burguês
se revo lucio na a fim cont r ibuir para per manência do velho sist ema.
107
Gr a m sci (1989, p. 3 -6) c om pr een di a in t el ect u a l nã o s ó c om o a quel a s ca m a da s
c om um en t e com pr een di da s c om o l et r a dos e a s el i t es p ol í t i ca s, m a s t odo o gr upo
soci a l que ex er ce fun ções or gan i za t i va s em s en t i do a m pl o; i ss o di z r esp ei t o a o
ca m po da pr odu çã o, da cul t ur a e o p ol í t i c o - a dm in i str at i vo, c or r espon de n do a os
subofi ci a i s su ba l t er n os d o exér ci t o e, t a m bém , a os ofi ci a i s sup er i or es d e or i gem
suba l t er n a. En tr et an t o, ca da gr upo s oci a l , n a scen do n o t er r en o or i gin ár i o de um a
fun çã o ess en ci a l n o m un do da pr oduçã o ec on ôm i ca , cr i a par a si , a o m esm o t em p o
que or gâ ni co, um a ou m a i s ca m a da s de i n t el ec t ua i s que l h e dã o h om ogen ei da de e
c on sci ên ci a da pr ópr ia fun çã o, nã o a pen a s n o ca m po ec on ôm i c o, m a s n o soci a l e n o
pol í t i c o (GRAMSCI, 1989, p. 3).
219
Co mo podemos o bser var há uma explic it ação objet iva no ext rato
de t ext o do document o do Banco Mund ial, dando ênfase à necessidade de
cont er, assim co mo regular os mecanis mo s e for mas que se co loque m
cont rár ios aos fundament os e d ir et r izes a nunciadas pelo Banco Mundial.
O BM co loca co mo prerrogat iva para adesão às refor mas, a just ificat iva
de que elas vão t razer o bem-est ar e desenvo lviment o econômico e socia l
para o país. O imperat ivo para que as propost as e dir et r izes sejam aceit as
é que co m elas t eremos um Est ado mais efet ivo co m desenvo lviment o
econô mico e social.
Cabe quest ionar que reais “necessid ades dos cidadãos são
at endidas”, t endo em vist a que as co ndições básicas de cidadania, t ais
co mo a garant ia de educação, saúde, mor adia, segurança e emprego, não
são garant idos. Dest e feit o, t em- se consciência de que o novo modelo
inst it ucio nal reconhece o cidadão, mas apenas na sua co ndiç ão de client e
e consumidor, expressão t íp ica da cidadania liber al. Mas, para viabilizar
a condição de client e consumidor, necessár io se faz gar ant ir mecanismo s
capazes de dar efet ividade e sust ent abilidade à refor ma do Est ado
implant ada. Malgrado a emergên cia dos aspect os relacio nados à
descent ralização, t erceir ização, parcer ia, eficiência, part icipação
“democr át ica” da sociedade civil, dent re out ros aspect os, confer e m
legit imidade e expressam a assunção da forma id iossincr át ica neo libera l
do Est ado na conjunt ura at ual.
108
E m fun çã o da r e for m a do E st a do, foi cr i a do t od o um a r ca bou ç o jur í di co, em
esp eci a l n a el a bor a çã o da L ei da s Or ga ni z a çõe s S oci a i s (OS ) de 1998, da L ei d o
Vol un t ar i a do, em 1998, e da Lei n º. 9. 790/ 99, que cr i a a s Or gan iz a çõe s da S oci eda d e
Ci vi l de In t er ess e Pú bl i c o ( OSCIP s). E m fun çã o da Lei , s egun do da dos d o Mi n i st ér i o
da Just i ça em 2010, h á a pr oxi m a dam en t e 5. 423 OSCIP s n o Br a si l , sen do qu e 51 %
del a s est ã o n a r egi ã o sude st e d o Br a si l , 31% n o est a do d e Sã o Pa ul o e 15% n a ci da de
de Sã o Pa ul o. Dessa for m a , fi ca cl a r o que a r egi ã o ma i s desen vol vi da
ec on om i ca m en t e n o Br a si l é a que a pr esen t a a m a i or quant i da de de OSCIPs, o qu e
e vi den ci a , con for m e Ca m pos (2003), a in ca pa cida de do g over n o em a t uar de for m a
e fi ci en t e n o cen á r i o de excl usã o s oci a l .
224
Desse modo, a refor ma do Est ado, como já enfat izaram aut ores
co mo Cêa (2003) e Amaral (2005), não se t rat ou de uma refor ma pont ual ,
mas est abeleceu art iculações e conexões das mais diver sas ordens e
est rat égias, econô micas e po lít icas, para garant ir o consenso at ivo dos
subalt er nos, em t orno do projet o hegemô nico da burgues ia brasileira par a
qualificação dos t rabalhadores, pr imordial ment e, no que se refer e à
inst it ucio nalidade da educação profiss io nal e na mudança da for ma de
pensar, fazer e operar t al inst it ucio nalidade. Um dos aspect os mais
plausível da mudança da inst it ucio nalidade da qualificação fo i sua
operacio nalização ser, efe t iva ment e, realizada pelas organizações da
sociedade civil, especia lment e, as do t erceiro set or, inst it uições de
carát er pr ivado, que dest e a década de 1990, co m a refor ma do Est ado
co m FHC, são as pr incipais prot agonist as e execut oras da qualificação
dos t rabalhadores. Essas organizaçõ es imple ment aram propost as
pedagógicas de educação profissio na l, que se for jam adver sas ao projet o
de for mação da classe t rabalhadora, cujos fundament os apont am par a
uma for mação essencia lment e humana e numa per spect iva de
emancipação dos sujeit os sociais.
109
Pa r a Cout inh o (2003, p. 121), o c on cei t o de s oci eda de ci vi l em Gr a m sci , sobr et udo
a que a dqui ri u for ça n os Ca der n os do Cá r cer e, est á vi n cul a do à i dei a de qu e a
“s oci eda de ci vi l ” é p or t a dor a m at er ia l da fi gur a soci a l da h egem on i a , com o e s fer a da
m edi a çã o en t r e a in fr a est r ut ur a econ ôm i ca e o E s t a do em sen t i do r est ri t o.
225
110
Um a da s ca r a ct er í st i ca s cen t r ai s do Ne ol i ber a l i sm o é a r eduçã o d o E st a d o. O
ca r á t er m ín i m o da sua r eduçã o s e a pr esen t a na det er i or i z a çã o da s p ol í t i ca s s oci a i s,
n a in ca pa ci da de de c on t er o de sem pr eg o em m a ssa , n a ba i xa a pli ca çã o d e r ecur s os
públ i c os pa r a a educa çã o e a sa úde, n a con t en çã o de ga st os c om os s er vi d or es
públ i c os, en fi m , em um c on jun t o de m edi da s t om a da s sem pr e de for m a a ut or i t ári a ,
m ui t a s vez e s pa ssa n do p or ci m a da Con st i t ui çã o d o pa í s, sem pr e em pr e juí z o d o
c on jun t o da n a çã o (DE L PINO, 2009).
226
sendo incapazes de en frent ar o capit al; não se sabe se por opção, mas
pelas condições hist óricas que se apr esent am a est as inst it uições sociais,
ou os dois aspect os, vist o não serem independent es, mas processos que
se art icula m.
O que se ver ifica, ent ret ant o, é que o capit al consegue inst it uir u m
novo t ransfor mis mo 111/confor mismo assim co mo se apropr iar das
est rat égias de lut as, dos discursos e prát icas sociais ino vadoras no
âmbit o da qualificação profissio nal, que se apresent am adversas às at uais
polít icas est at ais, ou mesmo ressignificá- las aos seus int er esses.
Esse fat o sinaliza co mo todos os espaços 112 exist ent es de pro moção
e disseminação de visões de mundo, assim co mo as prát icas e ações
desencadeadas são at ravessadas e influenciadas pela lógica cult ural e
dimensões do pro jet o societ ár io capit alist a em dimensão planet ár ia. Esse
aspect o já fo i amp lament e discut ido por Mészáros (2007, p. 206) acerca
das det er minações gerais do capit al. Na ót ica do autor, “o capit al afet a
cada âmbit o part icular co m alguma influência na educaçã o e de for ma
nenhuma apenas nas inst it uições educacio nais for mais”. I sso vale,
inc lusive, para a po lít ica de qua lificação profissio nal.
111
E st a é um a expr essã o cun ha da por Gr a m sci , à qua l fa z m en çã o Am a r al em sua t ese
de dout or a m en t o; Gr am sci n o con t ext o do Ri s or gi m en t o It al i an o par a expl i ca r a a çã o
pa rl a m en t ar que ca r a ct er iz ou a pol í t i ca i t al i ana n o pós 1848, em que a s cl a sse s
di r i gen t es bus ca va m a bs or ver , gr a dua l m en t e, “ os el em en t os a t i vos sur gi dos d os
gr upos a l i a dos e m esm o d os a d ver sá r i os e que a pa r eci a m irr econ ci l i a vel m en t e
i ni m i gos” (GRAMSCI, 2001, p. 63).
112
Va l e ci t a r os m ovi m en t os si n di ca i s, os m ovi m e n t os soci a i s e a s or ga n iz a çõe s d o
t er cei r o set or , den t r e out ra s.
229
E m out ras palavr as, para Oliveira (2009), o processo de hegemo nia
cult ural do capit al est ab elece limit es prát icos e t eór icos para o s
t rabalhadores cr iarem ações discordant es ao seu mo viment o de
afir mação. Dimensões que sina lizam os limit es dos mo viment os cont ra -
hegemô nico s se co nt raporem ao projet o de qualificação e sociabilidade
for mat iva do capit a l, rest ando co mo única saída a adesão às po lít ica s
públicas de qualificação profiss io nal inst auradas pelo Est ado 113, como
via de part icipação na esfera pública e acesso à qualificação da força de
t rabalho.
113
Ca rn oy (1988, p. 149) en fa t i z a que a fun ci on a li da de do E st a d o é i m pedi r que os
t ra ba l ha dor es se or gan i z em pol i ti ca m en t e com o cl a ss e. A est r a t égi a de art i cul ar
si n di ca t os e soci eda d e ci vi l , vi a di scur so de “ for ma çã o pr ofi s si on a l ” , t em si do u m a
da s for m a s e fi ci en t es d e o E st a d o qu e br a r r esi st ên ci a s à s p ol í t i ca s n eol i ber a i s e
i m pedi r l uta s c on t ra -h egem ôn i ca s p or pa r t e dos t r a ba l ha dor es or gan i za dos em
si n di ca t os (Gr a m sci , 1995; An t un es, 1995). Os est ud os d e Bez er r a , (1994), Ji m en ez
et a l , (2002a ; 2002b) e Si l va (2003) a p on t am pa ra a fun çã o i de ol ógi ca qu e a
for m a çã o pr ofi ssi on a l t em a ssum i do na con st r uçã o d e c on sen so en tr e os pr i n ci pa i s
or ga ni sm os r epr esen t a t i vos d os t r a ba lh a dor es.
230
5.2. A nova política de quali fi cação p rofissi onal como política estatal:
exp ressão da hegemonia capitalista
Ait h (2006) ressalt a que a imple ment ação das polít icas públicas é
t arefa do Est ado, ent ret ant o, o a utor admit e que em função da
reconfiguração que t em assu mido o Est ado e a assunção da sua fe ição
neo libera l, a sociedade civil t em amplia do suas ações na concret ização
das po lít icas. Est a ampliação co mpreende não apenas a execução, mas a
for mulação e o financiament o. Ait h (2006, p. 233) argument a que:
Est e aspect o anunciado por Ait h (2006) é compart ilhado por Mot a
(2010, p. 60). Est a autora dest aca que, nas últ imas décadas do século
XX, falar em
234
Nas últ imas décadas, precisament e nos gover nos de FHC e Lula,
fo i const it uído um pro jet o hegemô nico, acerca da for mação dos
t rabalhadores no Brasil, co mo for ma de garant ir a moder nização e
inserção no mercado mundia l; est e projet o apesar de coercit ivo não
necess it ou do uso preciso da força, mas de um amp lo mo viment o de
consenso at ivo ent re os vár io s sujeit os sociais (GRAMS CI, 2003), dent re
eles: o empresar iado, os sindicat os, as organizações sociais da sociedade
civil, dent re out ras inst it uições 114. Para t ant o, o Est ado fo i o pr incipal
114
Pa r a um est udo r i co e pr ofí cu o a cer ca d os pr oj et os em di sput a s obr e a
Qua l i fi ca çã o d os t r a ba lh a dor es pel a s i n st it ui ções soci a i s, ver a t ese de d out or a m ent o
de: AMA RA L. A. S. Q ual i fi c aç ão dos Tr abal ha dor e s e e str até gi a de he ge moni a : o
235
115
A pol í t i ca públ i ca si t ua -se t a m bém n um ca mpo de c on fl i t os en tr e a t or es que
di sput a m or i en t a ções n a es fer a públ i ca e os r ec ur sos à sua i m pl an ta çã o. Há que s e
di st i n guir que pol í t i ca pú bl i ca di fer e d e um a m er a pol í t i ca gover n am en ta l , est a é
m a i s am pl a, em t em po que s e pr ogr a m a um pr oje t o s oci a l na má quin a gover n a m en t al .
Um t r a ço de fi n i dor ca r a ct erí st i co da pol í t i ca públ i ca é a pr esen ça do a pa r el h o
públ i c o- est a t a l na defi n i çã o d e t a i s pol í t i ca s, se ja n o a c om pa nh am en t o, seja n a
a va l i a çã o, a ss egur an d o s eu ca r á t er públ i co, m e sm o qu e sua r ea l i z a çã o oc or r a com
a l gum a s par cer i a s (BUCCI, 2006).
237
quando se t rat a das po lít icas ensejadas pelo Est ado, no que t ange à
for mação dos t rabalhadores no Brasil. “Novo” porque inser ido so b a base
t écnica, cient ífica e t ecno lógica e as no vas for mas de expropr iação da
mais valia.
Neves (2010, p. 25) argument a que est es no vos int elect uais do
capit al buscam fort alecer a “no va pedagogi a da hegemo nia”. As for ma s
238
116
A par t i ci pa çã o da Ba h i a n esse un i ver so é a m a i or en tr e os E st a dos n or dest i n os. A
Ba h i a soz inh a r espon de por 6, 49% do t ot a l de en ti da des sem fi n s l ucr a ti vos do p a í s.
O IBGE (2004) c om put ou 17. 914 en t i da des n o E st a do, on de est ã o 57. 121 pes s oa s
ocupa da s e que m ovi m en t a m um vol um e a n ua l de R$ 524 m i l h ões em r em un era çã o. O
sa l ár i o m édi o m en sa l fi ca em t orn o de R$ 764, 48 (IBGE , 2004).
117
O Cen so Pr ofi ssi on a l foi r ea l i z a do pel o I NE P e m 1999 e t e ve o objet i vo d e c ol et a r
da dos est a t í st i cos que or i en t em os gover n os feder a l , est a dua i s e m un i ci pa i s n o
des en vol vi m en t o da s p ol í t i ca s pa r a a E duca çã o Pr ofi ssi on a l , com o a poi o d o s et or
pr i va do e da s en t i da des de cl a s se (INE P, 19 99) . Apesa r de o Cen s o i n di car a
r el evâ n ci a da educa çã o pr ofi ssi on a l , depoi s d o d e 1999 n ã o se r ea l i z ou m a i s n enh um
out r o, c om a a br an gên ci a e espe ci fi ci da de, sen do e st e o pi on ei r o na in vest i ga çã o da
á r ea .
244
Dependência
Total Bás ico Técnico Tecno ló gico
admi nistrat iv a %
Total (B rasil) 3.948 (100% ) 2.034 2.216 258
Feder a l 150 (3,80%) 103 120 30
Estadual 800 (20,26%) 187 689 24
Municipa l 342 (8,60%) 199 152 6
Pr iva da 2.656 (67,34%) 1.545 1.255 198
TABELA 8: Nú mero de instituições p or ní vel de educação
profi ssional, segund o dependência admi nist rativa
Das 3.948 inst it uições que ofert avam a educação profissio nal e m
algum dos t rês níve is ( básico, t écnico e t ecno lógico), a iniciat iva pr ivada
é responsável por mais de 67% dest as inst it uições. Ou seja, o que se
ver ifica é a pr ivat ização dos espaços públicos da educação pro fissio nal,
sobret udo nos níve is de educação básic a e t écnica. Pr ivat ização que
persist e, ainda co m o passar dos anos, como se ver ifica co m a evo lução
da educação profiss io nal pelo Censo da Educação Básica em 2008.
Obser va-se, assim, a iniciat iva pr ivada preponderant e em relação às
demais et apas e modalidades de educação, perdendo em t er mo s
percent uais, apenas para a educação especial, co mo demo nst ram os dados
da t abela 9, referent e ao número de mat rículas na Educação Básica, por
Dependência Administ rat iva, segundo Et apa e Modalidade – Brasil –
2008.
245
Edu ca çã o In fa n ti l 6. 719. 261 2. 238 0, 0 112.546 1, 7 4. 878. 475 72, 6 1. 762. 002 25, 7
Pr é-escola 4. 967. 525. 1. 117 0, 0 105.181 2, 1 3. 743. 531 75, 4 1. 117. 696 22, 5
Ens. Fu nda mental 32. 086.700 25. 622 0, 1 11. 000.916 34, 3 17. 442.158 54, 4 3. 618. 004 11, 3
Ens. Médio 8. 366. 100 82. 033 1, 0 7. 177. 377 85, 8 136.167 1, 6 970.523 11, 6
Ed. Profiss ional 795.459 77. 074 9, 7 257.543 32, 4 29. 191 3, 7 431.651 54,3
Edu c . E sp e cia l 319.924 820 0, 3 46. 795 14, 6 66. 834 20, 9 205.475 64, 2
EJ A 4. 945. 424 9. 745 0, 2 2. 838. 264 57, 4 1. 948. 027 39, 4 149.388 3, 0
Ens. Fu nda mental 3. 295. 240 747 0, 0 1. 361. 403 41, 3 1. 890. 174 57, 4 42. 916 1, 3
Ens. Médio 1. 650. 184 8. 998 0, 5 1. 476. 861 89, 5 57. 853 3, 5 106.472 6, 5
FONTE: r epr odu zida a par tir do MEC/INEP/ DEED/ E ducacens o (2008 ).
118
O E duca cen so de 2008 e 2009 n ã o m en sur ou o n úm er o de cur sos
pr ofi s si on a l i z ant es, s egun do n í vel de d epen dên ci a a dm in i str at i va . Os da d os d e
r efer ên ci a a in da est ã o r el a ci on a dos a o úl t i m o C e n so da E duca çã o Pr ofi s si on a l , t en do
em vi st a que est e foi ex cl usi vo pa r a a va l ia r e i den t i fi ca r car a ct er í st i ca s pr ópr i a s
dest a m oda l i da de de en si n o.
246
Dos 33.006 cur sos o fert ados no t err it ório nacio nal, a iniciat iva
pr ivada responsabiliza - se por mais de 82% deles. Dos 27.555 cur sos do
níve l de educação básica o fert ados nacionalment e, a iniciat iva pr ivada
responsabiliza- se por quase 88%, sendo est e níve l o que mais at ende aos
set ores empo brecidos socialment e, inclusive na área de ser viços co m
1.417.187 do tot al de mat r ículas (INEP, 2000). Est e cresciment o
gradat ivo da educação profissio na l pode ser vis lumbr ado a part ir dos
dados do Educacenso (2008). Nest e ano [ 2008], o número d e mat r ículas
no ensino pro fissio nalizant e cresceu 14,7%. Foram 795.459 aluno s
cont ra os 693.610 do ano ant er ior, e a diferença so mou 101.849 aluno s
nest a área. O Est ado de São Paulo lidera co m 292.714 mat r ículas de
pessoas no ens ino t écnico e em segundo lu gar Minas Gerais, co m
104.933 alunos. O cresciment o dest a mo dalidade de educação pode ser
visualizado em relação às dema is modalidades e et apas, co mo se pode
analisar.
M atríc ul as / Ano
Etap as /M od ali d ades
de Ed uc aç ão B ás ica
2007 2008 Difere nça 2007 - Vari aç ão
2008 2007-2008
Ed uc ação B ásic a 53.028.928 53.232.868 209.940 0,4
Ens. Funda menta l 32. 122.273 32. 086.700 -35. 573 -0, 1
Ens. funda me ntal 3. 367. 032 3. 295. 240 -71. 792 -2, 1
FONTE: r epr odu zida a par tir do MEC/INEP/ DEED/ Educa censo ( 2008).
247
TABELA 12: Dis tribuição das ent idades do Terceiro S eto r no Bras il po r
área de at uação Á rea Qt de. E ntidades Qt de. (% )
Área Qtde. Qtde. (% )
Ent idades
Habitação 322 0,12%
Saúde 3.798 1,38%
Cultur a e r ecr eação 37.539 13,61%
Edu cação e p es qu isa 17.493 6,34%
Ass ist ência social 32.249 11,69%
Religiã o 70.446 25,53%
Ass ociações patr onais e pr of iss iona is 44.581 16,16%
Meio a mb ient e e pr ot eção animal 1.591 0,58%
D es envolviment o e def esa de dir eit os 45.161 16,37%
Outr as ent ida des s em f ins lucr ativos 22.715 8,23%
TOTAL 275.895 100,00%
FONTE: E labor ado a par tir dos da dos do IBGE (2004).
TABELA 13: I nst it uições da so ciedade civ il part icipant es dos PlanS eQs
Pe tr ól e o e gás nat ur al
Ent i dade Me t a Re c urso FAT Cont rapart i da
(R$) (R$)
In st i t ut o de Apoi o T écn i c o 4. 300
E speci a l i z a do à Ci da dani a - 3. 227. 150, 00 169. 850, 00
IAT E C
Cen tr o de Ci da da ni a Ci da de 3. 620
Ma r a vi lh osa - CCCM/ RJ 2. 508. 660, 00 278. 740, 00
In st i t ut o S or rin do pa r a a Vi da – 2. 300
RJ 1. 726. 150, 00 90. 850, 00
Ass oci a çã o C en t r o de E duca çã o 1. 640
T ecn ol ógi ca d o E st a d o da Ba h i a 1. 168. 500, 00 61. 500, 00
– ASCE T E B
E spa ço de Pr odu çã o ao 760
Des en vol vi m en t o Sust en t á vel - 600. 400, 00 31. 821, 20
In st i t ut o E PA
Ca pa ci t a çã o Pr ofi ssi on a l – 1. 495
CAPRO 1. 121. 800, 00 59. 455, 40
Or gan iz a çã o de 2. 160
Des en vol vi m en t o P ol í t i ca s 1. 620. 000, 00 85. 264, 00
Públ i ca s e S oci a i s – OXIGÊ NIO
Fun da çã o de Pe squi sa s 940
Ci en t í fi ca s de Ri bei r ã o Pr et o - 705. 470, 00 37. 130, 00
F UNPE C/ SP
INST IT UT O E D UCACI ONA L 780
CARV AL HO - IE C/ SP 585. 390, 00 30. 810, 00
TO TAL 17. 995 13. 263. 520 845. 421
M ot o-fr e te
Si n di ca t o dos T r a ba lh a dor es 4. 636
Con dut or es de Veí cul os de Dua s 3. 479. 318, 00 183. 122, 00
Roda s d o E st a do de GO
Comé r c i o e se r vi ç os/ CE
CDL de F or t a l ez a / CE 1. 456
990. 000, 00 110. 000, 00
Pl anSe Q TÊXTIL/ SC
Agên ci a de De sen vol vi m en t o 2. 278
Regi on a l do Va l e d o It a ja í - 1. 709. 639, 00 89. 981, 00
ADRVA LE / SC
249
UNICAFE S - Un i ã o Na ci on a l
1000
da s Coop. da Agr i cul t ur a 852. 600, 00 17. 400, 00
Fa m i l iar e E con om i a Sol i dá ri a
IRP AA - In st . Regi on a l da
375 360. 250, 00 7. 360, 00
Pequ en a Pr opr i eda de Apr opr ia da
COOE SPE RANÇA - C oop.
Mi st a dos P eq. Pr od. Rur a i s e 200 190. 080, 00 7. 920, 00
Ur ba n os
Fun da çã o José Bon i fá ci o / UF RJ 300 313. 000, 00 0, 00
Out ro aspect o analisado é que est as inst it uições são obr igadas a
copart iciparem do financiament o público para serem class ificadas par a
at uação no P lano Nacio nal de Qualificação, confor me est abelecido nos
edit ais de concorrência pública.
251
Rodr igues (2004) mencio na que, em 2004, o gover no Lula dest inou
cerca de 1,2 bilhão para as ONGs que execut am suas po lít icas. Fat o
surpreendent e é que na área de t ur ismo, por exemplo, na pr ime ira gest ão
do president e Lula, o gover no federal gast ou R$ 116,5 milhões para a
realização de fest as e event os. Nos t rês últ imo s anos do últ imo mandat o,
esse valor chegou a R$ 601,2 milhões. De acordo com os dados da
Cont rolador ia Geral da União (CGU, 2010), ent re 2007 a 2009, 69% da
verba fo i t ransfer ida diret ament e para governos est aduais e prefeit ur as,
nos quais rot ineirament e são enco nt rados problemas nas prest aç ões de
cont as. Os out ros 31% (R$ 187,2 milhões) foram para ONGs, que
puderam receber recur sos sem co ncorrência pública.
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
P L AN F O R PN Q
304,6 335,7 70,3 37,3 61,9 22,6 22,7 120,7 70,1 37,5
No est udo do IBGE 119, est ão regist radas 275.897 ent idades no País,
que geram 1,5 milhão de post os de t rabalho (t rês vezes ma is do que o
número de funcio nár io s público s federais ) e pagam R$ 17,4 bilhõ es por
ano, o que significa uma remuner ação média mensal de R$ 943,45. A
maior part e dos empr egos (54%) é gerada por organizações lo calizada s
em S ão Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Os set ores que mais gera m
postos de t rabalho são os de educação e saúde. A área de educação
t ambém reser va as me lhores remuner aç ões, com uma média de seis
salár io s mínimo s por mês (IBGE, 2004).
119
Após est e est ud o do I BGE (2004) a cer ca do m a pea m en t o da s a ções e a t ua çã o da s
Or gan iz a çõe s d o T er c ei r o S et or , n ã o h á r egi st r o de out r o est ud o c om t a m a nh a
en ver ga dur a e a br an gên ci a .
254
inst it uições a lógica da hegemo nia do capit al. A adesão e p art icipação
dest as inst it uições se just ificam pelo pr essupost o da descent ralização,
confor me est abelece o Minist ér io do Trabalho:
um poss ível desvirt uament o da real área de at uação dessas inst it uições.
Esse aspect o pode imp licar a qualidade social e pedagógica da execução
do programas e projet os, como já discut imos ant er ior ment e.
b) Estágio R emu ner ado; (R eda ção da da pela Res olu ção n º
578/2008)
c) Açã o de J ovem Apr endiz, nos t er mos da legis laçã o
vigent e; e (R edaçã o dada p ela Res olu ção nº 638/2010)
d) For mas Alt er nativas G er ador as de R enda (FAGR) .
(R edação da da pela R es oluçã o nº 638 (CODE FAT , 2008).
execução dest as po lít icas, novas est rat égias de cort e neo liberal de
261
nat ureza pr ivat izant e são imp lement adas, t ais co mo: descent ralização da
gest ão assumida pelas secret ar ias es t aduais de t rabalho ; do
financiament o e da operacionalização das ações de qualificação,
realizados diret ament e co m as organizações sociais; focalização e
selet ividade de programas e benefic iár ios; parcer ias co m organis mo s
públicos e pr ivados para imple ment ação de programas e po lít icas
educacio na is.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As quest ões levant adas e proble mat izadas nest a invest igação, que
elegeu co mo objet o de análise a inst it ucionalidade da “no va/ velha”
polít ica pública de qualificação profissio nal, i nst iga-nos e nos provoca a
persist ir no aprofundament o de novos objet os de análise. Nossas
infer ências e indagações procuram demo nst rar a relevânc ia de se
problemat izar a po lít ica de for mação dos t rabalhadores co mo objet o de
disput a de ordem po lít ica, ideo lógica e cult ural.
Nossa invest igação ident ificou que a po lít ica nacio nal de
qualificação profiss io nal dos t rabalhadores est abelece nexos e mediações
co m o modelo produt ivo. Est e modelo necessit a para se reproduzir da
força de t rabalho qualificada. Tal qualificação, mesmo sendo no nível de
for mação básica, aument a pot encialment e a capacidade de t rabalho e m
elevar sua capacidade e produt ivid ade e, co m isso, a expropr iação das
for mas de ext ração de mais valia, t ant o em t er mos abso lut os, quant o em
t ermos relat ivo s. Ident ificamos co mo est a po lít ica, assim co mo a
“no va/ velha” inst it uc io nalidade que assume, é adequada ao modelo
esboçado na década de 1990 e nest as pr imeir as décadas do século XXI ;
ela reclama a int er venção e part icipação efet iva do Est ado na condição
de mediador e educador do consenso at ivo acerca da refer ida po lít ica.
Est a vem assumindo a condição de po lít ica pública.
No ent ant o, ressalt amo s que em out ros mo ment os hist ór icos a
polít ica de qualificação profissio nal dos trabalhadores est eve t ot alment e
at relada à iniciat iva pr ivada, sendo aquela t ut elada pelo S ist ema S. Est e
sist ema é, ainda ho je, um dos pr inc ipais pr ot agonist as das ações de
qualificação dos t rabalhadores. Ent ret ant o, com a inser ção das
inst it uições de vida social, o sist ema S não conseguiu impedir que a
polít ica de qualificação se const it uísse co mo um campo de lut a e disput a
polít ica ent re as classes e suas frações. Disput a, vale dizer, pelo acesso
ao fundo público – o FAT, o que per mit iu às inst it uições sociais que
out rora conflit uavam co m o capit al, agora, co m a mediação do Est ado,
267
No que t ange à aná lise co mparat iva das polít icas, mesmo do pont o
de vist a conceit ual e argument at ivo, sobret udo com a conclamação de
polít ica pública, o PNQ não represent a um “avanço” em r elação ao
PLANFOR. Aquele vem r epresent ando um elo de cont inuidade da
polít ica pública de qualificação profissio nal do Est ado capit alist a
brasileiro. Est e t em at uado como inst rument o de regulação social que
beneficia o capit a l em det r iment o do t rabalho.
O discur so da inc lusão adquir e relevâ ncia nos P lanos, r evelando -se
co mo a cat egoria nort eadora, como se a mer a part icipação nos cur sos de
educação profissio nal garant isse a mit igação da pobreza e da exclusão
social. Os P lano s assumem u m car át er de po lít ica co mpensat ór ia de
Est ado para os dese mpregados e empobr ecidos socialment e.
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