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Em geral, quando alguém diz que pretende escrever (seja o que for), os
mais experientes lhe recomendam que leia e, provavelmente, os menos experientes
fariam a mesma recomendação. O problema, porém, não é apenas entupir-se de letras e
palavras, mal mastigadas, mal deglutidas, mal digeridas. Para escrever bem é preciso LER
e, ao contrário do que dizem, passamos toda a vida aprendendo a ler.
Mas deixo uma ressalva aqui e agora: falo de aprender a ler e não de estar
alfabetizado. Conhecer a língua portuguesa gramaticalmente é obra a ser completada
no ensino fundamental e médio. Finda a ressalva.
Venho me trabalhando para ser também uma leitora melhor e, em função disso,
tenho lido livros que parecem falar aos escritores, mas que falam também aos leitores.
Porém, todas estas obras se dirigem ao leitor de ficção, mas este não é o único leitor.
Tampouco o único tipo de escritor que há.
Assim, cerca de quatro anos atrás, ministrei uma disciplina chamada Produção
Textual em História. O intuito era facilitar aos nossos alunos a escrita de sua monografia
de conclusão de curso, ritual de passagem temido e odiado pela maioria. As famigeradas
30 ou 40 páginas são dores de cabeça constantes para os concluintes e (não em menor
grau) para seus orientadores. Comecei falando de narrativa. Assistimos ao
belíssimo Herói (filme que recomendo). Vimos como é possível dar uma mesma
informação por pessoas ou órgãos diferentes. Fizemos alguns exercícios. Então, percebi
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o óbvio: estava ensinando a escrita sem saber exatamente como meus alunos liam. Claro
que costumo evidenciar logo nas primeiras aulas o que acho serem as etapas básicas da
leitura acadêmica:
Os quatro passos genéricos serviam para alguns, mas nem todos pareciam segui-
los ou internalizá-los. Então, formulei uma sequência mais completa, com a intenção de
ajudar um leitor a seguir um texto acadêmico. Hoje, organizando a vida, encontrei com
este material e resolvi postá-lo por aqui.
11. O autor recupera obras que trazem como modelo o tema que ele está abordando?
De que forma ele as apresenta?
12. Como o autor apresenta o problema das fontes? Qual é a visão dele? Ele apresenta
a visão de outros autores? Ele concorda ou discorda dos outros?
13. Como o autor estrutura os trabalhos analisados no tema abordado em relação ao
uso de fontes e métodos?
14. O autor se posiciona sobre a validade desses usos?
15. O autor se refere à escolas de pesquisa? Quais? E, principalmente, COMO?
16. Quando o autor começa a desenvolver sua própria ideia sobre o tema?
17. A partir de que problematização ele discute?
18. Como ele faz isso?
19. O autor cita outros autores e obras nessa parte? De que forma?
20. Ele retorna à obras já citadas? Como? Qual o seu objetivo no texto ao fazer este
retorno?
21. Que outras questões ainda aparecem?
22. De que forma o autor começa a concluir? Como ele finaliza?
23. Situe em termos de páginas: introdução, revisão bibliográfica, problemas,
desenvolvimento, conclusão.
São 23 pontos árduos, mas que, acredito, podem ser internalizados ao ponto de serem
imperceptíveis, de serem feitos de forma quase automática. Mas acho um bom guia de
trabalho. Para ler. E, certamente, para escrever dentro da academia.