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Política (http://amazoniareal.com.br/category/politica/)
Os indígenas, que já foram deportados pela Polícia Federal em Roraima, estão recebendo ajuda
humanitária da população (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real).
Quem circula diariamente pelo entorno da Rodoviária de Manaus, nas ruas do Centro ou do bairro Educandos
já percebeu homens, mulheres e crianças falando uma língua estrangeira desconhecida, ou um espanhol
incompreensível. As mulheres chamam a atenção pelos longos cabelos escuros e saias e vestidos coloridas.
Esses são os índios venezuelanos da etnia Warao, que estão migrando desde o mês de janeiro à capital
amazonense em busca de comida.
Eles, que falam a língua do mesmo nome da etnia, estão longe de casa a uma distância superior a 1.700
quilômetros. São os povos mais antigos do Delta do Orinoco, conhecidos também como “pessoas da canoa”.
No local, eles dormem em barracas de lona azul. Lavam as roupas e as penduram na cerca de arame farpado
da rodoviária, como se fosse um gigante varal. Tudo que eles têm dentro das barracas são sacolas com
alimentos, calçados, medicamentos, roupas, brinquedos, entre outros itens, doados pela população de
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Manaus; pessoas ligadas a igrejas, escolas e o cidadão comum que tem o sentimento humanitário e solidário.
Os índios viajam das aldeias do Delta do Orinoco, no estado Delta Amacuro, no nordeste do país vizinho, em
canoa, ônibus, pegando carona ou pagando táxi para fazer um percurso de 925 quilômetros até chegar à
fronteira de Santa Elena do Uairén com Pacaraima, em Roraima.
Mas em Roraima, os Warao foram hostilizados por parte da população. Entre 2014 e 2016, a Polícia Federal
deportou 532 índios a pedido da Prefeitura de Boa Vista (http://amazoniareal.com.br/crise-na-
venezuela-populacao-de-boa-vista-pediu-deportacao-de-indios-warao-em-roraima/), que atendeu
a uma solicitação de populares descontentes com os índios pedindo esmolas nos semáforos. Em 9 de
dezembro do ano passado, a polícia tentou fazer uma deportação em massa de 450 indígenas, mas a Justiça
Federal suspendeu a ação.
A polícia justificou as deportações sob o argumento de os índios Warao serem “estrangeiros que estão sem
documentos regular de entrada ou vencido exercendo atividade artística remunerada, inclusive, pedindo
esmolas ou vendendo artesanatos nas ruas e semáforos, o que é incompatível com a condição de turista”, diz
uma nota divulgada pela PF de Roraima.
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(http://amazoniareal.com.br/indigenas-warao-no-centro-de-manaus_foto-elaize-farias/)
As mulheres Warao pedem esmolas e vendem artesanato nas ruas de Manaus (Foto: Elaíze Farias/Amazônia Real)
Para chegar a Manaus, os índios Warao partem de Boa Vista de ônibus e percorrem os 781 quilômetros da
viagem pela rodovia BR 174 – que liga os estados do Amazonas e Roraima – a região mais preservada da
floresta amazônica.
Na rodoviária onde está abrigado em uma barraca de lona, o indígena Warao Elias Perez, 28 anos, disse em
entrevista à Amazônia Real que viajou acompanhado da esposa grávida de cinco meses, Domidia, 25 anos.
Ele contou que enfrentou três dias de viagem a bordo do ônibus. O objetivo da migração, segundo ele, foi a
busca por comida.
“Na Venezuela não temos emprego, não temos comida, não temos remédios, não temos esperanças de nada.
A nossa única saída foi vir para o Brasil para conseguir alimentos, roupas, dinheiro e o mais que pudesse,
para voltar e ajudar nossos irmãos. O governo [venezuelano] não nos ajuda em nada”, desabafa.
Perez conta que na Venezuela trabalhava fazendo pequenos serviços, mas em virtude da crise que tomou
conta do país não conseguiu nem mesmo quintais para capinar e, assim, sustentar a família. A expectativa
dele é partir de Manaus para casa, no Delta do Orinoco, no próximo mês de abril. Para isso, eles pretendem
arrecadar dinheiro para comprar as passagens de ônibus.
As empresas que fazem o transporte interestadual entre Manaus e Boa Vista cobram pela passagem de
ônibus de R$ 100 a R$ 164,00. As crianças com até 6 anos de idade não pagam. Os idosos com
documentação do benefício da previdência social poder receber descontos e até a gratuidade da passagem,
mas essa opção não inclui aos imigrantes.
(http://amazoniareal.com.br/indigenas-warao-na-rodoviaria-de-manaus_foto-alberto-cesar-araujo-6/)
Os artesanatos, como chapéus, são produzidos pelos homens Warao na rodoviária (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)
Uma das formas que os índios Warao conseguem dinheiro para comprar as passagens de ônibus é vendendo
artesanato, arte que predomina nas aldeias desse povo, também conhecido como ‘pessoas da canoa’, pois
são exímios pescadores.
A adolescente Siomara Moranera tem 17 anos. Ela, a mãe, Zulema Moranera, 35 anos, a avó, Cornotera
Moranera, 65 anos, e dois irmãos, de cinco e sete anos de idade, estão abrigados na rodoviária de Manaus.
Todas as mulheres são artesãs.
“Faço colares, pulseiras, brincos e a minha mãe com a minha avó saem para vender diariamente no Centro
de Manaus. As peças variam de R$ 2 a R$ 5. É a única forma que temos para levantar algum dinheiro para
comprar nossas passagens de volta para casa”, destaca a jovem indígena Warao.
Assim como Elias, Siomara reclamou da falta de oportunidades na Venezuela. “É grande o desemprego e o
desespero entre os venezuelanos. Muitas pessoas estão passando fome por não conseguir uma ocupação
remunerada”, diz.
Apesar da ajuda que vem recebendo da população de Manaus, com doação de roupas, gêneros alimentícios,
entre outros materiais, tanto Siomara quanto Elias não souberam dizer quando irão voltar para a casa. Eles
dizem que não há perspectivas de uma vida melhor em seu país.
Ajuda humanitária
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(http://amazoniareal.com.br/indigenas-warao-na-rodoviaria-de-manaus_foto-alberto-cesar-araujo-3/)
Mulher Warao, etnia indígena mais antiga do Delta do Orinoco, na Venezuela (Foto: Alberto César AraújoAmazônia Real)
Na primeira quinzena de fevereiro deste ano, um grupo de 40 alunos da Escola Adventista realizou uma ação
solidária na rodoviária de Manaus. Eles distribuíram alimentos não perecíveis, brinquedos e roupas aos
indígenas Warao. Um levantamento preliminar, de acordo com a diretora-geral das Escolas Adventistas do
Amazonas e Roraima, Edeíse Printes, identificou as necessidades do grupo.
“Ao longo dos anos trabalhamos vários projetos de ação social e sempre envolvemos os jovens das nossas
escolas. No levantamento feito aqui [Manaus], identificamos 30 pessoas e o que de mais urgente elas
precisavam, como roupas e alimentos não perecíveis″, informa Printes. Segundo ela, uma ação semelhante
também foi realizada pela igreja em Boa Vista.
A chegada dos índios Warao a Manaus chamou a atenção da Pastoral do Migrante, ligada à Arquidiocese de
Manaus. A coordenadora da instituição, Valdiza Carvalho, diz que é preocupante no grupo a falta de
documentação de identificação e a vulnerabilidade de mulheres e crianças. Por isso, segundo ela, as ações
humanitárias junto aos indígenas precisam ser feitas quando chegam na cidade.
Desde o final de 201o o fluxo migratório de estrangeiros aumentou em Manaus. Os haitianos chegaram em
massa após o terremoto que devastou Haiti. Entre 2011 e 2016 foram mais de 10 mil pedidos de refúgio
solicitados pelos imigrantes na capital amazonense.
Atualmente esse fluxo migratório de haitianos caiu, segundo a Pastoral. De dezembro de 2016 a fevereiro de
2017 chegaram apenas 154 haitianos.
Conforme Valdiza Carvalho, um mapeamento realizado por instituições envolvidas com ações humanitárias
identificou a imigração de 130 indígenas Warao desde o mês de janeiro de 2017. Desse número, porém, ao
menos 15 Warao já retornaram para a Venezuela de ônibus, durante o período do Carnaval, restando na
cidade 115 migrantes.
No caso dos índios Warao, a coordenadora da Pastoral do Mirante constatou que eles não querem ir para um
abrigo público. “Em virtude da questão cultural, os indígenas não quiseram ficar nos abrigos que
conseguimos, por serem fechados. Eles preferirem locais abertos”, diz Valdiza Carvalho.
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Segundo ela, representantes da pastoral participaram de reuniões na Secretaria de Justiça, Direitos Humanos
e Cidadania (Sejusc) do estado e na Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos
(Semasdh) nas quais foram traçadas algumas estratégias para a ajuda humanitária aos índios Warao. As
pessoas doentes foram encaminhadas a unidades de saúde, diz. “A nossa preocupação maior é com as
crianças que se encontram nas ruas, correndo riscos”, afirma Valdiza Carvalho.
Ela disse que os indígenas migrantes da Venezuela que permanecem na cidade são acompanhados pela
Pastoral do Migrante e pelas secretarias do governo e da prefeitura. No próximo dia 20 de março haverá uma
nova reunião para avaliar a situação deles. “Essa será a quarta reunião em que será avaliado o que as duas
secretarias [Sejusc e Semmasdh] podem fazer pelos indígenas que ainda estão aqui em Manaus”, diz Valdiza
Carvalho.
(http://amazoniareal.com.br/indigenas-warao-na-rodoviaria-de-manaus_foto-alberto-cesar-araujo-7/)
Os Warao lavam as roupas e as penduram na cerca de Rodoviária de Manaus (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)
Indagada pela Amazônia Real sobre as deportações que a Polícia Federal fez de índios Warao em Roraima e
contestadas pelo Ministério Púbico Federal, a coordenadora da Pastoral do Migrante descartou uma ação
semelhante da PF em Manaus.
“Ao contrário do que ocorreu em Boa Vista, em Manaus não há esse risco. A Polícia Federal não tem dinheiro
para custear as passagens para deportar essas pessoas. Eles não estão fornecendo formulários para quem
precisa emitir alguns documentos, imagina pagar a passagem de volta dessas pessoas, ainda que seja via
deportação”, afirma Valdiza Carvalho.
(http://amazoniareal.com.br/crise-na-venezuela-mulheres-migrantes-enfrentam-a-violacao-de-direitos-na-
busca-por-trabalho-no-territorio-brasileiro/especial-crise-na-venezuela_indios-na-feira-do-passarao_boa-
vista_foto-marcelo-mora_amazonia-real-3/)
Mulheres indígenas da etnia Warao migram para Roraima (Foto: Marcelo Mora/Amazônia Real)
Na capital de Roraima estão vivendo atualmente 209 índios Warao no abrigo administrado pelo Centro de
Referência ao Imigrante (CRI), segundo a Coordenação do Gabinete Integrado de Gestão Migratória de
Roraima (CAMs), ligado a Secretaria de Defesa Civil. A assessoria de imprensa do governo disse que não há
uma estatística sobre o número de índios dessa etnia na cidade de Pacaraima.
Segundo a CAMs, 30 mil venezuelanos migraram para Roraima entre 2015 e 2016, sendo que mais de 900
eram índios Warao. A coordenação disse que a criação do Centro de Referência ao Imigrante (CRI) os
migrantes indígenas passaram viver no abrigo, onde têm alimentação e atendimento médico. “Dessa forma
reduziu-se a necessidade da mendicância. Além disso também houve uma campanha de conscientização da
população no sentido de não estimular mais a mendicância. Assim muitos [ Warao] retornaram à Venezuela
ou dirigiram-se para Manaus”, disse a assessoria
Sobre o atual fluxo migratório de venezuelanos para Roraima, a assessoria da CAMs disse que está
prosseguindo de forma constante. “Não há indicações de que essa situação irá se alterar”, informou a
assessoria.
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