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-----Original Message-----
To: contato@caiofabio.com
Mensagem:
Acabo de ler um artigo seu chamado "Uma viagem pela mente de Paulo" e muitos detalhes me
chamaram a atenção. É um artigo grande e traz uma série de pontos que podem ser discutidos
amplamente, cada um com suas peculiaridades e diferenciados níveis de abordagens.
Nesse ponto fiquei com uma dúvida que, provavelmente em virtude das minhas limitações
intelectuais, não consegui extrair respostas claras e conclusivas a esse respeito, no tocante ao
que você queria dizer com tudo isso, especificamente a esse ponto que eu destaco.
O artigo registra que não podemos considerar os ditos de Paulo como “mandamento para
todas as culturas dos gentios da terra” e logo em seguida cita que “Em Cristo não há homem,
nem mulher; nem escravo, nem liberto; nem judeu, nem grego". Ao falar sobre o contexto em
que viviam as prostitutas e as mulheres que tinham marido, e da necessidade que havia da
segunda se distinguir da primeira, vemos que as mulheres que tinha marido usavam véu, e os
homens "respeitavam-no porque aquela mulher tinha 'dono'“.
Bom... resumindo, até mesmo porque você conhece mais do que ninguém esse artigo, gostaria
de fazer uma pergunta:
Quando você afirma que "coisas do dia a dia se transformaram em lei de conduta entre os
cristãos", está se referindo aos velhos e famosos usos e costumes, às divergências doutrinárias,
às mais variadas formas de governo que existem nas congregações (que muitos chamam de
igreja), ou estaria se referindo a algo mais intrigante (para mim) como por exemplo poder ter
mais de uma mulher? (por favor, não faça conexões com histórias do passado.. pura
coincidência... pergunto isso em virtude do que li no artigo e estou sendo muito sincero em
perguntar).
Correndo o risco de não ter entendido claramente o artigo que li, me exponho tirando essa
dúvida, e me sinto um tanto quanto confortável em fazê-lo diretamente com a fonte.
Agradeço desde já a atenção e oro ao Senhor para que Ele continue derramando sobre sua
vida benção sem medida e a Sua maravilhosa graça.
Paz,
David William.
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Parte de seus ensinos foca nesse ponto e anda sobre essa linha tão tênue.
E por quê?
Porque aquelas questões eram periféricas para a salvação, porém relevantes para o
“momento” da cultura e da questão que estava posta.
Uma das coisas que vemos em Paulo é um constante “dilema” entre aquilo que ele já sabe que
é uma conquista eterna de Cristo e aquilo que precisa ser uma “apropriação gradual” da
consciência humana.
Exemplo: Em Cristo não há escravo, nem livre--Paulo disse como Princípio. Mas, no aplicativo,
ele diz como o irmão-escravo deveria se relacionar com o "dono". E vice-versa. E por quê? Ora,
em Cristo aquilo tudo teria que acabar. Mas enquanto não chegasse o dia e a hora, haveria um
modo relativo, porém circunstancialmente "cristão" de praticar o Princípio. Mas os cristãos
usaram o "aplicativo" até a pouco tampo atrás como se fosse um "mandamento" que
justificasse a escravidão.
No caso do véu, creio que você não entendeu bem, e misturou com a questão do bispo ser
“marido de uma só mulher”.
O que eu disse é simples: como ele estava “indicando” o rumo do Bem Eterno, ele afirmava o
Ideal como Princípio, mas lidava com o circunstancial com a sabedoria da ética que ele
professava. Ou seja: uma ética que dizia que se tem, muitas vezes, que escolher um mal
menor; ou ter que admitir que certos fatos da vida já sejam irreversíveis. Mas não nos
conformarmos com eles.
Bem, para mim, pelo menos, a diferença é clara e está estabelecida. Existe o Princípio
Absoluto, e existe a "relatividade do aplicativo", que sempre a sabedoria aplicada ao contexto.
Parte de sua “briga” com Jerusalém era essa. Daí ele ter “conseguido” aquele avanço no
Concílio de Jerusalém de que as “proibições aos gentios” ficassem reduzidas a apenas quatro.
Ele era aquele que se fazia de tudo para com todos para salvar alguns. Ora, essa frase dele já
diz tudo.
Além do que, mesmo tendo a liberdade em Cristo completamente dilatada, ele é também o
homem que “toma voto” em Jerusalém. E por quê? Por ele mesmo? Não! Pelos irmãos. Entre
judeus, como um judeu. Entre os Gálatas, como um deles. E não admitia que Pedro falsificasse
a realidade — conforme você pode ler na carta aos Gálatas.
Bem, o assunto dá um compêndio. Mas estou tendo que correr pra aconselhar um moço ali na
esquina, no Tango e Café, onde atendo boa parte dos que me procuram durante o dia.
Um beijão,
Caio
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Acho que já deu para todo mundo notar que eu não concordo com Friedrich Nietzsche quando
acusa Paulo de ser o fundador do “Cristianismo”.
Essas igrejas não deixavam de ser o que eram e nem as pessoas quem eram nas circunstancias
de suas vidas e culturas, visto que não haveria nunca nenhum poder humano, central ou
regional, que fizesse ninguém dominar sobre ninguém, ditando ensinos de homens e
revelações do ego, pois, Cristo é o Cabeça do corpo e Nele temos o Amém de Deus —
conforme Paulo!
Além disso, não haveria uma profissão teológica a ser buscada e nem um status profético de
detentor de novas revelações a ser alcançado, pois, em Cristo, todos os tesouros da sabedoria
e do conhecimento já haviam sido revelados.
O apostolo também cria que o mistério desse crer e saber geraria um sentir de almas unidas
no amor de Cristo. E, assim, o mundo veria a presença do reino de Deus.
Ele também cria que esse testemunho tinha que ser dado dentro do contexto onde a Palavra
estava sendo anunciada. Assim, para os judeus ele era escândalo entre os gentios!
Para os gentios ele não era um escândalo entre os judeus, quando raspou a cabeça, tomando
voto. Afinal, quando alguém faz parte de uma cultura onde a revelação se originou, pode
passar a pensar que sua cultura e sua história são santas também. E os que souberam depois—
os gentios, no caso—sentem-se privilegiados em poder ter algum contato com a “cultura
original”, como o fazem os católicos e evangélicos quando beijam o chão de Israel!
Hoje a exemplificação também vem dos novos convertidos evangélicos que recebem a Jesus e
tem que "engolir" o pacote como se tudo fosse o evangelho, até o jeito de falar ou vestir!
O engano é pensar que quem chegou antes já discerniu mais. Paulo nuca creu nisso. Por isso
mesmo botou Pedro sob a Graça e enfrentou tudo e todos pela verdade do Evangelho.
Para nós Paulo é tão demais ainda que o “demais” de Paulo, pouca gente tem enxergado.
E Paulo apesar de saber que era demais, era para si mesmo tão de menos, que nunca pensou
que sua pessoa fosse ficar nada além do que nele se via e dele se ouvia!
Alguns exemplos.
Dou Graças a Deus porque falo em línguas mais do que todos vós!—para os Carismáticos.
Todas as coisas são puras para os puros!—para quem gosta daquilo que a maioria diz não
poder ou gostar.
Não é bom para o homem o comer com escândalo!—para quem anda doido para fazer alguma
coisa e tenta se controlar.
O bispo seja marido de uma só mulher!—para aquele que tem um medo horrível de gostar
tanto de pregar quanto gosta de mulher.
O bispo governe bem a sua própria casa!—para o líder que acha que consegue manter os filhos
escondendo bem seus próprios corações.
Agora os aplicativos.
Ora, os aplicativos são tantos que eu vou deixar a expansão deles para outra hora. Aqui vou
apenas dar alguns poucos exemplos.
Vejamos:
O bispo seja marido de uma só mulher!—porque no principio Deus criou Adão e Eva, não Adão
e suas mulheres. No entanto, Adão caiu e o mundo de Paulo não era o jardim do Éden.
Portanto, a fim de que o Evangelho fosse boa notícia para todos—incluindo os que tinham
mais de uma esposa ou mulher quando conheceram a Palavra—, Paulo recomenda que o bispo
seja o referencial desse novo modelo.
E o homem que não quiser sua mulher pensando como ele, que pense como ela.
Cada geração tem que entender e saber recomeçar sem negociar com o Princípio da Palavra.
O aplicativo carrega o Princípio, mas não pode ser instituído como forma.
Ele é acusado de ter inventado o “bispo” (que era bispo de casas de fraternidade, o outro
nome é igreja, e não essa figura estereotipada de hoje), a “hierarquia” (que era orgânica e não
funcional), o “silencio das mulheres” (que era cultural), o tom agressivo (que era o mínimo que
ele poderia fazer considerando a dor das circunstancias), a lógica na argumentação (porque ele
era inteligentíssimo), a independência excessiva (porque ele cria, não duvidava e não tinha
medo), etc...
Para mim, sinceramente, ele é o homem que discerniu e explicou a razão da esperança melhor
que ninguém. Isso ninguém pode negar!
Mas se Paulo tivesse sido entendido nos Princípios Essenciais da revelação que transmitia, a
história teria sido possivelmente outra, em razão de que a essência do que Paulo ensinou não
criaria o que o “Cristianismo” se tornou, em qualquer de suas variáveis.
E não haveria uma Basílica que representasse o Templo de Jerusalém sendo erguida em nome
da fé em Jesus!
Ele jamais proporia uma Reforma. Ele cria em subversão, em revolução permanente, em nunca
se conformar com este século e suas produções, ainda que teológicas.
Ou seja:
Paulo sabia que o que dizia era a Verdade do Evangelho de Cristo. Ele não tem nenhuma
dúvida a respeito da revelação recebida.
Quando ditava algo ou escrevia para enviar aos Efésios, Romanos, Filipenses, Coríntios ou
qualquer outra cidade, poderia também ser Rio de Janeiro, São Pedro, Curitiba, Teresina e
Sobral do Ceará.
Ele era responsável eternamente pelo que ensinava acerca do Evangelho e, ao mesmo tempo,
completamente solidário e participe do momento e das circunstancias das vidas de seus
ouvintes.
Ele sabia que o que dizia era o Evangelho e que o Evangelho não era nada mais nem menos
que aquilo.
Ele só não sabia era que sua “correspondência” iria ser lida durante dois mil anos, todos os
dias—especialmente aos domingos—, por milhões, bilhões de seres humanos, e que essas
pessoas iriam pensar que todas as soluções imediatas que ele, Paulo, buscava alcançar no
“aplicativo” do Principio Universal do Evangelho, iriam se transformar em “conteúdo fixo” do
evangelho, e que viria a ser ensinado como “mandamento para todas as culturas dos gentios
da terra”.
Logo ele? Que lutou contra isso o tempo todo? Tendo feito mais inimizades por causa disso do
que por qualquer outra razão entre os judeus ou entre os cristãos judaizantes!?
Não!
Paulo jamais gostaria que o carioca fosse como os gregos e pernambucanos como os
holandeses, e os paulistas como italianos!
Aquelas coisas eram importantes naquela hora, mas não dava para comparar com Bem do
Evangelho.
E, à semelhança dele, Paulo cria que cada geração iria ter que reconhecer também, como ele
mesmo pediu a Timóteo que o fizesse—em suas ações, atitudes, amor, longanimidade, fé,
pureza, saber, e também pelas armas da justiça, quer ofensivas, quer defensivas; por boa fama
e por desonra; como quem morre, mas eis que vivo está!—, o significado de crer no Evangelho
de Jesus!
“Em Cristo não há homem, nem mulher; nem escravo, nem liberto; nem judeu, nem grego”—
foi o que ele disse.
Isto é Universal.
É! Em Cristo!
A cidade era portuária e o verbo corintianizar era sinônimo de tudo o que os cariocas são no
imaginário universal: o povo da boa vida, do prazer e do momento de alegria.
Uma mulher que tivesse marido e fosse fiel a ele deveria se diferenciar desse paradigma com
“autoridade”—e a expressão simbólica da mulher que não gosta que fiquem gritando nas
costas “sua gostosa!”, naquela época, era botar o véu sobre a face.
Se no Brasil esse sinal fosse respeitado, muitas mulheres usariam véu, se a percepção cultural
das pessoas fosse idêntica.
Hoje se puser o véu a “rapaziada” arranca e se não ouvir um sonoro “me deixa em paz”, nem
sempre desiste.
O problema é que em Corinto se o que funcionasse fosse o “me deixa em paz”, Paulo iria dizer:
Para o lado de “dentro” Paulo diz que o “dono” daquela mulher não deveria fazê-la sua
propriedade a fim de
abusar dela.
E assim como o homem é a gloria de Deus, assim também a mulher é a gloria do homem!
Resumindo:
Paulo mesmo disse que a letra mata--até mesmo nas cartas de Paulo!
Quem já conheceu o irmão Paulo não fica mais com esse problema.
Sabe que Paulo era absolutamente certo de ter crido e processado a Palavra da Verdade da
Graça de Deus revelada em Seu Filho Jesus Cristo.
É mistério.
Cristo é a Revelação.
O Evangelho é a Boa Noticia, mas não se encerra numa única explicação cultural. Não se deixa
prender nem por judeus, nem por gregos, nem por americanos, ingleses, brasileiros ou até
mesmo argentinos (o “até mesmo” revela meu mergulho no momento histórico emocional
brasileiro de fazer piadas com argentinos).
Certo?
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Vou ter que sair correndo para fazer um "aplicativo" de alguns Princípios, no aconselhamento
que trás dilemas "circunstanciais", e que é pertinente ao drama urbano de um irmão que me
aguarda não na sinagoga, mas numa cafeteria na esquina da Barata Ribeiro com a Raimundo
Correia, e que se chama--argentinamente--Tango & Café.
Veja que fiz um "aplicativo" de brincadeira com os "Argentinos", mas vivo em respeito ao
Princípio de que em Cristo não há nem brasileiros nem argentinos, pois, todos são um em
Cristo
Caio