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O advento do Movimento Modernista no âmbito da literatura, após a semana de arte

moderna de 1922, incentivou a adoção de novos modelos de estrutura e de escrita, sendo


possível notar a utilização das diversas variantes linguísticas como forma de exaltação da
influência cultural de cada localidade brasileira sobre a língua. Não obstante a
essencialidade dessas variações para compor a diversidade que caracteriza o Brasil, a
existência de preconceitos direcionados àqueles que não adotam a norma padrão da
língua é perceptível no contexto do país, fato nocivo à garantia de direitos de igualdade
na sociedade brasileira.

Deve-se ter consciência de que a presença dessas variações linguísticas é resultante de


uma diversidade de contextos estabelecidos no país, mas está, muitas vezes, associada a
aspectos de poder econômico e intelectual. Nesse contexto, a influência de processos
históricos que vinculam o acesso à educação e, consequentemente, ao estudo da
gramática normativa à parcela mais abastada da população delimita a expressão dessas
variantes linguísticas à falta de conhecimento e ao baixo poder econômico de seus
praticantes, fato que é fortalecido pela representação de tal pressuposto nas mídias de
massa e pela aceitação de tal ideia pela sociedade brasileira, possibilitando a
concretização da exclusão social de parcela da população.

Essa errônea associação realizada em relação às variações linguísticas, capaz de ocultar


os aspectos culturais de tal expressão, relaciona-se, também, com a postura do ensino
praticado nas escolas. Diante dessa situação, a atitude de atribuir uma perspectiva de
maior valor a gramática normativa, considerando-a “mais correta”, desvaloriza a validade
das variantes linguísticas ao não contemplar o maior objetivo do uso da língua, que é
satisfazer as necessidades de comunicação do indivíduo. Além disso, a proliferação de
uma ideia de que a fala está submetida às regras gramaticais desconsidera que ambas não
conseguem se transformar e evoluir em uma mesma velocidade, visto que o modo de
falar não é estático e artificial e progride de maneira mais rápida que a gramática. Desse
modo, o estabelecimento dessas concepções no ensino das escolas potencializa a
depreciação da língua do indivíduo e, consequentemente, de sua identidade.

Nesse sentido, faz-se necessária a ativa participação do Estado quanto à modificação das
percepções presentes nas escolas acerca das variantes linguísticas, conjuntamente à
contribuição das próprias instituições de ensino, por meio do incentivo estabelecido por
aparatos jurídicos à projetos interdisciplinares e à adoção de uma nova didática associada
ao ensino da língua, que dê maior valor às variações da fala e à necessidade de um estudo
mais amplo sobre elas, a fim de separá-las de uma visão depreciativa. Ademais, é de
extrema importância o envolvimento do terceiro setor- organizações não governamentais-
para a promoção de campanhas de conscientização acerca da validade e da importância
das variações linguísticas, fazendo uso de mensagens criativas e atrativas em meio de
comunicação de massa, a fim de desestruturar percepções presentes na sociedade e
retratadas por algumas mídias que são motivadoras do preconceito linguístico existente
no Brasil.

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