Você está na página 1de 15

BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da.

Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 89


modelo hegemônico de produção agrícola.

PRÁTICAS AGRÍCOLAS SUSTENTÁVEIS COMO ALTERNATIVAS AO MODELO


HEGEMÔNICO DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA

José Deomar de Souza Barros1


Maria de Fátima Pereira da Silva2

RESUMO - O presente trabalho consiste num estudo sobre algumas práticas ecológicas de
produção agrícola, pretende-se mostrar que estas práticas são alternativas viáveis para
substituir progressivamente o modelo convencional baseado na revolução verde que tem se
mostrado inadequado devido os inúmeros desequilíbrios ambiental provocado nos
ecossistemas. Neste sentido, a utilização inadequada dos recursos naturais é um dos principais
motivos da degradação ambiental, provocando assim desequilíbrios nos componentes bióticos
e abióticos dos ecossistemas. Diante desses efeitos negativos ocasionados pelo mau uso dos
recursos naturais, surge a necessidade de reflexões concernentes à ética ecologica e
sociocultural, nos levando a repensar os mecanismos de desenvolvimento rural, na ótica de
uma sustentabilidade ambiental. Assim, as práticas agroecológicas de produção socialmente
justa e adaptável, são propostas desafiadoras para produção de alimentos em harmonia
agrícola caracterizam-se por serem ecologicamente correta, economicamente viável, do
homem com o meio ambiente.

Palavras-chave: práticas ecológicas; modelo convencional; sustentabilidade ambiental.

SUSTAINABLE AGRICULTURAL PRACTICES AS ALTERNATIVES TO THE


HEGEMONIC MODEL OF AGRICULTURAL PRODUCTION

ABSTRACT - This paper is a study on some ecological farming practices, we shall show that
these practices are viable alternatives to gradually replace the conventional model based on
the green revolution that has proven inadequate because of the numerous environmental
imbalance caused in ecosystems. In this sense, the misuse of natural resources is one of the
main reasons for environmental degradation, thus causing imbalances in biotic and abiotic
components of ecosystems. Given these negative effects caused by the misuse of natural
resources comes the need for reflection concerning the ethical and socio-cultural ecology,
leading us to rethink the mechanisms for rural development from the viewpoint of
environmental sustainability. Thus the agro-ecological farming practices are characterized by
being environmentally friendly, economically viable, socially just and adaptable. Proposals
are challenging to produce food of man in harmony with the environment.

1
Licenciado em Ciências com Habilitação em Biologia e em Química; Universidade Federal de Campina
Grande - UFCG. Especialista em Agroecologia; Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Especialista em
Ensino de Química; Universidade Regional do Cariri – URCA. Mestrando em Recursos Naturais; Universidade
Federal de Campina Grande - UFCG. E-mail: deomarbarros@gmail.com
2
Licenciada em Letras com Habilitação em Língua Inglesa e Vernácula; Universidade Federal de Campina
Grande - UFCG. Pós-graduanda em Gestão Publica Municipal; Universidade Federal da Paraíba - UFPB. E-
mail: maryfatimapereira@gmail.com

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551


www. inagrodf.com.br/revista
BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 90
modelo hegemônico de produção agrícola.

Key-words: ecological practices; conventional model; environmental sustainability.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos tem sido desenvolvida e incentivada uma agricultura com base na
conhecida “Revolução Verde”, concretizada pelas práticas da mecanização, irrigação e
fertilização do solo, bem como o uso de agroquímicos no combate de pragas e doenças,
intensificando assim a produção de alimentos (NEVES, et al., 2004).
A busca constante pelo aumento da produtividade e maximização de lucros tem sido a
tônica na agricultura moderna de cunho convencional, ou seja, fundamentada nos preceitos da
revolução verde que incentivou a utilização de agentes químicos nas plantas e no solo, reduziu
consideravelmente a prática da agricultura orgânica, muito utilizada antes da década de 1950,
esta fundamentou-se em termos genéricos, na idéia de que as plantas e o solo precisam se
alimentar para assim produzirem em maior quantidade. Storch et al. (2003) citando Miyasaka
e Nakamura (1989), destaca que o processo de tecnificação e industrialização da agricultura
tiveram como ponto determinante o século XVIII, a partir da Revolução Industrial, relata que
esta agricultura tem provocado impactos significativos nos setores ambientais, sociais e
econômicos. Assis et al (1995) citando Hodges (1981) deixa explicito que parte dos
problemas ligados à agricultura convencional resultou do próprio sistema de produção, mas
outros são causados pela interação entre agricultura e os fatores políticos, econômicos, sociais
e culturais.
Se, por um lado, houve ampliação da produção e desenvolvimento industrial de
tratores, de fertilizantes, herbicidas e pesticidas em geral, por outro lado, houve aumento do
desemprego do êxodo rural e da concentração de renda. Os reflexos dessa degradação vêm
sendo notados no decorrer do tempo (EHLERS, 1999).
Os problemas advindos dos processos industriais da agricultura têm provocado o
advento de diversos sistemas de exploração agrícola que não recorrem aos defensivos
modernos. Segundo Jesus (1996) a agricultura orgânica surge como alternativa e resposta à
agricultura de base urbana industrial, visto que esta proporciona a viabilidade da agricultura
familiar, associando os aspectos do bem-estar social, a segurança alimentar e o
desenvolvimento dos mercados locais.
A partir dos anos 80, surgem um grande número de Organizações não Governamentais
(ONGs), preocupadas com as questões ambientais, tais como: o efeito estufa, a preservação de
ecossistemas, a poluição dos mares e rios e o uso indiscriminado dos produtos químicos e
também a geração de lixos domésticos e industriais. Estas passaram a atuar no
desenvolvimento rural, tendo início os constantes movimentos de contestação da agricultura
convencional. Produtores e consumidores têm se preocupado com a qualidade dos alimentos
produzidos e consumidos, procurando desenvolver práticas mais limpas de produção e
procurando alimentos mais saudáveis, gerando benefícios ambientais em termos de
sustentabilidade. É mais do que um sistema de produção que exclui o emprego de fertilizantes
químicos de alta solubilidade, agroquímicos e outros produtos obtidos por síntese, esta
produção proporciona a sustentabilidade ambiental e social, práticas que maximizem o bem
estar social e que busquem o equilíbrio a longo prazo.
SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551
www. inagrodf.com.br/revista
BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 91
modelo hegemônico de produção agrícola.

Nesse contexto, a produção de alimentos saudáveis, que utilizam tecnologia limpa


como a agricultura orgânica, conquistou forte impulso em todos os continentes e movimentou
o mercado internacional.
Nota-se, atualmente, que a população mundial vem construindo gradativamente uma
consciência ecológica diante da fragilidade do modelo vigente, evidenciando assim, a
necessidade da implantação de um desenvolvimento sustentável, que seja capaz de considerar
como um todo os fatores econômicos, sociais, ecológicos (BRANDENBURG, 2005;
DULLEY e MACHADO, 2009; GIORDANO, 1995).
Diante de todos os avanços concebidos pelo modelo convencional e das agressões
provocadas na natureza que colocam em risco a sobrevivência dos seres vivos, os produtores
dispõem de alternativas sustentáveis, com baixo investimento, as tendências baseadas na
agricultura alternativa ganham força nesse novo modo de pensar e agir (ZAMBERLAM e
FRONCHETI, 2007).

Modelo Convencional de produção agrícola

A agricultura baseada na ideologia da revolução verde procura contribuir com o


aumento da produção e da produtividade agrícola no mundo, caracterizando-se pela
descoberta e aplicação de técnicas agropecuárias ou tratos modernos e eficientes no aumento
da produção agrícola a curto prazo. A escolha de espécies estratégicas, a mecanização no
campo, a aplicação de agroquímicos, combinado com avanços industriais abalizados em
fontes de energia não renováveis, caracterizando-se pela geração de resíduos poluidores e
subprodutos do consumismo, causando a extinção de espécies (ZAMBERLAM e
FRONCHETI, 2007). Essa tendência agrícola apresenta uma visão de artificializarão do meio
ambiente, controlando todos os fatores que influem na produção e na produtividade. Tem por
objetivo a produção em massa, reproduzindo os modelos laboratoriais (BALSAN, 2006). Essa
modernização consiste simplesmente na mecanização e aplicação de produtos químicos
sintéticos na agricultura, fazendo com que os pequenos produtores aceitem sem
questionamentos essa tecnologia (HOBBELINK, 1990).
“É o período marcado por geração de conhecimento tecnológico destinados à
agropecuária do mundo inteiro e sistematizado em pacotes tecnológicos abrangendo a área da
química, da mecânica e da biologia” (BELATO, 1993, apud ZAMBERLAM e FRONCHETI,
2007 p. 12).
Segundo Zamberlam e Froncheti (2007), o programa da revolução verde teve duas
fases: a pioneira, de 1943 a 1965 com a grande expansão, de 1965 em diante. A primeira teve
um caráter pioneiro e experimental, os projetos-piloto forma no México, nas Filipinas e no
Brasil, além dos Estados Unidos, resultando em pacotes tecnológicos. Na segunda fase, com o
objetivo de difundir os pacotes tecnológicos, ocorreu uma intervenção controlada no processo
de produção agrícola, seja no controle dos insumos básicos de produção (sementes,
equipamentos, adubos químicos e defensivos), na orientação técnica impostas aos agricultores
e o credito direcionado.
A tecnologia para o setor agropecuário passou a ser dominada pelo saber, pela
verdade, produtos da ciência desenvolvidos em laboratórios, manipulados por especialistas,
cabendo ao produtor apenas executar as práticas originadas nesse universo, da maneira mais
rigorosa possível (FASE, 1988). Assim,

[...]a raiz conceitual desse processo é a visão de uma necessária e crescente


artificialização do meio ambiente, de modo a controlar todos os fatores que influem
na produção. Assim, o objetivo básico do processo é a produção em escala, que
reproduza os modelos de laboratório, controlando-se a matriz genética das plantas,
SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551
www. inagrodf.com.br/revista
BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 92
modelo hegemônico de produção agrícola.

o fornecimento de nutrientes, da água, de luz, de temperatura, as espécies correntes


das pragas e das doenças (FASE, 1988, p. 9).

Contrario ao pensamento de sustentabilidade, a agricultura convencional vem


provocando diversos desequilíbrios na natureza, como pode ser constatado no pensamento de
Capra (1982, p.21-22),

[...] além da poluição atmosférica, nossa saúde está ameaçada pela água e pelos
alimentos, uma e outros contaminados por uma grande variedade de produtos
químicos. Conforme o meio ambiente é atingido pelos resíduos químicos jogados
em diversas atividades, sejam elas na produção, industrialização, no comércio, nas
rotinas domésticas e diárias, aumentam os problemas de saúde dos indivíduos.

Com os avanços do processo de modernização da economia, ocorreu à industrialização


da agricultura, isto é: a agricultura, enquanto setor produtivo se tornou uma atividade
empresarial crescente, se transformou num mercado de máquinas e insumos modernos
produzidos pela indústria (BRUM, 1988). Neste sentido,

Há uma tendência do grande capital de ver a terra não como um fator de produção,
mas como suporte físico de intervenção artificializadas. Esse mesmo suporte é visto
como problema, exatamente por não ser morto, asséptico, inerte e substituível por
estruturas físicas à base de plásticos, resinas ou outro material do mesmo tipo
(FASE, 1988, p. 9).

A tendência agrícola mais moderna é o modelo tecnológico baseado na biotecnologia


e na engenharia genética, representando as maiores esperanças da sociedade e os mais
confusos temores e desentendimentos, esses receios estão relacionados a preocupação com os
organismos modificados geneticamente. Visto que, novas toxinas podem ser incorporadas aos
alimentos, diminuindo a sua qualidade nutricional, genes resistentes podem atenuar o efeito
de alguns antibióticos em humanos e animais, entre outros fatores negativos (ZAMBERLAM
e FRONCHETI, 2007).
A agricultura brasileira partiu de um modelo tradicional passando por um modelo
extensivo e posteriormente pelo modelo intensivo da chamada modernização dolorosa,
caracterizando-se pela adoção de tecnologias produzidas pela indústria química, mecânica e
biológica. Hoje, esse modelo intensivo avança para a biotecnologia, centrado em laboratórios
que manipulam os transgênicos. Essas mudanças permitem a ampliação das discussões dando
aos agricultores, consumidores e pesquisadores a oportunidade de buscarem alternativas
sustentáveis como é o caso da agricultura orgânico/ecológica, lançando novos caminhos para
a produção agrícola com a mínima intervenção na natureza. (ZAMBERLAM e FRONCHETI,
2007).
Segundo Zamberlam e Froncheti (2007) A seleção de espécies, a mecanização, a
quimificação na agricultura, conjugadas com o avanço industrial baseado em fontes de
energia poluentes, além dos subprodutos do consumismo desenfreado da humanidade
detentora de riquezas, têm provocado a extinção crescente de espécies de animais e vegetais
do planeta. Os avanços da agricultura convencional dentro do modelo da Revolução Verde
trouxeram profundas seqüelas, como:
• Alto custo social, econômico e ambiental;
• Efeitos nocivos sobre a população por contaminação e envenenamento do solo,
ar e água;
• Destruição do equilíbrio natural dos ecossistemas por erosão e morte dos solos
e o desaparecimento dos inimigos naturais das pragas;
SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551
www. inagrodf.com.br/revista
BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 93
modelo hegemônico de produção agrícola.

• Eliminação, inibição ou redução sensível da flora microbiana do solo;


• Maior dependência e custos de produção pela perda de fertilidade do solo, da
biodiversidade e pelo aumento da resistência das pragas, trazem consigo aumentos crescentes
nas doses de fertilizantes, de pesticidas e grau de toxidade. Deste modo, isso ocasiona
absorção desequilibrada de nutrientes, produzindo alimentos desnaturados;
• Queda de exportações;
• Concentração de renda;
• Deterioração das condições sociais e de trabalho.

Transição de um Modelo Mecanicista para o Modelo de Produção Agrícola Sustentável

A transformação nas bases da agricultura, de um modelo mecanicista para o modelo


sustentável, passa pela transformação da sociedade, assim não é uma simples substituição de
agroquímicos por insumos ecológicos, essas mudanças precisam acontecer especialmente pelo
fortalecimento da agricultura e implementação de políticas públicas voltadas para o
fortalecimento dessa agricultura (MOREIRA e CARMO, 2004).
A humanidade nos últimos anos tem passado por uma crise de ecologia global, uma
das causas desta crise é a agricultura industrializada que usa de forma insustentável os
recursos naturais manejo industrializado dos recursos naturais que rompe as taxas de re-
acomodação e reposição dos resíduos, produzindo um crescente incremento de entropia
(GUZMÁN CASADO et al., 2000). Esse modelo de produção baseado no pensamento
cientifico convencional, elegeu como progresso para o meio rural a homogeneização social e
cultural, causando com isso, degradação do conhecimento popular local. Diante desse fato os
camponeses reagiram de diferentes formas a essa tentativa de erosão da cultura, baseada pela
lógica de mercado. A agricultura mecanizada foi substituindo as formas artesanais de cultivo
e produção agrícola, vinculada à cultura de cada sociedade. As sociedades atingidas
desenvolveram diferentes meios de resistência a esse processo de homogenização cultural,
assim nasciam formas resistentes contra as agressões socioculturais, ou seja, respostas
endógenas surgidas a partir da cultura de cada localidade.
Na década de 70 essa preocupação expandiu-se por países como Canadá, Japão, Nova
Zelândia, Áustria e também no Brasil. Dentre os principais momentos no qual a preocupação
ambiental esteve em evidencia, destaca-se: a reunião de Estocomo, em 1972; a criação da
Comissão de Brundtland em 1983; o lançamento do relatório “Nosso Futuro Comum”, em
1987 e a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento -
CNUMAD – Rio 92. As alternativas agrícolas sustentáveis consolidaram a partir dessas
conferências, que iniciou e difundiu os alicerces do desenvolvimento sustentável
(CAVALCANTI, 1995).
Neste sentido, a Agroecologia oferece uma reflexão relevante para essa mudança de
paradigma, pois compreende os sistemas produtivos como unidade, onde os ciclos minerais,
as transformações energéticas, os processos biológicos e as relações socioeconômicas são
investigados e analisados como um todo (ALTIERI, 2001). É a cultura desenvolvida a partir
da visão do ecossistema (casa) em que se vive e se gera práticas agrícolas, não recebendo
imposições (ZAMBERLAM e FRONCHETI, 2007). Esta Ciência apresenta uma série de
princípios e metodologias que possibilita estudar, analisar e avaliar agroecossistemas, tendo
como objetivo alcançar a sustentabilidade no meio rural. (CAPORAL e COSTABEBER,
2001). Através da conservação dos recursos naturais e da produtividade agrícola, causando o
menor impacto possível ao meio ambiente, zoneamento agroecológico com o intuito de
selecionar as potencialidades dos agroecossistemas, reduzir os insumos agrícolas externos e
SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551
www. inagrodf.com.br/revista
BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 94
modelo hegemônico de produção agrícola.

não renováveis, satisfazer as necessidades das gerações atuais e futuras (PEREIRA et al.,
2006).
A Agroecologia não esta voltada apenas ao manejo dos recursos naturais, tem se
constituído uma estratégia relevante para avaliação dos impactos sócio-ambientais e para
instalação de programas sustentáveis no meio rural. Esta ciência possui uma série de
princípios científicos e não é uma prática ou um sistema de produção. Com isso, a agricultura
orgânica, biodinâmica, entre outras são conjuntos de práticas e tecnologias que possibilitam o
emprego de alguns insumos e essas práticas apresentam necessariamente princípios
agroecológicos (ALTIERI, 1995). A Agroecologia é uma ciência interdisplinar, agrupando os
avanços científicos de diversos campos do conhecimento (GUZMÁN CASADO et al., 2000).
Deste modo, esta ciência é definida como a aplicação dos princípios e conceitos da Ecologia
no manejo e desenho de agroecossistemas sustentáveis (GLIESSMAN, 2000). De acordo com
Altieri (1989), a Agroecologia possibilita o estudo das atividades do meio agrícola sob um
aspecto ecológico.
Como ferramenta do desenvolvimento sustentável a Agroecologia, constrói suas bases
a partir das experiências da agricultura de cunho ecológico, na preparação de propostas
coletivas capazes de enfrentar a lógica do atual modelo de produção agrícola, com o objetivo
de substituí-lo por outro, comprometido com a sustentabilidade econômica, social e ambiental
(LEFF, 2002).

Agricultura Orgânica

Em respostas as grandes transformações que ocorriam no mundo eclodiram diversas


correntes ligadas a agricultura que sugeriam formas sustentáveis de produção agrícola,
inicialmente a agricultura biodinâmica, na Alemanha e Áustria, na década de 1920. Na década
posterior, a agricultura natural no Japão e a agricultura organo-biológica na suíça e Áustria, já
nos anos de 1930 a 1940 surgiu a agricultura orgânica na Grã Bretanha e nos Estados Unidos
(DAROLT, 2002). Segundo Freitas (2002) apud Mazzoleni e Nogueira (2006) essas quatros
principais correntes da agricultura sustentável não parece se contradizer.
A Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica – IFOAM –
afirma que o sistema orgânico é praticado em mais de cem países. Na União Européia, cerca
de 80 mil propriedades são orgânicas, abrangendo uma área próxima a 2 milhões de hectares,
o que perfaz 1,1% do total das propriedades e 1,4% da área agrícola cultivada. Nos EUA,
aproximadamente 1% do mercado americano de alimentos é orgânico, o que movimentou em
1996 algo em torno de U$ 3,5 bilhões. Na América do Sul, o maior produtor é a Argentina; no
Brasil estima-se que estejam sendo cultivados 100 mil hectares, em cerca de 5 mil unidades
produtivas (DAROLT, 2001).
Segundo Silva at al (2005), em termos de consumo, a Europa é o maior mercado
consumidor mundial, com movimento anual de US$ 6,2 bilhões, e é seguida pelos Estados
Unidos (US$4,2 bilhões), superando os números de 1996 e pelo Japão (US$ 1,2 bilhões).
Em termos de mercado, 85% da produção orgânica brasileira é destinada ao mercado
de exportação, principalmente para a Europa, Estados Unidos e Japão, ficando apenas 15%
para o mercado interno. (DAROLT, 2002, p.47).
O agronegócio dos produtos orgânicos está em fase introdutória no Brasil, pois a sua
produção se iniciou por volta de 1980. O potencial brasileiro para a agricultura orgânica são
os agricultores familiares excluídos da agricultura química, essa modalidade pode contemplar,
no mínimo, 70% dos agricultores brasileiros, aqueles que não possuem nenhuma força
mecânica para realizarem suas atividades (FAO/INCRA, 2000).

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551


www. inagrodf.com.br/revista
BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 95
modelo hegemônico de produção agrícola.

Segundo Pires et. al. (2002), a agricultura orgânica caracteriza-se pela restauração da
fertilidade do solo por processos biológicos, eliminação de pragas e doenças pela fertilidade
do solo, interação entre produção animal e vegetal.
Agricultura orgânica diferencia-se da agricultura convencional por ser socialmente
justa, ecologicamente correta, e viável economicamente, procura promover a saúde dos seres
humanos e o equilíbrio ambiental, preservar a biodiversidade, os ciclos e as atividades
biológicas do solo. Enfatizando o uso de práticas de manejo excluindo a adoção de
agroquímicos assim como outros materiais que realizam no solo funções estranhas às
desempenhadas pelo ecossistema, procurando utilizar os recursos locais, obtendo assim a
máxima reciclagem dos nutrientes.
A agricultura orgânica é um sistema não convencional de produção agrícola, de
cultivo da terra, baseado em princípios agroecológicos, envolvendo a gestão dos recursos
naturais, a conservação dos agroecossistemas, a produção agrícola, a comercialização dos
produtos orgânicos, o processamento dos mesmos e os direitos sociais e econômicos dos
produtores rurais. Assim sendo, comprometida com a saúde, a ética, a cidadania e a
autonomia do ser humano, contribui com a preservação da vida humana e da natureza e
procura utilizar formas sustentáveis e racionais que possam promover a sustentabilidade dos
recursos naturais, utiliza técnicas tradicionais e modernas de produção ecológica
(PENTEADO, 2003).
Esse modelo de produção é resultado de movimentos onde várias correntes
estabeleceram formas diferentes de manejo do sistema solo/planta e das criações de animais.
Na década de setenta foi sentida a necessidade de um fórum que se ocupasse da tarefa de
harmonizar conceitos, estabelecer padrões básicos, resguardando a diversidade do
movimento. Assim surgiu em 1972 a Federação Internacional do Movimento da Agricultura
Orgânica (International Federation of the Organic Agriculture Movement, IFOAM) uma
organização não governamental que hoje abriga 770 organizações, incluindo certificadoras,
processadores, distribuidores e pesquisadores de 107 países.
“A agricultura orgânica faz parte de um movimento amplo de contestação e
proposição a atual agricultura convencional, sendo um conjunto de movimentos alternativos”
(JESUS, 1996 apud STORCH, 2003, p. 71).
Segundo Pires at. al (2002), a agricultura orgânica caracteriza-se pela restauração da
fertilidade do solo por processos biológicos, eliminação de pragas e doenças, interação entre
produção animal e vegetal. Conforme os autores supracitados a produção orgânica busca
ofertar produtos saudáveis e de elevado valor nutritivo, isentos de qualquer tipo de
contaminastes que ponham em risco a saúde do consumidor, do agricultor e do meio
ambiente. Fomenta a integração efetiva entre agricultor e consumidor final de produtos
orgânicos e o incentivo à regionalização da sua produção para os mercados locais. É um
sistema de produção que exclui o emprego de fertilizantes químicos de alta solubilidade,
agroquímicos e outros produtos obtidos por síntese em seus mais diversos aspectos.
Ao contrário do que afirmam seus opositores, não é uma simples volta ao passado,
mas as experiências daqueles que trabalham em ecossistemas tratando o solo como um
elemento vital e não apenas como substrato, unida a conhecimentos científicos agronômicos e
sociais.
A agricultura sustentável é o sistema de produção agrícola que atende à crescente
demanda durante um futuro indefinido a custos econômicos, ambientais e sociais consistentes
com o aumento da renda per capita. (PLUCKNETT e WINKELMANN, 1995).
Além da preservação do meio ambiente e da saúde humana, a agricultura orgânica
pode contribuir no aumento da renda do produto pelo sistema de produção e pelo valor
agregado das mercadorias, como o da segurança alimentar, e na geração de novos empregos
SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551
www. inagrodf.com.br/revista
BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 96
modelo hegemônico de produção agrícola.

(CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA COMÉRCIO DE


DESENVOLVIMENTO, 1966 apud PENTEADO, 2003).
Em virtude dessas questões a produção e o consumo dos produtos derivados da
agricultura orgânica vêm aumentando nos últimos anos, inserindo-se na modalidade da
agricultura familiar, e muitos fatores contribuem para o crescimento e aprimoramento da
agricultura orgânica dentre eles pode-se citar a consolidação recente de políticas públicas
voltadas ao fortalecimento da agricultura familiar (AGUIAR, 1986)
De acordo com Junqueira e Luengo (2000), a produção e o consumo de produtos
derivados da agricultura orgânica têm se caracterizado por ser uma parte diferenciada de
mercado, no qual a segurança alimentar, a saúde familiar, a não utilização de agrotóxicos
pelos produtores e a valorização do meio ambiente tem sido determinante na procura desses
produtos por parte dos consumidores.
Isso é evidenciado na própria definição do termo orgânico, pois sinaliza que o produto
é diferenciado, os bens são produzidos de acordo com as normas da produção orgânica, e são
certificados por uma estrutura ou autoridade de certificação devidamente constituída
(BORGUINI; MATTOS, 2002, apud SILVA et al 2005), e em sua produção se visa a não
utilização de insumos e fertilizantes minerais solúveis. Visto que, os produtos orgânicos têm
como uma das suas maiores propostas contribuir para o desenvolvimento sustentável, ou seja,
conciliar o crescimento econômico com a preservação dos recursos naturais.
O aumento do consumo de produtos orgânicos no mercado interno segundo as
principais certificadoras, no ano 2000 ficou na ordem de 50%, para um volume de 200
milhões de reais por ano; apesar de todo este desempenho, os hortifrutigrangeiros não
exercem significativa participação neste mercado, sendo que as culturas de maior expressão
são aquelas de exportação, e o café um exemplo típico desse fenômeno. Já, na União
Européia, as taxas de crescimento são de 40 a 50% ao ano, pois o crescimento do consumo é
atribuído a maior preocupação com a saúde familiar e também com o meio ambiente. O
consumo de produtos da agricultura orgânica tem se caracterizado como um segmento
diferenciado de mercado, no qual a segurança alimentar, aliado ao não uso de agrotóxicos é
decisiva na opção de consumo (STORCH et al., 2003).
Visto que, na maioria dos países em desenvolvimento, a produção de alimentos é
caracterizada por uma elevada participação de pequenos agricultores, proprietários ou
arrendatários. Uma estratégia para a pequena produção agrícola que envolva técnicas
ambientalmente positivas é pertinente com o contexto dos países em desenvolvimento.
Proporciona o desenvolvimento regional, promovendo os sistemas locais do mercado de
alimentos, não somente para acomodar as diferenças existentes na extensão das propriedades
e na escala de produção, mas também por interferir em questões importantes, como o
decréscimo da quantidade de propriedades agrícolas, a redução da oferta de emprego, o
aumento da pobreza rural e da insegurança na qualidade da produção e na distribuição de
alimentos (WAI & PANYAKUL 1998 apud PIRES et al 2002, p. 151).
“Entretanto, a agricultura orgânica, quando comparada com a agricultura
convencional, representa apenas 1% de toda a agricultura mundial, fator que revela o espaço
que existe para o desenvolvimento deste tipo de agricultura” (DAROLT, 2002, p.45).
Para se produzir produtos orgânicos, devem-se seguir as exigências da Instrução
Normativa, n.7, que traz recomendações para a produção de produtos orgânicos vegetais e
animais. Suas diretrizes, de modo geral dizem, segundo DAROLT (2002): à oferta de
produtos saudáveis e de elevado valor nutricional, isentos de qualquer tipo de contaminação
que ponha em risco a saúde do consumidor, do agricultor e do meio ambiente; à preservação e
a ampliação da biodiversidade dos ecossistemas, natural ou em transformação, em que se
insere o sistema produtivo; à conservação das condições físicas, químicas e biológicas do
SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551
www. inagrodf.com.br/revista
BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 97
modelo hegemônico de produção agrícola.

solo, da água e do ar; e ao fomento da integração efetiva entre agricultor e consumidor final
de produtos orgânicos, e ao incentivo à regionalização da produção desses produtos orgânicos
para os mercados locais.
Existem muitos inibidores em relação ao aumento do consumo desses produtos, dentre
eles pode-se citar: preço alto, pouca variedade e a falta de informação do consumidor, dessa
forma, o consumo deve ser fomentado com estratégias que vise o maior conhecimento e
estímulo pela sua compra. “[...] há indícios de que campanhas publicitárias divulgando os
diversos aspectos da agricultura orgânica poderiam proporcionar incentivos adicionais ao
consumo desses produtos” (BORGUINI e MATTOS 2002, apud SILVA et al 2005, p. 101).
“A conscientização da população a cerca dos malefícios à saúde causados pelo uso de
agrotóxicos, difundida através dos meios de comunicação, tem colaborado para a difusão de
prática agrícola conhecida como orgânica.” (MACHADO e CORAZZA, 2004, P.22)
Caracteriza-se como sistema de produção orgânica, a adoção de meios que otimizem o
uso dos recursos naturais, sociais e econômicos, respeitando a diversidade cultural,
proporcionando a auto-sustentação e a elevação dos benefícios sociais e a minimização da
dependência das fontes de energias não-renováveis e a não utilização de agroquímicos e de
organismos modificados geneticamente. Prioriza a conservação do meio ambiente e da saúde
humana, assegurando transparência no processo de produção e de transformação (BRASIL,
1999).
O sistema de produção orgânica dispensa o uso de insumos sintéticos, adota prática de
rotação de cultivos, reciclagem de resíduos orgânicos, adubos verdes, rochas minerais,
manejo, controle biológico, além disso, procura manter a fertilidade do solo para atender as
exigências nutricionais das plantas. É um sistema preocupado em produzir uma alimentação
saudável com características e sabor originais, procurando atender as expectativas do
consumidor, assim busca a qualidade de vida, evitando danos a saúde do produtor e do
consumidor orgânico e do meio ambiente (PENTEADO, 2003).
Segundo Altieri (2001) os agricultores que adotam o cultivo orgânico procuram
trabalhar com sistemas agrícolas complexos, caracterizado pela interação ecológica e
sinergismo entre os componentes biológicos promovendo a fertilidade do solo, a
produtividade e a proteção das culturas.
As transformações dos processos produtivos na agricultura têm passado por um
processo desafiador na melhoria da produtividade e lucratividade da produção orgânica
(FREITAS, 2002 apud MAZZOLENI, 2006).
A transição do cultivo convencional para o cultivo orgânico têm se dado paralelo à
agricultura moderna, não provocando um abandono definitivo desse último modelo
(BEZERRA e VEIGA, 2000).
A produção orgânica encontra-se ligada diretamente ao mercado justo, proporcionando
a distribuição de renda e ganhos reais desde a produção até a comercialização. O comércio
justo caracteriza-se por benefícios recíprocos e respeito mútuo. (GARCIA, 2000)
A análise do perfil dos produtores orgânicos revela que os pequenos produtores
familiares ligados às associações e aos grupos de movimentos sociais totalizam 90% dos
produtores, sendo que apenas 10% dos produtores estão ligados a empresas privadas
(DAROLT, 2002).
A expansão do comércio e consumo de produtos da agricultura orgânica tem
limitações, tanto em nível de cultivo como de canais de comercialização. Os aspectos de baixa
qualidade visual, preços sobre valorizados em relação aos convencionais, aliado ao fato da
irregularidade de sua oferta, são grandes empecilhos a este segmento de mercado
(JUNQUEIRA & LUENGO, 2000).

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551


www. inagrodf.com.br/revista
BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 98
modelo hegemônico de produção agrícola.

Para uma melhor valorização do seu produto faz-se necessário que os produtores da
agricultura orgânica busquem a formalização de um sistema de certificação para a obtenção
de um rótulo para o produto orgânico. O agricultor que possuir as condições de produção ao
longo do ciclo de vida estabelecido por esse sistema de certificação terá acesso a nichos de
mercados com mais elevados índices de remuneração de seu produto, sendo associado a um
regime de vendas garantidas e à construção de uma imagem de qualidade com relação ao seu
cliente.
Para isso faz-se necessário a adoção de Políticas bem planejadas que poderiam induzir
o desenvolvimento desses agricultores marginalizados. O agricultor deve ser devidamente
capacitado, conhecer os princípios da agricultura orgânica, os objetivos da visão da
propriedade como um organismo, a integração da agricultura e da pecuária para fertilização
do solo, a importância da biodiversidade, as práticas ecológicas de conservação e todos os
outros conhecimentos para cultivar com eficiência técnica e econômica. (MAZZOLENI e
NOGUEIRA, 2006).
Dessa forma, deve-se buscar cada vez mais a prática do desenvolvimento sustentável,
atendendo as necessidades da geração atual sem prejudicar as gerações futuras e a agricultura
orgânica pode ser um caminho a ser percorrido na busca da sobrevivência harmônica do ser
humano com o seu planeta (MAZZOLENI e NOGUEIRA, 2006).

Agricultura Biodinâmica

Baseia-se no ciclo de nutrientes, nos minerais lentamente solúveis, na matéria


orgânica e na ração produzida preferencialmente na propriedade, na rotação de
cultura e controle térmico, no manejo adequado para controle de pragas e doenças,
na integração vegetal-animal [...] (CARMO et al., 1989, p. 18).

A mais antiga de todas as correntes alternativas surgiu a partir de 1924 através dos
trabalhos Rudolf Steiner, sintetizada no livro, Agricultura: um curso em oito palestras.
Procede da abordagem espiritualista antroposófica, segundo esse modelo a agricultura sofre
influência dos astros e de forças espirituais interagindo com plantas, animais e os homens.
Caracteriza pelos preparados biodinâmicos sugeridos por Steiner, totalizando 9, visando o
desenvolvimento de plantas estimulando seu crescimento e produção, manejando o
estabelecimento rural como um ser vivo (NEVES, et al., 2004). Segundo Koepf et al.
(1983) Esse modelo busca o equilíbrio e a harmonia entre os cinco elementos básicos: a terra,
as plantas, os animais, as influências cósmicas e o homem. Prioriza a preservação e a
conservação ambiental, para isso procura diversificar e integrar as atividades de produção
vegetal, criação de animais e exploração vegetal (PASCHOAL, 1995).

Agricultura regenerativa

O sistema possibilita uma rápida recuperação de áreas degradáveis e de produção


agrícola através de: poda intensiva de árvores que acelera a incorporação de
biomassa ao solo; intensivo controle de sucessão vegetal; indução ao
rejuvenescimento e intenso crescimento e vigor que a poda proporciona [..]”
(JESUS, 1996, p. 50).

Liderada por Robert Rodale, é um ramo da agricultura orgânica, além de adotar os


princípios dessa modalidade de agricultura destaca a independência do agricultor em relação
aos recursos externos, priorizando a utilização dos recursos disponíveis na própria unidade de
produção (JESUS, 1996).
SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551
www. inagrodf.com.br/revista
BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 99
modelo hegemônico de produção agrícola.

Agricultura biológica

“Se assenta no tripé fertilização, rotação cultural e trabalho do solo para conseguir
alimentos mais completos, nutritivos e biologicamente equilibrados” (AUBERT, 1985, p.
314).
Surgiu na Suíça, na década de 30, foi desenvolvida pelo biologista e homem político
Dr. Hans Müler, trabalhou na suíça com a temática da fertilidade do solo e microbiologia,
originando assim a agricultura organo-biológica, passando a ser conhecida posteriormente
como agricultura biológica, popularizando-se a partir dos trabalhos de Claude Aubert na
França, cuja obra principal é L`Agriculture Biologique: porquoi et comment la pratiquer. Este
modelo esteve inicialmente preocupado com a autonomia dos produtores e comercialização
direta, com forte cunho ecológico. Por algum tempo as idéias de Hans Müler passou
despercebida, mas o médico alemão Hans Rushas as retomou e sistematizou, concretizando as
mesmas por volta dos anos 60 (PENTEADO, 2003). Prioriza o uso de fontes renováveis de
energia e forma de manejos capazes de proporcionar a proteção ambiental. O destaque das
práticas agrícolas recaem sobre o manejo, fertilização do solo e rotação de cultura. Seus
simpatizantes adotam a incorporação de rochas moídas no solo e, especialmente, adubação
orgânica, necessariamente de origem animal, o solo constitui a sede de intensa atividade
biológica devendo-se fertiliza-lo com adubos orgânicos e minerais insolúveis estimulando a
vida microbiana, excluindo assim qualquer tipo de adubo químico solúvel. Procura-se
eliminar a monocultura através da diversificação agropecuária. O controle de praga deve
basear-se no controle biológico e a organização familiar deve permanecer a célula-base
(EHLERS, 1996).

Agricultura natural
Concentra os esforços produtivos na potencialidade da natureza. Assim utilizando-se
corretamente as formas e a energia da natureza, é possível obter-se nas colheitas
produtos suficientes sem a necessidade de uso de inseticidas, nem fertilizantes.
Baseado no exemplo da natureza se cultiva a terra somente lhe acrescentando ervas e
folhas caídas [...] Através da manifestação de forças vitais da natureza, é possível
produzir sem o uso de qualquer adubação, ainda que animal. É no potencial da
fertilidade da terra que está o cerne da produção natural (CARMO et al. 1989, p. 18).

Essa tendência é uma das colunas da religião mesiânica formulada em 1935 por
Mokiti Okada, tem como princípio a intervenção mínima do homem nos processos da
natureza, potencializando os processos naturais, evitando as perdas energéticas e o respeito às
leis impostas pela natureza. As práticas agrícolas mais utilizadas são: rotação de cultura, usos
de adubos verdes, compostagem e cobertura morta sobre o solo (EHLERS, 1999). Segundo
Neves (2004) a agricultura natural não faz uso de resíduos animal, utiliza produtos especiais
destinados a fertilização do solo, esses produtos são chamados microorganismos eficazes
(effective micoorganisms-EM) compondo um conjunto de fungos, bactérias e actinomicetos
destinados a decomposição da matéria orgânica morta, sendo utilizados na compostagem e
como inoculantes para plantas. Essa tendência tem em Masanobu Fukuoka seu principal
defensor, em seu livro La revolution d`um seul brin de paille (1983), ele estabeleceu as bases
de seu método.

Permacultura

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551


www. inagrodf.com.br/revista
BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 100
modelo hegemônico de produção agrícola.

Esse termo significa um sistema integrado de espécies vegetais permanentes e animais


úteis ao homem. Essa tendência foi implantada nos anos 70 por dois australianos: Davis
Holmgren e Bill Mollison caracterizam-se por buscar a sustentabilidade e ligações entre os
elementos, fazendo uso de métodos ecológicos e viáveis economicamente. Atendendo as
necessidades básicas dos seres humanos com intervenção mínima no meio ambiente, assim,
essa tendência trata os vegetais, animais, as construções, a infra-estrutura não como elementos
isolados, mas como sendo todos parte de um grande sistema interligado. Todas essas atitudes
têm por objetivo minimizar os impactos ambientais, assim, todos os resíduos e dejetos
produzidos na unidade serão reutilizados ou tratados antes de serem lançados para fora da
propriedade (PENTEADO, 2003).
Constitui uma visão holística da agricultura, com forte carga ética, buscando a
integração entre a propriedade e o ecossistema, com um modelo de sucessão de cultivos na
intenção de maximizar a produção, conservando os recursos naturais (ZAMBERLAM e
FRONCHETI, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A necessidade de produzir alimentos para garantir a segurança alimentar da população


mundial é um argumento defendido com freqüência para justificar a utilização do modelo
convencional de produção agrícola. Sabe-se que este modelo encontra-se em crise, devido aos
danos econômicos, sociais e ambientais, mas diante desse fato, faze-se necessário que os
produtores adotem práticas menos agressivas a natureza atendendo as demandas por uma
alimentação saudável. Para tanto, eles precisam ter acesso a essas tendências alternativas,
visando o desenvolvimento de tecnologias local ou regionalmente adequadas, na ótica
econômica, social e ambiental, tendo em vista o desenvolvimento sustentável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUIAR, R. C. Abrindo o Pacote Tecnológico; Estado e pesquisa agropecuária no


Brasil. São Paulo: Polis/CNPq, 1986. 156p.

ALTIERI, M. Agroecologia, a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. Porto Alegre:


Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2001 (Síntese Universitária, 54).

ALTIERI, M. Agroecologia – As bases cientificas da agricultura alternativa. Rio de Janeiro:


PRA/FASE, 1989.

ASSIS, R. L. de; AREZZO, D. C.; ALMEIDA, D. L.; DE-PLLI H.. Consumo de Produtos da
Agricultura Orgânica no Estado do Rio de Janeiro. Revista de Administração, v. 30, n. 1, p.
84-89, 1995.

AUBERT, C. Agricultura orgânica. Encontro Brasileiro de Agricultura Alternativa. Anais,


Rio de Janeiro, 1985, p. 314.

BALSAN, R. Impactos Decorrentes da Modernização da Agricultura Brasileira. CAMPO-


TERRITÓRIO: revista de geografia agrária, v. 1, n. 2, p. 123-151, ago. 2006.

BEZERRA, M. C. L.; VEIGA, J. E. (Coord.). Agricultura Sustentável. Subsídios à


elaboração da Agenda 21 brasileira.. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; Instituto
SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551
www. inagrodf.com.br/revista
BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 101
modelo hegemônico de produção agrícola.

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis; e Consorcio Museu


Emilio Goeldi, 2000.

BRANDENBURG, A. Ciências Sociais e Ambiente Rural: Principais Temas e Perspectivas


Analíticas. Revista Ambiente e Sociedade, v. VIII, n. 1, p. 1-14, jan./jun., 2005.

BRASIL. Ministério da Agricultura, pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa No 7.


Brasília: Diário Oficial da União, Seção 1. p. 11, 19/05/1999.

BRUM, A. J. Modernização da Agricultura – Trigo e soja. Petrópolis: vozes, 1988.

CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. AGROECOLOGIA E SUSTENTABILIDADE:


Base Conceptual para uma nova Extensão Rural. Butucatu, Julho de 2001. Disponovel em: <
http://www.agroecologia.inf.br/biblioteca/PalestraCaporalCostabeber.pdf > Aceso em:
23/05/2010.

CAPRA, F. O ponto de mutação: a ciência, a sociedades e a cultura emergentes. São Paulo:


Cultrix, 1982.

CARMO, M. S. Agricultura alternativa frente à agricultura química – Estrutura de custos e


rentabilidade econômica para diversos atividades. Revista Arrozeiras. Porto Alegre, v. 42, n.
384, p. 13-32, mar./abr.,1989.

CAVALCANTI, C. Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade sustentável.


São Paulo: Cortez, 1995.

DAROLT, M. R. Agricultura Orgânica: inventando o futuro. Londrina: IAPAR, 2002. 250p.

DAROLT, M. R. A SUSTENTABILIDADE DO SISTEMA DE AGRICULTURA


ORGÃNICA: Um Estudo da Região Metropolitana de Curitiba. Publicado em
05/01/2001. Disponível em < http://www.planetaorganico.com.br/trabdarolt2.htm > Acesso
em: 25/05/2010.

DULLEY, R. D.; CARMO, M. S. Viabilidade econômica do Sistema de Produção


Alternativa. Revista de Economia Rural. Brasília, v. 25, n. 2, p. 225-250, 1987.

EHLERS, E. M. Agricultura sustentável: origens e perspectiva de um novo paradigma. São


Paulo: Livros da terra, 1996.

EHLERS, E. Agricultura sustentável: origens e perspectiva de um novo paradigma Guaíba:


Agropecuária, 1999.

FAO/INCRA. Novo Retrato da Agricultura Familiar: o Brasil Redescoberto. Brasília,


2000.

FASE. Agricultura alternativa viabilizando a pequena produção. Revista Proposta, n. 36, Rio
de Janeiro, 1988.

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551


www. inagrodf.com.br/revista
BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 102
modelo hegemônico de produção agrícola.

GARCIA, I. Produção Orgânica e mercado justo no Brasil e no mundo. Revista Brasileira de


Agropecuária, ano I, n. 9, p. 42-43, 2000.

GIORDANO, S. R. Agricultura Sustentável: Novos Desafios para o Agribusiness. Revista de


Administração Pública, São Paulo, v. 30, p. 77-82, 1995.

GLIESSMAN, S. R. Agroecologia processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto


Alegre: Editora da universidade – UFRGS, 2000.

GUZMÁN CASADO, G.; GONZÁLES DE MOLINA, M.; SEVILLA GUZMÁN, E.


Introducción a la agorecologia como deserrollo reral sostentible. Madrid: Mundi-Prensa,
2000.

HOBBELINK, H. Biotecnologia – Muito além da revolução verde. Porto Alegre: AGE,


1990.

JUNQUEIRA, A. H.; LUENGO, R. F. A. Mercados diferenciados de hortaliças. Horticultura


Brasileira, Brasília-DF, v.18, n.2, p. 95-99, julho, 2000.

JESUS, E. L. Da agricultura alternativa à agroecologia: para além das disputas conceituais.


Agricultura sustentável. Jaguariúna, v.1, n. 2, p. 3-27, 1996.

LEFF, E. Agroecologia e saber ambiental. Agroecologia e Desenvolvimento Rural


Sustentável, v.3, n.1, jan / mar, 2002.

MACHADO, A. Q. T A Educação Ambiental Comunitarista e a Agroecologia Intervindo na


Agricultura Familiar. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 22, p.
323-336, jan./jul., 2009.

MACHADO, F.; CORAZZA, R. Desafios tecnológicos, organizacionais e financeiros da


agricultura orgânica no Brasil. Aportes, revista de la Facultad de Economia, BUAP, ano
IX, n. 26, p. 21-40, mai./ago., 2004.

MAZZOLENI, E. M.; NOGUEIRA, J. M. Agricultura orgânica: Características Básicas do


seu Produtor. RER, Rio de Janeiro, vol. 44, n. 02, p. 263-293, abr/jun, 2006.

MOREIRA, R. M.; CARMO, M. S. do. Agroecologia na Construção do Desenvolvimento


Rural Sustentável. Agric. São Paulo, v.51, n. 2, p. 37-59, jul/dez, 2004.

NEVES, M. C. P. Agricultura Orgânica: uma estratégia para o desenvolvimento de


sistemas agrícolas sustentáveis. Rio de Janeiro: EDUR, 2004.

KOEPF, H. H.; PETERSON, B. D.; SCHAUMANN, W. Agricultura biodinâmica. São


Paulo: Nobel, 1983.

PASCHOAL, A. Modelos sustentáveis de agricultura. Agricultura sustentável. Jaguaraúna,


v. 2, n. 1, p. 11-16, 1995.

PENTEADO, S. R. Introdução à Agricultura Orgânica. Viçosa: Aprenda Fácil, 2003.


SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551
www. inagrodf.com.br/revista
BARROS, J. D. de SOUZA & SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao 103
modelo hegemônico de produção agrícola.

PEREIRA, L. C.; SILVEIRA, M. A. da; NETO, F. L. N. Agroecologia e Aptidão Agrícola


das Terras: as bases cientificas para uma agricultura sustentável. Jaguariúna: Embrapa Meio
Ambiente, 2006.

PIRES, A. C.; RABELO, R. R.; XAVIER, J. H. V. Uso Potencial da Análise do Ciclo de Vida
(ACV) Associada aos Conceitos da Produção Orgânica Aplicados à Agricultura Familiar.
Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.19, n. 2, p.149-178, maio/ago, 2002.

PLUCKNETT, D. L.; WINKELMANN, D.L Technology for Sustainable


Agriculture.Scientific American, Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.19, n. 2,
p.149-178, maio/ago. 2002.

SILVA, D. M.; CAMARA, M. R. G. da; DALMAS, J. C. Produtos Orgânicos: barreiras para


a disseminação do consumo de produtos orgânicos no varejo de supermercados em Londrina-
Pr. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 26, p. 95-104, set. 2005.

STORCH, G.; AZEVEDO, R. de; SILVA, F. F. da; BRIZOLA, R. M. de O.; VAZ, D. da S.;
BEZERRA, A. J. A. Caracterização dos Consumidores de Produtos da Agricultura Orgânica
na Região de Pelotas – RS. R. bras. Agrociência, v. 9, n. 1, p. 71-74, jan-mar, 2003.

ZAMBERLAM, J.; FRONCHETI, A. AGRICULTURA ECOLÒGICA Preservação do


Pequeno Agricultor e do Meio Ambiente. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO RURAL on line – v.4, n. 2 – Set – 2010. ISSN 1981-1551


www. inagrodf.com.br/revista

Você também pode gostar