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Revisão criminal: Diligências

A revisão criminal é recurso privativo do réu contra sentença


condenatória já transitada em julgado, a qual é admissível em casos
taxativamente expressos em lei, e visando obter a anulação da sentença
recorrida, a diminuição especial da pena que lhe foi imposta, ou a sua
absolvição.
É o meio jurídico para reparação de erro judiciário cristalizado na
decisão que for contrária à evidência dos autos, calcada em provas falsas ou
em razão do surgimento de novas provas.
O STF, recentemente, julgando o HC 76.874-1/DF, relatado pelo Min.
Maurício Corrêa, deferiu habeas corpus “determinando que o Tribunal coator
prossiga no julgamento da revisão criminal para examinar o pedido de
reinquirição de testemunhas e o de requisição de cópia do relatório da
Comissão de Sindicância, como requerido na inicial”.
Esse entendimento já vinha sendo adotado pelo Tribunal de Justiça de
São Paulo quando decidiu: “Autorizado o processamento de revisão, cabem na
ação todas as providências de instrução que assegurem o conhecimento da
verdade real, a serem tomadas pelo relator, como preparador do processo, ou
pelo órgão judicante, que para tal poderá converter o julgamento em diligência”
(RT 448/408). No mesmo sentido: TJACRIMSP - RC 4.038 e RT 191/126.
Em trabalho elaborado pelo Des. Ítalo Galli, este concluiu “em pesquisa
histórico-legislativa que demonstra, à saciedade, ser da índole da revisão
criminal no Brasil o seu julgamento “como nas apelações”; e nestas,
razoavelmente, jamais se duvidou da faculdade dos julgadores de Segunda
instância de mandar proceder às diligências que se mostrarem necessárias à
justa decisão da causa”.
Tratando de uma ação da competência originária do Tribunal perante o
qual é aforada, a aplicação analógica dos dispositivos da lei processual (CPP,
art. 3º) logo sugere a utilização, no que for adequado, das providências de
instrução que assegurem o conhecimento da verdade real, a serem tomadas
pelo relator, como preparador do processo, ou pelo órgão judicante, que para tal
poderá converter o julgamento em diligência.
No magistério do Des. Ítalo GALLI, “está ínsita na própria natureza do
instituto revisional a faculdade de exigir o Tribunal, dada sua excepcional
competência instrutória, os documentos, informações e mais diligências
necessárias ao descobrimento da verdade, como nas apelações, uma vez que
se trata, excepcionalmente, de corrigir um erro judiciário, fulminando a própria
res judicata”.
Para o Des. Azevedo FRANCESCHINI, “a razão é patente: ou existe o
erro judiciário prejudicial ao réu e todos os esforços devem envidados para ser
posto à mostra, para se eliminado, ou a coisa julgada efetivamente
corresponde às exigências da verdade e da justiça real; e a evidenciação do
acerto do veredicto há de majorar a pública confiança no bom funcionamento
da Justiça do País”.
Nesse sentir, merece registro a manifestação do Min. Moreira ALVES,
no HC 68.088-7, quando afirma “o princípio da busca da verdade real que
existe no sistema de nosso Código de Processo Penal, como acentua sua
Exposição de Motivos, permite que, ainda quando em revisão, se promovam
diligências para a apuração da verdade ou não do que alega o requerente em
seu favor”.
Acrescente-se, ainda, que a Lei 8.038/90, disciplinadora dos processos
originários perante os Tribunais, estabelece no seu art. 9º, de forma imperativa:
“a instrução obedecerá, no que couber, ao procedimento comum do CPP e (art.
2º) que o relator terá as atribuições que a legislação processual confere aos
juízes singulares”.
Nesse figurino de juiz da instrução criminal, o CPP, no seu art. 156,
confere ao magistrado no curso dela ou antes de proferir sentença, determinar,
de ofício, diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante, assim como,
poderá (art. 209), quando julgar necessário, ouvir outras testemunhas, além
das indicadas pelas partes, pois, desta forma, deve prover à regularidade do
processo (art. 251) para promover as medidas que assegurem a justa
aplicação da lei penal no processo.
E mais, no seu art. 502, o CPP assenta que o juiz poderá ordenar
diligências para sanar qualquer nulidade ou suprir falta que prejudique o
esclarecimento da verdade.
Como se vê, o princípio superior da lei processual é a busca da
verdade real ancorada pela garantia constitucional da ampla defesa com os
recursos a ela inerentes.
Depreende-se, assim, que é direito subjetivo do autor da revisional a
realização de diligências, a reinquirição de testemunhas ou outras provas que
se apresentem relevantes para demonstrar à sua alegação, quando fulcradas
nas hipóteses dos incs. I (contrária à evidência dos autos) e II (provas falsas)
do art. 621, do CPP, mais notadamente na hipótese de “valoração da prova
quanto ao seu valor jurídico”, envolvendo assim, a teoria de erro na valoração
da prova, que ocorre quando mal apreciado seu valor jurídico como meio de
prova”. Portanto, a preterição desse direito incorre em cerceamento de defesa.
Com relação à descoberta de “novas provas”, o procedimento mais
adequado é a produção delas por meio de “justificação criminal” (CPC, arts.
861 e 866), típica medida cautelar preparatória para instrução do pedido
revisional, sem restrições quanto à efetivação de outras diligências
complementares.
O pedido revisional deverá ser instruído com a certidão de trânsito em
julgado, pressuposto processual básico de admissibilidade dessa ação.

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