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Introdução
A utilização das propriedades terapêuticas do calor tem sido empregada, provavelmente, pelo
homem desde os tempos mais remotos.
A sensação de conforto proporcionada pelo aquecimento do sol ou de outras fontes possivelmente
fez com que os homens descem um valor importante ao calor, sendo que Wang Xue Tai, grande
praticante e pesquisador contemporâneo relata que:
“Na sociedade primitiva, quando as pessoas estavam se aquecendo junto ao fogo, elas acidentalmente
perceberam que a aplicação de calor sobre a região do abdome poderia aliviar sintomas como dores
abdominais, distensão e plenitude abdominal”.
Definição
Significado
Através de uma análise rápida do ideograma, caractere, chinês que indica a prática da moxabustão
de maneira geral como pode ser encontrado em alguns textos, 灸 (jiǔ), é formado com base na soma de
dois outros ideogramas distintos:
• 久(jiǔ), que além de dar a fonética para o termo chinês de moxabustão, indica algo de longa
duração ou com uma duração específica;
• 火 (huǒ), que indica fogo, chamas, ardência.
Desta forma o ideograma chinês para moxabustão implica na idéia da queima de algum material,
geração de fogo, por um período aumentado de tempo.
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巴西中医学院 bāxī zhōngyī xuéyuàn
CIEFATO - Centro Internacional de Estudos de Fisioterapia, Acupuntura e Terapias Orientais
A moxa
Mogusa, que deu origem ao termo moxa, vem a ser a própria planta mais comumente empregada
para a realização da moxabustão, a Artemisia vulgaris ou também Artemisia argyii (nome alternativo ou
que pode ser empregado de maneira similar) que em chinês é 艾 (ài), ou ainda 艾叶 (ài yè), que seriam as
folhas da artemísia. Vale dizer que em japonês a erva empregada na moxa é conhecida por Yomogi, ou
mogusa (forma processada) como já descrito, como bem ressalta o professor Antônio Cunha, especialista
em acupuntura japonesa.
História
A moxabustão
Os mais antigos achados médicos escritos com menção explícita à prática da moxabustão foram
encontrados no túmulo da Dinastia Han de Ma Wuang Dui, que teria sido enterrado muitos anos antes da
existência do Imperador Amarelo. Neste túmulos foram encontrados dois importantes textos o Zu Bi Shi
Yi Mai Jiu Jing (足臂十一脉灸经 zúbì shíyīmài jiǔjīng), Clássico de Moxabustão dos Onze Canais da
Mão e do Pé, e o Yin Yang Shi Yi Mai Jiu Jing (阴阳十一脉灸经 yīnyáng shíyīmài jiǔjīng), Clássico de
Moxabustão dos Onze Canais Yin e Yang.
Origem
A moxa
A Artemisia é uma planta ramosa e aromática, originária da Europa temperada, Ásia, norte de
África, mas está também presente na América do Norte, onde é uma erva invasiva, cultivada em hortas e
jardins como ornamental e medicinal.
Sob a ótica ocidental a Artemísia vulgaris possui as seguintes propriedades medicinais: amarga,
anti-anêmica, analgésica, anti-diarréica, anti-epilética, anti-espasmódica, anti-hidrópica, anti-inflamatória,
anti-malárica, anti-microbiana, anti-nevrálgica, anti-reumática, anti-séptica, calmante, carminativa,
cicatrizante, depurativa, digestiva, emenagoga, estimulante, estomáquica, eupéptica, febrífuga, hepática,
inseticida, reguladora da menstruação, repelente, sedativa, tônica, vermífuga.
Sob a ótica da Medcina Chinesa, Li Shi Zhen em sua obra magistral Ben Cao Gan Mu (本草纲目
běncǎo gāngmù) afirma: “De maneira geral as folhas de artemísia devem ser muito velhas, as melhores e
mais macias são chamadas de maduras e devem ser empregadas para o tratamento. Se elas forem
frescas, a sua queima na moxabustão machucará os músculos e os Canais”.
Com relação à lã da moxa, Li Shi Zhen disse: “Selecionar folhas limpas removendo a poeira e a
sujeira, coloque as folhas em um pilão de pedra e soque bem com o pilão de madeira. Despreze as
impurezas e selecione o material mais claro, socando mais vezes até que esteja macio e fofo como um
chumaço de algodão. Quando for utilizar, primeiro seque novamente no fogo, então ela vai ganhar em
força para a devida queima”.
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Características
Á cinco condições básicas e importantíssimas para que a artemísia esteja no melhor de sua
qualidade, condições estas já previstas desde os tempos mais antigos em relação às folhas:
1. devem ser macias e melhor que sejam colhidas na primavera;
2. devem ser guardadas por um longo período de tempo;
3. devem se limpas, toda a sujeira e folhas de menor qualidade devem ser removidas;
4. devem ser socadas até que elas se tornem uma lã fina e macia;
A lã deve ser seca.
Funções
Aplicação
A moxabustão por sua natureza quente, tem grande capacidade de aquecer diretamente o corpo do
paciente e, conseqüentemente, os Canais e Colaterais (Jing Luo) além de fazer com que o Frio seja
disperso, em conjunto com possíveis estagnações normalmente geradas por ele.
Ao aquecer os Canais e Colaterais (Jing Luo) a prática da moxabustão faz com que o Qi e o
Sangue (Xue) tenham seus fluxos ativados e estimulados. Sendo, desta forma, uma técnica amplamente
indicada para o tratamento de Síndromes associadas com as mais diferentes formas de Estagnação e que,
de maneira geral, tendem a se apresentar como alterações dolorosas para o paciente.
A prática da moxabustão ativa e promove a circulação do Sangue (Xue), não somente quando está
estagnado, mas de maneira geral. Esta promoção da circulação do Sangue (xue), se dá de maneira
importante pela íntima relação entre o Qi e o Sangue (Xue). Ao passo que a moxabustão promove a
circulação do Qi, o Sangue (Xue) irá acompanhá-lo.
A natureza Yang, quente, da prática da moxabustão faz com que ela tenha grande capacidade de
recuperar este Yang que pode se encontrar debilitado por um desgaste natural pelas atividades diárias do
paciente, como por um excesso de Frio, Yin, que acaba por consumir o Yang, na relação direta entre estes
dois aspectos opostos.
Em casos de doenças crônicas onde o Qi e o Sangue (Xue) tendem a se apresentar mais deficientes
pelo consumo gerado pela própria doença, a moxabustão pode oferecer grande alívio para a condição do
paciente ao favorecer o fortalecimento deste através de um Qi que passa a ser estimulado e revigora-se e o
Sangue (Xue) que volta a ser nutrido e pode desempenhar todas as funções regulares.
Aliviar Estagnações
Ao fazer com o Qi e o Sangue (Xue) voltem a fluir livremente pelo corpo, a moxabustão tem a
capacidade de dispersar agentes patogênicos (Xie Qi) que estejam agredindo o corpo
Há milhares de anos os chineses perceberam que a prática rotineira da moxabustão é uma grande
aliada para a manutenção e promoção da boa saúde, sendo indicada também para a prevenção de doenças,
visto que o corpo pode manter um nível de imunidade aumentado. E diversas são as passagens de textos
clássicos que citam exemplos onde a moxabustão é indicada para a prevenção de determinada doença ou
mesmo para o prolongamento da vida.
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Efeitos
Aplicação
Efeitos imediatos:
• Primeiros socorros: fortalecer o coração, aumentar a pressão arterial, aumentar o Qi e o Yang,
tratar colapso, aliviar a dor, desintoxicar, interromper sangramentos;
• Aquecer o Yang e aliviar a dor: dores abdominais, dores pelo corpo, Síndrome Bi;
• Parar o vômito;
• Empurrar o Qi e remover a distensão: distensão abdominal, eructação;
A prática rotineira, repetida e continuada da moxabustão direta, por 02 meses ou mais tem a
capacidade de elevar a contagem dos componentes sangüíneos, com destaque para os glóbulos vermelhos.
Associado com o calor gerado pela moxabustão, há uma dilatação dos vasos periféricos o que
facilita e promove a circulação.
A prática da moxabustão direta atua sobre o corpo de forma importante, tendo grande resposta em
pacientes com patologias de deficiência, normalmente associadas com doenças crônicas.
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Pelo fato de não haver inserção, penetração no corpo, é informado que a moxabustão é mais
segura. No entanto, deve-se recordar que a má prática pode levar a sérias queimaduras e deixar cicatrizes
indesejadas nos pacientes. Fique claro que há casos onde a cicatriz é objetivada pelo praticante e faz parte
da boa prática.
Estímulo
Tonificação e Dispersão
No capítulo 51 do Ling Shu, podemos encontrar as primeiras descrições sobre como agir com
moxabustão nos casos de Excesso e de Deficiência:
“Para tonificar de acordo com o fogo, não assoprar o fogo e necessariamente deixar se extinguir
sozinho; para dispersar de acordo com o fogo, assoprar vigorosamente o fogo para transmitir a
Artemísia, necessariamente extinguir o fogo.”
No Capítulo 5 do Su Wen, podemos encontrar esta passagem:
壮火之气衰, 少火之气壮,
壮火食气, 气食少火,
壮火散气, 少火生气
zhuàng huǒ zhī qì shuāi, shǎo huǒ zhī qì zhuàng,
zhuàng huǒ shí qì, qì shí shǎo huǒ,
zhuàng huǒ sàn qì, shǎo huǒ shēng qì
Fogo forte enfraquece o Qi, fogo pequeno fortalece o Qi.
O fogo forte se alimenta do Qi, o Qi se alimenta do fogo pequeno.
O fogo forte dispersa o Qi, o fogo pequeno gera o Qi.
Aplicação da Moxabustão
Técnicas
A prática clínica da moxabustão, assim como as suas técnicas, são divididas em dois grandes
grupos:
• Técnicas de moxabustão com Artemísia
• Técnicas de moxabustão sem Artemísia
Cabe ao praticante, em alguns casos em conjunto com o paciente, determinar a melhor técnica a
ser aplicada para as necessidades específicas deste.
A prática da moxabustão com a utilização de cones feitos manualmente com a artemísia preparada
é a técnica mais antiga, empregada desde os tempos mais antigos e com maior quantidade de informações
relatadas nos textos clássicos da Medicina Chinesa.
O Cone de moxa (艾炷 àizhù) deve ser feito mediante a pressão e amassamento da lã de moxa,
devidamente trabalhada anteriormente, entre o polegar e os dedos médio e indicador de modo a formar
uma estrutura similar a um cone, que pode ser moldado em tamanhos diferentes de acordo com o paciente
e o objetivo do estímulo.
Com relação ao tamanho dos cones de moxa, é uma tradição que os praticantes da linhagem
chinesa empregam cones, em média relativamente, maiores que a média do tamanho empregado pelos
praticantes da linha japonesa.
Vale dizer que na prática tradicional da moxabustão com cones, raramente emprega-se apenas um
cone para o tratamento, sendo recomendada a utilização de poucos 03-05 cones até muitos, como mais de
100-300 cones em casos específicos.
Com relação à aplicação específica dos cones de moxa com finalidade terapêutica há duas
principais técnicas a serem analisadas:
• Moxabustão direta (直接灸 zhíjiējiǔ)
• Moxabustão indireta (间接灸 jiànjiējiǔ)
Cada uma destas técnicas principais pode ser subdivida em outras tantas, mas de maneira geral
temos que a primeira implica na utilização de cones de moxa diretamente sobre a pele do paciente e a
segunda implica na utilização de cones de moxa apoiados sobre alguma substância que forma o que é
chamado de interposição, entre a moxa e o ponto a ser estimulado.
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隔附子灸 géfùzǐjiǔ Moxabustão com interposição de acônito preparado (Radix Aconiti Lateralis
Praeparata)
O praticante deve cortar uma fatia fina, cerca 03mm de acônito preparado, realizar diversos furos
para a melhor penetração do calor e liberação de um pouco de sumo, para então posicionar o conde de
moxa, de tamanho pequeno e médio, sobre a fatia e acendê-lo.
Esta interposição é indicada para casos de Deficiência de Rim (Shen), impotÊncia sexual, todos os
casos de Deficiência de Yang, transpiração espontânea, insuficiência cardíaca, frio pelo corpo,
Deficiência de Baço (Pi) e Estômago (Wei), diarréia, Síndromes Bi por Frio.
O praticante deve cortar uma fatia fina, cerca 03mm de acônito preparado, realizar diversos furos
para a melhor penetração do calor e liberação de um pouco de sumo, para então posicionar o conde de
moxa, de tamanho pequeno e médio, sobre a fatia e acendê-lo.
Esta interposição é indicada para casos de Deficiência de Rim (Shen), impotÊncia sexual, todos os
casos de Deficiência de Yang, transpiração espontânea, insuficiência cardíaca, frio pelo corpo,
Deficiência de Baço (Pi) e Estômago (Wei), diarréia, Síndromes Bi por Frio.
Moxa botão
Esta prática implica na utilização de moxa moldada por máquinas específicas em forma de
cilindros posicionados sobre uma base que faz com que não haja contato direto entre a lã de moxa e a pele
do paciente.
Os principais, mais difundidos, cilindros de moxa, ou moxa botão, são de origem japonesa e
coreana, mas também há os chineses. Os botões de moxa são feitos exclusivamente com lã de moxa
prensada ou ainda mediante a combinação desta lã de moxa com outras substâncias, com finalidades
terapêuticas diversas.
A praticidade e simplicidade da aplicação dos botões de moxa permite que o praticante, após
realizar o devido tratamento na clínica, ensine o paciente a aplicar em si mesmo os botões de moxa ou
ensinar a um parente ou pessoa próxima para estimular o paciente.
Para tanto é necessário que se ensine a técnica de estímulo e marque precisamente os pontos a
receberem os estímulos. Este tipo de aplicação combinada, clínica e doméstica, é muito interessante para
o tratamento de casos crônicos ou alterações de difícil resolução.
Na prática desta modalidade de moxabustão em suspensão, o bastão não entra em contato com o
paciente e nem se realiza movimentos com este, ficando apenas parado sobre a região a ser estimulada.
A literatura especializada recomenda que o bastão de moxa seja mantido diretamente sobre a
região selecionada a uma distância entre 0,5 e 1cun (segundo Liu Gong Wang e segundo Roger N. Turner
e Royston Low) ou 01 e 02cun (segundo Auteroche), no entanto, na prática clínica, é a condição e
sensibilidade do paciente que delimitam a distância que o bastão deve ficar.
Os movimentos circulares fazem com que a sensação de calor não seja tão forte, podendo ser
mantida por um período mais prolongado e de forma agradável al paciente. Este movimentos também
permitem que uma área maior seja estimulada, aplicando calor não somente em um ponto mas em uma
área, sendo um recurso interessante para relaxamento, por exemplo.
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O dicionário de acupuntura e moxabustão de Shuai Xue Zhong traduz esta técnica como
moxabustão por interposição de tecidos, definindo-a como: “Um tipo de moxabustão com bastão de moxa
contrária à moxabustão em suspensão. Após o bastão de moxa ser aceso, pressioná-lo no ponto que é
interposto por diversas camadas de tecido ou papel, para fazer com que o calor penetre através da pele e
músculo; e então acenda novamente o bastão e o pressione após o fogo ter desaparecido e o calor ter
sido reduzido. Cada ponto pode ser pressionada diversas ou mais de dez vezes”.
Vale dizer que este tipo de técnicas requer confiança mútua entre o praticante e o paciente, visto
que a idéia de ter um material incandescente sendo pressionado contra seu corpo, mesmo que haja a
interposição, possa extremamente desagradável para o paciente, que pode ter um medo muito forte, o que
pode prejudicar o tratamento, visto que este pode se movimentar, retirar a parte a ser tratada, e assim por
diante.
Conclusão
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