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Divórcio e Novo Casamento: A luz da Bíblia

1) Lucas 16.18 nos diz que todo novo casamento após o divórcio é adultério

Lucas 16.18: Qualquer que deixa sua mulher, e casa com outra, adultera; e aquele que casa com a
repudiada pelo marido, adultera também.

1.1) Este verso mostra que Jesus não reconhece o divórcio como o término de um casamento aos
olhos de Deus. A razão para o segundo casamento ser chamado de adultério é porque o primeiro é
considerado ainda válido. Assim, Jesus está tomando uma posição contra a cultura judaica, em que
considerava-se que todo divórcio levava ao direito de um novo casamento.

1.2) A segunda metade do versículo mostra que não apenas o homem divorciado é culpado de
adultério quando ele casa-se novamente, mas também qualquer homem que casa-se com uma
mulher divorciada.

1.3) Uma vez que não há exceções mencionadas no verso, e uma vez que Jesus está claramente
rejeitando o conceito cultural comum de que o divórcio inclui o direito ao novo casamento, os
primeiros leitores deste evangelho teriam uma grande dificuldade em argumentar qualquer exceção
baseada na idéia de que Jesus compartilhava a premissa de que o divórcio por infidelidade ou
deserção liberava um cônjuge para um novo casamento.

2) Marcos 10.11-12 chama todo novo casamento após o divórcio de adultério, seja o marido ou a
esposa quem se divorcia

Marcos 10.11-12: E ele lhes disse: Qualquer que deixar a sua mulher e casar com outra, adultera
contra ela. E, se a mulher deixar a seu marido, e casar com outro, adultera.

2.1) Esse texto repete a primeira metade de Lucas 16.18, mas vai além e diz que está cometendo
adultério não apenas o homem que divorcia, mas também a mulher que divorica, e então casa-se
novamente.

2.2) Como em Lucas 16.18, não há exceção mencionada a esta regra.


3) Marcos 10.2-9 e Mateus 19.3-8 ensinam que Jesus rejeitou a justificativa dos fariseus para divórcio
em Deuteronômio 24.1 e reafirma o propósito de Deus na Criação, de que nenhum ser humano
separe o que Deus uniu.

Marcos 10.2-9: E, aproximando-se dele os fariseus, perguntaram-lhe, tentando-o: É lícito ao homem


repudiar sua mulher? 3 Mas ele, respondendo, disse-lhes: Que vos mandou Moisés? 4 E eles
disseram: Moisés permitiu escrever carta de divórcio e repudiar. 5 E Jesus, respondendo, disse-lhes:
Pela dureza dos vossos corações vos deixou ele escrito esse mandamento; 6 Porém, desde o princípio
da criação, Deus os fez macho e fêmea. 7 Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á
a sua mulher, 8 E serão os dois uma só carne; e assim já não serão dois, mas uma só carne. 9
Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.

Mateus 19.3-9: Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: É lícito ao homem
repudiar sua mulher por qualquer motivo? 4 Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido
que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, 5 E disse: Portanto, deixará o homem pai e
mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? 6 Assim não são mais dois, mas uma só
carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. 7 Disseram-lhe eles: Então, por que
mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la? 8 Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza
dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim. 9 Eu vos
digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar
com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.

3.1) Tanto em Mateus quanto em Marcos, os fariseus vêm a Jesus e o provam ao perguntá-lo se é
lícito a um homem divorciar-se de sua esposa. Eles evidentemente tinham em mente a passagem em
Deuteronômio 24.1, que simplesmente descreve o divórcio, ao invés de dar qualquer legislação a
favor disto. Eles se perguntam como Jesus se posicionará a respeito desta passagem.

3.2) A resposta de Jesus é “Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar
vossas mulheres” (Mt 19.8)

3.3) Mas então Jesus critica a falha dos fariseus em reconhecer nos livros de Moisés a intenção
original e mais profunda de Deus para o casamento. Então ele cita duas passagens de Gênesis.
“Homem e mulher [Deus] os criou... Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á
à sua mulher, e serão ambos uma carne.” (Gn 1.27; 2.24)
3.4) Destas passagens de Gênesis, Jesus conclui: “Assim não são mais dois, mas uma só carne”. E
então, ele faz sua afirmação decisiva: “O que Deus ajuntou não o separe o homem”

3.5) A implicação é que Jesus rejeita o uso de Deuteronõmio 24.1 dos fariseus e apresenta o padrão
de casamento para seus discípulos na intenção original de Deus na Criação. Ele diz que nenhum de
nós deveria tentar desfazer a relação “uma só carne” que Deus uniu.

3.6) Antes de pularmos para a conclusão de que esta afirmação absoluta deveria ser qualificada em
vista da cláusula de exceção (“não sendo por causa de prostituição”) mencionada em Mateus 19.9,
devemos seriamente aceitar a possibilidade de que a cláusula de exceção em Mateus 19.9 deveria
ser entendida à luz da afirmação absoluta de Mateus 19.6, (“não o separe o homem”),
especialmente porque os versículos que seguem esta conversação com os fariseus em Marcos não
contêm qualquer exceção quando condenam um novo casamento. Mais sobre isso abaixo.

4) Mateus 5.32 não ensina que o novo casamento é lícito em alguns casos. Pelo contrário, reafirma
que casamento pós-divórcio é adultério, mesmo para aqueles que divorciaram-se inocentemente, e
que um homem que divorcia-se de sua esposa é culpado de adultério do segundo casamento dela, a
não ser que ela já tenha se tornado adúltera antes do divórcio.

Mateus 5.32: Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de
prostituição, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério.

4.1) Jesus assume que em muitas situações naquela cultura, a esposa que foi repudiada por um
marido será encaminhada para um segundo casamento. No entanto, a despeito desta pressão, Jesus
chama este segundo casamento de adultério.

4.2) O que chama atenção na primeira metade deste versículo é que o novo casamento de uma
esposa que foi inocentemente repudiada é ainda assim um adultério: “qualquer que repudiar sua
mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela (a esposa inocente que não foi infiel) cometa
adultério”. Esta é uma afirmação clara, como me parece, de que o novo casamento é errado não
simplesmente quando uma pessoa é culpada no processo de divórcio, mas também quando uma
pessoa é inocente. Em outras palavras, a oposição de Jesus ao novo casamento parece ser baseada
na indestrutibilidade da união do casamento, a não ser pela morte.
4.3) Eu deixarei minha explanção da cláusula de exceção (“a não ser por causa de prostituição”) para
mais adiante na declaração, mas por enquanto, é suficiente dizer, sobre a interpretação tradicional
da cláusula, que simplesmente significa que um homem faz de sua esposa uma adúltera exceto no
caso em que ela fez a si própria uma.

4.4) Eu assumo que, uma vez que uma esposa inocente que é divorciada comete adultério quando
ela casa-se novamente, segue-se que uma esposa culpada que casa-se novamente após o divórcio
torna-se muito mais culpada. Se alguém argumentar que esta esposa culpada é livre para casar-se
novamente, enquanto a inocente que foi repudiada não é, já que o adultério da culpada quebrou o
relacionamento de “uma só carne”, então esta pessoa deve colocar-se na inconveniente posição de
dizer à divorciada inocente que “se agora você cometer adultério, será lícito você casar-se
novamente”. Isto parece ser errado por pelo menos duas razões.

4.4.1) Isto parece elevar o ato físico de relação sexual ao elemento decisivo em união e separação
conjugal.

4.4.2) Se a união sexual com outro quebra os laços de casamento e legitima o novo casamento, então
dizer que uma divorciada inocente não pode casar-se novamente (como Jesus realmente diz) assume
que o marido divorciado dela não está se divorciando para ter relações sexuais com outra. Isto
signifca assumir uma postura muito improvável. Mais provável é que Jesus assuma que alguns desses
maridos divorciados terão relações sexuais com outra mulher, mas ainda assim as esposas de quem
eles se divorciaram não podem casar-se novamente. Portanto, adultério não anula o relacionamento
de “uma só carne” do casamento, e tanto o cônjuge culpado quanto o inocente são proibidos de
casar-se novamente em Mateus 5.32.

5) 1 Coríntios 7.10-11 ensina que o divórcio é errado, porém se é inevitável, a pessoa que se divorcia
não deve casar-se novamente.

1 Coríntios 7.10-11: Todavia, aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte
do marido. 11 Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o
marido não deixe a mulher.

5.1) Quando Paulo diz que esta ordem não é sua, mas do Senhor, eu acredito que ele quer dizer que
está ciente de um específico dito do Jesus histórico que trata desta questão. Como prova, estes
versos parecem-se muito com Marcos 10.11-12, porque é destinado tanto ao marido quanto à
esposa. Além disso, o novo casamento parece ser excluído do verso 11, da mesma forma que é
excluído em Marcos 10.11-12

5.2) Paulo parece saber que a separação será inevitável em alguns casos. Talvez ele tenha em mente
uma situação de um adultério sem arrependimento, ou deserção, ou brutalidade. Mas em um caso
assim, ele diz que a pessoa que se sente constrangida à separar-se não deveria procurar um novo
casamento e deveria permanecer solteira. E ele reforça a autoridade desta instrução ao dizer que ele
tem uma palavra do Senhor. Portanto, a interpretação dos dizeres de Jesus é que um novo
casamento não deve ser procurado.

5.3) Como em Lucas 16.18, Marcos 10.11-12 e Mateus 5.32, o texto não explicita consideração sobre
a possibilidade de qualquer exceção à proibição do novo casamento.

6) 1 Coríntios 7.39 e Romanos 7.1-3 ensinam que o novo casamento é lícito somente depois da morte
do cônjuge.

1 Coríntios 7.39: A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se
falecer o seu marido fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor.

Romanos 7.1-3: Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio
sobre o homem por todo o tempo que vive? 2 Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto
ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido. 3 De sorte que,
vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro marido; mas, morto o marido, livre está da
lei, e assim não será adúltera, se for de outro marido.

6.1) Em ambas as passagems (1 Coríntios 7.39; Romanos 7.2) é dito explicitamente que uma mulher
está ligada ao marido enquanto ele viver. Nenhuma exceção é explicitamente mencionada que
sugeriria que ela pudesse ser livre de seu marido e casar-se com outro usando outra base.

7) Mateus 19.10-12 ensina que uma graça cristã especial é dada por Deus a discípulos que
sustentam-se na vida de solteiro, quando renunciam casar-se novamente de acordo com a lei de
Cristo.
Mateus 19.10-12: Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à
mulher, não convém casar. 11 Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só
aqueles a quem foi concedido. 12 Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há
eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa
do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o.

7.1) Logo antes desta passagem, em Mateus 19.9, Jesus proibiu todos casamento após o divórcio (eu
lidarei com o significado de “não sendo por causa de prostituição” abaixo). Isto pareceu como uma
proibição intolerável aos discípulos de Jesus: se você fechar qualquer possibilidade de novo
casamento, então você faz o casamento tão arriscado que seria melhor não casar-se, uma vez que ou
você está “preso” a viver como um solteiro o resto de sua vida ou você estará “preso” em um
casamento ruim.

7.2) Jesus não nega a tremenda dificuldade deste mandamento. Pelo contrário, ele diz no verso 11
que a capacidade de cumprir o mandamente de não casar-se novamente é um dom divino aos seus
discípulos. Verso 12 é um argumento de que uma vida assim é de fato possível, porque existem
pessoas que por amor ao Reino, e também por razões menores, dedicaram-se a si mesmas para viver
uma vida de solteiro.

7.3) Jesus não está dizendo que alguns de seus discípulos têm a habilidade de obedecer este
casamento de não casar-se novamente e outros não. Ele está dizendo que a marca de um discípulo é
que eles receberão um dom de contigência, enquanto não-discípulos não. A evidência para isto é que
1) o paralelo entre Mateus 19.11 e 13.11; 2) O paralelo entre Mateus 19.12 e 13.9,43 e 11.15; e 3) o
paralelo entre Mateus 19.11 e 19.26.

8) Deuteronômio 24.1-4 não legisla base para o divórcio, mas ensina que o relacionamento “uma só
carne” estabelecido pelo casamento não é destruído pelo divórcio e mesmo pelo novo casamento.

Deuteronômio 24.1-4: Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se
não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de repúdio, e
lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa. 2 Se ela, pois, saindo da sua casa, for e se casar com
outro homem, 3 E este também a desprezar, e lhe fizer carta de repúdio, e lha der na sua mão, e a
despedir da sua casa, ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer, 4
Então seu primeiro marido, que a despediu, não poderá tornar a tomá-la, para que seja sua mulher,
depois que foi contaminada; pois é abominação perante o Senhor; assim não farás pecar a terra que
o Senhor teu Deus te dá por herança.

8.1) O que chama atenção nestes quatro versos é que, enquanto o divórcio é garantido, ainda assim
a mulher divorciada torna-se “contaminada” por seu novo casamento (verso 4). Pode muito bem ser
que, quando os fariseus perguntaram a Jesus se o divórcio era legítimo, ele baseou sua resposta
negativa não somente na intenção de Deus expressa em Gênesis 1.27 e 2.24, mas também em
Deuteronômio 24.4, em que o novo casamento pós-divórcio contamina a pessoa. Em outras palavras,
existiam várias pistas na lei mosaica de que a concessão do divórcio era baseada na dureza do
coração humano, e realmente não tornavam o divórcio e o novo casamento legítimos.

8.2) A proibição da esposa retornar ao seu primeiro marido mesmo depois que o segundo marido
morrer (porque é uma abominação) sugere muito fortemente que nem o segundo casamento
deveria ser rompido a fim de restaurar o primeiro (para a explanção de Heth e Wenham disto, veja
Jesus and Divorce, p. 110).

9) 1 Coríntios 7.15 não quer dizer que, quando um cristão é abandonado por um cônjuge incrédulo,
ele está livre para casar-se novamente. Significa que o cristão não está obrigado a lutar a fim de
preservar a união. Separação é permissível se o parceiro incrédulo insiste nisso.

1 Coríntios 7.15: Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não
esta sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz.

9.1) Existem muitas razões para que a frase “não está sujeito à servidão” não deveria ser construída
para significar “é livre para casar-se novamente”

9.1.1) Casamento é uma ordenança da Criação ligando todas as criaturas humanas de Deus, a
despeito de sua fé ou falta de fé

9.1.2) A palavra usada para “servidão” (douloo) no verso 15 não é a mesma palavra usada no verso
39, em que Paulo diz: “A mulher casada está ligada (deo) pela lei todo o tempo que o seu marido
vive”. Paulo consistentemente usa deo quando fala do aspecto legal de ser ligado a um cônjuge
(Romanos 7.2; 1 Coríntios 7.39), ou comprometido com alguém (1 Coríntios 7.27). Mas quando ele
refere-se a uma esposa abandonada não estar ligada em 1 Coríntios 7.15, ele escolhe uma palavra
diferente (douloo), que esperaríamos que ele fizesse já que ele não está dando a um cônjuge
abandonado a mesma liberdade para casar-se novamente como ele dá ao cônjuge cujo parceiro
morreu (verso 39).

9.1.3) A última frase do verso 15 (“Deus chamou-nos para a paz”) suporta o verso 15 melhor se Paulo
está dizendo que um parceiro abandonado não é “obrigado a fazer guerra” contra o incrédulo
desertor para que ele ou ela permaneça. Me parece que a paz que Deus tem nos chamado é a paz da
harmonia matrimonial. Portanto, se o parceiro incrédulo insiste em afastar-se, então o parceiro
crente não está obrigado a viver em conflito perpétuo com o cônjuge incrédulo, mas é livre e
inocente para deixá-lo(a) partir.

9.1.4) Esta interpretação também preserva uma harmonia fiel com a intenção dos versos 10-11, em
que a separação inevitável não resulta no direito de um novo casamento.

10) 1 Coríntios 7.27-28 não esina o direito das pessoas divorciadas a casarem-se novamente. Ensina
que virgens noivos devem seriamente considerar a vida de solteiro, mas que eles não pecam se se
casarem.

1 Coríntios 7.27-28: Estás ligado à mulher? não busques separar-te. Estás livre de mulher? não
busques mulher. 28 Mas, se te casares, não pecas; e, se a virgem se casar, não peca. Todavia os tais
terão tribulações na carne, e eu quereria poupar-vos.

10.1) Recentemente algumas pessoas têm argumentado que esta passagem lida com pessoas
divorciadas, porque no verso 27 Paulo pergunta: “Estás livre de mulher?”. Alguns assumem que ele
quer dizer “Estás divorciado?”. Portanto o que ele estaria dizendo no verso 28 é que não é pecado
quando pessoas divorciadas casam-se novamente. Existem muitas razões para esta interpretação ser
a mais improvável.

10.1.1) O verso 25 sinaliza que Paulo está começando uma nova seção e lidando com uma nova
questão. Ele diz “Ora, quanto às virgens (ton parthenon) não tenho mandamento do Senhor; dou,
porém, o meu parecer, como quem tem alcançado misericórdia do Senhor para ser fiel”. Ele já lidou
com o problema das pessoas divorciadas nos versos 10-16. Agora ele toma uma nova questão, sobre
aqueles que ainda não são casados, e ele sinaliza isso ao dizer “Ora, quanto às virgens”. Portanto, é
muito improvável que as pessoas referidas nos versos 27 e 28 sejam as divorciadas.

10.1.2) Uma afirmação simples de que não é pecado para as pessoas divorciadas casarem-se
novamente (verso 28) contradiz o verso 11, em que é dito que uma mulher que se separou de seu
marido deveria permanecer solteira.

10.1.3) Verso 36 certamente está descrevendo a mesma situação em vista nos versos 27 e 28, mas
claramente refere-se a um casal que ainda não é casado. “Mas, se alguém julga que trata
indignamente a sua virgem, se tiver passado a flor da idade, e se for necessário, que faça o tal o que
quiser; não peca; casem-se”. Isto é o mesmo do verso 28, em que Paulo diz “Mas, se te casares, não
pecas”.

10.1.4) A referência no verso 27 a ser ligado à “mulher” pode ser mal-entendida porque pode sugerir
que o homem já é casado. Mas no grego, a palavra para esposa é simplesmente “mulher” e pode
referir-se tanto à noiva de um homem quanto à sua esposa. O contexto dita que a referência é à
noiva virgem de um homem, não à sua esposa. Assim, “Estás ligado à mulher” e “Estás livre de
mulher?” tem de fazer referência a uma pessoa que é noiva ou não.

10.1.5) É significante que o verbo que Paulo usa para “estás livre” (luo) não é uma palavra que ele
usa para divórcio. As palavras de Paulo para divórcio são chorizo (versos 10,11,15; cf. Mateus 19.6) e
aphelia (versos 11,12,13).

11) A cláusula de exceção de Mateus 19.9 não precisa implicar que o divórcio em caso de adultério
libera uma pessoa a casar-se novamente. Todo o peso das evidências dadas pelo Novo Testamento
nos dez pontos anteriores é contra esta visão, e existem várias formas de fazer um bom julgamento
deste verso, de forma que ele não entre em conflito com o ensinamento geral do Novo Testamento
de que um novo casamento após o divórcio está proibido.

Mateus 19.9: Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de
prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete
adultério.
11.1) Há muitos anos atrás eu ensinei nossa congregação em dois cultos noturnos a respeito do meu
entendimento deste verso e argumentei que “não sendo por causa de prostituição” não se refere ao
adultério, mas à fornicação sexual antes do casamento que um homem ou uma mulher descobre no
noivo. Desde que descobri outras pessoas que sustentam essa visão e que deram uma exposição
muito mais acadêmica que eu fiz, tenho também descoberto numerosas outras formas de entender
que este verso também exclui a legitimidade do novo casamento. Muitas delas estão sumarizadas
em Jesus and Divorce, William Heth e Gordon J. Wenham (Nelson:1984).

11.2) Aqui eu simplesmente darei um resumo breve de meu próprio ponto de vista de Mateus 19.9 e
como cheguei a ele.

Eu comecei, primeiramente, ao ser incomodado pela forma absoluta da denúncia de Jesus contra o
divórcio e o novo casamento em Marcos 10.11,12 e Lucas 16.18 não está preservado em Mateus, se
na verdade esta cláusula de exceção é uma brecha para o divórcio e novo casamento. Eu estava
incomodado pela simples idéia que tantos escritores fazem, de que Mateus simplesmente está
tornando explícito algo que era implicitamente entedido pelos ouvintes de Jesus ou os leitores de
Marcos 10 e Lucas 16.

Eles realmente teriam assumido que as afirmações absolutas incluiam exceções? Eu duvido muito, e
portanto minha inclinação é questionar se de fato ou não a exceção de Mateus conforma-se com o
absoluto de Marcos e Lucas.

A segunda coisa que começou a me incomodar foi a questão – Por que Mateus usa a palavra porneia
(“não sendo por causa de prostituição”) ao invés da palavra moicheia , que significa adultério? Quase
todos os comentaristas parecem simplesmente presumir que porneia significa adultério neste
contexto. A questão que persistia era por que Mateus não usaria a palavra para adultério, se isto
fosse o que ele realmente queria dizer.

Então notei algo muito interessante. O único outro lugar, além de 5.32 e 19.9, em que Mateus usa a
palavra porneia é em 15.19, onde é usada ao lado de moicheia . Portanto, é a evidência contextual
primária para o uso de Mateus é que ele concebe porneia como algo diferente de adultério. Poderia
isto significar, então, que Mateus concebe porneia em seu sentido normal de fornicação ou incesto (1
Coríntios 5.10), ao invés de adultério?
A. Isaksson concorda com esta visão de porneia e apresenta sua pesquisa, parecida com esta, nas
páginas 134 e 135 de Marriage and Ministry :

Portanto, não podemos fugir do fato de que a distinção entre o que era considerado como porneia e
o que era considerado como moicheia foi minuciosamente mantido na literatura judaica pré-cristã e
no NT. Porneia pode, é claro, denotar diferentes formas de relações sexuais proibidas, mas não
podemos encontrar exemplos inequívocos do uso desta palavra para denotar o adultério conjugal.
Sob estas circunstâncias dificilmente poderíamos assumir que esta palavra significa adultério na
cláusula em Mateus. A logia do divórcio foi escrita como um parágrafo da Lei, intentando ser
obedecida pelos membros da Igreja. Debaixo destas circunstâncias é inconcebível que, em um texto
desta natureza, o autor não tivesse mantido uma clara distinção entre o que era a falta de castidade
e o que era adultério: moicheia e não porneia seria usada para descrever o adultério da esposa. Do
ponto de vista filológico existem argumentos fortíssimos contra esta interpretação da cláusula
permitindo divórcio no caso da esposa ser culpada de adultério.

A próxima pista de minha busca por uma explicação veio quando estudei sobre o uso de porneia em
João 8.41, em que os líderes judeus indiretamente acusam Jesus de ser nascido de porneia . Em
outras palavras, uma vez que eles não aceitava o nascimento virginal, assumem que Maria havia
cometido fornicação, e Jesus era resultado deste ato. Com base nesta pista, eu voltei para estudar o
registro de Mateus do nascimento de Jesus em Mateus 1.18-20. Isto foi extremamente elucidador.

Nesses versos, José e Maria são referidos como marido ( aner ) e esposa ( gunaika ). Ainda assim,
eles são descritos como noivos somente. Isto provavelmente vem do fato de que as palavras para
marido e esposa eram simplesmentem homem e mulher, e do fato de que o noivado era um
comprometimento muito mais significante do que é hoje. No verso 19, José resolve “divorciar-se” de
Maria. A palavra para “deixá-la” é a mesma palavra de Mateus 5.32 e 19.9. Mas, mais importante
que tudo, Mateus diz que José foi “justo” ao tomar a decisão de divorciar-se de Maria,
presumivelmente por causa de porneia , fornicação.

Portanto, enquanto Mateus procede em construir a narrativa de seu Evangelho, ele encontra-se no
capítulo 5 e depois no capítulo 19 precisando proibir todo casamento pós-divórcio (como ensinado
por Jesus) e ainda permitir “divórcios” como aquele que José considerou como possibilidade, por
pensar que sua noiva era culpada de fornicação ( porneia ). Assim, Mateus inclui a cláusula de
exceção em particular para exonerar José, mas também no geral para apresentar que o tipo de
“divórcio” que alguém talvez procure durante um noivado por causa de fornicação não está incluído
na proibição absoluta de Jesus.

Uma objeção comum a esta interpretação é que em Mateus 19.3-8 e Mateus 5.31-32, a questão que
Jesus responde é sobre casamento e não sobre noivado. O argumento é que “não sendo por causa
de prostituição” é irrelevante no contexto do casamento.

Minha resposta é que esta irrelevância é simplesmente o ponto aonde Mateus quer chegar. Podemos
ter por certo que o rompimento de um casal de noivos por causa de fornicação não é um “divórcio”
ruim e não proibe um outro casamento. Mas não podemos assumir que os leitores de Mateus
tinham isso por certo

Mesmo em Mateus 5.32, que parece sem importância para nós excluir o caso da fornicação (uma vez
que não podemos ver como uma virgem noiva poderia ser feita adúltera), isto poderia não ser inútil
para os leitores de Mateus. Na verdade, não deveria ser sem importância para nenhum leitor: se
Jesus tivesse dito “todo homem que se divorciar de sua mulher faz dela uma adúltera”, um leitor
legitimamente poderia perguntar “Então José estava pra fazer de Maria uma adúltera?”. Podemos
dizer que esta questão não é razoável, uma vez que acreditamos que você não pode fazer mulheres
solteiras serem adúlteras. Mas, certamente isto não é sem propósito ou, talvez para alguns leitores,
inútil, pois Mateus fez explícita a óbvia exclusão do caso de fornicação durante o noivado.

Esta interpretação da cláusula de exceção tem sérias vantagens:

Não força Mateus a contradizer o significado claro e absoluto de Marcos e Lucas, e o inteiro
ensinamento do Novo Testamento apresentado nas seções 1-10, incluindo o próprio ensinamento
absoluto de Mateus em 19.3-8
Provê uma explicação de por que a palavra porneia é usada na cláusula de exceção de Mateus ao
invés de moicheia .
Concorda com o uso do próprio Mateus de porneia para fornicação em Mateus 15.19
Encaixa-se com a necessidade do contexto maior de Mateus a respeito de José considerar o divórcio

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