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Curso Pretos Velhos | Por Alan Barbieri

Tráfico de Escravos para o Brasil

O tráfico negreiro no Brasil perdurou do século XVI ao XIX. Nosso país recebeu a maior
parte de africanos escravizados no período (quase 40% do total) e foi a nação da América
a mais tardar a abolição do cativeiro (1888). Era uma atividade lucrativa e praticada pelos
portugueses antes do descobrimento do Brasil.
As embarcações utilizadas para o transporte desses escravos da África para o Brasil eram
as mesmas anteriormente usadas para o transporte de mercadorias da Índia. Assim,
podemos levantar dúvidas sobre o estado de conservação e a segurança dos navios
negreiros.

No início desse “comércio” eram utilizadas para o tráfico negreiro desde as charruas até as
caravelas, com arqueações que variavam entre 100 e 1000 toneladas. Mas com o passar
do tempo os navios negreiros começaram a ser escolhidos com mais especificidade, indo
de naus com apenas uma cobertura (os escravos eram transportados sem distinção nos
porões) a naus com três coberturas (separando-se homens, mulheres, crianças e mulheres
grávidas). Àquela época, esses navios eram apelidados de “tumbeiros”, pois devido às
condições precárias muitos escravos morriam. Os negros que não sobreviviam à viagem
tinham seus corpos jogados ao mar.

Os negros que aqui chegavam pertenciam, grosso modo, a dois grupos étnicos: os bantos,
vindos do Congo, da Angola e de Moçambique (distribuídos em Pernambuco, Minas Gerais
e no Rio de Janeiro) e os sudaneses, da Nigéria, Daomé e Costa do Marfim (cuja
mão-de-obra era utilizada no Nordeste, principalmente na Bahia). (leia mais: Origem dos
escravos africanos).
A saudade da terra natal (banzo) e o descontentamento com as condições de vidas
impostas eram a principal razão das fugas, revoltas e até mesmo dos suicídio dos
escravos. A “rebeldia” era punida pelos feitores com torturas que variavam entre
chicotadas, privação de alimento e bebida e o “tronco”. Durante essas punições, os negros
tinham seus ferimentos salgados para provocar mais dor.

O motivo para o início do tráfico negreiro no Brasil foi a produção de cana-de-açúcar. Os
escravos eram utilizados como mão-de-obra no Nordeste. Comercializados, escravos
jovens e saudáveis eram vendidos pelo dobro do preço de escravos mais velhos ou de
saúde frágil. Vistos como um bem material, eles podiam ser trocados, leiloados ou
vendidos em caso de necessidade.
O Tráfico Negreiro foi extinto pela Lei Eusébio de Queirós, em 1850. A escravidão no
Brasil, no entanto, somente teve fim em 1888, com a Lei Áurea.

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Quilombo de Palmares

“Primeiros europeus a chegar ao Brasil, no ano de 1500, os portugueses fizeram vir negros
da África para o trabalho escravo nas plantações de cana-de-açúcar, principal riqueza da
colônia. Senhores absolutos da vida e da morte de seus escravos, os proprietários brancos
os faziam trabalhar sem descanso, a custa de castigos e torturas muitas vezes fatais.
Alguns escravos, porém, conseguindo fugir do cativeiro, se escondiam pelo interior virgem
do país, onde formavam comunidades livres a que se deu o nome de . Destes, o mais
célebre foi o Quilombo dos Palmares, fundado em fins do século XVI, nas montanhas do
Nordeste do Brasil.” Assim começa o filme “Quilombo”, de 1984.

Como a própria introdução do filme diz, o Quilombo de Palmares situava-se nas montanhas
do Nordeste do Brasil, mais especificamente na Serra da Barriga, região que hoje pertence
ao estado de Alagoas, e foi fundado no século XVI – alguns registros mostram que já havia
um quilombo naquelas localidades em 1580, mas a mais antiga referência a ao nome
Palmares vem de uma carta escrita pelo padre Pero Lopes, datada de 1597.

O nome “Palmares” remete ao fato da região escolhida ter muitas palmeiras. No começo de
sua existência, Palmares era habitado por poucos . Contudo, após o início da (1630 a
1654), os senhores de engenho voltaram suas atenções para os holandeses, o que
proporcionou a oportunidade de fuga para muitos escravos. Vários negros fugiram para
Palmares, o que fez com que no início da invasão – em 1630 – o número de habitantes de
palmares subisse para 3.000 e no final dela – em 1654 – Palmares abrigava entre 23 e 30
mil pessoas (cerca de 13% da população brasileira na época).

Os holandeses tentaram diversas expedições contra Palmares mas, sem sucesso, foram
derrotados cruelmente em 1644. Após 1654, os portugueses organizaram mais de 20
expedições militares contra Palmares, pois o quilombo havia se tornado uma espécie de
estado autônomo, ocupando uma faixa de terra de 200km.

Somente em Janeiro de 1694 o Quilombo dos Palmares foi ocupado e destruído. Com um
exército de mais de 8.000 homens munidos até com canhões, Caetano Mello e Castro
(governador da capitania de Pernambuco) e seu braço direito (o comandante-geral)
atacaram por 22 dias até a vitória. Contudo, os palmarinos continuaram a resistência por
meio de ataques surpresa, saques e libertação de escravos. Mesmo com a morte de seu
líder, , o povo de palmares lutou até 1716.

Enquanto palmares existiu, os quilombolas garantiam a sobrevivência pela agricultura, caça
e colheita de frutos.

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Também se produzia artesanatoQuilombo depalmeira,


com palha de Palmarestecidos, cerâmica e metalurgia.
O Quilombo de Palmares também é conhecido como “Esparta Negra”. Até hoje a história de
Palmares é lembrada por muitos como uma luta pela igualdade.

Por: Carolina de Souza Campos de Sá



P r in c ip a is T e r r e ir o s d e C a n d o m b lé n a B a h ia

O Candomblé da Barroquinha foi o primeiro candomblé a funcionar regularmente na Bahia.
De origem kêtu-nagô, foi fundado em 1830, por três negras da Costa da Mina, de quem se
conhece apenas os nomes africanos: Adêtá (Iyá Dêtá), Iyá Kalá e Iyá Nassô. Batizado de
Ilê Iyá Nassô (Casa de Mãe Nassô), o terreiro, hoje conhecido como Candomblé do
Engenho Velho ou Terreiro da Casa Branca, deu origem aos três mais famosos terreiros
kêtu-nagô da Bahia. Com a morte da Ialorixá Iyá Nassô, o comando do terreiro ficou com a
filha de uma das três fundadoras, conhecida por Marcelina, que, por sua vez, tinha duas
filhas, duas Maria Júlia: uma Conceição e a outra Figueiredo.

Com a morte de Marcelina, as duas passaram a disputar a chefia do terreiro. Venceu Maria
Júlia Figueiredo, que já era Mãe Pequena do terreiro e desfrutava de grande prestígio junto
aos freqüentadores. A outra Maria Júlia, porém, se afastou, arrendou um terreno no bairro
do Rio Vermelho, e ali fundou, com os demais dissidentes, o Ilê Axé Omim Iyá Massê,
atual candomblé do Gantois, que recebeu esse nome por causa do proprietário francês.
Reza a lenda, que Maria Júlia Conceição levou consigo os axés do Engenho Velho,
constituindo-se, portanto, no legítimo herdeiro do candomblé da Barroquinha. O Gantois
prosperou e tornou-se internacionalmente conhecido na gestão de Mãe Pulquéria, filha de
Maria Júlia Conceição e tia de Maria Escolástica Conceição Nazaré, Mãe Menininha do
Gantois, a Ialorixá mais famosa da Bahia.

Mas, nessa mesma ocasião, o Ilê Iyá Nassô saiu da Barroquinha e mudou-se para o
Caminho do Rio Vermelho e passou a ser conhecido como Terreiro do Engenho Velho ou
da Casa Branca, ainda sob o comando de Maria Julia Figueiredo. Com a sua morte, Mãe
Sussu (Ursulina) assumiu a direção. Uma nova disputa pelo comando do Ilê Iyá Nassô
acontece com a morte de Mãe Sussu. O conflito gira em torno de Ti’Joaquim, um
babalorixá baiano, radicado no Recife, e foi liderada por Aninha, que queria que ver o
Ti’Joaquim no comando da casa. Prevaleceu, porém, o partido da ordem e quem assumiu o
axé foi Tia Massi (Maximiana Maria da Conceição).

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Quilombo
Derrotados, a facção liderada por de Palmares
Aninha deixou o terreiro e fundou um candomblé
independente, o Ilê Axé Opô Afonjá, sob a direção de Ti’Joaquim, que quando morreu,
passou a liderança da casa para a própria Aninha (Eugênia Ana Santos) que o conduziu até
1938. Hoje o Opô Afonjá é comandado pela famosa mãe-de-santo Stella de Oxossi.

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