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A EFICÁCIA DA ARRECADAÇÃO DO ICMS NO RIO DE JANEIRO

Vinícius da Silva Matos – Mestrando em Ciências Contábeis pela UFRJ


PPGCC/UFRJ – Programa de Pós-Grad. em Ciências Contábeis da Univ. Federal do RJ
vini_matos83@hotmail.com

Yuri Fernandes da Cruz – Mestrando em Ciências Contábeis pela UFRJ


PPGCC/UFRJ – Programa de Pós-Grad. em Ciências Contábeis da Univ. Federal do RJ
yurifernandes1000@gmail.com

Claudia Ferreira Cruz - Doutorado em Controladoria e Contabilidade pela FEA-USP


PPGCC/UFRJ – Programa de Pós-Grad. em Ciências Contábeis da Univ. Federal do RJ
claudiacruz@facc.ufrj.br

André Luiz Bufoni - Doutorado em Planejamento Energético pela COPPE-UFRJ


PPGCC/UFRJ – Programa de Pós-Grad. em Ciências Contábeis da Univ. Federal do RJ
bufoni@facc.ufrj.br

Resumo: O ICMS é a principal fonte de arrecadação de receitas tributárias estaduais, sendo


fundamental à manutenção de sua saúde financeira. O objetivo desta pesquisa é verificar o nível
de eficácia de arrecadação do ICMS do Estado do Rio de Janeiro (ERJ). Para tal, verifica os
processos de estimação e arrecadação deste tributo, bem como os fatores que impactam o
equilíbrio fiscal do Estado. Tomando como base o período de 2008 a 2015, o estudo detalha a
arrecadação do ICMS por atividades econômicas, descreve os erros de estimação, e a taxa de
crescimento da arrecadação do ICMS, realizando comparações com as demais unidades da
Federação. Além disso, o estudo analisa o comportamento equilíbrio fiscal dado pela relação
entre a Dívida Consolidada Líquida e a Receita Corrente Líquida do Estado no período
analisado. Os resultados indicam que o ERJ apresenta erro de estimação médio
significativamente superior aos demais estados brasileiros, por outro lado, apresenta taxa de
crescimento da arrecadação significativamente inferior à média de seus pares federativos, Além
disso, só quatro atividades econômicas são responsáveis por 90% da arrecadação do ICMS. Por
fim, concluímos que o equilíbrio fiscal vem sendo prejudicado pelo descompasso entre o
crescimento do índice entre a Dívida Consolidada Líquida e a Receita Corrente Líquida em
geral.

Palavras-chave: contabilidade pública; ICMS; arrecadação; equilíbrio fiscal; eficácia.


1. Introdução
No Brasil, a instituição de impostos sobre operações relativas à circulação de
mercadorias e sobre prestações de serviços (ICMS) é de competência dos Estados e do Distrito
Federal. Com base nos dados disponíveis na Secretaria de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro,
para o período de 1999 a 2016, a arrecadação do ICMS representou, em média, mais de 80%
da arrecadação geral dos tributos estaduais.
Mas, o jornal O Globo (2016) publicou a matéria “Rio é o estado com menor aumento
de arrecadação de ICMS”, afirmando que, com a alteração da Lei de Exploração do Petróleo
para os Estados em 1999, a arrecadação do ICMS passou a crescer discretamente, enquanto o
recebimento de royalties cresceu significativamente. Fernandes (2007) destaca que, entre os
anos de 1998 e 2005, enquanto o crescimento acumulado da arrecadação foi de 1,4 vezes, o
montante oriundo de indenizações petrolíferas cresceu mais de 60 vezes no mesmo período,
firmando nova relevância das receitas de royalties para as finanças públicas Estado.
De acordo com matéria publicada em O Globo (2016), um dos motivos para o tímido
crescimento do recolhimento do ICMS foi a política de concessão de incentivos fiscais por parte
do Governo. O fato acarretou renúncias fiscais e deterioração da capacidade de cobrança do
tributo, tornando o Estado dependente do recebimento de verbas oriundas dos royalties do
petróleo. Ainda segundo a matéria, nos últimos anos, houve uma acentuada queda no preço do
barril do petróleo, além do declínio da exploração da atividade petrolífera no Brasil. Assim, as
receitas do Estado Fluminense foram afetadas tanto pela diminuição das parcelas relativas aos
royalties, quanto na arrecadação do ICMS do setor petrolífero.
Respaldando esta percepção, Barboza, Pedroso e Cintra (2016) verificaram que as
cotações internacionais do petróleo sofreram persistentes quedas nos últimos dois anos,
impactando os setores petrolífero e público. Além disso, o trabalho mostrou que o volume de
produção, a cotação do dólar e o Brent são os fatores impactantes do valor dos royalties cuja
queda das receitas concorreram para a difícil situação financeira atualmente enfrentada pelo
Governo do Estado do Rio de Janeiro. Diante dessa difícil situação, faz-se necessário aumentar
as receitas, sendo uma das metas, a eficácia na cobrança de impostos.
Neste sentido, a presente pesquisa será norteada pelas seguintes questões:

Q1: Qual o nível de eficácia dos processos relacionados à arrecadação de


tributos do Estado do Rio de Janeiro nos últimos dois ciclos
orçamentários, respectivamente compostos pelos períodos de 2008 a
2011 e de 2012 a 2015?
Q2: Quais seus impactos sobre o equilíbrio fiscal deste Estado?

Para responder a tais perguntas, foi conduzida esta pesquisa descritiva cujo objetivo é
verificar o nível de eficácia da arrecadação, discorrendo sobre os fatores que impactam os
processos de estimação e arrecadação deste tributo, bem como o seu equilíbrio fiscal. Assim, o
estudo analisa a evolução histórica da gestão do ICMS do Estado do Rio de Janeiro no período
de 2008 a 2015, comparando-as com os resultados deste mesmo tributo em outros estados
brasileiros.
Em relação ao tema proposto, foram identificadas pesquisas anteriores abordando
modelos de estimação de receitas orçamentárias, comportamento do ICMS em nível nacional,
os impactos da chamada “guerra fiscal” na arrecadação dos estados da federação, bem como
trabalhos sobre a relação de dependência da arrecadação dos royalties do petróleo na economia.
Sendo assim, justifica-se o presente estudo tendo em vista que não foram encontrados estudos
relativos à análise da eficácia dos processos relativos à arrecadação do ICMS no Estado do Rio
de Janeiro com o enfoque proposto aqui.
Constata-se a relevância da pesquisa pela sua contribuição ao arcabouço científico da
contabilidade pública e da gestão fiscal governamental, uma vez que visa aprofundar os
conhecimentos acerca de metodologias de mensuração e análise da eficácia na gestão do ICMS.
Igualmente, espera-se que o estudo evidencie o nível do processo de gestão do ICMS estadual,
explorando aspectos capazes de afetar a gestão. Assim, o trabalho tem sua importância ao servir
como instrumento à avaliação de desempenho da atividade arrecadatória estadual.
O presente artigo encontra-se dividido em cinco partes. Na sequência desta introdução,
é apresentada a revisão de literatura, que aborda temas ligados à eficácia, receitas
orçamentárias, ICMS e equilíbrio fiscal. Na terceira parte, serão detalhados os procedimentos
metodológicos a serem empregados na pesquisa, enquanto na quarta seção serão analisados os
dados e debatidos os resultados. Por fim, serão relatadas as conclusões do estudo e sugestões
de pesquisas futuras.
2. Referencial Teórico
2.1. Eficácia na Administração Pública
O inciso II, do art. 74 da Carta Magna preconiza que os Poderes Executivo, Legislativo
e Judiciário manterão sistema de controle interno integrado com a finalidade de, entre outras,
avaliar os resultados, quanto à eficácia da gestão orçamentária (BRASIL, 1988). Embora a
literatura disponível sobre o tema seja abrangente, observa-se que é pacífico o entendimento do
significado de eficácia como medida destinada à mensuração do alcance de resultados ou
objetivos previamente estabelecidos (BIO, 1996; DAFT, 1999; MEGGINSON; MOSLEY;
PIETRI, 1998).
No setor público, Grateron (1999) ensina que a eficácia é aferida pelo nível de
atingimento de metas e objetivos, sendo calculada pelo cotejamento entre resultados
efetivamente obtidos e àqueles esperados ou previstos nos planos ou programas de ação. Esta
medida de desempenho contribui para que a sociedade possa verificar a adequação entre as
decisões de gestores públicos e a eficiência e a eficácia de sua administração. Ainda de acordo
com o autor, “a avaliação da eficácia estabelece a relação não só entre os resultados obtidos e
os planejados, previstos ou esperados, senão também com o resultado ótimo” (GRATERON,
1999, p. 12).
2.2. Receitas Orçamentárias
O orçamento é um importante instrumento de planejamento para o setor público, nele
são representados os fluxos de ingressos e aplicações de recursos para um determinado período.
Os ingressos das receitas orçamentárias seguem a ordem dos fenômenos econômicos e
resumem-se em duas etapas: planejamento e execução. Na fase de planejamento é efetuada a
previsão da arrecadação da receita orçamentária que constará na Lei Orçamentária Anual
(LOA), já na fase de execução, a realização da receita se dá em três estágios: lançamento,
arrecadação e recolhimento (BRASIL, 2014). Este tópico aborda algumas metodologias de
estimação e vieses orçamentários no processo de estimação de receitas.
a) Metodologias de estimação
Um aspecto crucial na confecção do orçamento é a adequada previsão das receitas
orçamentárias, já que o montante das receitas estimadas balizará a alocação de recursos para as
despesas na LOA. Para tanto, a estimação das receitas deve respeitar a legislação que a instituiu,
no âmbito da União, dos Estados e dos Municípios, observando o comportamento histórico
passado e recente, adotando os índices de projeção determinados pelos entes da federação
(AZEVEDO, 2013).
O art. 12 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) (BRASIL, 2000) preconiza que as
previsões das receitas orçamentárias devem considerar os efeitos de mudanças na legislação,
na variação de índices de preços, de aspectos econômicos ou de outro fator relevante. Estabelece
ainda que as estimativas “serão acompanhadas de demonstrativo de sua evolução nos últimos
três anos, da projeção para os dois seguintes àquele a que se referirem, e da metodologia de
cálculo e premissas utilizadas” (BRASIL, 2000). Embora a LRF não defina uma metodologia
específica para o cálculo das previsões de receita, o trabalho de Scarpin e Slomski (2005)
conclui que houve melhoria no processo de estimação após a edição desta lei, levando a crer
que parte desses efeitos eram antes desconsiderados.
Neste sentido, a 3ª edição do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, válida
para o exercício de 2011, trouxe uma proposta exemplificativa de metodologia para projeção
de receitas (P), que pode ser resumida na fórmula 1:

P = Bc x Ip x Iq x El. (1)
Onde a base de cálculo (Bc) é fundamentada em séries históricas de arrecadação em anos
ou meses; o índice de preço (Ip) indica a variação média dos preços de determinada cesta de
produtos; o (Iq) índice de quantidade representa a variação média do volume de bens de um
determinado segmento econômico; e efeito legislação (El) leva em consideração a mudança na
alíquota ou na base de cálculo de alguma receita (STN, 2010).
O trabalho de Zonatto, Rodrigues Junior e Toledo Filho (2013) realizou uma
comparação entre o modelo acima descrito e o método Koyck, que usa regressão linear
bivariada para projetar resultados futuros a partir de períodos anteriores. O estudo concluiu pela
melhora no desempenho das previsões por meio da metodologia proposta por Koyck,
evidenciando uma diminuição dos erros médios em relação às estimativas efetuadas pelos
municípios analisados.
Outro método proposto para a previsão de receitas tributárias é o uso de séries temporais,
ainda recentes na literatura brasileira. Destaca-se que: (1) os modelos encontrados são
individuais e não podem ser generalizados para todos os Estados, pois com seus dados chegarão
a outro modelo; (2) a cada ano deverá ser construído um novo modelo, pois a série sofre
mudanças; (3) a maior parte dos trabalhos não evidencia o ganho de eficiência do modelo em
relação ao cálculo efetuado sem o uso de séries temporais, pois se limitaram a comparar o valor
efetivamente arrecadado com o previsto pelo modelo; e (4) as séries temporais não conseguem
refletir quebras estruturais, como mudanças macroeconômicas (AZEVEDO; SILVA;
GATSIOS, 2017).
Os resultados da pesquisa de Azevedo, Silva e Gatsios (2017) “indicam que os modelos
de séries temporais apresentam maior acurácia de previsão quando comparado com as previsões
realizadas pelos estados”. O trabalho sugere ainda que os estados poderiam aplicar a
metodologia de previsão ARIMA, consolidada por Box e Jenkins (1976), a fim de melhorar a
precisão das estimativas de arrecadação de ICMS.
b) Vieses orçamentários na estimação de receitas
Na etapa de estimação das receitas, um aspecto a ser considerado diz respeito à presença
de vieses no processo orçamentário. Jones e Euske (1991) apud Fajardo (2016), estudaram este
fenômeno e o denominaram de “manipulação estratégica” (strategic misrepresentation). Os
autores sugerem que os incentivos disponíveis ao Poder Executivo em um dado instante
constituem o principal fator sob a decisão de manipulação.
Segundo Fajardo (2016), no âmbito estadual brasileiro, as previsões de receitas
orçamentárias são utilizadas de modo discricionário, conforme carências momentâneas, sendo
o posicionamento estratégico motivado por aspectos fiscais e políticos. Assim, quando angariar
apoio político da Assembleia Legislativa parece ser mais relevante do que cumprir
procedimentos fiscais, os Governos estaduais superestimam suas receitas, valendo-se da folga
orçamentária criada, para atrair apoio parlamentar em matérias de sua conveniência.
Ainda de acordo com o autor, estratégias de subestimação são adotadas por motivações
fiscais, quando o Executivo estadual busca convencer o Executivo Federal a ampliar o volume
de transferências fiscais para a fazenda estadual, sob a alegação de que tais recursos serão
empregados na execução de políticas públicas previstas no orçamento.
Fajardo (2016) argumenta que a subestimação de receitas pode gerar excesso de
arrecadação e, consequentemente a abertura de créditos adicionais que poderão ser utilizados
pelo Executivo mediante questionamentos mais brandos dos parlamentares, já que a abertura
de tais créditos ocorre por meio de decreto do Poder Executivo. Em contrapartida, a
superestimação de receitas pode gerar contingenciamentos no orçamento, permitindo ao Poder
Executivo estadual escolher, posteriormente, quais programas receberão recursos públicos.
2.3. O ICMS e Aspectos Relacionados à sua Arrecadação
O artigo 155 da Constituição Federal de 1988 estabelece a competência dos estados e
do Distrito Federal para arrecadar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS) (BRASIL, 1988). Segundo Sabbag (2011, p. 1005) “o ICMS, imposto estadual,
sucessor do antigo Imposto de Venda e Consignações (IVC), foi instituído pela reforma
tributária da Emenda Constitucional nº 18/1965 e representa 80% da arrecadação dos Estados”.
Dada a relevância deste imposto para os estados, faz-se necessário discorrer sobre alguns temas
relacionados à sua arrecadação, tais como base econômica e descentralização fiscal.
A base econômica é fundamental para a arrecadação tributária própria dos entes
federativos. Resultados de um estudo realizado nos municípios de Minas Gerais sugerem que a
dimensão econômica influencia a arrecadação tributária própria, concluindo que quanto maior
o dinamismo econômico do município, maior tende a ser a sua arrecadação tributária (VIEIRA
et al., 2017). De forma análoga, os níveis de atividade econômica e a diversidade das
características econômicas desenvolvidas nos estados influenciarão na arrecadação do ICM
destes entes da federação (REIS; BLANCO, 1996).
Passando a tratar da descentralização fiscal brasileira, observa-se que as reformas
trazidas pela Constituição Federal de 1988 trouxeram mudanças significativas ao federalismo
fiscal brasileiro, concedendo ampla autonomia financeira para os entes subnacionais, fazendo
do sistema tributário nacional um dos mais descentralizados entre as nações em
desenvolvimento (SOUZA, 1998). Segundo Ferraz e Finan (2011) “o Brasil é um dos países
mais descentralizados do mundo”.
Neste cenário, os entes subnacionais buscaram recursos de duas maneiras: agravando a
disputa por investimentos privados por meio da concessão de benefícios fiscais (BRANDÃO,
2014); e se moldando às políticas federais a fim de receberem recursos oriundos de
transferências do governo central (ARRETCHE, 2012). Este processo trouxe fragilização à
capacidade de atuação fiscal dos estados, o que é evidenciado pela queda da participação do
nível estadual na carga tributária brasileira, quando comparada à arrecadação da União e dos
municípios (FAJARDO, 2016).
A disputa por investimentos privados acentuou-se entre os estados, gerando a chamada
“guerra fiscal” (VIEIRA, 2014). Além disso, na década de 90, o ambiente institucional de
reformas (privatizações, novos marcos regulatórios, reforma administrativa etc.) propiciou o
acanhamento dos investimentos produtivos dos estados (MONTEIRO NETO, 2014) e
aumentou a pressão por transferências de recursos da União (REZENDE, 1995 apud
FAJARDO, 2016). A reforma constitucional de 1988 ampliou a atribuição de fontes de receitas
para os estes subnacionais à custa do governo central, reforçando o sistema de transferências
intergovernamentais (FAJARDO, 2016).
Pesquisas indicam que o repasse de recursos provenientes de transferências
intergovernamentais pode influenciar negativamente a arrecadação tributária própria do ente
que se beneficia de tais repasses. No processo de tributação, este efeito negativo é também
conhecido como “preguiça fiscal” (VIEIRA et al., 2017).
2.4. Equilíbrio Fiscal
O conceito de equilíbrio fiscal é bastante abrangente. Porém, objetivamente pode-se
dizer que se trata da manutenção da harmonia das contas públicas, o que ocorre quando há
proporcionalidade entre receitas e despesas; estabilidade financeira; além de controle e
cumprimento das metas ficais e orçamentárias previamente estabelecidas.
“A maior autonomia financeira, garantida pela Constituição Federal de 1988, foi
utilizada de forma pouco responsável pelos estados, os quais continuaram gastando sem
correlata responsabilidade de tributar” (REZENDE, 1995 apud FAJARDO, 2016), o que
representa uma ameaça ao equilíbrio fiscal destes entes da Federação.
No tocante ao equilíbrio fiscal, a LRF estabelece dispositivos de finanças públicas
direcionados à responsabilidade na gestão fiscal, destacando o objetivo de controlar o avanço
do endividamento, por meio da fixação de regras e limites. Além disso, a LRF determina que
sejam criadas metas para controlar receitas e despesas, focando as ações dos governantes na
transparência e no equilíbrio das contas públicas. (MELLO; SLOMSKI; CORRAR, 2005).
Conforme regras e limitações estabelecidas na LRF, e vinculadas ao processo de
equilíbrio fiscal, os seguintes elementos formam o construto disciplina fiscal: (1) metas fiscais,
destinadas a verificar o uso das metas de resultado nominal, primário e endividamento no
planejamento; (2) geração de novas despesas, determinando que os entes controlem a relação
entre despesas correntes e receitas correntes, demonstrando a existência ou não de margem para
expansão; (3) equilíbrio financeiro, responsável por analisar o tratamento de eventuais passivos
financeiros no ente; e (4) equilíbrio orçamentário, analisando o princípio básico da LRF que
determina o atingimento de resultado orçamentário positivo (ou nulo) durante os exercícios
(AZEVEDO, 2016).
3. Metodologia
O presente estudo é classificado como empírico, dedicando-se a mensurar parte de uma
realidade social (DEMO, 2000). Quanto aos objetivos, a pesquisa é descritiva, uma vez que visa
descrever fatos observados e características de um fenômeno (GIL, 2008). Em relação à
abordagem do problema, o trabalho é quantitativo, pois utiliza coleta de dados para avaliar
hipóteses baseado em mensuração numérica e análise estatística; e qualitativo, já que trata dados
não numéricos para explicar questões de pesquisa durante o processo de
interpretação (SAMPIERI, 2006). No tocante aos procedimentos, a pesquisa caracteriza-se
como bibliográfica e documental, visto que revisou estudos anteriores e buscou informações na
legislação brasileira e em documentos oficiais.
A coleta de dados foi realizada por meio do Sistema de Informações Contábeis e Fiscais
do Setor Público Brasileiro (Siconfi), de onde foram obtidos dados referentes à arrecadação do
ICMS de todos os estados no período de 2008 a 2015. As informações atinentes à previsão de
arrecadação de ICMS foram extraídas diretamente dos Relatórios Resumidos de Execução
Orçamentária (RREO) dos estados. Os dados relativos às receitas oriundas de Transferências
da União foram obtidos por meio do portal da organização social “Ranking de Competitividade
dos Estados”.
Terminada a coleta, os dados foram segregados por grupos, conforme os temas
específicos em que serviram de subsídios para análise. Em seguida, os dados foram tabulados
e submetidos a tratamento quantitativo com base em formulações matemáticas simples,
estatística descritiva, análise univariada, bem como testes de hipóteses paramétricos e não
paramétricos, conforme detalhado nos tópicos adiante.
3.1 Eficácia da Estimação do ICMS e Aspectos Relacionados
Para avaliar a eficácia da estimação do ICMS, foi utilizada variável erro de estimação,
calculada pela Fórmula 2:

𝐼𝐶𝑀𝑆 𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑎𝑑𝑜−𝐼𝐶𝑀𝑆 𝑎𝑟𝑟𝑒𝑐𝑎𝑑𝑎𝑑𝑜


𝜖= (2)
𝐼𝐶𝑀𝑆 𝑒𝑠𝑡𝑖𝑚𝑎𝑑𝑜

Sendo assim, para cada estado constante da amostra, foram calculados os erros de
estimação anuais e médios para o período em estudo. Após, comparou-se o erro médio de
estimação do ERJ com e o erro médio de estimação do grupo composto pelos demais estados,
e com o erro médio do estado que apresentou maior acurácia na estimação. Foram utilizados
gráficos de dispersão com linhas de tendência para auxiliar a análise, além disso, foram
aplicados testes de diferença de médias para verificar as hipóteses H1 e H2.

H1: A média dos erros de estimação do ERJ é superior ao erro de estimação médio do
grupo composto pelos demais estados;

H2: A média dos erros de estimação do ERJ é superior a do estado que apresentou maior
acurácia na estimação;

Também neste tópico, buscou-se analisar o comportamento dos estados em relação à


presença de estratégias de manipulação orçamentária. Para esta análise, utilizou-se como proxy
o sinal do erro de estimação, considerando que houve superestimação quando o sinal assumiu
valor positivo (+), e subestimação quando o sinal foi negativo (-). Ressalta-se que o sinal desta
variável só foi considerado para esta análise, para as demais questões em estudo foi considerado
o valor absoluto do erro de estimação.
Como limitação, é importante mencionar que a metodologia de cálculo utilizada para a
estimação do ICMS do ERJ não pôde ser identificada, pois as memórias de cálculo do valor
previsto na LOA e nos RREO não foram disponibilizadas.
3.2 Eficácia da Arrecadação do ICMS e Aspectos Relacionados
Para avaliar a eficácia da arrecadação, foram utilizadas as variáveis “taxa de crescimento
da arrecadação” e “taxa média de crescimento anual”, cujas Fórmulas 3 e 4 estão
respectivamente representadas como:

ICMS arrecadado em 2015−ICMS arrecadado em 2008


Δtx. c (%) = ( ) x 100 (3)
ICMS arrecadado em 2008

1
ICMS arrecadado em 2015 n
Δtx. ĉa (%) = [(ICMS arrecadado em 2008) − 1] x 100 (4)

Onde n representa o número de períodos entre os anos inicial e final.


Para cada estado da amostra, foram calculados os índices acima, sendo então procedidas
análises comparativas entre os indicadores do ERJ e dos demais estados. Assim, foram
aplicados testes de diferença de médias para verificar as hipóteses H3 e H4.

H3: A taxa de crescimento da arrecadação do ERJ é inferior à média dos demais estados.

H4: A taxa média de crescimento anual do ERJ é inferior à média dos demais estados.

Mostrou-se ainda a composição da arrecadação do ERJ por ramo de atividade


econômica, para cada ano do período, com o objetivo de discutir quais atividades mais
impactaram a arrecadação deste imposto, bem como analisando se houve variação significativa
em algum setor específico.
No que concerne aos possíveis impactos gerados pelas Transferências do Governo
Federal, por meio do coeficiente r de Pearson, buscou-se verificar a existência de correlação
entre receitas oriundas de “Transferência da União” e de arrecadação do ICMS, no período de
2008 a 2015. A presente análise comparou ainda as médias das taxas de crescimento das
“Transferências da União” e da arrecadação do ICMS do ERJ com os demais estados.
3.3 Impactos para o Equilíbrio Fiscal
Os relatórios fiscais exigidos pela LRF destinam-se a prestar informações relativas a
indicadores fiscais e de endividamento dos entes federativos. Entre os principais indicadores
fiscais, destacam-se a Dívida Consolidada Líquida (DCL), a Receita Corrente Líquida (RCL) e
a relação entre as duas, ou seja, DCL/RCL. A Resolução do Senado Federal nº 40, de
20/12/2001 estabelece o limite máximo de 200% para a relação DCL/RCL dos Estados e do
Distrito Federal.
Por meio dos Relatórios de Gestão Fiscal (RGF), disponíveis no Siconfi, foram
coletados dados relativos à RCL, DCL, e à relação DCL/RCL do ERJ. Após a tabulação dos
dados, foram calculadas as taxas de crescimento de tais indicadores para o período de 2008 a
2015. Em seguida, realizaram-se análises a fim de descrever a evolução de tais indicadores,
comparando-os com a evolução da arrecadação do ICMS do ERJ.
4. Apresentação dos resultados
Por meio da aplicação da Fórmula 2, foram obtidos os erros de estimação de todos os
estados para o período de 2008 a 2015. Depois, foi calculada a média para cada estado e então
foi realizada a classificação dos estados (Tabela 1).

Tabela 1 - Erro de estimação do ICMS dos estados brasileiros


UF 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Média Ordem
SP 14,14% 0,62% 12,00% 2,25% 1,06% 0,64% 4,42% 2,05% 4,65% 1
PA 4,26% 7,25% 0,29% 5,99% 7,69% 6,69% 1,32% 4,03% 4,69% 2
PR 9,48% 5,46% 3,63% 3,61% 4,56% 6,24% 1,38% 3,51% 4,73% 3
RS 15,70% 5,01% 3,63% 3,05% 0,31% 2,62% 0,67% 8,50% 4,94% 4
AL 3,17% 9,15% 10,59% 6,22% 6,34% 0,29% 3,65% 1,89% 5,16% 5
- - - - - - - - - - (...)
DF 6,65% 6,72% 6,57% 13,50% 2,60% 1,59% 2,49% 8,52% 6,08% 10
- - - - - - - - - - (...)
ES 14,25% 7,18% 6,44% 12,76% 3,37% 11,80% 4,33% 1,14% 7,66% 15
- - - - - - - - - - (...)
AC 27,16% 14,99% 8,13% 4,68% 13,25% 3,83% 4,91% 4,77% 10,21% 20
RO 22,34% 15,37% 17,84% 8,91% 4,81% 7,26% 1,44% 4,80% 10,35% 21
RJ 20,53% 11,25% 19,90% 9,24% 2,36% 13,02% 3,04% 6,95% 10,79% 22
- - - - - - - - - - (...)
AP 16,59% 22,18% 32,75% 25,04% 30,09% 26,57% 1,88% 14,88% 21,25% 26
RR 33,21% 42,21% 54,29% 21,79% 20,72% 24,24% 8,30% 8,51% 26,66% 27
Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa.

Conforme constatado na Tabela 1, o Estado de São Paulo (SP) foi o que apresentou a
menor média para a variável erro de estimação (4,65%), e por esta razão foi definido como base
de comparação com o ERJ, que obteve uma média de erro de estimação de (10,79%), ocupando
a vigésima segunda posição no ranking proposto na Tabela 1. A comparação anual entre o ERJ
e o Estado de SP, bem como com a média dos demais estados pode ser visualizada na Figura 1.
Figura 1 - Comparação erro de estimação RJ x SP

25,00%
20,00% SP

15,00% RJ
10,00%
Linear (SP)
5,00%
Linear (RJ)
0,00%
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa.
Da Figura 1, pode-se observar que, excetuando o ano de 2014, o ERJ apresentou erro
de estimação superior ao Estado de SP para todos os anos. Além disso, o gráfico abaixo (Figura
2) ilustra que o erro de estimação do ERJ superou a média do erro de estimação dos demais
estados para quase todos os períodos verificados, o que não ocorreu nos anos de 2012 e 2014.
Embora haja uma oscilação desse indicador de ano para ano, as linhas de tendência dos dois
gráficos indicam uma diminuição dos erros de estimação dos estados.

Figura 2 - Comparação erro de estimação RJ x Média dos demais estados

25,00%

20,00% RJ

15,00% Média demais


estados
10,00% Linear (RJ)
5,00%
Linear (Média
0,00% demais estados)
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa

A fim de testar a H1, foi realizado o Teste t de diferença de médias para uma amostra,
adotando como parâmetro de comparação o erro médio de estimação do ERJ, que foi de
10,79%, conforme Tabela 1. O teste foi realizado por meio do sistema Statistical Package for
the Social Sciences (SPSS) v. 22, ao nível de significância de 5%. O pressuposto de
normalidade foi relaxado em virtude do tamanho da amostra, que após a eliminação de outliers,
contou com 205 observações dos erros de estimação dos demais estados.

Tabela 2 - Estatísticas descritiva dos erros de estimação dos demais estados brasileiros

N Média Desvio Padrão Erro padrão da Média

Erro de Estimação 205 8,4622% 7,33247% 0,51212%


Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados da pesquisa.

A estatística da variável erro de estimação registrou uma média de 8,46% para o grupo
composto pelos demais estados. O resultado do teste de diferença de médias (Tabela 3) mostra
que o p-valor (0,000÷2) é menor do que o nível de significância estabelecido (0,05), indicando
a aceitação de H1. Além disso, a estatística t calculada é negativa (-4,545), confirmando a
hipótese de que a média dos erros de estimação do ERJ é superior ao erro de estimação médio
dos demais estados. Contudo, ressalta-se que, em média, a acurácia da estimação vem
aumentando. Nos últimos dois anos da análise, o erro de estimação ficou em torno de 5%, tanto
para o ERJ, quanto para a média dos demais estados brasileiros.

Tabela 3 - Teste de t de diferença de média entre o erro de estimação do ICMS do ERJ


e dos demais estados brasileiros

Valor de Teste = 10.79


95% Intervalo de Confiança da
Diferença Diferença
T df Sig. (2 extremidades)
média Inferior Superior
Erro de
Estimação -4,545 204 ,000 -2,32785% -3,3376% -1,3181%
Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa.

Para verificar H2, não foi atendido o pressuposto da normalidade para a variável erro de
estimação do estado de SP. Sendo assim, foi aplicação o Teste de Mann-Whitney, versão não
paramétrica do teste t de diferença de médias para duas amostras independentes.
Quadro 1 - Resumo de Teste de Hipótese
Hipótese nula Teste Sig. Decisão
A distribuição de “Erro de Estimação” é a Teste U de Mann-Whitney 0,050 Rejeitar a hipótese
mesma entre as categorias de Grupo. de amostras independentes nula.
Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa.

De acordo com o Quadro 1, o resultado do teste permite a aceitação de H2, confirmando


a hipótese de que a média dos erros de estimação do ERJ é superior a do estado que apresentou
maior acurácia na estimação, no caso, o Estado de SP. Ressalta-se que a estatística da variável
erro de estimação registrou uma média de 10,79% para o ERJ (grupo 1) e de 4,65% para o
Estado de SP (grupo 0).
No tocante às estratégias orçamentárias, por meio do gráfico (Figura 3), pode-se notar
que, de modo geral, a estratégia de subestimação foi predominante no período analisado para a
maioria dos estados brasileiros.

Figura 3 - Frequência de superestimação e subestimação do ICMS dos estados brasileiros


30 24
22 23 23
19 19
20 15 14 13
12
8 8
10 5 4 4
Superestimação
3
Subestimação
0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa.

Analisando o gráfico acima em conjunto com a Tabela 4, observa-se que, a exceção do


ano de 2009, o ERJ seguiu a mesma estratégia da maioria dos estados. Neste sentido, conforme
os conhecimentos trazidos no referencial teórico deste trabalho, estratégias de subestimação
costumam ser adotadas por motivações fiscais, quando o Governo do Estado busca ampliar o
volume de transferências intergovernamentais oriundas do Governo Federal.

Tabela 4 – Classificação do erro de estimação do ERJ


Ano Erro Estimação Classificação
2008 -20,53% Subestimou
2009 -11,25% Subestimou
2010 -19,90% Subestimou
2011 -9,24% Subestimou
2012 -2,36% Subestimou
2013 -13,02% Subestimou
2014 -3,04% Subestimou
2015 6,95% Superestimou
Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa.
Passando a tratar efetivamente da arrecadação do ICMS, por meio da aplicação das
equações 3 e 4, foram calculadas as variáveis “taxa de crescimento da arrecadação” e “taxa
média de crescimento anual” de todos os estados para o período de 2008 a 2015. Após isso, foi
feita a classificação dos estados, onde segundo tais critérios o ERJ ocupou a vigésima posição
no ranking, conforme Tabela 5.

Tabela 5 – Percentual de evolução da arrecadação do ICMS dos estados brasileiros


UF PI SC PB - MA - RN - RJ - SP AM ES
Cresc.
Arrecadação
201,4 173,6 132,8 - 112,7 - 100,2 - 78,6 - 62,6 60,1 30,3
2008-2015
(%)
Taxa média
de
15,5 12,8 - 11,4 - 10,4 - 8,6 - 7,2 6,9 3,8
crescimento 17,1
anual (%)
Ordem 1 2 3 (...) 10 (...) 15 (...) 20 (...) 25 26 27
Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa.

Para realizar a verificação das hipóteses H3 e H4, foram realizados testes de diferenças
de médias para uma amostra, adotando como parâmetro de comparação os valores obtidos do
ERJ para as variáveis “taxa de crescimento da arrecadação” e “taxa média de crescimento
anual”, que são respectivamente 78,61% e 8,64%. O pressuposto de normalidade foi
confirmado para ambas as variáveis por meio do teste de Shapiro-Wilk. A estatística do teste
evidenciou uma média de 103,03% para a variável taxa de crescimento da arrecadação,
considerando 26 observações relativas aos estados brasileiros, excetuando-se o ERJ.
De acordo com o resultado do teste t de uma amostra, trazido na Tabela 6, verifica-se
que o p-valor (0,002÷2) é menor que o nível de significância (0,05) e que o valor da estatística
t é positivo (3,463), indicando a aceitação de H3. Logo, conclui-se que a taxa de crescimento
da arrecadação do ERJ é inferior à média dos demais estados.
Tabela 6 - Teste de t de diferença de média entre a taxa de crescimento da arrecadação do ICMS do ERJ
e a média dos demais estados brasileiros, no período de 2008 a 2015

Valor de Teste = 78.61


95% Intervalo de
Sig. (2 Diferença Confiança da Diferença
T df
extremidades) média Inferior Superior
Cresc. Arrecadação 2008-2015
(%) 3,463 25 0,002 24,42174% 9,8965% 38,9469%
Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa.

Quanto a variável taxa média de crescimento anual, a estatística calculou uma média de
10,44%, também levando em conta 26 observações atinentes aos estados brasileiros, a exceção
do ERJ. Segundo o resultado do teste t de uma amostra, trazido na Tabela 7, nota-se que o p-
valor (0,003÷2) é menor que o nível de significância (0,05) e que o valor da estatística t é
positivo (3,318), sugerindo a aceitação de H4. Assim, pode-se concluir que a taxa média de
crescimento anual da arrecadação do ERJ é inferior à média dos demais estados.

Tabela 7 – Teste de t de diferença de média entre a taxa de crescimento média anual da arrecadação de
ICMS do ERJ e dos demais estados, no período de 2008 a 2015
Valor de Teste = 8.64
95% Intervalo de Confiança da
Diferença Diferença
T df Sig. (2 extremidades)
média
Inferior Superior
Cresc. Médio
Anual
Arrecadação 3,318 25 ,003 1,80554% 0,6848% 2,9263%
2008-2015 (%)
Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa.

No que se refere à participação da arrecadação por ramo de atividade econômica, os


dados disponíveis para o ano de 2008 estavam em um formato diferente, dificultando a sua
inclusão no estudo. Sendo assim, considerando a arrecadação acumulada do ICMS do ERJ para
o período de 2009 a 2015, constatou-se que: a classe de atividade “Comércio; reparação de
veículos automotores e motocicletas” foi a que mais contribuiu, sendo responsável por 31,91%
da arrecadação; seguida pela classe “Indústria de transformação, com um percentual de 26,80%;
em sequência, constam “Informação e comunicação” e “Eletricidade e gás”, detentoras de
16,46% e 16,10%, respectivamente. Sendo assim, estas quatro grandes áreas foram
responsáveis por 91,27% do total arrecadado no período. As demais áreas se dividem em
“Indústrias extrativas” (4,43%), “Transporte, armazenagem e correio” (1,94%) e Outras
atividades (2,36%).
Figura 4 - Participação da Arrecadação por Atividade (%)

40%
Comércio; reparação de
35% veículos automotores e
30% motocicletas
Indústrias de transformação
25%
20% Informação e comunicação
15%
10% Eletricidade e gás
5%
0% Linear (Comércio; reparação
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 de veículos automotores e
motocicletas)
Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa.

Da observação da Figura 4, destaca-se que até o ano de 2012, as duas principais


atividades possuíam participação em patamares equivalentes. Entretanto, a partir de 2013, nota-
se um crescimento da participação da arrecadação das atividades de “Comércio; reparação de
veículos automotores e motocicletas” e um decréscimo em “Indústrias de transformação”.
Neste sentido, destaca-se que enquanto a arrecadação da primeira cresceu a uma taxa de
114,39%, a segunda não acompanhou tal resultado, evoluindo a razão de 46,72%.
Passando a abordar as receitas oriundas de transferências do governo central, foram
relacionadas as Transferências da União (correntes e de capital), para todos os estados no
período de 2008 a 2015. Antes de aplicar o teste de correlação, foi necessário tratar as
observações do ano de 2008 do ERJ e a de 2015 do Distrito Federal. Nos dois casos, as
observações originais foram substituídas por valores projetados com base na taxa média de
variação entre os demais períodos da amostra.
Considerando os valores absolutos consolidados de Transferências da União e de
arrecadação do ICMS, obteve-se um coeficiente r de Pearson de 0,99, em nível nacional, e de
0,89, especificamente para o ERJ. Para ambos os casos, tais resultados indicam uma forte
correlação em mesmo sentido, entre estas duas variáveis, ou seja, quanto maior o volume de
receitas oriundas de Transferências da União, maior a arrecadação com o ICMS, e vice-versa.
Este resultado sugere a ausência de um efeito de acomodação no esforço de arrecadação pela
influência das transferências federais.
Ainda quanto a este tópico, verificou-se que as taxas de crescimento de arrecadação de
ICMS e de receitas com Transferências Nacionais para o ERJ foram, respectivamente, 78,61%
e 33,84%. Enquanto isso, os demais estados brasileiros apresentaram, respectivamente, um
crescimento médio de 103,03% e 63,76% para estas mesmas taxas. Face ao exposto, observa-
se que no período estudado, o ERJ cresceu menos que a média dos demais estados, não só em
termos de arrecadação do ICMS, mas também em termos de receitas advindas de Transferências
da União.
No que se refere ao estudo dos possíveis impactos da arrecadação do ICMS para o
equilíbrio fiscal do ERJ, a Tabela 8 auxilia a compreender a evolução do nível de endividamento
do ERJ. Neste sentido, nota-se que a relação DCL/RCL cresceu 23,34% no período de 2008 a
2015, chegando ao nível de 197,77% neste último ano, se aproximando muito do limite máximo
de 200% estabelecido pela Resolução nº 40/2001 do Senado Federal.
Tabela 8 - Evolução dos Indicadores Fiscais do ERJ para o período de 2008 a 2015
Ano RCL (milhares) DCL (milhares) *DCL/RCL ICMS (milhares)
2008 31.830.885 51.041.607 160,35% 19.599.268
2009 28.976.688 47.204.513 162,91% 20.613.816
2010 34.534.904 53.952.732 156,23% 24.366.686
2011 39.268.345 57.269.426 145,84% 27.314.528
2012 40.613.414 67.063.120 165,13% 29.206.467
2013 47.064.197 72.375.121 153,78% 33.483.292
2014 46.045.517 82.048.346 178,19% 34.498.480
2015 51.224.316 101.307.562 197,77% 35.006.981
Taxa de crescimento do período (%) 60,93% 98,48% 23,34% 78,61%
Taxa média de crescimento anual (%) 7,03% 10,29% 3,04% 8,64%
*Limite máximo de 200% para a razão DCL/RCL, conforme Resolução nº 40/2001 do Senado Federal.
Fonte: Elaborada pelos autores a partir dos dados da pesquisa.

Pela análise da Tabela 8, percebe-se que a relação DCL/RCL cresceu em virtude de um


desequilíbrio entre as taxas de crescimento das DCL e das RCL, pois enquanto a DCL cresceu
98,48% no período, a RCL cresceu a razão de 60,93%. De forma análoga, fica evidenciado que
o ICMS, principal receita do ERJ, apresentou uma taxa de crescimento do 78,61%, também
inferior à taxa de evolução da DCL.
5 Conclusão
Este trabalho teve por objetivo verificar o nível de eficácia dos processos relacionados
à arrecadação do ICMS do Estado do Rio de Janeiro, discorrendo sobre os fatores que impactam
os processos de estimação e arrecadação deste tributo, bem como o equilíbrio fiscal deste
Estado. Sendo assim, a pesquisa analisou o comportamento de alguns índices, tais como erro
de estimação, taxa de crescimento da arrecadação e índices de gestão fiscal, buscando descrever
suas evoluções no período de 2008 a 2015, além de realizar comparações entre o ERJ e os
demais entes de mesmo nível federativo.
Inicialmente, no concernente ao erro de estimação, os resultados revelam que a média
do erro de estimação da arrecadação do ICMS no Estado do Rio de Janeiro foi de 10,79%, sendo
considerado significativamente superior à média dos demais entes estaduais, e configurando o
quinto maior erro médio de estimação de receitas do ICMS, no período de 2008 a 2015.
Entretanto, os resultados mostram que de maneira geral, a acurácia neste processo vem
aumentando nos últimos anos.
Quanto à arrecadação do ICMS propriamente dita, o Estado do Rio de Janeiro obteve
um crescimento da ordem de 78,61% durante o período de 2008 a 2015, ficando
significativamente abaixo da média nacional, que foi de 102,31% para o mesmo período. Além
disso, este resultado representa a oitava menor taxa de crescimento da arrecadação do ICMS
entre os estados brasileiros.
As receitas de ICMS se mostraram altamente correlacionadas com as Transferências da
União, tanto em nível nacional (0,99), quanto para o ERJ (0,89). Tais resultados contrariam a
existência de um efeito de acomodação no esforço de arrecadação pela influência das
transferências federais.
No tocante a arrecadação por atividades econômicas, no período de 2009 a 2015, o
trabalho indica que mais de 90% da arrecadação do ICMS do ERJ teve origem em quatro
principais atividades. Destacando-se as duas primeiras, observam-se as classes “Comércio;
reparação de veículos automotores e motocicletas”, responsável por 31,91% da arrecadação; e
“Indústria de transformação”, com um percentual de 26,80%. Entretanto, ressalta-se que
enquanto a arrecadação da primeira cresceu 114,39%, a segunda cresceu 46,72%.
No que tange o equilíbrio fiscal, nos últimos anos, o Estado do Rio de Janeiro acumulou
déficits orçamentários, ou seja, as despesas realizadas foram maiores do que as receitas
arrecadadas, o que compromete as finanças do estado. Adicionalmente, os resultados da
pesquisa sugerem que a Dívida Corrente Líquida cresceu em ritmo mais intenso do que as
Receitas com ICMS e as Receitas Correntes Líquidas como um todo. Este fato fez com que o
Estado se aproximasse perigosamente dos limites para endividamento previsto em lei e, logo,
indicando prejuízos ao seu equilíbrio fiscal.
Futuras pesquisas poderiam se encarregar de aplicar as análises realizadas neste
trabalho, em outros entes nacionais, considerando outros períodos, tributos e indicadores que
possam contribuir para uma melhor compreensão dos fenômenos relacionados à gestão fiscal
na Administração Pública.
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