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1.1.1 – Validade
ii) pode haver revogação de uma norma declarada inconstitucional? Sim, sem sombra de
dúvida, a despeito dessa revogação não ter qualquer efeito prático. Pode, contudo, ser
medida de segurança jurídica, evitando a sua aplicação por incautos. Assim o é, pois para a
norma ser revogada basta que ela exista. É o que ocorre com a norma declarada
inconstitucional. Ela perdeu a eficácia, mas não a vigência.
1.1.2 - Eficácia
A tradição brasileira costuma usar o termo “essa norma entra em vigor daqui a tantos
dias”. Contudo, a rigor, o correto seria dizer “essa norma começa a produzir efeitos daqui a
tantos dias”.
A grande dúvida hoje acerca da eficácia é saber se houve ou não revogação da LICC
em seus arts. 1º e 2º pela LC95/98, especificamente seus arts. 8º e 9º. Vejamos:
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meio ou processo. Vedada a distribuição, ainda que gratuita. Infratores sujeitos às
penalidades legais.
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Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que
outra a modifique ou revogue.
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare
[revogação expressa], quando seja com ela incompatível ou quando
regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior [revogação
tácita].
§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par
das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por
ter a lei revogadora perdido a vigência.
José Maria Leoni defende que a LICC nos artigos citados não foi revogada pelos
artigos da LC95/98, dizendo que pode haver compatibilização entre as normas. Para fazer
essa compatibilização deve ser aplicada a própria LICC, instrumento criado para tanto.
Assim, se da norma não constar a revogação expressa tácita ou a vacatio expressa,
continuará a valer o disposto na LICC.
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No que tange à aplicabilidade – José Afonso da Silva – trouxe grande luz sobre o
tema. Já efetividade deve ser necessariamente ligada ao Prof. Luis Roberto Barroso.
A rigor ambos os conceitos não formam institutos autônomos, sendo sim qualidades
das quais a eficácia pode dispor. Dessa forma, pode haver norma eficaz, porém não efetiva.
Assim, vejamos;
i) aplicabilidade
É a qualidade da norma que é aplicável a casos concretos. Por exemplo, uma norma
de direito penal não pode ser concretamente aplicada a um caso de direito de família. A
norma não se subsume ao caso concreto.
O prof. José Afonso da Silva resume bem o exposto, dizendo que a rigor a eficácia é
ligada à potencialidade – a eficácia é abstrata. Já a aplicabilidade é ligada à realizabilidade –
a aplicabilidade é concreta. É impossível dizer se a norma é aplicável ou não sem a análise
do caso concreto. Só aí se poderá dizer se a norma se subsume ao caso concreto.
ii) efetividade
Sua raiz deve ser buscada em Kelsen, que desenvolveu a eficácia jurídica – que temos
somente por eficácia nos termos já vistos – e a eficácia social – qualidade de uma norma que
é efetivamente cumprida no meio social. Quando isso ocorre a norma possui eficácia social.
Não é mais hoje seguida pela jurisprudência. Entretanto, ela é fundamental para o
entendimento da classificação moderna.
Aqui podemos indicar dois professores – Manoel Gonçalves Ferreira Filho (nacional) e
Thomas Cooley (estrangeiro).
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II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”
Para que essa norma seja aplicável aos casos concretos é necessária outra norma
legal que a regulamente? Obviamente, não. Ela basta em si.
Para a existência desses poderes é necessária a existência de uma norma legal que os
regulamentem? Também não.
A rigor, o art. 201 só passou a ser aplicada a partir da edição das leis 8.212/91
(custeio) e 8.213/91 (benefícios).
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Existem normas constitucionais que podem ter seus efeitos contidos por normas
legais. Assim, estas podem afastar a aplicação da norma constitucional em alguns casos
concretos.
Caso não houvesse a CLT, o trabalho, ofício ou profissão seriam totalmente livres.
Contudo, isso não ocorre, pois a consolidação traz limites ao exercício citado, como, por
exemplo, idade e condições de segurança mínima.
A finalidade da CLT não é tornar a norma constitucional aplicável, mas sim conter os
seus efeitos.
Mais uma vez uma norma constitucional teve seus efeitos contidos por uma norma
legal. Uma norma facultativa teve a finalidade de afastar a aplicação da Constituição em
alguns casos concretos.
2) nem toda norma é totalmente não auto-aplicável, ainda que assim classificada.
Toda norma constitucional possui pelo menos dois efeitos: revogatório – o simples
fato de ela existir revoga a norma anterior. Trata-se de efeito retroativo – e o efeito inibitório
– inibe que o legislador, no futuro, produza normas contrárias à norma constitucional. Trata-
se de um efeito prospectivo, ou seja, voltado para o futuro.
Portanto, não é certo dizer que há norma constitucional não auto-aplicável, pois todas
elas possuem pelo menos dois efeitos. Mais uma vez a crítica é feita ao excesso do nome.
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a) aplicabilidade direta
b) aplicabilidade integral
A norma constitucional não admite contenção da sua eficácia, pois, caso admitisse
seria de outra espécie, qual seja, de eficácia contida.
c) aplicabilidade imediata.
A norma constitucional pode ser aplicada a casos concretos a partir da sua publicação,
ou seja, sem solução de continuidade.
Os exemplos dessa espécie podem ser os mesmos citados antes para as normas auto-
aplicáveis.
Essa norma admite a contenção dos seus efeitos. Portanto, trata-se de uma resposta
à crítica vista anteriormente. A estas falta aplicabilidade integral. Mais uma vez os exemplos
podem ser os mesmos vistos anteriormente.
Institui ou organiza um órgão público. É o caso do art. 134, §1º, visto anteriormente.
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Em obra chamada aplicabilidade das normas constitucionais.
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Vista essa classificação, que é preponderante, pode-se a ela fazer uma crítica mortal,
que fez com que fosse abandonada pelos autores de vanguarda.
O que se quer dizer com aplicação imediata? Muitos autores dizem que a norma é
constitucional de eficácia plena. Contudo, esse entendimento deve ser desconsiderado, pois
não é isso que o parágrafo quer dizer, pois existem vários direitos fundamentais veiculados
por norma de eficácia limitada e mesmo contida.
A aplicação imediata deve ser entendida à luz da teoria citada. Isso quer dizer que as
normas constitucionais que definam direitos constitucionais independentemente da
classificação abstrata que tenham, dão ensejo à prestação jurisdicional naquilo que elas
comportarem. Logo, sendo de eficácia plena, assim continuam, sendo contida, também. O
que não pode ocorrer é negativa da prestação jurisdicional pelo fato da norma constitucional
não ter recebido norma regulamentadora.
O defensor público que atue no núcleo de fazenda pública pode postular ações
judiciais contra os entes políticos. Chega ao defensor um hipossuficiente que não consegue
remédio para tratar sua doença. Há ação cabível? Qual é? Quem seria o demandado?
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Algumas opções para as ações são: mandado de segurança, porém não é a melhor
saída para o caso, pois através dele só será resolvida uma situação e não o problema da não
distribuição de medicamentos para os hipossuficientes. Não haverá reiteração da prestação
devida. Também é cabível o mandado de injunção, contudo, mais uma vez não é a medida
mais adequada, vez que não será possível a obtenção de uma prestação estatal, apenas a
edição de uma norma jurídica erga omnes.
O que se objetiva com a ação não é apenas a entrega de um medicamente, mas sim a
obtenção de qualquer prestação necessária para recompor a saúde do hipossuficiente, ou
seja, a implementação de uma política pública.
2) O pedido deve ser lastreado no art. 461 que versa sobre obrigações de fazer e não no art.
273 do CPC.
3) O STF tem jurisprudência consolidada no sentido que no caso específico do art. 196 da CF
a obrigação é solidária da União, dos Estados e dos Municípios, podendo a ação ser aforada
em litisconsórcio passivo facultativo.
4) quais critérios devem ser levados em consideração pelo MP ao oferecer parecer e, mais
importante, pelo juiz ao fixar o quantum, ou seja, o que deve ser prestado ao
hipossuficiente?
Outro caso possível: um concursando hipossuficiente que não tem dinheiro suficiente
para o pagamento da taxa de inscrição e o concurso não contempla a isenção do pagamento
dessa taxa. Há ação cabível? Qual é? Quem seria o demandado?
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direito fundamental, a prestação jurisdicional não pode ser negada dentro dos limites da
norma constitucional.
Talvez a única diferença seja a medida cabível. Na hipótese não se pretende uma
prestação reiterada do Estado, podendo, portanto, ser utilizado o mandado de segurança
com fundamento na Constituição do Estado e na Constituição Federal, art. 5º, §1º. Para os
outros Estados que não contemplem essa norma específica na Constituição, o fundamento
legal pode ser a Constituição Federal – art. 5º, caput, igualdade e art. 37, §2º, acesso ao
cargo público.
Quer dizer que a Constituição ocupa uma posição hierárquica superior em relação às
demais espécies normativas que formam a ordem jurídica.
Significa dizer que a Constituição atribui caráter sistemático à ordem jurídica, visto ser
fundamento de validade comum de toda essa ordem. Aliás, essa também é a idéia que se
extrai do princípio anterior e da pirâmide de Kelsen.
Significa dizer que havendo dúvida sobre a validade de uma norma, deve ser preferida
a interpretação que lhe conserve a validade. Portanto, se uma norma tiver mais de uma
interpretação, sendo uma delas constitucional e outras não, deve-se dar preferência ao
sentido que seja constitucional, ou seja, conforme a Constituição.
Sabe-se que as presunções podem ser relativas ou absolutas. Isto posto, o princípio
em tela quer dizer que toda norma possui a presunção relativa de ser válida, ou seja,
produzida conforme a Constituição.
Como dito, a presunção é relativa, podendo ser elidida, isso ocorrendo na hipótese de
declaração de inconstitucionalidade, ou então transformada em absoluta. Esta última
possibilidade estará presente quando se falar em declaração de constitucionalidade, pois, a
rigor, o que existe é a conversão da presunção relativa de constitucionalidade para aquela de
caráter absoluto.
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Por esse princípio deve-se atribuir à norma a interpretação que lhe dê maior eficácia,
sendo vedada interpretações que diminuíam ou lhe retirem a eficácia.
Portanto, tem correlação com o art. 5º, §1º. Aliás, esse dispositivo é a
consubstanciação constitucional do princípio em comento.
Esse princípio não é exclusivo do direito constitucional, tendo, contudo, nele origem.
i) francês
ii) americano
iii) alemão
É o que estudaremos. Tem por base o livro do prof. Konrad Hesse. Em português,
temos o livro do prof. Canotilho e, no Brasil, o prof. Gilmar Ferreira Mendes.
a) adequação
O meio escolhido deve ser adequado ao fim visado. Por exemplo, proibir a venda de
álcool durante o carnaval para limitar a transmissão de doenças venéreas demonstra um
meio inadequado para o fim visado. Dessa forma, a norma não é razoável, sendo, portanto,
inconstitucional ou ilegal.
b) necessidade
O meio escolhido deve ser o necessário ao fim visado. Em outras palavras, busca-se
vedar os excessos. Por exemplo, uma indústria despeja detritos químicos em um rio. Há
ação civil pública aforada e a prova pericial acostada demonstra que a instalação de filtros
resolveria o problema. Em seguida surge um ato do poder público, para dar satisfação ao fim
visado, qual seja, redução da poluição ambiental, que enseja o fechamento da indústria.
Pergunta-se: havia um meio menos gravoso para a obtenção do mesmo fim? Sim. Por
isso nesse caso faltará a necessidade, pois o meio escolhido é excessivo em relação ao fim.
Portanto, se não há necessidade não há razoabilidade, logo, há inconstitucionalidade ou
ilegalidade.
c) proporcionalidade
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1) os exemplos dados foram muito claros acerca dos vetores ausentes. Contudo, a rigor, nos
casos concretos pode haver a falta de todos os vetores ou apenas de um deles.
2) esse princípio não é aplicado somente ao direito constitucional, mas sim a todo o direito
brasileiro.
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