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EXERCÍCIO DA ATIVIDADE
RESUMO
O presente artigo tem como tema a postura ética do advogado diante do crime de lavagem
de dinheiro, cujo objetivo é trazer para a discussão como este profissional deve se portar
diante da comprovação de que tal crime está sendo praticado. O crime de lavagem de
dinheiro está previsto na lei n.º 9.613/1998, que foi devidamente alterada pela lei n.º
12.683/2008. A metodologia aplicada foi a de pesquisa bibliográfica, abordado através de
livros, artigos e pesquisas em sites pertinentes ao tema.
1. INTRODUÇÃO
Fazer um artigo a respeito de lavagem de dinheiro parece não ser novidade, já que a
mídia brasileira, em especial, publica e traz a tona quase que diariamente, o envolvimento
do tanto dos narcotraficantes como de grandes empresários na prática do referido delito. O
tema aqui abordado é de extrema relevância social, já que o crime de lavagem de dinheiro
prejudica a sociedade no campo socioeconômico.
O importante dentro de qualquer profissão é procurar ser ético, seguir uma linha, mas
infelizmente, o que se vê, diante da crescente onda de corrupção é que a famosa lei de
Gerson de “levar vantagem em tudo”, provocando um crescimento em várias modalidades
criminosas, em especial da lavagem de dinheiro.
O mais importante é que haja uma análise da lei 9.613/1998, que foi modificada pela
lei 12.683/2012 e que infelizmente, não etilizada diuturnamente pelo profissional de direito,
principalmente pelos especialistas na área penal e, por esta razão, muitas vezes não
percebem a necessidade de aplicá-la com maior efetividade.
Entre os avanços ocorridos com o advento da lei 12.683/20012, pode-se ressaltar: (I)
foi revogado do art. 1º o rol taxativo de crimes considerados antecedentes de lavagem de
dinheiro e, (II) o rol de pessoas que são obrigadas a se submeterem ao cadastro de
comunicação de atividades suspeitas, foi ampliado, conforme previsto no art. 9º, parágrafo
único, XIV, que deverá ser abordado neste artigo.
2. A ÉTICA
A ética está inserida junto a humanidade, desde que o homem decidiu viver em
sociedade, já que ela trabalha como uma balança onde procura-se pesar e equilibrar as
diferenças comportamentais, procurando medir qual a utilidade, finalidade, direcionamentos
e consequências de determinadas atitudes, sobre a ação humana em si.
Segundo Bittar (2012, p. 23) “ ação humana é uma movimentação de energias que se
dá no tempo e no espaço. “ Esta ação, ainda segundo o autor, é uma movimentação libidinal,
ou seja, está ligada à libido, aos instintos, no sentido freudiano, mediante a uma determinada
manifestação de comportamento como trabalhar ou roubar, elogiar ou ofender, ou ainda por
um conjunto de intenções, como por exemplo, a intenção de ganhar dinheiro mediante
emprego de suas próprias energias, ou de forma rápida, através de sacrifício dos outros.
Isto quer dizer que tanto o preceito cristão como o de Kant partem de um ponto
coletivo, tendo uma perspectiva em comum, qual seja: “amai-vos uns aos outros como a ti
mesmo”, significa amar de forma igualitária a todos, da mesma maneira que ama a si
mesmo, fazendo um convite ao autoconhecimento. Já o pensamento de Kant demonstra clara
necessidade de que, segundo Almeida (2002, p. 14) “o preceito que uma pessoa tenha
escolhido como guia para suas ações deva poder ser utilizado como princípio de legislação
universal”, ou seja, que possa ser usado por todos os homens e mulheres, propondo
harmonia e equilíbrio da sociedade, suprimindo desta forma, os conflitos.
Em resumo, a ética é a ciência ou filosofia que faz a seleção das melhores ações
humanas, tendo como finalidade o interesse coletivo universal, tendo como fontes a religião,
as leis e a moral. No que diz respeito a moral, a mesma tem como base o próprio
comportamento social. O comportamento moral não se baseia numa reflexão, mas nos
costumes de determinada sociedade em determinado lugar em preciso tempo histórico.
Por não se basear numa reflexão seja filosófica, seja científica, a moral não dispõe de
pretensões universais, tampouco normativas. Beatriz di Giorgi (1995, p. 241), assim a
define:
Diante de tudo que foi exposto, conclui-se que a moral está baseada no
comportamento da sociedade e que a ética, reflete no comportamento, criando normas cuja
finalidade é estabelecer as melhores ações.
No que diz respeito à virtude, a ética está relacionada ao gênero da pessoa, de como
ela deve ser, as ações que devem ser tomadas e as qualidades que melhoram a vida, bem
como os vícios que devem ser descartados por serem negativos e prejudiciais ao
desenvolvimento social Portanto, para que o homem seja virtuoso é preciso que realize
ações consideradas virtuosas, que ajudarão a indicar quais os caminhos que deverão ser
seguidos, orientando o homem a escolher as ações para ser feliz e poder atingir a meta de
manter-se virtuoso e longe dos vícios já citados anteriormente.
3. A ÉTICA DO DIREITO
O estudo da ética é de suma importância para o exercício de qualquer profissão, mas
em especial do operador de Direito, já que o mesmo se depara no seu cotidiano com
realidades que podem influenciar no seu comportamento moral e que pode ajuda ar a fazer
escolhas que venham ou não a serem justas. Muitos autores do ramo jurídico dizem que a
principal função do Direito é ordenar a vida social. Por este motivo, o Direito procura
respeitar o campo de atuação considerado delimitado pela ética.
Às vezes é uma profissão ingrata porque as pessoas como um todo não entendem que
o advogado tem que defender, quem quer que seja, porque assim a lei prevê. Muitas vezes,
quando ocorrem casos de grande repercussão na mídia, o advogado é quem primeiro aparece
e que primeiro é criticado, mas faz parte do ofício.
A defesa necessita ser coerente e por este motivo é preciso que haja argumentos e
bases fundamentados na verdade, pois é um dever do advogado, conforme previsto Art.2º,
parágrafo único, inciso II do Código de Ética da OAB: São deveres do advogado: II - atuar
com destemor, independência, honestidade, decoro, veracidade, lealdade, dignidade e boa-
fé.
Por este motivo a Ética anda junto ao advogado, pois auxilia o profissional a
desempenhar a sua profissão de forma digna e correta perante à sociedade, sendo, portanto,
indissociável do exercício do Direito.
Desta forma, um termo utilizado nos Estados Unidos, passou a ser utilizado para
determina este tipo de prática, sendo que no ano de 1988 aderido pelos países através da
ratificação da Convenção de Viena. Na Espanha, Portugal e França o nome adotado é
“branqueamento” e na Itália “reciclagem”
A nível de Brasil, o crime de lavagem de dinheiro é uma prática prevista na lei penal
especial n.º 9.613/1998, quando foi criado o COAF – Conselho de Controle de Atividades
Financeiras, órgão ligado ao Ministério da Fazenda e que tem como missão “Produzir
Inteligência Financeira e promover a proteção dos setores econômicos contra a lavagem de
dinheiro e o financiamento ao terrorismo. ”
Colocação. Neta primeira etapa, são utilizadas atividades voltadas ao comércio, bem
como instituições financeiras, bancárias ou não, para inserir, de forma inicial, pequenos
valores, no sistema financeiro. Esses valores geralmente são movimentados nos conhecidos
paraísos fiscais, sendo loco depois direcionado a criação de empresas que trabalham também
apenas com dinheiro vivo. Desta maneira, o dinheiro obtido das atividades considerada
“licitas” são depositadas no banco.
Desta forma, demonstra-se claramente que para que tal prática seja combatida é
necessário que de ataque diretamente o patrimônio do criminoso. Somente dessa forma,
haverá sucesso e provavelmente a redução deste tipo de crime.
Para Botini (2014, p. 02), no que se refere ao dever de comunicação que é imposto
aos advogados, no que diz respeito às atividades suspeitas de lavagem que são praticados
pelo cliente, é distinto pela doutrina em duas categorias: (i) advogados de representação
contenciosa, que são denominados dessa forma por atuarem em contencioso judicial ou
extrajudicial, ou que atuam prestando serviços de consultoria, ou ainda, aqueles que
proferem pareceres utilizados como instrumentos de litígios judiciais ou extrajudiciais ou
para determinação da situação jurídica do cliente; (ii)advogados de operações são aqueles
cuja característica é colaborar através de seu conhecimento jurídico, para consolidar
operações financeiras, comerciais, tributárias ou similares, sem que essa atividade tenha
relação direta com um litígio ou processo.
Mas é importante ressaltar que a advocacia é uma das profissões que está inclusa no
rol das que trabalham com o sigilo cliente/profissional, não podendo, portanto, divulgar
informações que lhe são passadas. Assim, o Estatuto da OAB, em seu art. 7º, inciso XIX,
garante ao profissional de direito recusar-se a depor como testemunha em processo no qual
funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi
advogado, mesmo quando autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato
que constitua sigilo profissional, sendo penalizado o profissional por ter cometido a violação
do sigilo, sem uma causa plausível.
Então ocorre uma contradição no que diz respeito à lavagem de dinheiro, porque nem
a lei 9.613/1998 pode ser desacatada e nem o estatuto, então o que fazer?
Segundo Milanez (2017, p. 03) a posição defendida não é unanime. Para o jurista:
Neste sentido, a lei de Lavagem de Dinheiro sequer revogou de nenhuma forma, seja
expressa ou tacitamente o sigilo profissional do advogado em relação ao seu cliente, previsto
no Estatuto da OAB, sendo, portanto a inexistência da revogação constatada nas seguintes
hipóteses (MILANEZ, 2017, p. 04): a) a Lei de Lavagem de Dinheiro não revoga
expressamente o Estatuto da Advocacia; b) tampouco regula inteiramente a matéria do
Estatuto e, c) não há incompatibilidade entre as disposições de ambas as leis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O crime de lavagem de dinheiro tornou-se uma prática realizada em todo o mundo,
principalmente com o advento da internet, que tem facilitado e muito a prática de tal delito.
Muitas vezes a população não dá a devida importância, pois não se trata de um crime
violento, entretanto, os prejuízos são sentidos quase que diariamente, quando se vai a um
hospital e não consegue marcar uma consulta ou um exame, ao ver escolas abandonadas,
sem materiais didáticos disponível para que desenvolva um ensino de qualidade, ou ainda,
quando não se pode atender um telefone celular na rua por falta de segurança. Tudo isso se
deve ao desvio de recursos pelos agentes públicos que utilizam a prática de lavagem de
dinheiro para proveito próprio e esvaziamento dos cofres públicos.
Quanto a postura do advogado, o mesmo tem que manter o sigilo profissional, sendo
obrigado ao dever de conpliance. Entretanto, quando o mesmo está inserido pela pelos arts
9º ao 11 da Lei 9.613/1998, como um dos profissionais que terão identificar os clientes que
estão praticando o ato, não quer dizer que seja quebra do sigilo já que embora o Estatuto da
OAB ressalte que o mesmo pode abster-se de colaborar, o que é previsto é que o advogado
comunique diretamente ao COAF, se suspeitar da prática. Dessa forma, não fere o sigilo
profissional, já que não haverá publicidade.
BITTAR, Eduardo C.B. Curso de Ética Jurídica. 9. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
BRASIL. Lei n.º 9.613/1998, modificada pela lei 12.683/2012. Lei de Lavagem de
Dinheiro. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9613.htm . Acesso em
21 out 2017.
CRUZ, Rafaela Araújo da. A nova lei da Lavagem de Dinheiro: uma abordagem crítica a
respeito do papel do advogado na nova lei. Brasília: FAJS, 2014.
NALINI, José Renato. Ética Geral e profissional. 9ª ed. Revista, atualizada e ampliada.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.