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A LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO E A CONDUTA ÉTICA DO ADVOGADO NO

EXERCÍCIO DA ATIVIDADE

RESUMO

O presente artigo tem como tema a postura ética do advogado diante do crime de lavagem
de dinheiro, cujo objetivo é trazer para a discussão como este profissional deve se portar
diante da comprovação de que tal crime está sendo praticado. O crime de lavagem de
dinheiro está previsto na lei n.º 9.613/1998, que foi devidamente alterada pela lei n.º
12.683/2008. A metodologia aplicada foi a de pesquisa bibliográfica, abordado através de
livros, artigos e pesquisas em sites pertinentes ao tema.

PALAVRAS-CHAVE: Ética, lavagem de dinheiro, advogado, dever.

1. INTRODUÇÃO
Fazer um artigo a respeito de lavagem de dinheiro parece não ser novidade, já que a
mídia brasileira, em especial, publica e traz a tona quase que diariamente, o envolvimento
do tanto dos narcotraficantes como de grandes empresários na prática do referido delito. O
tema aqui abordado é de extrema relevância social, já que o crime de lavagem de dinheiro
prejudica a sociedade no campo socioeconômico.

Quando praticado por pessoas da chamada “elite”, o crime muda de denominação e


passa a ser conhecido como crime do Colarinho Branco” que segundo Cruz (2014, p. 08), “
a tipificação não possui uma denominação certa e precisa, mas sim, características
semelhantes que tornam os crimes comuns a essa nomenclatura englobando dessa maneira o
delito codificado na legislação nacional na forma da Lei n.º 9.613/98. ”

Infelizmente, tal prática está atingindo em cheio a sociedade brasileira como um


todo, já que os políticos e governantes, de forma inescrupulosa têm desviado verbas públicas
em prol de seus próprios interesses, provocando verdadeiros rombos nos cofres públicos e
um prejuízo econômico e social sem precedentes. Por isso mesmo, a lavagem de dinheiro é
conhecida como “crime parasita”.

Dentro do contexto abordado, surgem dois pontos a serem discutidos: a ética e a


postura do operador de direito diante de tal modalidade criminosa. Neste aspecto, será
importante observar o que está previsto na Lei n.º 9.613/1998, com referência ao delito e os
setores que tem obrigação de colaborar com a investigação de prováveis atos do esquema de
lavagem de dinheiro, dentre eles, como já se sabe, o próprio advogado.

O importante dentro de qualquer profissão é procurar ser ético, seguir uma linha, mas
infelizmente, o que se vê, diante da crescente onda de corrupção é que a famosa lei de
Gerson de “levar vantagem em tudo”, provocando um crescimento em várias modalidades
criminosas, em especial da lavagem de dinheiro.

Assim em um primeiro momento, será necessário fazer um estudo da ética, do seu


conceito, sua ligação com a linguagem moral, sua influência social e do cultivo das virtudes.
Serão ressaltados também neste artigo a ética profissional, o código de ética e especialmente
a ética do advogado e sua postura perante o crime de lavagem de dinheiro.

O mais importante é que haja uma análise da lei 9.613/1998, que foi modificada pela
lei 12.683/2012 e que infelizmente, não etilizada diuturnamente pelo profissional de direito,
principalmente pelos especialistas na área penal e, por esta razão, muitas vezes não
percebem a necessidade de aplicá-la com maior efetividade.

Entre os avanços ocorridos com o advento da lei 12.683/20012, pode-se ressaltar: (I)
foi revogado do art. 1º o rol taxativo de crimes considerados antecedentes de lavagem de
dinheiro e, (II) o rol de pessoas que são obrigadas a se submeterem ao cadastro de
comunicação de atividades suspeitas, foi ampliado, conforme previsto no art. 9º, parágrafo
único, XIV, que deverá ser abordado neste artigo.

2. A ÉTICA

A ética está inserida junto a humanidade, desde que o homem decidiu viver em
sociedade, já que ela trabalha como uma balança onde procura-se pesar e equilibrar as
diferenças comportamentais, procurando medir qual a utilidade, finalidade, direcionamentos
e consequências de determinadas atitudes, sobre a ação humana em si.

Segundo Bittar (2012, p. 23) “ ação humana é uma movimentação de energias que se
dá no tempo e no espaço. “ Esta ação, ainda segundo o autor, é uma movimentação libidinal,
ou seja, está ligada à libido, aos instintos, no sentido freudiano, mediante a uma determinada
manifestação de comportamento como trabalhar ou roubar, elogiar ou ofender, ou ainda por
um conjunto de intenções, como por exemplo, a intenção de ganhar dinheiro mediante
emprego de suas próprias energias, ou de forma rápida, através de sacrifício dos outros.

No sentido etimológico, o termo “ética” deriva do termo grego “etho”, cujo


significado é “costume ou hábito”, no que diz respeito ao caráter, comportamento pessoal,
que decorre da natureza e convenções sócio educacionais. O termo “éthe”, diz respeito a um
conjunto de hábitos ou comportamento de grupos, ou da própria coletividade, podendo,
portanto, corresponder aos próprios costumes.

O foi de importância primordial dentro do parâmetro da ética, no momento em que


adotou como lema “amais-vos uns aos outros como a ti mesmo “ (João 15:12-17), dando
uma das definições mais corretas à ética, indo diretamente ao ponto, relacionando o
interesse comum ao coletivo. Este mesmo preceito está contido no campo da ética de
Emmanuel Kant, que dizia: “Age de tal modo que a máxima da tua vontade possa valer
sempre ao mesmo tempo como princípio da uma legislação universal. ” (apud, BITTAR,
2001, p. 258)

Isto quer dizer que tanto o preceito cristão como o de Kant partem de um ponto
coletivo, tendo uma perspectiva em comum, qual seja: “amai-vos uns aos outros como a ti
mesmo”, significa amar de forma igualitária a todos, da mesma maneira que ama a si
mesmo, fazendo um convite ao autoconhecimento. Já o pensamento de Kant demonstra clara
necessidade de que, segundo Almeida (2002, p. 14) “o preceito que uma pessoa tenha
escolhido como guia para suas ações deva poder ser utilizado como princípio de legislação
universal”, ou seja, que possa ser usado por todos os homens e mulheres, propondo
harmonia e equilíbrio da sociedade, suprimindo desta forma, os conflitos.

Em resumo, a ética é a ciência ou filosofia que faz a seleção das melhores ações
humanas, tendo como finalidade o interesse coletivo universal, tendo como fontes a religião,
as leis e a moral. No que diz respeito a moral, a mesma tem como base o próprio
comportamento social. O comportamento moral não se baseia numa reflexão, mas nos
costumes de determinada sociedade em determinado lugar em preciso tempo histórico.
Por não se basear numa reflexão seja filosófica, seja científica, a moral não dispõe de
pretensões universais, tampouco normativas. Beatriz di Giorgi (1995, p. 241), assim a
define:

Conceituamos moral, por sua vez, como algo particularizante em relação à


ética, envolta em subjetividades e diversificada demais para sustentar leis
objetivas. Mais uma vez reforçamos o papel de etimologia como básico
ponto de partida: se moral é algo que está de acordo com as tradições
referentes apenas ao comportamento social, como poderia ser ela, se não
abarca outros comportamentos que não o social?

Diante de tudo que foi exposto, conclui-se que a moral está baseada no
comportamento da sociedade e que a ética, reflete no comportamento, criando normas cuja
finalidade é estabelecer as melhores ações.

No que diz respeito à virtude, a ética está relacionada ao gênero da pessoa, de como
ela deve ser, as ações que devem ser tomadas e as qualidades que melhoram a vida, bem
como os vícios que devem ser descartados por serem negativos e prejudiciais ao
desenvolvimento social Portanto, para que o homem seja virtuoso é preciso que realize
ações consideradas virtuosas, que ajudarão a indicar quais os caminhos que deverão ser
seguidos, orientando o homem a escolher as ações para ser feliz e poder atingir a meta de
manter-se virtuoso e longe dos vícios já citados anteriormente.

3. A ÉTICA DO DIREITO
O estudo da ética é de suma importância para o exercício de qualquer profissão, mas
em especial do operador de Direito, já que o mesmo se depara no seu cotidiano com
realidades que podem influenciar no seu comportamento moral e que pode ajuda ar a fazer
escolhas que venham ou não a serem justas. Muitos autores do ramo jurídico dizem que a
principal função do Direito é ordenar a vida social. Por este motivo, o Direito procura
respeitar o campo de atuação considerado delimitado pela ética.

Os profissionais de Direito, por possuírem um regramento voltado a sua atividade


profissional e mediante o caráter moral e social em que está inserido a sua profissão ,
necessita dispor de um controle efetivo no cumprimento das normas que regem a sua
atuação Significa dizer que a profissão é regida e fiscalizada por órgãos que dispõem de
poder decisório , que influencia diretamente na atuação do operador de Direito, inclusive
com poderes de cessar a habilitação profissional, além do cargo, função ou qualquer
atividade que venha desempenhar.

Deste modo, como em qualquer área, a profissão jurídica dispõe de mandamentos


basilares que se encontram estruturados conforme as normas especificas da atividade em
detrimento das demais. Para a jurista Fabíola Dantas (2004):

Em Direito, quando se fala em Ética jurídica, o que se entende por isso é


ética profissional, ou seja, para os operadores do Direito, a ética é um
conjunto de regras de conduta que regulam a atividade jurisdicional, visando
a boa prática da função, bem como a preservação da imagem do próprio
profissional e de sua categoria. É, dessa forma, um tipo específico de
avaliação ou orientação da prática jurídica que se encontra paralelo à
orientação determinada pelas normas processuais e pelas normas objetivas
de Direito, e para a qual também se pode conceber uma certa forma jurídica
de codificação - códigos de ética, e também uma certa forma de sanção -
tribunais de ética. A Ética jurídica é, portanto, formulada a partir da prática
profissional do Direito.
Ao conjunto dessas regras e princípios que regem as atividades dos operadores de
direito, denomina-se deontologia forense. O temo deriva do grego deontos (dever) e logos
(tratado), tendo a expressão criada pelo filósofo inglês Jeremy Bentham, em sua obra
Deonthologie or Science of Morality. Nalini (1999, p. 173) diz que “deontologia é a teoria
dos deveres. Deontologia profissional se chama o complexo de princípios que disciplinam
particularidades comportamentos do integrante de determinada profissão. ”

O que se percebe dentro deste metier é que as profissões especificamente jurídicas


são, quase em sua totalidade, profissões que são regulamentadas, legalizadas e regidas por
normas e princípios éticos, por envolver de modo significativo a coletividade, não sendo,
portanto, profissionais que possam exercer de forma livre e desregrada a sua função, mas
sim de maneira vinculada, tendo deveres e obrigações que devem ser seguidos, além de ter
que manter o comportamento e condutas ilibadas.

Desta feita, quando a Constituição define a advocacia como atividade primordial


para a justiça, confere a mesma a máxima autoridade normativa a essa atividade,
demonstrando desta maneira a importância e o compromisso que o advogado tem com a
sociedade, procurando defender o indivíduo, não importando a opinião pertinente ao caso.
Além da Constituição, o próprio Código de Ética prevê que o advogado é indispensável à
administração da Justiça, é defensor do Estado Democrático de Direito e dos Direitos
Humanos e também dos direitos e garantias fundamentais, ou seja, ele tem a obrigação de
defender as leis e acima de tudo, o cumprimento dos deveres constitucionais, assegurando
que os direitos dos cidadãos sejam respeitados.

Às vezes é uma profissão ingrata porque as pessoas como um todo não entendem que
o advogado tem que defender, quem quer que seja, porque assim a lei prevê. Muitas vezes,
quando ocorrem casos de grande repercussão na mídia, o advogado é quem primeiro aparece
e que primeiro é criticado, mas faz parte do ofício.

A defesa necessita ser coerente e por este motivo é preciso que haja argumentos e
bases fundamentados na verdade, pois é um dever do advogado, conforme previsto Art.2º,
parágrafo único, inciso II do Código de Ética da OAB: São deveres do advogado: II - atuar
com destemor, independência, honestidade, decoro, veracidade, lealdade, dignidade e boa-
fé.

Por este motivo a Ética anda junto ao advogado, pois auxilia o profissional a
desempenhar a sua profissão de forma digna e correta perante à sociedade, sendo, portanto,
indissociável do exercício do Direito.

4. O CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO


O termo “Lavagem de Dinheiro” foi utilizado inicialmente na cidade de Chicago, nos
Estados Unidos nos anos 30, durante o período da “Lei Seca”, onde a Máfia Italiana,
chefiada no período por um dos maiores gangsteres da história Al Capone, dominava o
comércio ilegal de bebidas, a prostituição e a extorsão. Para que não chamasse a atenção
com as atividades ilícitas que desenvolvia, Al Capone começou a comprar redes de
lavanderias conhecidas como Sanitary Cleaning Shops que eram utilizadas para ocultar o
dinheiro adquirido de forma ilícita, fazendo com que os valores fossem investidos no
referido comércio para que se tornassem lícitos de maneira aparente.

Desta forma, um termo utilizado nos Estados Unidos, passou a ser utilizado para
determina este tipo de prática, sendo que no ano de 1988 aderido pelos países através da
ratificação da Convenção de Viena. Na Espanha, Portugal e França o nome adotado é
“branqueamento” e na Itália “reciclagem”
A nível de Brasil, o crime de lavagem de dinheiro é uma prática prevista na lei penal
especial n.º 9.613/1998, quando foi criado o COAF – Conselho de Controle de Atividades
Financeiras, órgão ligado ao Ministério da Fazenda e que tem como missão “Produzir
Inteligência Financeira e promover a proteção dos setores econômicos contra a lavagem de
dinheiro e o financiamento ao terrorismo. ”

A prática da lavagem de dinheiro é considerada como um tipo penal autônomo e


parasita, já que provoca danos que podem gerar grandes prejuízos à economia e à sociedade,
minando, inclusive as políticas sociais, já que muitos valores que deveriam ser aplicados na
saúde, educação, segurança acabam sendo desviados para outras finalidades que não estas.

O crime de lavagem de dinheiro envolve três etapas, quais sejam (ZAMBIASSI,


2003, PO.07):

Colocação. Neta primeira etapa, são utilizadas atividades voltadas ao comércio, bem
como instituições financeiras, bancárias ou não, para inserir, de forma inicial, pequenos
valores, no sistema financeiro. Esses valores geralmente são movimentados nos conhecidos
paraísos fiscais, sendo loco depois direcionado a criação de empresas que trabalham também
apenas com dinheiro vivo. Desta maneira, o dinheiro obtido das atividades considerada
“licitas” são depositadas no banco.

Ocultação. Depois que o dinheiro foi colocado, várias operações de cunho


complexo, tanto a nível nacional como internacional, cujo objetivo é tornar difícil o
rastreamento dos balanços contábeis. O objetivo desta etapa, segundo Zambiassi (2003, p.
07) é “cortar a cadeia de evidências, ante a possibilidade de eventuais investigações sobre a
origem do dinheiro”.

Integração. Última etapa do ilícito. O dinheiro é integrado nos setores considerados


regulares na economia. Desta forma, são criadas empresas de fachadas que procuram
“investir nos negócios que facilitem suas atividades” (ZAMBIASSI, 2003, p. 08). A partir
daí torna-se bem mais fácil e eficiente legalizar os valores ilegais.

Infelizmente, é praticamente impossível avaliar os prejuízos recorrentes, já que os


meliantes não costumam a documentar os valores desviados. O Ministério Público Federal
(2014), reconhece as dificuldades de combater a prática e ressalta que:
Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que os danos deste delito são
dificilmente qualificáveis. A lavagem de dinheiro, por sua própria natureza,
está orientada para o sigilo, não se prestando por isso, a análises estatísticas.
Não existem estimativas confiáveis sobre a magnitude do problema em nível
global, o que significa que ele não seja grave e não mereça a atenção de
todos os países.

Desta forma, demonstra-se claramente que para que tal prática seja combatida é
necessário que de ataque diretamente o patrimônio do criminoso. Somente dessa forma,
haverá sucesso e provavelmente a redução deste tipo de crime.

5. A Reflexão sobre a conduta do advogado no crime de lavagem de dinheiro sob a


égide do art. 9º, parágrafo único, XIV da Lei n.º 9.613/1998

Dentro deste contexto, é importante salientar o papel do advogado colaborador no


combate da lavagem de dinheiro. Após a modificação da Lei 9.613/1998, ocorreu um
aumento dos setores que são obrigados a ajudar na identificação de quem está praticando o
ilícito e comunicar à COAF.

Dentre os profissionais estão os que os que desempenham suas funções nos


chamados “setores sensíveis” e que estão propensos a sofrerem com a lavagem de dinheiro e
que se encontram devidamente listados no art. 9º, parágrafo único, XIV da Lei n.º
9.613/1998, quais sejam:

XIV – as pessoas jurídicas que prestem, mesmo que eventualmente, serviços


de assessoria, consultoria, contadoria, auditoria, aconselhamento ou
assistência, de qualquer natureza, em operação:
a) de compra e venda de imóveis, estabelecimentos comerciais ou industriais
ou participações societárias de qualquer natureza
b) de gestão de fundos, valores mobiliários ou outros ativos
c) de abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança, investimento ou
de valores mobiliários
d) de criação, exploração ou gestão de sociedades de qualquer natureza,
fundações, fundos fiduciários ou estruturas análogas
e) financeiras, societárias ou imobiliárias;
f) de alienação ou aquisição de direitos sobre contratos relacionados a
atividades desportivas ou artísticas profissionais
Ainda que não esteja explicito na lei, a redação do incido em questão, faz alusão aos
“serviços de assessoria, consultoria aconselhamento ou assistências” nas operações citadas.
Desta forma é de se indagar se os profissionais da advocacia estão obrigados a cumprir as
regras impostas nos arts. 10 e 11 da Lei de Lavagem de Dinheiro, principalmente na que diz
respeito a que diz que é preciso comunicar as autoridades públicas de atividades
consideradas suspeitas.

Para Botini (2014, p. 02), no que se refere ao dever de comunicação que é imposto
aos advogados, no que diz respeito às atividades suspeitas de lavagem que são praticados
pelo cliente, é distinto pela doutrina em duas categorias: (i) advogados de representação
contenciosa, que são denominados dessa forma por atuarem em contencioso judicial ou
extrajudicial, ou que atuam prestando serviços de consultoria, ou ainda, aqueles que
proferem pareceres utilizados como instrumentos de litígios judiciais ou extrajudiciais ou
para determinação da situação jurídica do cliente; (ii)advogados de operações são aqueles
cuja característica é colaborar através de seu conhecimento jurídico, para consolidar
operações financeiras, comerciais, tributárias ou similares, sem que essa atividade tenha
relação direta com um litígio ou processo.

Mas é importante ressaltar que a advocacia é uma das profissões que está inclusa no
rol das que trabalham com o sigilo cliente/profissional, não podendo, portanto, divulgar
informações que lhe são passadas. Assim, o Estatuto da OAB, em seu art. 7º, inciso XIX,
garante ao profissional de direito recusar-se a depor como testemunha em processo no qual
funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi
advogado, mesmo quando autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato
que constitua sigilo profissional, sendo penalizado o profissional por ter cometido a violação
do sigilo, sem uma causa plausível.

Então ocorre uma contradição no que diz respeito à lavagem de dinheiro, porque nem
a lei 9.613/1998 pode ser desacatada e nem o estatuto, então o que fazer?

Segundo Milanez (2017, p. 03) a posição defendida não é unanime. Para o jurista:

Há na doutrina quem entenda que, para efeitos de comunicação de atividades


atípicas, o exercício da advocacia deve ser compreendido em duplo aspecto.
Por um lado, há atuação do advogado em sede processual, que estaria imune
ao dever de comunicação. Por outro lado, nas hipóteses de assessoria
operacional – no âmbito de contratos e demais atividades extrajudiciais, - o
dever de comunicação se imporia.

Neste sentido, a lei de Lavagem de Dinheiro sequer revogou de nenhuma forma, seja
expressa ou tacitamente o sigilo profissional do advogado em relação ao seu cliente, previsto
no Estatuto da OAB, sendo, portanto a inexistência da revogação constatada nas seguintes
hipóteses (MILANEZ, 2017, p. 04): a) a Lei de Lavagem de Dinheiro não revoga
expressamente o Estatuto da Advocacia; b) tampouco regula inteiramente a matéria do
Estatuto e, c) não há incompatibilidade entre as disposições de ambas as leis.

Portanto, as obrigações que estão inseridas nos arts. 10 e 11 da Lei 9.613/1998,


devidamente modificada pela Lei 12.683/2012, referem-se, em síntese “ao dever de cadastro
da clientela, atendimento às requisições do COAF, identificação e comunicação de
atividades suspeitas de “lavagem de dinheiro” ao COAF ou ao órgão fiscalizador da
atividade, abstendo-se de dar ciência de tal ato a qualquer pessoa, inclusive aquela da qual
se refira a informação, no prazo de 24 horas. ” (GRANDIS, 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O crime de lavagem de dinheiro tornou-se uma prática realizada em todo o mundo,
principalmente com o advento da internet, que tem facilitado e muito a prática de tal delito.

Muitas vezes a população não dá a devida importância, pois não se trata de um crime
violento, entretanto, os prejuízos são sentidos quase que diariamente, quando se vai a um
hospital e não consegue marcar uma consulta ou um exame, ao ver escolas abandonadas,
sem materiais didáticos disponível para que desenvolva um ensino de qualidade, ou ainda,
quando não se pode atender um telefone celular na rua por falta de segurança. Tudo isso se
deve ao desvio de recursos pelos agentes públicos que utilizam a prática de lavagem de
dinheiro para proveito próprio e esvaziamento dos cofres públicos.

Quanto a postura do advogado, o mesmo tem que manter o sigilo profissional, sendo
obrigado ao dever de conpliance. Entretanto, quando o mesmo está inserido pela pelos arts
9º ao 11 da Lei 9.613/1998, como um dos profissionais que terão identificar os clientes que
estão praticando o ato, não quer dizer que seja quebra do sigilo já que embora o Estatuto da
OAB ressalte que o mesmo pode abster-se de colaborar, o que é previsto é que o advogado
comunique diretamente ao COAF, se suspeitar da prática. Dessa forma, não fere o sigilo
profissional, já que não haverá publicidade.

Portanto, a postura ética do advogado em relação ao crime de lavagem de dinheiro


será a de seguir os trâmites previstos na lei, bem como manter a confiança do seu cliente,
dentro do que está previsto no Estatuto da OAB.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Guilherme Assis de. Ética e Direto: uma perspectiva integrada. São Paulo:
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BITTAR, Eduardo C.B. Curso de Ética Jurídica. 9. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

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CRUZ, Rafaela Araújo da. A nova lei da Lavagem de Dinheiro: uma abordagem crítica a
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http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/1813/Etica-indispensavel-aos-operadores-do-
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DI GIORGI, Beatriz. Especulações em torno dos conceitos de ética e moral. In Direito


Cidadania e Justiça: ensaios sobre lógica, interpretação, teoria sociologia e filosofia
jurídicas, sob a coordenação de Beatriz Di Giorgi, Celso Fernandes Campilongo e Flávia
Piovesan, São Paulo: RT, 1995.

GRANDIS, Rodrigo de. Considerações sobre o dever do advogado de comunicar


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http://www.ibcrim.org.br_artigo/4673-Considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-o-dever-do-
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MILANEZ, Bruno Augusto Vigo. O advogado e o dever de comunicação previsto na Lei
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https://milanezefoltran.jusbrasil.com.br/artigos/433313138/o-advogado-e-o-dever-de-
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Disponível em http://www.gtld.org.br/lavagem-dinheiro/danos/ . Acesso em 21 out 2017.

NALINI, José Renato. Ética Geral e profissional. 9ª ed. Revista, atualizada e ampliada.
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ZAMBIASSI, Valmor. Lavagem de Dinheiro: O dever e a ética na investigação


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