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A TEORIA DO CONHECIMENTO UMA INTRODUGAO TEMATICA Paul K. Moser Dwayne H. Mulder J. D. Trout Traducio MARCELO BRANDAO CIPOLLA a wmfmartinsfontes SAO PAULO 2011 cap{TULO 1 A EPISTEMOLOGIA: UM PRIMEIRO EXAME Este livro é uma introdugo ao estudo filosdfico do conhecimen- to. Trata, entre outros, dos seguintes tépicos: em que consiste o conhe- cimento, como adquirimos 0 conhecimento, como se distingue 0 co- nhecimento da “simples opiniao”, como dependemos das outras pes- soas para obter 0 conhecimento e como o ceticismo poe em xeque os pressupostos mais comuns acerca do conhecimento. Mas por que é ne- cessdrio que haja um estudo filoséfico do conhecimento? Talvez fosse melhor levar a cabo investigagdes que fizessem aumentar 0 nosso co- nhecimento dos mundos subjetivo e objetivo, em vez de nos preocu- parmos com 0 que ¢ o conhecimento em si mesmo. De qualquer modo, qual é a finalidade do estudo filoséfico do conhecimento? Que motivo teria alguém para se interessar pela definigao das condigoes, das fontes ou dos limites do conhecimento? A vida é breve e ninguém quer desperdicar 0 seu precioso tempo em debates intermindveis sobre assuntos insignificantes. Como esta- mos dedicando nosso tempo e nossa energia a teoria do conhecimento, temos o dever de explicar o valor deste ramo tradicional da filosofia. E esse 0 objetivo deste capitulo e do préximo. 4 |A TEORIA DO CONHECIMENTO POR QUE ESTUDAR O CONHECIMENTO? E comum que as pessoas sublinhem a importancia de ter Conhegj. mento, ou pelo menos do poder que dele resulta. E assim que, no de, correr de toda a nossa vida, nds nos propomos 0 objetivo de adquirip conhecimento. As vezes buscamos 0 conhecimento pela simples razig de que gostamos de aprender, As vezes somos exteriormente Pressiong. dos a adquirir conhecimento; ocorre até mesmo, de vez em quando, de Nos sentirmos como simples receptaculos dentro dos quais os Outtos des. pejam continuamente montes de informagao. Temos 0 dever de conhe. cer o teorema de Pitdgoras, de saber o que é um modificador pendente, de conhecer varios fatos da histéria do mundo, a teoria cinética do calor, a teoria atémica da matéria e assim por diante. Muitos conhecimentos nos sao transmitidos na escola, no trabalho e em casa. H4 muitas coisas em que acreditamos, e que até conhece- mos, com base na autoridade de outros. Nao obstante, adquirimos al- guns conhecimentos por nés mesmos, independentemente do teste- munho alheio. A experiéncia pode ter nos ensinado, por exemplo, qual o melhor caminho para chegar do trabalho até em casa, e muita gente conhece por experiéncia pessoal qual ¢ a sensacao de uma dor de cabe- ga. Quer 0 conhecimento seja transmitido por outra Pessoa, quer seja adquirido diretamente, atribuimos um valor & sua posse: esse valor in- clui, por exemplo, o valor que tem para nos fazer passar nos exames, 0 valor que tem para nos ajudar a chegar em casa, o valor que decorte do interesse que tem para nds e até mesmo o seu valor intrinseco. Como o conhecimento tem valor para nds, podemos e muitas ve- zes temos até o dever de adotar uma postura critica perante a sua aqui sigdo. Sem deixar de lado a sensatez, devemos assumir a méxima tes ponsabilidade pelas nossas crengas e, por conseguinte, avaliar cuidado- samente os testemunhos das outras Pessoas sempre que possivel. Exce- to quando se trata de informagées incompreenstveis, temos © costume de tomar as crengas que aceitamos inicialmente sé por ouvir dizet ¢ corroboré-las através de crengas aceitas com base em nossa propria ye cepcio e raciocfnio. ; sent , Quando recebemos uma informacdo de outra pessoa, freq . mente perguntamos: “Acaso esta pessoa realmente tem condigo* A EPISTEMOLOGIA: UM PRIMEIRO EXAME | 5 saber o que estd falando?” E evidente que a maioria das pessoas jé foi capaz de detectar alguns erros em sua educacao. As vezes, por exemplo, ainda ouvimos, mesmo de professores, a falsa alegagao de que, antes de Colombo, todos pensavam que a Terra era plana. Podemos afirmar com certa seguranga que nao hd erro em boa parte das informagées que ou- vimos das fontes de autoridade. Os erros que ocasionalmente percebe- mos, porém, nos movem naturalmente a perguntar como saber se as informagées obtidas pelo testemunho de outras pessoas sao corretas. Esses erros nos levam também a querer saber por nés mesmos qual tes- temunho aceitar e qual rejeitar. Esta ultima pergunta nao tem uma res- posta simples. Esse questionamento das fontes de informagao revela uma neces- sidade de elucidagao das condigdes que definem o conhecimento. Para nos perguntarmos se certas pessoas realmente sabem o que dizem, te- mos de saber o que é necessdrio em geral para saber alguma coisa, € no para meramente crer que se sabe. Tipicamente, os fildsofos inves- a ento em gerale se perguntam 0 que é ne- cessdtio para que uma pessoa realmente saiba que algo ¢ verdadeiro ¢ nao falso. A teoria do conhecimento busca langar luz sobre essas ques- tes gerais acerca do conhecimento. O valor do estudo filosdfico do conhecimento deriva, em parte, do valor que tem a prépria posse do conhecimento. De diversas manei- ras, a posse de varias espécies de conhecimento é preciosa, e é ruim estar enganado acerca de assuntos importantes. Conseqiientemente, tenta- mos adquirir conhecimentos verdadeiros e evitar crer em relatos falsos, pelo menos no que diz respeito a assuntos significativos, como a satide ea felicidade. E assim que cada qual se vé diante da tarefa de separar a imensa quantidade de informagdes com que se defronta todos os dias a fim de aceitar o verdadeiro ¢ rejeitar o falso. Sob este aspecto, a vida intelectual e a vida prdtica s4o excepcionalmente complexas. / Dada a importancia da aquisi¢ao de informacoes corretas e de evi- tar as crencas falsas, precisamos de algumas diretrizes que nos permis tam distinguir a verdade do erro. Os filésofos estudiosos do conheci- mento procuram identificar essas diretrizes e formulé-las de maneira geral. Uma das diretrizes mais elementares poderia afirmar que nossa confianga numa dada fonte de informagao deve variar imensamente tigam a natureza do conheci 6 | A TEORIA DO CONHECIMENTO amos que el, do com o numero de vezes em que cone q i a estayg faa ‘m m determinado ‘ Quanto mais erros encontrarmos nu! jornal, emplo, tanto menos devemos confiar nas novas reportagens py. por een P i ornal. Nosso objetivo primeiro € encontrar a verdade (os rede geen) sem cair em erro. Para buscar indiciosament a verdade, porém, precisamos de principios que nos indiquem quandg devemos aceitar algo como verdadeiro. : de “en Os filésofos chamam a teoria do conhecimento de “epistemolo. gia” — dos antigos termos gregos “episteme” (conhecimento) e “logos” (teoria ou explicagao). Em sua caracterizagao mais ampla, 2 €pistemo. logia é 0 estudo filosdfico da natureza, das fontes e dos limites do co. nhecimento. O adjetivo “epistemoldgico” se aplica a tudo quanto en. volva tal estudo do conhecimento; significa “relativo & teoria do co- nhecimento”. O adjetivo “epistémico” é préximo dele e significa “tela- tivo ao conhecimento”. E claro que o conhecimento nao é idéntico a uma teoria do conhecimento, assim como a mente nao é idéntica a uma teoria da mente, ou seja, a uma psicologia. A eflexo filosdfica sobre as condigoes e as fontes do conhecimen- to remonta pelo menos aos antigos fildsofos gregos Platao (c. 427-c, 347 a.C.) ¢ Arist6teles (384-322 a.C.). O Teeteto de Plato e os Segun- dos analiticos de Aristételes, mais do que quaisquer outros escritos, pre- pararam o caminho para a epistemologia, na medida em que delimita- ram 0 conceito e a estrutura do conhecimento humano. No Teetet, por exemplo, vemos Sécrates, a figura central dos escritos de Plato, 4 discutir com alguns amigos sobre como Certos mestres reputados co- nheciam as coisas nas quais se distinguiam como especialistas. Os ami- gos lhe perguntam qual € a caracteristica geral que distingue aqueles que realmente sabem, como os mestres, daqueles que ainda nao sabem sOficas acerca de co en eho nhecimento humans errada. boa parte das indagagoes filo A epist logi 10. Pistemologia nao existe somente na tradicao filoséfica ociderr tal. A filosofia indiana in r (h du), por exemplo, trata extensivar . losofia européia € americana cléssi onan i i sica e contem| dianos dedicara Pp m uma atencSo considerdvel a0 pro! A EPISTEMOLOGIA: UM PRIMEIRO EXAME | 7 ma de como reunir e avaliar dados indicativos aos problemas do co- nhecimento perceptivo e ao papel do raciocinio no conhecimento, en- tre muitas outras coisas. Perguntas fundamentais a respeito da natureza do conhecimento tendem a surgir em praticamente todas as culturas. Afinal de contas, todas as pessoas tém algo a ganhar com distinguir a verdade do erro, a sabedoria da nescidade e 0 caminho do conheci- mento do caminho da ignorancia. As diversas culturas podem lidar de maneira diversa com as questdes filoséficas acerca do conhecimento. Algumas culturas, por exemplo, sa- lientam a natureza social do conhecimento e sublinham a importancia das autoridades cientificas ou religiosas, dos eruditos, dos comandantes politicos e militares ou de outras pessoas como fontes de conhecimen- to, Outras culturas encaram 0 individuo como uma figura solitéria que Passa por uma peneira todos os dados a que tem acesso (quer pelo tes- temunho de outros, quer pela experiéncia direta) e decide quais deve aceitar e quais deve rejeitar. Alguns criticos das tradigGes filoséficas oci- dentais acusaram-nas de atribuir demasiada importancia ao individuo como um conhecedor solitdrio. Essa acusacao fez com que, em épocas recentes, se desse uma atengo cada vez maior aos aspectos sociais do co- nhecimento, tema a ser discutido no Capitulo 6. Se houve nesse ponto um desequilibrio na histéria da epistemologia ocidental, ele provavel- mente ser4 corrigido em certa medida pela epistemologia contempora- nea, que retine contribuig6es vindas de meios intelectuais e culturais di- versos. A epistemologia recente recebeu também importantes contri- buigdes de filésofas feministas. Nas segdes seguintes, voltaremos a falar desses desenvolvimentos recentes da epistemologia. ALGUMAS DUVIDAS SOBRE O CONHECIMENTO Além de definir as condigées e as fontes de conhecimento, os epis- temélogos discutem a medida do conhecimento humano. Perguntam- se até onde esse conhecimento pode chegar. As duas posig6es extremas seriam as seguintes: 1. Os seres humanos podem conhecer, pelo menos em princfpio, todas as verdades sobre a realidade. 8 | A TEORIA DO CONHECIMENTO 2. Os seres humanos nao podem conhecer nada (ou Pelo me Nog nao conhecem na pratica). Muitos filésofos chegam a uma posigao intermediéria entre dois extremos. Em especifico, muitos rejeitam a posigao 1 Pelo fato de os seres humanos serem conhecedores finitos. Nosso conhecimentg pa. rece ter limites. Assim como existem muitas coisas que um ©4, por exemplo, nao pode conhecer nem compreender, assim também exis. tem provavelmente muitas coisas que estao além da apreensio Cognit. va dos seres humanos. A teoria da evolugio e algumas das grandes rej. gides concordam em apoiar a tese das limitagdes cognitivas do ser hu. mano, justificando-se pelo fato de estes serem criaturas finitas — muito embora discordem quanto a explicacao dessa finitude. A maioria dos fildsofos, mas nao todos, rejeita a opiniao 2, queé a dos céticos. Muitos fildsofos consideram dbvio que nés sabemos pelo menos certas coisas, mesmo que esse conhecimento se refira tio- somente a experiéncias pessoais ou aos objetos fisicos com que temos um contato cotidiano, Outros, porém, afirmaram que na realidade nao conhecemos absolutamente nada. Esses fildsofos admitem que as pessoas em geral confiam em que tém algum conhecimento, mas eles mesmos insistem em que nossos casos aparentes de conhecimento nio passam de ilusdes. A posigao cética mais estrita, de que os seres hums- nos ndo podem ter (e nao que simplesmente néo tém) conhecimento, _advém tipicamente de uma crenga de que as condigaes do conhecimen- to so t4o rigorosas que nao podemos atendé-las, Certas pessoas s4o naturalmente inclinadas a pensar que as condi- g6es de conhecimento séo muito rigorosas. Isso ocorre especialmente quando essas pessoas querem dar énfase & distingao entre o conheci- mento “propriamente dito” (um conhecimento cientifico sobre a reali- dade do mundo, digamos, o qual pode parecer muito raro) € 4 mera opiniao (a mera opiniao, digamos, sobre a eficacia das novas dietas ali- mentares, opiniao essa que parece existir comumente na mente dis pessoas); ou quando refletem muito sobre a vulnerabilidade da maiot parte das nossas mais confiantes alegacoes de conhecimento. De qu*” quer modo, € perturbador perceber que as crengas mais firmes de umé pessoa podem de repente revelar-se completamente erréneas. 4 EPISTEMOLOGIA: UM PRIMEIRO EXAME | 9 Pense numa pessoa que viveu hé dois séculos e que estivesse consi- derando a possibilidade de comunicar-se quase instantaneamente com um amigo situado a dois mil quilémetros de distancia. Um cavalheiro do século XVIII provavelmente diria que sabe, com a mesma seguran- ga com que conhece as coisas que o rodeiam, que tal comunicagao a distancia € impossivel. E claro que nés sabemos que ele estd errado. Ele nao pode saber que tal comunicacao ¢ impossivel, pois nés mesmos jd nos comunicamos desse modo varias vezes. Esse conhecimento, que para nds nao tem nada de especial, era incompreensfvel para nossos antepassados. Eles afirmavam com seguranga que sabiam certas coisas que nds, hoje, sabemos nao ser verdadeiras. Tinham o mais elevado grau de confianga, mas nao tinham o conhecimento verdadeiro. A par- tir de casos como esse, certas pessoas sentem-se tentadas a concluir que as condiges para que ocorra o verdadeiro conhecimento sao extrema- mente rigorosas e dificeis de ser atendidas. Certos fildsofos, depois de refletir sobre consideragdes como essas, concluem de fato que as condigSes do conhecimento sio rigorosissi- mas. René Descartes (1596-1650), por exemplo, chegou a conclusio de que boa parte das coisas que havia aprendido através da educacio formal, e que aceitara como conhecimentos certos, revelaram-se falsas depois de submetidas a um exame atento. Terminou por propor algo semelhante ao que chamamos de certeza como condigao para o conhe- cimento filoséfico: em particular, a certeza entendida como indubita- bilidade, a auséncia de qualquer diivida possivel acerca da veracidade de uma afirmagao. Existe um outro tipo de certeza que exige a infalibili- dade, a auséncia de qualquer possibilidade real de erro. Parece que sto muito poucas as proposigGes — se é que existem — que podem apresen- tar o tipo de certeza exigido por alguns filésofos. Infelizmente, propo- sigdes aparentemente invulnerdveis, como “eu penso” ou “eu duvido”, sao raras e dificeis de encontrar. Se nosso cavalheiro setecentista considerasse cuidadosamente Oas- sunto, teria de admitir que nao tem certeza de que a comunicagao Ins tantanea a distancia é impossfvel. Nao teria uma nosao definida de como tal coisa seria possfvel, mas provavelmente seria obrigado aa mitir abstratamente a possibilidade de uma tal comunicagao. . cm esse fato mostre que ele na verdade nao sabia que é impossivel falar 10 | A TEORIA DO CONHECIMENTO instantaneamente com seu amigo distante. Como ele nao atendey g condigao da certeza, nao tinha conhecimento — tudo isso se a Certezag de fato uma condigao para o conhecimento. A maioria dos epistemélogos contemporaneos rejeitou a exiggn, cia de certeza como pré-condigao para o conhecimento. Nés Podemog saber ou conhecer certas coisas sem ter certeza a respeito delas, oy seja sem indubitabilidade nem infalibilidade. Nosso cavalheiro setecentist, sabia, como nés sabemos, que nao ocorrem relampagos num céy Per. feitamente claro e aberto. Nés sabemos disso, mesmo admitindo quea proposig’o nao é nem indubitdvel nem infalivel. Sabemos disso mes. mo sem ter certeza disso. Sob esse ponto de vista, a certeza nao Patece ser um pré-requisito para o conhecimento. Em capitulos posteriores examinaremos as condigGes que definem o conhecimento. Por enquanto, basta-nos observar que a afirmagao de condigées demasiado rigorosas para o conhecimento — como a exigén. cia de certeza, por exemplo — pode conduzir ao ponto de vista cético, segundo o qual o conhecimento nao existe. O estabelecimento de pa- drdes excessivamente elevados para o conhecimento pode levar & opi- nigo de que nds nao temos conhecimento algum. Isso representaria o que alguns chamaram de uma vitéria baixa do ceticismo mediante uma tedefinicao elevada do que ¢ 0 conhecimento. A posicao filoséfica se- gundo a qual o ser humano nao pode ter conhecimento, ou pelo me- nos nao o tem na pratica, é chamada ceticismo. Esse termo nos é co- nhecido de diversos contextos nao filosdficos. Lemos numa recente manchete de jornal: “China afirma concor- dar com proibicao de testes nucleares; ceticismo dos EUA” (Chicago Tribune, 7 jun. 1996). Nesse caso, o termo “ceticismo” significa que os EUA tém diividas de que a China realmente venha a aderir ao tratt- do de proibicao de testes nucleares, Jé na filosofia, 0 cético nao se limita a ter algumas duvidas acerca da possibilidade de o ser humano adquitit conhecimento. O cético completo afirma que o homem nao tem & nhecimento algum. E claro que, se 0 cético afirmasse saber que ninguét tem conhecimento, correria o risco de autocontradizer-se. $6 u™ tico extremamente descuidado afirmaria saber, por exemplo, q¥® ‘ conhecimento exige certeza, saber que o ser humano nunca ches#’ certeza absoluta e saber, Portanto, que ndés nao podemos ter conhecr A EPISTEMOLOGIA: UM PRIMEIRO EXAME | HI m tomar muito cuidado com 6 mo- mento. Em suma, 0s céticos prec 0 sofrer a ameaga des- ismo, a fim de r ucet do pelo qual apresentam s sa autocontradigao, ‘Tradicionalmente, o ceticismo tem sido uma importante fonte de motivagao para os epistemdlogos. No decorrer de toda a histéria da cpistemologia ocidental, muitos fildsofos procuraram refutar 0 ponto de vista cético, demonstrando que nds realmente possufmos algum Para provar que possu{mos um conhecimento propria- conhecimento. P mente dito, procuraram elucidar as condigdes que definem o conhe- cimento humano e as principais fontes desse conhecimento, ¢ esforga- ram-se por demonstrar que nds podemos atender as condigdes do co- nhecimento, pelo menos com os recursos cognitivos a que temos acesso. O tema do ceticismo estard presente em muitas discussdes no decorrer do livro, especialmente no Capitulo 8. O ceticismo assume varias formas. O ceticismo total nega a existén- cia de qualquer conhecimento humano. O ceticismo parcial s6 nega a existéncia de algum tipo ou alguns tipos particulares de conhecimento. Certos fildsofos, por exemplo, negam a possibilidade de conhecer que Deus existe, mas nao negam outros tipos de conhecimento, como 0 co- nhecimento de que existem os objetos fisicos que nos rodeiam. Outros hegam o conhecimento cientifico tebrico, como o conhecimento da es- trutura do dtomo, ao mesmo tempo em que defendem a afirmagio de que podemos conhecer nossos pensamentos e sentimentos. Os céticos parciais afirmam encontrar defeitos num tipo particular de conhecimen- fo, nao no conhecimento em geral. Para entender essas afirmagGes, te- mos de compreender algumas distingdes entre os diversos tipos de co- nhecimento, como 0 conhecimento cientifico ¢ 0 conhecimento mate- matico. Logo voltaremos a falar dessas distingdes. O ceticismo tem suas rafzes hist6ricas na filosofia grega. Um tipo de ceticismo remonta a Sédcrates (469-399 a.C.); outro tipo vem de Pirro de Elis (c. 365-c. 270 a.C.). O ceticismo socrdtico é chamado de “ceticismo académico” por ter florescido na Academia de Platio de- pois da morte de Sécrates, O Ordculo de Delfos (uma espécie de adi- Vinho local) disse a Sécrates que ele era o mais sébio de todos os ho- mens porque sabia que nao tinha conhecimento, ao passo que todos os demais homens acreditavam-se conhecedores de coisas que na realida- 12 | A TEORIA DO CONHECIMENTO émii olvem ess; 4 « heciam. Os céticos académicos desenv lve $8 Propog. de nao conheciam. ina filos6fica: a tinica coisa que tr 4 am-na numa dou! ; cdo e transform: dade nao sabe nada além dessa doy, 2 : er humano pode sal q u i - igorosa negagao da existéncia de qualquer trina. Trata-se de uma rigi nhecimento humano que vd além do conhecimento de que na Verdade nao sabemos mais nada. O ceticismo pirroniano, por outro lado, nao faz nenhuma afitm,. 40 tio audaz (ou, como diriam alguns, tao dogmatica) GUANO a dog céticos académicos. E um tipo de ceticismo que dé énfase a SUspensig do juizo sobre a maior parte dos assuntos. Em vez de se enfronhar Nas discussées intelectuais aparentemente intermindveis dos fildsofos, 0s pirronianos recomendam que encontremos argumentos Pro € contra toda e qualquer posi¢ao, e assim nos recusemos a aceitar qualquer con. clusao. Segundo os pirronianos, o reconhecimento da suspensio do jufzo como a tinica atitude racional a se tomar nos conduz a um estz do de calma ou quietude, libertando-nos dos debates acalorados sobre quest6es controversas. Essa quietude, segundo os mesmos filésofos, di origem a uma melhor qualidade de vida, se nao mesmo a uma sensa- ¢4o de iluminaco ou pleno esclarecimento. Observamos j4 que a maioria dos epistemélogos nao chega ao extremo do ceticismo total. Muitos Procuram nfo situar o conheci- mento além do nosso alcance e esforcam-se por nao desesperar da bus- ca de conhecimento; tentam, antes, tornar mais seguras muitas das nos- sas afirmagées comuns de conhecimento mediante a explicagao deo que € 0 conhecimento. Procuram explicar em que consiste o conheci- mento € como 0 adquirimos, Pode acontecer de um epistemdlogo fi- car muito impressionado, por exemplo, com o poder que a ciéncia tem de expandir 0 nosso conhecimento sobre o mundo, e passar entao a bus © sa0 instrutivas, pois opoem Ree NOssas explicacdes mais superficiais € ing Onhecimento surge, Um desses problemas diz resp! £0, por exemplo, ao nosso cavalheiro . . ¢ Setecentista, que tinha gran — A EPISTEMOLOGIA: UM PRIMEIRO EXAME | 13 confianga em sua crenga mas, como depois se demonstrou, nao pos- sufa um conhecimento verdadeiro. Uma das opgées, da qual j4 falamos, consiste em tornarmo-nos pessimistas quanto a possibilidade de se obter qualquer espécie de co- nhecimento. Mas existem também outras opges, opgdes que preservam 0 otimismo quanto a aquisicao de conhecimento ao mesmo tempo em que reconhecem a falibilidade (a suscetibilidade ao erro) do nosso cava- Iheiro setecentista e, do mesmo modo, de nds mesmos. Os epistemé- logos avaliam e pesam detalhadamente essas opgdes. Sob esse aspecto, os céticos nos motivam a esclarecer o que se espera de uma explicagao mais sofisticada do conhecimento humano. Sem as objegées céticas, tal- vez nos conformdssemos com uma compreensao superficial do nosso papel de agentes da aquisigao do conhecimento. Os céticos propdem algumas questées dificeis de responder e, assim, levaram os filésofos a rever de modo significativo suas idéias acerca dos métodos aceitaveis de aquisigo de conhecimento. Veremos mais adiante, no Capitulo 8, como a preocupagao cética com a circularidade da justificagao levanta um problema serifssimo, senao fatal, para 0 otimismo quanto a possibi- lidade de conhecer. As questées dos céticos acerca da verdade e da evidéncia nos dio também um outro beneficio. Promovem uma medida saudavel de hu- mildade epistémica. Tanto os filésofos quanto os nao-filésofos sofrem a tentagao de afirmar ter certeza de coisas que na realidade nao sao cer- tas. Em outras palavras, muitos deixam de reconhecer a magnitude da nossa falibilidade como conhecedores. Por isso, nao se dispoem a ad- mitir a duivida e o possivel erro em matérias suscetiveis de dtivida e erro. A recusa de admitir a possibilidade de se estar errado em questdes nas quais de fato é posstvel incorrer-se em erro échamada dogmatismo. A pessoa que se recusa a admitir a possibilidade de estar errada numa certa crenca — crenga que realmente tem a possibilidade de estar errada tem uma atitude dogmética em relacao a essa crenga ou uma aceite Gao dogmatica dessa crenga. Muitos céticos tentam eliminar ° dogma- tismo e, considerada a falibilidade humana, esse objetivo em geral . louvavel. Como jé dissemos, a maioria dos epistemélogos se mantém 2 meio caminho entre a excessiva minimizagio da nossa capacidade de fet tester el oe conhecer, por um lado, e, por outro, a excessiva minimizagao das n« 14 | A TEORIA DO CONHECIMENTO sas falhas de conhecimento. Os céticos colaboram para nos mantermos afastados desse ultimo escolho, muito embora nos levem as vezes Para perto demais do primeiro. Certas pessoas parecem alimentar preocupagGes céticas com base em sua aceitacao do relativismo no que diz respeito a verdade. A liga- do entre o ceticismo e o relativismo merece ser elucidada. O relativis- ta afirma que a verdade de uma afirmac’o sé pode ser considerada em relagdo a um conhecedor determinado (ou seja, a alguém que ou acei- ta ou rejeita essa afirmag4o), ou talvez a um grupo de conhecedores, Ele nega a existéncia de uma verdade absoluta (ou seja, uma verdade que nao varie de pessoa para pessoa ou de grupo para grupo), pelo me- nos no que diz respeito a determinados assuntos. Os temas teoldgicos sao os exemplos mais conhecidos, pois alguns afirmam que o enuncia- do “Deus existe” é verdadeiro para os crentes e falso para os descrentes. Essa afirmagao, quer seja verdadeira, quer falsa, € relativista. Certas pessoas sao favordveis a essa posi¢ao por considerd-la um meio de evi- tar conflitos sensfveis entre os crentes ¢ os descrentes, mas nao precisa- mos explicar aqui por que certas pessoas se tornam relativistas, Talvez nao esteja ainda perfeitamente claro 0 conceito de relativi- dade da verdade. Um exemplo tirado de um contexto nao epistémico pode servir para elucidar as coisas. Eis um bom exemplo de uma obri- gago relativa: a obrigacao (vigente em certos lugares) de dirigir do lado direito da rua. Em relagdo as leis norte-americanas, por exemplo, 0 cidadao tem a obrigacao de dirigir do lado direito. Em relacao As leis inglesas, porém, tem a obrigacdo de dirigir do lado esquerdo. Nesse exemplo, a obrigagao de dirigir dum ou doutro lado sé existe em rela- ¢40 a um determinado cédigo juridico, sendo que os cédigos juridicos podem variar de acordo com o lugar. A obrigacao é apenas relativa, pois, fora desses sistemas juridicos, nao existe nenhuma obrigacao ob- jetiva ou absoluta de dirigir deste ou daquele lado. Em contraposicao a isso, muita gente diria que a obrigacao de nao submeter bebés a tortura, por exemplo, nao € relativa. Pode até ser que essa obrigacdo exista em relacio a um determinado cédigo juridico que profba os maus-tratos a bebés, mas é de se pensar que ela tem tam- bém uma existéncia objetiva que vai além de todo e qualquer cédigo juridico. De qualquer modo, muitos consideram-na um dever objeti- \ EPISTEMOLOGIA: UM PRIMEIRO EXAME | 15 vo, que obriga moralmente o ser humano independentemente das im- posigdes juridicas. Tal alegacao de objetividade é feita pelos chamados “realistas morais”. Algumas de nossas leis parecem codificar certas obri- gagoes preexistentes e objetivas como essa, tais como as obrigacdes de nao matar e nao torturar, Outras leis, porém, sao evidentemente rela- tivas e tém a intengao de criar uma determinada obrigacio. As obriga- goes criadas pelas instituicoes juridicas s6 existem em telagao a essas instituigdes. As obrigagées preexistentes que tentamos codificar atra- vés das leis s40 possivelmente nao relativas, ou objetivas. Embora nao haja controvérsia alguma em torno do fato de que certas obrigacées sao relativas aos cédigos juridicos, ainda é muito controversa a questao de saber se a verdade é sempre relativa as crencas de um individuo ou de uma cultura. O relativista pode se sentir tentado a encarar com ceticismo a pos- sibilidade do conhecimento humano: diria que 0 conhecimento é im- possfvel porque a verdade é relativa. Afirmaria, por exemplo, que nao se pode saber que matar bebés ¢ errado, pois ¢ um ato que sé ¢ errado em relago & sua cultura e pode ser aceit4vel em outras culturas. Uma alegacao mais plausfvel seria a de que nao se pode saber com certeza que o aborto é errado (nem certo) porque as pessoas tém, em relacao a ele, atitudes tao fundamentalmente diversas. Essa linha de argumenta- 0 a favor do relativismo é chamada de “argumento da discordancia”. O relativismo, porém, nao conduz naturalmente a0 ceticismo. A ver- dade é que conduz na diregao oposta. Se a verdade é relativa as suas prdprias crengas, por exemplo, sua possibilidade de adquirir conhecimento ¢ muito maior do que sea vee dade fosse objetiva e, portanto, dificil de conhecer. O relatvismo tor na a verdade muito facil de conhecer e, portanto, torna ficil o es prio conhecimento. Uma das conseqiiéncias do relativismo € que aqui'o a . 3 & pode saber ser falso, porque talvez seja ver- eu sei ser verdadeiro, vocé po tativismo, o conheci- dadeiro para mim e falso para voot, Dado 0 Fels soa (ou de cultura nto pode variar drasticamente de pessoa para Pes hecimento, prova- cultura); mas mesmo assim ainda haverd con ae Feat mam mente em abundancia. £ claro que o relativista po toe que diem nivel muito elevado outros critérios de conhecimento (0s q| ito & justificaca isso seria at{pico. tespeito a justificagao, por exemplo), mas 16 | A TEORIA DO CONHECIMENTO scismo floresce quando a verdade é encarada como algo oO ceticismo es * chldcofos tragaram com tanta forca a dies ‘ talmente objetivo. ¢ oro - ecieseasummemiparninéei( aparéncia, gio a feces parcialmente submerso na Agua est4 flexions. doa vvalidade objetiva das coisas (0 tipi na rn We de, sesperaram da nossa capacidade de con! naan sd 40 objer. vamente. Outros desesperam tao-somente da nossa capaci lade de sg. ber se sabemos como as coisas sao objetivamente, anes admitem que po. demos adquirir algum conhecimento da verdade objetiva. ; Certos fildsofos apdiam o ceticismo somente na medida em que postulam a existéncia de uma separacao significativa entre a verdade (ou o mundo objetivo) e nossa capacidade cognitiva. Para salientay essa separacao, pode-se postular a verdade como inatingivel por ser in dependente da mente (ou objetiva) ou em funcdo de uma limitacio severa da nossa capacidade cognitiva (ou, ainda, por ambos os moti- vos). O cético diria que, em nossa busca de objetividade, tudo em que podemos nos apoiar é a nossa limitada experiéncia; e que a verdade, a realidade objetiva, esta sempre além dessa experiéncia. Além disso, ele pode sublinhar a incémoda circularidade de todas as provas da confia- bilidade de nossas fontes de conhecimento (a percepcao, a memériae a introspeccao, por exemplo), afirmando que nao podemos recorrer a Outra coisa sendo a essas mesmas fontes para provar a confiabilidade delas (ou seja, a qualidade que elas tém de conduzir 4 verdade) de ma- neira nao circular. (Este problema serd elucidado no Capitulo 8.) No geral, os fildsofos distinguem dois tipos de ceticismo: o ceticis- MO quanto ao conhecimento Pode justificar (ou sea, tera Barantia de) suas crencas, Segundo o cet cismo ‘ ; a maid 40 conhecimento, nég as vezes temos justificativa pa EPs Inas Nossas crencas, mesmo as justificadas, nunca se equ” A EPISTEMOLOGIA: UM PRIMEIRO EXAME [17 tém o pescogo comprido porque seus antepassados esticavam o Ppesco- go a fim de abocanhar as tinicas folhas entao dispontveis, as das 4rvo- res. Essa crenga justificada foi destrufda pela obtengao de novas infor- mages acerca do mecanismo genético interno da transmissib dade das caracteristicas das girafas. O conhecimento, por outro lado, é imu- ne a essa destruicao — ou invalidacao — provocada por novas informa- g6es. O ceticismo quanto A justificacdo afirma que nds nao temos, e mesmo que nao podemos ter, motivos legitimos para adotar esta ou aquela crenga. No Capitulo 8, trataremos mais detalhadamente do ce- ticismo. Por enquanto, 0 que precisamos elucidar é a distingao entre conhecimento e crenga justificada. A DEFINICAO TRADICIONAL DE CONHECIMENTO Na tradi¢ao filosdfica ocidental, a epistemologia ofereceu até hé bem pouco tempo uma definicao principal de conhecimento na qual este é analisado em trés componentes essenciais: justificacao, verdade e crenga. Segundo essa andlise, o conhecimento propositivo é, por defi- nigdo, a crenga verdadeira e justificada. Essa definigao é chamada and- lise tripartite do conhecimento e andlise tradicional. Muitos filésofos en- contram a inspiragao dessa andlise no Teeteto de Platao. Os epistems- logos, em geral, tratam do conhecimento propositivo: 0 conhecimento de que algo é de tal jeito, em contraposi¢ao ao conhecimento de como fazer algo. Considere, por exemplo, a diferenca que existe entre saber que uma bicicleta se move de acordo com certas leis do movimento e saber andar de bicicleta. E evidente que esta segunda espécie de conhe- cimento nao tem a primeira como um de seus pré-requisitos. contetido do conhecimento propositivo pode ser expresso por uma proposicio, ou seja, pelo significado de uma oragao declarativa. (Nao obstante, as pessoas que falam Iinguas diferentes podem afirmar a mesma proposigao: “It is raining” e “Esta chovendo emer a mesma coisa e, logo, expressam a mesma proposicao.) Por outro “ as © conhecimento de como fazer algo ¢ uma habilidade ou competéncia na execugao de uma certa tarefa. Nao examinaremos esse conhecimen- tO Competente. aue mereceria todo um livro sé para si. A andlise tradi- 18 | A TEORIA DO CONHECIMENTO cional do conhecimento propositivo implica que 0 conhecimento g uma espécie de crenga. Se vocé nao cré que Madagascar fica no Oceang Indico, entio nao sabe que Madagascar fica no Oceano Indico. Assim, como Xs vezes dizem os fildsofos, crer € uma condicao logicamente neces. sdria para o saber, Seria realmente muito estranho que vocé soubesse algo mas negasse crer no que supostamente sabe. Parece que a crenga é um requisito para o conhecimento propositivo. A crenga nao ¢ suficiente para se ter conhecimento. Evidentemen- te, muitas crengas h4 que nao representam conhecimento algum, pois sio obviamente falsas. Certas pessoas, por exemplo, ainda créem que a terra é plana; nos Estados Unidos, existe até mesmo uma associa¢gao (que recolhe contribuigdes periédicas) de pessoas que créem nisso. Po- rém, essas pessoas nao sabem que a Terra é plana, pois fato é que ela nao é Para se saber algo, para se ter um conhecimento verdadeiro, é preciso que a crenga seja correra. E imposs{vel saber algo falso. Assim, a segunda condigo do conhecimento, identificada na andlise tripartite, é a verdade, O conhecimento nao é somente uma crenga, mas uma crenga verdadeira. Accrenga verdadeira nao é em si mesma suficiente para o conheci- mento. E evidente que muitas crencas verdadeiras nao se enquadram nessa categoria, Se vocé constituir espontaneamente a crenga de que o seu tio Hud, que mora longe, est4 agora em pé, ¢ essa crenga se revelar verdadeira, nem por isso vocé passou a saber que o tio Hud est4 em pé agora. O que falta a essa crenga sao razdes que a corroborem; ela se cons- tituiu num capricho e nao dispde de nenhum respaldo. A crenga se re- velou verdadeira por coincidéncia, em relagao as informagées de que vocé dispunha. Isso porque, para que uma crenga verdadeira seja um conhecimento, ela precisa do que os fildsofos chamam justificago, ga- rantia ou prova. (Certos filésofos atribuem o mesmo significado a es- ses trés termos.) Pela andlise tripartite, a justificagao é a terceira condigao essencial do conhecimento. A justificagao de uma crenga tem de incluir algu- mas boas raz6es pelas quais a crenca é considerada verdadeira. Os fild- sofos se perguntam quais podem ser essas boas raz6es, mas a afirmaga0 de que uma crenga precisa de algum tipo de corroboraco para sef considerada um conhecimento é largamente aceita entre os fildsofos. A EPISTEMOLOGIA: UN 1A: UM PRIMEIR ‘© EXAME | 1 9 Assim, as trés condig6es essenciais do conheci; de e justificagao, e as trés juntas sao consider nd, - nhecimento. Mes Ultimas décadas, os fldsofos deco ‘ lidade, essas trés condigdes N40 sao suficientes; . riram ‘que, na rea- ainda outra condi¢ao. Voltaremos a essa questio r, conhecimento tem do a andlise tripartite tradicional, Porém, o conhe ue p. Segun- verdadeira e justificada. Se vocé tem bons moti pnt ¢ 8 crenca verdade da sua crenga, e essa mesma crenga é i corroborar a ta-se em raz6es sdlidas, entio, segundo a andli fan, findamen- conhecimente, ise tradicional, S40 crenca, verda- ficientes para o co. » vocé tem / A andlise tradicional do conhecimento também admite a existé cia de uma crenga falsa, mas justificada. Com efeito, esse tipo ea $a parece muito comum. No passado, era justificdvel que ‘nif oe sem que a Terra é plana. A crenga deles era errada, como sabemos, mas dadas as melhores informagées de que entio dispunham, tinham 7 26es justificadas para sustentar essa cren¢a. Como a crenga era errnea, eles nao sabiam que a Terra é plana. Nesse caso, o fato de lhes negar- mos a qualidade de conhecimento nao depée contra o carter pessoal de cada um deles. Quando negamos que tinham conhecimento, nao estamos criticando-os nem culpando-os. Antes, estamos deixando cla- ro que a crenga deles era errénea e que as informagoes de que dispu- nham nfo os conduziram & verdade, muito embora constitufssem uma justificativa valida para suas crengas na época. As vezes, nds mesmos nos encontramos em situa¢ao semelhante. Muito embora eles atendes- sem & condigdo de crenga e & condigao de justificacao, nao atendiam & condigao de verdade para terem conhecimento. Vemos agora que uma crenga errénea justificada nao constitui um conhecimento. (No Capi- tulo 9, voltaremos ao tema da justificagao e do relativismo.) As trés condigées essenciais do conhecimento motivaram ferre- nhas disputas filosdficas, algumas das quais sero examinadas nos ope tulos seguintes. Poucos filésofos discordam de quea cretisa Rinecesse mas existem muitas divergéncias quanto ‘m disso, diversos psicdlogos do conhe- ntando suas pesquisas empiricas 4. No Capitulo 3, voltaremos m em que a verdade é ne- ria para o conhecimento, propria natureza da crenga. Alé cimento entraram na refrega, aprese! sobre os mecanismos cognitivos da cren¢ a esse tema. Os fildsofos em geral concorda: 20] A TRORTA TD CONTIN MENTO o conhecimento, mas jA apresentaram diversas id cossrha part " : traditérias acerca do que é necessirio para que uma crengg Seja y ne : : rn eC a Me ey feira. No Capitulo 4 tratiremos da verdade como condigig Pata. deira. : nhecimento. As teorias da justificagao epistémica constituem . s mais i r +s da epistemologia contemporanea, ¢ mais importante t Nf sobre are falaremos no Capitulo 5. ly CONHECIMENTO E EXPERIENCIA Um dos principais debates que se travam na epistemologia diz peito as fonres do conhecimento (ver o Capitulo 6) e trata da impo tincia da experiéncia sensorial para a aquisigao de conhecimento, Mui. tos fildsofos concordam em que boa parte do nosso Conhecimento adquirida através da experiéncia sensorial. Amitide, para adquitir 9. nhecimento sobre uma coisa, vocé a vé, a uve, a toca, a cheira OU sen. te seu gosto. E possivel, por exemplo, saber que existe um pé de lilis na proximidades por sentir-lhe o perfume. Serd a experiéncia sensotialo inico meio para a aquisigao de conhecimento? Ser posstvel conhecer algo independentemente da experiéncia sensorial? Considere 0 seu conhecimento de que a soma dos Angulos inter nos de um tridngulo euclidiano é 180 graus. Pode ser que esse conhe cimento se relacione de algum modo com a experiéncia sensorial, ta- vez em virtude de termos obtido TepresentagGes perceptivas do triin- gulo. Mas parece que nao dependemos da experiéncia sensorial pan saber que a soma dos Angulos internos de todos os tridngulos eucl dianos é 180 graus. Esse conhecimento nao é derivado da investiga¢#® emptrica de muitos triangulos. Muito pelo contrdrio, parece baseat* tao-somente NO nosso conceito de o que é um triangulo euclidiano. Me Sea, parece ser um conhecimento derivado da razdo e nao da experi cia. Portanto, certos conhecimentos podem nfo ser dependentes dace periéncia sensorial, Pelo menos nao do mesmo modo que 0 conhecr meno da existéncia Proxima de um pé de lilases, os yc en er in ig que depende da experite . Pe aie al distinguir. O con erie cia € chamado de conhecimento 4 p% A EPISTEMOLOGIA: UM PRIMEIRO EXAME | 21 Para se lembrar desse termo, talvez Ihe convenha pensar que se trata de um conhecimento “posterior” 4 experiéncia, que vem “depois” dela, muito embora o termo njo tenha realmente um sentido temporal. O conhecimento que nao depende da experiéncia é chamado conheci- mento a priori. Esse conhecimento é “anterior” 4 experiéncia no senti- do Idgico, muito embora nao seja necessariamente anterior no tempo. A diferenga entre 0 conhecimento a priori e 0 conhecimento a posterio- ri é uma diferenca da fungao da experiéncia sensivel para a justificacao das proposigSes conhecidas. Dependemos da experiéncia para saber que todos os sinais de tran- sito que nos mandam parar s4o vermelhos, mas nao dependemos dela do mesmo modo para saber que todos 0s sinais de “Pare” nos mandam pa- rar. Nao hé nada na simples idéia de um sinal de “Pare” que exija para ele a cor vermelha. Tais sinais poderiam ser roxos, ou mesmo de qualquer outra cor. Para saber por experiéncia direta que todos os sinais de “Pare” so vermelhos, vocé teria de examinar um numero suficiente de sinais para convencer-se de que essa é de fato a cor deles. E claro que isso exi- giria muito tempo. Porém, na prépria idéia de um sinal de “Pare” esté implicita a nogao de que ele indica aos motoristas que devem parar. Por definigéo, a fungao dos sinais de “Pare” € mandar os motoristas parar; é essa fungdo que os torna sinais de “Pare”. Se vocé encontrar um sinal de transito que nao tenha (ou, melhor ainda, que nao possa ter) essa funcao, pode deduzir tranqiiilamente que nao é um sinal de “Pare”. Nao precisa examinar um grande nimero de sinais de “Pare”, constatar que todos indicam que os motoristas devem parar ¢ depois concluir, a partir desse padrao recorrente, que todos os sinais de “Pare” tém essa mesma funcio. De certo modo, mesmo “antes” de qualquer estudo empirico desses sinais, vocé j4 sabe que eles funcionam desse modo. Por outro lado, sem um estudo empirico, vocé jamais poderia saber que todos os sinais de “Pare” sio vermelhos. A afirmativa de que todos os sinais de “Pare” nos mandam parar é diferente da de que todos os sinais de “Pare” sao yermelhos. A primei- ra afirmativa é analitica, sendo uma verdade de defini¢ao. Da propria definicao de um sinal de “Pare” decorre que todos eles de algum modo indicam a necessidade de parar. Um sinal de “Pare” é tdo-somente um 22] A TEORIA DO CONHECIMENTO sinal que nos manda parar. As verdades analiticas sio verdadeitas si plesmente pelo sentido de seus termos ou pela andlise de seus Coney. tos. Outro exemplo é a afirmativa de que nenhum solteiro ¢ casady Nao ser casado faz parte da definigao de “solteiro”. Em contrapartiq,” a afirmativa de que todos os sinais de “Pare” so vermelhos é uma pro. Posi¢ao sintética. Nao hd nada no simples conceito de um sina] “Pare” que indique que ele deva ser vermelho. E claro que tivemos mo. tivos para fazé-los dessa cor. O vermelho é uma boa cor Para chamar, atengao, por exemplo. Mesmo assim, os sinais de “Pare” poderiam set de outra cor. A afirmativa de que todos os sinais de “Pare” sao Verme. lhos no deriva da simples andlise do conceito desse sinal. Antes, é um, sintese do conceito do sinal de “Pare” com 0 conceito da cor vermelh, Correlacionamos esses conceitos um como outro de um modo que ni depende diretamente de suas definigdes. Os filésofos se perguntam se todos os nossos conhecimentos g Priori sao conhecimentos de proposigées analiticas. Parece claro que podemos conhecer uma proposicio sintética 4 posteriori, desde que a nossa experiéncia indique que a sintese de conceitos que estamos con- siderando é correta. Sabemos Por experiéncia, @ posteriori, que os sinais de “Pare” sio vermelhos. Mas as verdades analiticas podem ser conhe- cidas @ priori, independentemente da experiéncia. Sabemos a priori que todos os sinais de “Pare” sio sinais. Como as proposigoes analiti- cas podem ser conhecidas a Priori, nao precisamos dar-lhes uma justi- ficativa a posteriori. Para convencer alguém de que todos os sinais de “Pare” sao sinais, vocé jamais (é 0 que esperamos) sairia andando pela cidade, Imagine: “Veja, af est4 mais um sinal de ‘Pare’, e veja sé —eleé um sinal, como todos os outros!” Vocé nao precisa fazer isso, pois os nal de “Pare” é por defini¢ao um tipo particular de sinal. Assim, nés nunca tentamos demonstrar as verdades analiticas a posteriori. Podemos justificar dessa maneira algumas verdades sintéticas, do mesmo modo que podemos demonstrar certas verdades analiticas a priori. Resta ainda saber se existe alguma verdade sintética que poss? ser justificada 4 priori. Os mais recentes desenvolvimentos da filosofia a linguagem embaralharam um Pouco a relacao estabelecida entre 4 dis tngao entre andlise e sintese, de um lado, ea distingdo entre cones" mento @ priori e conhecimento a Posteriori, de outro. (O tema 40s F* 4 EPISTEMOLOGIA: UM PRIMEIRO EXAME | 23 rigrafos seguintes é um pouco complexo, mas é importante Para quem quer entender os trabalhos recentes sobre 0 a Priori.) Alguns file fe pensam que certas verdades sintéticas podem ser conhecidas, me justificadas, a priori. As proposig6es contingentemente verdadeiras 0- dem ser falsas; ou seja se 0 mundo fosse um pouco diferente, clase iam falsas. Muitos filésofos partem do pressuposto de que uma pto- posi¢ao sé pode ser conhecida 4 priori se for necessariamente verdadei- ra (isto é, se nao tiver possibilidade de ser falsa); isso Porque, se uma proposicao pode ser falsa, ela precisa da evidéncia da experiéncia sen- sorial para justificar-se. Segundo essa opiniao tradicional, as verdades contingentes nao podem ser objeto de um conhecimento 4 priori. Saul Kripke (1980) afirmou hé pouco tempo que certas proposi- ges contingentemente verdadeiras so cognosciveis a priori. Oferece ele o exemplo do conhecimento de que a barra S tem um metro de comprimento num determinado momento, sendo a barra S 0 metro- padrao conservado em Paris. Se usarmos a barra S para “estabelecer a referéncia” do termo “um metro”, entao, segundo Kripke, podemos saber a priori que a barra S tem um metro de comprimento. A verdade de que a barra S tem um metro de comprimento nao é necessdria, mas contingente, pois ela poderia nao ter um metro de comprimento. Se fosse submetida a uma alta temperatura, por exemplo, seu comprimen- to mudaria. Parece plausfvel, portanto, que certas verdades contingen- tes podem ser conhecidas a priori, a0 contrario do que supuseram mui- tos filésofos. Essa questo motivou importantes discussées entre os fi- Iésofos contemporaneos; alguns ainda defendem a tese de que nenhu- ma proposic¢do contingentemente verdadeira € cognoscivel apna: 7 Com relacao ao exemplo do metro oferecido por Kripke, cers Iésofos observaram que “um metro” pode ser @) quer Gan : come primento de S, qualquer que seja esse comprimento, c ah. hada de um comprimento particular, determinado ra sade que S tem a op¢ao a, segundo esses mesmos filésofos, aal i priori; dada um metro de comprimento seria necessnis ¢ sate e seu conhecimento a opcao 6, a mesma afirmativa seria poet AZO, 86 seria posstvel @ posteriori. Se esses fildso! . teremos de procurar em outra parte uma ve! a priori. € logo s estiverem com af Jade sintética Cognos el “IMEN 24 | A TEORIA DO CONHEC IMENTO 4neos, 0 exemplo : S do alouns filésofos contemporaneos, © exemp de Kip, Sore intéti oscivel a priori. Immanue| y, ° representa uma verdade sintética cog” Seis cone Kany (1724-1804) afirmava que certas verdades sin ee nomen metria, por exemplo — s40 dotadas de uma hi SS omera dade an nao pode ser derivada da experiéncia, de ta me » que podem ser cg nhecidas a priori. Segundo Kant, essas verdades —— Poder sq, conhecidas fazendo-se uso tao-somente da razao e do entendimeny vidéncia forneci wuros, independentemente de qualquer evidéncia fornecida pela pg, puros, kantiana das verdades sintéticas Cognosey, tre os fildsofos, especificamen, parentemente sintéticas como cep¢ao sensorial. A doutrina ntl veis @ priori ainda gera controversias o iz respeito a proposi¢des oe realmente verde e totalmente vermelhe a0 mesmo tempo” e “Uma linha reta é a distancia mais curta entre dois pontos’ Certos filésofos, seguindo a tradicao de Kant, ainda sustentam a opi. nido minoritdria de que as verdades da epistemologia, € da filosofia em geral, sdo verdades sintéticas necessdrias € cognosciveis 4 priori. (Ver Pap, 1958, que nos dé um quadro geral das principais teses acerca da verdade sintética a priort.) As distingdes entre o conhecimento a priori e o conhecimento ¢ posteriori, bem como entre as proposigées analiticas e sintéticas, serio Uteis para a compreensao de muito do que se dird daqui em diante. Além da questao de saber se existe alguma fonte de conhecimento que seja independente da experiéncia sensorial, existem muitas questoes sobre o modo de operagao dessa prépria experiéncia e sobre o proces so pelo qual uma experiéncia pode levar a0 conhecimento. As pesqui- sas empiricas da psicologia cognitiva, dos estudos do cérebro e de ou- tros campos nos dao muitas informa sensorial funciona (ou, as vezes, Pais perguntas que os fildsofos fx cepcao do ambiente circundant . Ma categoria dos problemas de Percepeao, Outra conhecimento é a meméria, Prdprias, O testemunho de o| tante, mas é evidente que n ca. No Capitulo 6, voltare: des sobre como a experiénda deixa de funcionar). Uma das princi- zem €: como a sensacao nos leva a pe” e? Muitos temas filoséficos incluem-s fonte importante de fema que apresenta muitas complicagée tras pessoas é também uma fonte impo” 40 pode ser objeto de uma confianga acti MOS a tratar desses assuntos, A EPISTEMOLOGIA: U 31A: UM PRIMEIRO EXAME | 25 AS INTUICOES EA TEORIA Ja estamos de posse de alguns dos t me ; ermos e distincs permitirao estudar as condicoes, as fontes e ° distingoes que nos humano. Vale agora chamar a atencs a medida do conhecimen; ; 7 : © para um ulti to trio que diz respeito 4 metodologia MT @.um tiltimo tema introdu - Muitas i ‘ ~ chamam em seu socorro as nossas intuigdes won spistemolégicas . com za do conhecimento. Jé recorremos as nossas i _ acerca da nature- i ~ um acordo, por exemplo, em torno da idéia d Ntui¢des para chegar a : le . uma espécie de crenga que também tem co que o conhecimento é . Mo pré-requisi dee alguma espécie de justificativa. Consid ee dm que afi . Consideramos o exempl. guém que afirma saber que Madagascar fi mplo de al- mesmo tempo em que nega crer que M: dow ee pads “0 ladagasc. Quando pensamos n eiiece a ar fica nesse oceano. uma contradicao. Assi se, julgamos que ele implica go. Assim, chegamos a conclusao di é preci em algo para saber esse algo. Os epistemsl al Oe disses . . + ‘mologos valem-: i ne intuigdes : g' ‘se multas vezes ou juizos como esse intuicd Re dec oe (grosso modo, intuigdes sobre o que o que é falso) a fim de dar sustentacao A i : TO Gao as suas teorias epistemoldgicas. Devemos i i Remo tomar cuidado com a confianga que depositamos em ssas intuigdes. As intuigdes sobre 0 conhecimento que decorrem do penso comum precisam as vezes ser corrigidas por certas consideragGes epistemoldgicas mais gerais e tedricas. Porém, as consideragoes relati- vas A plausibilidade geral de nossas intuigdes comuns temos de contra- ¢' por consideragées relativas 4 plausibilidade geral das teorias epistemo- Iégicas. Temos de contrapor essas duas coisas porque as intuigoes tém algo a nos dizer acerca da validade das teorias, € as teorlas rem algo a nos dizer acerca da validade das intuig6es. Isso talver 0 deixe perplese agora, mas ficar4 claro no decorrer do livro. / ssas intuigdes acerca do Por enquanto, 0 ponto principal € que no emai conhecimento, fornecidas pelo senso comum, podem elas mesm® . eitadas a luz de nossa aceitagao Ce As ajustadas, corrigidas ou reste do conhecimento. afirmativas tedricas mais gerais sobre @ matte cor ‘as te plo, podem ser cor- i i xem]| intuig6es do cardter estacionario da Terra, por e 9 er rigidas pelas teorias astronémicas estabelecidas. mos a esse tema. 26 | A TEORIA DO CONHECIMENTO Em suma, percebemos que a teoria do conhecimento merece ser estudada cuidadosamente, e por diversos motivos. As diversas espécies de argumentos céticos, por exemplo, comumente movem as Pessoas a pensar de modo mais critico a respeito das condicées, fontes e limites essenciais do conhecimento humano. A definicao tradicional de conhegj- mento identifica as condigées essenciais do conhecimento como a crenga, a verdade ea justificacao, Estudaremos de modo mais detalhado cada um desses elementos e constataremos, no Capitulo 5, a necessidade de im- por mais uma restrigao a definicao de conhecimento. Ja dispomos de alguns conceitos bésicos, como os de conhecimento a priori e conheci- mento 4 posteriori, conceitos esses que nos Permitirao discutir com mais detalhes as condigdes, fontes e limites do conhecimento humano. No de- correr de nossas discuss6es, prestaremos especial aten¢ao ao papel das intuigGes e das consideragdes tedricas na epistemologia. Passaremos ago- ta a explicar o conhecimento Propositivo humano.

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