Boletim Operário 484

Caxias do Sul, 10 de março de 2018.

Por estes dias realisar-se-á uma reunião

geral do operariado, a fim de protestar
contra a expulsão dos companheiros e
solicitar do governo a revogação dessa
medida vexatória e evidentemente ilegal.
Damos abaixo o manifesto da União dos
Vendedores Ambulantes, o qual nos foi
pessoalmente trazido por Manoel
Correia, que mais do que nunca esta
disposto a consagrar-se fervorosamente
à defesa dos oprimidos contra os
opressores:

A Época
Rio de Janeiro
8 de setembro de 1912.
Página 9
Edição 40
Manoel Correia Volta a atividade
A deportaçãode quatro operários
Manifesto da União Protetora dos
Vendedores Ambulantes
Uma reunião geral da classe operária
O público carioca certamente ainda não
se esqueceu do Manoel Correia, um
homem magro, pequeno e nervoso, que
haverá uns três anos, na praça pública,
rebelou-se contra um gravoso
orçamento votado pelo Conselho
Municipal, que naquele tempo era, mais
do que hoje, feito a imagem e
semelhança do Senhor Augusto
Vasconcellos, popularmente
conhecindo pela dulçurosa alcunha de
Senador Rapadura.
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O primeiro meeeting de Manoel Correia,
grangeou-lhe uma enorme popularidade,
e o tribuno, de um momento para outro,
sentiu pesar-lhe sobre os ombros a
grande responsabilidade do individuo que
se torna o homem da época, e em torno
do qual volitam as atenções.
Valha a verdade dizer que Manoel Correa
soube galhardamente corresponder a
expectativa do povo, e durante meses,
onde quer que houvesse um absurdo a
verberar, ou uma causa simpatica a
defender, aparecia o tribuno
empunhando uma bandeira nacional e
proferindo, numa abundancia
extraordinária de gestos, discursos
inflamados, que não raro o conduziam ao
carcere – porque Manoel Correa, como
todos os evangelizadores das turbas,
sofreu perseguições e foi martirisado .]
Mas todas as popularidades tem a sua
fase de esmorecimento, e Manoel Correa
de há muito que se não apresentava ao
povo, que como a mulher da opera de
Verdi é voluvel, e esquece depressa os
que o amam.
Decorreu algum tempo sem que se
ouvisse falar no tribuno do povo, que teve
nesse interregno subistitutos vários, entre
os quais o Senhor Rego Medeiros não foi
certamente o menos tronitroante.
Manoel Correia volta agora a atividade,
com a sua eleição a presidência da
Sociedade União Protetora dos
Vendedores Ambulantes, que dirige a
classe proletaria um energico manifesto, a
propósito da deportação injustificavel de
quatro operários.
Companheiros!
O governo, que só sabe patrocinar os
interesses da burguesia ambiciosa, acaba
de deportar quatro dos nosos
companheiros do territorio brasileiro,
pelo simples motivo de serem
libertadores dos escravos que a sociedade
moderna acorrenta aos seus caprichos
anti-igualitários.
Daqui, elevem-nos o nosso brado de
alerta contra essa monstruosa
perseguição. Ontem foram quatro
amanhã serão dezenas e dezenas de
operários banidos da pátria, pelo motivo
único de pretenderem pugnar pelos seus
direitos. Cumpre-nos agir em beneficio
dos nossos irmãos Primitivo Soares,
Antonio Veiteas, Albino Caldas e Manoel
Gonçalves, as vitimas indefessas da
cólera burguesa.
Levantemo-nos contra a miséria desse
governo burguês, que sem se preocupar
conhecer as necessidades do operariado,
arrasta-nos ao cárcere e expulsa-nos da
terra em que vivemos. Os exemplos de
Belo Horizonte e Santos deve calar
profundamente em nosso espirito, e
conduzir-nos a reação!
Chegado é o momento em que todas as
sociedades coirmãs, compreendendo a
solidariedade que deve reinar na família
operária, soltem o brado de alerta. A
união operaria não deve consistir
somente na exibição de bandeiras com
rótulos de sociedades operárias.
Defendamos os companheiros oprimidos.
É chegado o momento da reivindicação
dos nossos direitos!
Alerta!
A União faz a força!
Um por todos e todos por um, eis o lema
da humanidade.
Levantai-vos, que estais de joelhos!

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