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Epoca Negócios

05/07/2010

Adeus avaliação de pessoal?


Mestre americano afirma que a forma como empresas medem desempenho hoje apenas atrapalha
Edição Edson Porto com Álvaro Oppermann

A tese do professor de administração Samuel Culbert, da


Universidade da Califórnia em Los Angeles, é polêmica. Para ele, as
avaliações de desempenho formais, aquelas baseadas em relatórios
com perguntas e pontuações, não são apenas inúteis, mas também
nefastas. “Essa impostura é uma das mais insidiosas e maléficas
atividades corporativas e, no entanto, uma das mais ubíquas”, diz
Culbert.

A avaliação de desempenho profissional ganhou terreno a partir dos


anos 60, quando o teórico da administração Alfred Chandler, da
Harvard Business School, observou a sua aplicação bem-sucedida na General Electric. A proposta original
da avaliação era o esclarecimento de funcionários sobre o que faziam bem e o que deveriam melhorar.
Culbert acredita que a missão original foi desvirtuada. “A avaliação virou um instrumento de intimidação
do funcionário e de preservação da autoridade do chefe.” Essas críticas emergem no livro Get Rid of the
Performance Review! (“Livre-se da avaliação de performance!”, inédito no Brasil), escrito em parceria com
Lawrence Rout, editor do The Wall Street Journal.

Os autores identificam o que consideram três grandes equívocos em relação às avaliações. Primeiro: o
desempenho não determina salários. Os autores argumentam que essa crença, que ajudou a legitimar a
avaliação, é infundada. O salário está atrelado, em primeiro lugar, a forças do mercado e,
secundariamente, ao orçamento da empresa. O desempenho seria, segundo eles, um tênue e longínquo
terceiro fator, se tanto.

Segundo equívoco: não existe “objetividade” na avaliação. Culbert diz que, em sua experiência como
consultor, notou que a avaliação de profissionais muda, muitas vezes abruptamente, quando a chefia é
trocada. Para ele, a coisa piora na avaliação em 360 graus, feita a partir de subordinados, colegas e
chefes do avaliado. “É a avaliação mais subjetiva”, acredita Culbert, para quem existe o risco de os
avaliadores usarem o sistema por motivações que não deveriam ser levadas em consideração.

Avaliações anuais podem ser muito ruins para a relação

entre os chefes e suas equipes

Terceiro erro: a avaliação não aprimora o desempenho. A pessoa teoricamente mais indicada para
aprimorar e guiar o profissional seria o seu chefe. “Graças à ameaça que paira por causa da avaliação,
contudo, o chefe acaba sendo a última pessoa à qual o empregado se dirige”, diz Culbert. O resultado
seria o engessamento da criatividade. Para piorar, afirma o autor, os funcionários acabam se preocupando
em apenas “passar no teste” e não em efetivamente melhorar.

Como alternativa às avaliações anuais de hoje, Culbert e Rout sugerem substituir a revisão do
desempenho passado pela previsão do desempenho futuro. Supervisor e subordinado, diz ele, devem
responder juntos à seguinte pergunta: dado nosso objetivo, o que a gente precisa fazer para melhorarmos
juntos? Nesse processo, é necessário que as duas partes atuem como adultos e aceitem suas
responsabilidades.

Isso não significa que as pessoas deixem de ser avaliadas, mas sim que a avaliação do desempenho
passado passa a ser um processo corriqueiro. “[Esse tipo de] avaliação não deve ser aquele evento que
ocorre anualmente. É um processo contínuo”, diz o professor. A primeira consequência disso, acredita
Culbert, é que o chefe, de juiz, passa a ser um treinador e também um colega. “O papel do chefe é o de
guiar, conduzir, ser tutor e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para que o subordinado se torne bem-
sucedido”, diz ele. Culbert sabe que sua opinião bate de frente com o que a maioria das empresas,
inclusive no Brasil, pratica hoje, mas ele acredita que vale a pena pregar a mudança.

Alfred Chandler – Morto em 2007, o americano Chandler foi o primeiro e um dos mais importantes
historiadores dos negócios do século 20. Entre as empresas que ele estudou, estavam a DuPont, General
Motors, Standard Oil e Sears Roebuck

Fonte: http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI152680-16366,00-ADEUS+AVALIACAO+DE+PESSOAL.html

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