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os rts para mim, de eu ter algo em mim, enquanto neste sujeito; por mai sublimes sentimentos que se tenham, € essencial que aquilo que sinto seja para mim, enquanto-este sujeito — no como objeto, algo livre ‘de mim. Na verdade, porém, o objeto é para mim, enquanto é livre em si, eeu sou para mim livre da subjetividade de mim; e, do mesmo modo, é este objeto de maneita alguma imaginado, transformado por mim em objeto, mas em si universal. Além disto, existem ainda muitos outros fragmentos de Herd- lito, sentengas avulsas etc.; este, por exemplo: "Os homens so deuses mortais e 08 deuses, homens imortais; viver é-Ihes morte e morrer élhes vide".' A morte dos deuses é a vida; 0 morrer é a vida dos deuses. O divino é o elevar-se, pelo pensamento, acima da pura na- tureza; esta faz parte da morte. Podemos, efetivamente, dizer de Herdclito 0 que Sécrates disse: © que ainda nos sobrou de Herdclito € excelente; daquilo que foi per- dido para nés, poclemos conjeturar que foi da mesma excelente qua~ lidade. Ou, se quisermos ter 0 destino por tio justo que sempre con- ‘serva, para 08 pésteros, o melhor, entéo devemos ao menos dizer que aquilo que nos foi transmitido de Heréclito valet sua conservagio. (Prelegdes sobre a Histéria da Filosofia, pp. 319-343) 1 al soe Sexo Epc, Eboges Patan, 24, $2. =m ParMinipes De ELEIA (CERCA DE 530-460 A.C.) - DADOS BIOGRAFICOS Parwénives wasceu em Eléia, hoje Véia, na Itdlia, Foi disctpulo do pitagorico Aminias e mostra conhecer a doutrina pitagérica. Provavelnente também seguite as ligdes do velho Xendfanes. Ent Atenas, com Zeno, combate 4 filosofia dos jénicos. Floresceu por volta de 500 a.C. — Escreveu um poena filoséfico, em versos: Sobre a Natureza. Esta obra compreende unt predmbulo duas partes. Na primeira trata da verdade; na segunda, da opinifo. Con- servant-se numerosos fragmentos da primeira parte e alguns da segunda, — ‘A atitude polémica de Parménides levanta-se tanto contra o dualisino pita- ‘6rico (sere nfo-ser, cheio e vazio...) como, segundo alguns intérpretes, contra ‘0 mobilismo de Hericlito. =m A — DOxOGRAFIA Trad, Remberto F. Kuhnen 1, ARISTOTELES, Metafisica, I, 5. 986 b 18 (DK 28 A 24). ‘Parwénuoes parece estar vinculado a unidade formal (kata fon Iégon), enquanto Melisso, unidade material (katd 2 huflen). — Id, ibid,, b 27: Parménides parece, neste ponto, raciocinar com mais pe- netrasio. Julgando que fora do ser 0 néo-ser nada é, forsosamente admite que 86 uma coisa é, a saber, o ser, € nenhuma outra... Mas, constrangiclo a seguir 0 xeal (lois phainoménois), adritindo ao mesmo tempo a tinidade formal (katd tn Iégon) ¢ a pluralidade sensfvel (katt tn distesi), estabelece duas causas e dois prinefpios: quente ¢ frio, vale dizer, Fogo e Terra. Destes (dois principios) ele ordena um (0 quente) a0 sex, 0 outro ao nio-ser. — Id, ibid, IL, 5. 1010 a 1: Exa- minando a verdade nos seres, como seres admitia s6 as coisas sensiveis. 2. ARISTOTELES, Do Céu, Ill, 1. 298 b 14 (DK 28 A 25). Uns negam absolutamente geragio ¢ corrupgio, pois nenhum dos sores nasce ott perece, a nfo ser em aparéncia para nés. Tal é a doutrina da escola de Melisso e de Parménides, doutrina que, por excelente que seja, néo pode ser tida como fundada sobre a natureza das coisas, Pois, se existem seres engendraclos e absolutamente im6- veis, pertencem mais a ciéncia outra que nao a da natureza, e anterior a ela. Mas estes (filésofos), ao conceberem a existéncia apenas para a substancia das coisas sensiveis, crendo plenamente nisso, ¢ os primei- 0s naquilo, ie., que sem tais naturezas iméveis nfo pode haver nem conhecimento nem sabedoria, niio faziam mais que transferir aos seres sensiveis as razdes 86 validas para as realidades. — Id., Da Geragio ¢ Corrupgio I, 8. 325 a 13: Partindo desses raciocinios, deixando de lado 0 testemunho dos sentidos e negligenciando-o sob o pretexto de que se deve seguir a razo, alguns (pensadores) ensinam que o todo é um, imével e ilimitado; pois o limite s6 poderia limitar em relagao a0 vazio. Tais sfo as causas pelas quais esses (pensadores) desenvolveram as teorias sobre a verdade, Certamente, segundo este raciocinio, parece =m 0s mésocnénicos os mt socnimicos suceder assim com estas coisas: mas, se se tomam em conta fatos, semelhante opiniao parece-se com uma loucura, 3. PLATAO, Teeteto, 181 @ (DK 28 A 26). Mas se os partidétios do imobilismo do todo nos parecem dizer mais a verciade, havemos de procurar junto deles nosso reftigio contra cs que fazem mover-se o imével. — Sexto Empirico, Contra os Mate- uthicos, X, 46; (O movimento) néo existe segundo os filésofos da escola de Parménides e de Melisso. Aristételes, num de seus dislogos rela- cionados & posigio de Platéo, o3 chama de imobilistas e nAo-fisicos; imobilistas porque so partidérios da imobilidade; e nio-fisicos porque a natureza 6 prinefpio de movimento, que eles negam, afirmando que nada se move. 4, ARISTOTELES, Fisica, III, 6, 207 a 9 (DK 28 A 27). Pois definimos o todo como aquilo de que nada esté ausente; por exemplo, o homem é um todo ou um cofre. B, como nas coisas Individuais, assim é 0 todo em sentido absoluto, a saber, o todo fora do qual nada ha. Mas aquilo a que falta alguma coisa que permanece fora nao é um todo (por menos que Ihe falte). Ora, todo e perfeito sio absolutamente da mesma natureza ou esto bem perto, Mas nada 6 perfeito (ideo) se nfo tiver termo (tos); ora, 0 termo & o limite. Por isso se deve julgar que Parménides tinha razdo contra Melisso, pois este proclama “o todo infinito", enquanto aquele o diz finito "igual ‘mente distante dum centro", 5. SIMPLICIO, Fisica, 115, 11 (DK 28 A 28). Segundo Alexandre, ‘Teofrasto, no primeiro livro de sua Fisien, relata assim 0 raciocinio de Parménides: "O que esté fora do ser néo € ser; 0 néo-ser € nada; o set, portanto, é um", E Budemo (conta) da ‘seguinte forma: "O que esté fora do ser nao ¢ ser; es6 de uma manei se chama o ser; um, portanto, é o set”. Se Eucemo escreveu isso em alguma outra parte com tanta sabedoria, nfo sei dizer. Mas nos Fisicos, a respeito de Parménides, escreveu o seguinte, donde € igualmente possivel deduzir o que foi dito: "Parménides néo parece demonstrar {ue um & 0 ser, nem se alguém com ele concordaria em chamat 0 ser Ge uma forma, a nfo ser 0 que foi revelado nele de cada um como 0 homem dentre os homens". E dando om detalhe as palavras, a palavra do ser subsiste em todas as coisas como uma e ela mesma, assim, como a do animal nos animais, Da mesma maneira, se todos 0s seres fossem belos e nada fosse tomar o que nfo é belo, mas belas serdo todas as coisas, ena ‘0s PeNsavones verdade nao é um s6 © belo mas muitos (pois a cor seré bela em relagio a familiaridade, aos costumes ou por outro motivo qualquer), assim também os seres todos sero, mas nfo um nem 0 mesmo; pois tum é a agua e outro, 0 fogo. Por conseguinte, ninguém leve a mal se Parménides seguiu palavras nfo merecedoras de {6 e se foi enganado pelas que entéo ele nio soube explicar claramente — pois ninguém © disse de muitos modos, e fo Platéo o primeito que introduziu o duplo (sentido), nem o (sentido) em si nem o por casualidade. Parece que ele foi totalmente enganado por elas (as palavras). E isso que foi observado das suas palavras e contradigées 0 raciocinar (eyllogtzes- thai); pois nfo concordava, se nao parecesse forgoso. Os antecessores, porém 0 afirmaram sem provas. 6, THOFRASTO, Da Sensagio, 1 3s. (DK 28 A 46). A respeito da sensagao, as numerosas opinides em geral se re- duzem a duas: uns com efeito, atribuem-na ao semelhante; outros, a0 contratio. Parménides, Empédocles Plato (atribuem-na) ao seme- Ihante, e 08 da escola de Anaxégoras e Heréclito, ao contrdtio... () Parménides nao definiu absolutamente nada, apenas afirmou que, por haver s6 dois elementos, do predominio de um sobre o outro depende © conhecimento. Pois, se prevalecer 0 quente ou 0 frio, a inteligéncia serd outta; melhor e mais pura é aquela que (procede) do quente: todavia, também esta precisa de certa proporsio (equilbrio): "Pots como... pensamento". (Fo fragmento 16, ver p. 145). Com efeito, Par- ménides considera a sensagfo e a intelig@ncia a mesma coisa. Por isso também a memdria e 0 esquecimento se originam destas devido & mistura. Mas, no caso de haver igualdade de mistura, haverd pensa~ mento ou nao? E qual seré sua indole? Nada ainda esclareceu. Mas, que atribui a sensagio também ao contrério em si, torna-se manifesto de sua afirmagio de que o cadaver nao percebe a luz, 0 calor, ¢ a voz devido a deficiéncia de fogo, mas que percebe o frio, 0 silencio e os contrérios. E acrescenta que, em geral, todo ser tem certo conhecimento. B — FRAGMENTOS Trad. de José Cavalcante de Souza SOBRE A NATUREZA (DK 28 B 1-9) 1, SEXTO EMPIRICO VII, 111 e ss. (versos 1-30), e SIMPLICIO, Do Céu, 587, 20 (vv. 28-32). ‘As éguas que me levam onde 0 coracio pedisse conduziam-me, pois a via multifalante me impeliram da deusa, que por todas as cidades leva o homem que sabe; por esta eut exa levado, por este, muito sagazes, me levaram as éguas o carro puxando, e as mogas a viagem dirigiam. O eixo nos meses emitia som de sirena incandescendo (era movido por duplas, turbilhonantes rodas de ambos os lacos), quando se apressavam a enviar-me as filhas do Sol, deixando as moradas da Noite, para a luz, das cabesas retirando com as méos os véus. fla que esto as portas aos caminhos de Noite e Dia. eas sustenia a parte uma verga e uma soleira de pedra, e elas etéreas enchemvse de grandes batentes; destes Justa de muitas penas tem chaves alternantes. ‘A esta, falando-Ihe as jovens com brandas palavras, persuadiram habilmente a que a tranca aferrolhada depressa removesse das portas; ¢ estas, dos batentes, ‘um véo escancarado fizeram abrindo-se, os bronzeos umbrais nos gonzos alternadamente fazendo giat, em cavilhas e chavetas ajustados; por Is, pelas portas ogo as mosas pela estrada tinham carro ¢ éguas. Ea deusa me acolheu benévola, e na sua a minha mao direita tomou, e assim dizia e me interpelava: © jovem, companheiro de aurigas imortais, ‘tu que assim conduzido chegas & nossa morada, (05 PENSADORES. salve! Pois ndo foi mau destino que te mandou perlustrar cesta via (pois ela esté fora da senda dos homens), mas lei divina e justiga; € preciso que de tudo te instruas, lo Amago inabalavel da verdade bem redonda, ¢ de opinides de mortais, em que no ha £6 verdadeira. No enlanto também isto aprendlerds, como as aparéncias deviam validamente ser, tuido por tudo atravessando, 2. PROCLO, Comentério ao Timeu, |, 345, 18. Pois bem, cu te direi, ¢ tu recebe a palavra que ouviste, 05 tinicos caminhos de inquérito que so a pensar: © primeiro, que é e porlanto que nfo é nfo ser, de Perstuasio é 0 caminho (pois a verdade acompanha); © outro, que nao € e portanto que é preciso nfo ser, este entdo, eu te digo, é atalho de todo incrivel; pois nem conhecerias 0 que nao é (pois nio é exeqiiiveb, nem 0 ditias.. 3. CLEMENTE DE ALEXANDRIA, Tapegarias, VI, 23. . pois 0 mesmo é a pensar e portanto ser. 4, IDEM, Ibidem, V, 15. Mas olha embora ausentes 2 mente presentes firmemente; pois nfo deceparés o que é de aderir a0 que é nem dispersado em tudo totalmente pelo cosmo, nem concentrado... 5. PROCLO, Comentério a Parménides, I, p. 708, 16. 4 para mim 6 comum donde eu comece; pois af de novo chegarei de volta. 6. SIMPLICIO, Fisica, 117, 2. Necessirio € 0 dizer e pensar que (0) ente 6; pois € ser, oeedatdo loo tue nando oecéarer Pn Pois piimeiro desta via de inquérito eu te afasto, mas depois daquela outra, em que mortais que nada sabem cerram, duplas cabesas, pois o imediato em seus peitos dirige errante pensamento; e sio levados ‘como surdos e cegos, perplexas, indecisas massas, para os quis ser e nao ser é reputado o mesmo € nfo o mesmo, ¢ de tudo é reversivel o caminho. ‘os mésocnkricos 7-8. PLATAO, Sofista, 237 A (versos 7, 1-2); SEXTO EMPIRICO, VII, 114 (uv. 7, 3-6); SIMPLICIO, Fisica, 114, 29 (vv. 8, 1-52); IDEM, ibidem, 38, 28 (vv. 8, 50-61). (7.) Nao, impossivel que isto prevalega, ser (0) nao ente. Tu porém desta via de inquérito afasta o pensamento; nem o hébito multiexperiente por esta via te force, ‘exercer sem visio um olho, e ressoante um ouvido, ea lingua, mas discerne em discurso controversa tese por mim exposta. (8) $6 ainda (o) mito de (uma) via resla, que é e sobre esta indfcios existem, bem muitos, de que ingénito sendo ¢ também imperectvel, pois todo inteiro, inabalavel e sem fimy nom jamais era nem serd, pois é agora todo junto, uno, continuo; pois que getacao procurarias dele? Por onde, donde crescido? Nem de nao ente permitirei que digas e pense; pois nao dizivel nem pensvel & que nao é que necessidade o teria impelido ‘a depois ow antes, se do nada iniciado, nascer? ‘Assim ou totalmente é necessério ser ou néo. Nem jamais do que em certo modo € permitia forga de £6 nascer algo além dele; por isso nem nascer nem perecer deixow justiga, afrouxando amarras, ‘mas mantémy ea decisio sobre isto esta no seguinte: G ou nko é; esté portanto decidico, como 6 necessirio, uma via abandonar, impensével, inomindvel, pois verdadeira via nao 6, e sim a outra, de modo a se encontrar e ser real E como depois pereceria’o que &? Como pocleria nascer? Pois se nasceu, néo é, nem também se um dia é para ser. ‘Assim geragao 6 extinta e fora de inquérito perecimento. Nem divisivel é, pois é todo idéntico; rem algo em uma parte mais, que o impedisse de conter-se, nem também algo menos, mas é todo cheio do que é por isso é todo continuo; pois ente a ente adere. Por outro lado, imével em limites de grandes liames sem principio e sem pausa, pois geragio e perecimento bem longe afastaram-se, rechagou-0s fé verdadeira, (© mesmo e no mesmo persistindo em si mesmo pousa. ce assim firmado ai persiste; pois firme a Necessidade (0s PENsaDonES. em liatnes (0) mantém, de limite que’em volta 0 encerra, para ser lei que nio sem termo seja o ente; pois é nao carente; nao sendo, de tudo careceria, (© mesmo é pensar e em vista de que é pensamento. Pois no sem o que é, no qual é revelado em palavra, achards 0 pensar; pois nem era ou é out serd outro fora do que é, pois Moira 0 encadeou a ser inteiro e imével; por isso tudo seré nome {quanto 03 mortais estatuiram, convictos de ser verdade, engendrar-se e perecer, ser e também nio, lugar cambiar e cor brilhante alternar. Ent&o, pois limite 6 extremo, bem terminado é, de todo lado, semelhante a volume de esfera bem redonda, do centro equilibrado em tudo; pois ele nem algo maior nem algo menor necessdrio ser aqui ou ali; pois nem néo-ente é, que o impeca dle chegar 0 igual, nem é que fosse a partir do ente aqui mais e ali menos, pois € todo inviolado; pois a si de todo igual, igualmente em limites se encontra. Neste ponto encerro fidedigna palavra ¢ pensamento sobre a verdade; ¢ opinides mortais a partir daqui aprende, a ordem enganadora de minhas palavras ouvindo. Pois duas formas estatufram que suas sentengas nomeassem, das quais uma no se deve — no que estfo errantes —; ‘em contrérios separaram 0 compacto e sinais puseram parte um do outro, dle um lado, etéreo fogo de chama, stiave € muito leve, em tudo 0 mesmo que ele proprio ‘mas no 0 mesmo que o outro; e aquilo em si mesmo (puseram) ‘em contrério, noite sem brilho, compacto denso e pesado. ‘A ordem do mundo, verossimil em todos os pontos, eu te xevelo, ‘para que nunca sentenga de mortais te ultrapasse. SIMPLICIO, Fisica, 180, 8. Mas desde que todas (as coisas) luz ¢ noite esto denominadas, 08 (nomes aplicados) a estas ¢ aquelas segundo seus poderes, tudo esta cheio em conjunto de luz e de noite sem luz, das duas igualmente, pois de nenhuma (s6) participa nada. ‘os ené-socrAricos 10. CLEMENTE DE ALEXANDRIA, Tapegarias, V, 133. Saberds e expansio luminosn do éter e 0 que, no éer, € tudo signo, do sol resplandecente, Uinspido Inzeito, efitos invistveis, ¢ donde provieram; afeitos circulantes saberds da tua de face redonda, fe sua nntureza;e saberds também 0 céu que circunda, donde nasceu € como, dirigindo, forgow-o Ananke 4 manter limites de astros. 11. SIMPLICIO, Do Céu, 559-20. Como terra, sol e lua, Ger comum, celeste via léctea, Olimpo extremo e de astros caida forga se langaram. 12. IDEM, Ffsica, 39, 12. Pois 03 mais estreitos encheram-se de fogo sem mistura, €.08 seguintes, de noite, e entre (os dois) projela-se parte de chama; ‘mas no meio destes a Divindade que tudo governa; pois em tudo ela rege odioso parto e unio ‘mandando ao macho unir-se a fémea e pelo contrério ‘© macho a fémea. 13, PLATAO, Banquete, 178 B. Primeiro de todos os deuses Amor ela concebeu. 14, PLUTARCO, Contra Colotes, 15, p. 1116 A. Brilhante a noite, errante'em torno a terra, alleia luz, 15. IDEM, Da Face da Lua, 16, 6 p. 929 A. Sempre olhando inquieta para os raios do sol. 16. ARISTOTELES, Metafisica, IH, 5. 1009 b 21. Pois como cada um tem mistura de membros errantes, ‘assim a mente nos homens se apresenta; pois 0 mesmo 6 0 que pensa nos homens, eclosto de membros, fem todos e em cada um; pois o mais € pensamento. 17. GALENO, in Epid,, V1, 48. A direita os rapazes, a esquerda as mogas. (05 FENSADORES. 18. CELIO AURELIANO, Morb. Cron,, IV, 9, p. 116. Mulher ¢ homem quando juntos misturam sementes de Vénus, nas velas informando de sangue diverso a forga, guardando harmonia corpos bem forjados modela. Pois se as forgas, misturando 0 sémen, Iutarem e nio se unirem no corpo misturado, terriveis afligirio 0 sexo nascente de um duplo sémen. 19. SIMPLICIO, Do Céu, 558, 8. Assim, segundo opiniéo, nasceram estas (coisas) e agora sto ‘¢ em seguida a isso se consumarao, uma vez crescidas; ‘um nome Ihes atribufram os homens, distintivo de cada. C - Critica MODERNA 1. Friedrich Nietzsche Trad, de Carlos A. R. de Moura TX, sxquanto em todas as palavras de Herdclito exprime-se a imponéneia e a majestade da verdade, mas da verdade apreendida ra intuigéo, no da verdad galgada pela escada de corda da logics, enquanto ele em um éxtase sibilino ve, mas ndo eapia, conhece mas ‘nao calcula, aparece ao lado seu contemporaneo Parménides, como tum par; igualmente com o tipo de um profeta da verdade, mas como gque formado de gelo, nfo de fogo, vertendo em torno ce si uma Tux fria e penetrante. Ko fim da sua vida, provavelmente, Parménides teve um mo- mento da mais pura abstragdo, purificada de toda efetividade e com- pletamente exangue; este momento —nifo-grego como nenhumn outro poe dois séculos da época trégica —, cujo produto é a teoria do set, foi para sua propria vida ym ponto de demarcagéo que a dividiu em dois periodos; este mesmo momento separa igualmente o pensamento présoerdtico em duas motades, sendo que a primeira pode ser cha- Prada anaximandrica e a segunda parmentdica. O primeiro ¢ mais antigo period do pr6prio filosofar de Parménides ainda carrega igual- meme a rubrica de Anaximandro; este perfoco produziu um sistema fisico-filosdfico efetivo como resposta as perguntas de Anaximandro. Quando mais tarde ele foi acometido daquele calafrio de abstragoes slaciais e formulou a mais simples proposigio referente ao ser © 20 Bro-ser, ld estava o seu proprio sistema, entre as muitas teorias antigas {que sua proposigfo reduziaa nada, Todavia, ele parece nfo ter perdido toda a piedade paternal em relagio a crianga forte e bem formada de Sua juventude; € por isto diz: "Verdadeiramente existe apenas umn cx- gninho corteto; mas, querendo dirigit-se por outro caminho, o tinico Correto oda minha antiga opiniao, por seus bens e sua conseqiténcia’, (05 PENSADORES. Protegendo-se com essa locugao, ceu ao seu antigo sistema fisico um importante e extenso espaco haquele grande poerna sobre a natureza, © proprio poema que devia proclamar 0 novo conhecimento como 0 {nico itinerario para a verdade. Esta consideraggo paterna, exatamente quando através dela um erro poderia insinuar-se, é um resto de sen- sibilidade humana numa natureza quase transformada em uma mé- quina de pensar, inteiramente pettificada pela intransigéncia l6gica. Parménides, cujas relagées pessoais com Anaximandro ndo me pparécem inverossimeis, que nao apenas verossimilmente mas eviden- temente teve na teoria de Anaximandro seu ponto dle partida, tinha ‘as mesmas suspeitas em relagao a perfelta separagéo entre um mundo que apenas é e um mundo que apenas vem a ser, suspeita que também Heréclito apreendera e que 0 conduzira A negasio do ser. Ambos procuravam uma saida, fora daquela oposisio © separacio de uma Gupla ordem do mundo. Aquele salto no Indeterminado, no indeter- mindvel, através do qual Anaximandro escapara de wma vez por todas a0 reino do vir-a-ser e de suas qualidades empiticas dadas, nao era fécil pata duas cabegas tio independentes e diferentes como as de Heréclito e Parménides; eles primeiramente procuraram andar tio lon ge quanto podiam e reservaram o salto para aquele lugar oncle o pé iio encontra mais apoio e onde se precisa saltar para nfo cair. Ambos viam repetidamente aquele mesmo mundo que Anaximandro téo me- Iancolicamente condenara, explicando-o como o lugar do crime ¢ si- ‘multaneamente da expiagio para a injustiga do vir-a-ser. Como jé sa- bemos, em sua visio Herdclito descobria que maravilhosa orclenagio, regularidade e certeza manifestam-se em todo vir-a-ser; dat conclufa cle que o vir-a-ser nfo poderia ser injusto nem criminoso. Parménides teve uma visio completamente diferente; ele com- arava as qualidades umas com as outras ¢ acreditava descobrir que las no seriam todas idénticas, mas precisavam ser ordenadas em duas classes. Por exemplo: ele comparou a luz e a obscuridade e, assim, a segunda qualidade era manifestamente apenas a negagio da primeira; e assim ele diferenciava qualidades positivas e negativas, esforgando-se seriamente por reecontrar e assinalar esta oposigio fur damental em todo o reino da natureza. Seu método era 0 seguinte: ele tomava alguns opostos, por exemplo, leve e pesado, sutil e denso, ativo e passivo, e os remetia aquela oposicao modelo entre luz e obs- cutidade; 0 que correspondia A luz era a qualidade positiva e 0 que correspondia A obscuridade, a qualidade negativa. Ble tomava por ‘exemplo 0 pesado e o leve: 0 leve ficava ao lado da luz, 0 pesado do lado obscuro; e assim o pesado valia para ele apenas como negagio do leve; este valendo como qualidade positiva. Neste método jé se evela uma aptidio ao procedimento l6gico abstrato, resistente e fe- ‘0s put socrAticos, chado as insinuagSes dos sentidos. © pesado parece oferecer-se insis~ tentemente aos sentidos como qualidade positiva, 0 que nao detinha Parménides em marcé-lo com uma negagio. Da mesma forma ele in- dicava a terra em oposigio ao fogo, 0 frio em oposigao ao quente, © denso em oposigao ao sutil, o feminino em oposicio ao masculino, © ppassivo em oposigfo ao ativo, cada um apenas como negasio do outro; He tal maneita que, segundo sua visio, nosso mundo empirico cin- dia-se em duas esferas separadas: naquela das qualidades positivas com um carter luminoso, igneo, quente, delgado, ativo, masculino Ee maquela das qualidades negativas. As tiltimas exprimem propria mente apenas falta, a auséncia das outras, das positivas; ele descrevia tambémta esfera onde faltavam as qualidades positivas como obscura, terrestre, fria, pesada, espessa e em geral com caracteres passivo-fe~ mininos. Ao invés das expressGes “positivo" e "negativo", ele tomava 03 zigidos termos "ser" e “"nfo-ser" e chegava com isso a tese, em con- tradigdo a Anaximandro, que este nosso mundo contém algo de ser fe sem dtivida também algo de ndo-ser. Nao se deve procurar o ser fora do mundo e como que acima do nosso horizonte; deve-se — buseé-lo diante de nés, em todo vir-a-ser esté contido algo de ser © em atividade. Entretanto, restava para ele a tarefa de dar a resposta correta & pergunta: "O que € 0 vir-a-set?" B este era o momento em que ele recisava saltar para no cair, ainda que, talvez, para lais nalurezas Fomo a de Parménides, todo salto equivalesse a uma queda, Enfim, caimos no nevoeiro, na mistica das qualitates occultae, talvez até mesmo na mitologia. Parménides vé, como Heréclito, 0 virea-ser ¢ 0 nio-per- manecer tniversais, mas apenas pode interpretar um perecer de tal maneiza que nele 0 néo-ser precise ter uma culpa. Pois como podia ser ter a culpa do perecer! Entretanto, o nascer precisa igualmente realizar-se pelo auxilio do nao-ser: pois 0 ser esté sempre presente € ‘nfo poderia, por si mesmo, nascer nem explicar nenhum nascer. Assim tanto 0 nascer como 0 perecer so produzidos pelas qualidades ne- gativas. O fato de ter um contedido 0 que nasce e perder um contetido S que perece, pressupde que as qualidades positivas — isto é aquele 2 Sparticipem igualmente de ambos os processos: “Ao vir-a-ser € ne- cessdrio tanto 0 set quanto 0 no ser; se eles agem conjuntamente, entio resulta um vir-a-ser". ‘Mas como colaboram o positivo e 0 negativo? Eles nfo deviam a0 contrario repelir-se constantemente como contradit6rios, fazendo fassim todo vir-a-ser impossivel? Aqui, Parmenides langa méo de uma {qalitas occulta, de uma mistica tendéncia dos contraditérios a apro- Jimarem-se e atrairem-se, simbolizando aquela oposi¢ao pelo nome de Atrodite, através da conhecida relagio miitua e empfrica entre mas- =m (05 PENSADORES. culino e feminino. O poder de Afrodite é ligar 08 contraditérios, o ser eo nfio-ser. Um desejo tine os elementos que conflituam e se odeiar 6 resultado é um vir-a-ser. Quando o desejo esté satisfeito, 0 édio e ‘oconilito interno impulsionam novamenteo ser eo néo-ser A separasao —e entio o homem fala: "A coisa perece". X. Mas ninguém se engana impunemente com abstragbes tio terriveis como sao 0 ser e o nao-ser. O sangue se coagula pouco a pouco quando se toca nelas. Houve um dia em que Parménides teve lima estranha idéia, que parecia invalidar todas as suas combinagdes anteriores, de forma que ele tinha prazer de jogélas de lado como se joga unt saco de mocdas sem valor. Supde-se habitualmente que na Invengio daquele dia teve influéncia no apenas a conseqiiéncia in- terna de tais conceitos como ser e nfo-ser mas também uma impresso externa, o conhecimento da teologia do velho e errante rapsodo, cantor de uma mistica divinizagao da natureza, Xen6fanes de Colofio. Xendfanes vivia uma vida extraordinéria como poeta ndmade e tornou-se, através desuas viagens, um homem muito instruido emuito instrutivo, que sabia interrogar e natrar; por isso Heréclito © contava entre os poli-historiadores e em geral entre as naturezas “hist6ricas" no sentido mencionado. De onde e quando lhe veio o impulso mfstico a0 Uno e eternamente Imével, ninguém pode verificar; ela é talvez a concepso de um homem que finalmente se tornou velho esedentétio, ‘que apds 0 movimento desua odisséia e apés um aprender e investigar infatigdveis concebe 0 maior e o supremo na visio de um repouso divino, na permanéncia de todas as coisas e uma paz pantefstica ori- gindria. No restante, parece-me puramente casual que, exatamente no mesmo lugat, em Eléia, conviviam dois homens, cada um trazendo na eabega uma concepgio da Unidade; eles nfo formam nenhuma escola e nfo tém nada em comum, nada que um pucesse ter aprendido do outro e entéo ensinado. Pois @ origem da concepgéo da Unidade num completamente diferente, mesmo oposta A do outro; ¢, se wm ivesse aprendido a teoria do outto, ele precisaria, apenas para enten- déla, traduzi-la primeiramente em sua propria linguagem. Em todo ‘caso, nesta tradugio se perderia exatamente 0 especifico da outa teoria, Se Parménides chegava A unidade do ser puramente através de uma ‘suposta conseqiiéncia ldgica, retirando-a dos conceitos de ser e nao-ser, Xenéfanes € um mistico religioso e, com aquela unidade mfstica, per- {ence com efeito ao VI século. Ele nao eta uma personalidade tio transformadora como Pitégoras; mesmo assim, teve em suas peregri- nagées sempre os mesmos impulsos e inclinagies: curar, purificar € melhorat os homens. Ble é 0 moralista, mas ainda na categoria dos rapsodos; em uma época posterior ele teria sido um sofista. Em sua =~ cos mésocnAnicos cousada condenagao dos costumes vigentes ela nfo tem par na Grécia; por isso nfo se recolhia de maneira alguma a solido, como Plato € Fierdclito, mas colocava-se, nio como tum Térsites discordante, exata- mente diante daquele ptiblico que ele condenava com célera e ironta, pela sua admiragio ruidosa por Homero, pela sua inclinagéo apaixo- Fada as honras dos festivais de gindstica, por sua adoragio pelas pedras com forma humana. Com ele a liberdade do individuo esté no seu ponto mais alto;e, nesta fuga quase sem limites de todas as convenes, Ele estd mais préximo ce Parménides do que naquela suprema unidade divina que ele viu uma vez, em um daquteles estados de visto dignos Ge set século, que tem em comum com a visio do ser de Parménides apenas a expressio e a palavra mas no cerlamente a origem Foi antes em um estado de espfrito oposto que Parménides en- controu as teoria do ser. Naquele dia ¢ nesse estado ele examinava quelas oposigdes cooperantes cujo desejo eédio constitufam o mundo op vira-ser, o ser e 0 ndo-ser, as qualidades positivas e negativas; e ‘entio ele se prenceu repentinamente, desconfiado, ao conceito de qua- Tidade negativa, do néo-ser. Algo que néo é pode ser um qualidade? Ou, interrogado no plano dos prinefpios: algo que nto ¢, pode ser? ‘Mas a tinica forma do conhecimento que nos oferece imediatamente tuma seguranga incondicional e cuja negasdo iguala a loucura é a tau- tologia A = A. Este mesmo conhecimento tautolégico Ihe dizia impla- cavelmente: "O que nao é, néo é O que é, é!" Repentinamente ele sentiu pesar sobre sua vida um monstruoso pecado logico; ele sempre havia suposto sem escripulo que existiam qualidades negativas, nao- seres em geral, havia suposto que, formalmente expresso, A = nilo A: © que somente a mais completa perversidade do pensamento poderia formar. Mas, vendo as coisas de perlo, como ele mesmo percebeu, todaa grande maioria dos homens julgava com a mesma perversidade; tle mesmo tinha apenas tomado parte do crime geral contra a légica. Mas o mesmo momento que o acusa deste crime ilumina-o com a gléti de uma descoberla; ele encontrou um principio, a chave para o mistério universal, separado de toda ilusio humana; na firme e terrfvel mo da Verdade tautoldgica sobze 0 ser, ele desce agora ao abismo das coisas. 'No caminho ele encontra Heréclito: um encontro infeliz! Para cle, que tinha colocado tudo na mais rigorosa separagio entre o ser Co ndo-ser, os jogos de antinomias de Herdclito tinham que ser pro- fandamente odiosos; proposicées como: "Nés simultaneamente somos fe nio somos". "Ser e nfo-ser so e nAo so os mesmos", proposigées através das quais tudo o que ele tinha destrinchado e esclarecidlo se fomaria novamente opaca e inexplicével, levaram-no ao furor. “Fora com os homens que nada sabem e parecem ter duas cabecas", gritava tle, "Junto deles esté tudo, também seu pensamente, em fluxo. Eles os (05 FENSADORES. admiram’ as coisas perenemente mas precisam ser tio surdos quanto ‘cogos para misturazem assim os contrérios!" A. compreensiio da massa, ‘lorificada através dos jogos de antinomias ¢ exaltada como o cume de todo conhécimento, era para ele uma vivéncia dolorosa e ininteligivel Fle mergulhava entfo no banko frio de suas terriveis abstragoes. © que é-verdadeiro precisa estar no presente eterno, dele nfo pode ser dito “ele era’, “ele sera”, O ser no pode vir-a-ser: pois de que ele teria vindo? Do nfo-ser? Mas 0 néo-ser no é e nto pode produzir nada. Do set? Isto nio seria senio produzir-se a si mesmo. O mesmo ‘acontece com o perecer; ele é igualmente impossivel, como 0 vir-a-set, como toda mutagio, como todo aumento, como toda diminuigao. F vlida em geral a proposigio: tudo do que pode ser dito "foi" ou rio 6 do ser, entretanto, nunca pode ser dito “nfo ¢'. O ser é indivisivel, pois onde esté a segunda poténcia que devia dividi-lo? Ble 6 imével, pois para onde ele devia movimentar-se? Ble nfo pode ser nem infinilamente grande nem infinitamente pequeno, pois ele € acabado e um infinito dado por acabado é uma contradigéo. Assim limitado, acabado, imével, em equilibrio, em todos os pontos igual- ‘mente perfeito como uma esfera, ele paira, mas nio em um espaso, pois caso contrétio este espago seria um segundo ser. Mas nao podem xistir vétios seres, pois para separé-los precisaria haver algo que nfo fosse um ser: 0 que é uma suposigéo que se suprime a si mesma, Assim, existe apenas a Unidade eterna. ‘Mas, se agora Parménides voltava seu olhar ao mundo do vit- a-ser, cuja existéncia ele antes linha procurado compreender através de combinagdes tio engenhosas, ele zangava-se com os seus olhos por verem o vir-a-ser e com seus ouvidos, por ouvi-lo, Seu imperativo Agora era: "Nao siga 03 olhos estiipidos, nao siga 0 ouvido ruidoso outa lingua, mas examine tudo somente com a forga do pensamento". Com isto ele operava a primeira critica do aparelho do conhecimento, extremamente importante e funesta em suas conseqiiéncias, se bem que ainda muito insuficiente, Attavés disso ele repentinamente sepa~ You os sentidos e a capacidade de pensar abstracées, a razio, como se fossemn duas faculdades inteiramente distintas, desintegrou 0 pr6- pio intelecto e animou aquela divisio completamente err6nea entre Corpo e espitito que, especialmente desde Platio, pesa sobre a filosofia ‘como uma maldigéo, Todas as percepgdes dos sentidos, pensa Parmé- rides, dio apenas ilusées; e sua ilusdo fundamental é simular que 0 nio-ser é, que o virea-ser tem um ser. Toda aquela multiplicidade e variedade do mundo conhecido pola experiéncia, a troca de suas qua lidades, a ordenagio de seus altos e baixos, foram postas de lado impiedosamente como uma ilusfo e pura aparéncia; nio ha nada para aprender dela, esté perdido todo trabalho que se tem com este mundo ‘0s pnb socnAricos mentiroso, nulo e alcangado através dos senticlos. Quem pensa desta maneira, como o fez Parménides, suprime a possibilidade de ser um investigador da natureza; seu interesse pelo fendmeno cai, forma-se tuum 6dio em nfo poder livrar-se desta eterna fraude dos sentidos. ‘Agora a verdade apenas pode habitar nas mais desbotadas e pélidas igeneralidades, nas caixas vazias das mais indeterminadas palavras, Samo num castelo de teias de aranha; e ao lado de uma tal "verdade” senta-se 0 fildsofo, igualmente exangue como uma abstragio, ¢ lula enclausurado em formulas. A aranha quer o sangue de suas vitimas; mas 0 fildsofo parmenidiano odeia justamente o sangue de sua vitima, © sangue da empiria por ele sacrificada. XI. Bele era um grego, cujo “florescimento" é aproximadamente contemporineo a eclosio da revolugio jénica. Era enti possivel a lum grego fugir da profusa efetividade como de um puro ¢ impostor fesquema da imaginacgo. Fugit, nfo, por exemplo, como Plato, para © pais das idéias eternas, para a oficina do artesio do mundo, para passear os olhios nos prot6tipos imaculados, e inquebravels clas coisas Hi'mas para 0 rigido sossego da morte do mais frio ¢ inexpressivo ‘conceito, 0 ser. Queremos guardar-nos de.interpretar este fato notvel segundo falsas analogias. Aquela fuga nfo era uma fuga universal no sentido dos filésofos hindus, para ela ndo era exigida a profunda con- vviegio religiosa da perversidade, mutabilidade e infelicidade da exis- téncia; aquela meta final, o repouso do ser, no era aspirada como 0 ‘mergulho mistico em uma representagio totalmente satisfat6ria e en ‘Cantedora que, para os homens comuns, é um enigma e um escindalo, ‘O pensamento de Parménides no traz. em si nada do perfume som| fe embriagante dos hindus, perfume que talvez, néo seja totalmente imperceptivel em Pitégoras e Empédocles; 0 milagroso naquele fato, para aquele tempo, é antes 0 inodoro, o incolor, 0 inanimado, 0 de- Formado, a falta total de sangue, de religiosidade e de calor ético, 0 esquematismo abstrato — em um grego! O milagroso é antes de tuclo a terrivel energia da aspiragio a certeza em wma época de pensamento inistico, fantastico e sumamente mével. A oragéo de Parménides é: "6 Ueuses, concedei-me apenas uma certeza! E que ela seja uma tébua Sobre o mar da incerteza, apenas larga o suficiente para permanecer sobre ela. Tomai para vos tuido 0 que vem-a-ser, o que é exuberante, mullicolorido, florescente, enganador, excitantee vivo;edai-meapenas a tinica, pobre e vazia certeza, 'Na filosofia de Parménides preludia-se o tema da ontologia. A experiéncia no Ihe apresentava em nenhuma parte um set tal como ele o pensava, mas, do fato que podia pensé-lo, ele concluia que ele precisava existir: uma conclusfo que repousa sobre o pressuposto de fi (05 PENSADORES que nés temos um 6rgfo de conhecimento que vai a esséncia das coisas e 6 independente da experiéncia. Segundo Parménides, o ele- ‘mento de nosso pensamento nfo esté presente na intuigao mas é tra- Zido de outra parte, de um mundo extra-sensivel ao qual nds temos lum acesso direto através do pensamento. Aristteles j& fizera valer, contra, todas as dedugdes andlogas, que a existéncia nunca pertence 4 esséncia, que 0 ser-af nunca pertence a esséncia das coisas. Exata- ‘mente por iss0 néo se pode, a partir do conceito "ser" — cuja essentia E apenas 0 ser —, concluir uma existentia do ser. A verdad lgica tlaquela oposigio entre o ser e nio-ser & completamente vazia, se no pode ser dado o objeto subjacente, se néo pode ser dada a intuigio Através da qual esta oposigdo € deduzida por abstragao; sem este re- forno a intuigfo, ela é apenas um jogo com abstrages através do qual nada é conhecido de fato. Pois 0 puro critério l6gico da verdade, como Kant ensina, Isto é, a concordéncia de um conhecimento com as leis formais e gerais do entendimento e da razio, é apenas o couditio sine {qua non, portanto a condigéo negativa de toda verdade: a légica nao pode ir mais longe nem descobrr, através de nenhum procedimento, DS exro que se refere nfo a forma mas ao contetdo. Assim, quando se procura o contedido para a verdade I6gica da oposigao: "O que & & Squenio.é nfo 6’, ndo se encontta, de fato, nem uma tinica efetividade gue Ihe soja rigorosamente conforme; de uma drvore ett tanto posso dlizer“ela &, em comparagio com todas as coisas restantes, como "ela ‘vem a ser", em comparagéo com ela mesma num novo momento do tempo, ot finalmente, também, "ela néo é, "ela ainda nio é drvore", por exemplo, enquanto et considerava 0 arbusto. As palavras io Apenas simbolos as relagdes das coisas entre si e conosco, elas nfo fuandam em parte alguma a verdade absoluta; ea palavra "ser" indica apenas a relagio mais geral que liga todas as coisas, igualmente como a palavra "nfo-ser”. Mas, se a propria existéncia das coisas nfo é de- monstravel, entao a relagéo das coisas entre si, o chamado "ser" & “info-ser’, nfo pode ajudar a aproximarmo-nos nem um passo do pals da verdad, Através de palavras e conceitos nés nfo chegamos jamais fa penetrar a muralha das relagées, nem mesmo a algum fabuloso fu Gamento origindrio das coisas; e mesmo nas puras formas da sensi- bilidade e do entendimento, no espaco, no tempo e na causalidade, rnés nfo ganhamos nada que se assemelhe a uma veritas aelerna, E condicionalmente impossivel, para o sujeito, querer conhecer e ver algo acima de si mesmo; tio impossivel que conhecimento e ser sio, de todas as esferas, as mais contradit6rias. Se Parménides, na inge- ruidade ignorante da critica do intelecto de entéo, podia presumir chegar a um ser-enrsi a partir de um conceito eternamente subjetivo, hoje, depois de Kant, é tuma ignorancia atrevida colocar aqui e ali, oe ‘05 rné-socnkricos os entisocninicos como tarefa da filosofia, particularmente junto aos teélogos mal truidos que querem brincar de filésofos, “aprender o absoluto com fa consciéncia", aproximadamente na forma: "O absoluto j esta pre- Sente, sendo como ele poderia ser procuraco?" — como se exprimit Hegel. Ou na diresio dle Beneke: "O ser precisa estar dado de alguma ‘maneiza, ele precisa de alguma maneira estar acessfvel, sem 0 que hem mesmo © conceito do ser poderiamos ter". O conceito do ser! Como se ele jé no mostrasse na etimologia a mais pobre origem em- pirica. Pois, no fundo, esse quer dizer apenas respirar; e, quando 0 homem o emprega em relagio a todas as outras coisas, ele transfere fa convicgao que ele mesmo respira e vive as coisas, através de uma metéfora, isto & através de algo il6gico, compreendendo a existéncia estas coisas como um respirar, segundo a analogia humana. Logo, Confunde-se o significado original das palavras, permanecencio sempre © fato de que 0 homem representa o ser-af das outras coisas segundo {2 analogia com seu préprio ser-ai, portanto, antropomorficamente, em todo 0 caso, através de uma transposicio ilégica. Mesmo para os ho- ‘mens, portanto, a parte aquela transposiggo, a proposigao “eu respiro, Jogo existe um ser” é completamente insuficiente: pois contra ela pode ‘ser feita a mesma objecio que contra o ambulo ergo sum ow ergo est. XIL. © outro conceito, de maior contesido que o do ser e igual- mente encontrado por Parménides, é 0 de Infinito, se bem que ainda ao tdo bem manejado como por seu dlscfpulo Zendo. Nao pode existir nada de infinito acabado, O fato que nossa efetividade, nosso mundo presente, traga em si o carster daquele acabado, significa segundo cua eeséncia uma contradigéo contra 0 légico, em conseqtiéncia contra teal, e ilusio, mento, fantasma, Zeno usava sobretudo tm método Ge demonstragéo indireta; ele dizia, por exemplo: "Nao pode existir henhum movimento de uni lugar para outro, pois, se existisse um tal movimento, estaria dado um infinito acabado, o que é uma impossi- bilidade", Na corrida, Aquiles nao pode alcangar a tartaruga que tem tima pequena vantagem, Pois, aperias para alcangar o ponto dle onde f tartaruga parti, ele jé precisaria ter percorrido uma indimera quan- tidade de espagos, quantidade infinita; primeiramente metade daquele tespago, depois a quarta parte, depois a oitava, a décima sexta e assim de infinito. Se ele de fato alcanga a tartaruga, este é um fenémeno iIdgico, em todo o caso, nfo é nem uma verdade, nem uma realicade, nem um sex verdadeiro, mas apenas uma ilusdo. Pois nunca é possivel terminar o infinito. Uma outra forma popular de expressio desta teoria Ga da flecha que esta em movimento € entxetanto em repouso. Em ‘ada momento de seu véo cla ocupa um lugar, neste lugar ela repousa, Seria a soma dos infinitos lugares de repouso idéntica ao movimento? (05 PENSADORES, mente, o movimento, logo, seu proprio ‘posto? Aqui, 0 infinito 6 utilizado como o solvente da efetividade; junto a ele, ela se desfaz. Todavia, se os conceitos sio rigidos, eternos te existentes — e ser e pensar coincidem para Parménides —, se, por- tanto, o infinito nunca pode estar acabado, se o repouso nunca pode tornar-se movimento, entio em verdade a flecha nfo voou; ela néio saiu de seut lugar e de seu repouso, néo fluiu nenhum momento tem- poral. Ou, expresso de outra maneira: no existe nesta chamada efe- lividade, nesta efetividade apenas suposta, nem tempo nem espago ‘ou movimento. Finalmente a prépria flecha € apenas uma ilusdo: pois ela descende da multiplicidade, da fantasmagotia do nao-uno produ- zida pelos sentidos. Supondo que a flecha tivesse um set, entio ele seria imével, intemporal, rigido, eterno e estaria fora de vir-a-ser — ‘uma representacéo impossivell Supondo que o movimento fosse real- mente verdadeiro, entio nfo haveria repouso, logo néo haveria ne- hum lugar para a flecha, nenhum espago — uma representagdo im- ‘possivell Supondo que o tempo fosse real, ento ele ndo podria ser Infinitamente divisivel; 0 tempo de que a flecha necesita consistitia ‘em um némero limitado de momentos temporais, cada um destes momentos precisaria ser um lomo — uma representagao impossivell “Todas as nossas representagdes, enquanto seu contetido empiti- camente dado, seu contetido extraido deste mundo intuitivo é suposto como veritas acterna, conduzem-nos a contradigéo. Se existe o movi- ‘mento absoluto, entZo nio existe nenhum espaco; se existe 0 espago absolut, entéo nfo existe nenhuma multiplicidade; se existe a mul- liplicidade absoluta, entio niio existe nenhuma unidade. Aqui deveria ficar claro 0 quo pouco nés, com tais conceitos, tocamos 0 coragto das coisas ou desatamos os nés da realidade; e entretanto, ao invés disto, Parménides e Zenio fixamrse na verdade ¢ validade universal dos conceitos, repudiam o mundo intuitivo como o contrério dos con- ceitos verdadeiros e universalmente vélidos, como uma objetivas do que é il6gico e completamente contraditério. Em todas as stas ‘demonstragées eles partem do pressuposto completamente indemons- travel, mesmo inverossimil, segundo 0 qual nés temos naquela facul~ dade de conceitos 0 mais alto e decisivo critério sobre o ser e 0 néo-ser, isto 6, sobre a realidade objetiva; no se deve confirmar ou corrigit aqueles conceitos junto a efetividade, como indubitavelmente deri dos dela, mas, a0 contra, eles é que devem dirigir e medi a efeti- vidade e, em caso de uma contradigao com 0 que é l6gico, condené-la. Para poder conceder-Ihes esta competéncia diretora, Parmé cisava Ihes conferir o mesmo ser do que ele em geral adi © ser. Agora nfo era mais para serem tomados como di diferentes do ser, 0 pensamento e aquela esfera do ser perfeita e fora Seria orepouso, repetido inf 0s prt socrAricos do vir-a-ser, pois nfo podia existir nenhuma duplicidade. Assim, tor~ now-se necesséria a idéia ousadifssima de explicar 0 pensamento ¢ 0 ser como idénticos; aqui néo podia vir em auxilio nenhuma forma de visibilidade, nenhum simbolo, nenhuma metéfora; a idléia era com- pletamente irrepresentavel mas era necesséria; ¢ cle até mesmo feste- java, nesta falta de toda possibilidade de representacio, o maior triunfo sobre o mundo e as exigéncias dos sentidos. O pensamento aquele ser nodular e esférico, completamente morto e macigo, imével e imu- tavel, precisavam, segundo 0 imperativo de Parménides ¢ para o terror da imaginagio, coincidir e ser totalmente um e 0 mesmo. Esta iden- tidade pode contradizer os sentidos! Exatamente isto & a garantia de que ela néo toma deles nada emprestado, XIII, No restante, poder-se-ia apresentar contra Parménides po- derosos argumentos a hominem ou ex-concessis, através dos quais néo viria a luz a verdade, mas sim a inverdade daquela separacéo entre mnundo dos sentidos e mundo dos conceitos e daquela identidade entre ser e pensar. Primeiramente, se é real 0 pensamento da razio por conceitos, entio a multiplicidade e o movimento também precisam ter realidade, pois o pensamento racional é mével, é em verdade um movimento Entre conceitos, logo entre uma quantidade de realidades. Contra isso io existe nenhum subterftigio, € completamente impossivel qualificar 6 pensamento como um rigido permanecer, como um eterno ¢ imével pensar-se-a-si-mesmo da unidade, Em segundo lugar, se dos sentidos vem apenas engano e apa- réncia, ¢ se em verdade existe apenas a identidade real entre ser € pensamento, entdo o que so os proprios sentidos? De qualquer modo, Ties cerlamente também sio apenas aparéncia, pois nao coincidem ‘como pensamento eo seu produto, o mundo dos sentidos, néo coincide com o ser. Mas se os préprios sentidos sfo aparéncia, para quem eles © so? Como eles podem, como irreais, ainda iludir? O n&o-ser pode fenganar.O problema de onde procede a ilusio ea aparéncia permanece tumenigma, mesmo uma contradigao. Nés chamamos estes argumentos ‘ad hominem: a objegao da razio mével e a objecio da origem da apa- téncia, Do primeiro seguiria a realidade do movimento ¢ da multi- plicidade; do segundo, a impossibilidade da aparéncia parmenidica, Supondo que a teoria fundamental de Parménides, a teoria sobre © set, seja acimitida como fundada, Esta teoria fundamental diz. apenas {que somente 0 ser tem um ser e que 0 nko-ser nfo é. Mas, se © mo- Yimento 6 um tal ser, ento vale para ele 0 que vale para o ser em geral e em todos os casos: ele esta fora do vir-a-set, € eterno, indes- Trutivel, no 6 suscetivel de aumento nem de diminuigio. Se a apa- 05 PENSADORES. réncia deste mundo & negada com o auxilio daquela pergunta pela origem da aparéncia, fica ao abrigo da condenagio de Parménides 0 palco do chamado vir-a-ser, a muttagio, nossa existéncia incansavel- mente multiforme, colorida e rica; entio é necessirio caracterizar si- multaneamente este mundo da alterndncia e da mutagao como uma soma de tais seres vercladeiros, essencialidades existentes em toda a eternidade. Com esta suposigio nao se pode falar naturalmente em uma mutagio no sentido rigoroso, em um vir-a-ser. Mas agora a mul- tiplicidade tem um ser verdadeito, todas as qualidades tém um ser verdadeiro eo movimento néo menos; ede cada momento deste mun- do, mesmo se estes momentos atbitrariamente escolhidos fossem se~ parados por milénios, precisaria ser dito: toda as essencialidacles ver~ dadeiras presentes neles existem simultaneamente sem excegio, imu- tveis, irredutiveis, sem aumento, sem diminuiséo. Um milénio mais tarde elas sao as mesmas, nada se transformou. A despeito disto, se ‘0 mundo parece uma vez completamente diferente do que em outra, isto nao é nenhuma ilusdo, nfo é nenhuma aparéncia, mas conseqiién- cias do movimento eterno. (Os seres verdadeiros sfio movimentados ora de uma maneiza, ora de outra, ora um em diregio ao outro, ora em diregdes contrérias, ‘ora para cima, ora para baixo, ora juntos, ora confundidos. (A Filosofia na ipoca Trigica dos Gregos, $59, 10,11, 12 € 13) =n ZENAO DE ELEIA (CERCA DE 504/1-? A.C.) DADOS BIOGRAFICOS Zeewio rroesceu cerca de 464/461 a.C. Nasceu em Eléia (Itt). Ao conlnévio de Heréclito, interveio na poltica, dando leis @ sua pétria. Tendo onspirado contra a tirana eo tirao (Nearco?), acabou pres, torturado e, por nio revelar o none dos comparsas, perdeu a vida. — Esereven writs corns em prost: Discusses, Contra os Fisicos, Sobre a Natureza, Expli- tagio Critica de Empédocles. — Considerado criador da diléien (enter ‘ida como argumentagocombation ou erstica), Zendo erigiv-se em defensor de seu mestre, Paaménides, contra as crftieas dos adversrios, principalmente 0s pitagaricos. Defendew 0 ser uno, continuo ¢ indivisfve! de Parménides Contra 0 ser muitipl, descofitfauo e divistel dos pitagdricos. oe

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