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Funcoes 1
Funcoes 1
4 Funções
Introdução
Neste capítulo vamos estudar as funções, um dos conceitos mais
importantes da matemática, que estará presente ao longo de todo
o curso, nas mais variadas disciplinas. Os conceitos trabalhados
nos capítulos 1, 2 e 3 serão amplamente utilizados em nosso es-
tudo das funções. Uma função é uma relação especial entre dois
conjuntos. Estudaremos as funções reais, que estabelecem rela-
ções no conjunto dos números reais.
n 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
n2 1 4 9 16 25 36 49 64 81 100
153
podendo ser representada por uma curva. Já no início do século
XIX, Joseph Louis Lagrange restringia o significado de função a
uma representação em série de potência. Mais recentemente (final
do século XIX), o estudo de conjuntos feito por George Cantor e
outros matemáticos levou à definição de função como a conhece-
mos hoje: um conjunto especial de pares ordenados de elementos,
não necessariamente números. Todo o Cálculo Diferencial e Inte-
gral desenvolvido por Isaac Newton e Leibniz no século XVII e
aperfeiçoado ao longo dos séculos por vários matemáticos gira em
torno de dois conceitos fundamentais: o conceito de função e o con-
ceito de limite. Antes da definição formal, vejamos:
154
2º) da mão-de-obra ( mo );
4º) da administração ( a );
g ⋅t2
por x = . Por exemplo, para t = 5 (e g = 9,8 m/s2), o valor de
2
(9,8).52 245
x é dado por x = = = 122,5m . Assim, temos um tipo
2 2
especial de relação que é denominado função.
Mais precisamente:
155
Notações:
Im ( f ) = {b ∈ B / b = f (a ), para algum a ∈ A}
156
Exemplos
1) f : → , f (x ) = 3x + 5
f (0 ) = 3 ⋅ 0 + 5 = 5
f ( 7 )= 3 ⋅ 7 +5= 3 7 +5
De fato:
3x + 5 = y
3x = y − 5
y −5
x=
3
Para este x, tem-se
⎛ y −5⎞ ⎛ y −5⎞
f (x ) = f ⎜ ⎟ = 3. ⎜ ⎟+5 = y −5+5 = y .
⎝ 3 ⎠ ⎝ 3 ⎠
157
2) h : → , h (n ) = n 2 + 1
1
3) g (z ) =
z
g é a função que a cada número real associa o seu inverso.
Como só existem os inversos de números não-nulos, o domínio
de g é o “maior” conjunto no qual é possível obter o inverso de
um número, D(f ) = − {0} = * . A imagem de g é o conjunto
⎧1 ⎫
Im (g ) = ⎨ / z ∈ * ⎬ .
⎩z ⎭
1
Análogo ao que foi feito no exemplo 1, se y é tal que = y para
z
1
z ≠ 0 , então y ≠ 0 e z = (basta multiplicar ambos os membros
y
1 ⎛1⎞ 1
da igualdade = y por zy −1 ). Assim, g (z ) = g ⎜ ⎟ = = y e
z ⎝ y⎠ 1
teremos Im (g ) = . *
y
1 1
4) t (s ) = +
s + 3 s −1
Para determinar o domínio de t, devemos observar os valores
1 1
reais para os quais é possível encontrar + . Como não
s + 3 s −1
existem números com denominadores zero, devemos excluir
os valores que anulam o denominador: s = −3 e s = 1 . Assim,
D (t ) = − {−3,1}.
158
1
5) k (t ) =
t − 2t − 15
2
sim, D (k ) = − {−3,5}.
⎧x + 3 se x ≤ 0
6) f (x ) = ⎨ 2
⎩ x − 4 x + 3 se x > 0
Euler temos: D( ϕ) = *
e Im (ϕ ) = {ϕ (n ) / n ∈ *
}.
Para calcular ϕ (n ) , usamos a decomposição de n em fatores
primos (teorema fundamental da aritmética):
n = p1α1 ⋅ p2α 2 ⋅ ... ⋅ pkαk , com p1 < p2 < ... < pk primos distintos e
αi ∈ para todo i e fazemos
159
= (p1α1−1 ). ( p1 − 1). (p2α 2−1 ). ( p2 − 1). (p3α3−1 ). ( p3 − 1). ... . (pkαk −1 ). ( pk − 1)
ϕ (504 ) = ϕ (23 ).ϕ (32 ).ϕ (7 ) = 22.(2 − 1).3.(3 − 1).(7 − 1) = 4.6.6 = 144
⎧1 se x ∈
8) h (x ) = ⎨
⎩0 se x ∈ −
160
• Outros exemplos de funções
13) K : ( × )× ( × ) → ×
K ((x, y ), (u , v )) = (x + u , y + v ) (adição de vetores)
h : P ( A )× P ( A ) → P ( A ), h ( X , Y ) = X ∩ Y (intersecção de
conjuntos).
161
Exercícios propostos
4x − 3
1) Dada a função f (x ) = , determine:
5x + 6
a) o domínio de f
b) f (2x) e f (-2x)
c) f (-1)
d) f (2x + 1)
f) f (2x) + 1
2 1
b) m (x ) = + − 3 x−5
x −3
2
25 − x 2
3x5 − 2
c) F (x ) = x 4 x 2 − 40 +
2 6 − x2
4) Seja g (t ) = 11 +− tt . Determine g ⎛⎜ 1 +1 t ⎞⎟ e g ⎛⎜ 1 −1 t ⎞⎟ .
⎝ ⎠ ⎝ ⎠
162
4.3 Gráfico de uma função
O gráfico é o “retrato” de uma função. Facilita, entre outras coisas, a
análise de relatórios ou perspectivas econômicas, cotação de moedas,
pesquisas estatísticas etc. O gráfico permite visualizar melhor o com-
portamento da função, seu crescimento e seus máximos e mínimos.
(x, f (x))
f (x)
O x x
Figura 4.1
Simbolicamente
163
Exemplos
17) Seja A = {n ∈ /1 ≤ n ≤ 5} e f : A → , f (n ) = n − 1
O 1 2 3 4 5 x
Figura 4.2
x y = f (x )
1 0
2 1
3 2
4 3
5 4
164
18) f : [0,3] → , f (x ) = x − 3
Neste caso não é possível fazer uma tabela para todos os valores
de x em [0,3]. Mostraremos mais adiante que esta função tem
um gráfico que é um segmento de reta. Assim, basta conhecer
dois de seus pontos.
y
3
2
1
O 1 2 3 x
-1
-3
Figura 4.3
165
y
d b
a c O e x
Figura 4.4
Definição.
Simbolicamente:
Exemplos:
19) f (x ) = 3 x − 1, D ( f ) =
Note que usamos as
propriedades da relação de
Para x1 e x2 reais com x1 < x2 , temos f (x1 ) = 3 x1 − 1 < 3 x2 − 1 = ordem.
= f (x2 ) . Logo, f é crescente em todo seu domínio.
166
20) f (x ) = − x + 4, D ( f ) =
⎧ x + 1 se x ≥ 0
21) h (x ) = ⎨ , D( f )=
⎩- x + 1 se x < 0
22) g (x ) = 7, D (g ) =
167
Simbolicamente,
Ou, equivalentemente:
Exemplos
23) f : → , f (x ) = 3x − 1 .
3 x1 − 1 = 3 x2 − 1
3 x1 = 3 x2
x1 = x2
Assim, f é injetora.
24) h : → , h (x ) = x 2 − 1 .
(x1 ) − 1 = (x2 ) − 1
2 2
(x1 ) = (x2 )
2 2
Observe que não podemos concluir daí que x1 = x2 , uma vez que
podemos ter, por exemplo, (−1) = 12 e −1 ≠ 1 . Assim, a função
2
h não é injetora.
Observação 13. Para mostrar que uma função não é injetora, bas-
ta exibir elementos diferentes do domínio que possuem a mesma
imagem: x1 ≠ x2 e f (x1 ) = f (x2 ).
168
4.6 Funções sobrejetoras
Considere a função g : → , g (t ) = 2t − 9 . Qual a imagem de g?
y+9
Se y = 2t − 9 , então t = e g (t ) = y . Assim, todo número real
2
é imagem de algum elemento do domínio. A imagem da função é
o próprio contradomínio e a função é chamada sobrejetora.
Alguns autores
dizem que a função é Definição. Seja f : A → B uma função. Dizemos que f é sobrejetora
sobrejetiva. A propriedade
também é chamada de se e somente se a imagem de f for igual ao seu contradomínio, ou seja,
sobrejetividade. ∀ y ∈ B, ∃ x ∈ A / f ( x ) = y .
Exemplos:
1
25) f : → , f (x ) = x + 1 é sobrejetora.
2
1
De fato: seja y ∈ . Se y = x + 1 , então
2
1
x = 2 y − 2 e f (x ) = f (2 y − 2 ) = (2 y − 2) + 1 = y .
2
Logo, f é sobrejetora.
sobrejetora.
Existe pelo menos um número real, por exemplo, -5, que não é
imagem de nenhum elemento do domínio (o módulo de um nú-
mero é sempre positivo ou nulo!). A imagem da função é [0, ∞ ) .
169
Observação 15. Uma função f não é sobrejetora quando existe
pelo menos um elemento do contradomínio que não é imagem de
nenhum elemento do domínio. Note que uma função do domínio Lembre-se que a negação
do quantificador “todo” é o
na imagem, f : D(f ) → Im( f ) , é sempre sobrejetora. quantificador “existe pelo
menos um”, no sentido
Observação 16. Uma função terá a propriedade de ser injetora ou de “existe pelo menos
um valor x para o qual a
não dependendo de seu domínio, bem como de seu contradomínio. definição não se aplica”.
O mesmo acontece para a propriedade de ser sobrejetora.
Por exemplo:
Por quê?
Por quê?
Exemplos
28) h : → , h (x ) = 3 x − 1 é bijetora.
170
(i) é injetora, pois, dados a e b em com h (a ) = h (b ) , tem-se
3a − 1 = 3b − 1 , o que significa a = b .
171
Definição. Sejam f : A → B e g : E → F funções tais que Im ( f ) ⊂ E .
A função que associa a cada x ∈ A , g ( f ( x)) ∈ F , é chamada função
composta de g com f e é denotada por g f . A função g f : A → F é
definida por ( g f ) (x ) = g ( f (x )).
Exemplos
30) f : → , f (x ) = 3x e g : → , g (x ) = 2 x + 1
f g : → , com
( f g ) (x ) = f (g (x )) = f (2 x + 1) = 3 ⋅ (2 x + 1) = 6 x + 3
31) f : → , f (x ) = 2 x e g : [0, ∞ ) → , g (x ) = x
portanto, ( g h) (x ) = g (h (x )) = g (2 x ) = 2 x .
172
32) Considere as funções f (x ) = x 2 + 5 e g (x ) = x − 6
Qual deve ser o domínio da função f para que seja possível definir
g f ?
temos ( g f ) (x ) = g ( f (x )) = g (x 2 + 5 )= (x 2
+ 5 )− 6 = x 2 − 1
Exercícios Propostos
1
5) Sejam f (x ) =
2
e g (x ) = x 2 + 2 . Determine, se possível, as
3x
funções g f e f g .
x +1
6) Se f (x ) = x 2 − 4 e g (x ) = , determine condições para
x+5
que se possa definir g f e f g .
173
P2) A composição de funções é associativa, ou seja,
h ( f g ) = (h f ) g . Esta propriedade nos
permite compor mais de
duas funções, respeitando
P3) A função identidade ( A ⊂ e Id : A → , Id (x ) = x ) fun- as restrições da definição.
ciona como um “elemento neutro” da composição, ou seja:
para f : A → e Id: A → A, Id f = f Id = f .
Logo, Id f = f Id = f.
(i) ( g f ) (x ) = g ( f (x )) = g (3 x − 1) = x
(ii) ( f g ) (x ) = f (g (x )) = 3 ⋅ g (x ) − 1 = x
3 ⋅ g (x ) − 1 = x
3 ⋅ g (x ) = x + 1
x +1
g (x ) =
3
3x − 1 + 1 3x
g (3 x − 1) = = =x
3 3
x +1
A função g : → , g (x ) = é chamada de função inversa da
3
função f e é denotada por f −1 .
174
(i) ( g f ) (x ) = g ( f (x )) = g (x 2 )= x
(ii) ( f g ) (x ) = f (g (x )) = ⎡⎣ g (x )⎤⎦ = x
2
175
“voltar” ao intervalo (0,1) . Mas existem elementos de que não
são imagem de nenhum elemento de (0,1) pela função h. Logo,
esta candidata não será uma função, uma vez que, para ser fun-
ção, todos os elementos de seu domínio devem ter uma imagem,
isto é, a lei deve valer para todos os elementos do domínio.
Demonstração:
(→ ) Hipótese: f é bijetora
Tese: existe f −1
g = {( y, x )∈ B × A / (x, y )∈ f }
176
(← ) Hipótese: existe f −1
Tese: f é bijetora
Observação 20. D ( f −1 )= Im ( f ) e Im ( f −1 )= D ( f ) .
Exemplo
h −1 (x ) = x .
177
Exercícios resolvidos:
1) Encontre a inversa da função f: → , f (x ) = 2 x3 − 1 .
Resolução: y = 2 x3 − 1, y = f (x ) ⇔ x = f −1 ( y )
y + 1 = 2 x3
y +1
x3 =
2
y +1
x=3 = f -1 ( y).
2
x +1
f −1 : → , f −1 (x ) = 3 ou então
2
t +1
f −1 : → , f −1 (t ) = 3
.
2
Resolução: y = f (x ) ⇔ x = f −1 ( y )
y = 3x 2 + 5
y −5
x2 =
3
y −5
x=±
3
y −5
Como x < 0 , tomamos x = − . A inversa de f será então
3
178
x−5
f −1 : [5, +∞ ) → (−∞, 0], f 1 (x ) = .
3
Demonstração:
(i) h f é injetora:
(ii) h f é sobrejetora:
179
h ( y ) = z . Como também f é sobrejetora, temos que exis-
te um x ∈ A tal que f (x ) = y . Assim, existe x ∈ A tal que
(h f ) (x ) = h ( f (x )) = h ( y ) = z e h f é sobrejetora. Com-
plete a demonstração como exercício.
Exercícios propostos
7) Verifique a propriedade P3 para as funções
2
f : (0, ∞ ) → (0, ∞ ), f (x ) = e g : (0, ∞ ) → (−3, ∞ ), g (x ) = 4 x 2 − 3 .
5x
2x + 5
c) h (x ) =
3x + 5
a) f : → , f (x ) = 2 x + 1
b) g : → , g (x ) = 1 − x 2
c) h : → + , h (x ) = x − 1
d) m : → , m ( x ) = −3 x + 2
e) n : → , n (x ) = [x ] (maior inteiro)
1
f) p : → , p (x ) =
* *
x
g) q : → , q (x ) = x 3
h) r : → , r (x ) = x ⋅ (x − 1)
181
17) Os conjuntos A e B têm respectivamente m e n elementos.
Considera-se uma função f : A → B . Qual a condição sobre m e n
para que f possa ser injetora? E para f ser sobrejetora? E bijetora?
Resumo do Capítulo
Neste capítulo estudamos:
1) O conceito de função.
5) Composição de funções.
6) Função inversa.
Referências
182