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República Federativa do Brasil

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO


Gabinete do Desembargador Federal Manoel Erhardt

APELAÇÃO CÍVEL 526840-CE (2006.81.00.015850-0).


APTE : DNIT - DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-ESTRUTURA DE
TRANSPORTES
REPTE : PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL - 5ª REGIÃO
APDO : ANTONIO FERREIRA DA SILVA ESPóLIO
INV/SIND : MANOEL GEOVA BARBOSA
ADV/PROC : JEAN MONTE BASTOS.
ORIGEM : JUíZO DA 5ª VARA FEDERAL DO CEARá
RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MANOEL ERHARDT

RELATÓRIO

1. O DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-


ESTRUTURA DE TRANSPORTES (DNIT) interpõe apelação de sentença
que:

a. tornou definitiva a desapropriação de imóvel


pertencente ao ESPÓLIO DE ANTÔNIO FERREIRA
DA SILVA, mediante o pagamento de R$
23.229,42, correspondentes ao valor do terreno, e
de mais R$ 33.572,40, relativos às benfeitorias,
conforme avaliação administrativa, concluída em
11/7/06;
b. determinou a correção monetária dos referidos
valores;
c. impôs o pagamento de juros compensatórios de
12% ao ano sobre a diferença entre o valor da
indenização e o correspondente a 80% da oferta
inicial, desde a imissão da posse;
d. fixou, para o caso de atraso no pagamento, juros
moratórios de 6% ao ano, a partir de 1º de janeiro
do exercício seguinte àquele em que o pagamento
deveria ter sido feito; e
e. eximiu o expropriado de arcar com as custas
judiciais, de ressarcir os honorários periciais e de
pagar honorários advocatícios.

2. Sustenta não serem devidos juros


compensatórios quando a indenização final coincide com a oferta inicial
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e cumprir ao expropriado suportar os ônus da sucumbência –fs. 270-


278.
3. Contrarrazões oferecidas - fs. 282-297.
4. A Procuradoria Regional da República ofereceu
parecer, no qual opina pelo provimento da apelação –fs. 302-308.
5. É o relatório.

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APELAÇÃO CÍVEL 526840-CE (2006.81.00.015850-0).


APTE : DNIT - DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-ESTRUTURA DE
TRANSPORTES
REPTE : PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL - 5ª REGIÃO
APDO : ANTONIO FERREIRA DA SILVA ESPóLIO
INV/SIND : MANOEL GEOVA BARBOSA
ADV/PROC : JEAN MONTE BASTOS.
ORIGEM : JUíZO DA 5ª VARA FEDERAL DO CEARá
RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MANOEL ERHARDT

VOTO

1. É entendimento assente que, nas


desapropriações, os juros compensatórios decorrem do desapossamento
antecipado e incidem sobre “ a diferença eventualmente apurada entre
80% do preço ofertado em juízo e o valor do bem fixado na sentença”
(ADI-MC nº 2.332/DF, STF, Pleno, Min. Moreira Alves, DJ: 02/04/04),
isso “desde a imissão na posse”(REsp nº 1.116.364/PI, STJ, Primeira
Seção, Min. Castro Meira, DJe: 10/09/10, submetido ao regime dos
recursos repetitivos).
2. São eles devidos ainda quando o provimento
judicial conclui ser justo o preço oferecido pelo expropriante, pois,
mesmo nesse caso, nem todo o valor depositado pode ser
imediatamente levantado.
3. A ementa seguinte resume bem a questão:
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO
ESPECIAL. DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE
REFORMA AGRÁRIA. JUROS COMPENSATÓRIOS.
VALOR DA INDENIZAÇÃO IGUAL AO DA OFERTA
INICIAL. INCIDÊNCIA APENAS SOBRE A QUANTIA
QUE FICA INDISPONÍVEL PARA O EXPROPRIADO.
1. Os juros compensatórios remuneram o capital
que deixou de ser pago no momento da imissão
provisória na posse, devendo incidir sobre a
diferença eventualmente apurada entre oitenta por
cento (80%) do preço ofertado em juízo –percentual

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máximo passível de levantamento, nos termos do


art. 33, § 2º, do Decreto-Lei 3.365/41 –e o valor do
bem fixado na sentença, conforme decidido pela
Corte Suprema no julgamento da MC na ADI 2.332-
2/DF, pois é essa a quantia que fica efetivamente
indisponível para o expropriado.
2. Hipótese em que a indenização fixada
corresponde, exatamente, ao valor ofertado no início
do feito expropriatório, ou seja, não há nenhuma
diferença entre a condenação final e o valor
inicialmente ofertado.
3. Ocorre, no entanto, segundo a lição de José
Carlos de Moraes Salles (in "A Desapropriação à Luz
da Doutrina e da Jurisprudência", 4ª ed., rev., atual.
e ampl. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2000, pág. 609), que "(...) não há nenhuma razão
que justifique a não-incidência dos juros
compensatórios sobre os 20% restantes da oferta,
que não puderam ser levantados pelo expropriando e
que continuaram depositados à ordem do Juízo.
Sobre estes últimos, o expropriando nada usufruiu
pelo simples fato de que não pôde levantá-los." 4.
Deve ser observada, no entanto, a peculiaridade do
caso concreto, tendo em vista que, no dia 29 de
setembro de 1999, houve a liberação do
remanescente da oferta inicial, que corresponde a
vinte por cento (20%) do valor depositado, de modo
que os juros compensatórios deverão ser
computados somente até a referida data. Não
havendo, outrossim, nenhum valor a ser levantado
no momento do trânsito em julgado, inexiste base de
cálculo para a incidência de juros moratórios.
5. Embargos de divergência desprovidos
(EREsp nº 967.611/CE, STJ, Primeira Seção, Min.
Denise Arruda, DJe 27/11/09).

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4. No julgamento do REsp nº 1.116.364/PI, já


mencionado, também ficou decidido que os juros compensatórios, a
partir da publicação do provimento cautelar concedido na ADI
2.332/DF (13/9/01), são remunerados à taxa de “ 12% ao ano, na
forma da Súmula n. 618 do Supremo Tribunal Federal” .
5. A incidência dos referidos juros deverá persistir
enquanto houver saldo de depósito indisponível.
6. Igualmente firme é a jurisprudência que
assevera serem devidos, na hipótese de atraso no pagamento de
desapropriações, juros de mora à razão de 6% ao ano, “ a partir de 1º de
janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser
feito”
, na forma do art. 15-B do Decreto-lei nº 3.365/41, dispositivo
também aplicável “ às desapropriações em curso no momento em que
editada a MP 1901-30, de 24/09/1999”(EREsp nº 873.449/RJ, STJ,
Primeira Seção, Min. José Delgado, DJ: 12/11/07, p. 154).
7. Por outro lado, apesar da revelia inicial do
expropriado, não há porque eximi-lo do ônus da sucumbência, na
medida em que sua resistência à desapropriação restou patente nas
sucessivas intervenções do herdeiro MANOEL GEOVÁ BARBOSA, as
quais acabaram referendadas quando este, já na condição de
representante legal do expropriado, contra-arrazoou a apelação.
8. Revelando-se, ao final, infrutífera a resistência
oposta à oferta, só resta ao réu arcar com as despesas judiciais, nestas
incluídas a remuneração do perito (Decreto-lei nº 3.365/41, art. 30).
9. Diga-se o mesmo relativamente aos honorários
do advogado da parte contrária (CPC, art. 20, c/c Decreto-lei nº
3.365/41, art. 27, § 1º, a contrario sensu).
10. Estes, na falta de regra específica, devem ser
fixados mediante avaliação equitativa, que leve em consideração, além
da natureza e importância da causa, o lugar da prestação, o zelo
profissional, o trabalho realizado e o tempo nele dispensado (CPC, art.
20, § 3º, alíneas “a”
,“ b”e “c”e § 4º).
11. Apesar de avaliada em R$ 56.801,82 reais, a
causa pouco exigiu dos procuradores do expropriante além da
elaboração da inicial e da formulação de quesitos ao perito. Quinhentos
reais são suficientes para remunerar o serviço realizado.

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12. Ante o exposto, dou provimento, em parte, à


apelação, para condenar o expropriado a arcar com as despesas
judiciais, nestas incluídas a remuneração do perito, e a pagar
quinhentos reais a título de honorários advocatícios de sucumbência.
13. É como voto.

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ORIGEM : JUíZO DA 5ª VARA FEDERAL DO CEARá
JUIZ FEDERAL JOÃO LUÍS NOGUEIRA MATIAS
RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MANOEL ERHARDT

ACÓRDÃO

DESAPROPRIAÇÃO POR UTILIDADE PÚBLICA. VALOR


DA INDENIZAÇÃO COINCIDENTE COM O DA OFERTA INICIAL. JUROS
COMPENSATÓRIOS. DESPESAS PROCESSUAIS E HONORÁRIOS.
1. Sentença que: a) torna definitiva
desapropriação por utilidade pública, mediante o pagamento dos preços
oferecidos na inicial; b) impõe o pagamento de juros compensatórios de
12% ao ano sobre a diferença entre o valor da indenização e o
correspondente a 80% da oferta inicial, a partir da imissão da posse; c)
fixa o pagamento de juros moratórios de 6% ao ano, a partir de 1º de
janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ter
sido feito; e d) exime o expropriado de arcar com as custas judiciais, de
ressarcir os honorários periciais e de pagar honorários advocatícios.
2. Apelação sustentando não serem devidos juros
compensatórios e caber ao expropriado suportar os ônus da
sucumbência.
3. Parecer da Procuradoria Regional da República
opinando pelo provimento da apelação.
4. Nas desapropriações, os juros compensatórios
decorrem do desapossamento antecipado e são devidos ainda quando o
provimento judicial conclui ser justo o preço oferecido pelo
expropriante, pois, mesmo nesse caso, nem todo o valor depositado
pode ser imediatamente levantado. Precedente do STJ (EREsp nº
967.611/CE, Primeira Seção, Min. Denise Arruda, DJe 27/11/09).

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5. Resistência à desapropriação evidenciada no


curso da lide, apesar da revelia inicial. Despesas judiciais e honorários
advocatícios por conta do réu vencido.
6. Causa que, apesar de avaliada em R$
56.801,82 reais, pouco exigiu dos procuradores do expropriante além
da elaboração da inicial e da formulação de quesitos ao perito.
Honorários arbitrados em quinhentos reais.
7. Apelação provida, em parte, para condenar o
expropriado a arcar com os ônus da sucumbência.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de AC


526840-CE, em que são partes as acima mencionadas, ACORDAM os
Desembargadores Federais da Primeira Turma do TRF da 5ª. Região,
por unanimidade, dar provimento, em parte, à apelação, nos termos do
relatório, voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam
fazendo parte do presente julgado.

Recife, 26 de julho de 2012

Des. Federal Manoel Erhardt


RELATOR

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