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As maiores polêmicas das imunidades constitucionais

Haroldo José Cruz de Souza Júnior

Especialista em direito público


pela Universidade Cândido Mendes

Resumo
Este trabalho pretende analisar em linhas gerais as principais discussões e
controvérsias sobre sistema de imunidades tributárias presentes na Constituição da
República Federativa do Brasil, em seus aspectos subjetivos, modos de aplicação e
jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal a respeito da mitigação ou
da maximização das imunidades.

Palavras-chave
Imunidades. Direito Constitucional. Direito Tributário. Controvérsias.

Abstract

This study aims to analyze broadly the main discussions and controversies about the
system of tax immunities present in the Constitution of the Federative Republic of Brazil
in its subjective aspects, modes of application and constitutional jurisprudence of the
Federal Supreme Court regarding the mitigation or the maximization of immunities

Key Words
Immunities. Constitutional Law. Tax Law. Controversies

Introdução
As imunidades tributárias gerais estão previstas no artigo 150, inciso VI, da CF/88.
Esse dispositivo diz que não é possível os entes instituírem impostos sobre
determinadas matérias.
As imunidades do artigo 150, VI, da Constituição Federal apenas se referem a
impostos e não abrangem quaisquer outros tributos diferentes de impostos, como
taxas e contribuições.
A CF/88, em alguns casos, prevê imunidades de taxas e contribuições, mas não no
artigo 150, VI. Exemplos de imunidades de taxas previstas na CF/88: artigo 5º, inciso
XXXIV; artigo 5º, inciso LXXVI. Exemplo de imunidade de contribuição na CF/88:
artigo 195, §7º.
Para uma instituição de assistência social gozar de imunidade de contribuição social
a CF/88 exige que essa entidade seja uma entidade beneficente de assistência social.
A imunidade reciproca está prevista no artigo 150, VI, “a” e §§2º e 3º. E segundo a
imunidade recíproca os entes da Federação não podem cobrar impostos sobre
patrimônios, renda ou serviços uns dos outros.
O fundamento dessa regra da imunidade recíproca é a proteção da própria ideia de
Federação assegurando a chamada isonomia formal entre os entes. Um outro
fundamento seria a ausência de capacidade contributiva, já que os entes não teriam
capacidade contributiva. Tudo que os entes arrecadam a título de imposto eles tem
que aplicar nas suas finalidades constitucionais.
Quais os impostos alcançados por essa imunidade? A classificação em renda,
patrimônio e serviço é uma classificação feita pelo Código Tributário Nacional (CTN).
Dentro dessa classificação do CTN é inquestionável que estão alcançados pela
imunidade IPTU, IPVA, ITR, ITBI, ITD, IR, IOF, ICMS, ISS.
O STF já entendeu que o IOF é alcançado pela imunidade em um conceito mais
ampliado do que seja renda. Essa decisão se deu, pois a União queria tributar dos
Municípios e dos Estados o IOF, e os Municípios foram ao STF para que fosse
reconhecida a imunidade sobre o IOF, tendo o Supremo englobado o IOF no conceito
de renda.
Os impostos em que há controvérsia sobre a abrangência da imunidade referem-se
aos impostos que incidem sobre a circulação de bens e mercadorias, assim há
controvérsia em relação ao II, IE, IPI e ICMS.
Essa mesma controvérsia existe para a imunidade a alínea b (dos templos) e para a
imunidade da alínea c. A discussão é a mesma de que só alcança patrimônio, renda
e serviços.
Em relação a se a imunidade alcança ou não esses impostos há duas correntes:

1ª Corrente: Entende que esses impostos estão fora da imunidade e defende uma
interpretação restritiva da Constituição Federal, pois a imunidade seria a exceção da
regra de ter que pagar tributo. E como esses impostos se referem a circulação de bens
eles não são albergados pela imunidade, já que a CF/88 só faz menção a impostos
sobre patrimônios, bens e serviços. Esse primeiro entendimento entende a imunidade
como sendo uma exceção à regra de se pagar tributo, por isso deve ser feita uma
interpretação restritiva. (Posicionamento de Ricardo Lobo Torres).

2ª Corrente: Defende que a imunidade deve ser interpretada de uma forma ampliativa,
extensiva, porque a imunidade protege os direitos fundamentais e assim esses
impostos estão alcançados pela imunidade, já que o conceito de mercadoria não deixa
de ser patrimônio se for feita uma interpretação extensiva da CF/88. (Posicionamento
atual do STF) Embargos de Divergência no RE186175, em que foi acolhida a 2ª
Corrente.
Obs.: Existe no STF o RE630790, com repercussão geral, que ainda não foi julgado e
que dificilmente o STF mudará de opinião. A discussão desse RE é sobre o imposto
de importação.
Portanto, segundo a jurisprudência do STF todos os impostos estão alcançados pelas
três alíneas do artigo 150, inciso VI.
IMUNIDADE RECÍPROCA A AUTARQUIAS E FUNDAÇÕES:
O artigo 150, §2º, da CF/88 estende a imunidade reciproca as autarquias e as
fundações públicas, ou seja, a pessoas jurídicas de direito público.
Só que essa extensão é diferente da imunidade do ente em si, pois essa imunidade
só alcança a renda, o patrimônio e o serviço, vinculados a atividade fim daquelas
entidades. Portanto, essa é uma imunidade é de alguma forma condicionada.

O que seria o patrimônio vinculado a entidade fim?


Em autarquias, como o INSS ou o BC, quando há um imóvel em que está situada a
sede ou uma agencia de atendimento ninguém questiona que esse imóvel está
vinculado a atividade fim.
Todavia, existem vários imóveis que são de propriedade dessas entidades e não estão
sendo utilizados efetivamente pelas instituições e são sobre esses imóveis que
surgem as discussões:
Imóveis Alugados:
Uma discussão presente no artigo 150, VI, b e do artigo 150, §2º é quanto aos imóveis
dessas entidades e que estejam locados a um terceiro particular. Esse imóvel está
alcançado pela imunidade ou não?
O STF afirma que o imóvel está alcançado pela imunidade desde que o produto da
renda dos alugueis reverta para a atividade fim. Essa é a famosa Tese da Reversão,
em que se utiliza o produto da renda naquela atividade institucional e, nesse caso, o
imóvel é imune. Súmula 724, STF convertida na SV 52.

Obs.: Essa discussão também e aplica as alíneas a, b e c, do artigo 150, VI, da CF/88.

A quem cabe o ônus da prova de provar a reversão? O ente tributante deve provar
que não ocorre a reversão ou o ônus da prova é da instituição que está pleiteando a
imunidade?
Essa prova da reversão é feita sempre através de uma perícia, que pode ser realizada
em Juízo ou administrativamente, em que se analisa os contratos de locação, os livros
ficais, caso esses existam, para saber como é que aquela verba está sendo aplicada.
Obs.: As Igrejas sequer são obrigadas a manter livros fiscais, como se fossem uma
empresa. As Igrejas precisam manter outros documentos, mas nada tão formal como
um livro fiscal.
O STF ao julgar o RE 767332, com repercussão geral, afirmou que o ônus dessa prova
cabe ao ente tributante, ou seja, o Município, o Estado e a União. Essa prova é o que
os romanos chamava de diabólica probacio ou prova diabólica. O ente só conseguirá
ter acesso aos documentos para fazer perícia se essa perícia for judicial ou se o ente
colocar a instituição sob fiscalização (sob ação fiscal).
Obs.: Colocar a instituição “sob ação fiscal” significa que o ente formalmente colocou
a instituição sob fiscalização, quando se lavra um Termo de Ação Fiscal, e a entidade
passa a estar oficialmente sofrendo fiscalização. Assim, os Fiscais Fazendários abrem
prazo para que a instituição apresente seus documentos e posteriormente tais
documentos serão analisados. A Fazenda tem que abrir um procedimento formal, para
que a Fazenda tenha acesso aos documentos das entidades imunes. Por isso, a prova
geralmente se dá em Juízo através de uma perícia.
A Fazenda Pública, na dúvida, faz o lançamento daquele crédito tributário e a
instituição ingressa em Juízo pleiteando a anulação do lançamento e afirmando que
goza de imunidade. E assim será realizada uma perícia.
O ARE796191 é um precedente relacionado a UERJ, que é uma fundação pública, e
a UERJ tem vários imóveis de sua propriedade, que estão alugados a terceiros, e o
Município fez o lançamento do IPTU. Assim a UERJ ingressou em Juízo afirmando
ser imune e a discussão foi em torno a quem caberia o ônus da prova, se caberia a
UERJ ou o Município provar a reversão. O entendimento do Supremo foi que o ônus
da prova compete ao Município.
Histórico dessa jurisprudência do STF:
Essa foi uma jurisprudência que começou com as autarquias e fundações (Andreia
concorda com a jurisprudência, quando se trata de autarquias e fundações públicas,
já que quando essas entidades não usam o valor arrecadado nas suas finalidades
legais, trata-se de um desvio de finalidade. Então faz todo o sentido uma presunção
favorável em favor das autarquia e das fundações públicas, já que essas entidades
por serem entidades administrativas seus atos gozam de presunção de veracidade),
o problema é aplicar essa jurisprudência da reversão, com presunção favorável as
Igrejas e as entidades de educação e assistência social.
Terrenos Baldios:
Uma outra discussão que se aplica as autarquias e fundações, mas também se aplica
as outras alíneas, é a questão relacionada a imóveis vazios, como terrenos baldios
em que não há nenhuma construção. Se há uma construção há como saber qual é a
utilização do imóvel, mas os imóveis vazios e sem qualquer benfeitoria física, a quem
caberá o ônus da prova de que aquele imóvel está vinculado a atividade fim. A
principal discussão desses imóveis vazios é relacionada a IPTU e a ITBI.
O Supremo Tribunal Federal entendeu que os imóveis vazios estariam alcançados
pela imunidade e de que haveria uma presunção favorável a entidade de que ela
utilizaria aquele bem na sua atividade fim. Então caberia ao Município provar que
aqueles imóveis não estão vinculados a atividade fim.
O problema é como que o Município irá provar que um imóvel vazio não será utilizado
pela instituição na sua atividade fim?
Os Municípios sempre entenderam que não é atividade fim de nenhuma instituição
manter os imóveis vazios e sempre acharam que isso não atendia a imunidade. Mas
essa não foi a posição do STF, que entendeu que o fato de estar vazio não presume
por si só que aquele imóvel não esteja sendo utilizado na atividade fim da entidade.
Os precedente são: o RE767332 (IPTU) e o RE470520 (ITBI).

NÃO SE APLICAM A IMUNIDADE RECÍPROCA:


O artigo 150, §3º, da CF/88 prevê três hipóteses em que não se aplica a imunidade
recíproca aos entes da Federação e as autarquias e fundações.
O §3º, do art. 150 diz que: “As vedações do inciso VI, "a", e do parágrafo anterior não
se aplicam ao patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com exploração de
atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados,
ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, nem
exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto relativamente ao bem
imóvel.”.

A primeira exceção: “exploração de atividades econômicas regidas pelas normas


aplicáveis a empreendimentos privados”.
Essa é a principal exceção e a que tem a maior parte das controvérsias e com maior
número de Recursos Extraordinários, com repercussão geral, no STF. Portanto, se há
exploração de atividade econômica não há imunidade, porque há que se fazer uma
interpretação sistemática entre o artigo 150, §3º com o artigo 173, da CF/88.
O artigo 173, da CF/88 diz nos seus parágrafos, que se a entidade está explorando
atividade econômica, sem monopólio, ela não pode gozar de nenhum benefício fiscal
que o particular não tenha. Há que se respeitar o princípio da livre concorrência.
É difícil um ente da Federação explorar atividade econômica diretamente, isso é mais
comum com autarquias e fundações, mas o próprio ente é bem difícil. Alguns autores
dão o exemplo do Estado abrir um armazém e começar a vender mercadorias, como
se fosse um comerciante. Nesta hipótese o Estado terá que recolher os impostos
incidentes sobre essa atividade.
Exemplo de autarquia que não goza de imunidade por explorar atividade econômica:
Os Bancos estatais, especialmente os estaduais, que adotaram a forma de autarquia.
Só que o STF entende que os Bancos são tipicamente exploram atividade econômica
e não tem a imunidade recíproca das autarquias.
A segunda exceção: “contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo
usuário”:
Então se houver a cobrança ou o pagamento de uma tarifa ou de uma contraprestação
por parte do usuário não há imunidade. Só que essa segunda exceção do §3º, do
artigo 150 foi temperada pelo STF. Hoje, o grande exemplo de aplicação dessa
segunda exceção é em relação as concessionárias de serviço público, que são uma
pessoa jurídica de direito privado que cobram tarifa e não gozam de imunidade.
A terceira exceção: “nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar
imposto relativamente ao bem imóvel”:
A imunidade recíproca não exonera o promitente comprador da obrigação de pagar
imposto relativo ao bem imóvel.
Essa hipótese do promitente comprador é aquela situação em que a União tem um
imóvel vazio e assina uma promessa de compra e venda com um terceiro. O
promitente comprador tem que recolher os impostos incidentes sobre aquele imóvel,
já que a promessa de compra e venda transfere a posse, apesar de não transferir a
propriedade. A imunidade é subjetiva, ou seja, da entidade: é da União, é do Estado,
é do Município, mas não é de quem negocia com ela.
Os impostos são o IPTU, ITBI.
O IPTU pode ser cobrado do possuidor com o animus domini, então no caso do IPTU,
o promitente comprador se enquadra como um dos contribuintes possíveis.
O STF tem dois enunciados: Súmula 75 (IPTU) e Súmula 583 (ITBI).

ESTATAIS:
A primeira grande questão controvertida diz respeito as Empresas Públicas e as
Sociedades de Economia Mista, se elas gozam ou não de imunidade tributária. As
Estatais são Pessoas Jurídicas de Direito Privado, mas elas compõe a Administração
Pública Indireta. Pela literalidade da Constituição as estatais não estariam abrangidas,
mas o STF fixou um entendimento, que é a base dessa discussão, fazendo uma
distinção entre os tipos de empresas públicas e de sociedades de economia mista.
-Estatais que exploram atividade econômica:
Normalmente por elas serem Pessoas Jurídicas de Direito Privado a exploração de
atividade econômica é a finalidade mais comum dessas entidades. Nessa situação as
estatais não gozam de imunidade, por força do princípio da livre concorrência.
Exemplo: Petrobrás; Eletrobrás; Caixa Econômica; Banco do Brasil; BNDES.
Obs.: O que é importante não é a exploração do serviço público com ou sem
exclusividade, mas a prestação do serviço público. Os precedentes que o STF já
julgou até tinham exclusividade na prestação do serviço público, mas nesses acórdãos
fica claro que não é isso que é o fundamental, se há exclusividade ou não.
E a Petrobrás é um caso concreto desse critério, porque mesmo na época em que a
Petrobrás tinha o monopólio, o STF nunca reconheceu a imunidade da Petrobrás,
porque sempre entendeu que o objetivo principal da Petrobrás é o lucro, é acréscimo
patrimonial, é ratear os dividendos.
-Estatais que prestam serviço público:
Em relação as estatais que prestam serviço público, o STF as equiparou as
autarquias. Então as estatais prestadoras de serviço público teriam o mesmo regime
jurídico das autarquias e, portanto, elas gozam de imunidade da mesma forma que as
autarquias: patrimônio, renda e serviços, vinculados a atividade fim.
Só que há uma zona cinzenta na diferenciação dessas estatais entre as estatais que
exploram atividade econômica, das estatais que prestam serviço público.
Para o STF haverá exploração de atividade econômica, como atividade prevalente da
estatal, se a estatal visar o lucro, visar primordialmente o acréscimo patrimonial,
fazendo a distribuição de dividendos. Distintamente, na prestação de serviço público
o objetivo é atender a coletividade, o que a entidade recebe como lucro ela reinveste
na atividade fim, sem qualquer distribuição de dividendos.
Exemplo: Correios; Infraero; Casa da Moeda;

EMPRESA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS:


A Empresa de Correios e Telégrafos foi o leading case na matéria, em que o STF
entendeu que os Correios deveriam se submeter ao regime de autarquia e que os
Correios deveriam pagar seus débitos por precatório. Essa inclusão dos Correios
como Fazenda Pública foi uma mudança completa de premissa, que se iniciou na
discussão envolvendo o pagamento dos débitos dos Correios por precatórios.
Sendo posteriormente reconhecida a imunidade tributária, pois os Correios prestam
um serviço público, que é o serviço postal, e este serviço público postal é prestado
com exclusividade.
A primeira discussão envolvendo imunidade nos Correios foi em relação ao ISS, pois
há um item na lista de serviços do ISS, sobre cartas e coletas de correspondências
(item 26, da Lista do ISS) então os Municípios cobravam ISS dos Correios. O STF
entendeu que os Correios teriam imunidade de ISS para os serviços postais.
A segunda discussão foi envolvendo a imunidade sobre aquilo que os Correios
prestavam em livre concorrência. O STF entendeu que os Correios não tem monopólio
para entrega de boleto bancário, para entrega de revista, para a entrega de
encomenda e que isso poderia ser explorado por outras empresas. Em relação ao que
não é serviço postal os Correios estão concorrendo com particulares, então os
Municípios passaram a cobras ISS sobre os serviços que estão em livre concorrência.
O Supremo, em RE 601392 com repercussão geral, entendeu que os Correios gozam
de imunidade em relação aos demais serviços, pois aplica-se a tese da reversão, em
que tudo o que os Correios recebem pelo restante eles reinvestem no serviço postal
e que os Correios não visa o lucro, tratando-se de uma espécie de subsídio cruzado.
Obs.1: O ISS é um imposto Municipal e os Correios são uma Empresa Pública Federal
que presta a atividade de serviço postal, que é da competência administrativa da
União. Essa lógica do STF faz com o Município dar um subsídio para o Correio possa
desempenhar as suas atividades, o que não faz o menor sentido.
Obs.2: É preciso ter cuidado ao afirmar que se trata de uma isenção heterônoma, pois
a isenção está no campo dos benefícios ficais, enquanto o subsidio está o campo dos
incentivos fiscais. E a Constituição afirma expressamente que a isenção fiscal que é
vedada.
A terceira discussão dos Correios foi envolvendo o ICMS, do transporte interestadual
de encomendas. O STF entendeu que os Correios gozam de imunidade quanto ao
ICMS. (RE627051, com repercussão geral).
A quarta discussão dos Correios foi envolvendo o IPTU, o STF reconheceu a
imunidade de IPTU para todos os imóveis de propriedade dos Correios, independente
da utilização, e que os Municípios que tem que provar que não há a reversão
(RE773992).
A quinta discussão dos Correios foi envolvendo o IPVA, o STF reconheceu a
imunidade de IPVA para todos os veículos dos Correios (ACO 765-RJ).

INFRAERO:
A INFRAERO presta o serviço aeroportuário e o STF já reconheceu, em repercussão
geral (ARE 638315), a imunidade do serviço aeroportuário. Esse serviço está artigo
21, inciso XII, c, da CF/88.
Há também no Supremo um RE, com repercussão geral, ainda não julgado,
relacionado a imóveis de propriedade da União, onde a União assina um contrato de
concessão de uso meramente obrigacional com a INFRAERO, como se fosse um
contrato de locação com a INFRAERO.
Na área federal há dois tipos de concessão de uso de bem público: concessão de uso
meramente obrigacional (é como se fosse um contrato de locação) e concessão de
uso de direito real. Atualmente a União só pode celebrar concessão de direito real de
uso, mas esse caso da INFRAERO é anterior a essa mudança.
A discussão que está no Supremo diz respeito ao Aeroporto de Jacarepaguá. A
INFRAERO então subconcessiona o terreno para um particular que explora uma
atividade econômica, como uma academia de ginástica, um hotel, um hospital privado,
etc.
No Município do Rio de Janeiro, a Lei Municipal permite cobrar o IPTU do
concessionário, ou seja, do particular que está utilizando o imóvel, segundo o artigo
62, parágrafo único, da Lei 691/84 (CTM).
Não há discussão sobre a área que é usada diretamente pelo aeroporto, pois sobre
esta claramente incide a imunidade, por ser um bem da União e que está sendo usado
em um serviço da União. O problema é a área que está sendo explorado como
atividade econômica por privados em regime de livre concorrência.
Há imunidade sobre essas áreas exploradas indiretamente? Não sendo imune, o
Município pode cobrar do particular que explora a atividade econômica no imóvel? Ou
o Município deve cobrar da União que é a proprietária?
A tese municipal é de que não goza de imunidade, por ser uma exploração de
atividade econômica, ainda que indiretamente, por força do artigo 150, §3º, da CF/88,
que diz que até mesmo o ente federativo perde a imunidade se explorar atividade
econômica.
Partindo do pressuposto de que não há imunidade e o Município pode cobrar o IPTU.
Essa cobrança será em face do particular?
O grande problema da cobrança do Município em face do particular é que só quem
pode ser contribuinte do IPTU é o proprietário, o titular do domínio útil e o possuidor
com animus domini. Dessa forma, não há qualquer enquadramento para o particular,
pois como o bem é da União, o particular não tem posse com animus domini. Assim,
o Município deve cobrar o IPTU da União, que é a proprietária, com base no artigo
150, §3º, da CF/88.
O STJ tem jurisprudência pacífica no sentido de que o locatário não pode ser
considerado contribuinte, mas não adentrou na questão da imunidade, pois esta é
uma questão constitucional e, portanto, de competência do STF.
O STF tem um julgado, que foi julgado em turma, RE451152, relator Min. Gilmar
Mendes, e nesse julgamento prevaleceu o entendimento no sentido de que apesar do
imóvel não ser imune, o ente não pode cobrar do particular e que o artigo do CTM, do
Município do Rio de Janeiro, não teria sido recepcionado quando diz que pode cobrar
do locatário.
O STF no julgamento RE434251, Rel. Min. Joaquim Barbosa, também julgado em
turma, o Joaquim Barbosa afirmou que não há imunidade e em relação a discussão
do contribuinte ele suscitou que o contribuinte não pode, mas a Lei Municipal poderia
cobrar do ocupante do imóvel a título de responsável tributário, que é um outro tipo de
sujeito passivo. (Esse julgamento não foi encerrado, porque um Ministro pediu vista)
O STF admitiu o RE601720-RJ, com repercussão geral, no Plenário. O Relator votou
no mesmo sentido do Gilmar Mendes, que tem imunidade, mas não pode cobrar do
particular, já que este não é contribuinte. Mas esse julgamento ainda está em curso,
porque foi pedido vista.

CODESP:
O serviço desempenhado pela Companhia de docas de São Paulo (CODESP) é
portuário. O STF reconheceu a imunidade do serviço portuário desempenhado pela
CODESP no RE253472.

CASA DA MOEDA:
A discussão envolvia o ISS e a Casa da Moeda é uma gráfica, mas que por força de
Lei detêm exclusividade para imprimir papel moeda, selos postais e títulos da dívida
pública federal. O STF reconheceu a imunidade para a Casa da Moeda em relação a
esses serviços prestados com exclusividade. (RE610517)
Existe a mesma discussão na Casa da Moeda em relação ao ICMS importação
referente a importação de máquinas para as máquinas que ela utilizará no parque
gráfico. (ACO 2179, foi conferida a liminar para não pagar o ICMS importação para
importação de insumos voltados a prestação dos serviços com exclusividade)
A Casa da Moeda está pedindo imunidade também aos serviços em que ela não
exerce com exclusividade, se utilizando da tese da reversão aplicada aos Correios.
Todavia, a Casa Moeda é uma gráfica e participa de diversas licitações.
SABESP:
O julgamento do RE600867, com repercussão geral, ainda está em curso no Supremo
e envolve a SABESP. A SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo) é uma Sociedade de Economia Mista, que tem suas ações negociadas na
BOVESPA e o controle acionário é disperso entre o Estado de São Paulo e os
particulares e, além disso, a SABESP distribui lucro aos acionistas.
A SABESP presta um serviço público, mas ao mesmo tempo visa o lucro e a
distribuição de dividendos para os acionistas.
Todos os Ministros do Supremo que já votaram, e já tem maioria, votaram no sentido
de que a SABESP não goza de imunidade, porque a negociação das suas ações em
Bolsa de Valores a aproxima de uma empresa privada e faz com que ela não tenha
direito a imunidade.
Obs.: O STF tem diversos precedentes no plenário de que a negociação em bolsa de
valores e pagamentos de dividendos afasta a possibilidade de imunidade reciproca.
(ACO 1460/2015 – Companhia de Abastecimento de Águas de Santa Catarina)

CAIXA ECONOMICA FEDERAL:


O STF reconheceu repercussão geral (RE928902, com rep. geral) sobre a
possibilidade de imunidade dos imóveis de propriedade fiduciária da Caixa Econômica
Federal, são aqueles imóveis financiados pelo Programa de Arrendamento
Residencial da União (PAR).
No PAR a Caixa Econômica Federal financia os imóveis e o bem é alienado
fiduciariamente, ficando a Caixa com a propriedade fiduciária. Quando pessoa quita o
financiamento a Caixa transfere para o particular o imóvel.
Como os imóveis estão na propriedade fiduciária da Caixa, os Municípios entenderam
que os imóveis não eram imune, porque a Caixa não goza de imunidade, já que
explora atividade econômica.
O STF reconheceu a repercussão geral dessa questão e fundamentou no sentido de
que o PAR é um projeto da União, ou seja, na verdade é como se o imóvel fosse da
União. E o STF analisará se nesse caso concreto, em função desse objetivo, que é
fomentar a moradia, se esses imóveis não deveriam gozar de imunidade para o IPTU.
O posicionamento do STF sobre as imunidades, tanto da alínea “a”, quanto da alínea
“b” e da alínea “c” só se aplica para as situações em que os beneficiados são
contribuintes de direito dos impostos, portanto a entidade imune tem que ser
proprietária do imóvel, proprietária do veículo, prestadora do serviço.
ICMS ENERGIA ELÉTRICA:
Exemplo: Um Município é proprietário de um imóvel e paga energia elétrica e em
função disso paga o ICMS, que é embutido no valor da conta de Luz.
Diante disso, vários Municípios ingressaram em Juízo pleiteando a imunidade
tributária em relação ao ICMS suscitando a imunidade reciproca e, por serem imunes,
serem desobrigados a recolher o ICMS cobrado no valor da conta de luz.
Os Municípios são ou não imunes ao ICMS na energia elétrica?
Não! O contribuinte de direito no caos do ICMS é sempre quem vende a mercadoria,
no caso concreto da energia elétrica o contribuinte de direito é a concessionária de
energia elétrica. A energia elétrica é tributada como mercadoria e, portanto a
concessionária que é o contribuinte de direito do ICMS energia elétrica.
Os Municípios não são o contribuinte de direito, mas apenas o contribuinte de fato.
Portanto, como qualquer consumidor eles suportam o encargo financeiro, pois este
está embutido no preço.
Se o ICMS não for recolhido o Estado deve ajuizar a Execução Fiscal em face da
concessionária, pois esta que é o contribuinte de direito. Portanto, o posicionamento
do STF é no sentido de que não há imunidade neste caso e todos os entes imunes
terão que suportar o ICMS embutido na conta, porque eles não são o contribuinte de
direito, eles são meramente os contribuintes de fato.
Há um RE608872, com repercussão geral, que ainda não foi julgado, nesse sentido.
Só que todos os demais RE do STF são nesse posicionamento acima, como o
AI629785.
Exemplo: Um Imóvel que tem débitos de IPTU de 2010 a 2012. Esse imóvel é vendido
em 2013, para uma Igreja ou para o Estado do Rio de Janeiro. O Município vem e
ajuíza uma Execução Fiscal em face do adquirente (Igreja ou Estado) cobrando o
IPTU de 2010 a 2012 utilizando a regra do artigo 130, do CTN, que instituiu o
responsável por sucessão. E esses entes alegam em Juízo que são imunes. Só que
o contribuinte originário daqueles débitos era o particular proprietário do imóvel e
nesta hipótese não incide a imunidade dos entes e por isso os entes deverão recolher
o IPTU devido de 2010 a 2012 pelo particular.
O STF já se posicionou no RE599176, com repercussão geral, que a imunidade do
sucessor não incidirá sobre os débitos existentes antes de o ente imune adquirir o
bem.
Se uma Igreja foi locatária de um imóvel, ela pode alegar a imunidade tributária para
não pagar IPTU?
Não! O contribuinte do IPTU é o proprietário do imóvel e não o locatário, que não tem
animus domini. Então, neste caso, salvo uma hipótese de isenção, o IPTU é devido.
Por isso que na prática as Igrejas colocam o seu patrimônio sempre em seu nome.
Obs.: Há até uma PEC para conceder imunidade para os imóveis alugados de Igreja.
Segundo Andreia, essa PEC seria inconstitucional pois feriria completamente a lógica
da imunidade e esta seria uma imunidade dada a um imposto real, com base em uma
situação que não diz respeito ao imóvel, porque o artigo 123, do CTN estabelece que
as convenções particulares não são oponíveis a Fazenda Pública e toda a sistemática
constitucional do IPTU é referente a propriedade, e dar uma imunidade apenas por
uma mera locação iria de encontro com o artigo 156, da CF/88, que fixa o arcabouço
constitucional do IPTU. Essa imunidade sobre os imóveis alugados não seria bem
uma ideia de proteção a idade religiosa, mas uma mera política fiscal, que deve ser
dada por isenção, através de Lei.

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