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Resumo
Este trabalho pretende analisar em linhas gerais as principais discussões e
controvérsias sobre sistema de imunidades tributárias presentes na Constituição da
República Federativa do Brasil, em seus aspectos subjetivos, modos de aplicação e
jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal a respeito da mitigação ou
da maximização das imunidades.
Palavras-chave
Imunidades. Direito Constitucional. Direito Tributário. Controvérsias.
Abstract
This study aims to analyze broadly the main discussions and controversies about the
system of tax immunities present in the Constitution of the Federative Republic of Brazil
in its subjective aspects, modes of application and constitutional jurisprudence of the
Federal Supreme Court regarding the mitigation or the maximization of immunities
Key Words
Immunities. Constitutional Law. Tax Law. Controversies
Introdução
As imunidades tributárias gerais estão previstas no artigo 150, inciso VI, da CF/88.
Esse dispositivo diz que não é possível os entes instituírem impostos sobre
determinadas matérias.
As imunidades do artigo 150, VI, da Constituição Federal apenas se referem a
impostos e não abrangem quaisquer outros tributos diferentes de impostos, como
taxas e contribuições.
A CF/88, em alguns casos, prevê imunidades de taxas e contribuições, mas não no
artigo 150, VI. Exemplos de imunidades de taxas previstas na CF/88: artigo 5º, inciso
XXXIV; artigo 5º, inciso LXXVI. Exemplo de imunidade de contribuição na CF/88:
artigo 195, §7º.
Para uma instituição de assistência social gozar de imunidade de contribuição social
a CF/88 exige que essa entidade seja uma entidade beneficente de assistência social.
A imunidade reciproca está prevista no artigo 150, VI, “a” e §§2º e 3º. E segundo a
imunidade recíproca os entes da Federação não podem cobrar impostos sobre
patrimônios, renda ou serviços uns dos outros.
O fundamento dessa regra da imunidade recíproca é a proteção da própria ideia de
Federação assegurando a chamada isonomia formal entre os entes. Um outro
fundamento seria a ausência de capacidade contributiva, já que os entes não teriam
capacidade contributiva. Tudo que os entes arrecadam a título de imposto eles tem
que aplicar nas suas finalidades constitucionais.
Quais os impostos alcançados por essa imunidade? A classificação em renda,
patrimônio e serviço é uma classificação feita pelo Código Tributário Nacional (CTN).
Dentro dessa classificação do CTN é inquestionável que estão alcançados pela
imunidade IPTU, IPVA, ITR, ITBI, ITD, IR, IOF, ICMS, ISS.
O STF já entendeu que o IOF é alcançado pela imunidade em um conceito mais
ampliado do que seja renda. Essa decisão se deu, pois a União queria tributar dos
Municípios e dos Estados o IOF, e os Municípios foram ao STF para que fosse
reconhecida a imunidade sobre o IOF, tendo o Supremo englobado o IOF no conceito
de renda.
Os impostos em que há controvérsia sobre a abrangência da imunidade referem-se
aos impostos que incidem sobre a circulação de bens e mercadorias, assim há
controvérsia em relação ao II, IE, IPI e ICMS.
Essa mesma controvérsia existe para a imunidade a alínea b (dos templos) e para a
imunidade da alínea c. A discussão é a mesma de que só alcança patrimônio, renda
e serviços.
Em relação a se a imunidade alcança ou não esses impostos há duas correntes:
1ª Corrente: Entende que esses impostos estão fora da imunidade e defende uma
interpretação restritiva da Constituição Federal, pois a imunidade seria a exceção da
regra de ter que pagar tributo. E como esses impostos se referem a circulação de bens
eles não são albergados pela imunidade, já que a CF/88 só faz menção a impostos
sobre patrimônios, bens e serviços. Esse primeiro entendimento entende a imunidade
como sendo uma exceção à regra de se pagar tributo, por isso deve ser feita uma
interpretação restritiva. (Posicionamento de Ricardo Lobo Torres).
2ª Corrente: Defende que a imunidade deve ser interpretada de uma forma ampliativa,
extensiva, porque a imunidade protege os direitos fundamentais e assim esses
impostos estão alcançados pela imunidade, já que o conceito de mercadoria não deixa
de ser patrimônio se for feita uma interpretação extensiva da CF/88. (Posicionamento
atual do STF) Embargos de Divergência no RE186175, em que foi acolhida a 2ª
Corrente.
Obs.: Existe no STF o RE630790, com repercussão geral, que ainda não foi julgado e
que dificilmente o STF mudará de opinião. A discussão desse RE é sobre o imposto
de importação.
Portanto, segundo a jurisprudência do STF todos os impostos estão alcançados pelas
três alíneas do artigo 150, inciso VI.
IMUNIDADE RECÍPROCA A AUTARQUIAS E FUNDAÇÕES:
O artigo 150, §2º, da CF/88 estende a imunidade reciproca as autarquias e as
fundações públicas, ou seja, a pessoas jurídicas de direito público.
Só que essa extensão é diferente da imunidade do ente em si, pois essa imunidade
só alcança a renda, o patrimônio e o serviço, vinculados a atividade fim daquelas
entidades. Portanto, essa é uma imunidade é de alguma forma condicionada.
Obs.: Essa discussão também e aplica as alíneas a, b e c, do artigo 150, VI, da CF/88.
A quem cabe o ônus da prova de provar a reversão? O ente tributante deve provar
que não ocorre a reversão ou o ônus da prova é da instituição que está pleiteando a
imunidade?
Essa prova da reversão é feita sempre através de uma perícia, que pode ser realizada
em Juízo ou administrativamente, em que se analisa os contratos de locação, os livros
ficais, caso esses existam, para saber como é que aquela verba está sendo aplicada.
Obs.: As Igrejas sequer são obrigadas a manter livros fiscais, como se fossem uma
empresa. As Igrejas precisam manter outros documentos, mas nada tão formal como
um livro fiscal.
O STF ao julgar o RE 767332, com repercussão geral, afirmou que o ônus dessa prova
cabe ao ente tributante, ou seja, o Município, o Estado e a União. Essa prova é o que
os romanos chamava de diabólica probacio ou prova diabólica. O ente só conseguirá
ter acesso aos documentos para fazer perícia se essa perícia for judicial ou se o ente
colocar a instituição sob fiscalização (sob ação fiscal).
Obs.: Colocar a instituição “sob ação fiscal” significa que o ente formalmente colocou
a instituição sob fiscalização, quando se lavra um Termo de Ação Fiscal, e a entidade
passa a estar oficialmente sofrendo fiscalização. Assim, os Fiscais Fazendários abrem
prazo para que a instituição apresente seus documentos e posteriormente tais
documentos serão analisados. A Fazenda tem que abrir um procedimento formal, para
que a Fazenda tenha acesso aos documentos das entidades imunes. Por isso, a prova
geralmente se dá em Juízo através de uma perícia.
A Fazenda Pública, na dúvida, faz o lançamento daquele crédito tributário e a
instituição ingressa em Juízo pleiteando a anulação do lançamento e afirmando que
goza de imunidade. E assim será realizada uma perícia.
O ARE796191 é um precedente relacionado a UERJ, que é uma fundação pública, e
a UERJ tem vários imóveis de sua propriedade, que estão alugados a terceiros, e o
Município fez o lançamento do IPTU. Assim a UERJ ingressou em Juízo afirmando
ser imune e a discussão foi em torno a quem caberia o ônus da prova, se caberia a
UERJ ou o Município provar a reversão. O entendimento do Supremo foi que o ônus
da prova compete ao Município.
Histórico dessa jurisprudência do STF:
Essa foi uma jurisprudência que começou com as autarquias e fundações (Andreia
concorda com a jurisprudência, quando se trata de autarquias e fundações públicas,
já que quando essas entidades não usam o valor arrecadado nas suas finalidades
legais, trata-se de um desvio de finalidade. Então faz todo o sentido uma presunção
favorável em favor das autarquia e das fundações públicas, já que essas entidades
por serem entidades administrativas seus atos gozam de presunção de veracidade),
o problema é aplicar essa jurisprudência da reversão, com presunção favorável as
Igrejas e as entidades de educação e assistência social.
Terrenos Baldios:
Uma outra discussão que se aplica as autarquias e fundações, mas também se aplica
as outras alíneas, é a questão relacionada a imóveis vazios, como terrenos baldios
em que não há nenhuma construção. Se há uma construção há como saber qual é a
utilização do imóvel, mas os imóveis vazios e sem qualquer benfeitoria física, a quem
caberá o ônus da prova de que aquele imóvel está vinculado a atividade fim. A
principal discussão desses imóveis vazios é relacionada a IPTU e a ITBI.
O Supremo Tribunal Federal entendeu que os imóveis vazios estariam alcançados
pela imunidade e de que haveria uma presunção favorável a entidade de que ela
utilizaria aquele bem na sua atividade fim. Então caberia ao Município provar que
aqueles imóveis não estão vinculados a atividade fim.
O problema é como que o Município irá provar que um imóvel vazio não será utilizado
pela instituição na sua atividade fim?
Os Municípios sempre entenderam que não é atividade fim de nenhuma instituição
manter os imóveis vazios e sempre acharam que isso não atendia a imunidade. Mas
essa não foi a posição do STF, que entendeu que o fato de estar vazio não presume
por si só que aquele imóvel não esteja sendo utilizado na atividade fim da entidade.
Os precedente são: o RE767332 (IPTU) e o RE470520 (ITBI).
ESTATAIS:
A primeira grande questão controvertida diz respeito as Empresas Públicas e as
Sociedades de Economia Mista, se elas gozam ou não de imunidade tributária. As
Estatais são Pessoas Jurídicas de Direito Privado, mas elas compõe a Administração
Pública Indireta. Pela literalidade da Constituição as estatais não estariam abrangidas,
mas o STF fixou um entendimento, que é a base dessa discussão, fazendo uma
distinção entre os tipos de empresas públicas e de sociedades de economia mista.
-Estatais que exploram atividade econômica:
Normalmente por elas serem Pessoas Jurídicas de Direito Privado a exploração de
atividade econômica é a finalidade mais comum dessas entidades. Nessa situação as
estatais não gozam de imunidade, por força do princípio da livre concorrência.
Exemplo: Petrobrás; Eletrobrás; Caixa Econômica; Banco do Brasil; BNDES.
Obs.: O que é importante não é a exploração do serviço público com ou sem
exclusividade, mas a prestação do serviço público. Os precedentes que o STF já
julgou até tinham exclusividade na prestação do serviço público, mas nesses acórdãos
fica claro que não é isso que é o fundamental, se há exclusividade ou não.
E a Petrobrás é um caso concreto desse critério, porque mesmo na época em que a
Petrobrás tinha o monopólio, o STF nunca reconheceu a imunidade da Petrobrás,
porque sempre entendeu que o objetivo principal da Petrobrás é o lucro, é acréscimo
patrimonial, é ratear os dividendos.
-Estatais que prestam serviço público:
Em relação as estatais que prestam serviço público, o STF as equiparou as
autarquias. Então as estatais prestadoras de serviço público teriam o mesmo regime
jurídico das autarquias e, portanto, elas gozam de imunidade da mesma forma que as
autarquias: patrimônio, renda e serviços, vinculados a atividade fim.
Só que há uma zona cinzenta na diferenciação dessas estatais entre as estatais que
exploram atividade econômica, das estatais que prestam serviço público.
Para o STF haverá exploração de atividade econômica, como atividade prevalente da
estatal, se a estatal visar o lucro, visar primordialmente o acréscimo patrimonial,
fazendo a distribuição de dividendos. Distintamente, na prestação de serviço público
o objetivo é atender a coletividade, o que a entidade recebe como lucro ela reinveste
na atividade fim, sem qualquer distribuição de dividendos.
Exemplo: Correios; Infraero; Casa da Moeda;
INFRAERO:
A INFRAERO presta o serviço aeroportuário e o STF já reconheceu, em repercussão
geral (ARE 638315), a imunidade do serviço aeroportuário. Esse serviço está artigo
21, inciso XII, c, da CF/88.
Há também no Supremo um RE, com repercussão geral, ainda não julgado,
relacionado a imóveis de propriedade da União, onde a União assina um contrato de
concessão de uso meramente obrigacional com a INFRAERO, como se fosse um
contrato de locação com a INFRAERO.
Na área federal há dois tipos de concessão de uso de bem público: concessão de uso
meramente obrigacional (é como se fosse um contrato de locação) e concessão de
uso de direito real. Atualmente a União só pode celebrar concessão de direito real de
uso, mas esse caso da INFRAERO é anterior a essa mudança.
A discussão que está no Supremo diz respeito ao Aeroporto de Jacarepaguá. A
INFRAERO então subconcessiona o terreno para um particular que explora uma
atividade econômica, como uma academia de ginástica, um hotel, um hospital privado,
etc.
No Município do Rio de Janeiro, a Lei Municipal permite cobrar o IPTU do
concessionário, ou seja, do particular que está utilizando o imóvel, segundo o artigo
62, parágrafo único, da Lei 691/84 (CTM).
Não há discussão sobre a área que é usada diretamente pelo aeroporto, pois sobre
esta claramente incide a imunidade, por ser um bem da União e que está sendo usado
em um serviço da União. O problema é a área que está sendo explorado como
atividade econômica por privados em regime de livre concorrência.
Há imunidade sobre essas áreas exploradas indiretamente? Não sendo imune, o
Município pode cobrar do particular que explora a atividade econômica no imóvel? Ou
o Município deve cobrar da União que é a proprietária?
A tese municipal é de que não goza de imunidade, por ser uma exploração de
atividade econômica, ainda que indiretamente, por força do artigo 150, §3º, da CF/88,
que diz que até mesmo o ente federativo perde a imunidade se explorar atividade
econômica.
Partindo do pressuposto de que não há imunidade e o Município pode cobrar o IPTU.
Essa cobrança será em face do particular?
O grande problema da cobrança do Município em face do particular é que só quem
pode ser contribuinte do IPTU é o proprietário, o titular do domínio útil e o possuidor
com animus domini. Dessa forma, não há qualquer enquadramento para o particular,
pois como o bem é da União, o particular não tem posse com animus domini. Assim,
o Município deve cobrar o IPTU da União, que é a proprietária, com base no artigo
150, §3º, da CF/88.
O STJ tem jurisprudência pacífica no sentido de que o locatário não pode ser
considerado contribuinte, mas não adentrou na questão da imunidade, pois esta é
uma questão constitucional e, portanto, de competência do STF.
O STF tem um julgado, que foi julgado em turma, RE451152, relator Min. Gilmar
Mendes, e nesse julgamento prevaleceu o entendimento no sentido de que apesar do
imóvel não ser imune, o ente não pode cobrar do particular e que o artigo do CTM, do
Município do Rio de Janeiro, não teria sido recepcionado quando diz que pode cobrar
do locatário.
O STF no julgamento RE434251, Rel. Min. Joaquim Barbosa, também julgado em
turma, o Joaquim Barbosa afirmou que não há imunidade e em relação a discussão
do contribuinte ele suscitou que o contribuinte não pode, mas a Lei Municipal poderia
cobrar do ocupante do imóvel a título de responsável tributário, que é um outro tipo de
sujeito passivo. (Esse julgamento não foi encerrado, porque um Ministro pediu vista)
O STF admitiu o RE601720-RJ, com repercussão geral, no Plenário. O Relator votou
no mesmo sentido do Gilmar Mendes, que tem imunidade, mas não pode cobrar do
particular, já que este não é contribuinte. Mas esse julgamento ainda está em curso,
porque foi pedido vista.
CODESP:
O serviço desempenhado pela Companhia de docas de São Paulo (CODESP) é
portuário. O STF reconheceu a imunidade do serviço portuário desempenhado pela
CODESP no RE253472.
CASA DA MOEDA:
A discussão envolvia o ISS e a Casa da Moeda é uma gráfica, mas que por força de
Lei detêm exclusividade para imprimir papel moeda, selos postais e títulos da dívida
pública federal. O STF reconheceu a imunidade para a Casa da Moeda em relação a
esses serviços prestados com exclusividade. (RE610517)
Existe a mesma discussão na Casa da Moeda em relação ao ICMS importação
referente a importação de máquinas para as máquinas que ela utilizará no parque
gráfico. (ACO 2179, foi conferida a liminar para não pagar o ICMS importação para
importação de insumos voltados a prestação dos serviços com exclusividade)
A Casa da Moeda está pedindo imunidade também aos serviços em que ela não
exerce com exclusividade, se utilizando da tese da reversão aplicada aos Correios.
Todavia, a Casa Moeda é uma gráfica e participa de diversas licitações.
SABESP:
O julgamento do RE600867, com repercussão geral, ainda está em curso no Supremo
e envolve a SABESP. A SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo) é uma Sociedade de Economia Mista, que tem suas ações negociadas na
BOVESPA e o controle acionário é disperso entre o Estado de São Paulo e os
particulares e, além disso, a SABESP distribui lucro aos acionistas.
A SABESP presta um serviço público, mas ao mesmo tempo visa o lucro e a
distribuição de dividendos para os acionistas.
Todos os Ministros do Supremo que já votaram, e já tem maioria, votaram no sentido
de que a SABESP não goza de imunidade, porque a negociação das suas ações em
Bolsa de Valores a aproxima de uma empresa privada e faz com que ela não tenha
direito a imunidade.
Obs.: O STF tem diversos precedentes no plenário de que a negociação em bolsa de
valores e pagamentos de dividendos afasta a possibilidade de imunidade reciproca.
(ACO 1460/2015 – Companhia de Abastecimento de Águas de Santa Catarina)