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PEA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ENERGIA E AUTOMAÇÃO


ELÉTRICAS

PEA-2211: INTRODUÇÃO À ELETROMECÂNICA E À AUTOMAÇÃO

CIRCUITOS MAGNÉTICOS

2006
2
Índice

1. Resumo...............................................................................................................................3

2. Introdução...........................................................................................................................3

3. Circuito Magnético.............................................................................................................3

4. Indutância Própria..............................................................................................................9

5. Alimentação em Corrente Contínua e em Corrente Alternada.........................................10

6. Fluxo de Dispersão e Fluxo Mútuo..................................................................................13

7. Indutância Mútua..............................................................................................................14

8. Referências Bibliográficas................................................................................................17

Anexo I...................................................................................................................................18

Parte Experimental.................................................................................................................19
3
1. Resumo

Esta aula constará de uma parte teórica e de uma parte experimental.


Na parte teórica, o objetivo é introduzir a noção de circuitos magnéticos e a sua estreita
relação com circuitos elétricos para a modelagem de um dispositivo elétrico.
Para tanto, será apresentado o formalismo matemático para a obtenção das equações básicas,
culminando com a obtenção da indutância própria de um indutor e a dependência desta com a
geometria, o material e o número de espiras do mesmo. Também serão mostrados os
comportamentos deste indutor quando alimentado em corrente contínua e em corrente alternada
(senoidal).
Por fim, será apresentado um transformador simples, no qual será possível mostrar as
noções de fluxo de dispersão, fluxo mútuo e indutância mútua.
Através dos exemplos ao longo do texto, pretende-se capacitar o aluno com ferramentas que
o permita analisar um circuito magnético e, em conjunto com o circuito elétrico associado, obter as
grandezas elétricas e magnéticas de interesse.

Na parte experimental, o aluno irá comprovar as relações apresentadas na teoria, quais


sejam:
- a dependência da indutância própria com a geometria do núcleo ferromagnético, com o
material deste núcleo e com o número de espiras;
- a observação do fluxo mútuo e do fluxo de dispersão

2. Introdução

Dispositivos elétricos e eletromecânicos estão presentes em diversas aplicações do nosso dia


a dia. Talvez, pela correria cotidiana e pelo hábito de sempre vê-los funcionando, não nos
atenhamos para o fato que tais itens se tornaram fundamentais, até mesmo indispensáveis, para a
nossa vida moderna.
Os exemplos são os mais variados, indo do simples interruptor de uma lâmpada, até a um
hidrogerador em Itaipu. Nessa gama, passamos por todos os motores elétricos de uso industrial, e
doméstico; pelos solenóides, eletroímãs, motores e sensores de uso em automação; pelos diversos
componentes de um computador: disco rígido, leitores de CD, o próprio teclado, o cooler; pelos
telefones portáteis; pelas pequenas bobinas em circuitos impressos às grandes bobinas em aparelhos
de ressonância magnética; e por aí em diante.
O que todos esses equipamentos têm em comum é o fato de funcionarem seguindo as leis de
um dos fenômenos mais extraordinários, que é o eletromagnetismo.
O objetivo desta disciplina é a de dar os primeiros passos na utilização da teoria
eletromagnética, vista em cursos de Física, em aplicações práticas mais próximas do nosso dia a dia.
Podemos considerar que se trata de uma disciplina de eletromagnetismo aplicado.
Partiremos de aplicações sem movimento, como indutores e transformadores, e chegaremos
às máquinas elétricas, que são o auge da conversão eletromecânica. São elas que permitem
transformar energia elétrica em mecânica e vice-versa. Não fossem as máquinas elétricas, não
teríamos o grau de conforto que temos hoje. Se alguma dúvida ainda pairar, tente então imaginar a
sua casa iluminada por lampiões a gás ou o liquidificador com motor a explosão.
Convencido?

3. Circuito Magnético

O estudo do circuito magnético é uma das etapas mais importantes na concepção de um


equipamento elétrico. Em conjunto com circuitos elétricos, forma uma ferramenta poderosa de
modelagem. É através desse estudo que, por exemplo, é possível fazer um telefone celular com um
4
peso reduzido ou instalar motores elétricos em espaços exíguos, como no caso de submarinos e
espaçonaves. É por esse tópico, portanto, que iniciaremos nosso curso.

Em princípio, todos os equipamentos eletromagnéticos devem ser projetados e analisados


pela aplicação das leis do eletromagnetismo, as quais são expressas pelas equações de Maxwell (ver
Anexo I).
Todavia, duas dificuldades surgem de imediato:
1. por utilizarem grandezas vetoriais, as equações de Maxwell devem ser resolvidas em cada ponto
do domínio em estudo;
2. a resolução analítica de equações integrais ou diferenciais não é fácil na maioria dos casos, face à
complexidade das geometrias dos dispositivos sob estudo.

Uma estratégia para contornar essas dificuldades é a utilização de grandezas escalares e da


simplificação criteriosa da geometria de forma a obter uma solução aproximada. É importante
esclarecer que, embora aproximada, essa solução pode se adequar bem aos fins desejados.
É essa estratégia que será empregada a seguir. Antes, entretanto, dois preâmbulos são
necessários.

• Preâmbulo 1: Linhas de Campo e Linhas de Fluxo

Ao longo do texto, onde os exemplos adotados são bidimensionais, ou seja, as grandezas


r r
H e B estão no plano do papel, utilizaremos o termo “linhas de campo” ou “linhas de fluxo”,
dependendo do contexto. Acreditamos que, neste início de curso, é preferível um entendimento do
fenômeno ao invés de nos lançarmos em manipulações matemáticas.
r
Desta forma, “linhas de campo” serão entendidas como a direção que o campo magnético H
r
e a indução magnética B assumem num determinado espaço. É o equivalente à conformação das
limalhas de ferro quando expostas a um campo magnético de um ímã, conforme mostrado na
figura 1.

Linhas de Campo

Figura 1: Limalhas de ferro em presença de campo magnético

Muito embora o fluxo magnético Φ seja uma grandeza escalar, assumiremos como
r
“linhas de fluxo” a mesma direção da indução magnética B , uma vez que elas estão relacionadas
pela expressão:
r r
Φ = ∫ BdS
s
5
Uma analogia apropriada é o uso que fazemos de “setas” quando queremos representar a
corrente elétrica I num circuito elétrico. Nesse caso, também temos uma grandeza escalar I que
r
segue o caminho de numa grandeza vetorial, a densidade de corrente J . Lembrando que:
r r
I = ∫ JdS
s

Numa definição mais rigorosa para exemplos bidimensionais, “linhas de campo” e


“linhas de fluxo” recebem o nome de linhas equipotenciais, as quais se referem ao potencial vetor
r
magnético A , que é definido por:
r r
B = ∇×A

• Preâmbulo 2: O Material Ferromagnético


Para entendermos o comportamento magnético de um material ferromagnético, vamos
iniciar com o que ocorre a nível atômico. Para tanto, vamos utilizar o modelo de Bohr para um
átomo simples composto do núcleo e de um elétron, conforme mostrado na figura 2.

Figura 2: Modelo de Bohr

Por esse modelo, o átomo produz um campo magnético gerado pela órbita do elétron em
torno do núcleo e pelo spin do elétron, de forma que, pela ação destes dois fenômenos, o átomo
possui um momento magnético, ou seja, ele é um dipolo magnético ou um minúsculo ímã.
Nos materiais ferromagnéticos, por conta de uma interação quântica, esses dipolos se
agrupam e formam domínios e cada domínio possui um único momento magnético. A figura 3, feita
por microscópio eletrônico numa amostra de chapa de Fe, mostra claramente as divisões entre os
domínios. As setas indicam os momentos magnéticos dos domínios.

Figura 3: Domínios magnéticos numa chapa de Fe

Sem nenhuma excitação externa, os momentos magnéticos dos domínios estão orientados
aleatoriamente, o que faz com que, em termo macroscópico, uma chapa de Fe, por exemplo, não
tenha um momento preferencial, uma vez que os momentos dos domínios se cancelam entre si.
Todavia, na presença de um campo magnético externo, os momentos magnéticos dos
domínios de um material ferromagnético tendem a se alinhar com esse campo e quanto maior o
campo, maior o número de domínios com os momentos alinhados.
6
A figura 4 apresenta, esquematicamente, essa dinâmica de alinhamento dos momentos
magnéticos num material ferromagnético. r
H externo

a. sem campo externo b. com campo externo


Figura 4: Influência do campo externo nos momentos magnéticos

Essa característica de alinhamento dos momentos magnéticos na presença de um campo


externo faz com que as linhas de campo passem preferencialmente pelo material ferromagnético,
r
aumentando o valor do fluxo Φ e da indução B no seu interior.
Para ilustrar essa propriedade, a figura 5a mostra uma distribuição das linhas de campo de
r
B no ar (por exemplo, podemos imaginar que se trata do magnetismo da Terra). A presença de um
material ferromagnético altera essa distribuição, fazendo com que as linhas de campo passem
preferencialmente pelo material ferromagnético, o que é ilustrado na figura 5b.

r r
B B

a. No ar b. Na presença de material ferromagnético


r
Figura 2: Linhas de campo de B

Os materiais ferromagnéticos mais conhecidos são o Fe e suas ligas, como o FeSi, FeNi etc.
Esses materiais são muito utilizados em dispositivos eletromecânicos (máquinas elétricas,
r
atuadores, transformadores, etc) com o intuito de “canalizar” e aumentar o valor da indução B e do
fluxo magnético Φ.
Essa propriedade de facilitar a passagem das linhas de campo é quantificada pela grandeza
conhecida como permeabilidade magnética a qual é representada pela letra grega μ. Para se ter uma
idéia, a permeabilidade magnética do ar, conhecida por μ 0 , vale μ 0 = 4π.10−7 [H / m] , enquanto que
as dos materiais ferromagnéticos são alguns milhares de vezes superior. Normalmente, a
permeabilidade de um material é representada por seu valor relativo em relação a μ 0 , ou seja,
μ
μ r = material .
μ0
Para este início de curso, os materiais ferromagnéticos serão supostos lineares, isso significa
que a permeabilidade magnética μ será considerada constante, de forma que a relação constitutiva
r r
B = μH seja linear. Na prática, essa relação é não-linear devido a duas características dos materiais
7
ferromagnéticos conhecidas por saturação magnética e histerese. Mas a não linearidade não será
tratada neste início de curso.

• O Circuito Magnético – Equação Básica


Para entendermos o desenvolvimento matemático, vamos admitir um indutor composto de
um núcleo ferromagnético e uma bobina de N espiras, conforme mostrado na figura 3.
Núcleo
Ferromagnético
Seção
Transversal

Bobina
N espiras Figura 3: Indutor

A figura 4a mostra a representação bidimensional desse indutor. Fazendo uma corrente I


circular pela bobina, no sentido indicado na figura 4a, sabemos, pela “regra da mão direita”, que
r
surge um campo magnético H no interior do núcleo ferromagnético no sentido horário.

ℓm

r
a. Linhas de campo de H b. Caminho médio ℓm
Figura 4: Núcleo ferromagnético

Vamos adotar um caminho médio ℓm, conforme indicado na figura 4b, e aplicar a equação
r r
de Maxwell que rege essa situação, qual seja, ∫ Hd l = NI . Considerando um campo magnético
l
médio Hm sobre o caminho ℓm, a integral toma a forma:

Hm. ℓm=NI (1)


r r
Sabemos, da relação constitutiva, que B = μH , assim:

1
Bm l m = NI (2)
μ
8
Multiplicando e dividindo o termo à esquerda pela seção transversal S do núcleo, temos:

1
l m BmS = NI (3)
μS

A parcela BmS pode ser admitida como o fluxo magnético Φ no núcleo (lembrar que
r r 1
Φ = ∫ BdS ). O termo = ν é conhecido como relutividade magnética. Então:
S μ
l
ν m Φ = NI (4)
S
l l
Note que o termo ν m é similar à expressão de resistência elétrica de um fio, R = ρ cond .
S Scond
l
Por analogia, podemos chamar ℜ = ν m de Relutância Magnética do núcleo ferromagnético e a
S
expressão final fica na forma:
ℑmm = ℜΦ (5)

Na qual ℑmm = NI é conhecida como Força Magneto-Motriz. Repare que a expressão (5) é
composta apenas de grandezas escalares.

• O Circuito Magnético – Analogia com o Circuito Elétrico

Observando a equação (5), é imediata a sua associação com a Lei de Ohm. De fato, se
fizermos uma analogia entre ambas, podemos construir a Tabela I apresentada a seguir.

Tabela I: Analogia entre Circuito Magnético e Circuito Elétrico


Circuito Magnético Circuito Elétrico

ℑmm = ℜΦ ℑem = RI
ℑmm = NI : Força magneto-motriz [A esp] ℑem : Força eletromotriz [V]
ℜ : Relutância magnética [Aesp/Wb] ou [H-1] R: Resistência elétrica [Ω]
Φ : Fluxo magnético [Wb] I: Corrente [A]
μ: Permeabilidade magnética [H/m] σ: Condutividade elétrica [S/m]
1 1
ν= : Relutividade magnética [H-1m] ρ= : Resistividade elétrica [Ωm]
μ σ

Φ ℜ I R

ℑmm ℑem
9
4. Indutância Própria

Para o indutor da figura 3, com uma bobina de N espiras, podemos determinar a sua
indutância própria a partir da definição de indutância própria, qual seja:


L= (6)
I

ℑmm NI
Da expressão (5), obtemos que Φ = ou, Φ = e a expressão (6) resulta:
ℜ ℜ

N2
L= (7)

Portanto, da expressão (7), observamos que a indutância própria do indutor:

- é diretamente proporcional ao quadrado do número de espiras N;

- é inversamente proporcional à relutância, ou seja, quanto maior a permeabilidade


magnética do núcleo, menor será a relutância e maior será a indutância própria. Portanto,
indutores com núcleo ferromagnético têm indutâncias próprias bem superiores àqueles
com núcleo de ar.

• Exemplos Numéricos

Para consolidar o que já foi visto, vamos realizar dois exemplos numéricos e observar a
importância do circuito magnético na indutância própria do indutor.

Exemplo 1 – Núcleo fechado:


100 mm
Vamos considerar o indutor ao lado.

Sabe-se que:
60 mm
- Número de espiras: 100
- Resistência ôhmica da bobina: 2,5 Ω
- Permeabilidade relativa do material do núcleo: μr = 1000

Pede-se:
- A indutância própria do indutor
- O modelo por circuito elétrico deste indutor

Resolução: 20 mm

Pelas dimensões do núcleo ferromagnético, obtemos:

- Seção transversal: S = (20x20).10-6 m2

- ℓm = (4x60).10-3 + (2.π.10).10-3 =0,303m (reparar na Fig.3a que as linhas de campo H são


curvilíneas nos cantos do núcleo. Por isso o comprimento médio foi aproximado por um quarto de
circunferência em cada canto).
10
lm
A relutância magnética do núcleo, ℜ = ν , fica:
S
1 0,303
ℜ= ⋅ −4
= 6, 03.105 ⎡⎣ H −1 ⎤⎦
1000μ0 4.10

N2 1002
E a indutância resulta: L= = ≅ 16,58 [ mH ]
ℜ 6, 03.105
O modelo do indutor em termos de circuito elétrico fica:

2,5 Ω

16,58 mH

Exemplo 2 – Núcleo com entreferro:

Vamos considerar que o mesmo indutor do exemplo 1


possui, agora, um entreferro de 1mm, conforme
mostrado na figura ao lado. 1mm

Pede-se a indutância própria deste indutor.

Resolução:

Da mesma forma que o exemplo1, vamos iniciar pela


determinação do circuito magnético.
Repare que, com a introdução do entreferro, o circuito magnético passa a apresentar duas
relutâncias em série, ou seja, uma referente ao núcleo ( ℜferro ) e outra referente ao entreferro ( ℜar ).
Esquematicamente:
1 0,302
Sendo: ℜferro = ⋅ −4
= 6, 01.105 [H -1 ]
1000μ 0 4.10

1 0, 001
ℜar = ⋅ −4
= 19,89.105 [H -1 ]
μ 0 4.10

Então, a relutância total do circuito fica: ℜ total = ( 6, 01 + 19,89 ) .10−5 = 25,90.105 [H -1 ]


1002
E a indutância: L = = 3,86 [mH]
25,90.105

Note que a inclusão de um entreferro de 1mm apenas, ocasionou uma drástica redução na
indutância própria do indutor.

5. Alimentação em Corrente Contínua e em Corrente Alternada (senoidal)

O intuito deste item é mostrar o procedimento de análise do indutor quando alimentado por
uma fonte de tensão contínua ou alternada (senoidal). Para este último caso será desenvolvida a
expressão da força contra-eletromotriz que aparece devido à variação temporal do fluxo magnético.
11
• Alimentação em corrente contínua

Vamos admitir que o indutor do exemplo 1 anterior seja alimentado por uma fonte de tensão
contínua de 10 V e deseja-se saber a corrente I que percorre a bobina e o fluxo magnético Φ que
passa pelo núcleo ferromagnético.
O melhor método para abordar o problema é utilizando o modelo por circuito elétrico, o que
nos dá a seguinte configuração:

A determinação da corrente I é feita pela análise desse circuito elétrico, o que fornece a
expressão:
dI ( t )
V ( t ) = RI ( t ) + L
dt

Por estarmos com uma alimentação em corrente contínua e admitindo a situação em regime
dI 10
(não em transitório), o termo L = 0 e ficamos com o resultado I = = 4A , ou seja, a corrente é
dt 2,5
apenas limitada pela resistência ôhmica da bobina.

O fluxo magnético é obtido pela expressão (5):

NI 100.4
ℑmm = ℜΦ ⇒ Φ = = = 66,33.10−5 Wb
ℜ 6, 03.105

• Alimentação em corrente alternada - tensão senoidal

Vamos admitir, agora, que o indutor do exemplo 1 é alimentado por uma fonte de tensão
senoidal de valor eficaz 10 V e freqüência de 60 Hz. Nesse caso, o circuito elétrico correspondente
fica:

dI ( t )
E a equação V ( t ) = RI ( t ) + L , para alimentação senoidal, pode ser colocada na
dt
representação por números complexos, ou seja:
V& = RI& + jωLI&
Sendo: j = −1 ; ω = 2πf e V& e &I grandezas complexas. O termo ωL = X é chamado de Reatância
L

Indutiva e sua unidade é [Ω].


12
& = 10 0o V , o circuito pode ser
Admitindo que a fonte de tensão tenha fase zero, ou seja, V
resumido a:

A impedância Z& é da forma Z& = ( R + jX L ) ou, numericamente, Z& = ( 2,5 + j6, 25 ) Ω .


10 0o
Na forma polar: Z& = 6, 73 68, 20o Ω e a corrente: &I = = 1, 49 −68, 20o A
6, 73 68, 20o

Para a determinação do fluxo magnético Φ, temos duas possibilidades:

100.1, 49
1. utilizando a expressão (5), o que dá: Φ = 5
= 24, 71.10−5 Wb (valor eficaz)
6, 03.10
2. utilizando a expressão da força contra-eletromotriz E& sobre o indutor.

dΦ ( t )
Lembrando que E ( t ) = − N e considerando que o fluxo é senoidal no tempo, ou seja:
dt

Φ ( t ) = Φ max senωt

d ( Φ max senωt )
Temos: E ( t ) = −N = − NΦ max ω cos ωt (8)
dt

Ou seja, E(t) e Φ(t) possuem a mesma forma de onda, mas estão defasadas entre si de 90˚.

E max 1
O valor eficaz da expressão (8) é: E eficaz = = NΦ max ω
2 2

Lembrando que ω = 2πf , temos que:


E& = E eficaz = 4, 44fNΦ max (9)

Guarde e entenda a expressão (9) muito bem, pois ela será muito utilizada ao longo do curso!

Voltando ao nosso problema, sabemos que a tensão E& pode ser obtida por:
2
E& = 102 − ΔV
&
R

& é determinada por ΔV


Sendo que, a queda de tensão ΔV & = R ⋅ &I = 2,5 ⋅1, 49 = 3, 725V
R R

E a tensão E& resulta: E& = 102 − 3, 7252 ≅ 9, 28V


13
9, 28
Substituindo em (9), temos: Φ max = ≅ 34,83.10−5 Wb .
4, 44.100.60
34,83.10−5
Φ max
Cujo valor eficaz é: Φ eficaz = = = 24, 63.10−5 Wb , que, a menos de arredondamento,
2 2
é o mesmo valor obtido pelo método 1.

Pelos exemplos anteriores, fica evidente a operação distinta do indutor para cada caso de
alimentação e a forma como o fluxo, que é uma grandeza difícil de ser medida diretamente, pode
ser obtida.
Note que, no exemplo 2, o fluxo pode ser obtido de forma indireta, mesmo não se
conhecendo o valor da indutância do indutor, apenas pelos valores da tensão de alimentação, da
corrente e da resistência ôhmica da bobina, que são grandezas de fácil obtenção por ensaio.

6. Fluxo de Dispersão e Fluxo Mútuo

Usando a configuração idealizada da figura 3a, vamos introduzir uma segunda bobina no
circuito magnético, conforme mostrado na figura 4. Essa segunda bobina está “em aberto”, ou seja,
seus terminais não estão conectados a nenhuma fonte ou carga e, portanto, a corrente que passa por
ela é I 2 = 0 .

Bobina 1 Bobina 2
N1 espiras N2 espiras

Fluxo Φ

Figura 4: Núcleo ferromagnético com duas bobinas

Note que, nessa configuração, todo o fluxo produzido pela bobina 1 (da esquerda) passa pelo
núcleo ferromagnético e atravessa a bobina 2. A esse fluxo comum entre as bobinas 1 e 2 dá-se o
nome de fluxo mútuo.

Outra definição muito utilizada é a de fluxo concatenado. Fluxo concatenado é o produto do


fluxo que atravessa a bobina pelo número de espiras dessa bobina. Assim, para as bobinas 1 e 2 da
figura 4, temos os respectivos fluxos concatenados, λ1=N1Φ e λ2=N2Φ.

Todavia, é importante esclarecer que o modelo adotado até aqui, no qual o fluxo magnético
passa exclusivamente pelo núcleo ferromagnético, é uma simplificação da realidade. Por maior que
seja a permeabilidade magnética de um material ferromagnético, isso não ocorre na prática. Sempre
haverá uma parcela do fluxo que passará pelo ar, conforme mostrado na figura 5 a seguir.

Pela própria figura 5 fica clara a necessidade dessa simplificação inicial, pois a existência de
r r
diversos caminhos pelo ar torna complexo o cálculo da integral ∫ Hd l . O fato de considerarmos o
fluxo passando apenas no núcleo permite que usemos o argumento dos valores médios, Hm e ℓm,
conforme a equação (1).
14
Com essa nova configuração, mostrada na figura 5, o fluxo que atravessa a bobina 1 é maior
que o fluxo mútuo, em outras palavras, o fluxo que atravessa a bobina 1 é a soma do fluxo mútuo
mais o fluxo que passa no ar.

A esse fluxo que passa pelo ar e não se concatena com a bobina 2 é dado o nome de fluxo
de dispersão ( Φ d ).

Expressando matematicamente os fluxos concatenados, temos:

λ1=N1(Φm+Φd)

λ2=N2Φm

Linhas do Fluxo de
Dispersão Φd

Fluxo Mútuo
Φm

Figura 5: Fluxo Mútuo e Fluxo de Dispersão

É importante ressaltar que, pelo fato de passar pelo ar, que tem uma permeabilidade baixa, o
fluxo de dispersão tem um valor significativamente inferior ao fluxo que passa no núcleo.

7. Indutância Mútua

A colocação de mais uma bobina no núcleo impôs a necessidade de definirmos o fluxo


mútuo entre as bobinas. Por conseqüência, podemos também definir uma indutância mútua
associada a esse fluxo, que é expressa por:

Φm
M12 = N 2 (10)
I1 I2 = 0
15
Note que a indutância mútua M12 foi definida alimentando-se a bobina 1 e deixando a
bobina 2 em aberto (I2=0). Podemos, entretanto, também definir uma indutância mútua (M21)
alimentando-se a bobina 2 e deixando a bobina 1 em aberto.
No exemplo em questão, devido à simetria e à regularidade do caminho magnético para o
fluxo mútuo entre as bobinas 1 e 2, podemos assumir que M12=M21=M.

• Determinação dos fluxos mútuo e de dispersão em casos de alimentação senoidal

Vamos supor que a estrutura da figura 5 tem a bobina 1 alimentada por uma fonte de tensão
senoidal de valor eficaz 10 V e freqüência 60 Hz. Na bobina 2, em aberto, é conectado um
voltímetro. Nessa situação, uma corrente senoidal I=2 A (valor eficaz) percorre a bobina 1. A
figura 6 mostra essa configuração.

Dados adicionais:
Resistência da Bobina 1: R1=1Ω
Resistência da Bobina 2: R2=1Ω
Leitura do voltímetro: V2=15 V
Número de espiras N1=100
Número de espiras N2=200

Pede-se:
O valor da Indutância própria L1
O valor da Indutância Mútua
Os fluxos total, mútuo e de dispersão

Figura 6: Núcleo com alimentação senoidal

Resolução:

O circuito elétrico para o exemplo em questão, considerando a indutância mútua, é


apresentado na figura 7.

Figura 7: Circuito elétrico com mútua

Determinação da Indutância da Bobina 1 (L1):

A equação associada com a bobina 1, obtida pela análise do circuito da figura 7 é:

dI ( t ) dI ( t )
V1 ( t ) = R1I1 ( t ) + L1 1 ±M 2 (11)
1424dt3 dt
E (t)
1

Lembrando que I2=0 e a alimentação é senoidal, a equação (11) pode ser colocada na forma:
16

& = ( R + jX ) &I
& = R &I + jX &I ou V
V1 1 1 1 1 1 1 1 1
14 243
Z& 1
V& 10 2
1
Assim: Z& 1 = = = 5Ω e a reatância X1 é obtida por: X1 = Z& 1 − R12 = 25 − 1 ≅ 4,90Ω
&I 2
1

X1 4,90
E a indutância L1 fica: L1 = = ≅ 13mH
2πf 2π60

Determinação da Indutância Mútua (M):

A indutância mútua M é determinada utilizando-se a equação de circuito elétrico referente à


bobina 2, qual seja:
dI ( t ) dI ( t )
V2 ( t ) = R 2 I 2 ( t ) + L 2 2 ±M 1 (12)
1424 dt3 dt
E2 ( t )
Pelo fato de I2=0 e estarmos considerando grandezas senoidais, a expressão (12) toma a forma:

& = X &I
V2 M 1

1 V& 1 15
2
E a indutância mútua M é obtida por: M = ⋅ = ⋅ ≅ 19,89mH
2π60 &I
1
2π60 2

Determinação do Fluxo Mútuo (Φm):

Para a determinação do fluxo mútuo Φm, podemos partir da definição de indutância mútua:

Φm
M12 = N 2
I1 I2 = 0
−3
MI1 19,89.10 .2
Isolando Φm, temos: Φ m = = ≅ 1,99.10−4 Wb (valor eficaz).
N2 200

Uma outra forma de resolver é utilizando a expressão (9), uma vez que I2=0.

& = 4, 44fN Φ 15
Assim: V2 2 mutuo _ max ⇒ Φ mutuo _ max = ≅ 2,82.10 −4 Wb (valor de pico)
4, 44.60.200

Φ mutuo _ max
Em valor eficaz: Φ m = ≅ 1,99.10−4 Wb , que é o mesmo valor obtido anteriormente.
2

Determinação do Fluxo Total (Φt):

Pela figura 5, observamos que o fluxo total Φt, que é a soma do fluxo mútuo Φm com o fluxo
de dispersão Φd, é criado pela bobina 1, portanto é esse fluxo que induz a tensão E& 1 . Assim, temos
duas formas de determinar Φt:
17
N1Φ1
1. utilizando a definição da indutância própria L1, ou seja, L1 = , no qual Φ1= Φt
I1
13.10−3.2
Numericamente: Φ t = = 2, 60.10−4 Wb (valor eficaz)
100

2. utilizando a expressão (9) de forma que: E& 1 = 4, 44fN1Φ t _ max , mas E& 1 = & 2 − ΔV
V & 2
1 1

9,8
Numericamente: E& 1 = 102 − 22 ≅ 9,8V e Φ t _ max = ≅ 3, 68.10−4 Wb
4, 44.100.60
Φ t _ max
E o valor eficaz é: Φ t = = 2, 60.10−4 Wb
2

Determinação do Fluxo de Dispersão (Φd):

O fluxo de dispersão Φd é obtido pela subtração: Φ d = Φ t − Φ m , ou seja:

Φ d = ( 2, 60 − 1,99 ) .10−4 = 0, 61.10−4 Wb (valor eficaz)

É importante esclarecer que, para o exemplo dado, esta é a única maneira de se determinar
Φd, uma vez que no circuito elétrico adotado na figura 7 não há nenhuma tensão associada a esse
fluxo.
Apenas a título de esclarecimento, os fluxos descritos neste exemplo, por serem também
senoidalmente variáveis no tempo, devem ser tratados como grandezas complexas. Entretanto,
como apenas os módulos são utilizados, foi abolida a notação complexa (ex: Φ& ).
d

Dito isso, a subtração Φ d = Φ t − Φ m é uma operação com grandezas complexas, mas como
os três fluxos têm a mesma fase, pois são todos produzidos pela mesma corrente, a utilização apenas
dos módulos é aceitável.

Considerações finais sobre o exemplo:

O exemplo apresentado, no qual duas bobinas são instaladas num núcleo ferromagnético, é
uma antecipação de um dos dispositivos mais importantes na engenharia elétrica que é o
transformador. O transformador, que se baseia no fenômeno da tensão induzida gerada por um fluxo
mútuo variável no tempo (Lei de Faraday), é fundamentalmente utilizado para a variação de
grandezas elétricas de uma bobina para outra.
Repare que no exemplo em questão, a tensão aplicada na bobina 1 é de 10V e na bobina 2
surge uma tensão induzida de 15V.
Embora a modelagem utilizada no exemplo tenha se valido da indutância mútua, essa não é
a modelagem mais utilizada, na prática, para transformadores.
Mas esse desenvolvimento deixaremos para as próximas aulas!

8. Referências Bibliográficas:

1. Eletromecânica – vol. I, Aurio Gilberto Falcone, ISBN: 85-212-0025-0, 1985.


18

ANEXO I

Tabela I: Equações de Maxwell


Forma Integral Forma Diferencial
r
r r r r d r r r r dD
∫ l Hd l = ∫s JdS + dt ∫s DdS ∇×H = J +
dt
r r r
∫S BdS = 0 ∇⋅B = 0
r
r r d r r r dB
∫ l Ed l = − dt ∫s BdS ∇×E = −
dt
r r r
∫S DdS = ∫v ρdV ∇⋅D = ρ

Tabela II: Equações complementares


Relações Constitutivas Equações Auxiliares
r r r
D = εE ∇⋅J = 0
r r r
B = μH E = −∇V
r r r r
J = σE Φ = ∫ BdS
s
r r
I = ∫ JdS
s

Tabela III: Grandezas Eletromagnéticas


Símbolo Denominação Unidade
r
H Intensidade Campo Magnético A/m
r
B Densidade de Fluxo Magnético ou Vetor Indução Magnética T
r
E Campo Elétrico V/m
r
D Densidade de Fluxo Elétrico ou Vetor Deslocamento Elétrico C/m2
r
J Densidade de Corrente Elétrica A/m2
V Diferença de Potencial ou Tensão Elétrica V
ρ Densidade Volumétrica de Carga C/m3
σ Condutividade Elétrica S/m
μ Permeabilidade Magnética H/m
Φ Fluxo Magnético Wb
I Corrente Elétrica A
19
PARTE EXPERIMENTAL

Nesta parte experimental, iremos verificar algumas relações e fenômenos discutidos na parte
teórica.
N2
1. Iniciaremos pela verificação da expressão L = , ou seja, da dependência do valor da

indutância com N2 e com a geometria do núcleo ferromagnético, representada pela relutância ℜ .

Materiais:
- Medidor digital de indutância
- Fio de cobre encapado
- Núcleo toroidal de ferrite

Primeiramente, vamos observar a dependência de L com N2.

Procedimento:
- Primeiro, medir a indutância apenas do fio, sem o núcleo
- Enrolar de 1 a 10 espiras em torno do núcleo e preencher a Tabela 1.
Exemplo: 1 espira 2 espiras

- Traçar a curva L em função do N˚ espiras no Gráfico 1.


Tabela 1 Gráfico 1
N˚ Espiras Indutância [μH]

Só o fio
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10

Questões:
a. Desenhe os circuitos magnéticos para os casos de 2 e 4 espiras.
20
b. Suponha que, com 2 espiras, seja necessário uma corrente I para se produzir um fluxo Φ no
núcleo. Qual será a corrente necessária para se estabelecer o mesmo fluxo Φ, mas com 4 espiras?
Expresse sua resposta usando múltiplo ou sub-múltiplo de I.

Vamos, agora, verificar a dependência de L com a relutância ℜ .

Procedimento:
- Passar o fio pelo interior do núcleo, de 1 a 10, e preencher a Tabela 2.
Exemplo: 1 núcleo 2 núcleos

- Traçar a curva L em função do N˚ de núcleos no Gráfico 2.

Tabela 2 Gráfico 2
N˚ Núcleos Indutância [μH]

Só o fio
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10

Questões:
c. Desenhe o circuito magnético para o caso de 3 núcleos toroidais.
21
d. Como varia a relutância do conjunto com o aumento do número de núcleos toroidais? Demonstre
pela expressão da relutância e por circuito magnético.

2. Nesta experiência iremos averiguar a influência do circuito magnético no valor da indutância de


uma bobina. Para tanto utilizaremos 2 núcleos ferromagnéticos, chamados de tipo “I” e tipo “U”,
conforme apresentado nas figuras a seguir.

Bobina Núcleo “I” Núcleo “U” Montagem “U+I”

Materiais:
- Variac: entrada 127V e saída para o transformador abaixador
- Transformador abaixador 7:1;
- Bobina1 de 600 espiras e Bobina 2 de 1200 espiras
- Núcleos “I” e “U”
- Voltímetro e amperímetro

Procedimento:
- Anotar o valor da resistência da bobina (marcada no carretel)
- Inserir o carretel da bobina 1 (600 espiras) no núcleo “I” ,
- Montar o circuito da figura 1,
Observação: a alimentação das figuras 1, 2, 3, 4 e 5 representada por deve ser entendida como:

Esta montagem permite um ajuste mais fino para a tensão de alimentação

- Alimentar a bobina com uma tensão CA através do transformador abaixador;


- Medir a corrente e completar a Tabela 3,
- Repetir as medidas para o núcleo “U” e para a montagem “I+U”, figuras 2 e 3, respectivamente.
22

Figura 1: Núcleo “I” Figura 2: Núcleo “U”

Tabela 3
Grandezas V I Z L Φ1
Núcleo [V] [A] [Ω] [mH] [μWb]

I 10
U 10
I+U 10
Z é a impedância da bobina 1
Φ1 é o fluxo total produzido pela bobina 1

Figura 3: Montagem “I+U”


Questões:
e. Se a bobina é sempre a mesma, por que o valor da indutância L variou entre as montagens?

f. Suponha que as 3 montagens sejam alimentadas com uma tensão contínua de 20V e que as
correntes medidas sejam II, IU, IUI. Coloque as 3 correntes em ordem crescente e justifique a sua
resposta.
23
3. Nesta experiência iremos utilizar duas bobinas para averiguar o fluxo mútuo, a tensão induzida
na segunda bobina e a indutância mútua. Também será observada a influência da posição relativa
entre as bobinas no valor do fluxo mútuo.

Materiais:
- Variac: entrada 127V e saída para o transformador abaixador;
- Transformador abaixador 7:1;
- Bobina1 de 600 espiras e Bobina 2 de 1200 espiras
- Núcleos “I” e “U”
- Voltímetro e amperímetro

Procedimento:
- Montar o circuito da figura 4,
- Alimentar a bobina 1 com uma tensão CA através do transformador abaixador,
- Medir a corrente na bobina 1, a tensão na bobina 2 e completar a Tabela 4,
- Mudar a Bobina 2 de posição, conforme mostrado na figura 5, e repetir as medidas.

Figura 4: Bobinas em lados opostos Figura 5: Bobinas no mesmo lado

Tabela 4
Grandeza Bobina 1 Bobina 2 Indutâncias [H] Fluxos [μWb]
Montagem V1 [V] I1 [A] V2 [V] L1 Mútua Total Mútuo Dispersão
Figura 4 10
Figura 5 10
L1 é a indutância própria da bobina 1
24
Questões:
g. Por que o fluxo total não se altera de uma montagem para outra?

h. Em que montagem o fluxo mútuo resulta maior? Explique por que isso acontece.

i. Por que não é possível se determinar a indutância própria da bobina 2 (L2) com as montagens
acima? Desenhe uma montagem com a qual seja possível determinar L2.

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