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Avaliação da Adequabilidade dos Ensaios de Penetração de Cone,

Desagregação, Sucção e Resistência à Tração como Indicativos da


Erodibilidade de Solos: Estudo de Caso com Solos da Formação
Macacu, RJ.
Rodrigo da Cruz de Araujo
Professor da Faculdade de Engenharia Civil – Campus Universitário de Tucuruí – UFPA, Tucuruí,
Brasil, rodrigocruz@ufpa.br

RESUMO: A erosão superficial de solo é um fenômeno bastante complexo, que consiste em um


conjunto de processos que ocasionam a remoção de partículas do terreno. Apesar dos muitos
estudos em diferentes áreas, como agronomia, geografia e geotecnia, ainda não é completamente
compreendida, em razão de sua complexidade. Nesse trabalho, as amostras coletadas de três solos,
selecionadas com base nas feições erosivas que apresentavam em campo, foram submetidas a
ensaios de desagregação e de penetração de cone, propostos na literatura como avaliadores da
erodibilidade de solos, e também a ensaios de sucção e resistência à tração, propostos aqui como
possíveis métodos indiretos indicativos da susceptibilidade à erosão de um solo. Os resultados são
analisados para verificar se constituem indicativos confiáveis do comportamento que se pode
esperar de um solo em campo, procurando contribuir para o entendimento da erosão e
principalmente para a consolidação de dados que permitam uma sistematização de métodos de
avaliação adequados. Com base nas metodologias adotadas neste trabalho, ressalta-se que as
observações de campo e os ensaios de laboratório devem sempre estar associados, uma vez que as
informações obtidas em ambos devem se complementar e se confirmar mutuamente. De toda forma,
pôde-se concluir que os ensaios de desagregação e penetração de cone apresentam resultados de boa
qualidade, sendo satisfatoriamente representativos do comportamento que se pode esperar em
campo para os solos de uma maneira geral. Trata-se, portanto, de ensaios muito úteis, uma vez que
apresentam a vantagem de serem de execução muito simples e fácil. Os estudos realizados
indicaram ainda que a sucção e a resistência à tração também demonstra relação direta com o
processo erosivo, porém, não foi encontrada nenhuma referência a outras pesquisas neste sentido,
sendo talvez este trabalho o primeiro a abordá-la.

Palavras-chave: erodibilidade; desagregação; penetração de cone, sucção, tração.

1 INTRODUÇÃO Neste trabalho, procura-se fazer um


estudo direcionado principalmente para uma
A erosão é um fenômeno bastante complexo, verificação da confiabilidade de alguns métodos
uma vez que envolve a ação direta ou indireta simples propostos para avaliação da
de diversos fatores, tais como as características erodibilidade de solos. Esta avaliação é
geológicas e geomorfológicas, os tipos de solos, realizada por meio da análise conjunta de
clima, vegetação, além da interferência humana observações feitas em campo e resultados de
que modifica as condições naturais de cada um ensaios de laboratório.
deles. Optou-se então por trabalhar com solos
Devido à complexidade do processo, seu de uma formação geológica denominada
entendimento ainda não é completo, “Formação Macacu”, no estado do Rio de
necessitando de pesquisas que possam Janeiro. Tal escolha se deu porque tal formação
confirmar as considerações existentes e é representate na região de uma unidade
proporcionar novos conhecimentos. sedimentar notável pela sua extensão,
encontrada desde o Pará até o Rio de Janeiro,
delineando-se ainda depósitos correlacionáveis campo e de laboratório.
na região sul. Esta unidade é conhecida como
“Barreiras” e corresponde a depósitos 3.1 Trabalhos de Campo
sedimentares continentais pertencentes ao
terciário. Os trabalhos de campo consistiram em visitas
aos locais de ocorrência da Formação Macacu,
a fim de se observar suas características e
2 ASPECTOS GERAIS DA ÁREA selecionar um perfil representativo desta
ESTUDADA formação, utilizado como seção-tipo na
pesquisa.
A Formação Macacu, da qual foram coletadas O perfil escolhido tem aproximadamente
as amostras dos solos estudados neste trabalho, 10m de altura, podendo-se identificar, através
foi descrita por Meis e Amador (1972 e 1977) e de análise táctil-visual, da base para o topo, as
Amador (1980) e corresponde a depósitos seguintes características por camadas,
representantes do Grupo Barreiras na região da constituídas por:
Baía de Guanabara. Sua ocorrência na região é - solo de coloração verde, textura
bastante significativa, com uma abrangência essencialmente argilosa, com consistência firme
que inclui os municípios de Itaboraí, Cachoeiras e baixa porosidade, muito plástico, espessura
de Macacu, Duque de Caxias, São Gonçalo e exposta de aproximadamente 2m;
Rio de Janeiro. - solo de coloração arroxeada, textura argilo-
Amador (1996) descreve a formação como arenosa, com ocorrência de oxidação de ferro,
“uma sucessão de lentes e camadas pouco presença de lentes do solo superior branco,
espessas de sedimentos arenosos, areno- transição entre ambos irregular, porém de fácil
argilosos, argilo-arenosos e argilo-sílticos, visualização. Observa-se a presença de quartzo
pouco consolidados e afossilíferos”. e mica. Espessura de cerca de 4,6m;
Os sedimentos da formação apresentam - solo de coloração branca, textura areno-
baixa seleção, atribuída à pouca competência do argilosa, com mosqueamento por óxido de
agente de deposição, em termos de produzir ferro. Presença de quartzo, mica e feldspato.
selecionamento, e às distorções provocadas nos Espessura de 2,4m;
sedimentos por alteração pós-deposicional. - horizonte laterítico, com presença de
Freqüentemente podem ser encontradas concreções ferruginosas. Neste, por ser
ferrificações (concreções limoníticas) , como presumivelmente o menos erodível, não foram
produto da diagênese. Também se verificam, coletadas amostras. A espessura é de cerca de
embora mais eventuais, concreções silicosas, 0,5m;
normalmente desenvolvidas a partir de areias - cobertura amarela laterizada, com 0,5m de
arcoseanas. espessura
Em Itambi, local do perfil em estudo, se A observação de exposições possibilitou a
verificam afloramentos da fácies mais fina, de comparação das condições dos solos ao longo
baixa energia e característica de centro de bacia. do tempo. Pôde-se assim identificar feições
Muito finos e plásticos, os sedimentos deste erosivas presentes nos solos da formação em
ambiente são explorados para serem utilizados estudo, a partir do que se concluiu que o solo
como matéria-prima da indústria de cerâmicas e branco apresenta maior erodibilidade que o solo
olarias, atividade esta já tradicional na região. roxo. A observação das condições de erosão do
solo verde foi muito difícil, uma vez que na
maioria dos casos o mesmo se encontrava
3 ESTUDOS EXECUTADOS E encoberto pelo próprio material erodido das
MÉTODOS ADOTADOS camadas superiores. Quando se pôde observá-
lo, o material não indicava a ocorrência de
Neste item, serão abordados os procedimentos erosão, parecendo ser o menos erodível dentre
utilizados para o desenvolvimento do estudo os três solos.
proposto, os quais consistiram em trabalhos de
3.2 Trabalhos de Laboratório expansão, motivo pelo qual o mesmo foi
rejeitado, não sendo ensaiado.
De acordo com os objetivos estabelecidos para
este trabalho, definiu-se um programa 3.2.3 Ensaio de Sucção
experimental, visando verificar se os resultados
obtidos em laboratório seriam de fato Marinho (1997) afirma que nos solos não
representativos dos aspectos de erodibilidade saturados, as características mecânicas “são
observados em campo no material relacionado. controladas, entre outras coisas, pela pressão
Os ensaios aqui analisados quanto à (relativa) negativa na água intersticial. Esta
adequabilidade para avaliação da erodibilidade pressão é dada pela diferença entre a pressão
foram os de desagregação, de penetração de atmosférica (ou pressão no ar) e a pressão na
cone, resistência à tração e sucção. água, sucção matricial”.
Para a medição da sucção de um solo
3.2.1 Ensaio de Desagregação existem diversos métodos disponíveis. Estes
consistem, resumidamente, em sensores que
O ensaio de desagregação consiste em um dos interagem com o solo até que o sistema entre
ensaios “clássicos” de avaliação da em equilíbrio, permitindo então, por meio de
erodibilidade dos solos, realizada a partir da uma calibração, a conversão das medições feitas
observação de como o solo reage ao ser para valores da grandeza desejada. Nesta
mantido em contato com a água. pesquisa, foi adotado o método do papel filtro.
Neste trabalho, a metodologia adotada foi a Marinho (1997) explica que “o estado de
proposta por Santos (1997), submetendo-se as equilíbrio fornece a mesma sucção no solo e no
amostras à imersão total desde o início do material poroso, porém umidades diferentes. O
ensaio, o qual tem duração preestabelecida de tempo de equilíbrio é um fator de extrema
24 horas. importância para obtenção da correta sucção”.
O ensaio foi realizado simultaneamente para Neste trabalho, optou-se pela realização de
os três solos, sendo utilizadas amostras ensaios pelo método do papel filtro em contato
indeformadas, com formato cúbico de físico com o solo, utilizando-se papéis
aproximadamente 6 cm de lado, moldadas na Whatman no 42, adotando-se para o mesmo
umidade natural. uma curva de calibração da literatura, mais
especificamente a proposta de Chandler et AL
3.2.2 Ensaio de Penetração de Cone (1992).
No caso do papel filtro em contato direto
Trata-se de uma proposta de avaliação da com o solo, a sucção medida é a matricial, a
erodibilidade dos solos, considerando-se como qual exige um tempo de equilíbrio de sete dias,
critério a relação entre as penetrações de um o qual foi padronizado para todas as amostras.
cone padronizado, em amostras em condições Conforme recomendado por Marinho (1994),
naturais e saturadas. A proposta e metodologia o papel filtro foi cuidadosamente colocado na
do ensaio foram desenvolvidas por Alcântara amostra e o conjunto foi envolvido com filme
(1997). plástico, por sua vez lacrado com fita adesiva,
Na realização dos ensaios são utilizadas buscando-se assim uma máxima vedação e
amostras indeformadas, retiradas de blocos com mínima evaporação.
o uso de anéis de cravação. Para saturar os Decorrido o tempo de equilíbrio, os papéis
corpos-de-prova os mesmos foram colocados foram retirados das amostras procurando-se
sobre pedras porosas saturadas, até que se atender a recomendação de que esta operação
verificasse o surgimento de água em seus topos. fosse realizada em no máximo cinco segundos,
Neste ponto, destaca-se o comportamento do para evitar evaporação de água do papel.
solo verde, que ao absorver água passou a Os sacos plásticos com os papéis úmidos
expandir, chegando a sair do anel, ficando foram pesados em balança com acurácia de
saliente cerca de 1cm. Em um dos corpos-de- 0,0005g. Os papéis foram então removidos dos
prova deste material, surgiram fissuras após a sacos plásticos e deixados secando em estufa a
105oC, por pelo menos duas horas (tempo apresentam diferentes módulos de elasticidade
considerado normalmente suficiente por na compressão e na tração, como é o caso de
Marinho 1997). Uma vez secos foram solos”. Entretanto, como o objetivo principal
recolocados nos respectivos sacos (novamente deste trabalho era qualitativo, relacionando os
em um tempo máximo de cinco segundos, desta resultados dos diferentes solos com seus
vez para evitar que os papéis absorvessem água) comportamentos à erosão observados em
e pesados. campo, optou-se pelo uso da relação.
Com a diferença de pesos obteve-se a Para realização dos ensaios procurou-se
umidade de cada papel e pela calibração do seguir as mesmas características e
mesmo determinou-se a sua sucção. Os sacos procedimentos adotados por Maciel (1991).
plásticos utilizados na pesagem após a secagem Assim, foram utilizadas amostras com 7,12 cm
dos papéis foram os mesmos utilizados na de diâmetro por 2,00 cm de espessura. As
pesagem quando dos papéis úmidos. amostras encontravam-se com elevado grau de
saturação, o que possibilitou que a variação no
3.2.4 Ensaio de Resistência à Tração (Método teor de umidade fosse realizada por simples
Brasileiro): “secagem ao ar”. Apenas a velocidade de
aplicação de carga foi alterada em relação à
A erosão é um processo constituído proposta de Maciel (1991), adotando-se aqui
basicamente por duas etapas: o destacamento e 0,6 mm/min, a fim de tornar o ensaio mais
o transporte das partículas. Assim sendo, neste rápido e assim evitar que as amostras perdessem
trabalho optou-se pela realização de ensaios de umidade.
resistência à tração do solo por se acreditar que A fim de se tentar estabelecer uma relação
este parâmetro esteja diretamente ligado à entre a resistência à tração do solo e sua
primeira etapa do processo, ou seja, à facilidade umidade, foram realizados de dez a vinte
que o solo apresentará em ter suas partículas ensaios para cada solo. Em cada ensaio
destacadas umas das outras. utilizava-se um provete com umidade diferente,
Presumindo-se que tal facilidade esteja de modo a se obter um par de pontos. O
relacionada à umidade do solo, executaram-se conjunto de todos os pares, de cada solo,
ensaios com diversas amostras, variando-se puderam então ser plotados em gráficos, os
aquela característica, de modo a se abranger quais buscavam representar a tendência de
toda a faixa de saturação dos materiais, desde a comportamento dos respectivos materiais.
umidade higroscópica até a umidade de
saturação total.
O ensaio de compressão diametral ou ensaio 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS
brasileiro consiste no carregamento de um RESULTADOS
corpo de prova cilíndrico, no qual são aplicadas
cargas de compressão em duas posições 4.1 Ensaio de Desagregação
diametralmente opostas.
Fonseca (1996) diz que teoricamente a Aos 5 minutos de duração o solo branco já
tensão de tração é constante, e dada por: estava totalmente desagregado, formando uma
pilha de material com grãos soltos. Neste
2P momento, o solo roxo apresentava
σt = (1) desprendimento de apenas algumas partículas,
HDπ enquanto o verde já indicava razoável
onde: desagregação.
P: carga máxima de compressão, Com cerca de 30 minutos, o solo roxo
H: espessura da amostra, permanecia inalterado, enquanto o verde já se
D: diâmetro da amostra encontrava bastante desagregado, porém
diferentemente do branco, desprendendo
Maciel (1991) explica que esta relação “não grumos de partículas.
é rigorosamente adequada para materiais que Aos 50 minutos começaram a surgir fissuras
no solo roxo, sub-horizontais e sub-verticais, As curvas características de cada solo são
com aparente tendência de foliação. Neste apresentadas nas figuras 1 a 3.
ponto do ensaio o solo verde se encontrava com Para todos os solos foram adotados pontos
a forma praticamente desfeita . “teóricos”, correspondentes ao grau de
Com 2 horas de ensaio, as fraturas da saturação de 100%, que teria uma sucção nula.
amostra roxa se encontravam bastante abertas, Os referidos pontos foram determinados por
porém, sem ocasionar em uma perda do formato meio de cálculos.
cúbico. O solo verde não mantinha mais O solo verde apresenta os maiores valores de
nenhuma preservação da forma original, tendo sucção dentre os três materiais. Tal fato está em
se desagregado totalmente em grumos de acordo com o que se podia prever, pois a
partículas. A partir de então não ocorreram mais presença de esmectita neste solo certamente
alterações nos comportamentos dos solos até implicaria em sucções elevadas. Segundo
que ensaio completasse 24 horas e fosse Bastos et al. (1998), sucções elevadas também
considerado encerrado. podem ser esperadas em solos com
De acordo com resultados obtidos por Rego comportamento muito plásticos e altos limites
(1978), Ferreira (1981) e Santos (1997) o ensaio de liquidez, o que ocorre neste caso. Os valores
de desagregação pareceu ser representativo da encontrados indicaram sucções mínimas da
erodibilidade de solos. ordem de 1500kPa para o solo com 24,1% de
umidade (S=98%). Às menores umidades, por
4.2 Ensaio de Penetração de Cone volta de 8,4% (S=33%) determinou-se sucções
de 26000kPa (figura 1).
Para cada solo foram ensaiados três corpos-de-
prova, adotando-se ao final a média dos valores 30000
obtidos, novamente de acordo com as
25000
recomendações originais.
Sucção (KPa)

Os resultados do ensaio de cone para os três 20000


solos indicaram os valores médios para a 15000
penetração natural (P nat) e para a penetração 10000
saturada (P sat) apresentados na Tabela 1.
5000
Tabela 1: Resultados dos Ensaios de Cone obtidos para 0
os solos em estudo 010 20 30
SOLO P nat P sat 0.67Psat/Pnat Sucção (%)
Figura 1: Curva Característica do Solo Verde
(mm) (mm)
VERDE 2,897 8,312 1,922
O solo branco apresentou as menores
BRANCO 4,323 6,466 1,002
ROXO 5,421 5,653 0,698 sucções dentre os três materiais. Estes
resultados podiam ser previstos pela
granulometria do mesmo, visto que era mais
Uma das propostas feitas por Alcântara
grosseira que a dos demais, com o menor teor
(1997) considera que os solos com problemas
de argila e o maior de areia.
de erosão apresentam a relação 0,67 Psat / P nat
Mineralogicamente, a presença apenas de
>1.
caulinita também não indicaria maiores
sucções. Deve-se ressaltar que tais resultados
4.3 Ensaios de Sucção
não são exatamente baixos, porém,
comparativamente aos dos outros materiais,
Todos os solos apresentavam valores médios de
encontram-se num nível bastante inferior. As
grau de saturação bastante elevados, com
sucções ficaram, então, entre 150kPa para uma
amostras que atingiam aproximadamente 95%.
umidade de 28,7% (S=94%) e 5500kPa para
Por este motivo optou-se por variar a umidade
uma umidade de 5,9% (S=26%) (figura 2).
das amostras apenas pelo processo de secagem
das mesmas.
6000 4.4 Ensaios de Resistência à Tração (Ensaio
5000 de Compressão Diametral):
Sucção (KPa)

4000
Nas figuras 4 a 6 são apresentados os gráficos
3000 “Resistência à tração x umidade” de cada um
2000 dos materiais.
Como era esperado, o solo verde é o que
1000
apresenta maior resistência, com valores
0 mínimos de aproximadamente 157 kPa para
0 10 20
Umidade (%)
30 40 uma umidade de 22,5% (saturação de 92%) , até
Figura 2: Curva Característica do Solo Branco um máximo verificado de 819 kPa para a
umidade de 10,7% (saturação de 46%) (Figura
O solo roxo também apresentou sucções 4). Estes valores elevados podem ser
elevadas, as quais merecem ainda mais destaque justificados pela granulometria do mesmo, a
se considerar-se que o material não apresenta qual apresenta elevado percentual de argila e
esmectita ou outro argilomineral que as silte, que à medida que secam desenvolvem
justifiquem, sendo de se esperar portanto que os comportamento cimentante.
valores fossem menores. As características de
plasticidade do solo (IP=30,3%), entretanto, Resistência à Tração (KPa) 1000
poderiam ser consideradas indicativas de altas
800
sucções. Obteve-se para o mesmo resultados a
partir de 2400kPa, para uma umidade de 24% 600
(S=90%). As menores umidades, por volta de
400
11% (S=43%) forneceram sucções de
aproximadamente 6100kPa (figura 3). 200

0
7000 10 0 20 30
6000 Umidade (%)
Figura 4: Resistência à tração (Kpa) x Umidade (%) (solo
Sucção (KPa)

5000
verde)
4000
3000 Os resultados do solo branco foram os que
2000 apresentaram menores valores de resistência,
1000 variando entre um mínimo de 34 kPa para
0 27,5% de umidade (saturação de 91,5%), até
010 20 30 um máximo de 101 kPa para 18,5% de umidade
Umidade (%)
(saturação de 64,5%) (Figura 5). Tais resultados
Figura 3: Curva Característica do Solo Roxo
também estão de acordo com o previsto. Assim
como no caso anterior, a melhor justificativa
Note-se que a relação entre sucção e
para os mesmos também parece ser a
plasticidade se evidencia nestes solos. Os três
granulometria, a qual apresenta a menor
materiais são altamente plásticos e todos
quantidade de argila e maior porcentagem de
atingem sucções consideráveis. Entretanto, o
areia dentre os solos em questão. Deve-se
que apresenta menor índice de plasticidade
ressaltar que os pontos apresentaram-se bastante
(branco) também apresenta sucção
dispersos, com a tendência de comportamento
significativamente menor que a do solo verde, o
parecendo indicar um aumento de resistência
qual é mais plástico. O solo roxo, por sua vez,
com a diminuição da umidade, até um “ponto
apresenta valores intermediários para as duas
ótimo” a partir do qual apresenta um
propriedades.
decréscimo, chegando a apresentar 30 kPa para
10,3% de umidade.
250 período de 30 minutos, o qual também pode ser
considerado curto em relação à duração total do
Resistência à Tração (KPa)

200 ensaio, que é de 24 horas. Já o solo roxo


150 apresentou-se pouco susceptível à erosão, não
se desagregando, tendo como reações ao ensaio
100 uma expansão e o surgimento de fissuras.
50 Os resultados do ensaio de penetração de
cone, por sua vez, também indicaram que o solo
0 roxo não é erodível. O solo branco posicionou-
20 0 10
30 se muito próximo do limite de separação entre
Umidade (%)
Figura 5: Resistência à tração (Kpa) x Umidade (%) (solo os solos, tendendo para a zona de mau
branco) comportamento, conforme se pode verificar
Por fim, o solo roxo foi o que apresentou pelo valor da relação 0.67Psat/Pnat. O solo
resultados mais dispersos, sendo difícil a verde, novamente, apresentou comportamento
visualização de uma tendência no seu classificável como de mau comportamento à
comportamento. Ao que parece, ocorre também erosão.
um aumento da resistência com a diminuição da Comparando-se os resultados dos ensaios de
umidade até um ponto máximo. A partir deste desagregação e de penetração de cone dos solos
ponto, entretanto, a resistência indica uma branco e roxo com as observações de campo, os
estabilização, com ligeira tendência de mesmos encontram-se em concordância. O solo
diminuição. verde, porém, aparentava em campo possuir
Quanto à ordem de grandeza dos resultados uma maior resistência à erosão, o que não foi
para este material, pode-se dizer que o mesmo confirmado pelos ensaios.
apresenta valores intermediários em relação aos Para o solo verde, a completa desagregação
demais, ficando entre 130,4 kPa para 21% de ocorrida, bem como a relação entre Psat e Pnat
umidade (saturação de 80,65%), atingindo encontrada, podem estar relacionadas à
317kPa para umidade de 17,8% (saturação de condição de saturação do solo combinada à sua
73,7%) mineralogia, cuja análise indicou a presença de
esmectita. Este argilomineral faz com que o
350
solo, quando saturado, se apresente dispersivo /
expansivo e assim, mais erodível. Esta situação
Resistência à Tração (KPa)

300
poderia explicar seu comportamento à
250
submersão. Por outro lado, quando não
200
saturado, a esmectita acarreta maior sucção ao
150 solo, conferindo-lhe uma “maior resistência”.
100 Tal fato, confirmado pelos ensaios de curva
50 característica e resistência à tração, explicaria o
0 comportamento de campo do solo.
10 020 30 As comparações feitas neste item
Umidade (%)
considerarão, então, que em situações de
Figura 6: Resistência à tração (Kpa) x Umidade (%) (solo
roxo) campo, com os solos não estando
submersos/saturados, o solo verde será o menos
4.5 Potencial de Erosão dos Solos erodível, seguido do roxo, e por fim o branco,
avaliado como potencialmente erodível.
Os resultados do ensaio de desagregação para
os solos estudados neste trabalho indicam que o
solo branco é o mais erodível, tendo 5 CONCLUSÕES
desagregado completamente em um período
muito curto, de cerca de 5 minutos. O solo Uma característica dos solos que parece ter
verde também demonstra erodibilidade importante papel na erodibilidade é a sucção.
semelhante, tendo se desagregado em um Pode-se imaginar que a erodibilidade do solo
tenha comportamento inverso à sucção, ou seja,
quanto maior a sucção menor a susceptibilidade 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
do solo à erosão.
Tal verificação indica uma boa explicação Alcântara, M.A.T. (1997). Estudo da Erodibilidade de
para os comportamentos distintos dos solos Alguns Solos do Estado de São Paulo. Dissertação de
Mestrado, EESC/USP, SP.
observadas em campo, pois, de fato, os três Amador, E.S. (1980). Unidades Sedimentares Cenozóicas
apresentaram níveis de sucção diferentes. Estes do Recôncavo da Baía de Guanabara (Folhas
níveis de sucção observados, menor para o solo Petrópolis e Itaboraí). An. Acad. Brasil. Ciências,
branco, intermediário para o roxo e maior para Rio de Janeiro, v. 52, n. 4, p. 743-761, dez. 1980
o verde, representam bem as observações de Amador, E.S. (1996). Baía de Guanabara e Ecossistemas
Periféricos : Homem e Natureza. Tese de Doutorado
campo, segundo as quais os mesmos solos do Programa de Pós-Graduação em Geografia,
apresentam-se mais erodido, medianamente Instituto de Geociências, UFRJ, RJ.
erodido, e não erodido, respectivamente. Bastos, E.G. Ferreira, R.N. & Jucá, J.F.T.(1998).
Da mesma forma que a sucção, a resistência Contração por Ressecamento de uma Argila
à tração também demonstra relação direta com Expansiva. XI Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Solos e Engenharia de Fundações,v.1, Brasília, DF.
o processo erosivo, porém, a literatura não Chandler, R.J., Crilly, M.S. & Montgomery-Smith, G.
apresenta quantidade expressiva de pesquisas (1992). A low-cost method of assessing clay
sobre esta relação. Na verdade, não foi desiccation for low-rise buildings. Proc. of the
encontrada nenhuma referência a outras Institute of Civil Engineering, 92-n.2.
pesquisas neste sentido, sendo talvez este Ferreira, C.S.M. (1981). Erosão- Investigações de Campo
e de Laboratório Desenvolvidas pelo Instituto de
trabalho o primeiro a abordá-la. Pesquisas Rodoviárias. 2o Simpósio Sobre Controle
Os resultados dos ensaios de resistência à de Erosão, São Paulo, SP
tração também apresentaram níveis distintos Fonseca, A.J.P.V. (1996). Geomecânica dos Solos
para os três materiais, sendo alta para o solo Residuais do Granito do Porto. Critérios para
verde, média para o roxo e baixa para o branco. Dimensionamento de Fundações Directas. Tese de
Doutorado, Universidade do Porto.
Os mesmos parecem, portanto, tratar-se de um Maciel, I.C.Q. (1991). Aspectos Microestruturais e
bom indicativo do comportamento de campo, Propriedades Geomecânicas de um Perfil de Solo
com maiores erodibilidades quanto menores Residual de Gnaisse Facoidal. Dissertação de
forem as resistências à tração. Mestrado em Engenharia Civil, PUC-Rio, Rio de
Pela análise conjunta de campo e laboratório, Janeiro, RJ.
Marinho, F.A.M. (1994). Medição de Sucção com o
conclui-se que em situações de campo, com os Método do Papel Filtro. X Congresso Brasileiro de
solos não estando submersos / saturados, o solo Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, v.2,
branco seria o mais erodível, podendo ser Foz do Iguaçu, PR.
considerado potencialmente susceptível ao Marinho, F.A.M. (1997). Medição de Sucção em Solos.
fenômeno, seguido do solo roxo e, por fim, o 3o Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados, Rio
de Janeiro, RJ.
solo verde. Meis, M.R.M. & Amador, E.S. (1972). Formação
No que diz respeito à confiabilidade dos Macacu: Considerações a respeito do Neo-Cenozóico
métodos aqui em discussão, pôde-se concluir da Baia de Guanabara. An. Acad. Brasil. Ciências,
que os mesmos apresentam resultados de boa Rio de Janeiro, v. 44, n. 3/4, p.602, dez. 1972.
qualidade, sendo satisfatoriamente Meis, M.R.M. & Amador, E.S. (1977). Contribuição ao
Estudo do Neocenozóico da Baixada da Guanabara,
representativos do comportamento que se pode Formação Macacu. Revista Brasileira de
esperar em campo para os solos de uma maneira Geociências, v. 7, n. 2, p. 150-174, jun. 1977.
geral. Trata-se portanto de ensaios muito úteis, Rego, J.J.V. (1978). Erosão Superficial em Taludes de
uma vez que apresentam a vantagem de serem Corte em Solo Residual de Gnaisse. Dissertação de
de execução muito simples e fácil . Ressalta-se Mestrado em Engenharia Civil, UFRJ, Rio de Janeiro,
RJ.
apenas a exceção dos solos com comportamento Santos, R.M.M. (1997). Caracterização geotécnica e
dispersivo, característica que demonstrou poder análise do processo evolutivo das erosões no
levar a conclusões em laboratório equivocadas município de Goiânia. Dissertação de Mestrado em
quando comparadas com o comportamento real Geotecnia, UnB, Brasília, DF.
dos materiais no campo.

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