Raquel Gularte Queiroz. Bacharel em Design pela UDESC e aluna do Programa de Pós- Graduação em Gestão do Design da UFSC. raquel_q@hotmail.com
Conhecer cases de gestão de imagem é sempre enriquecedor – aumenta o reportório
do designer, traz argumentos e embasamento para um trabalho. Estudar o comportamento da indústria e comércio desde os tempos da primeira revolução industrial permite conhecer alguns princípios do que hoje utilizamos em design. Olhar para os lados e para trás e perceber a presença do design (ou de seus traços) em contextos temporais, sociais, econômicos e morais tão distintos, praticamente nos obriga a olhar pra frente de forma mais crítica, nos instiga a desvendar os paradigmas sob os quais nossa sociedade de hoje vive – e passa a fazer parte de uma problemática não apenas do design mas da educação, que, tão obviamente para Paulo Freire, deve propiciar a curiosidade epistemológica e o pensamento crítico necessariamente passando por um educador igualmente crítico e politizado. Assim, este texto pretende trazer um outro cenário para a discussão em design e ensino de design, um cenário anterior à própria revolução industrial. Pretende levantar argumentos que apontam a Igreja Católica como uma das primeiras instituições a fazer uso de gestão da imagem. Esse paralelo objetiva incitar uma discussão/reflexão sobre poder da imagem, não apenas a visual, e não apenas para uma empresa com fins lucrativos mas para qualquer entidade que deseja ter o controle de uma situação e sobre determinado comportamento – instigando o medo, conformismo ou, mais em usado atualmente, o consumismo e a depressão. Para atingir o objetivo desejado foi realizada uma espécie de “recorte e costura” de fatos notoriamente conhecidos e de idéias já publicadas por diferentes autores. Wheeler (14: 2008) fala que a marca é uma promessa, uma idéia contada sobre um produto ou serviço. Essa definição não se restringe à marca gráfica – ela fala da marca enquanto empresa/instituição, em um sistema capitalista com distâncias superadas, e uma profusão de marcas. Assim, trata-se de contar essa idéia de forma mais rápida e mais convincente. Para isso, as empresas contam com profissionais que fazem o planejamento dessa “idéia a ser contada” - gestores, marketeiros, publicitários, designers. Oliviero Toscani (1996) já disse: “A maior campanha publicitária da história da humanidade foi a de Jesus Cristo. Ela lançou um slogan universal 'amai-vos uns aos outros.' E um admirável logotipo: a cruz”. Com poucas palavras Toscani traça um paralelo de aspectos tangíveis de marca desses dois tempos. Contudo, sabemos que a gestão da imagem vai além das representações gráficas e textuais. Aliás, o próprio uso da imagem visual pela igreja sempre foi controverso. Apesar de elas terem tido papel fundamental na catequização de um povo que, convenientemente, não tinha acesso à alfabetização e muito menos às escrituras, Gombrich nos mostra que a exposição de poder e a promessa de redenção vinham também em aspectos menos tangíveis como nos espaços internos das igrejas, na forma como a luz entrava, na sensação de pequenez, de respeito e medo intencionalmente provocada nos fiéis-cristãos. O que seria isso nos dias de hoje senão a tão “inovadora” tentativa das empresas em oferecer uma “experiência” para seus fiéis-consumidores? Na busca pela inovação, pelo “lugar diferente”, a maioria faz o mesmo e, não é surpresa, acabam no lugar-comum. Fica a pergunta, se o designer quer realmente ser um profissional inovador e/ou educador, e quer realmente promover mudanças no “thinking” ele está realmente olhando e fazendo diferente? Referências FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GOMBRICH, Ernst. A História da Arte. Rio de Janeiro. Zahar, 1972. TOSCANI, Oliviero. A publicidade é um cadáver que nos sorri. Rio de Janeiro. Ediouro. 1996. WHEELER, Alina. Design de Identidade da Marca. Porto Alegre. Bookman, 2008