Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Atualmente, diversas propostas intervencionistas focam os centros originais, das cidades, que passaram pelo
esvaziamento nos últimos 50 anos. A revitalização e a requalificação, intervenções características do período
pós-moderno (re) criam novos espaços que antes estavam obsoletos nos núcleos centrais. A partir de essa
afirmação, o presente artigo se desenvolve, tendo como principal objetivo entender as dinâmicas das
transformações das áreas centrais, trazendo como objeto de estudo a área de Cisneros, Medellín, Colômbia.
Para tanto, o trabalho esta dividido em três partes: num primeiro momento abordaremos os vazios urbanos
das cidades. A segunda parte, a revitalização nestas áreas, antes obsoletas, agora alvo de diversas
intervenções. A última parte apresenta o estudo de caso, ou seja, a área de Cisneros.
ABSTRACT
Currently, several interventionist proposals focus the originals centers of the cities which passed through
emptying the last 50 years. The revitalization and redevelopment, interventions features of the postmodern
period, create new spaces that were before obsolete in the cities centers. Based in this affirmation, the main
objective this article is to understand the dynamics changes in the central areas, taking as case study,
Cisneros area, Medellin, Colombia. For this purpose, the work is divided in three parts: First, discuss about
urban voids. The second part, broach the revitalization in this obsolete areas, now target of several
interventions. Finally, the case study Cisneros area.
1 INTRODUÇÃO.
Diversas ações urbanísticas têm sido associadas à intervenção de antigas áreas centrais
no mundo inteiro. O recurso do ordenamento do território a partir de práticas urbanas
como a revitalização de centros históricos e a preservação do patrimônio, é conceituado
como uma prática para inserir as cidades no contexto da economia global. O discurso da
recuperação da identidade dos centros urbanos e o aproveitamento de vazios - deixados
pelas mudanças econômicas e sociais no mundo - foram bem aproveitados por diferentes
atores do mercado, fazendo grandes investimentos dirigidos aos centros históricos. Deste
modo, a cidade passou a ter novas funções, especialmente no campo da cultura; tudo
isto, teve como principais paradigmas as experiências internacionais de Barcelona, Bilbao
e Berlim.
Neste texto busca-se fazer uma reflexão da dinâmica das transformações nas áreas
centrais; os processos que levaram à sua descaracterização e as transformações pelas
quais ditas áreas passaram para atingir os objetivos de uma nova ordem global. Para
tanto, levamos em consideração as concepções teóricas de alguns autores para entender
as mudanças no espaço urbano, o processo de declínio e posterior revitalização do centro
das cidades. Para entendermos um pouco este processo, estudaremos o caso da cidade
de Medellín e abordaremos os exemplos das intervenções no centro histórico da cidade,
dos acertos e desacertos durante o processo de revitalização, além das contradições
advindas em ditas operações urbanas.
Os maiores vazios que podem ser distinguidos dentro de uma cidade, e que deixam
grandes marcas, são aqueles gerados pela indústria. Quando uma indústria de porte
abandona o seu sitio original, o estrago causado na área é gigantesco; ultrapassa, em
muito, o já grande vazio deixado no seu território industrial (MESTRINER, 2008).
O traçado de caráter moderno, regido pelas quatro funções – Habitar, Trabalhar, Circular
e Recrear- apresentadas na carta de Atenas de 1993, traz uma concepção da cidade. os
vazios urbanos agora são elementos de projeto, ou seja, são parte integrante do traçado
urbano moderno, fazendo parte da paisagem da cidade.
De acordo com Sabbag (2008), com a incorporação dos princípios das cidades jardim ou
cidades-parque, há uma inversão na figura-fundo, onde o plano principal é o vazio, e não
mais os edifícios; estes devem ser dispostos livremente no solo, agora liberado e tratado
como público. Portanto, na cidade moderna, é composto por grandes vazios como objetos
dispostos isoladamente.
Entretanto, nos últimos 40 anos, os centros das cidades passaram por diversas
transformações e processos de produção e consumo do espaço. As mudanças
econômicas e sociais no mundo inverteram as formas de ocupação do espaço urbano; o
centro, origem no processo de produção da cidade e local a partir do qual se configuram
novos espaços e hierarquias, vivenciam novamente o processo de esvaziamento e
deterioração, devido, em parte, ao surgimento de novos pólos de urbanos, com novas
ofertas de habitação, serviços e lazer. Muito deste processo se deve pela especulação
imobiliária, fato observado desde a cidade pós-industrial: saído do centro para a periferia.
Deste modo, o centro primário da cidade começou a ser identificado pela concentração de
atividades econômicas informais, pela gentrificação, pela degradação de seu patrimônio
histórico e pela subutilização e abandono dos seus edifícios, alterando o perfil das
atividades comerciais e de serviços.
O autor chama atenção para o fato da degradação das áreas centrais à saída da
população de alta renda, posto que as elites possuem um alto poder de influência e
sempre procuram se distinguir, de forma diferenciada, nas relações políticas, econômicas
e sociais. Isto tudo se reflete nas concentrações em determinadas áreas da cidade, das
camadas de alta renda.
De acordo com Gutierrez (1998) a degradação dos espaços acontece quando, além das
estruturas físicas, verifica-se a reverberação da mesma situação nos grupos sociais. As
atividades existentes são gradativamente substituídas por outras de menor rentabilidade,
até mesmo ilegais, praticadas por moradores de menor poder aquisitivo.
Assim, o processo de esvaziamento de áreas centrais se dá também pelo alto custo dos
terrenos em detrimento ao surgimento de loteamentos nas periferias e subúrbios das
cidades, além da alteração dos padrões de consumo dos centros tradicionais com o
surgimento de Shoppings Centers, ora, pela procura de um lugar mais aprazível de se
morar, mesmo que este lugar seja afastado do trabalho e das atividades cotidianas.
Os principais estudos acerca dos vazios urbanos tiveram inicio a partir da década de
1980, quando arquitetos e urbanistas levaram sua atenção em função de sua presença
marcante nas áreas urbanas.
Nesse contexto, a cultura tem se revelado como um poderoso instrumento propício para
alcançar a competitividade e divulgação da imagem urbana necessária para a promoção
da cidade. Teatros, museus, centros de convenções, peças arquitetônicas patrimoniais,
desvendam um novo modo de projetar a cidade a partir de um urbanismo
monumentalista. Para Arantes (2000), vale lembrar o papel do “cultural” para a
consolidação das estratégias neoliberais de intervenção urbana, inclusive para a criação
dos consensos: a identidade da cidade – sua cultura – valorizada por grandes eventos ou
projetos culturais, fortalecendo sua inserção na rede de “cidades-globais”.
Nos últimos trinta anos estes processos atingiram diversos países que voltaram sua
atenção à recuperação de áreas abandonadas, principalmente aquelas de cunho
histórico. Deste modo, a valorização cultural, sobretudo, de bens patrimoniais aliada com
as idéias do mercado e o turismo, foram um dos preceitos para a aplicação e legitimação
destes tipos de intervenções nos centros das cidades.
David Harvey (2010), diz que a requalificação urbana é uma ação intervencionista
indissociável da condição pós-moderna, sendo uma forma de promover o (re)
desenvolvimento urbano. Uma arquitetura de espetáculo é quase essencial para o
sucesso de um projeto de requalificação e de revitalização urbana. Harvey (2010), conclui
que proporcionar determinada imagem à cidade através da reorganização dos espaços
urbanos espetaculares se toma uma forma de atração de capital e de pessoas,
principalmente nas áreas centrais as cidades, locais estes muitas vezes caracterizados
pelo abandono, pelo esvaziamento.
Para manter a diversidade de atividades e usos, que foi uma das preocupações da
arquiteta, decidiu-se promover a mistura de habitação social, comercio informal e
atividades culturais, evitando assim, a expulsão da população de baixa renda, residente
na área. Na teoria, o projeto procurava conservar as ligações sociais e reforçar as raízes
populares no contexto do Pelourinho.
Para Borja (2005), nos atuais processos urbanos é muito importante a contestação dos
fatores culturais sobre os impactos da globalização e da economia de mercado; dentro de
ditos processos encontra-se inserido a defesa do patrimônio construído, da paisagem, da
população e das suas habilidades, da valorização do convívio urbano (por exemplo, a rua
e o espaço público como elementos fundamentais da cidade).
Após a reforma da constituição colombiana de 1991, o governo criou as leis 388 e 397 de
1997 que originaram os P.O.T[5] (Planos de Ordenamento Territorial), estas leis
forneceram as estratégias e as diretrizes necessárias de planejamento para as
intervenções urbanas na cidade. A partir desse momento os governos locais começaram
a implementar diversas estratégias de gestão de ocupação do solo em diferentes locais
das cidades, principalmente nos centros antigos e nos bairros das periferias. No entanto,
para executar ditas ações, sobretudo nas grandes cidades, foi necessário criar planos
específicos, chamados planos parciais, para cada área a passar por intervenções.
Com a parceria público–privada, a utilização atual dos prédios foi dada, por um lado, a
uma empresa privada que decidiu utilizar o edifício Vasquez como sede administrativa,
enquanto que o edifício Carré é atualmente a sede da secretária de educação de
Medellín. Assim, a parceria entre a prefeitura e a empresa privada foi um dos
instrumentos mais importantes dentro do planejamento, utilizado para viabilizar a
construção e revitalização dos edifícios patrimoniais no centro da cidade.
O vencedor do concurso foi o projeto da Praça da Luz, proposto pelo arquiteto Juan
Manuel Pelaez. O projeto propunha uma grande praça com uma sucessão de recantos
rodeados de bambu para o descanso e lazer; além disso, foram propostos uma serie de
elementos verticais iluminados, simbolizando uma grande floresta de luz. Esta proposta
trouxe muitas discussões e críticas por diversos arquitetos e intelectuais do país, ao
evidenciar uma clara intenção de destruição da identidade da antiga praça.
O espaço projetado para dar vida à antiga praça, apenas passa a ser um lugar como
muitos na cidade, um espaço de transito; já que o mesmo projeto limita a
intercomunicação e a fluidez, devido aos imensos pilares que são percebidos como
barreiras físicas e visuais. A tentativa da proposta pode ser vista como um processo de
Urbanalização [6] do espaço Urbano, evidenciando uma clara intencionalidade de criar um
ícone, um grande referente da nova imagem da cidade.
Assim como a antiga praça desapareceu, o mesmo aconteceu com a passagem Sucre,
localizada no mesmo conjunto de Cisneros; o edifício foi demolido em 2003, em um ato
deliberado da prefeitura de acabar com o patrimônio histórico da cidade, inclusive fazendo
omissão às leis de patrimônio estabelecidas pelo Conselho de Monumentos Nacionais.
Ao invés de recuperar o antigo edifício que tinha sido afetado pelo incêndio de 1968, a
passagem foi demolida para dar espaço à nova biblioteca temática de EPM7. A
justificativa deste “crime patrimonial” foi a deterioração física e o possível risco que
representava para os cidadãos.
5 CONCLUSÕES
Contudo, não podemos menosprezar os aspectos positivos das intervenções, posto que,
mesmo sendo impulsionadas por uma condição econômica, conseguiram dar vida a uma
área subtilizada da cidade, retomando o espaço através de múltiplos usos e incentivando
a apropriação de uma parte da população. Aliás, nestes tipos de projetos, é difícil que os
resultados não possuam algum tipo de contradição, já que quase sempre se encontram
submetidos às imposições políticas e econômicas de capitais privados e interesses
burocráticos.
Por fim, muitas intervenções têm tido aspectos positivos e negativos na cidade, diversas
discussões opiniões tem sido geradas em volta das intervenções no centro, por um lado
estão aqueles que defendem o valor histórico e simbólico da área, e por outro, encontram-
se os que pregam dos benefícios da revitalização do centro como um processo
necessário para posicionar as cidades diante do mundo globalizado.
Temos considerar que estes tipos de ações são as mais complexas dentro do campo da
arquitetura e urbanismo. Assim, quando houver uma tentativa de revitalizar uma área,
implantando novas arquiteturas em conjuntos urbanos consolidados, é importante fazer
uma boa leitura do entorno, das características físicas e sócias; levar em consideração os
aspectos históricos e culturais do território a ser intervindo, tudo isto é relevante no
momento de produzir intervenções urbanas mais coerentes.
REFERÊNCIAS
BOTLER, Milton; ROLNIK, Raquel. Por uma política de reabilitação de centros urbanos.
Revista ÓCULUM – FAU/PUC, 2004. In AMORIM, Ivana. Gestão de projetos em áreas
urbanas: a experiência de Belo Horizonte na preservação e revitalização da Praça
Rui Barbosa. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, 2011.
Disponível em; http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/ISMS-
8JGSRS/1/disserta__o.60.ivana_amorim.2011.pdf, Acesso em 7 Jul. 2012.
HARVEY, David. Condição pós-moderna. 19º Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2010.
OCAMPO, Sandra. Guayaquil Ancestro del Rebusque. Medellín, 2010. Disponível em;
http://www.colombiaya.com/articulos/guayaquil-ancestro-del-rebusque.pdf Acesso em 15
Jul. 2012.
VILLAÇA, Flavio. O espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Editora Studio Nobel,
1998.
Notas
[1] A Arquitetura Republicana na Colômbia se desenvolveu no final do século XIX e surgiu como uma forma
de substituir os conceitos da arquitetura colonial hispânica, por novos estilos plásticos. O estilo foi marcado
pelo ecletismo e a influência de arquiteturas Francesas, Inglesa e italiana.
[3] O Town Planning Associates foi um escritório fundado em nova Iorque, em 1941, pelos arquitetos Josép
Luis Sert e Paul, Paul Schulz e Lester Wiener, e responsável, entre 1945 e 1957, por diversos projetos
urbanos na América do Sul, dentre eles, o projeto para a Cidade dos Motores no Rio de Janeiro.
[5] Os Planos de Ordenamento Territorial na Colômbia surgiram a partir da lei 152 de 1994 – Lei Orgânica do
Plano de desenvolvimento- e a lei 388 de 1997- lei de desenvolvimento territorial. Os planos de ordenamento
se definem como o conjunto de ações político-administrativas, e fornecem ferramentas de planejamento e
instrumentos de gestão do uso do solo, indispensáveis para a realização de operações urbanas.
[6] Tomamos o termo utilizado pelo espanhol Francesc Muñoz para se referir às ações políticas adotadas nas
últimas décadas para promover a regeneração de diversos centros históricos, prevalecendo a imagem, o
consumo e o ócio, como primeiro fator da produção da cidade (Muñoz, 2008, p. 65).
[7] Empresas Públicas de Medellín é a principal fornecedora de serviços públicos essenciais da cidade (Água,
Energia elétrica, Gás, telefone e Tratamento do Esgoto).
[8] Neste caso, utilizamos a palavra Tombamento, que no português serve para designar a ação de
derrubar e, ao mesmo tempo, serve para fazer ênfase no processo de preservação de bens
históricos através da aplicação da lei.