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Preparo periódico do solo – arados de discos *

1. Arados de discos

Os arados de discos distinguem-se das de aivecas por a lavoura ser efetuada por discos com
movimento de rotação provocado pelo atrito de rolamento com o solo.
Considerando o perfil do disco e o seu movimento de rotação, o trabalho efetuado por este
implemento distingue-se do realizado pelo arado de aivecas por:

- a leiva ter uma forma côncava, em vez de retangular com o fundo horizontal,
diminuindo-se assim a compactação do fundo do rego;
- o disco corta rodando o que lhe permite penetrar facilmente nas terras com restolho, mas
o reviramento da leiva é muitas vezes incompleto ficando os restos das culturas,
estrumes e plantas invasoras mal enterradas;
- o destorroamento da terra é superior ao resultante das lavouras com o arado de aivecas;
- o desgaste reparte-se por todo o disco permitindo a sua utilização mesmo quando
bastante gasto;
- transpor com maior facilidade os obstáculos.

Figura 1 – Arado de discos montado fixo.

Figura 2 – Arado de discos montado reversível.

*
EAG 03305 – Mecanização Agrícola
Ricardo Ferreira Garcia – LEAG – UENF – garcia@uenf.br
1.1. Constituição dos arados de discos

Os arados de discos apresentam como principais peças ativas os discos que têm uma forma
de calote esférica e bordos em bisel. A posição destes é definida pelos ângulos que o plano que
contém o bordo do disco faz com a direção de deslocamento (ângulo de ataque ou de corte) e com a
vertical (ângulo de inclinação ou de incidência). A variação destes ângulos é efetuada ao nível dos
órgãos de regulagem.

Figura 3 – Principais componentes de um arado de dois discos reversíveis.


1 - Tirante de comando do leme; 2 - 3º ponto de engate; 3 - Alavanca de reversão;
4 - Leme da roda guia; 5 - Batente de regulação do ângulo de ataque; 6 - Munhão;
7 - Raspadeira; 8 - Quadro; 9 - Roda guia; 10 - Discos; 11 - Espera de descanso.

Os discos, que têm um orifício central pelo qual se encaixam num prato porta-discos, estão
fixos neste por parafusos, são caracterizados por vários parâmetros nomeadamente o seu diâmetro,
espessura e flecha.
Os discos giram assim solidariamente com o prato sobre rolamentos cônicos, que encaixam
nos cubos que estão montados nas extremidades inferiores das torres, que ligam aqueles elementos
ao quadro.
Estes implementos possuem raspadeiras que impedem a aderência da terra à superfície
côncava dos discos, diminuindo-se assim o risco de aglomeramento e reduzindo o atrito ajudando
no reviramento da leiva. As raspadeiras, quando os discos são simétricos, são reversíveis.
Figura 4 – Representação de um disco e seus elementos de suporte.
1 - Torre; 2 - Parafuso; 3 - Anilha de mola; 4 - Porca; 6 - Porca sextavada;
7 - Prato do disco; 8 - Rolamento; 9 - Anilha de feltro; 10 - Cubo;
11 - Resguardo do cubo; 12 - Rolamento; 13 - Tampa do cubo.

1.2. Principais regulagens dos arados de discos

Antes de se proceder às regulagens do arado é necessário efetuar algumas regulagens do


trator em relação ao arado, nomeadamente:

- bitola do trator;
- comprimento dos pendurais do sistema de levantamento hidráulico;
- comprimento dos estabilizadores;
- nivelamento longitudinal
- nivelamento transversal.

A bitola do trator deve ser tal que, na posição de trabalho, a borda do primeiro disco e o
flanco interno do pneu traseiro estejam no mesmo plano longitudinal.
A regulagem do comprimento dos pendurais e dos estabilizadores deve ser feita com o
objetivo de centralizar o arado atrás do trator.
O nivelamento longitudinal deve ser feito de modo que os discos trabalhem todas à mesma
profundidade no solo. Deste modo, tanto o primeiro disco quanto o último deve estar a uma mesma
profundidade de trabalho. Esta regulagem é feita atuando-se no comprimento do terceiro ponto.
O nivelamento transversal deve ser feito com o mesmo objetivo do nivelamento longitudinal
e é realizado atuando-se nas manivelas que regulam a altura do primeiro e segundo ponto do levante
hidráulico.

Figura 5 – Nivelamento longitudinal e transversal – os discos tocam o solo juntos.


Depois de montado, e efetuadas as regulagens anteriores, deve-se proceder à regulagem do
equipamento de forma a obter-se, em trabalho, um equilíbrio perfeito entre a força de tração do
trator e a resistência que o solo oferece ao contato com as peças ativas, peças de suporte e órgãos
acessórios. Em igualdades de condições, a resistência à progressão do equipamento depende do seu
peso, tipo de implemento e da natureza e estado do solo.
Depois de efetuadas as regulagens do arado relativamente ao trator, devem-se efetuar as
seguintes regulagens:

- profundidade de trabalho;
- ângulo de inclinação;
- ângulo de ataque ;
- largura de trabalho;
- roda guia

A profundidade de trabalho depende principalmente dos ângulos que o rebordo do disco faz
com a vertical, ângulo de inclinação, e com a direção de deslocamento do trator, ângulo de ataque.
Aumentando o ângulo de inclinação, diminui-se a profundidade, aumenta a força de tração
necessária e melhora-se o reviramento do solo.
O aumento do ângulo de ataque conduz a uma maior profundidade e largura de trabalho.
Na prática, para se fazer uma leiva bem revirada, os discos devem-se regular para a maior
inclinação compatível com uma boa capacidade de penetração.
O ângulo vertical pode ser alterado normalmente entre 15o a 25o e tem influência na
capacidade de penetração do disco no solo e o destorroamento. Quando se aumenta o ângulo
vertical, diminui-se a capacidade de penetração. Deve-se respeitar o limite de 25o como inclinação
máxima, pois a partir desse limite pode ocorrer que sua face posterior toque o solo, impedindo a
penetração.

15o 25o

Figura 6 – Variação do ângulo vertical dos discos – mínimo (15o ) e máximo (25o ).

O ângulo horizontal pode ser alterando normalmente entre 45o a 60o . A alteração do ângulo
horizontal faz com que se altere a faixa de terra cortada pelo disco, sendo que quanto menor for o
ângulo, menor será a largura da faixa. O ângulo horizontal também interfere na capacidade de
penetração do arado. Aumentado o ângulo horizontal, aumenta-se a capacidade de penetração do
arado. Também neste caso, devem-se respeitar os ângulos limites.

45o 60o

Figura 7 – Variação do ângulo horizontal dos discos – mínimo (45o ) e máximo (60o ).
Essas duas regulagens são feitas ajustando-se a posição do disco na coluna do arado, em
posições predefinidas, através de encaixes fixados por parafusos e porcas. No entanto, encontram-se
arados fabricados sem esses pontos de regulagens, não sendo possível sua realização.
A largura de trabalho varia dentro de determinados valores na razão direta do ângulo
horizontal dos discos e profundidade de trabalho.
Para a roda guia ou roda estabilizadora, a inclinação deve ser contrária à dos discos, para,
por pressão no sulco traseiro, anular a reação lateral do solo nos discos, mantendo-se assim a
estabilidade do arado em trabalho. Nesta situação em terreno plano e horizontal, o trator deve
deslocar-se em linha reta sem ser necessário atuar no volante.

Figura 8 – Representação de uma roda guia


1 - Fuso com manivela; 2 - Tirante de comando do leme; 3 - Leme;
4 - Mola amortecedora; 5 - Forqueta de afinação da altura;
6 - Cavilhão do garfo da roda; 7 - Eixo da roda; 8 - Disco da roda.

Esta roda, que tem uma mola que lhe permite acompanhar as irregularidades do terreno,
pode ser regulada em altura, relativamente ao quadro, e em inclinação, relativamente à direção de
deslocamento. A primeira regulage m, que depende da profundidade de trabalho, é efetuada ao nível
da forquilha de afinação devendo a roda exercer certa pressão no solo, de forma a garantir a
estabilidade.
A variação da inclinação é obtida pela alteração da posição do tirante de comando do leme
para um furo mais interior ou exterior, conforme o aumento ou diminuição do ângulo de ataque.

1.3. Principais diferenças entre os arados de discos e de aivecas

Nos arados de aivecas o trabalho de corte é efetuado por uma relha e uma sega, sofrendo a
leiva certo reviramento, ou seja, um movimento de rotação imprimido pela superfície curva da
aiveca.
Nos arados de discos a leiva vai subindo devido ao ângulo de inclinação e ao movimento de
rotação do disco, mas o reviramento é incompleto, ficando aque la mais fragmentada.
Nos arados de aivecas a superfície do solo fica mais irregular e na de discos mais contínua.
Este arado faz um trabalho semelhante à de aivecas quando estas são cilíndricas e se trabalha a
grande velocidade.
Nos arados de aivecas o atrito com o solo é de escorregamento e nas de discos de rolamento,
portanto menor.
A penetração no solo dos arados de discos deve-se principalmente ao seu peso e nas de
aivecas aos ângulos de regulagem.
Assim, os dois tipos de trabalho diferem especialmente em relação ao grau de fragmentação
e reviramento da leiva, sendo o arado de aivecas recomendado para realização de lavouras menos
destorroadas, que diminuem os riscos de erosão, e lavouras invertidas, para, por exemplo,
enterramento de estrumes ou restolhos.
Tendo os arados de discos como peças ativas discos, em que o atrito é de rolamento, pensou-
se que seriam menos exigentes em força de tração do que as de aivecas, em que o atrito é de
escorregamento, o que acabou por não se verificar, pois foi necessário aumentar a sua massa para
que os discos se enterrassem no solo, o que aumentou a força de tração necessária tornando-a
praticamente igual à dos arados de aivecas.

Relativamente à utilização destes dois tipos de arados pode-se afirmar que as de aivecas são
mais polivalentes e mais baratas, havendo, no entanto, determinadas situações em que se devem
utilizar os arados de discos, como, por exemplo:

- em terrenos com afloramentos rochosos, raízes grossas e outros obstáculos, ou em terras


abrasivas;
- em solos que aderem fortemente às superfícies metálicas, os arados de discos, devido às
raspadeiras, aglomeram menos;
- em solos secos, em que se pretenda uma lavoura muito fragmentada, para se proceder
depois à sementeira;
- para incorporação de restolhos densos e altos, estrumes, etc.

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