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“ ‘Esta gente gosta de comer crianças’.

Costumam ferver água numa grande panela;


quando borbulha, põem uma pequena criança numa gaiola de ferro e colocam-na
em cima da panela e a escaldam usando o vapor para fazer-lhe sair o suor. Quando
o suor saiu, retiram-na [da gaiola] e com uma escova de ferro tiram, escovando, a
pele danificada. A criança está ainda viva. Então matam-na. Racham-lhe o ventre,
retiram os intestinos e o estômago, cozem [o corpo] a vapor; eles comem-na.”
(p. 17-18)

“(…) esses canibais que gostam de comer crianças cozidas a vapor não são
Tupinambás. São Portugueses, conforme o texto citado, um texto chinês que
pertence a uma crônica da segunda metade do século XVI, intitulada Chou-yu tcheo-
tseu lou.”
(p.18)

O autor Serge Gruzinski em seu texto traz, de início, a visão dos chineses
quanto aos portugueses europeus, em suas primeiras visitas à região. Chega-se a
ter um paralelo quanto a forma que os Portugueses imaginavam os povos
desconhecidos a eles, e vice-versa.

“(…) os Portugueses tinham tão pavorosa imagem na Ásia que não lhes parecia
surpreendente serem acusados de antropofagia. Outras fontes portuguesas
censuram a informação e pretendem falar de “cachorros” assados e comidos pelos
Portugueses, embora a substituição tornasse a acusação absurda, já que os
chineses costumavam provar cachorros. Desta vez não são os Índios do Novo
Mundo, mas os Europeus que são acusados de canibalismo e de barbárie, como se
os chineses estivessem devolvendo contra os Portugueses uma das obsessões ou
um dos preconceitos mais enraizados entre os Europeus no seu trato com povos
desconhecidos”. (p. 19)

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