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TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/MCP PROCESSO Nº 30.879/16


ACÓRDÃO

L/M “CANCUNBOAT”. Provável colisão envolvendo embarcação (não


identificada) contra um banhista/mergulhador e sua consequente morte, nas
proximidades do Morro de São Paulo, Cairu, Baía de Todos os Santos, BA. Sem
registros de danos materiais, tampouco poluição ao meio ambiente hídrico. Reais
circunstâncias não apuradas com a necessária precisão, face a não identificação da
embarcação envolvida, ausência de testemunhas, a despeito de indícios de
imprudência da vítima fatal, que estaria realizado mergulhos em área de tráfego de
embarcações. Arquivamento.

Visos os presentes autos.


Tratam os autos de IAFN, instaurado pela Capitania dos Portos da Bahia para
apurar a(s) causa(s) e circunstância(s) de provável colisão envolvendo a L/M “CANCUNBOAT”
contra um banhista, em 31 de dezembro de 2015, próximo ao Terminal de Morro de São Paulo,
Cairu, BA, que culminou no óbito do Sr. Luiz Carlos Mascarenhas de Moraes, com pedido de
Arquivamento pela D. Procuradoria Especial da Marinha - PEM (fls. 71 a 73), pelos fatos e
fundamentos a seguir expostos.
Consta dos autos que na data mencionada, por volta de 13h, a L/M
“CANCUNBOAT”, classificada para atividade de transporte de passageiros e carga em área de
navegação interior, medindo 7,85 metros de comprimento e 3,00 AB, de propriedade do Sr.
Adriano Souza Silva, sob a condução do MAC Marcelo da Hora Santos, contando a bordo com 3
passageiros, navegava de Valença para Morro de São Paulo, Cairu, BA, quando se chocou com
um objeto no mar. Ato contínuo, o condutor retornou ao local da ocorrência, e não encontrou
nada, assim, acreditando na possibilidade de que pudesse ter colidido com uma tartaruga,
continuou sua navegação para Morro de São Paulo.
Logo após, o proprietário da lancha foi informado do desaparecimento de uma
pessoa, que estava nadando no mesmo local onde ocorreu a então possível colisão envolvendo a
embarcação “CANCUNBOAT”. Em seguida, o proprietário da lancha, pessoalmente, voltou ao
local da ocorrência para fazer uma busca e nada encontrou. Posteriormente, emprestou uma
lancha sua, para que continuassem as buscas, que foram feitas por um militar da Capitania dos
Portos e pelo irmão do desaparecido.
Três dias depois, o corpo da pessoa que estava mergulhando no local foi
encontrado. Tratava-se do Sr. Luiz Carlos Mascarenhas de Moraes. E que segundo o Laudo de
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Exame de Necropsia, (fls. 23 a 25), a vítima faleceu por traumatismo torácico aberto/instrumento
contundente.
Quanto aos danos materiais salienta-se que na L/M “CANCUNBOAT” não foram
encontrados danos externos além do registrado no motor conforme Laudo de Exame Pericial do
Departamento de Polícia Técnica de Valença, BA, (fl. 22).
Marcelo da Hora Santos descreve os fatos como acima relatado. Demais disso
declarou que alguns colegas saíram com duas ou três lanchas de volta ao local da ocorrência para
fazer uma nova busca e nada encontraram. À noite do mesmo dia recebeu uma ligação de
militares da CPBA que tinham achado uma tartaruga morta entre a Gamboa e Morro de São
Paulo. No dia seguinte a família deu por falta de uma pessoa que estava no local do acidente e aí
iniciaram as buscas no local. Declarou também que, no domingo seguinte (três dias depois) o
corpo da pessoa que estava desaparecida foi encontrado e, devido aos tipos de ferimentos e do
local onde a pessoa estava mergulhando, provavelmente trata-se da mesma colisão que a lancha
fez na quinta-feira (dia do acidente). Por fim, declarou ainda que considera que esse acidente
ocorreu porque o mergulhador que estava no local não demarcou sua posição com nenhuma boia,
além de estar nadando numa área de grande trânsito de lanchas.
Adriano Souza Silva, proprietário, confirma as declarações do seu Marinheiro
Marcelo.
Eduardo Mascarenhas de Moraes, irmão do acidentado (falecido), Sr. Luiz Carlos
Mascarenhas de Moraes, declarou que no momento em que ocorreu o acidente com seu irmão
estava na praia de Gamboa do Morro, município de Cairu. Que estava com seu irmão na praia.
Seu irmão chegou à praia cerca de 12h. Como sempre fazia, disse que iria nadar e voltaria.
Normalmente ficava cerca de uma hora nadando. Como demorou muito, começaram a desconfiar
que algo estava errado. Que, cerca de 17h30min, ouviu um rapaz na praia comentando que teria
havido um acidente de uma lancha com uma pessoa que estava mergulhando. Porém seu irmão
não estava mergulhando e sim nadando. Que foi à Delegacia em Morro de São Paulo, pois o
“marinheiro”, condutor, da suposta lancha envolvida, teria ido à mesma para informar o acidente.
Segundo o pessoal da delegacia, o marinheiro informou que achava que teria passado por cima
de uma tartaruga. Que o proprietário da lancha envolvida, colocou uma outra lancha com
condutor, disponível para ajudar nas buscas. Que não lograram êxito nas buscas. Declarou
também que no dia quatro de janeiro, o corpo foi encontrado numa praia próximo de onde
ocorreu o acidente. Que tem conhecimento de outra ocorrência semelhante a esta na mesma
localidade, mas com moto aquática. Que seu irmão usualmente nadava no local onde ocorreu o
acidente em questão há que cerca de doze anos. Que considera que ocorreu esse acidente porque
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o condutor trafegou num local que não seria normalmente usado para o trânsito de embarcações.
Por fim declarou que o acidentado era experiente no mar, pois havia sido salva-vidas; tinha curso
de mergulho; tinha uma embarcação; e tinha habilitação para conduzir sua embarcação. Possuía
experiência no local onde nadava: conhecia onde nadar, onde poderia estar seguro em sua
natação e conhecia bem a área, pois já residia no local há doze anos.
O 2º SG-CP José Henrique Fonseca Oliveira, Inspetor Naval de Serviço em Morro
de São Paulo, Cairu, BA no dia do acidente, declarou que chegou em Morro de São Paulo cerca
de 09h30min e permaneceu até a hora do acidente, cerca de 13h. Que estava chegando ao píer,
voltando do almoço, quando viu a lancha “CANCUNBOAT” atracada, com seu condutor de
nome Marcelo, que estava chorando, muito nervoso, achando que poderia ter colidido numa
pessoa, mas que poderia ter sido uma tartaruga. Que, após ter tido contato com o condutor e com
a lancha “CANCUNBOAT”, pegou uma outra lancha e pediu a outro inspetor naval para se
dirigir ao local onde poderia ter ocorrido o acidente. Antes de sair, porém, inspecionou a lancha e
nada foi encontrado, exceto a rabeta que estava avariada. O outro inspetor naval registrou a
latitude e longitude de onde poderia ter ocorrido o acidente e nada mais encontrou. Que ficou na
lancha tentando obter mais informações do acidente e persistiu a dúvida entre os presentes, se
seria uma pessoa ou uma tartaruga. O condutor Marcelo foi encaminhado para o posto de saúde
local, pois estava muito nervoso. Que o condutor Marcelo informou ter retornado ao local do
então suposto acidente, para tentar prestar apoio ou resgatar a possível vítima, fez uma breve
busca e nada encontrou. Declarou ainda que tem conhecimento de uma outra ocorrência
semelhante a esta na mesma localidade, mas com tartaruga, pois na área existem muitas
tartarugas. Declarou também que após o condutor ter ido para o posto de saúde, não houve, por
parte de pessoas ligadas à lancha, mais tentativas de busca no local do acidente no mesmo dia,
pois não havia a certeza de que realmente o acidente teria sido com uma pessoa. Que no dia
seguinte, porém, com a informação de que uma pessoa que estava nadando no local do acidente
havia desaparecido, foram iniciadas então buscas, agora por uma pessoa. Que o proprietário da
lancha “CANCUNBOAT” emprestou uma outra lancha, com condutor, para que se fizessem as
buscas. A busca foi feita pelo próprio sargento Fonseca e familiares do desaparecido, inclusive
seu irmão. As buscas continuaram por dois dias (quinta e sexta-feira) e nada foi encontrado. No
domingo o corpo apareceu próximo ao local onde ele teria desaparecido. Por fim, declarou que
considera que o acidente ocorreu devido ao banhista estar nadando na “rota” onde as lanchas
fazem seu percurso entre Gamboa e Morro de São Paulo. Que considera que o canal de
aproximação das lanchas deveria ser sinalizado por boias.
De acordo com Laudo de Exame Pericial Indireto, (fls. 07 a 11), os Peritos
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inferiram que o condutor da embarcação envolvida era devidamente habilitado, as condições
meteorológicas não influenciaram no acidente, e que a lotação da embarcação envolvida na
colisão estava de acordo com o seu respectivo Título de Inscrição (TIE). Ademais, observaram
que no momento em que aconteceu a colisão, o banhista estava submerso, aproximadamente a
400 metros da área de banhistas, e não tinha nenhum tipo de marcação no local em que foi
praticado o mergulho, o que não possibilitou a visualização da vítima pelo condutor.
Neste sentido, os Peritos concluíram que a causa determinante para a colisão, foi a
falta de observância do banhista em realizar os procedimentos para realizar um mergulho
amador, e por realizar mergulho em área de trânsito de embarcações.
O Encarregado do Inquérito, em Relatório, (fls. 58 a 63), asseverou que devido a
não demarcação do local do mergulho por parte da vítima, não foi possível para o condutor da
lancha “CANCUNBOAT” identificar que havia uma pessoa nadando no local onde ocorreu a
colisão. Desse modo, apontou como responsável direto pelo evento, o Sr. Luiz Carlos
Mascarenhas de Moraes (falecido no acidente), pois ao nadar em área de trânsito contumaz de
embarcações e sem demarcar o local, assumiu o risco de provocar um acidente.
IAFN instruído com documentos de praxe e CD com suas principais peças.
Após análise dos autos, a D. Procuradoria Especial da Marinha - PEM (fls. 71 a 73)
requer o arquivamento dos presentes autos, eis que, de acordo com as provas acostadas aos
autos, entende que a negligência e imprudência do Sr. Luiz Carlos Mascarenhas de Moraes,
contribuíram para a ocorrência da colisão em apreço. Contudo, em virtude do óbito do mesmo,
requer o reconhecimento expresso deste Tribunal no sentido de extinguir a sua punibilidade.
Publicada Nota para Arquivamento. Prazos preclusos, sem que interessados se
manifestassem.
Decisão.
De todo o exposto, outra decisão não temos senão determinar o arquivamento dos
presentes autos como requerido pela D. Procuradoria Especial da Marinha - PEM (fls. 71 a 73),
considerando o acidente da navegação em apreço, previsto no artigo 14, alínea “a”, da Lei nº
2.180/54, sob análise, como de origem indeterminada, eis que não teve suas reais circunstâncias
apuradas com a necessária precisão, face a não identificação da embarcação envolvida, já que de
acordo com laudos técnicos trazidos à colação, não se pode afirmar acima de qualquer dúvida
que a L/M “CANCUNBOAT” teria sido a embarcação causadora da morte do referido
mergulhador e ainda, a inexistência de testemunhas, a despeito de indícios de imprudência da
vítima fatal que estaria mergulhando em área de trafego de embarcações.

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(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 30.879/2016...........................................................)
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Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza
e extensão do acidente da navegação: provável colisão envolvendo embarcação não identificada
contra um banhista/mergulhador e sua consequente morte, nas proximidades do Morro de São
Paulo, Cairu, Baía de Todos os Santos, BA. Sem registros de danos materiais, tampouco poluição
ao meio ambiente hídrico; b) quanto à causa determinante: reais circunstâncias não apuradas com
a necessária precisão, face a não identificação da embarcação envolvida, ausência de
testemunhas, a despeito de indícios de provável imprudência da vítima fatal que estaria
realizando mergulhos em área de tráfego de embarcações; e c) decisão: julgar o acidente da
navegação, previsto no artigo 14, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54 de origem indeterminada,
mandando arquivar os presentes autos, conforme requerido pela D. Procuradoria Especial da
Marinha em sua manifestação (fls. 71 a 73).
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 12 de dezembro de 2017.

MARIA CRISTINA DE OLIVEIRA PADILHA


Juíza Relatora

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 12 de abril de 2018.

MARCOS NUNES DE MIRANDA


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Primeiro-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

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COMANDO DA MARINHA
c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA
MARINHA
2018.05.10 10:17:08 -03'00'

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