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Neste pequeno sao lisamente fala 0 tempo abraca. E isto é feito (...) através de uma escrita Primorosa que cativa o leitor, que 0 atrai ds vezes po ir e de Scorsese, as vezes pari rragédic indlogos criticos perseguidos pelo nazismo. As urgéncias postas pela brutalidade: dos: sistemas penais contemporiineos fazem do presente. 9 ceniro de gravidade do trabalho, ¢ isso deixa sinais predominancia do presente histérico na narrative Pouco dessa histéria “foi”, quase tudo ainda “é”. Do Prefacio de Nilo Bat Vera Malaguti Batista INTRODUCAO CRITICA A CRIMINOLOGIA BRASILEIRA Vera Matacurt Barista rofessora Vibitant de criminologia da Faculdade de Direito da UERJ Seeretiria-Geral do Instituto Carioca de criminologia InrRopugAo critica A CRIMINOLOGIA BRASILEIRA. tee ean ar arrestin xaos | : Editora Revan I i | Coppsight © 2011 by Vor Maas Batis, “Todos of dios sserados no Basil pela EaStoa Revan Lia, Nera pare deta pablcaio poder ser repro, sea poe sor mecnico eerrieoe ou vin pia Suogrificy som a autorzapia pia decor, Roberto Teen Vanessa Shia Inpro (Ee ppl fae 5 ape pga sane pe Gaon 1/15) Divito Gries de Faors Reveo (C1P-Brsit, Calogagioms Fonte ‘Seto Nacional dos Editors ds Livos RI 4 meméria viva de Simon, Lagi ¢ Abadia a |SBN OTE. 85-7106-4201 1. Ceiminclogs Brash 2. Ditto pal - Beta Tis. ms136, eDp 364 cous saat sant zs642 SUMARIO Preficio insubstimivel /9 Introdugio /13 Capitulo I~ Pensando a questio criminal /15 Capitulo II — Criminologia e politica criminal /2 | Capitulo III — Genealogia da criminologia /3 Capitulo IV ~ Positivismos /41 | Capitulo V—A criminologia cos saberes psi /51 Capitulo VI~ A sociologia na criminologia /65 Capitulo VII —O romalacionismo ea criminologia liberal /73 Capfeulo VIII -O marxismo e a questio criminal /79 Capitulo IX —Enfim, a criminologia exitica /89 Capitulo X—O grande encarceramento /99 Epilogo: historias tistes /113 Referéncias bibliogrificas /116 PREFACIO INSUBSITIULVEL Relutei em aceitar 0 convite da Prof Verinha Malaguti Batista para que fizesse uma soresentsio deste sen novo tabaho. Dentro eu sexia.0 tltimo entre of iniimeros colegas habilitados a prefaciar a Tera ced rnin bar ee ea eccevea paz eu lo que pode contabuir para qualificar o debate entxe aés. E chocaate 0 tie de desinformasso (uese € escreiignorinci) com o qual a exSnica midiitica wata a questio criminal. Plot ainda é a nada inocente simpli- ficasio das posgses tericas qu, segundo tal crénica, se dghadiam. ZAFFARONI Eugenio Ral. Bla dla mina Aa proferida no Progen de Mestado en Dito /OCAM-Ceatra. Rio de ani: mimeo, 200. 18 classes”. © capital preciso sempre de um grande projeto de assujeitamento coletivo, de corpo e alma. A culpa e a culpabilidade, propostas pela Igreja Catdlica e pelo Estado, constitaicam-se nos alicerces fundamentais da subjetividade e das priticas da pena por isso que todas as definicdes da criminologia sio aos discussivos, atos de poder com efeitos concrctos, nfo sio neutros: ‘08 métodos, dos paradigms as politicas criminais. Aqui reside o enigma central da questio criminal. Talvez seja essa a ligio principal do inspirador livro de Pavatini®: para entender 0 objeto de criminologia, temos de entender a demanda por ordem de nossa formagio econémica e social. A criminologia se xelaciona com 2 luta pelo poder e pela necessidade de ordem. A marcha do capital e2 construc do grande Ocidente colonizador do mundo e empreendedor ds barbitie precisaram da operacionalizacio do po- der punitivo para assegurar uma densa necessidade de ordem. Es- petamos tentar aprofundar essa refleso daqui do lado selvagem. 1 PAVARINI, Massimo. Contraly Davinci: hora imieligar barges reyes ‘egooni, Mésico: Siglo Veinteone Ealtoes, 1983. Capfruto IT (CRIMINOLOGIA E POLITICA CRIMINAL Sempre comeco meus cursos de ctiminologia tentando desconstrvit 0 conceito de crime como algo ontoligico, que teria ‘aparecido na natureza como os peixes, 05 abacates © as esmeraldas Entender 0 erime como um constructo social, wm dispositive, é 0 primeito passo para adentrarmos mais além da superficie da ques- tio criminal ‘Nilo Batista a0 falar sobre “a grande criminalidade econémi* co-financeisa”, prope um giro axial no objeto de reflexio: ‘“Promoverei, intencionalmente, uma alteragio no objeto da ‘eflesio, proposte como “a grande criminalidade econémico- financeira", Hé diversos motivos para efetuar tal alteracao. Em incl 1hé muito tempo — sob 0 inflaxo das tendéncias se considerarmos a eu reflexo na cha- expressio “criminalidade”. B, de f seletvidade operativa dos sistemas p. sada cifza oculta, a “csiminalidade” ~ entendida como 0 s0- smatéxio das conduts infeacionais que se manifestam ns reali ade socal ~ é sempee um incognoscivel, do quil ao temos como nos aprosimar sudo citsios metodologicaente tornam a incorporacio dos dados dos ing) contrassenso em colisio direta com a presunglo Sse que poderiamos nos satisfazer com os indicado- 1€s das estatieticas policias, en Ihe respondieria desde logo que a taiamos tratzado da “ctiminalidade registrada”, ‘ctiminalidade” simplesmeate, esse conceito sugestivo de uma falsa totalidade que, no obstante, cumpre no discurto politico-ctiminal tacefas ideologicamente importantes. Mas, sobretudo, eu fentaria convenct-lo de que é muito mais verda- porque 2 seletividade operativa do sistema penal, modelando ualitativa ¢ quantitativamente o resultado final da criminaliza- ‘fo secundicia —isto é quem e quantos ingressario nos zegis- faz dele um procedimento configurador da realidade Podemos acreditar ou nio que o miimero de carzos que ‘ltrapassaram a velocidade permitida (“csiminalidade”) €idén- ‘ico 20 niimero de malta impos motivo, peas 2u- ; ss0es, Por que afasti-lo das condi- (ges sociais concretas aas quais & produzido (riminaleeyi), para atribuirlhe uma pretensio de objetividade tio falea quanto a totlidade que tenta sepresentar?"™ Comecemos, entio, pela observacio Fundamental de Massimo Pavarini: neguemos que 0 nosso objeto, a cximinologia, tenha senti- necessidade de ordem numa perspectiva de luta de classes. tenha a Unido Europeia proserito 0 conceito de luta de el verdade é que nunca cla foi tio visivel e palpével como ‘conflitividade social do dia a dia do capitalismo de barbatie: garotos mozendo ou matando por um boné de marca. A eximinologia como racionalidade positiva € uma resposta politica as necessidades de "BATISTA, Nila Tera mo XI Conroe Interaoional wparad. 1 Congr Itrsasional de Dine Ca Rio be Jaci, 27 de setembeo de 2006. mimeo. 1 PAVARINI, Massino, Contry Domina, it ordem que vio mudando no processo de acumulagio de capital, Para compreender o seu léxico, seu vocabulitio, sua linguagem, te- ‘mos de ter a compreensio da demanda pot oxdem. ‘A politica criminal também estd historicamente subordinada a essa demanda. Nilo Batista trabalha a politica criminal como 0 con- junto de principios e recomendacées para a reformna ou transfor ‘macio da legislagio criminal e dos Srgios encarregados de sua cagio.” conceito de politica csiminal sbrangeria a politica de se~ _guranca pablica, a politica judicfsia e a politica penitenciéria, mas estaria intrinsecamente conectado & ciéncia politica. ‘A partic da critica das exposices globais articuladas entze cximi- nologia, dteto penal e politica criminal em von Liset, a ctiminologia jé ao estaria em busca das causas da delinguéacia e dos meios para pre~ vveni-la, ea politica ctiminal nlo se reduritia & angio de “conselheita da sancio legal” lastreada na accitagio legitimante da ordem legal. ‘A partir de Foucault, Zaffasoni trabalha a ctiminologia como ‘uma questio politica que provém do século XITL, da conjuntura do inicio do processo de centralizagio do poder da Igreja Catdlica edo Estado, do processo de acumuilacio de capital ¢ de poder punitive aque comeca operar a traducio da contflitiridade ¢ da violéneia no sentido “do criminal” criminal se relaciona entio com a poticio de poder 's de ordem de uma determinada classe social. As- gia e a politica criminal surgem como um eixo ¢5- sim, a pecifico de racionalizagio, um saber/poder a servico da acumula- ‘clo de capital, A histéria da criminologia esti assim, intimamente ligada & histéria do desenvolvimento do capitalisme. E nessa cadéncia, nesse bail de Marx com Foucault, que a ‘ctiminologia critica, em especial a de Zaffaroni, trabalha 0 século “XIII como um marco na mudanca das relagdes de poder." inven- DRATISTA, Nia lori ian on at peal ras Rio de Jane: Revan, 1990. TQUCAULT, Michel Faire a ssaaidade Ia rotate de br Rio de Janezo 18 ZAFFARONI, Eugenio Ras BATISTA, Nilo otal Dire Pal Brasilia I: Tear el do das pasl, Ved. Rio de Jancico: Revs 23 ‘40 da pena puiblica supde o confiseo do conflito da vitima, que se tora apenas uma figura secundéria na reconfiguracio do poder unitivo. Esse processo politico institai um método para a busca da verdade, que tituisé numa permanéneia subjetiva do Oci- téenicas de apuracio da “verdade”. ‘Estamos pensando, historicamente, na categoria da longa du- sasio da escola francesa dos Amak. Quando pensamos, dos séculos ‘XIII so XVIIL, até chegar ao XIX, queremos entender as projegdes, para o foturo, a permanéncia historica desse método de busea da verdade. A objetifiario do “herege” ou da “bruxa” pressupusha ‘uma possibilidade técnica de dominio: técnicas de interrogatério, di- agnéstico, construgdes da identidade “criminal” e incorporacio de identidades “cziminosas”, Foi o histosiador italiano Carlo Ginzburg quem propés 0 método indiciisio para desvelar entre os discursos dos vencidos, dos pesseguidos pelos procestos inquisitorais, os frag- mentos de uma outta verdade: a dos titos pagios demonizados pelos ‘movimentos de centralizacio do poder da Igzeja Catdlica.* ‘Também na categoria da longa duragio, do sé XVIII Jean Delomeau vai trabalhar a utilizagio do constnisio de uma mentalidade obsidional na Europa. dda pelas pestes, na conjuntura da expulsio dos mouro ‘08 movimentos do cisma e das reformas na Igreja ‘ctiminologia corre o risco de ser “saber e arte de despejar discursos pexigosistas”, conhecer 0 eixo dos medas é tragar o camninho das criminalizagdes ¢ identificar os csiminalizéveis. 1 GINZBURG, Cala Hise wturna. Sao Paolo: Companhia das Letras, 1991 ‘ST DELUMEAU Jean, Hist do nad mo Ocidet (1300-1800). Sio Paulo: Companhia as Letas, 1983. 2 Entio, entre os séculos XII ¢ XVII, artculam-se as técnicas ‘da Inquisicio com o surgimento das cidades, a apaticio da ideia de ‘contrato, o fortalecimento da burguesia ¢ 0 absolutismo, configuran- doo Estado moderno e suas estruturas penais. Mais especifieamente ‘entre o século XIV ¢ o XVIII, a acumnlagio de capital que impulsio- nati o mercantilismo, a manufatura ¢, logo, a Revolugio Industrial forjani uma sociedade de classes através da lua para o disciplinamento de contingentes de mio de obra para o wabalho™ O disciplinamento dos pobses para a extracio de mais-valia, energia viva do capital, vai precisar da idcologia, da racionalidade utlitarista a legcimas as sela- es cas téenicas de dominio dos homens ¢ da natureza. A violéncia a barbirie fazem parte desse cenirio, produsidas pelo excesso de ivilizacio, ¢ nao pela sua antitese.”” A part do século XVII, o processo histérico de fortalecimen- to do contrato social determina outeas necessidades de ordem. As execugies publicas vio se tornando petigosas com o protagonismo ‘da mukidio que vai produzir a critica do absclutisme. A revoligio ‘bate ds portas da Fiuropa, com suas multidées de pobres a produziz © Grande Medo: cabecas cortadas, dria Glauber Rocha® © poder punitivo vai precisar de novas propostas e novas ‘tGenicas para dar conta da eGncentracio de pobres que o processo de acumnulacio do capital provocou. E pobres, agora, com uma pers- pectiva revolucionétia. E nessa conjuntura que na critica do absolutismo surge 0 dliscurso jutidico de principios. Ressalta Nilo Batista que, historica- meate, o dircito penal surge para limitar 0 poder punitivo do. Anti- go Regime. Aparecem as idelas de legalidadee de outras guzantias, ¢ 18 Sugizo aos crimindlogoe que seinteressam palo tema que apeofundem a letwrat de Karl Marx sobre 2 produglo de muis-vaia e de Edwacd Thompaon sobre 0 28C FOUCAULT Mikel gor eps Pipi Vores 1977 RUDE, Georges Arlo nr cs trite Pr Iga (130- 1848}, Rio de Jacizo: Campos, 1991 25 1s conceitos chave de delito e pena. Sio estabelecidos limites para o mérodo moderno de organizacio da verdade: punir em vez de vin- gat c estabelecer uma gestio seletiva das ilegalidades populares. A ascensio da burguesia contra a figura do monarca absoluto vai ‘ensejar novos discursos criminolégicos, aovas insti politicas, a partir do enquadramento cartesiano ¢ iluminista do mundo. A prisio, subordinada & fébrica, se converte na principal pena do mundo ocidental. O delito passa 2 ser definido jusdica- mente. A Revolueto indastial precisa denovos dispositivos de con- fome e exploragio sem limites da mio de obra na velha Londres. nese sentido que as luzes produzem um aprofundamento da racionalidade das técnicas de dominio do capital: como dixia Marildo Menegat, o olho da barbirie espreita a Europa. No século XIX, a Furopa jd péde produzit grande internamento iniciado no XVIII sobre os in dustrial de seserva. A sociedade disciplinar cria ;, manicémios, internatos e asilos, E nesse mo- es totais Hum disousso que surge das prOprias agéacias do poder sobre o “objeto” estudado. Sea maiotia dos presos é pobre, o paradigma etiol6gico iri conclu, atza- ‘vés da legitimagio do discurso médico, que a causalidade criminal sth reduzida i figura do autor do delito. A prépaia descxicto /classi- ficagio bioldgica do sujeito ceiminalizavel seca a explicacio do seu crime ¢ de sua “tendéncia” 4 “criminalidade”. Passa a reinar uma racionalidade falsamente autonomizac do politico que produaisi um recuo do duminismo, que se imaginava haver superado 0 absolutis- mo punitivo, Na criminologia, o positivism transfere 0 objeto do Aelito demarcado juridicamente para a pessoa do delinguente. Conta 26 os petigos revolucionérios da ideia de jgualdade, nada melhor do que ‘uma legitimacio “cientifica” da desigualdade. O cximinoso, agora bi- ologicamente ontolégico, vai demandar mais pena, mais poder puni- tivo indeterminado: corrigir a natureza demanda tempo. ‘Enquanto isso, o capital vai intensificando o dominio utilitisio da natureza, produzindo novas tecnologias e novos dispositivos No século XX, as guecras vao inctementar as ctises ciclicas com as prati- cas de destruigio do outro. Enquanto o nazifascismo vai ocupando a Europa ocidental de corpo ¢ alma, os Estados Unidos produzem, junto com a extica a0 laisesyfare, uma nova ruptura na criminologia. A luts contra a depressio eco tas €a construsio do Welter System vai repolitizar a “questio A sociologia e as ciéncias humanas vio avancar do smo segregador para tum funcionalismo integrador. A cximi- nologia estadunidense vai se apoderar do conceito de anomia de Durkheitn, reciclado na perspectiva de Merton. O comportamento desviante passa a fazer parte da estruturn social, compre fungies integmadorzs. O limite do desvio é a anomia, a ruptura da coesio “pactuada”. Os intelectusis estadunidenses da sociologia ¢ da crimi- nologia esto buscando safdas para a profunda conflitividade socal decourente da concentiagio urbana heterogiaea, composta de gro pos de migrantese imigrantes culuralmente diferencia é mais um fenémeno natural, é uma de €-consegue enxergar as relagdes entre o gueto ¢a “crimina- lidade”, As instituigdes de controle social passam a ser objeto de es- tudo, bem como as freas segregadas com concentracio de imigrantes pobres, ¢ as formas de controle social. Surge uma criminologia fancionalista, funcional is novas demandas do capital, mas que se distingue do correcionalismo positivista euzopeu. Foi essa ctiminologia estadunidense, revigorada pela constru- lo do Welfare System, que conduzin & ruptura do rotulacionismo (labeling approact), que n0 cruzamento com a teosia psicanalitica e 0 marxismo péde produzit, junto com a ebulicio politica dos anos 60 © 70, a ctiminologia ctitica como teoria de longo alcance. Embora 2 no tenha sido um pensama ziu avancos generos0s nai bérm na busca de paradigma: apostavam na dor, na repres O firm do século XX de barbirie aprofundada 3 de: opoliea ctiminal que nio no dogma da pena. Ibotes do XI constituem cenixio festejado fom do sorizlima (talvez estejamos apenas comesando) abriu espaco pata uma hegemonia do capital e do mercado que violéacia no mundo. O dominio tes, nem aqueles impostos pela socialismo, foramse também o estado previdenciétio ¢ as redes coletivas de seguranga. Incéndio na floresta, diria Leonel Brizola. produz cada vez mais subjetividades punitivas. A pena torna-se eixo dliscursivo da diteta e de grande parte de esquerda, pata dar conta da confliividade social que o modelo gera. Loic Wacquant demons- cada vez mais da prisio, de condutas cotidianas 6 ‘a terapéutica ete.) e mais a tra rete penal doin. ificados como Eixo do Mal, teeitérios a secem ocupados a legitimagio produ- zida por duas categorias fantasmiticas: 0 traficante e o terrorista. BL WACQUANT, Lote. Pun ov Pobre « mo guide de misia ns Baader Unset, “Tradupio de Sérgio Lamaria Rio de Janeieo:Instuto Caroes de eximinologa/ Revan, 2003. 2. ZAFFARONILE. Rail Iningy no Dini Pel Rio de Jneco: Reva, 2007. 28, ‘vio fazer parte da “nova econo- ‘empresas que os exploram integram o indice se refexiu Nils século XXI. A que ordem servis? Na periferia do capitalismo, eno Brasil em part vai se agregar a0 genocidio colonize- ‘Para 0s que estio na nossa trincheira, lembremo-nos das indi- cagies. cemwtaice de politica criminal do imprescindivel Alessandro, “1 no sedi a politic de transformasio socal & poliica penal; arte da sua natureza; pela aboligio da pena privativa de liberdade; 4) teavar a batalha cultural e subjetiva contra 2 legitimacio do dlscito desigual asavés das campanhas de lie ordem. ta contra a prisio do: no dia a dia, como estamos vendo, 28 coisas podem sempre pioras: 2 BARATTA, Alessandra “Defesa dos drctos humanos e politics eiina!’ a Discaroe Sadie ~ Crime, Dirt Soe, soo 2, n° 3. Rio de Jancto: Instituto Carioca de edininologi, 1997. 29 Carituto TT GENFALOGIA DA CRIMINOLOGIA “ans aan Sa aa pafat oii i : I, de s atra- és de ie deli rigo que ins- fos 6 i a ante apres i re peindda no # i ea or iaaa p coletive, O ano da sua instituigac 7 én 0 guia ‘ eee : E zado, arti a fico-juridicas, produziu 0 6 tio discutido na criminoh ie. le ex- ; ae ‘ " iio A pes po “profissional” pc aa mate do jutidico com 6 religioso. Ninguém comenta melhor essa gestio do que Louk Huslman ao afirmar que no ha Fonts peed ‘coma escolistice 126 FOUCAULT, Michel. Hite da senate it BCE RLIAGITENT Castine LATOVIERE, Dai Sole a Tepe te Visine ‘Pace Albin Miche, 2007 at do que o ditcito penal A diferenga perversa estasia no fato de no hhaver possiblidade de parsiso no discurso punitive E natural também que esse poder, agora exercido por experts, ecessite de criar 0 seu “outro”, 0 objetiticivel, o corpo humano, para 0 qual convergiré 0 método. As br resentando as ten tativas de controle dos titos de fertilidade, os pattos, enfim, o poder feminino, estar no processo de objetificacio, como estiveram as, dos hereges. As pugnas pela hegemonia ¢ centrali- acho da Igreja Catdlica vio tratar de primeizo desumanizar os he- reges eas bruxas, para depois demonizé-los. E pot isso que Zaffaroni ttabatha a Inquisigio como o primeiro discusto eximinoligico mo- derno: serio estudadas as causas do mal, as formas em que se apre- senta e também o método para combaté-lo. O importante é seguir ‘© éurso dos discutsos para observar as permanéncias dessa manei- 12 de pensar ¢ agir até a ctiminologia dos dias de hoje. Naca mais pparecido com a figura do herege do que o /raficante que quer dispor da alma das nossas criangas, como disse Nilo Batista. Mas o poder punitivo em formasio nio ontolégico. Ble se relaciona intimamente com 0 mulaczo de capital em curso: a crise do sistema de exploracio feu- dal, a expulsio dos camponeses, o crescimento das cidades e mer- cados, novas e crescentes necessidades de renda, de produtos espe ciais, de armamentos ¢ mercadorias para a empresa guerrcra, buro- scracias nascentes, manufaturas, comércio. A ideia de controle dos indesejaveis vai oscilar entre dois modelos, descritos por Foucavle: © do leprosisio, segregativo ¢ excludente; ¢ 0 da peste, disciplinar ¢ inelusivo. Ao longo da histéda, iremos observar as oscilagSes em tomo desses dois modelos, bem como suas sincronias fortuitas. Todo esse movimento material, magistralmente estudado por Braudel,” vai fazer cmergir uma nova classe social, a burguesia, com- BATISTA, No Mette ds sema pena brn Ri dean Testo Cavoea de rminoogsRevan, 200 2 CE BRAUDEL, Femand, Cm atria mini tain ~ si XV. XVII, Sto Tales Mares Fontes 196 ‘EL Mei Bon “Medierom ne Eps te Fele I ie: Fedo Cala Boonies, 1987 32 i E i : | centralizagio do poder. A civilizacto e 0 progr causa e consequéncia de um novo método cientifico ender 0 dominio do homem pelo homem, ¢ também da naturezs. Como disia Marildo Menegat, é ai que se wai esprsiar 0 alho da batbitie, no uso instrumental do saber cientifico, na expansio béli- ca das cruzadas, viagens, descobrimentos.”* 1Nés, na nossa margem, conhecemos essa empreitada, o imen- so genocidio inicindo na colonizagio, aprofundado no escravismo ¢ eternizado pelo capital, Sio us nossas veias abertas, homens ani- mais, mercadotias ou mercadorias animais, Esti ki, em Galeano ¢ ‘em Darcy Ribeiro: a cada ciclo econémico da colonizacio corres- ponde um moinho de gastar gente. O capital precisa de cozpos para extrair mais-valia, que se realiza na exproptiagio da encrgia vital que emana do trabalho do komme. ‘avetan Todorov deseseveu como, na conguists da Amési- 2,0 encontto da civilizacio europeia com 0 “outro” exteti- a repudia gen “ou- tro” intetios, na vitdria sobze of mouros e aa expulsfo dos judeus. O genoeidio da populasio aativa americana ¢ a libe- tagdo total da erueldade obedecem 2 um duplo movimento de desqualificagio do “outro” ¢ da subordinagio de todos cos valores ao desejo de eariquecer, simbolo da modernidade, 9 fetiche do ouro, Na Europa Ocidental, o alvo das campa- has ¢ politicas de exclusio € controle sto os grupos ‘minositirios, ena Amésica 0 processo de exclosfo é gener lizado & populagio nativa, Com a descoberta da América, a Buropa expulsa a heterogencidade e a introduz irremedia- 28 MENEGAT, Matldo, Dios db Fin do Mody, ct 3B

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