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VI - INTEMPERISMO DE ROCHAS E MINERAIS Mauricio P. F. Fontes “Professor Titular do Departamento de Solos da Universidade Federal de Vigosa, Vigosa (MG), Email: mpfontestufv.br e Tinker Visiting Professor da Stanford University, USA. Email: mfontes@stanford.edis Contetido INTRODUCAO.... 7 Stine alle aul AMBIENTE DO INTEMPERISMO een peciaie soe 173 Rochas: Base Fundamental eovsnoneinnn SARIS bees eta Classificagao Genética das Rochas ne 7A Rochas fgneas. nos V74 Rochas Sedimentares ee 7 Rochas Metamorfiéas.. ch soe 79 TIPOS DE INTEMPERISMO_ : 181 Intemperismo Fisico ee rarer LOL Intemperismo Fisico-Termal 181 Intemperismo Fisico-Mecanico ee te 183 Intemperismo Quimico reset 183 Principais Agentes do Intemperismo Quimico 183 Principais Reagdes do Intemperismo Quimico. soe 185 Intemperismo Biol6gico .... serena 68 SUSCEPTIBILIDADE DAS ROCHAS AO INTEMPERISMO_ peepee eco INTEMPERISMO X CLIMA. & 198, Climas do Brasil 198 Diagramas Intemperismo Versus Clima 200 LITERATURA CITADA .. # 202 INTRODUGAO Intemperismo 6 0 conjunto de processos fisicos, quimicos e biolégicos que promovem a quebra fisica ea alteracao quimica das rochas proximas da, ou, na superficie da crosta terrestre. Por meio de uma complexa interacao de processos, o fendmeno transforma as KER, J.C; CURI N.; SCHAEFER, C.EGR. & VIDAL-TORRADO, P., eds. Pedologia; Fundamentos. Visosa, MG, SBCS, 2012. 343p. 172 Mauricio P. F. Fontes tochas e seus minerais em produtos em equilibrio mais estavel com as condigdes fisico- quimicas prevalecentes no ambiente. O termo intemperismo deriva do latim intemperie, que significa os rigores das variagdes das condigdes atmosféricas (temperatura, chuva, vento e umidade). Meteorizagio é termo sindnimo e, algumas vezes, empregado na literatura, proveniente da palavra“meteoro”, que se refere a qualquer fendmeno que ocorre na atmosfera terrestre: chuva, granizo, neve, vento, aurora boreal, relampago, trovao, estrela cadente, etc. (Ferreira, 2004) O intemperismo, proceso geoldgico ex6geno, é 0 primeiro passo para inimeros Outros processos geolégicos, geomorfolégicos e biogeoquimicos e é especialmente importante em dois outros processos de dinamica externa do globo: a formacao de rochas sedimentares e a génese de solos. Com relagao as rochas sedimentares, 0 intemperismo inicia o processo sedimentar com a producao dos sedimentos, tanto soliveis quanto sélidos, que sao formadores destas rochas. Em termos da genese de solos, o intemperismo € 0 responsavel pela decomposicao e desagregacao das rochas, transformando-as de materiais compactos em materiais desagregados, sobre os quais atuarao os fatores e Processos de formacao de solos. Assim, o intemperismo pode ser visto como um proceso intermediario em transformacées do tipo rocha => sedimento = rocha, na formacao das rochas sedimentares, ou rocha saprélito = solo, na génese e desenvolvimento dos solos. Em ambos os casos, 0 intemperismo é um processo essencialmente geolégico, mas, no segundo caso, ele também se torna pedolégico, sendo de particular importancia para a vida na Terra. Q intemperismo relaciona-se diretamente com diversas caracteristicas dos saprolitos e dos solos formados na superficie da crosta, conforme a sua intensidade de atuacao ea natureza das rochas e dos minerais envolvidos. Com isto, ele é um processo que pode, parcialmente, desde controlar a fertilidade natural dos solos, pelo suprimento de nutrientes, até atuar como agente tamponante, contra diversos problemas ambientais preocupantes nos dias de hoje, como: (i) impacto da chuva acida em solos; (ii) relacao entre niveis de CO, na atmosfera e intemperismo de minerais silicatados ricos em Ca; (ili) interacao de metais pesados ¢ contaminantes organicos com produtos do intemperismo (Wilson, 2004). Ainda em termos de meio ambiente, o intemperismo tem influéncia significativa na drenagem dcida, que 6 um problema ambiental relativamente sério, capaz de comprometer a qualidade dos recursos hidricos de uma regido. O processo inicia-se quando minerais, como pirita e outros sulfetos, sao expostos ao ar atmosférico €-na presenca de oxigenio e agua, sofrem oxidacao e produzem solucdes de reacdo fortemente cida, com a possibilidade de elementos t6xicos como Al, As, Cd, Cu, He, Pb, etc., serem solubilizados nas éguas de drenagem (Evangelou, 1995; Mello & Abrahao, 1998). Na érea da mineracdo, ointemperismo tem papel preponderante na génese das bauxitas brasileiras, que sao formadas por intenso intemperismo tropical de diversos tipos de rochas (Mell, 1997), assim como nos depésitos lateriticos', em geral, que aparecem em 75% do territorio nacional, produzindo jazidas que contribuem com cerca de 30% da producio mineral brasileira, excluindo 0 carvao eo petréleo (Melfi et al., 1988; Toledo et al,, 2000), * Depositos lateriticos: nomenclatura utilizada em Geologia para designar depésitos supergénicos ou de ambiente superficial, formados por remobilizacdo quimica, com acamulo residual de diversos elementos como Al, Fe, Mn, Ni, Nb, ete. Pepotocia VI ~ Inrewperiso be Rochas € MineRais 173 Em sintese, 0 intemperismo em muito ultrapassou as fronteiras da dinamica externa do globo terrestre para se firmar como um fendmeno com implicagdes na agricultura, na mineracdo e nas ciéncias ambientais, qualificando-se, atualmente, como importante proceso merecedor dé mais estudos nas Ciéncias da Terra. AMBIENTE DO INTEMPERISMO O intemperismo manifesta-se na superficie do globo terrestre, para onde confluem as influéncias da atmosfera, da hidrosfera, da biosfera e da litosfera. Assim, os agentes intempéricos presentes nas trés primeiras esferas atuam nas rochas da parte superior da quarta esfera, cada uma delas com suas especificidades, que influenciam 0 fendmeno do intemperismo, A atmosfera 60 envoltério gasoso do globo terrestre, a ele preso pela forca da gravidade. Elatem papel importante na protecao da vida na Terra, ao filtrar os raios solares ultravioletas eatenuar os extremos de temperatura entre 0 diae a noite, mantendo o calor dentro do invélucro gasoso. A atmosfera terrestre tem uma composigao aproximada de 78,1 % de nitrogénio, 20,9 % de oxigénio e o restante de argénio (0,0934 %), gas carbOnico (0,033 %) e outros gases nobres (Straliler, 1971). A hidrosfera engloba toda égua da superficie terrestre em diversos compartimentos, incluindo oceanos, lagos, rios e 4gua subterranea, assim como as geleiras. As trocas continuas da 4gua entre os diversos compartimentos denomina- se ciclo hidrolégico, um dos mais importantes processos de dindmica externa da Terra (Karmann, 2000) e quedesempenha papel preponderante no intemperismo. A biosferaé constituida de todos os organismos vivos e da matéria organica que produzem, considerados como uma coisa tinica (Press et al., 2006). Ela engloba todos os seres vivos da Terra e seus ecossistemas e exerce influéncia importante no intemperismo de rochas e minerais. A litosfera é a camada mais externa da Terra, forte e rigida, que contém a crosta eo manto superiore, por extensao, as placas tectonicas e os continentes (Press et al., 2006). Ena litosfera que s4o encontrados os componentes sobre os quais vai atuar 0 processo de intemperismo, quais sejam, os minerais e as rochas expostos na superficie da crosta terrestre, Rochas: Base Fundamental As rochas, que tém os minerais como suas unidades constituintes, sao a base fundamental sobre as quais se vai desenvolver 0 processo de intemperismo. A maioria das rochas, especialmente as igneas e metamérficas, ¢ seus minerais componentes, particularmente os primérios, foram formados em ambientes de altas temperaturas e sujeitos a grandes pressées. Quando expostos na superficie do globo terrestre, eles sao colocados em ambiente bem diferente daqueles de sua formacao. Este 6, entdo, um ambiente propicio a alteragao das rochas e minerais, em busca de maior estabilidade nestas novas condigdes. As rochas, conforme suas origens, diferem entre si quanto a sua composigao mineraldgica, textura e estrutura, A composi¢ao mineralégica trata da presenca dos Pepoocra 174 Mauricio P, F. Fontes minerais essenciais, que sio aqueles sempre presentes ¢ mais abundantes em determinada rocha. Ela também determina a composi¢&o quimica da rocha, como somatério das composic&es quimicas de todos seus minerais. A textura refere-se ao tamanho, forma e arranjo entre os cristais ou graos constituintes da rocha. A estrutura da rocha indica 0 seu aspecto geral externo, que se pode manifestar de formas diversas. Por influencia de todas estas caracteristicas, as rochas variam em sua resisténcia fisica, estabilidade quimica e permeabilidade @ agua e gases. Essas variac6es influenciam, de modo decisivo, a maneira com que elas sao afetadas pelo intemperismo e, por consequéncia, para entender de modo mais completo o proceso de intemperismo, énecessério compreender a origem eas caracteristicas das rochas constituintes da crosta terrestre. Enfatiza-se que a reviso dos conceitos de rochas aqui apresentada destina-se a dar base ao estudo do intemperismo e, por isto, a abordagem sera simplificada e concisa. Para maior detalhamento, recomenda-se consultar a vasta literatura que faz excelente cobertura do assunto, especialmente, Flint & Skinner (1977); Hamblin (1985); Oberlander & Muller (1987); Ernst (1988); Nahon (1991); Madureita Filho et al. (2000); Ruberti etal. (2000); $zabé et al. (2000); Press et al., 2006. Classificacgao Genética das Rochas Deacordo com sua origem, as rochas podem ser classificadas em igneas, sedimentares emetamérficas. Rochas igneas Rochas fgneas so aquelas que se originam do resfriamento e da solidificagao de massas de rochas fundidas, denominadas magma, no interior da crosta terrestre. Seu nome provém do latim ignis que significa fogo, pois a fusdo das rochas para a formagao do magma depende, principalmente, de altas temperatura. Em conjunto com as metamérficas, elas perfazem 95 %, em volume, das rochas da crosta terrestre e sao componentes importantes do embasamento cristalino do continente sul-ameticano. As rochas igneas podem ser intrusivas ou extrusivas. As primeiras so massas pétreas que resultam da solidificacdo dos magmas sem que estes consigam, em seu movimento ascendente, atingir a superficie da crosta terrestre. As tiltimas sao formagées de origem ignea cujo material consolida-se depois de alcangar a superficie da crasta sob a forma de erupcao tranquila ou explosiva. ‘As caracteristicas distintivas e importantes das rochas igneas, diretamente ligadas ao intemperismo, sao: composi¢ao quimica e mineralégica, cor, textura e estrutura. A composicao quimica das rochas igneas baseia-se na quantidade de silica (SiO,) presente e distinguem-se em: +» Rochas dcidas: > 65 % de SiO, em peso « Rochas intermedisrias: 52 % < SiO, < 65% + Rochas basicas: 45 % < SiO, < 52% # Rochas ultrabasicas: < 45 % SiO, PEDOLoGIA VI-~ Inrenperismo ve Rochas & Minenars 175 Esta composi¢ao quimica, por sua vez, esta diretamente relacionada com a composicao mineralégica das rochas, pois os minerais mais ricos em silicio, SiO, sao também os mais ricosem AL. Elessdo coletivamente chamados de félsicos e os seus principais representantes sao: quartzo, feldspatos potassicos, plagioclésios célcio-sédicos e muscovita. Por outro lado, 0s minerais menos ricos em SiO, so aqueles que contém maior quantidade de Fee Mg. Eles séo coletivamente chamados de ferromagnesianos ou mficos e os seus principais exemplos sao: olivina, piroxénios (augita), anfib6lios (homblenda) e biotita. Outro aspecto importante da mineralogia das rochas igneas refere-se & ordem de cristalizacao dos principais minerais primarios, aqueles que se formam sob altas temperaturas e, ou, press, como resfriamento da massa magmatica. A medida que o magma resfria-se, cristalizam-se os diversos minerais, obedecendo a sequéncias determinadas pela temperatura e pela composicdo do magma. Estas sequéncias sao conhecidas como séries de reacdo de Bowen, sendo distinguidas como série descontinua dos minerais ferromagnesianos e série continua dos plagioclasios. A série é chamada de descortinua, pois, & medida que a temperatura diminui, os minerais anteriormente formados reagem com o liquido residual, originando um mineral, estdvel nas novas condigdes de temperatura, mas com composicao quimica e estrutura interna diferentes. Por outro lado, a série é denominada continua, quando se observa que a troca dos elementos Ca e Na modifica apenas a composi¢ao quimica, nao alterando a estrutura interna destes minerais Ardem de cristalizacao, no magma, dos principais minerais primarios formadores das rochas igneas (Figura 1) tem um importante relacionamento com o intemperismo. Série descontinua Série continua Olivina Altes Ny Plagioclésio-Ca_| Temperaturas Piroxenios (> 100°C) Anfibotios Biotita Plagioclisio-Na Feldspato-K Ea Temperaturas Muscovita (~ 600°C) Quartzo Figura 1. Ordem de cristalizacdo dos minerais primérios no magma. Fonte: Bowen (1928). PepoLoaia 176 Mauricto P. F, Fontes Os minerais que se cristalizam em temperaturas mais altas advém de magmas menos viscosos e mais pobres em SiO, 0 que forma silicatos com menor grau de polimerizacao. Os que se cristalizam em temperaturas mais baixas so mais ricos em silicio ¢ com maior grau de polimerizacao deste elemento. Por isto, as duas séries de reagdes culminam com o quartzo, silicato com estrutura cristalina de maior complexidade e que se forma quando nao existem mais metais na massa magmatica, sobrando, essencialmente, Si e O. A cor das rochas igneas é definida pela proporgéo de minerais félsicos em relacaio 08 minerais maficos, fazendo com que a rocha apresente cor mais clara ou mais escura, conforme a maior quantidade de um ou outro tipo de minerais. Assim, uma subdivisag geral das rochas igneas quanto a cor é apresentada, lembrando que excecdes sao observadas na natureza: * Rochas leucocraticas: sao rochas claras porque apresentam maior proporsio de minerais félsicos. Ex: granito, riolito, sienitos claros. * Rochas mesocraticas: sao rochas de coloracdo entre clara e escura, por apresentarem Proporeao semelhante entre minerais félsicos e maficos. Ex: sienito, diorito, andesito + Rochas melanocraticas: so rochas de coloracao escura, porque 40 mais ricas em minerais méficos. Ex: basalto, diabasio, gabro, peridotito. A textura das rochas igneas esta diretamente relacionada com a profundidade de resfriamento e consolidacao da massa magmética, que pode ocorrer em profundidade maior, intermediéria ou na superficie da crosta terrestre. Associados a profundidade estao o tempo de resfriamento e a consequente lentidao ou rapidez com que os minerais cristalizam-se e os cristais desenvolvemse. Assim, percebe-se facilmente que a rocha formada em profundidade maior, ow seja, a intrusiva, tem mais tempo para o desenvolvimento dos minerais e a sua textura 6 mais grosseira. A rocha extrusiva, ao contrario, tem a textura mais fina. Assim, sao listadas a seguir as diferentes texturas das rochas igneas: + Faneritica: textura grosseira, com minerais que sao facilmente perceptiveis ao olho zu ou facilmente sentidos ao tato. Ex: rochas magmaticas plutdnicas, como granito, sienito, gabro, peridotito. + Média: textura intermediaria, cujos minerais sio moderadamente visiveis ao olho nu ou sentidos ao tato, Ex: rochas intrusivas de baixa profundidade, como diabasio. + Afanitica: textura fina, na qual nao se distinguem os minerais ao olha nue nem se sente qualquer tamanho de grio ao tato. Ex: rochas extrusivas de diferentes tipos de magma, como riolito, traquito, basalto, olivina-basalto. Aestrutura das rochas igneas é também importante caracteristica ligada a atuacdo. do intemperismo. Em geral, a estrutura destas rochas é macica e os seus minerais Constituintes so distribufdos de maneira aleat6ria, Isto acontece porque o magma tende a se resfriar e a se consolidar sem a influéncia de pressées dirigidas, como nas metamorficas, ou de sedimentagao lenta, como nas sedimentares, o que, em ambas as situagdes, provoca a orientacao dos minerais placoides ou prisméticos. Contudo, em alguns casos, as rochas igneas desenvolvem certos tipos de estrutura, especialmente, as {gneas vulcdnicas ou extrusivas. Vesiculas e amigdalas presentes em basaltos e outras - Pevotocia VI-- Inrewperismo De ROCHAS & MINERAIS Dre rochas extrusivas so exemplos importantes de estruturas diferenciadas nas rochas igneas, que podem influenciar a atuagao do intemperismo. Por Gltimo, ao analisar a atuacao do intemperismo sobre estas rochas, no se pode esquecer de que algumas das caracteristicas das rochas igneas so fortemente relacionadas entre si. A composicao quimica, por exemplo, esta diretamente ligada A composicao mineral6gica e & cor. Rochas mais acidas so mais claras e mais ricas em minerais félsicos, como quartzo, feldspatos e muscovita, ao passo que as rochas basicas so mais escuras e mais ricas em minerais méficos, como olivina, piroxénios, anfibélios e biotita. Por estas correlacdes, a simples observagao de uma destas caracteristicas pode- se tornar mais facil a inferéncia sobre o comportamento de outros atributos Rochas Sedimentares Rochas sedimentares sao aquelas formadas pela deposic&o e consolidacao de sedimentos, provenientes da de struicéo de rochas pré-existentes na superficie da crosta terrestre. Elas cobrem aproximadamente 75 % da superficie da crosta terrestre ©, por isto, influenciam a maioria das paisagens e solos da Terra. Fésseis de animai: ¢ plantas sao comuns nas rochas sedimentares, onde eles so preservados com riqueza de detalhes, ajudando a contar a hist6ria do planeta Terra. Por sua formacao sedimentar, muitas vezes com deposicio lenta dos sedimentos, as rochas sedimentares tem como sua caracteristica mais ébvia a ocorréncia em camadas, chamadas de estratos, que podem variar desde alguns centimetros até alguns quilometros de espessura. Nas rochas sedimentares importantes em geomorfologia e pedologia, 0 intemperismo.atua duplamente, Inicialmente, quando de sua formacao, como parte do processo sedimentar e, posteriormente, ao transformé-la em solo, énfase principal deste capitulo. Os sedimentos formados quando da destruicao das rochas pré-existentes podem ser s6lidos ou soltiveis. Os sedimentos s6lidos, também denominados sedimentos mecanicos, apresentam-se tanto na forma de minerais primérios resistentes ao intemperismo, chamados de minerais detriticos, quanto na forma de novos minerais secundarios. Os primeiros sao minerais herdados da rocha de origem, enquanto os tiltimos s4o geralmente formados a partir dos minerais primarios. Minerais secundarios sao aqueles, entao, que se originam de transformagdes quimicas dos minerais primarios. Eles sao formados em teacao de baixas temperaturas na superficie terrestre continental, em lagos ou oceanos, por acdo do intemperismo, Eles sao constituintes da maioria das rochas sedimentares & componentes essenciais nos solos. Os sedimentos soliveis, por sua vez, apresentam-se na forma de solutos, dissolvides pelas reacdes do intemperismo ¢ transportados pelas aguas, tendo, geralmente, como destinacao final, os mares e oceanos. Os sedimentos sdlidos s40 chamados de sedimentos clasticos ¢ os sedimentos soltiveis sao denominados sedimentos quimicos, nomes que identificarao dois importantes grupos das rochas sedimentares, De acordo com a natureza, o tamanho e o tipo de sedimentos que as formam, as rochas sedimentares podem ser classificadas em (Quadro 1): Pepotoara 178 Mauricio P. F. Fontes Quadro 1. Classificagao das rochas sedimentares Psefitos Epiclasticas Psamitos Clasticas Pelitos Piroclasticas Evaporitos Quimicas De reacdes quimicas ou bioquimicas Organicas Fonte: Adaptado de Dorofeeff (1961) ¢ Press et al, (2006). ‘As rochas clasticas sio formadas pela deposicio ¢ consolidagao de sedimentos solidosna forma de minerais detriticos e, ou, minerais secundarios. ‘Asrochas epiclésticas, sua primeira subdivisio, s&o caracterizadas por terem 05 008 cedimentos transportados, preferencialmente, pela 4gua ou pelo vento. Estas, por sua 67, we subdivicem em trés diferentes tipos de rochas quanto a textura de seus sedimentos formadores. Os psefitos sto formados pelos sedimentos maiores, denominados cascalhos (2mm de ©) e seus principais exemplos s20 os conglomerados e as brechas. Os psamitos sdo produtos da consolidacao de sedimentos do tamanho da fragso areis (2-0,05 mm) e seus exemplos mais importantes sao os arenitos. £ importante observar que, como 05 cedimentos formadores dos psefitos e psamitos so maiores, a sua consolidacao somente se ntece com auxilio de um cimento que possa unir as particulas maiores entre oi. Esta Cimentagao é natural e manifesta-se na forma de algum agente cimentante quiimico presente ro ambiente de formacdo da rocha, Existem varios cimentos naturais, como argila,caleério, Geidos de ferro esfica, os quais tém, algumas Yezes, 0 seu nome incluidono nome da rocha para caracteriz4-la. Por exemplo, conglomerado silicoso, arenito calcétio, arenito ferruginoso, ere, Os pelitos, ultima subdivisio das epiclésticas, ao rochas formadas pela deposigdo dos sedimentos menores que sio transportados, denominados silte ¢ argila (< 0.05 mm de Q) Por serem t40 pequenos, estes sedimentos consolidam-se apenas pela compressig provocada pelo peso das camadas superiores, aliada a saida da agua intersticial ¢ a pequena elevacdo da temperatura, suficientes para provocar a formacao de forcas de ligacao entre as particulas. So exemplos importantes 0s siltitos, 08 argilitos ¢ 0s folhelhos. ‘As rochas piroclasticas, segunda subdivisao das epiclasticas, sao rochas formadas pela consotidacao de sedimentos solidos oriundos de manifestacbes yulcanicas. Assim, PepoLocia VI- Invremperismo pe Rochas & Minenars 179 clas podem ser entendidas como uma fase transicional entre as rochas fgneas e as sedimentares, visto que sao de formacao fgnea extrusiva, mas sujeitas ao transporte ea deposicao. O que faz.com que elas sejam classificadas como sedimentares € o fato de que muitas vezes elas apresentam f6sseis, caracteristica normalmente associada as rochas sedimentares. S40 exemplos importantes os tufos vulcanicos ou tufitos e as brechas vulcanicas. As rochas quimicas sao formadas pela deposicao e sedimentagao de componentes que foram dissolvidos, transportados em solucao e precipitados quimicamente. Os sedimentos sao, entdo, soltiveis e se precipitam de diferentes maneiras. Os evaporitos sao rochas nas quais a precipitacao dos sedimentos da-se pela evaporacao da aguae a consequente insolubilizacao dos sais em solugdo. Exemplos importantes sao: sal- gema e gesso. Outros tipos importantes das rochas sedimentares quimicas so aquelas conhecidas como de reacdes quimicas ou bioquimicas. As de reacdes quimicas sio Produtos de reacdes inorganicas, nas quais 0 abaixamento de temperatura ou o aumento da concentragao do solute no meio, por exemplo, pode fazer o sal atingir 0 seu produto de solubilidade (K,.) e, como consequéncia, precipitar-se. As de rages bioquimicas sao resultantes de atividades de plantas e animais. Por exemplo, Pequenas plantas no mar podem influenciar a quantidade de CO, dissolvido em agua, © que pode provocar a precipitacdo de alguns sais, especialmente os carbonatos. Os principais exemplos destas rochas sao os calcarios e os dolomitos. Os calcétios s40 08 que apresentam em sua constituigio mais de 50 % do mineral calcita e podem ser calcério calcitico (> 95 % CaCO,), calcario magnesiano (90 - 95 % CaCO.) ou ealcario dolomitico (50.- 90 % CaCO,). Os dolomitos tém mais de 50 % do mineral dolomita (CaMg(CO,),). As rochas organicas sdo aquelas formadas pela deposicao e consolidagao de sedimentos organicos de origens diversas. Algumas plantas e animais podem absorver carbonato de Cae utilizé-lo para formacao de seus corpos, carapacas e partes duras que com a sua morte vao se acumular nos fundos dos mares. Este é um tipo comum de rocha calcaria de formacdo organica. Na realidade, a maioria das rochas sedimentares carbonatadas, em sua maioria, sofrem tanto a influéncia quimica quanto a organica, sendo dificil separé-las com exatidao. Outras rochas organicas importantes sao aquelas produzidas pela sedimentacao e consolidacao de grandes massas de material vegetal em tempos pretéritos, que possibilitaram a formagao dos carves minerais, como a hulha ea antracita, Rochas Metamérficas Rochas metamérficas sdo rochas resultantes do metamorfismo ou de transformacées de outras rochas pré-existentes, sejam elas rachas igneas, sedimentares ou mesmo outra rocha metamérfica. Apesar de serem as rochas {gneas e sedimentares também resultantes de “transformagdes” de rochas pré-existentes, nas metamérficas estas tranformacoes processam-se no estado sdlido, diferentemente das igneas e sedimentares, cujas “tansformacdes” sio precedidas da destruicéo das rochas pré-existentes. Assim, as rochas metamérficas sao efetivamente caracterizadas por uma metamorfose, ou seja, uma Pevovocia 180 Mauricio P. F. Fonres mudanca em que ndo existe perda da natureza da matéria, porque nao ha destruigao da rocha. © processo geol6gico responsavel por sua formacéio é denominado metamorfismo, Processo este que pode levar a rocha a sofrer alteracées apenas fisicas, como crescimento dle cristais, ocasionando novas texturas; pode levar aalterages quimicas mais intensas, como osurgimento de novos minerais, ou, finalmente, pode levar a alteracdes profundas, como 0 aparecimento de novas texturas e novos minerais, pela atuacdo conjunta de alterac6es fisicas e quimicas. As rochas metamérficas ocupam posicao destacada nos afloramentos importantes que aparecem no territério brasileiro. Além disto, so rochas desta classe que sao encontradas em grande quantidade no embasamento cristalino, sobre o qual repousam todas as demais formagdes geol6gicas do continente. O estudo destas rochas é dificultado pela complexidade apresentada pelo conjunto de seus representantes, em virtude dos multiplos agentes que influem no metamorfismo, como temperatura, pressao e atuacao de fluidos. Complexidade esta que é, as vezes, aumentada por processos como o metassomatismo, que é um caso especial de metamorfismo, no qual os Ifquidos e gases sxercem papel importante, Em geral, este € um processo que preserva as texturas originais das rochas, preservando, com isto, as formas e os tamanhos dos minerais originais. Transformacao importante em algumas rochas, por exemplo, 6 a metassomatizacao dos feldspatos que, algumas vezes, aparecem totalmente pseudomorfizados em caulinite na rocha metamorfoseada. O metamorfismo deste tipo, em geral, esta restrito as imediacbes de um corpo intrusivo, que fomece os fluidos capazes de provocar a metassomatizacio das rochas encaixantes Os principais fatores que influem nas caracteristicas finais das tochas rietamorficas $800 tipo de rocha original que sofre o metamorfismo e a espécie e grau de metamorfismos envolvidosno proceso. Uma das maneiras de estudar as rochas metamérficas éagrupa- las em classes quimicas, que sao dependentes, principalmente, da composicao mineraldgica das rochas de origem. Dentro das classes quimicas, os principais exemplos de rochas metamérficas passam adepender também da espécie e do grau de metamorfismo (Quadro 2), Quadro 2. Classificagio das rochas metamérficas com os mais importantes exemplos ROCHAS DEORIGEM —_—_ CLASSES QUIMICAS EXEMPLOS Granitos, arenitos e quartzitos Quartzo-Feldspaticas _ Gnaisses e quartzitos Argilitos, siltitos e folhelhos _ Aluminosas Ardésia, filito e micaxisto Caledrios e dolomitos Carbonatadas Marmore, escarmito e tactito Basaltos, gabros ¢ dioritos Basicas Anfibolitos e metabasitos Peridotitos e serpentinitos Magnesianas Talcoxisto, esteatito e talcito Sedimentos ferruginosos Ferruginosas Ikabiritos e martita-quartzito Fonte: Dorofeeff (1961) Pevotocra

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