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Doutrina265 Do Inquerito Policial PDF
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MINISTÉRIO PÚBLICO
Por sinal, NORONHA1 traz à colação o fato de que o inquérito tem graves
desvantagens, reduzindo a justiça quase à função de repetidor de seus atos. Porém, reconhecem-
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NORONHA, E. Magalhães. Curso de Direito Processual Penal, São Paulo, Saraiva, 1978, pág. 23.
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se vantagens, como impedir a formação precipitada de convicção pelo juiz, quando o fato ainda
pode estar envolto em paixões, ódios, que perturbariam a um sereno entendimento.
Aliás, o Estatuto da Advocacia, Lei 8.906/94, em seu artigo 7º, inciso XV,
estatui que é direito do advogado examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem
procuração, autos de flagrante e de inquérito policial, findos ou em andamento, ainda que
conclusos a autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos. Ali não se faz qualquer
distinção entre inquéritos sigilosos e não sigilosos.
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Porém a ausência do advogado não contagia o inquérito policial de nulidade,
pois não estamos em sede de processo, mas na fase pré-processual.
II – HISTÓRICO
¨Retira-se à polícia, por essa forma, a função, que não é sua, de interrogar o
acusado, tomar o depoimento de testemunhas, enfim, colher provas sem valor
legal; conservando-lhe, porém, a função investigadora, que lhe é inerente, posta
em harmonia e legalizada pela co-participação do juiz, sem o que o resultado
das diligências não pode e nem deve ter valor probatório.¨
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a) de ofício( o delegado de polícia, tomando conhecimento da prática de
infração penal, determina, através de portaria, a instauração de inquérito);
b) notitia criminis(é a ciência da autoridade policial da ocorrência de um fato
criminoso, podendo ser ou direta, quando o delegado, por qualquer meio,
descobre o que aconteceu ou ainda indireta, quando a vítima provoca a sua
atuação, comunicando a sua ocorrência);
c) mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público.
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entendimento da possibilidade da instauração de procedimento investigatório com base em
denúncia anônima desde que acompanhada de outros elementos.
O anonimato, per se, não serve para embasar a instauração de inquérito policial.
Contudo podem ao escrito apócrifo serem somados depoimentos prestados perante o Ministério
Público.
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Os instrumentos do crime bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos do
inquérito, como se lê do artigo 11 do CPP.
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Pode o Promotor denunciar pessoa que não foi objeto de indiciamento, pois é
titular da ação penal pública, ficando a sua discrição, dentro da visão que tem dos fatos
investigados no inquérito, qual a solução a apresentar.
a) carteira de identidade;
b) carteira de trabalho;
c) carteira profissional;
d) passaporte;
e) carteira de identificação funcional;
f) outro documento público que permita a identificação do indiciado.
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O prazo de 30(trinta) dias é ideal, salvo em situações excepcionais, para tal
dilação.
Por sua vez, a Lei 5.010/1966, que organiza a Justiça Federal de primeira
instância, em seu artigo 66, determina que o prazo para conclusão do inquérito policial será de
15(quinze) dias, quando o indiciado estiver preso, podendo ser prorrogado por mais 15(quinze)
dias com pedido da autoridade policial e deferido pela autoridade competente.
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Ao receber o inquérito já relatado, poderá o Parquet:
a) oferecer denúncia;
b) pedir arquivamento;
c) requerer a volta à Policia para novas diligências3.
3
Aqui, se o juiz indeferir ilegalmente a diligência, tem-se entendido pela formulação de correição
parcial, como se acompanha na jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo. Creio, data vênia,
mais adequado o mandado de segurança, havendo ilegalidade e direito líquido e certo não amparado
pelo habeas corpus. Cabe, outrossim, pedido ao Corregedor de Justiça de providências.
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Sabe-se que, com a reforma penal de 1984, Lei 7.209/1984, abandonamos o sistema do duplo binário.
5
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado, São Paulo, Ed. Revista dos
Tribunais, 10ª edição, pág. 126.
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que a incomunicabilidade do indiciado dependeria de despacho nos autos e seria permitida no
interesse da sociedade.
De outro lado, há os que entendem que tal tarefa é apenas das polícias
civis e da polícia federal. Em razão disso, para esses, se o Ministério Público exerce
sozinho o papel de condução da investigação, a consequência seria a nulidade com a
extração das provas dos autos colhidas que deram azo a denúncia. A propósito, NUCCI9
acentua que é contrário a investigação criminal conduzida, de forma isolada, pelo
Ministério Público, uma vez que seria feita sem qualquer fiscalização e controle, e pelo
fato de que não há previsão legal específica. Conclui seu raciocínio, entendendo que se
ocorrer o acesso do advogado do investigado nos autos, precisa ele ser assegurado. É o
que se lê no HC 88.190 – RJ, Relator Ministro Cezar Peluso, DJ de 6 de outubro de
2006.
6
TOURINHO FILHO, Fernando. Código de Processo Penal Comentado, volume I, pág. 66.
7
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de Processo Penal Interpretado, pág. 62 a 63.
8
GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal, pág. 86.
9
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado, São Paulo, Revista dos Tribunais,
10ª edição, pág. 86.
9
Nessa linha, e a modo de conclusão, lembra-se o Recurso Ordinário de HC n.
81.326-7, a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal , unanimemente, sob o voto condutor do
Min. Nelson Jobim, onde se decidiu que o Ministério Público não possui atribuições para
realizar, diretamente, investigação de caráter criminal. Em seu voto, o Min. Jobim destaca que,
historicamente, no direito processual penal brasileiro, as atribuições para realizar as
investigações preparatórias da ação penal têm sido da polícia, pelas mais diversas razões, as
quais têm prevalecido a ponto de todas as iniciativas no sentido de mudar as regras nessa
matéria terem sido repelidas, desde a proposta de instituir Juizados de Instrução feita pelo então
Ministro da Justiça, Dr. Vicente Ráo, em 1935, passando pela elaboração da Constituição de
1988, da lei complementar relativa ao Ministério Público, em 1993, até propostas de emendas
constitucionais em 1995 e 1999, com o objetivo de dar atribuições investigatórias ao Parquet.
Exige-se, de toda sorte, que tal atividade se faça com respeito aos direitos
individuais.
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NOGUEIRA, Carlos Frederico Coelho, Eluf, Luiza Nagib. Quem tem medo da investigação do Ministério
Público?
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procedimentos administrativos, como se lê do RHC 8.106-DF, Relator Ministro Gilson
Dipp, DJ de 4 de junho de 2001.
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possível aceitar que o Ministério Público substitua a atividade policial
incondicionalmente, devendo a atuação dar-se de forma subsidiária e em
hipóteses específicas, a exemplo do que já enfatizado pelo Min. Celso de Mello
quando do julgamento do HC 89.837/DF: “situações de lesão ao patrimônio
público, [...] excessos cometidos pelos próprios agentes e organismos policiais,
como tortura, abuso de poder, violências arbitrárias, concussão ou corrupção, ou,
ainda, nos casos em que se verificar uma intencional omissão da Polícia na
apuração de determinados delitos ou se configurar o deliberado intuito da própria
corporação policial de frustrar, em função da qualidade da vítima ou da condição
do suspeito, a adequada apuração de determinadas infrações penal”. No caso
concreto, constata-se situação, excepcionalíssima, que justifica a atuação do
Ministério Público na coleta das provas que fundamentam a ação penal, tendo em
vista a investigação encetada sobre suposta prática de crimes contra a ordem
tributária e formação de quadrilha, cometido por 16 (dezesseis) pessoas, sendo 11
(onze) delas fiscais da Receita Estadual, outros 2 (dois) policiais militares, 2 (dois)
advogados e 1 (um) empresário. 2. ILEGALIDADE DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
ANTE A FALTA DE CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. NÃO
OCORRÊNCIA NA ESPÉCIE. De fato, a partir do precedente firmado no HC
81.611/DF, formou-se, nesta Corte, jurisprudência remansosa no sentido de que o
crime de sonegação fiscal (art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8.137/1990) somente se
consuma com o lançamento definitivo. No entanto, o presente caso não versa,
propriamente, sobre sonegação de tributos, mas, sim, de crimes supostamente
praticados por servidores públicos em detrimento da administração tributária.
Anoto que o procedimento investigatório foi instaurado pelo Parquet com o escopo
de apurar o envolvimento de servidores públicos da Receita estadual na prática de
atos criminosos, ora solicitando ou recebendo vantagem indevida para deixar de
lançar tributo, ora alterando ou falsificando nota fiscal, de modo a simular crédito
tributário. Daí, plenamente razoável concluir pela razoabilidade da instauração da
persecução penal. Insta lembrar que um dos argumentos que motivaram a
mudança de orientação na jurisprudência desta Corte foi a possibilidade de o
contribuinte extinguir a punibilidade pelo pagamento, situação esta que sequer se
aproxima da hipótese dos autos. 3. ORDEM DENEGADA.¨
Tem-se então:
¨Caso Celso Daniel" (HC 84548): numa primeira votação, aos 11 de junho de
2007, o Ministro Marco Aurelio votou contra o poder de investigar do
Ministério Público e o Ministro aposentado Sepúlveda Pertence,
favoravelmente. O Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos e a votação
somente foi retomada após. Na sessão plenária, apesar de ter efetuado
considerações acerca da necessidade de estabelecimento de parâmetros e de
limitações ao poder de investigar, votou ele pela denegação da ordem,
ocorrendo nova suspensão do julgamento. Em 27 de junho de 2012, foi
retomada a votação, tendo sido atingida a maioria de votantes no sentido da
constitucionalidade do poder investigatório do "Parquet". No entanto, houve
nova suspensão, por pedido de vista. Saliente-se que o Ministro Dias Toffoli,
por ser sucessor de Sepúlveda Pertence, não votará.
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se lê da antecipação de votos dos Ministros Celso de Mello, Gilmar Mendes,
Joaquim Barbosa e Carlos Ayres Brito (presidente). O Ministro Luiz Fux pediu
vista, suspendendo o julgamento.
A matéria ainda está longe de definição, sendo previsível que será usado o voto
médio, uma vez que os Ministros utilizaram argumentos diversos sobre o tema.
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