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Campos elétricos em materiais

dielétricos
Instituto de Física da USP
Prof. Manfredo H. Tabacniks

Resumo simplificado do texto: Fagundes, Fantini e


Bindilatti. Notas de Aula 1. Dielétricos, IFUSP 2009.
Leitores que desejarem aprofundar o tema devem buscar
o texto referênciado.
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4320292 – IFUSP 2014 - MHT

Campos elétricos em materiais


Evidência experimental: Quando um dielétrico
(plástico, borracha, vidro, óleo) é introduzido num
capacitor, a capacitância aumenta de um fator κ, a
constante dielétrica

Dielétricos são usados em:


• capacitores
• isolação elétrica
• instrumentos ópticos (lentes, prismas, etc.)

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Modelo molecular de carga induzida

• A estrutura eletrônica do material é


modificada pelo campo elétrico externo,
que induz o alinhamento de dipolos
elétricos existentes no material.
• O campo elétrico+
externo pode também
induzir a criação
+ de dipolos elétricos em
+
materiais originalmente
+
não polarizados.
• O alinhamento+dos dipolos induzidos não
+
é perfeito devido
+
à agitação térmica. +


• O resultado líquido
+ equivale a uma +
+ −
+ + −
densidade superficial de cargas cujo + −
+ + −
campo elétrico de polarização é oposto ao +

+
campo externo. + −
+ −

Epol

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Modelo molecular de carga induzida

Apesar da carga
líquida num volume
fechado ser nula, na
superfíce, junto a cada
uma das “fontes do
campo elétrico” se
observa uma carga
líquida resultante do + −

alinhamento dos +
+


+ −
dipolos elétricos + −
+ −
oposta à carga que + −
+ −
originou o campo + −
+ −

elétrico inicial
Epol

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Polarização
O campo elétrico entre as placas
de um capacitor no vácuo é dado E = σ 0 / ε0
por:
E0 = σ 0 / ε 0
Na presença de um dielétrico, E = (σ 0 − σ pol ) / ε 0
ocorre a polarização das moléculas
do dielétrico, que geram uma carga
aparente de polarização
Temos duas alternativas:
σ pol
contrária à carga real, que atenua o 1) ε0 E = (σ0 - σpol) ou
campo elétrico externo.
σ0
2) E = com ε > ε0
ε 0 E = σ 0 − σ pol ε

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Vetor Polarização r r
P ( r ) = ∑ qd
• É resultado da soma dos dipolos elétricos dV
(permanentes ou induzidos) de um material, quando
colocado num campo elétrico externo.
• P é proporcional ao campo elétrico E no material, OBS1: Em materiais em que a
polarização não é colinear com o
dado pela soma do campo original E0 e o campo campo aplicado, χ é um tensor de
devido à polarização, E = E0 + Ep 2a ordem.

OBS2: χ em geral é função do


campo externo e da frequência.
susceptibilidade
elétrica do meio Em materiais lineares,
a polarização é
proporcional ao campo
r r r r elétrico no meio.
P(r ) = χ ε 0 E (r ) r σ
E 0 = 0 zˆ
ε0

E0 é o campo
elétrico Ep é o campo
criado pelas elétrico criado pelas
cargas Q0 P
cargas de
polarização

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Vetor Polarização r
r P
Ep = −
O campo elétrico, com sentido
contrário ao vetor polarização é
ε0 r
dado por: r r r r P
E = E0 + E p = E 0 −
O campo elétrico no dielétrico é a soma r r ε0
campo original e o campo elétrico de usando P = χ ε 0 E
polarização
r r r r r
O campo elétrico no dielétrico é E = E0 + E p = E 0 − χ E
igual ao campo original atenuado
de um fator κ r r
r E0 E0 σ 0
r r r r E= = = zˆ
P ( r ) = χ ε 0 E (r ) 1+ χ κ ε
ε
lembrando que κ =
ε0

P r σ
E 0 = 0 zˆ
ε0

E0 é o campo elétrico criado


pelas cargas Q0 e –Q0
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Temos dois modelos: note que o vetor P


tem unidades de
densidade de carga

ε 0 E = σ 0 − σ pol σ0
E=
ε0E = σ0 − P ε
Modelo microscópico: O campo no Modelo macroscópico: O meio
meio material é descrito pela material é descrito por um
polarização, P = σpol Tudo se passa coeficiente de permissividade
como se houvessem 2 densidades de dielétrica ε e se consideram
carga (σ0 e σpol) em vácuo. apenas as cargas livres.

Os modelos são bastante diferentes entre si:

No modelo microscópico tudo acontece em vácuo (ε0) e devemos incluir o efeito da


polarização e as cargas induzidas.
No modelo macroscópico define-se a permissividade do meio ε e não se consideram os
detalhes microscópicos da matéria.
Entretando, queremos combinar os modelos e buscar relações entre ε e as cargas de
polarização.

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Temos dois modelos:

ε 0 E = σ 0 − σ pol σ0
E=
ε0E = σ0 − P ε

Para combinar o modelo microscópico (depende de ε0) e o


modelo macroscópico, definimos o vetor D (Campo de
Deslocamento Elétrico) que depende apenas das cargas livres σ0
r r r r
σ 0 = ε E = ε0E + P = D
A polarização foi convenientemente definida r r
proporcional ao campo elétrico no meio: P = χ ε0E
r r r r r r r
D = ε 0 E + P = ε 0 E + χ ε 0 E = (1 + χ )ε 0 E = ε E
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A Lei de Gauss:
A Lei de Gauss aplicada ao campo
E calcula a soma das cargas: livres
r r e de polarização
∫ ε 0 E ds = q0 − q polarização
S r r r r
1 r r D = ε0E − P = ε E
SS∫ ε 0 E ds = σ 0 − σ polarização
r r tem unidades
1  r r r r  P = χε E de densidade
 ∫ ε 0 E ds + ∫ P ds  = σ 0 0 de carga

S S 
S  r
r
( )
1 r r r P
S ∫S
ε 0 E + P ds = σ 0 Ep = −
ε0
1 r r
SS∫ Dds = σ 0
D não depende de permissividade elétrica;
D depende APENAs das cargas livres σ0. Útil quando
σ0 representa as não se conhecem as cargas de polarização.
cargas livres
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A Lei de Gauss:
cargas densidade de cargas
r r q0 − q polarização 1 r r σ − σ polarização
∫ ds =
S
E
ε0 S ∫S
E ds =
ε0
r r
∫ ds = q0
D 1 r r
S ∫S
S
Dds = σ

r r q polarização
∫ E ds = − 1 r r − σ polarização
S ∫S
p
ε0 E p ds =
S
ε0
r r
∫ ds = q polarização
P 1 r r
S ∫S
S Pds = σ polarização

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Várias formas de escrever D


susceptibilidade
elétrica
r r r r r r r
D = ε E + P = ε E D = ε0E + χ ε0E
( )
r 0 r
P = χ ε0E r r
D = ε 0 (1 + χ ) E
D independe da permissividade r r
D = ε 0 (κ ) E
elétrica do meio
D depende APENAs das cargas
livres constante
r ε r permissividade
dielétrica ou

D = ε 0 ( )E relativa
ε0
r r
D=ε E
Permissividade elétrica.
NB. ε e χ são tensores...

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Exemplo: Esfera com carga Q envolta por uma armadura dielétrica esférica com ε
R3 r r − +
Q + Q polarização + Q polarização = Q
∫ D ds = q
Sr
livre

Q polarização = Q polarização +
R2
R1 D = Qrˆ para qualquer rr > R 1 4π R12σ − = 4π R22σ +
r D Q R12σ − = R22σ +
1 Q ε fora do dielétrico E = = rˆ
ε0 ε0 r
2 r D Q
3 σ− no interior do dielétrico E = = rˆ
r ε ε
 D  κ −1 r
( )
σ+ r r
P = χ ε 0 E = χ  ε 0  = D
 ε  κ

Ao usar a lei de
1 r r
S ∫S

Gauss só interessam P ds = σ polarização
as cargas internas à
superfície de gauss r κ −1
P= Qrˆ
κ
1  κ −1 −
O sinal negativo de σ  Q = σ polarização
pode ser obtido 4π r 2  κ 
R12 −
explícitamente aplicando
−  κ −1  σ+ = σ
a lei de gauss no campo Q polarizaçã o = Q R22
de polarização Ep =-P/ε0  κ 
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r
D−
r
D+ κ −1
σp = σ0
κ

ε
1 r r
r
Superfície de Gauss P = σ p = κ = (1 + χ )
S ∫S
Dd s = σ 0 r r ε0
D =ε E
D− . A = −σ 0 A / 2 definições
r (σ −σ p )
D− = −σ 0 (− zˆ ) / 2 σ0 = ε 0
= κ (σ 0 − σ p )
r ε0
D+ = σ 0 ( zˆ ) / 2 κ −1
r σp = σ0
D = σ 0 zˆ κ

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Capacitor plano com dielétrico
aplicando a lei de Gauss...
r σ
E0 = 0 zˆ
ε0
r
r σp P
Ep = − zˆ = −
ε0 ε0
r
r r r σ0 −σ p r P
E = E0 + E p = − z = E0 −
ˆ
ε0 ε0
r r
1
S ∫ Dds = σ
S
0
r r
r r r E0 E0 1 σ 0 σ
P = χ ε0E E= = = zˆ = 0 zˆ
1+ χ κ κ ε0 ε
r r r
E = E 0 − χE

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Dipolos elétricos (revisão)


a q
r
r r p
Momento de dipolo elétrico: p = q.a

Muitas moléculas têm momento de dipolo elétrico


permanente (são moléculas polares): r
p vai da carga
negativa para a
positiva
HCl 3,43.10-30 (mC)
H2O 6,2 .10-30 (mC)
NH3 5,0.10-30 (mC)
CO 0,40.10-30 (mC)
C2H5OH (etanol) 3,7.10-30 (mC)
Existem moléculas que são susceptíveis ao campo elétrico, isto é, podem ser polarizadas.

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Dipolo elétrico num campo elétrico

Cria um torque r -
r r r
+
p -
τ = p× E
+
+ -
r
que procura alinhar p com E
+ r -
+ -
E
Qual a energia para rodar 180°um momento de dipolo e létrico?

r r
(
dU = −dW = − τ × dθ = − p E sin θ dθ )
π
∆U π = − pE ∫ sin θ dθ = 2 pE
0

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Um modelo microscópico: Um átomo pode ser polarizado por um


campo elétrico externo

a
Susceptibilidade elétrica
(CNPT)
p
E material χ

H 5 x 10-4
p=0 p = 4πε 0 a E 3 He 0,6 x 10-4
ar 5,4 x 10-4
mica 5

( )
r r vidro 8
P = χ ε0E
em termos óleo 1,1
macroscópicos água 78

χ é a susceptibilidade ε
χ = κ −1 = −1
elétrica do meio ε0
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4320292 – IFUSP 2014 - MHT Alonso-Finn, Physics, 1972, pg.434

9
2a

r Num modêlo simples de átomo supomos


E uma carga positiva pontual no centro de
uma nuvem esférica com carga negativa
d r (nuvem de elétrons) com raio a.
p Num campo elétrico externo, e supondo
que a densidade de carga negativa não
seja muito alterada, os dois centros de
carga se afastam da distância d.
No equilíbrio, a força do campo elétrico
r r q ∫ ρ dV externo é igual e oposta à força de
atração das cargas atômicas. Mas, a
∫ S
Eds = =
ε0
V
ε0 carga negativa, que atua no núcleo
positivo, é devida apenas à carga contida
  numa esfera de raio d (Lei de Gauss)
1  q 4 r r
4 πd E =   πd 3
( )
2
r
ε 0  4 πa 3  3
  p = q d = 4π a 3 ε 0 E ext
3 
qd O momento de dipolo de
Eext =
4πε 0 a 3 um átomo é proporcional ao
campo elétrico externo
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4320292 – IFUSP 2014 - MHT Berkeley, V2, pg289

Referências

• Halliday, Resnick & Krane. Física 3. 4a Ed.


LTC Editora. Rio de Janeiro, RJ. - 2004.
• Serway. Física 3. Ed. LTC. Rio de Janeiro, RJ. -1996.
• Alonso e Finn, Physics. 2nd Ed. Addison-Wesley, 1972.
• Purcell. Curso de Física de Berkeley. Volume 2.
Edgard-Blücher, Brasil. 1970.

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