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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção


Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

A NR 18 E A REALIDADE DE UM
CANTEIRO DE OBRA DA ÁREA
CENTRAL DA GRANDE
FLORIANÓPOLIS
Beatriz Marcondes de Azevedo (UFSC)
biabizzy@uniplac.net
Rolf Hermann Erdmann (UFSC)
erdmann@newsite.com.br
MAYARA TEODORO DE OLIVEIRA (UFSC)
teodoromay@hotmail.com
Pablo Fialho Farias (UFSC)
fialhofariaspablo@gmail.com

A indústria da Construção Civil é entendida como um setor da


economia atrasado tecnologicamente e em termos de gestão, quando
comparada às atividades de outros tais como, indústrias têxteis e
automotivas. Ademais, o gerenciamento da segurannça e saúde dos
trabalhadores da construção civil também não tem avançado na
mesma proporção, principalmente por causa da dificuldade dos
empregadores em se adequar aos aspectos preconizados pelas normas
regulamentadoras, bem como em contribuir para a criação e
manutenção de uma política de saúde e segurança nos canteiros de
obra. Esse artigo tem como objetivo avaliar em que medida o ideal
proposto pela NR 18 está distante da realidade de um canteiro de obra
da área central da Grande Florianópolis. Em termos metodológicos,
trata-se de uma pesquisa descritiva-exploratória em forma de estudo
de caso. Para a coleta dos dados foram realizadas observações
globais, análises documentais (PCMAT, documentação da certificação
ISO 9001) e preenchimento do check- list de verificação dos itens da
NR 18, em conjunto com o Engenheiro Civil, Técnico de Edificações e
Mestre de Obra. A análise dos mesmos foi realizada
predominantemente de forma qualitativa, pois se pretendeu fazer uma
comparação com base nas percepções dos pesquisadores durante as
observações e o preenchimento do instrumento. Os resultados indicam
que de todas as dimensões do check list, quinze delas foram
respondidas de maneira afirmativa em todos os pontos analisados,
indicando, assim, que 58% daquilo que está disposto na NR 18
encontram-se em conformidade com a realidade apresentada no
canteiro de obra estudado. As dimensões que apresentam maiores
problemas dizem respeito à Sinalização de Segurança e à Comissão
Interna de Prevenção de Acidentes. As demais apresentam apenas
alguns itens que foram respondidos na negativa, indicando, assim,
necessidade de revisão e correção de suas falhas, na medida do
possível.
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

Palavras-chaves: NR 18, saúde e segurança na indústria da construção


civil e canteiro de obra.

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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

1. Introdução
A Indústria da Construção Civil é determinante para o desenvolvimento sustentado da
economia brasileira, uma vez que apresenta grande importância socioeconômica e estratégica
para o desenvolvimento do país (FREJ e ALENCAR, 2010). Assim, o desempenho deste setor
tem apresentado nos últimos anos um melhor desempenho, acompanhando a tendência
nacional, com aumento da taxa de seu crescimento (DIEESE, 2011).
Entretanto, apesar do crescimento, a construção civil tem sido considerada atrasada tanto
tecnologicamente quanto em termos de gestão, quando comparada às atividades de outros
setores da economia (LEUSIN ET AL, 1996; CASTANHA ET AL, 2007; NOSCHANG ET
AL, 2009 e GRADVOHL ET AL, 2011). Com o objetivo de se modernizar a área da
construção civil, avanços têm ocorrido como, por exemplo, na incorporação de novas
tecnologias às suas atividades tradicionais.
Barkokébas Junior et al (2006) acrescentam que além da questão da inovação tecnológica,
outro fator que envolve o setor secundário é o relativo à Segurança e Saúde no Trabalho, que
pela natureza jurídica e ética, é dever social garantir um ambiente de trabalho seguro e livre
de agentes causadores de acidentes e doenças ocupacionais.
Mesmo com o crescimento do contrato formal dos trabalhadores e avanços nas negociações
coletivas do setor verificados no ano de 2010, a indústria da construção civil continua
apresentando altos índices de informalidade e de rotatividade. Acrescenta-se a isso, a
constatação de que as condições de saúde e segurança no trabalho não têm apresentado
grandes avanços, com alta ocorrência de acidentes de trabalho (DIEESE, 2011).
Sob esta ótica, observa-se que o gerenciamento da Segurança e Saúde dos trabalhadores não
tem avançado na mesma proporção, principalmente por causa da dificuldade dos
empregadores em se adequar aos aspectos preconizados pelas Normas Regulamentadoras
(NR’s), bem como em contribuir para a criação e manutenção de uma política de saúde e
segurança nos canteiros de obra (SAURIN, 2005).
A situação é agravada pelo fato de que, esse é um dos setores de atividade econômica que
mais absorve acidentes de trabalho. Dentre as razões para tal realidade, tem-se a deterioração
das condições de trabalho causadas pela globalização, o desrespeito ao direito à segurança do
trabalhador e a falta de cumprimento da lei ou regulamentação adequada de segurança
(SAURIN e RIBEIRO, 2000 e SANTANA e OLIVEIRA, 2004).
Tendo em vista a característica do setor, é fácil concluir que a construção civil apresenta em
todo o mundo, e não só no Brasil, altos índices de acidentes de trabalho. Como exemplo, cita-
se a Malásia, país também em desenvolvimento e com um expressivo crescimento na área da
construção. Ibrahim et al (2010) assinalam que a indústria da construção civil malasiana, teve
nos últimos dez anos, um aumento alarmante no número de mortes na construção, chamando
a atenção pela baixa prioridade que as partes interessadas têm dado ao problema da saúde e
segurança ocupacional.

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Para reverter essa realidade, especialmente no tocante ao caso brasileiro, apenas o


cumprimento integral da legislação não é suficiente para uma redução significativa dos
índices de acidentes, uma vez que as leis devem ser encaradas como requisitos mínimos a
serem cumpridos. Saurin (2005) alerta que a adoção de leis que obriguem a consideração
formal da segurança nos projetos deve ser considerada seriamente pelos comitês responsáveis
por revisões na norma NR-18 (Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da
Construção). Saurin e Ribeiro (2000) acrescentam a necessidade da adoção de medidas de
caráter gerencial, as quais podem instrumentalizar ou complementar as exigências das leis.
Neste contexto, procurou-se conhecer a realidade de um canteiro de obra e avaliar o que se
tem cumprido em termos do que está previsto na norma regulamentora que discorre sobre os
parâmetros de saúde e segurança da construção civil (NR 18). Assim, partiu-se da premissa de
que ao tomar conhecimento de como funciona e como está organizado o ambiente de trabalho
de um canteiro de obra, medidas de melhorias poderão ser sugeridas para que a saúde e
segurança dos trabalhadores estejam asseguradas.
Tal estudo se justifica pelo fato de que, através de uma pesquisa bibliográfica, observou-se
que não é expressiva a quantidade de estudos que exploram a relação da NR 18 com a
realidade dos canteiros de obras, portanto, inferiu-se que tal temática necessita ser
investigada. Assim, o objetivo deste artigo é avaliar em que medida o ideal proposto pela NR
18 está distante da realidade de um canteiro de obra da área central da Grande Florianópolis.
2. Saúde e segurança no trabalho
A Saúde e Segurança no Trabalho é aqui entendida a partir dos fatores internos e externos do
ambiente de trabalho, cujos repercutem no desencadeamento do processo de adoecimento,
cabendo a organização, monitorar e mensurar as características principais de suas operações e
atividades com o objetivo de manter a saúde e segurança de todos. Quelhas e Alves (2003)
afirmam que é papel do governo criar leis e direcionar a fiscalização para setores econômicos
com maior taxa de frequência de acidentes objetivando reduzir as situações de risco.
O trabalho na construção civil é considerado de risco, principalmente por causa da falta de
infra-estrutura de segurança nos canteiros de obras e da maneira que o trabalho é organizado;
estando presentes condições inseguras, inadequação dos equipamentos, falta de informação e
preparo dos envolvidos nas obras, exigindo do funcionário o desenvolvimento de habilidades
particulares que contribuam para sua segurança (DIEESE, 2011). As diversas cartilhas e
manuais existentes incentivam a implantação de medidas prevencionistas, subsidiando o
desenvolvimento de uma cultura de segurança.
Como exemplo, menciona-se a cartilha de SST na Construção Civil/ES - NR18 (SEBRAE,
2011) que busca esclarecer as normas de segurança para que empregadores e empregados
desfrutem dos benefícios alcançados pela realização de um trabalho seguro nos canteiros de
obras.
2.1 Saúde e segurança na indústria da construção civil
Segundo Barkokébas Júnior et al (2009), nos últimos anos, a contribuição dos conhecimentos
tecnológicos para desenvolver máquinas mais seguras e equipamentos de proteção mais
adequados aos riscos, bem como a implantação de programas de segurança com a
participação de órgãos do governo, empregadores e empregados tem ajudado na criação de
um novo ambiente de trabalho na construção civil. O desafio a ser enfrentado é referente à
necessidade de conscientizar os trabalhadores sobre a importância do uso de EPI.

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Por outro lado, Souza (2009) aponta que apesar do Brasil ter um conjunto de leis moderno e
consistente, a fiscalização ainda é falha. Para o autor, as avançadas normas de trabalho
brasileiras ainda não são aplicadas por muitos empregadores. A solução para esse problema
reside em parcerias como, por exemplo, no Paraná, onde foi estabelecido um convênio entre o
CREA, a SRT e o Corpo de Bombeiros para reforçar a fiscalização.
Todavia, são percebidas algumas mudanças no setor como a redução da informalidade, a
insistência nos cursos de treinamento e a modernização dos equipamentos de segurança,
tornando a prevenção o foco das preocupações. Pressupõe-se que uma obra segura é aquela
que tem alvará de construção emitido pela prefeitura local, foi fiscalizada e liberada pela SRT
e pelo CREA, tem responsável técnico permanentemente no local e municia o canteiro de
obras com equipamentos aprovados pelas normas de segurança. É preciso ter também o kit
básico para os operários: óculos e cinto de segurança, protetor auricular, luvas, uniforme,
capacete e botas. Antes de começar a trabalhar na construção, é preciso disponibilizar aos
trabalhadores um curso de formação, de conscientização sobre direitos trabalhistas, sobre os
riscos iminentes a que estão submetidos, com que produtos estão trabalhando, se são ou não
perigosos. Também é necessário entender que a alimentação desse tipo de trabalhador é
fundamental.
3. NR 18
A NR18 foi aprovada pela portaria nº 3.214 de 8/7/1978, mas devido aos progressos
tecnológicos e sociais ficou defasada, necessitando de modificações legais, sendo, portanto,
reformulada, e atualmente dispõe sobre os direitos às Condições e Meio Ambiente de
Trabalho na Indústria da Construção referente: às adequadas instalações físicas, à segurança
no trabalho e, ao lazer. Seu objetivo é informar e mobilizar o trabalhador para o cumprimento
da norma com foco no estabelecimento de diretrizes de natureza administrativa, de
planejamento e de organização, que visam a implementação de medidas de controle e
sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio ambiente na
Indústria da Construção (BRASIL, 2008).
Para se cumprir a norma é preciso elaborar o Programa de Condições e Meio Ambiente de
Trabalho na Indústria da Construção (PCMAT), que busca garantir o surgimento de
programas consistentes de prevenção de forma integrada entre dirigentes, empregados e
profissionais da área, evitando assim a aquisição de pacotes pré-fabricados cuja motivação
única seja atender a norma para evitar multas. Porém, acredita-se que o costume de considerar
as normas apenas uma obrigação legal gera inúmeros prejuízos à efetividade dos programas
de melhoria, tanto da própria segurança quanto da qualidade e produtividade na construção
civil (CRUZ, 1997; e CRUZ e OLIVEIRA 1998).
Cruz (1997) assinala que a norma ainda apresenta falhas, isso porque a grande maioria de seus
itens trata somente das condições físicas de trabalho oferecidas ao trabalhador. Ou seja,
poucos itens demonstram preocupação com o comportamento deste no ambiente de trabalho
contribuindo para que, somente o cumprimento da norma nem sempre seja garantia de se ter a
Gestão da Segurança e Saúde Ocupacional (GSSO).
4. Método
Em termos metodológicos, trata-se de uma pesquisa descritiva-exploratória em forma de
estudo de caso. Para a coleta dos dados foram realizadas observações globais, análises
documentais (PCMAT, documentação da certificação ISO 9001) e preenchimento do check-

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list de verificação dos itens da NR 18, em conjunto com o Engenheiro Civil, Técnico de
Edificações e Mestre de Obra. A partir da literatura científica, o instrumento foi construído e
adaptado à realidade da construtora. A análise dos mesmos foi realizada predominantemente
de forma qualitativa, pois se pretendeu fazer uma comparação com base nas percepções dos
pesquisadores durante as observações e o preenchimento do instrumento.
5. Resultados
Nesta sessão serão apresentados e discutidos os resultados, contemplando apenas os itens da
NR 18 que se encontravam presentes no canteiro de obra, conforme pôde ser detectado
durante o período de observação.
Cabe frisar que o trabalho realizado no canteiro de obra da construtora Contrex consistia em
duas Torres, totalizando cento e oitenta apartamentos construídos em um terreno de 4.736,47
m2 de área, perfazendo total de 24.213,52 m2 de área construída. Para executar tal atividade o
quadro funcional da empresa estava constituído por profissionais que executavam tarefas de
planejamento e acompanhamento das atividades da construção civil. Ou seja, a maioria das
atividades operacionais era terceirizada.
5.1 Comparação entre o prescrito pelas normas e a realidade do canteiro de obra
Inicialmente, referente à dimensão Comunicação Prévia, verificou-se que a construtora
sempre comunica a SRT, antes do início de suas atividades, todas as informações ali citadas.
No que se refere à dimensão PCMAT, pode-se verificar que o mesmo contempla todas as
exigências contidas na NR 9. Porém, em relação ao programa educativo para prevenção de
acidentes e doenças do trabalho, a construtora não havia realizado até então, nenhuma ação a
esse respeito, alegando nunca ter tido no canteiro de obra, um técnico e um engenheiro de
segurança do trabalho.
Na dimensão Áreas de Vivência, o canteiro possui instalações sanitárias, alojamento e local
de refeições, que são mantidos conservados e limpos. Entretanto, não dispõe de: cozinha, pois
as refeições são terceirizadas e entregues em quentinhas; lavanderia e área de lazer. O
ambulatório não existe, pois o contingente de trabalhadores não ultrapassa cinquenta pessoas.
No canteiro é proibido preparar, aquecer e fazer as refeições fora do refeitório. Além disso, a
construtora fornece água potável, filtrada e fresca, para os trabalhadores, por meio de
bebedouro de torneiras, disponibilizando copos descartáveis.
Na dimensão Escavações, Fundações e Desmonte de Rochas, a área de trabalho é sempre
previamente limpa, qualquer risco de comprometimento da estabilidade do local durante a
execução de serviços é devidamente prevenido. As escavações realizadas não possuem
sinalização de advertência, inclusive noturna, e barreira de isolamento em todo o seu
perímetro, mas quanto ao acesso de trabalhadores, veículos e equipamentos, às áreas de
escavação são sinalizadas, permanentemente, com placas de advertência. Para maior
segurança de todos, é proibido o acesso de pessoas não-autorizadas.
Na dimensão Carpintaria, as operações em máquinas e equipamentos necessários à
realização de suas atividades são realizadas por trabalhadores qualificados.
Na dimensão Armações de Aço, a dobragem e o corte de vergalhões de aço em obra são
feitos sobre bancadas ou plataformas apropriadas e estáveis, apoiadas sobre superfícies
resistentes, niveladas e não escorregadias, afastadas da área de circulação de trabalhadores. As

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armações de pilares, vigas e outras estruturas verticais são apoiadas e escoradas para evitar
tombamento e desmoronamento.
Na dimensão Estruturas de Concretos, constatou-se que as fôrmas são projetadas e
construídas para resistir às cargas máximas de serviço. Assim como, o uso de fôrmas
deslizantes, os suportes e escoras de fôrmas são inspecionados antes e durante a concretagem,
pelo Engenheiro Civil da Construtora.
Tratando-se das operações de protensão de cabos de aço, constata-se uma inconformidade
com a NR 18, uma vez que se não se fiscaliza a permanência de trabalhadores atrás dos
macacos ou sobre estes, bem como a área em questão não se encontra isolada e sinalizada.
Na dimensão Escadas, Rampas e Passarelas, a madeira a ser usada para construção destas é
de boa qualidade, seca, sem nós e rachaduras que comprometam sua resistência, bem como
sem pintura que possa encobrir imperfeições. Do mesmo modo, as escadas de uso coletivo,
rampas e passarelas para a circulação de pessoas são de construção sólida, possuindo
corrimão e rodapé. Já a dimensão dos patamares intermediários não está em conformidade
com a NR, uma vez que não possuem largura e comprimento definidos pela norma.
Na dimensão Medidas de Proteção Contra Quedas de Altura há instalação de proteção
coletiva onde existe risco de queda de trabalhadores ou de projeção e materiais.
O item referente às plataformas secundárias de proteção está em desconformidade com a NR
18, pois essas não possuem as especificações dimensionais determinadas. Outra
inconformidade constatada diz respeito à construção de edifícios com pavimentos no subsolo,
pois ali não são instaladas plataformas terciárias de proteção seguindo a especificação deste
item da norma.
Na dimensão Movimentação e Transporte de Materiais e Pessoas, os equipamentos de
transporte vertical de materiais e de pessoas são dimensionados pelo Engenheiro Civil. Assim
como, a montagem e desmontagem são realizadas por um trabalhador qualificado. A
manutenção além de ser executada por alguém capacitado é também supervisionada pelo
referido Engenheiro.
Porém verifica-se uma inconformidade em relação a um dos itens dessa dimensão quando
ocorre a construção de edifícios de doze ou mais pavimentos, pois não há a instalação de, pelo
menos, um elevador de passageiros, cujo percurso alcance toda a extensão vertical da obra. E
ainda a utilização não simultânea, de elevador de passageiros para transporte de cargas ou
materiais, uma vez que não existe sinalização informando esta exigência. O elevador de
passageiros utilizado para o transporte de cargas e materiais, não simultaneamente, é o único
da obra e encontra-se instalado a partir do pavimento térreo.
Outro item que se encontra em desconformidade diz respeito à madeira para confecção de
andaimes, pois apesar de ser de qualidade e seca, apresenta nós e rachaduras que
comprometem a sua resistência e são pintadas encobrindo possíveis imperfeições.
Na dimensão Alvenaria, Revestimentos e Acabamentos são utilizadas técnicas que
asseguram a estabilidade das paredes de alvenaria da periferia. Sempre que no local são
executados serviços de revestimento e acabamento, os quadros fixos de tomadas energizadas
são protegidos. Os locais abaixo das áreas de colocação de vidro são interditados ou
protegidos contra queda de material e, após a colocação, os vidros são marcados de maneira
visível.

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Na dimensão Telhados e Coberturas, os trabalhos ali realizados contém dispositivos


dimensionados por profissional legalmente habilitado e que permitem a movimentação segura
dos trabalhadores.
Na dimensão Instalações Elétricas, as atividades de execução e manutenção são realizadas
por trabalhadores qualificados e supervisionadas pelo Engenheiro Civil que seguem todas as
prescrições.
Na dimensão Máquinas, Equipamentos e Ferramentas Diversas, a operação de máquinas e
equipamentos que exponham o operador ou terceiros a riscos somente é realizada por
trabalhador qualificado e identificado por crachá. Além disso, são protegidas todas as partes
móveis dos motores, transmissões e partes perigosas das máquinas ao alcance dos
trabalhadores.
Na dimensão EPI, a construtora fornece aos trabalhadores, gratuitamente, EPI adequado ao
risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento, consoante com as disposições
contidas na NR 6.
Na dimensão Armazenagem e Estocagem de Materiais, os materiais são armazenados e
estocados de modo a não prejudicar o trânsito de pessoas e de trabalhadores, a circulação de
materiais, e o acesso aos equipamentos de combate a incêndio, não obstruir portas ou saídas
de emergência e não provocar empuxos ou sobrecargas nas paredes, lajes ou estruturas de
sustentação, além do previsto em seu dimensionamento.
Na dimensão Proteção Contra Incêndios, as medidas adotadas atendem eficazmente às
necessidades de prevenção e combate a incêndio para os diversos setores, atividades,
máquinas e equipamentos do canteiro de obras. Porém, não há um sistema de alarme capaz de
dar sinais perceptíveis em todos os locais da construção.
Na dimensão Sinalização de Segurança, verifica-se outra inconformidade com a norma pela
inexistência de sinalização.
Na dimensão Treinamento, observou-se que os trabalhadores recebem treinamentos
admissional e periódico, e ainda recebem cópias dos procedimentos e operações a serem
realizadas com segurança.
Na dimensão Ordem e Limpeza, constatou-se que o canteiro apresenta-se organizado, limpo
e desimpedido, notadamente nas vias de circulação, passagens e escadarias.
Na dimensão Acidente Fatal, em caso de sua ocorrência, a construtora adota todas as
medidas descritas nesse item.
Na dimensão Dados Estatísticos, verificou-se que a construtora cumpre os três itens
descritos na norma.
Na dimensão CIPA nas empresas da Indústria da Construção, a construtora não possui uma
CIPA centralizada, conforme previsto na NR 5, mostrando-se, assim, em desconformidade
com os ditames da NR 18 em relação à tal dimensão analisada.
Com base na análise do check list verifica-se que apesar da maioria dos itens estar em
conformidade com a NR 18, existem inconformidades que poderiam ser facilmente
solucionadas. Entretanto, infere-se que muitas das exigências da norma não são cumpridas,
entre outros motivos, pela falta de planejamento da atividade e conscientização de sua

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importância, ou ainda pela falta de atuação educativa por parte da fiscalização da SRT
(MENEZES, 2003 e MENEZES e SERRA, 2003).
6. Conclusão
O check list elaborado para atender ao objetivo deste estudo foi composto de vinte e seis
dimensões. Onde, quinze delas foram respondidas de maneira afirmativa em todos os pontos
analisados, indicando, assim, que 58% dos itens dispostos na NR 18 encontram-se em
conformidade com a realidade apresentada no canteiro de obra estudado. As dimensões que
apresentam maiores problemas dizem respeito à Sinalização de Segurança e à CIPA. As
demais apresentam apenas alguns itens que foram respondidos na negativa, mostrando,
portanto, a necessidade de revisão e correção de suas falhas, na medida do possível.
Com base na literatura especializada, percebe-se que adequados projetos de canteiro podem
proporcionar significativas melhorias no processo produtivo das empresas da construção civil.
Tais projetos têm como objetivo promover a realização de operações seguras e influenciar
positivamente a motivação dos trabalhadores. Por outro lado, podem minimizar distâncias e
tempo para movimentação de pessoal e material, aumentar a produtividade e evitar obstrução
da movimentação de material e equipamentos.
Sabe-se que a obrigatoriedade do cumprimento dos itens dispostos na NR 18 representou uma
das mais significativas conquistas dos trabalhadores da indústria da construção, uma vez que
possibilita seguir os princípios da segurança assegurando a existência de adequadas condições
nos ambientes de trabalho.
Infelizmente, as estatísticas indicam que o atendimento de todas as exigências da NR 18 não
representa a eliminação total das fatalidades, porém, seu cumprimento tem o potencial de
reduzi-las de maneira expressiva. Por outro lado, o não cumprimento das normas pode ter
vários motivos, como o fato dos canteiros de obras representarem instalações temporárias,
cuja existência depende da duração das atividades ali realizadas, contribui para que as
construtoras não queiram realizar grandes investimentos e, por isso, acabem optando por
soluções mais simples, muitas vezes, de realizadas de maneira improvisada.
Um ponto que chamou atenção durante a realização dessa pesquisa foi a constatação de que,
apesar da vasta experiência e reconhecimento da construtora possuir, não existe nenhum
profissional da área de Segurança do Trabalho em seu quadro funcional. Talvez essa seja uma
variável que tem contribuído para que alguns itens dispostos na norma não estejam sendo
cumpridos na íntegra. Por isso, sugere-se que sejam selecionados e contratados tais
profissionais.
No que se refere às inconformidades, como recomendação de melhorias tem-se que: colocar
tela de proteção nos vãos de acesso às caixas dos elevadores; promover programas educativos
contemplando a temática de prevenção de acidentes e doenças do trabalho; instalar rede de
segurança como sistema limitador de queda de altura; sinalizar que o elevador não deve
transportar cargas ou materiais simultaneamente com passageiros; que a empresa seja mais
atenta para fiscalização do uso de EPI e, finalmente, sugere-se utilizar ferramentas da
qualidade como aquelas encontradas na produção enxuta.
Quanto às futuras pesquisas, propõe-se que sejam realizados estudos que comparem a
realidade de diferentes canteiros de obra, bem como investiguem os índices de acidentes e
doenças do trabalho, buscando conhecer suas causas e minimizar suas deficiências.
Referências

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BARKOKÉBAS JÚNIOR, B.; VÉRAS, J. C.; LAGO, E. M. G.; RABBANI, E. R. K.


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