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O desenvolvimento profissional de
professores de Matemática envolvidos em um
grupo de estudo: algumas reflexões
Resumo
Esse artigo relata parte de uma pesquisa de mestrado na área de Ensino
de Matemática, realizada pelo primeiro autor (DE PAULA, 2009),tendo como
orientadora a segunda autora deste artigo. A pesquisa realizada teve como
objetivo investigar o impacto sobre a prática pedagógica dos integrantes de um
grupo de estudos com características cooperativas, integrado por professores
atuantes e em formação, relativa à utilização do trabalho em grupo em sala de
aula como estratégia de ensino para a resolução de problemas. Para tanto,
formamos um grupo de estudo constituído por seis integrantes, professores já
atuantes e em formação. Neste artigo apresentaremos uma breve revisão teórica
sobre a importância do trabalho cooperativo entre professores de Matemática
como uma alternativa para o desenvolvimento profissional dos envolvidos. Em
seguida, apresentamos alguns comentários resultantes da prática desse grupo de
estudos e as melhorias apontadas por seus participantes.
Abstract
Introdução
Propomos a análise de um processo de desenvolvimento profissional a partir da criação e
do desenvolvimento de um grupo de estudos entre educadores matemáticos, denominado
GEDMAT Nosso objetivo fora investigar quais as possíveis mudanças sobre a prática pedagógica
dos integrantes desse grupo de estudos com características cooperativas, constituído para esse
fim, integrado por professores atuantes e em formação, relativo à utilização do trabalho em
grupo em sala de aula, como estratégia de ensino para a resolução de problemas.
Verificamos na literatura cientifica existente que a prática dos grupos de estudo entre
professores de matemática não é algo corriqueiro. Encontramos, na literatura científica
consultada, diversos autores que enfatizam o uso da resolução de problemas como a principal
atividade do professor de Matemática. Polya (1978) certamente está entre os primeiros autores
do século XX a tratar a resolução de problemas de maneira enfática e associada a melhorias no
processo de ensino de Matemática. “A resolução de problemas ainda é, na minha opinião, a
espinha dorsal do ensino a nível secundário e me constrange que algo tão evidente precise ser
ressaltado (POLYA, 1985,p.13). Seu livro, How to Solve It , editado no Brasil, em 1978, com o título
de A Arte de resolver problemas, teve sua primeira edição em 1944 e tornou-se, desde então,
obra de referência para pesquisadores interessados em desenvolver um ensino de Matemática
que utilizasse sua heurística. Polya (1985) define heurística como o estudo dos caminhos e meios
de descoberta e invenção. È a ciência que estuda a resolução de problemas, o que segundo o
próprio autor, “estava relativamente morto quando meu primeiro artigo a esse respeito apareceu
em 1919 (POLYA, 1985, p.16)”.
Nessa mesma linha, além dos diversos escritos de George Polya, encontramos também,
Schoenfeld (1996, 1997), Charnay (1996), Butts (1997) e Perkins (2002). A resolução de problemas
ganhou também o apoio dos profissionais da educação infantil, por considerá-la, também, uma
eficaz estratégia de ensino. Muitos autores, tanto no Brasil como no exterior, participaram desse
movimento, dentre os quais podemos citar LeBlanc et al (1997), Cerquetti-Aberkane e
Berdonneau (1997) e Onuchic (1999) Desde então, todos os documentos oficiais brasileiros
recomendam a tarefa de resolução de problemas como essencial às aulas de Matemática.
desenvolvimento de ações desse tipo, grupo de alunos trabalhando com resolução de problemas,
começamos a realizar práticas nessa direção. No início, as condições e as dificuldades que
enfrentamos nos serviram de base para refletirmos e, assim, procurarmos modos de contorná-
las/superá-las e nos prepararmos para a realização de novas atividades. O trabalho de resolução
de problemas aliado à prática do desenvolvimento de grupos de alunos nas aulas de Matemática
se configurou como o agente de nossa questão inicial de pesquisa.
O problema numérico da falta de profissionais com formação específica é tão grave, que
este documento aponta a possibilidade do surgimento de um “apagão” no caso da Educação
Matemática, se sérias políticas não forem adotadas de imediato. Essas políticas se apresentam
tanto sob a forma de soluções estruturais que necessitam de mais tempo para se concretizarem,
como soluções emergenciais que, devido à urgência da escassez de professores, precisam ser
tomadas imediatamente, pois não colocá-las em ação poderia agravar as deficiências já
existentes. Mas o que mais nos chamou a atenção entre as sugestões para as soluções estruturais,
1
Escassez de professores no ensino Médio: Propostas estruturais e emergenciais. Relatório
produzido pela Comissão Especial instituída para estudar medidas que visem superar o déficit docente no
Ensino Médio.2007. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/escassez1.pdf> . Acesso
em 25 de julho de 2008.
finito, que pode ser “formado”) consiste na noção de desenvolvimento profissional2. Embora
Guérios (2002, p.29), afirme, em seus estudos, que a diversidade de significados desses termos se
deve à multiplicidade de interpretações dos pesquisadores; “alguns autores atribuíram o mesmo
sentido a estes termos e outros tentarem conceituá-los sob diferentes perspectivas ou
paradigmas”, entendemos que existem, sim, diferenças entre esses termos.
2
A Proposta Curricular do Estado de São Paulo, se refere à esse conceito com o termo
desenvolvimento pessoal. “O desenvolvimento pessoal é um processo de aprimoramento das capacidades
de agir, pensar, atuar sobre o mundo e lidar com a influência do mundo sobre cada um, bem como atribuir
significados pelos outros, apreender a diversidade e ser compreendido por ela, situar-se e pertencer. A
educação precisa estar a serviço desse desenvolvimento, que coincide com a construção da identidade, da
autonomia e da liberdade (SÃO PAULO, 2008, p. 11)”.
3
PASSOS, C.L.B.; NACARATO, A.M.; et al. Desenvolvimento profissional do professor que ensina
Matemática: Uma meta-análise de estudos brasileiros. Quadrante: Revista teórica e de investigação. Lisboa:
APM, v. 15, n. 1-2, p.193-219, 2006
Uma mudança necessária seria proporcionar aos docentes o contato com um modelo de
desenvolvimento de trabalho pautado no debate. Um momento em que os professores não
seriam apenas receptivos, nem trabalhariam de modo isolado4; “O essencial é que possa ter-se
4
Fiorentini e Costa (2002) discutem quatro enfoques referentes a formação de professores e suas
práticas docentes, a saber: prático-artesanal; prático-academicista; técnico-academicista e reflexivo-
investigativo. Nessa discussão, surge o professor isolado. Segundo os autores “ainda é possível encontrar
nas instituições públicas brasileiras alguém que acredita que ser professor é apenas uma questão de
vocação ou de dom, cuja competência e destreza desenvolvem-se na prática, não havendo necessidade de
uma formação formal em saberes e práticas relativos à atividade profissional do professor. Ou seja, para ser
um bom professor de Matemática, bastaria saber o conteúdo a ser ensinado e ter algum dom para isso.
Saber porque, o que e como ensinar o saber escolar, nos diferentes contextos de prática pedagógica, são
consideradas competências que se desenvolvem apenas praticando. Não há necessidade, nessa
perspectiva, de adquirir um repertório de saberes formais e práticos, os quais tenham sido validados pelas
investigações no campo da educação Matemática. Essa é a visão que caracteriza o professor prático ou
isolado e que tanto pode fazer parte do enfoque prático-artesanal como do prático-academicista
(FIORENTINI & COSTA, 2002, p. 315, grifo nosso)”.
5
CARVALHO, Ana M. P., GIL-PÉREZ, Daniel. Formação de professores de Ciências. 8ª Ed.
São Paulo: Cortez, 2006.
sala de aula. Tais indicações integram os objetivos gerais para o Ensino de Matemática já
defendido nos PCNs de Matemática (1998).
Considerações Finais
Na semana seguinte ao convite que fizemos aos licenciandos em Matemática,
realizávamos oficialmente o primeiro encontro, o encontro de formação do GEDMAT – Grupo de
Estudo de Educadores Matemáticos, no qual apresentamos o objetivo geral do grupo e nossa
intenção de utilizar as discussões e os materiais elaborados pelos membros do grupo então
formado para a construção de nossa dissertação.
O ideal, o real e o possível do fazer educacional é fruto das tentativas que realizamos em
nossa prática, pois tanto daquelas que julgamos falhas, quanto daquelas que qualificamos como
perfeitas, podemos mediante uma reflexão individual e/ou posteriormente coletiva, reavaliarmos
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