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O USO DE PORTFÓLIOS: VIVÊNCIAS SIGNIFICATIVAS NO ENSINO

SUPERIOR

Silmara Maria Wierzbicki1 - UNESPAR/UV


Kelen dos Santos Junges2 - UNESPAR/UV

Grupo de Trabalho –Metodologias para o Ensino e Aprendizagem no Ensino Superior


Agência Financiadora: não contou com financiamento.

Resumo

Este artigo tem por objetivo relatar a experiência do uso de portfólio como recurso de
ensino e aprendizagem no Ensino Superior, na formação inicial docente, a partir de
vivências de graduandos do quarto ano do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do
Paraná – UNESPAR/Campus de União da Vitória, na disciplina de Avaliação Educacional, no
decorrer do ano letivo de dois mil e quatorze. As aulas referentes à disciplina citada se deram
com 53 acadêmicos, compreendendo duas turmas pertencentes aos períodos vespertino e
noturno, desenvolvendo-se uma vez na semana em duas aulas conjugadas. O presente estudo
consolidou-se a partir do acompanhamento das atividades desenvolvidas pela disciplina, bem
como, se valeu de um questionário semiestruturado composto por quatro questões, que
coletou dados a respeito da visão e posicionamento dos acadêmicos quanto à experiência da
utilização do portfólio como ferramenta de aprendizagem e de avaliação neste período. O
texto apresenta os principais conteúdos que direcionaram a disciplina de Avaliação
Educacional, ressaltando a experiência da composição de um portfólio individual das
atividades realizadas, despertando nos acadêmicos conhecimentos acerca do processo
avaliativo, que se constitui de criticidade e reflexão. Nesta perspectiva, os acadêmicos
envolvidos relatam a experiência do uso do portfólio, revelando as amplas possibilidades de
utilização deste material, as principais aprendizagens e dificuldades encontradas na sua
elaboração. Considera-se a vivência de uma metodologia reflexiva, compromissada, ética que
se torna um diferencial para todo o processo de ensino e aprendizagem, associando o discurso
apontado na literatura pertinente com a experiência da sala de aula como acadêmicos e futuros
professores.

1
Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR/Campus de União da Vitória. Pós-
graduanda em Didática e Docência do Ensino Superior na Faculdades Integradas do Vale do Iguaçu (Uniguaçu).
E-mail: silmara.mw@hotmail.com.
2
Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Bolsista Capes no Programa
Intercalar de Doutoramento da Universidade de Lisboa. Atualmente é Professora adjunta da UNESPAR/Campus
de União da Vitória; Membro do grupo de pesquisa Paradigmas Educacionais na Formação de Professores
(PEFOP) da PUCPR e do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação: Teoria e Prática (GEPE) - Linha de
Pesquisa Núcleo de Estudos em Formação Inicial e Permanente de Professores da UNESPAR/Campus de União
da Vitória, vinculados ao CNPQ; Coordenadora de Área do Projeto Mão Amiga - CAPES/PIBID.E-mail:
kjunges@brturbo.com.br.

ISSN 2176-1396
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Palavras-chave: Portfólio. Ensino Superior. Formação docente.

Introdução

Uma avaliação coerente e de qualidade é indiscutivelmente importante no decorrer do


processo ensino-aprendizagem em qualquer nível de ensino. A partir desta constatação,
vislumbramos a formação docente como um espaço de profissionais que atuarão diretamente
na educação, frente a conteúdos que serão repassados aos educandos, acompanhando o
desenvolvimento de maneira global e individual da turma e por fim, realizando a avaliação a
qual permitirá verificar os avanços e as principais dificuldades de cada um.
Tendo em vista este processo, torna-se necessário pensar nos fatores da formação
docente que possibilite analisar suas próprias ações, desenvolvendo uma postura crítica e
reflexiva.
Portanto, neste texto, objetiva-se relatar a experiência do uso de portfólio como
recurso de ensino e aprendizagem na formação inicial docente a partir de vivências de
graduandos do quarto ano do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná –
UNESPAR/Campus de União da Vitória, na disciplina de Avaliação Educacional no decorrer
do ano letivo de 2014. Evidencia-se a maneira como se desenvolveram as aulas da disciplina
de Avaliação Educacional, a partir da proposta de construção de um portfólio individual como
prática do componente curricular.
Este estudo consolidou-se a partir do acompanhamento das atividades desenvolvidas
pela disciplina de Avaliação educacional durante o ano letivo e na análise de relatos de
experiência de acadêmicos do curso de Pedagogia da Unespar/Campus de União da Vitória,
bem como se valeu de um questionário com quatro questões abertas, que coletou dados a
respeito da visão e posicionamento dos acadêmicos quanto à experiência de utilização do
portfólio como ferramenta de aprendizagem e de avaliação neste período.
O questionário foi composto por quatro perguntas, as quais poderiam ser respondidas
pelos acadêmicos em anonimato ou não. Ao total, foram distribuídos e respondidos cinquenta
e três questionários, sendo que dezenove respondidos pela turma do quarto ano de Pedagogia
do turno vespertino e os demais trinta e quatro por acadêmicos do turno noturno.
O preenchimento dos questionários oportunizou aos acadêmicos expressassem suas
opiniões e ideias acerca da constituição de um portfólio, revelando a experiência que essa
atividade proporcionou aos envolvidos.
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Ainda, torna-se possível notar que a formação docente inicial se dá nesses espaços de
diálogo e análise das ações, ou seja, o acadêmico encontra-se como protagonista deste
processo, como produtor do seu próprio conhecimento que futuramente poderá ser exercido
profissionalmente.

Delineamento das aulas de Avaliação Educacional

De acordo com cada conteúdo descrito no plano de ensino da disciplina de Avaliação


Educacional, foram acordadas formas de registrar e organizar as aprendizagens dos
acadêmicos envolvidos em um portfólio, entendendo, como Soares (2012, p.4), que:

Muitas são as alternativas metodológicas e instrumentais que podem ser aplicadas na


(re)significação e (re)construção da prática avaliativa no sentido de conferir-lhe um
sentido mais democrático, participativo e social. Entre essas alternativas destacamos
o portfólio, por considerá-lo, em sua especificidade, um instrumento que permite ao
aluno em formação refletir sobre a trajetória da construção do conhecimento e
compreender melhor o processo de apreensão do saber constituído.

Portanto, durante o desenvolvimento desta disciplina curricular, o portfólio foi


concebido como explica Behrens (2008), como uma coletânea organizada de todas as
atividades realizadas pelo aluno durante determinado programa de aprendizagem, com
objetivos e conteúdos definidos. Trata-se, então, de um registro sistematizado da produção
dos alunos durante determinado período de tempo, propiciando uma visão integral do
processo educativo. Deste modo, o portfólio para Villas Boas (2005, p. 293), “[...] é
considerado não apenas um procedimento de avaliação, mas o eixo organizador do trabalho
pedagógico, em virtude da importância que passa a ter durante todo o processo.”
Com base nestas concepções das autoras, todas as atividades realizadas em sala de
aula (e o registro das reflexões provenientes destas atividades) alimentavam o portfólio de
cada acadêmico, que foi organizado à medida que as aulas se desenvolviam. A proposta da
disciplina era vivenciar na prática uma proposta de avaliação condizente com teorias atuais
sobre avaliação educacional, num viés formativo como explicam Villas Boas (2004, 2011) e
Behrens (2008). Para tanto, ocorreram leituras de textos, aulas expositivas e dialogadas,
atividades individuais e em grupo, análise de vídeos, troca de experiências, palestras,
dinâmicas de grupo, entre outras. E todas as atividades ao serem inseridas no portfólio eram
refletidas pelo acadêmico e pelo grupo, em conjunto para a Professora responsável pela
disciplina, uma vez que “a organização pelo aluno das suas produções em portfólio permite ao
professor discutir em conjunto com eles, o desenvolvimento e a pertinência da qualidade das
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produções apresentadas.” (BEHRENS, 2008, p. 103-104). Neste texto serão citadas algumas
das atividades realizadas e que estruturaram o portfólio.
Em relação à estruturação do portfólio, primeiramente foi realizada a leitura e
discussão do estudo de Behrens (2008) a respeito do conceito e relevância do uso deste
recurso no processo de ensino e aprendizagem. Como proposta de construção do portfólio, os
acadêmicos foram orientados a inserir todas as atividades e registros das reflexões realizadas
durante o desenvolvimento da disciplina em uma pasta de catálogo com folhas plásticas no
tamanho A4, para que, ao final do período letivo fosse revisitado, servindo como foco de
análise das aprendizagens/vivências construídas e de seu significado para a prática docente.
A atividade seguinte foi o estudo do conceito de “avaliação”. Antes de recorrer à
literatura pertinente, foi solicitado aos acadêmicos para descreverem de maneira espontânea o
que compreendiam em relação à temática. As respostas, mesmo que incertas e confusas
fizeram parte do portfólio, para que, no decorrer das aulas esse conceito pudesse ser
reconstituído com amparo de pesquisas, trabalhos, palestras e diálogos.
As tendências pedagógicas com foco nos conceitos de avaliação educacional presente
em cada uma também fizeram parte dos estudos. Para consolidar essas aprendizagens, foram
realizadas leituras acerca da temática, fundamentadas principalmente em Behrens (2003) e
Mizukami (2009), por fim delineando um quadro que conceituou o aluno, o professor, a
metodologia, a escola e, em especial, a avaliação, em cada uma das tendências pedagógicas:
tradicional, escolanovista, tecnicista e progressista.
No fluir das aulas, ocorreram também três palestras, sendo que cada uma delas possuía
temáticas diferentes e que foram apresentadas por profissionais da educação que em seu
cotidiano lidam com a avaliação, mas que, acima de tudo, priorizam a qualidade e a
perspectiva formativa da mesma, ressaltando a experiência de cada um em relação à
avaliação.
Ao ser realizado um estudo sobre avaliação da aprendizagem na visão de Cipriano
Luckesi, primeiramente foi visualizado um vídeo (LUCKESI, 2012) no qual o autor destaca
conceitos importantes sobre avaliação e como se tem avaliado as aprendizagens atualmente.
Em seguida, elaborou-se um mapa conceitual a partir de um programa de computador de
domínio público denominado “Cmap tools”, que permitiu descrever em forma de esquema
tudo aquilo que foi visto e compreendido.
Em outro momento das aulas, os acadêmicos interagiram na dinâmica do desenho, que
se deu da seguinte forma: cada um recebeu uma orientação de desenho, a tarefa deveria ser
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realizada sem ser mostrada aos colegas, feito isso, todos os colegas avaliaram a todos os
desenhos atribuindo uma nota a partir do estabelecimento de quatro critérios: criatividade,
estética, coerência e adequação ao tema. As notas eram anotadas e ao final comparadas para
que pudessem percebidas por todos aquelas que se assemelhavam e aquelas que possuíam
uma diferença exorbitante. Desta forma, foram tecidas discussões frente a importância da
definição prévia dos critérios para a realização de uma avaliação, sendo que assim quem
avalia e está sendo avaliado possui um parâmetro e está consciente disso.
Seguindo o direcionamento das aulas, os acadêmicos distribuídos em grupos
discutiram e responderam questões sobre os instrumentos de avaliação, percebendo que
existem ainda vários instrumentos comumente utilizados na escola que são considerados
“tradicionais”, mas que estes não precisam ser descartados, mas que possam estar interligados
a outros meios de avaliar e registrar o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. Neste
tocante, foi discutida a importância de se conhecer as várias possibilidades de avaliação,
estabelecendo em conjunto formas mais adequadas e cuidadosas em se avaliar os educandos,
não configurando avaliação apenas como um meio de cobrança e punição.
Outra proposta bastante significativa da aula de Avaliação Educacional foi o Cine
fórum, no qual foi assistido ao filme: O pequeno Nicolau (O PEQUENO, 2010). Assim, foi
possível verificar e discutir diversas características sobre a educação conservadora, como por
exemplo, as situações avaliativas ocorridas na escola, a concepção de avaliação adotada, as
atitudes e a metodologia utilizada pela a professora, as atitudes punitivas e as reações dos
alunos frente a esse cenário educativo e os encaminhamentos de uma “avaliação formativa”
que poderiam ter sido adotados pelos personagens.
Mais adiante, realizou-se uma pesquisa dos mecanismos avaliativos nacionais, dentre
eles: IDEB, INEP, SAEB, ENADE e ENEM. Sob essa ótica, foram definidos conceitos e
discutida a viabilidade e a função de cada um deles no sistema educacional brasileiro.
Já em meados do segundo semestre letivo de 2014, realizou-se uma avaliação
retomando os conteúdos que foram estudados. Usou-se como instrumento uma prova objetiva,
porém com uma dinâmica diferenciada: além das quatro questões objetivas que foram
elaboradas pela Professora responsável pela disciplina, cada acadêmico formulou mais quatro
questões que foram distribuídas aleatoriamente entre os colegas, definindo o valor de cada
uma a partir de critérios trabalhados na disciplina. Foi um momento no qual os acadêmicos
puderam colocar em prática a teoria estudada sobre instrumentos e critérios de avaliação.
Outra diferença é que as avaliações foram corrigidas pelos próprios acadêmicos, notando a
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responsabilidade que existe por trás de uma correção, exigindo atenção e coerência por parte
do professor.
No findar do ano letivo e, consequentemente das aulas, a última proposta de trabalho
para compor o portfólio foi a elaboração novamente de um conceito de “avaliação” por cada
acadêmico. Ao retomarem o conceito elaborado no início do ano letivo, puderam perceber que
tal concepção ganhou mais corpo e consistência a partir das aulas realizadas e da experiência
com o portfólio.
Após a finalização das atividades para a composição dos portfólios, cada acadêmico
trouxe para a aula seu trabalho e, aletoriamente, os portfólios foram distribuídos na turma para
que pudessem apreciar o trabalho do colega e analisar sua estruturação e apresentação. Em
seguida, foram entregues à Professora responsável pela disciplina para sua avaliação final.
Estas foram apenas algumas das atividades realizadas na disciplina no decorrer do ano
letivo. Todas as atividades e situações de aprendizagem aqui descritas fizeram parte do
portfólio que dia a dia eram registradas e inseridas no portfólio. Ao final, o resultado foi
bastante satisfatório, uma vez que ao manusear o portfólio, folhando suas páginas, ocorria um
feedback retomando o desenvolvimento do conhecimento acerca da disciplina de Avaliação
Educacional e das possibilidades do trabalho com portfólios.

O Uso de Portfólios: Constatações e Aprendizagens dos Acadêmicos Envolvidos

Ao final da disciplina, na última aula do ano letivo, os acadêmicos participantes foram


convidados, de forma voluntária e anônima, a responder a um questionário a fim de se avaliar
a experiência do uso de portfólio como recurso de ensino e aprendizagem na formação
inicial docente. Todos os 53 acadêmicos presentes nesta aula (19 respondidos pela turma
do quarto ano de Pedagogia do turno vespertino e 34 por acadêmicos do turno noturno)
responderam e entregaram os questionários preenchidos e, ainda, vários optaram por se
identificar.
As respostas dos acadêmicos às questões foram analisadas e algumas serão
transcritas neste texto de forma a se atingir o objetivo proposto. De forma a preservar a
identidade dos participantes, estes foram identificados no texto por números, conforme
a numeração dada aos questionários e seus relatos encontram-se entre aspas, em itálico e
com recuo diferenciado do texto.
Ao serem solicitadas quais as aprendizagens construídas por meio da construção do
portfólio na disciplina de Avaliação Educacional, primeira questão do questionário, as
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respostas foram bastante semelhantes, uma vez que foram constantes os comentários acerca
do portfólio sendo ele uma modalidade inovadora no processo avaliativo. Nota-se que os
acadêmicos compreenderam e desta forma relataram suas experiências e constatações:

através da construção do Portfólio as aprendizagens foram muitas, mas a que mais


prevalece é a importância de se fazer um arquivo com as atividades para que a
evolução da aprendizagem possa ser vista de forma sistemática. (Acadêmico 29).

A respeito do conceito de portfólio, de acordo com Rezende (2010), a palavra


“portfólio” provém do latium folium e quer dizer folha, no sentido restrito da palavra, porta-
folhas, porém, seu conceito vai além disso. As funções do portfólio evidenciadas pela autora,
não se resumem a um arquivo porta-folhas, mas se refere a um espaço de registrar e construir
aprendizagens significativas. Essa proposta de trabalho propicia momentos de conversa e de
reflexão entre os envolvidos, no caso deste relato de experiência, acadêmicos em formação
docente inicial, de maneira a promover a construção de seu conhecimento como futuro
profissional no âmbito da avaliação, numa perspectiva formativa, como propõe Hadji (2001,
p.20): “a avaliação torna-se formativa na medida em que se inscreve em um projeto educativo
específico, o de favorecer o desenvolvimento daquele que aprende, deixando de lado qualquer
outra preocupação.”
Com isso, entende-se a avaliação como parte integrante de todo o processo de ensino e
não concebendo apenas como resultado final. Tendo em vista a importância do real
aprendizado adquirido por cada um no decorrer das aulas, desconsiderando que seu
desempenho será evidenciado somente em provas e testes.
Deste modo, atenta-se para muitas das vantagens que o portfólio promove no decorrer
das aulas, sendo uma delas o desenvolvimento de hábitos de organização e de seleção de
aprendizagens, muitos dos comentários evidenciaram o impacto positivo e a significância
deste instrumento para o fazer docente:

portfólio é de suma importância para se ter uma avaliação de como iniciamos e de


como findamos uma disciplina e sendo essa disciplina de Avaliação Educacional me
proporcionou um aprendizado em dobro em relação a educação. (Acadêmico 06).

Nessa perspectiva, torna- se indispensável pensar na participação do aluno na própria


avaliação, sendo que ele amplia suas possibilidades de compreender o processo de
ensino/aprendizagem, constituindo sua autonomia e sua capacidade de autoavaliação. Neste
viés, Soares (2012, p. 5) confirma que “o portfólio oportuniza ao professor em formação, por
meio do exercício pedagógico da autoavaliação, experimentar alternativas diversificadas e
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poder, posteriormente, considerá-las como possibilidades avaliativas em sua própria prática


profissional.” Desta maneira, o acadêmico torna-se protagonista das aprendizagens e
participante do processo avaliativo:

aprendi que avaliação é mais que provas e testes formais. Deve ser feito como um
todo, diariamente e de modo contínuo. Que avalie o rendimento do aluno durante
um período e não somente em um dia. (Acadêmico 08).

Nesse sentido, Villas Boas (2004, p.38) destaca que: “O portfólio apresenta várias
possibilidades; uma delas é a sua construção pelo aluno. Nesse caso, o portfólio é uma
coleção de suas produções, as quais apresentam as evidências de sua aprendizagem”. Assim, a
organização de atividades mediante ao portfólio, permite verificar os resultados de todas as
ações, redimensionando a formação docente inicial em questão. Muitas metodologias de
avaliação se tornam equivocadas no instante que destacam o aluno apenas nos resultados,
desconsiderado o caminho pelo qual o mesmo trilhou sem, muitas vezes, compreender os
conteúdos meramente repassados.
No segundo ponto, quando questionados no que diz respeito à experiência vivenciada
com o trabalho de construção de portfólio em sua formação como futuro professor/pedagogo,
verificou-se que as respostas são mais direcionadas ao que esperam para o futuro, tratando-se
de ações que virão a ser desempenhadas com mais consciência e a partir de uma visão mais
abrangente frente à relevância da avaliação. Nas palavras do Acadêmico 12, percebe-se um
posicionamento otimista quanto à utilização do portfólio:

considero um procedimento que permite a reflexão e a autoavaliação tornando a


aprendizagem significativa, portanto, o portfólio irá compor os métodos avaliativos
no exercício da minha profissão. (Acadêmico 12).

Ainda, muitas das respostas chamam a atenção por serem provenientes de acadêmicos
que ao mesmo tempo evidenciam que já atuam na docência, motivo que justifica um certo
conhecimento prévio do portfólio como instrumento avaliador:

já atuo na rede municipal de ensino como professora do 1º ano, então o portfólio é


um método utilizado em todas as escolas. Através dessa vivência percebo que o
portfólio é um apoio para entender como está o desenvolvimento dos meus alunos e
também um recurso que fornece subsídios para a melhoria da metodologia de
ensino. (Acadêmico 26).

Nesta mesma perspectiva, verificam-se relatos semelhantes:


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como educadora, a construção do portfólio, abriu mais um leque de possibilidades


para acompanhar o desenvolvimento educacional dos alunos, percebi que é uma
das avaliações que todas as escolas deveriam aderir. (Acadêmico 22).

Assim, há aqueles que tiveram um primeiro contato com este instrumento de ensino e
de avaliação, que por meio de suas palavras exaltaram suas impressões:

essa foi uma experiência nova, pois ainda não havia trabalhado e feito atividades
através de um portfólio, acredito que o portfólio seja uma ótima maneira de estar
avaliando os alunos, adorei esse método de avaliação. Tenho planos de usar como
método avaliativo futuramente com meus alunos. (Acadêmico 15).

Nesta perspectiva, segundo Behrens (2008, p.103), “o processo de montagem de


portfólio é tanto um modo de ensinar quanto um modo de avaliar, pois o portfólio apresenta-
se como uma coleção de atividades, realizada em certo período de tempo e com um propósito
determinado.” O acadêmico encontrou-se inserido nesta dinâmica que notoriamente permitiu
uma visão mais abrangente a aprendizagens apropriadas para as mais diversas situações
docentes. É o que revela um acadêmico em seu relato:

através da experiência da construção do portfólio percebe-se a importância do


comprometimento e organização que se deve ter com as nossas atividades.
(Acadêmico 09).

Na próxima pergunta do questionário, foi solicitado aos acadêmicos que respondessem


quais as dificuldades encontradas na construção do seu portfólio e quais os pontos fortes dessa
metodologia. Desta maneira, fica evidente que a opção de se utilizar o portfólio no decorrer
do ano letivo, promoveu entre os acadêmicos o reconhecimento sobre a importância da
organização e da assiduidade, virtudes que frequentemente lhes serão exigidas como futuros
profissionais docentes. Isso é notado nas palavras dos acadêmicos:

particularmente, peco na organização, portanto, esta foi minha dificuldade. Os


pontos fortes é poder acompanhar a evolução do aluno e ter responsabilidade sobre
o controle das atividades realizadas. (Acadêmico 08).

E ainda se tratando das dificuldades:

a dificuldade encontrada foi a falta (faltar) em algumas aulas, pois atrapalha o


andamento dos conteúdos. Como ponto forte encontro: a participação, empenho e
análise. (Acadêmico 21).

Neste ínterim, construir e manter em dia um portfólio tornou-se um compromisso e um


desafio para os acadêmicos em formação, uma vez que a pontualidade define a qualidade de
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cada uma das atividades que vão sendo organizadas. Percebe-se assim que a grande maioria
obteve êxito nesta tarefa, ou seja, não encontrou dificuldades no trabalho com o portfólio:

não encontrei nenhuma dificuldade, pelo contrário, sua elaboração é prazerosa


pela organização em si. Ele privilegia a atividade autônoma e responsável, tanto do
aluno como do professor. (Acadêmico 04).

Tais constatações permitem perceber o envolvimento dos acadêmicos de ambas as


turmas de Pedagogia com a proposta de construção de um portfólio, uma vez que seus relatos
evidenciam visões e opiniões de diferentes dimensões, mas convergem na contribuição
significativa que o trabalho com portfólios trouxe para o seu processo de ensino e
aprendizagem como futuros professores.

Considerações Finais

Este texto teve por objetivo relatar a experiência do uso de portfólio como recurso de
ensino e aprendizagem na formação inicial docente a partir de vivências de graduandos
do quarto ano do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná –
UNESPAR/Campus de União da Vitória, na disciplina de Avaliação Educacional no decorrer
do ano letivo de 2014.
Neste viés, foi possível delinear toda a metodologia das aulas, descrevendo algumas
das principais atividades que foram realizadas e que ao final constituíram os portfólios
individuais de cada acadêmico.
Notou-se a amplitude de possibilidades que o uso do portfólio, permitindo a alguns
acadêmicos de pela primeira vez conhecer essa metodologia e a outros a aprimorá-la, uma vez
que vários já atuavam na educação fazendo uso ou conhecendo o portfólio como instrumento
de ensino, aprendizagem e avaliação.
A partir do acompanhamento do desenvolvimento das atividades da disciplina,
observou-se que os acadêmicos, ao terem a oportunidade de elaborar seus próprios portfólios
em consonância com as aulas de Avaliação Educacional, tiveram uma participação mais
efetiva nas aulas, uma vez que em cada aula foram solicitados registros e atividades que iriam
compor o portfólio. Neste entender, ampliou-se a frequência às aulas e, consequentemente,
com a presença de um número maior de acadêmicos, as aulas tornaram-se mais dinâmicas,
repletas de momentos de diálogo e de exposições, tanto por parte da Professora que conduzia
a disciplina, como por parte dos acadêmicos das turmas.
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Ainda, por meio dos conteúdos trabalhados nas aulas da disciplina Avaliação
Educacional, evidencia-se que os mesmos foram determinantes na compreensão do processo
avaliativo que se aprimorou no decorrer do tempo e, da necessidade atual do professor buscar
novas e diferenciadas formas de avaliação numa perspectiva formativa, de forma a atender as
particularidades do processo de aprendizagem de cada aluno, corroborando com Villas Boas
(2008, p. 82) quando afirma que: “o portfólio possibilita ao estudante fazer escolhas e buscar
novas formas de aprender. Em todos os níveis de escolarização isso é importante, mas em
cursos de formação de educadores essa oportunidade ganha dimensão maior.”
Portanto, salienta-se que toda a vivência proporcionada pelo uso do portfólio ampliou
as aprendizagens desse último ano de graduação em Pedagogia, pois permitiu aos acadêmicos,
na prática, a experimentação de uma metodologia reflexiva, compromissada, ética que se
torna um diferencial para todo o processo de ensino e aprendizagem, associando o discurso
apontado na literatura pertinente com a vivência da sala de aula como acadêmicos e futuros
professores.

REFERÊNCIAS

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Petrópolis: Vozes, 2003.

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LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem. São Paulo: Atta Mídia e


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MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU,
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O PEQUENO Nicolau. Direção: Laurent Tirard. França: Fidelity Films, 2010. 1 DVD.

REZENDE, Márcia Ambrósio Rodrigues. A relação pedagógica e a avaliação no espelho


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SOARES, Silvia Lúcia. Avaliação formativa, portfólio e a autoavaliação. In ENDIPE -


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