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SUPERIOR
Resumo
Este artigo tem por objetivo relatar a experiência do uso de portfólio como recurso de
ensino e aprendizagem no Ensino Superior, na formação inicial docente, a partir de
vivências de graduandos do quarto ano do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do
Paraná – UNESPAR/Campus de União da Vitória, na disciplina de Avaliação Educacional, no
decorrer do ano letivo de dois mil e quatorze. As aulas referentes à disciplina citada se deram
com 53 acadêmicos, compreendendo duas turmas pertencentes aos períodos vespertino e
noturno, desenvolvendo-se uma vez na semana em duas aulas conjugadas. O presente estudo
consolidou-se a partir do acompanhamento das atividades desenvolvidas pela disciplina, bem
como, se valeu de um questionário semiestruturado composto por quatro questões, que
coletou dados a respeito da visão e posicionamento dos acadêmicos quanto à experiência da
utilização do portfólio como ferramenta de aprendizagem e de avaliação neste período. O
texto apresenta os principais conteúdos que direcionaram a disciplina de Avaliação
Educacional, ressaltando a experiência da composição de um portfólio individual das
atividades realizadas, despertando nos acadêmicos conhecimentos acerca do processo
avaliativo, que se constitui de criticidade e reflexão. Nesta perspectiva, os acadêmicos
envolvidos relatam a experiência do uso do portfólio, revelando as amplas possibilidades de
utilização deste material, as principais aprendizagens e dificuldades encontradas na sua
elaboração. Considera-se a vivência de uma metodologia reflexiva, compromissada, ética que
se torna um diferencial para todo o processo de ensino e aprendizagem, associando o discurso
apontado na literatura pertinente com a experiência da sala de aula como acadêmicos e futuros
professores.
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Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR/Campus de União da Vitória. Pós-
graduanda em Didática e Docência do Ensino Superior na Faculdades Integradas do Vale do Iguaçu (Uniguaçu).
E-mail: silmara.mw@hotmail.com.
2
Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Bolsista Capes no Programa
Intercalar de Doutoramento da Universidade de Lisboa. Atualmente é Professora adjunta da UNESPAR/Campus
de União da Vitória; Membro do grupo de pesquisa Paradigmas Educacionais na Formação de Professores
(PEFOP) da PUCPR e do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação: Teoria e Prática (GEPE) - Linha de
Pesquisa Núcleo de Estudos em Formação Inicial e Permanente de Professores da UNESPAR/Campus de União
da Vitória, vinculados ao CNPQ; Coordenadora de Área do Projeto Mão Amiga - CAPES/PIBID.E-mail:
kjunges@brturbo.com.br.
ISSN 2176-1396
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Introdução
Ainda, torna-se possível notar que a formação docente inicial se dá nesses espaços de
diálogo e análise das ações, ou seja, o acadêmico encontra-se como protagonista deste
processo, como produtor do seu próprio conhecimento que futuramente poderá ser exercido
profissionalmente.
produções apresentadas.” (BEHRENS, 2008, p. 103-104). Neste texto serão citadas algumas
das atividades realizadas e que estruturaram o portfólio.
Em relação à estruturação do portfólio, primeiramente foi realizada a leitura e
discussão do estudo de Behrens (2008) a respeito do conceito e relevância do uso deste
recurso no processo de ensino e aprendizagem. Como proposta de construção do portfólio, os
acadêmicos foram orientados a inserir todas as atividades e registros das reflexões realizadas
durante o desenvolvimento da disciplina em uma pasta de catálogo com folhas plásticas no
tamanho A4, para que, ao final do período letivo fosse revisitado, servindo como foco de
análise das aprendizagens/vivências construídas e de seu significado para a prática docente.
A atividade seguinte foi o estudo do conceito de “avaliação”. Antes de recorrer à
literatura pertinente, foi solicitado aos acadêmicos para descreverem de maneira espontânea o
que compreendiam em relação à temática. As respostas, mesmo que incertas e confusas
fizeram parte do portfólio, para que, no decorrer das aulas esse conceito pudesse ser
reconstituído com amparo de pesquisas, trabalhos, palestras e diálogos.
As tendências pedagógicas com foco nos conceitos de avaliação educacional presente
em cada uma também fizeram parte dos estudos. Para consolidar essas aprendizagens, foram
realizadas leituras acerca da temática, fundamentadas principalmente em Behrens (2003) e
Mizukami (2009), por fim delineando um quadro que conceituou o aluno, o professor, a
metodologia, a escola e, em especial, a avaliação, em cada uma das tendências pedagógicas:
tradicional, escolanovista, tecnicista e progressista.
No fluir das aulas, ocorreram também três palestras, sendo que cada uma delas possuía
temáticas diferentes e que foram apresentadas por profissionais da educação que em seu
cotidiano lidam com a avaliação, mas que, acima de tudo, priorizam a qualidade e a
perspectiva formativa da mesma, ressaltando a experiência de cada um em relação à
avaliação.
Ao ser realizado um estudo sobre avaliação da aprendizagem na visão de Cipriano
Luckesi, primeiramente foi visualizado um vídeo (LUCKESI, 2012) no qual o autor destaca
conceitos importantes sobre avaliação e como se tem avaliado as aprendizagens atualmente.
Em seguida, elaborou-se um mapa conceitual a partir de um programa de computador de
domínio público denominado “Cmap tools”, que permitiu descrever em forma de esquema
tudo aquilo que foi visto e compreendido.
Em outro momento das aulas, os acadêmicos interagiram na dinâmica do desenho, que
se deu da seguinte forma: cada um recebeu uma orientação de desenho, a tarefa deveria ser
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realizada sem ser mostrada aos colegas, feito isso, todos os colegas avaliaram a todos os
desenhos atribuindo uma nota a partir do estabelecimento de quatro critérios: criatividade,
estética, coerência e adequação ao tema. As notas eram anotadas e ao final comparadas para
que pudessem percebidas por todos aquelas que se assemelhavam e aquelas que possuíam
uma diferença exorbitante. Desta forma, foram tecidas discussões frente a importância da
definição prévia dos critérios para a realização de uma avaliação, sendo que assim quem
avalia e está sendo avaliado possui um parâmetro e está consciente disso.
Seguindo o direcionamento das aulas, os acadêmicos distribuídos em grupos
discutiram e responderam questões sobre os instrumentos de avaliação, percebendo que
existem ainda vários instrumentos comumente utilizados na escola que são considerados
“tradicionais”, mas que estes não precisam ser descartados, mas que possam estar interligados
a outros meios de avaliar e registrar o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. Neste
tocante, foi discutida a importância de se conhecer as várias possibilidades de avaliação,
estabelecendo em conjunto formas mais adequadas e cuidadosas em se avaliar os educandos,
não configurando avaliação apenas como um meio de cobrança e punição.
Outra proposta bastante significativa da aula de Avaliação Educacional foi o Cine
fórum, no qual foi assistido ao filme: O pequeno Nicolau (O PEQUENO, 2010). Assim, foi
possível verificar e discutir diversas características sobre a educação conservadora, como por
exemplo, as situações avaliativas ocorridas na escola, a concepção de avaliação adotada, as
atitudes e a metodologia utilizada pela a professora, as atitudes punitivas e as reações dos
alunos frente a esse cenário educativo e os encaminhamentos de uma “avaliação formativa”
que poderiam ter sido adotados pelos personagens.
Mais adiante, realizou-se uma pesquisa dos mecanismos avaliativos nacionais, dentre
eles: IDEB, INEP, SAEB, ENADE e ENEM. Sob essa ótica, foram definidos conceitos e
discutida a viabilidade e a função de cada um deles no sistema educacional brasileiro.
Já em meados do segundo semestre letivo de 2014, realizou-se uma avaliação
retomando os conteúdos que foram estudados. Usou-se como instrumento uma prova objetiva,
porém com uma dinâmica diferenciada: além das quatro questões objetivas que foram
elaboradas pela Professora responsável pela disciplina, cada acadêmico formulou mais quatro
questões que foram distribuídas aleatoriamente entre os colegas, definindo o valor de cada
uma a partir de critérios trabalhados na disciplina. Foi um momento no qual os acadêmicos
puderam colocar em prática a teoria estudada sobre instrumentos e critérios de avaliação.
Outra diferença é que as avaliações foram corrigidas pelos próprios acadêmicos, notando a
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responsabilidade que existe por trás de uma correção, exigindo atenção e coerência por parte
do professor.
No findar do ano letivo e, consequentemente das aulas, a última proposta de trabalho
para compor o portfólio foi a elaboração novamente de um conceito de “avaliação” por cada
acadêmico. Ao retomarem o conceito elaborado no início do ano letivo, puderam perceber que
tal concepção ganhou mais corpo e consistência a partir das aulas realizadas e da experiência
com o portfólio.
Após a finalização das atividades para a composição dos portfólios, cada acadêmico
trouxe para a aula seu trabalho e, aletoriamente, os portfólios foram distribuídos na turma para
que pudessem apreciar o trabalho do colega e analisar sua estruturação e apresentação. Em
seguida, foram entregues à Professora responsável pela disciplina para sua avaliação final.
Estas foram apenas algumas das atividades realizadas na disciplina no decorrer do ano
letivo. Todas as atividades e situações de aprendizagem aqui descritas fizeram parte do
portfólio que dia a dia eram registradas e inseridas no portfólio. Ao final, o resultado foi
bastante satisfatório, uma vez que ao manusear o portfólio, folhando suas páginas, ocorria um
feedback retomando o desenvolvimento do conhecimento acerca da disciplina de Avaliação
Educacional e das possibilidades do trabalho com portfólios.
respostas foram bastante semelhantes, uma vez que foram constantes os comentários acerca
do portfólio sendo ele uma modalidade inovadora no processo avaliativo. Nota-se que os
acadêmicos compreenderam e desta forma relataram suas experiências e constatações:
aprendi que avaliação é mais que provas e testes formais. Deve ser feito como um
todo, diariamente e de modo contínuo. Que avalie o rendimento do aluno durante
um período e não somente em um dia. (Acadêmico 08).
Nesse sentido, Villas Boas (2004, p.38) destaca que: “O portfólio apresenta várias
possibilidades; uma delas é a sua construção pelo aluno. Nesse caso, o portfólio é uma
coleção de suas produções, as quais apresentam as evidências de sua aprendizagem”. Assim, a
organização de atividades mediante ao portfólio, permite verificar os resultados de todas as
ações, redimensionando a formação docente inicial em questão. Muitas metodologias de
avaliação se tornam equivocadas no instante que destacam o aluno apenas nos resultados,
desconsiderado o caminho pelo qual o mesmo trilhou sem, muitas vezes, compreender os
conteúdos meramente repassados.
No segundo ponto, quando questionados no que diz respeito à experiência vivenciada
com o trabalho de construção de portfólio em sua formação como futuro professor/pedagogo,
verificou-se que as respostas são mais direcionadas ao que esperam para o futuro, tratando-se
de ações que virão a ser desempenhadas com mais consciência e a partir de uma visão mais
abrangente frente à relevância da avaliação. Nas palavras do Acadêmico 12, percebe-se um
posicionamento otimista quanto à utilização do portfólio:
Ainda, muitas das respostas chamam a atenção por serem provenientes de acadêmicos
que ao mesmo tempo evidenciam que já atuam na docência, motivo que justifica um certo
conhecimento prévio do portfólio como instrumento avaliador:
Assim, há aqueles que tiveram um primeiro contato com este instrumento de ensino e
de avaliação, que por meio de suas palavras exaltaram suas impressões:
essa foi uma experiência nova, pois ainda não havia trabalhado e feito atividades
através de um portfólio, acredito que o portfólio seja uma ótima maneira de estar
avaliando os alunos, adorei esse método de avaliação. Tenho planos de usar como
método avaliativo futuramente com meus alunos. (Acadêmico 15).
cada uma das atividades que vão sendo organizadas. Percebe-se assim que a grande maioria
obteve êxito nesta tarefa, ou seja, não encontrou dificuldades no trabalho com o portfólio:
Considerações Finais
Este texto teve por objetivo relatar a experiência do uso de portfólio como recurso de
ensino e aprendizagem na formação inicial docente a partir de vivências de graduandos
do quarto ano do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná –
UNESPAR/Campus de União da Vitória, na disciplina de Avaliação Educacional no decorrer
do ano letivo de 2014.
Neste viés, foi possível delinear toda a metodologia das aulas, descrevendo algumas
das principais atividades que foram realizadas e que ao final constituíram os portfólios
individuais de cada acadêmico.
Notou-se a amplitude de possibilidades que o uso do portfólio, permitindo a alguns
acadêmicos de pela primeira vez conhecer essa metodologia e a outros a aprimorá-la, uma vez
que vários já atuavam na educação fazendo uso ou conhecendo o portfólio como instrumento
de ensino, aprendizagem e avaliação.
A partir do acompanhamento do desenvolvimento das atividades da disciplina,
observou-se que os acadêmicos, ao terem a oportunidade de elaborar seus próprios portfólios
em consonância com as aulas de Avaliação Educacional, tiveram uma participação mais
efetiva nas aulas, uma vez que em cada aula foram solicitados registros e atividades que iriam
compor o portfólio. Neste entender, ampliou-se a frequência às aulas e, consequentemente,
com a presença de um número maior de acadêmicos, as aulas tornaram-se mais dinâmicas,
repletas de momentos de diálogo e de exposições, tanto por parte da Professora que conduzia
a disciplina, como por parte dos acadêmicos das turmas.
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Ainda, por meio dos conteúdos trabalhados nas aulas da disciplina Avaliação
Educacional, evidencia-se que os mesmos foram determinantes na compreensão do processo
avaliativo que se aprimorou no decorrer do tempo e, da necessidade atual do professor buscar
novas e diferenciadas formas de avaliação numa perspectiva formativa, de forma a atender as
particularidades do processo de aprendizagem de cada aluno, corroborando com Villas Boas
(2008, p. 82) quando afirma que: “o portfólio possibilita ao estudante fazer escolhas e buscar
novas formas de aprender. Em todos os níveis de escolarização isso é importante, mas em
cursos de formação de educadores essa oportunidade ganha dimensão maior.”
Portanto, salienta-se que toda a vivência proporcionada pelo uso do portfólio ampliou
as aprendizagens desse último ano de graduação em Pedagogia, pois permitiu aos acadêmicos,
na prática, a experimentação de uma metodologia reflexiva, compromissada, ética que se
torna um diferencial para todo o processo de ensino e aprendizagem, associando o discurso
apontado na literatura pertinente com a vivência da sala de aula como acadêmicos e futuros
professores.
REFERÊNCIAS
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU,
2009.
O PEQUENO Nicolau. Direção: Laurent Tirard. França: Fidelity Films, 2010. 1 DVD.
______. Virando a escola do avesso por meio da avaliação. Campinas: Papirus, 2008.