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Mercado de Capitais

I- Introdução

1. Direito do Mercado de Valores Mobiliários e DVM


 O DVM não é facilmente reconduzível às classificações típicas de ramos do
direito- sobretudo quanto às suas fontes – direito nacional e internacional ou público e
privado- porque tem uma forte heterogeneidade de conteúdos.
 Por um lado, regula-se o DVM institucional, isto é a disciplina das instituições do
sistema financeiro relacionadas com os valores mobiliários e o seu mercado – entidades
de supervisão, emitentes, entidades gestoras do mercado, etc.
 Em segundo lugar o estudo das dinâmicas de mercado e da sua principal figura –
a OPA e as OPD.
 Por último há um terceiro elemento dentro deste ramo que se prende com os
valores mobiliários propriamente ditos.
 Em suma trata dos valores mobiliários, dos mercados onde são transacionados e
instituições que com ele se relacionam.
 Alguns destes conteúdos estão extremamente ligados às outras áreas
financeiras- bancário e seguros. Esta conexão com o sistema financeiro tem como
consequência a sua internacionalização e a sua privatização. Bem como outras
disposições orientadas para este sistema – exemplo disso é o 101º da CRP.
 Hoje, temos assistido a tentativas de aproximação dos diferentes setores
procurando dar um tratamento unitário – por um lado a reunião de supervisores em
alguns órgãos (conselho nacional de supervisores financeiros) ou por via da criação de
uma autoridade única como ocorre em Inglaterra. Este fenómeno é ainda incentivado
pela progressiva concentração em conglomerados empresariais que atuam nos três
setores. Por último, para isso contribui uma aproximação da legislação europeia. Esta
heterogeneidade é característica da sua relação com a atividade económica.
 Hoje o sistema jurídico já não é uma realidade compartimentável de forma
simples e estanque. Mas o DVM tem autonomia porque tem soluções e dogmática
próprias.
 A relação entre DVM e atividade económica já se disse que é muito estreita. Dela
o DVM recebe conformações, pressões para que se integrem outros aspetos – assim a
leitura embora jurídica não pode esconder os conceitos que com o direito se
intersectam.
 Este ramo tem apresentado alguma incerteza jurídica com constantes alterações
legislativas. Tal justifica-se pelo seu dinamismo, a juventude do mercado nacional,
intervenções de âmbito político, a novidade e complexidade das normas aplicáveis, e
ainda desenvolvimentos legislativos comunitários.
 Como se disse é um direito dos valores mobiliários e do seu mercado. É o seu
conjunto que afirma a sua autonomia. O DVM puro aproximar-se-ia do Direito das
Sociedades Comerciais. Caso fosse apenas do mercado onde são transacionadas seria
muito próximo do Direito Financeiro. A solução do legislador é de integração de ambos
os setores.
 Um dos princípios deste ramo é o da eficiência- dita que o DVM deve estabelecer
um conjunto de regras que permita um funcionamento harmonioso e capaz de

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promover os objetivos principais do universo económico – também se retira do artigo
101º da CRP. Num sentido mais restrito, este princípio pode ainda ser entendido como
estreitamente respeitante à regulação do mercado – e a criação nele de condições
ótimas de encontro entre a oferta e a procura com elevados padrões de transparência
e informação – artigo 81/f) CRP.
 Decorrência deste princípio, mas com algum conteúdo próprio é o princípio da
transparência. Este princípio visa assegurar a existência de informação completa,
verdadeira, atual, clara e objetiva acerca dos valores mobiliários, uma vez que só assim
o seu valor é percetível. Este princípio tem vários níveis de regulamentação: num
primeiro patamar a regulação da informação prestada por todos os agentes com vista a
diminuição das isometrias informativas. Num segundo patamar relativo ao Direito das
Sociedades Comerciais a regulação do direito à informação dos sócios na sua relação
com a sociedade.
 Também decorrente do princípio da eficiência há que referir o princípio da
correta conformação dos preços de mercado. Os preços devem ser formados indo de
encontro as melhores condições de encontro entre a oferta e a procura, no âmbito de
uma informação simétrica. O artigo 379º CVM vem punir criminalmente quem divulgue
informações falsas, incompletas, entre outros.
 O quarto princípio a apontar é o do equilíbrio entre a defesa do mercado e a
defesa dos investidores. Sem segurança não haveria mercado, sendo assim necessário
garantir que há confiança no mercado para este funcionar. Contudo, se em geral a tutela
de investidores protege o mercado e o seu funcionamento depende disto, por vezes
pode haver o resultado inverso – a defesa de um grupo específico de investidores não
ser confluente com o interesse do mercado. Por esse motivo é necessário conjugar os
dois interesses e equilibra-los.
 Ao nível institucional registam-se os princípios da exclusividade (nas atividades
de intermediação) – artigo 289º/2- que dispõe que só os intermediários financeiros
podem praticar esta atividade de forma profissional.
 Ao nível do DVM puro há a referir o princípio da desformalização – isto é, o uso
de atos simples, formas pouco exigentes, permitindo processos mais céleres. E ainda
uma forte abertura a sistemas alternativos, como se comprova pelo artigo 7º/1.
Também o princípio da desmaterialização – a possibilidade de se recorrer a suportes
automáticos e eletrónicos para representar valores mobiliários.

2. Delimitação e autonomia do DVM


2.1. DVM e direito civil
 Tem uma forte componente de direito das obrigações, não fosse um mercado
um fórum onde são transacionados os instrumentos por via de negócios jurídicos. Assim
as especificidades é serem transacionados valores mobiliários, e serem-no em
mercados.

2.2. DVM e Direito Comercial


 Também se revela evidente – nem que seja porque antigamente estas operações
eram parte do CCom. Independentemente disso já não se verificar ainda há muitas
regras nesta sede que são aplicáveis também ao DVM.
 Ainda assim a presunção é de que se irão afastando, uma vez que a identidade
dos mercados se alterou profundamente durante o século XX.

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2.3. DVM e D. Sociedades Comerciais
 Ramo com grandes proximidades dado o protagonismo das próprias sociedades
no DVM. Forte relevância nas áreas da emissão e distribuição de valores mobiliários.
 A principal diferença é de perspetiva: no DSC a perspetiva fundamental é da
sociedade e do sócio, enquanto que no DVM a referência é a defesa do titular dos
valores mobiliários e do mercado.

2.4. DVM e Direito Bancário


 As razões pelas quais estes ramos se aproximam já foram explicitadas – uma
grande proximidade ao nível institucional, no âmbito da regulação de todo o sistema
financeiro.
 Outro aspeto relevante é o facto de os intermediários financeiros serem em
regra instituições bancárias.

2.5. DVM e Direito Administrativo


 Também se verifica uma conexão com o direito público no âmbito do DVM
institucional e com a natureza da CMVM. Esta relação leva à aplicação de regras de
Direito Administrativo – nem que sejam sancionatórios.

2.6. DVM e Direito Penal


 A relação do DVM com o Direito Penal explica-se pela existência de condutos
incriminadas pela lei relacionadas com o DVM. As figuras são: o abuso de informação –
previsto no artigo 378º do CVM, de manipulação de mercado – 379º, e de desobediência
a ordens ou mandatos legítimos da CMVM – artigo 381º.

2.7. Autonomia do DVM


 JBP diz que a autonomia do DVM está longe de ser inquestionável – tem uma
grande heterogeneidade e frágil coesão interna num convívio de vários outros ramos.
Ainda assim começa a existir uma forte aposta neste ramo e isso é um indício de
crescente autonomia.

3. As Fontes
 Ao nível das fontes internas destacam-se: o CVM- a fonte mais relevante para o
ramo; os regulamentos da CMVM, e há ainda alguma legislação avulsa relativa a valores
mobiliários, e ainda alguma a propósito das contraordenações.
 Ao nível das fontes externas a especial relevância vai como não poderia deixar
de ser para as fontes comunitárias: por um lado a aproximação da legislação entre os
Estados é um dos objetivos do mercado único, tendo ganho fôlego a partir da década de
70: primeiro relativamente à admissão a cotação e requisitos de informação, depois à
construção de um mercado único de serviços de investimento, e por último, mais
recentemente a uniformização de regras específicas sobre valores mobiliários. Há o
relatório Segré, Livro branco da Comissão sobre o Mercado interno, e um conjunto
alargado de Diretivas.
 Há ainda fontes privadas e códigos de conduta – artigo 372º do CVM – isto é
admite-se a existência de autorregulação nalguns casos, dando lugar a uma tradição
anglo-saxónica bem enraizada no sistema financeiro.

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4. Referência breve à evolução histórica do DVM em Portugal
 Recuperação da bolsa em 1901 (antes havia sido criada a Assembleias dos
Homens de Negócio, em 1769);
 CCom em 1833- definia um conjunto de regras para a bolsa, e novo em 1889
aperfeiçoando-as
 DL nº 8/74, de 14 de janeiro visava atualizar as regras existentes, contudo devido
ao 25 de Abril e a suspensão das trocas de valores mobiliários, encerramento das bolsas,
e nacionalizações levou à passagem para segundo plano deste mercado. Mesmo em
1976 quando a bolsa foi reaberta apenas se transacionavam fundos públicos. Até ao
início da década de 80, o volume transacionado é insignificante.
 Em total normalidade regressou em meados da década de 80 com a primeira
emissão de ações por subscrição pública, tendo sido acompanhado por outras
entidades, financeiras e não financeiras. O diploma de 74 continua a vigorar e
totalmente desatualizado.
 Em 1991 surge o CMVM que já detinha uma estruturação relativamente
semelhante à do atual CVM – regulando tanto o DVM como o Mercado de VM. Teve
como consequência uma enorme destatização da bolsa e desgovernamentação dos
mercados, também a criação da CMVM, desmaterialização dos VM nos termos em que
se aludiu, sistemas integrados de informação, entre outros.
 O CVM atual teve como principal objetivo desenvolver o DVM propriamente dito
em vez de se centrar principalmente no mercado. Foi melhor redigido. Também ao nível
do conteúdo houve algumas alterações importantes – situações plurilocalizadas,
reformulação do conceito, conceito de sociedade aberta. Também as associações sem
fins lucrativos que gerem a bolsa passaram a SA tendo depois integrado a Euronext.

II- DVM Institucional

1. Instituições do DVM
 DVM institucional corresponde à disciplina que regula entidades especialmente
envolvidas na emissão e transação de valores mobiliários.

2. Entidades de supervisão
2.1. Modelos
 253º CVM atribui à CMVM a supervisão dos mercados e das ofertas públicas
relativas a valores mobiliários. Sendo por isso quem exerce o principal controlo nesta
matéria. Esta relação de controlo é entre um ente público e um conjunto de atividades
– artigo 359º.
 O artigo 101º da CRP refere que o sistema financeiro é estruturado por lei de
modo a garantir captação de poupanças e a aplicação no desenvolvimento económico
e social. Isto demonstra que há preferência por regulação pública em vez de
autorregulação. Esta é a forma como o Estado tem tendência a atuar hoje em dia na
economia em geral, e nos mercados em específico, não enquanto agente direto, mas
como regulador.
 A forma como se deve organizar as entidades de supervisão também é um tema
amplamente discutido- uma vez que há grande permeabilidade entre as áreas. Surgiu
assim a vontade de criar um organismo que juntasse as 3 entidades. – Conselho Nacional
de Supervisores Financeiros.
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 Conforme também se referiu dá-se primazia à regulação por via de instrumentos
legislativos em vez de autorregulação, dado que a experiência correu mal devido a crises
bancárias, e pelas rápidas alterações no sistema financeiro, designadamente a sua
internacionalização – que criava novas necessidades de proteção dos investidores. Por
último, também devido à harmonização comunitária.

2.2. CMVM
 Organismo especializado e profissionalizado de direito público, dotada de
autonomia administrativa e património próprio.
 As suas principais atribuições são a regulação e a supervisão.

2.3. Outras autoridades: Banco de Portugal e ISP.


 Mesmo sendo a CMVM o órgão de regulação e supervisão por excelência, devido
ao facto de haver cruzamento de atribuições o BP e o ISP têm um papel importante nesta
sede.
 Quanto ao BP verifica-se essa importância quando os intermediários financeiros
são instituições de crédito ou sociedades financeiras, e ainda perante a crescente
existência de produtos financeiros com elementos de mercado monetário.
 O ISP relaciona-se mais com o DVM a propósito da criação de sociedades
gestoras de fundos de pensões, bem como com as suas operações.

3. Entidades emitentes
3.1. Sociedades abertas ao investimento público e a modernização do Direito das
Sociedades
 O CVM introduziu o conceito de sociedade aberta – 13º/1 estabelece os critérios
para que tal seja considerada. A) aquela que tenha sido constituída com base numa
oferta pública de subscrição (dirigida a pessoas com residência ou estabelecimento em
Portugal); B) a sociedade emitente de valores mobiliários do mesmo modo; C) Sociedade
emitente de valores mobiliários que confiram direito à subscrição ou aquisição que
estejam a ser negociadas em mercado regulamentado; D) sociedade que tenha emitido
ações e que tenha alienado pelo menos 10% em oferta pública de venda ou de troca. E)
Sociedade resultante de cisão de uma sociedade aberta ou que incorpore por fusão o
seu património.
 Antigamente existia nos mesmo contornos a sociedade com subscrição pública.
Conforme se pode ver pelo conceito não esgota na sua totalidade as sociedades cotadas
– isto é, aquelas que emitem valores mobiliários admitidos em mercado regulamentado.
Assim há um regime dualista, que por vezes se sobrepõe. Para as sociedades abertas 14º
e ss, e ainda 187º e ss. Para as sociedades cotadas – 244º e ss.
 Houve uma evolução devido a um sem número de escândalos de corporate
governance o que motivou uma regulação mais estrita das sociedades cotadas.

3.2. Sociedades com subscrição pública


3.2.1. Face ao artigo 284º do CSC
 Primeira vez que se utiliza este conceito, em 1986. As principais consequências
eram relativas ao próprio processo de subscrição. O artigo 284º veio expandir a
qualificação para aquelas que tivessem utilizado o processo para um aumento de
capital, ou aquelas cujas ações estivessem em bolsa.

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 Antes a cotação só seria admitida se houvesse uma percentagem do capital
aberta ao público e de garantir que as respetivas ações pudessem ser transacionadas
normalmente sem flutuações sensíveis dos preços.
 As consequências da qualificação seriam em termos de publicidade dos atos -
artigo 167º/2, a questão do regime da OPA obrigatória, regras especiais de eleição de
membros do conselho de administração, e por último a necessidade de estes prestarem
caução – artigo 396º/3.

3.2.2. Equiparada à sociedade com subscrição pública face à versão original do


artigo 527º/2 do CMVM.
 Nesse artigo equiparava-se as sociedades com subscrição pública àquelas que
tivessem dispersado o seu capital pelo público com recurso a outra forma. Servia
essencialmente para a OPA obrigatória.

3.2.3. Artigo 3º/1 do CMVM


 Houve uma alteração que passava por definir as sociedades com subscrição
pública que afastou a equiparação. Também passou a existir a perda dessa qualificação
e a OPA obrigatória e a dispensa da mesma. O conceito seria – sociedades que tenham
parte ou totalidade do seu capital disperso em virtude de terem sido constituídas com
apelo a subscrição pública. Daqui resulta a existência de 2 regimes o do CSC e o do
CMVM contraditórios relativamente à OPA.
 A articulação faz-se tendo presente a diferença de âmbitos em que se inserem.
A diferença está no modo de dispersão.

3.3. Sociedade aberta ao investimento do público no CVM


3.3.1. Qualificação como sociedade aberta
 Como se salientou é bastante diferente de sociedade emitente. Já s elencaram
os requisitos do artigo 13º.
A) aquela que tenha sido constituída com base numa oferta pública de subscrição
(dirigida a pessoas com residência ou estabelecimento em Portugal); vem regulada nos
artigos 279º e seguintes do CSC e 168º CVM.
B) a sociedade emitente de valores mobiliários do mesmo modo;
C) Sociedade emitente de valores mobiliários que confiram direito à subscrição ou
aquisição que estejam a ser negociadas em mercado regulamentado;
D) sociedade que tenha emitido ações e que tenha alienado pelo menos 10% em
oferta pública de venda ou de troca.
E) Sociedade resultante de cisão de uma sociedade aberta ou que incorpore por fusão
o seu património.

3.3.2. Perda da qualidade de sociedade aberta


 Artigo 27º CVM- uma sociedade aberta perde essa qualificação em três
situações:
a) Quando um acionista passe a deter, na sequência de uma OPA mais de 90% dos
votos;
b) Quando a perda dessa qualidade seja determinada em AG, com parecer da
CMVM;

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c) Quando já decorreu um ano sobre a exclusão da negociação das ações em
mercado regulamentado por falta de dispersão do público.

3.3.3. Decorrências de regime de qualificação


 Algumas particularidades ao nível de menções em atos externos, princípio da
igualdade de tratamento, regime das participações qualificadas, regras sobre
deliberações sociais, sobre OPA obrigatória...

3.4. Proximidade com os conceitos de Public Company e Societé faisant Appel


Publique a l’Épargne
 Também no estrangeiro há um tratamento diferente das grandes sociedades
anónimas, e sobretudo às emitentes – daqui resultam temas específicos como os
direitos dos acionistas minoritários, OPA obrigatória, e regras sobre deliberações sociais.
 No Direito Inglês a figura das public companies – definido na própria constituição
– e tem como consequências adaptações na própria estrutura da sociedade e a
negociabilidade pública dos títulos.
 No Direito Francês a societé faisant appel public a l’épargne é verdadeiramente
estrutural que visa a proteção dos minoritários quando há uma forte dispersão. A mais
importante é passar a ser objeto de controlo pela autoridade de supervisão.

4. Entidades gestoras do mercado


4.1. As sociedades gestoras do mercado regulamentado
 O CMVM previa que as bolsas de valores passassem a ser geridas por associações
privadas, ainda que sem fins lucrativos. Contudo a passagem para o CVM impôs que
estas passassem para SA’s com aplicação do regime do CSC – de forma a acelerar o seu
desenvolvimento e dos mercados.
 O principal desidrato é a gestão das bolsas e mercados regulamentados,
podendo ainda gerir outros mercados.

4.2. Sociedades gestoras de sistemas de liquidação e sistemas centralizados de


valores mobiliários
 Poderão ainda ser criadas sociedades com o objeto de gestão e liquidação de
valores mobiliários e de sistemas centralizados. Aplica-se o regime anterior com algumas
alterações.

4.3. As sociedades gestoras de mercados não regulamentados


 Sob qualquer forma societária podem ainda ser constituídas sociedades que
tenham como objeto a gestão de mercados não regulamentos ou prestação de serviços
neste âmbito.

5. Os intermediários Financeiros
5.1. As atividades de intermediação financeira, serviços de investimento e os
serviços auxiliares.
 O artigo 289º CVM distingue três tipos de serviços de intermediação:
a) Serviços de investimento em vm- segundo o artigo 290º a receção e transmissão
de ordens por contra de outrem, bem como a sua execução, gestão de carteiras e a
colocação de OPD.

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b) Serviços auxiliares dos serviços de investimento – registo e depósito das
operações anteriormente mencionadas, concessão de crédito para a sua realização,
consultoria para investimento, bem como sobre estrutura de capital, estratégia
industrial e questões conexas, bem como sobre m&a.
c) Em terceiro lugar, a gestão de instituições de investimento coletivo e o exercício
das funções de depositário de valores mobiliários.
 De acordo com o artigo 289º/2 – o princípio da exclusividade apenas os
intermediários financeiros podem exercer as atividades supramencionadas a título
profissional.

5.2. Os Intermediários Financeiros


 A regulação da atividade financeira, à semelhança do que acontece no setor
bancário também assenta numa tipificação das atividades e reserva-as a um universo de
entidades.
 A matéria da intermediação é uma das grandes preocupações da regulação
europeia- necessidade de um passaporte europeu, e a liberdade de prestação de
serviços no espaço comunitário.

6. Os investidores
 Também nos artigos 30º e seguintes do CVM se estipularam algumas regras
especificamente dirigidas para os investidores.
 Desde logo a distinção entre investidores institucionais e não institucionais –
prevista no mesmo artigo, sendo os primeiros profissionais da atividade financeira. Da
qualificação resultam diferentes graus de proteção.

III- Ofertas Públicas

1. Os conceitos de oferta pública e de oferta particular1


 As ofertas públicas sobre valores mobiliários correspondem a ofertas ao público,
propostas contratuais- ora de compra, ora de venda, ou de troca de valores mobiliários.
Este tipo de oferta encontra-se sujeito a um regime apertado – por exemplo, igualdade
de tratamento dos destinatários, intermediação obrigatória, necessidade de prospeto,
entre outros.
 O artigo 109/1 estabelece o critério para se poder caracterizar uma oferta como
pública: indeterminação dos seus destinatários- desde logo se for um número
indeterminado de pessoas e a pessoas não previamente identificadas- in incertam
personam, que é o critério principal2. Daqui resultam algumas limitações quando ao
intuito protetor que se visa alcançar – por esse motivo equipara-se o critério para os

1
A OPA é uma forma de concentração empresarial pois está intimamente ligada ao controlo da sociedade
emitente de ações – à semelhança do que ocorre com a fusão, ou com o estabelecimento de grupos de
sociedades.
2
Em geral estes critérios de indeterminação podem resultar de duas coisas – resultar de uma pluralidade
a priori indefinida de sujeitos – indefinição essa que pode advir da utilização de meios de comunicação
que impliquem um contato potencial com o público, ou de se dirigir a um conjunto de pessoas sem
identificação prévia. Ou seja, mesmo que haja massificação do meio utilizado ela é tida como pública –
critério que vem ser acolhido no número 2.

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destinatários de sociedade aberta3, e um critério quantitativo – destinar-se a um
número superior a 100 pessoas.4 Em sentido contrário são sempre havidas como
particulares aquelas que se destinarem exclusivamente a investidores qualificados e as
ofertas de subscrição dirigidas por sociedades fechadas ao investimento publico, mesmo
que se destine à totalidade dos seus acionistas.5
 Esta diferença devia servir mais com base num critério qualitativo que
quantitativo- isto é, aqueles que precisam de maior proteção. Proteção essa que é
combatida com acesso a informação, a prestar pela emitente, mas também com um
papel mais ativo da autoridade de supervisão.

2. Regras gerais67
2.1. Intermediação financeira obrigatória
 As ofertas públicas relativas a valores mobiliários em que seja exigível prospeto
devem ser realizadas com intervenção de intermediário financeiro – nos termos do
artigo 113º. Esta intermediação impede a relação direta entre oferentes e adquirentes.
 Prestam os serviços de assistência elaboração do prospeto e do anúncio de
lançamento, preparação e apresentação do pedido de registo na CMVM e apuramento
das declarações de aceitação, bem como aconselhamento sobre os termos da oferta –
são assim essencialmente serviços de natureza técnica.
 Nos termos do artigo 388º e ss há três tipos diferentes de colocação em mercado
– colocação simples – previsto no artigo 338º, onde o IF se compromete a realizar os
melhores esforços para a distribuição completa dos valores mobiliários; o contrato de
tomada firme – previsto no artigo 339º em que o IF adquire os valores mobiliários e os
coloca por sua conta e risco no mercado; e por último o contrato de garantia de
colocação – previsto no artigo 340º - em que o IF está obrigado a adquirir aqueles que
não tenham sido adquiridos ou subscritos pelos destinatários da oferta.

2.2. Registo prévio/aprovação de prospeto


 As OPA’s encontram-se sujeitas a registo prévio na CMVM e os prospetos de
oferta de distribuição à sua aprovação – artigo 114º. A CMVM tem 8 dias na OPA, 10 nos
outros tipos para aprovar ou registar. O registo implica um juízo de legalidade e de
conformidade da oferta com os requisitos legais – 119/1 – ou seja, está em causa evitar
a fraude à lei – critérios de legalidade e não de garantia quando ao conteúdo da
informação ou à situação económica ou financeira.

3
Critério que se prende com a qualidade do emitente – coerente com o conceito de sociedade aberta –
o facto de ter o capital disperso pelo público – e se nos dirigimos a ele, então faz sentido que seja pública.
4
Em rigor aqui não existe verdadeiramente indeterminação dos sujeitos, daí que seja uma mera
equiparação. Também não se pode extrair que perante um número inferior seja privada.
5
O regime não é aplicável – nos termos do 111º - a uma série de situações, uma vez que em princípio por
lhe serem aplicados regimes próprios.
6
Como princípios gerais CÂMARA sugere: princípio da igualdade de tratamento, artigo 112º; princípio da
estabilidade da oferta – do seu conteúdo, no seu processo e de ser irrevogável – artigo 130º.
7
Sumário do processo de lançamento: Fase preliminar: polo de confluência de muitos interesses
conflituantes, por exemplo, o oferente para ter sucesso tem de pagar um prémio, comportando um risco
de abuso de informação privilegiada. Daí que haja um dever de segredo – artigo 174º. Anúncio preliminar:
175º - o seu fundamento é prevenir assimetrias informativas. Menezes Cordeiro diz que entre este
anúncio e o de lançamento, ou de registo podem existir cláusulas mais favoráveis e outras menos – teoria
da conexão – apelo a grupos de cláusulas intimamente relacionadas. Relatório da sociedade visada: artigo
181º- dever de o órgão de administração se pronunciar sobre os termos da oferta.

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2.3. Regras sobre publicidade
 Há 2 tipos de publicidade – ela pode ocorrer antes do registo ou depois. Artigo
122º - a publicidade prévia só é possível quando a CMVM considera que o registo da
oferta é viável e que da publicidade não ocorrer nenhuma perturbação. O processo da
oferta tem de estar já avançado para que tal possa ocorrer. Em confronto com esta
norma, toda a publicidade subsequente ao registo da oferta está sujeita a aprovação
prévia da CMVM, tendo de obedecer os requisitos enunciados no artigo 7º, deve referir
a possibilidade de existir prospeto posteriormente e estar harmonizada com o seu
conteúdo.
 A publicidade relativa à oferta não se pode confundir com a publicidade relativa
à sociedade oferente – neste caso os regimes acima expostos não são aplicáveis, tendo
ainda assim de estar sujeitas ao artigo 7º.

2.4. Lançamento e execução


 Após a aprovação do prospeto ou registo da CMVM o oferente tem de lançar a
oferta – divulgando aos destinatários. Após essa divulgação, e abre-se o período em que
os destinatários poderão aceitar ou não a proposta.8
 A forma de aceitação é a ordem dirigida a intermediário financeiro. Podem ser
revogadas até 5 dias antes do final do prazo. As emitidas nesse período são irrevogáveis.
9

 Terminado o prazo da oferta passa-se à fase de apuramento e publicação do


resultado final da oferta.10

2.5. Vicissitudes da Oferta


 Diz respeito às situações de alteração do conteúdo da oferta por alteração das
circunstâncias, retirada da oferta, a mando da CMVM ou de suspensão da oferta. Há
ainda revisões – revisão da oferta pública de venda por redução do preço anunciado –
artigo 172º, a revisão da OPA por aumento do preço anunciado – artigo 184º, e o
lançamento de OPA concorrente – artigo 185º.

3. OPA
3.1. OPA geral e OPA parcial
 O CVM não define OPA, ainda assim pela regulação que faz permite caracterizar
este instituto – também a OPA é uma proposta contratual – também ela uma oferta ao
público, de um contrato de compra e venda ou de permuta (se for uma OPT) que se
caracteriza por ser dirigida à generalidade dos titulares dos valores mobiliários a que ela
se destina. Como é evidente a regulação não incide apenas sobre a proposta contratual
em si, mas a todo o programa que se inicia com essa proposta.
 A OPA enquanto processo de aquisição de valores mobiliários surge ladeada por
outros programas contratuais colocados na disponibilidade dos agentes do mercado
para concretizar uma aquisição – aquisição direta ao alienante e em mercado.
 Apesar de dirigida à globalidade dos titulares dos valores mobiliários em causa-
artigo 173/1, a mesma pode ter por objeto todas as ações da sociedade visada ou apenas

8
Chama-se a este período o prazo da oferta. Em geral a sua fixação cabe ao oferente. Há alguns limites –
exemplo: 183º.
9
Artigos 126º/2 e 132º.
10
Ver 127º.

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parte delas. Este segundo caso, designado por OPA parcial os destinatários não têm a
certeza se aceitando as ações serão realmente vendidas. Daí que não possa ser aceite
pelo oferente ou entidades mencionadas no artigo 20º.

3.2. Oferta pública de troca


 Pode-se ainda fazer uma distinção quanto à contrapartida que se oferece em
troca das ações. Na generalidade dos casos será uma quantia monetária pelo que se
trata de uma OPA em sentido estrito. Contudo em alguns casos, o pagamento é feito
com base noutros valores mobiliários – e aí designa-se por OPT.
 Os valores mobiliários que servem de troca podem estar já emitidos ou ainda por
emitir. No primeiro caso, o oferente propõe ações representativas do próprio capital.
Corre em simultâneo como uma oferta de subscrição. No caso de valores mobiliários já
emitidos são geralmente ações próprias.
 Como ainda assim se regista uma vontade de aquisição ele é tratado como tal
pelo ordenamento jurídico português. Ainda assim há algumas particularidades: 178º/2
– anúncio preliminar e de lançamento, quando os valores mobiliários não sejam da
própria devem indicar elementos respeitantes ao emitente. Há ainda a possibilidade de
haver prospeto obrigatoriamente.

3.3. Anúncio preliminar


 O início do processo de OPA ocorre com o anúncio preliminar – artigo 175/1. Até
esta data a preparação da oferta está sujeita a dever de segredo, conforme o artigo
174º. Este dever de segredo deve ser entendido de uma forma coerente com os deveres
de informação – se existirem informações previamente ao seu anúncio poderiam existir
desvantagens claras – sobretudo a mitigação do prémio oferecido.
 Estas regras serão violadas caso o oferente ou outra entidade prevista no artigo
174º divulgue a informação ou se o anúncio não for publicado logo depois da tomada
da decisão. Poderá ocorrer que a própria CMVM peça esclarecimentos acerca da
situação.
 Esta tomada de decisão a que se refere o artigo 175º/1 deve ser entendida como
o final de um processo de formação de vontade – assim que ela for completa e definitiva
– ou seja, todas as condições de que depende a formação da vontade de adquirir estão
verificadas.
 Aqui há que dizer ainda que há dois tipos de condições relevantes11. Em primeiro
lugar as condições de que depende a própria formação da vontade – obtenção de
financiamento, por exemplo, que diferem das condições de sucesso da oferta. As
segundas são um elemento da primeira, isto é, formou-se a vontade de lançar uma
proposta, que só verificadas as segundas condições terá sucesso. No segundo grupo são
exemplos de condições as autorizações administrativas, ou aquisição de uma
percentagem mínima, por exemplo. Ainda assim, há uma mistura entre as duas que
confunde o momento em que se considera a decisão tomada.

11
As condições podem ser de decisão da oferta (aqueles de que depende o dever de emitir anúncio
preliminar), das condições da eficácia da oferta (aquelas de que depende a celebração do negócio).
Dentro das segundas podem ser de lançamento (aquelas que têm de se verificar até ao registo – exemplo,
autorizações administrativas), ou condições de aquisição (aquelas que se podem celebrar até ao fim do
processo). Podem ainda dividir-se entre legais e voluntárias.

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 Para que os interessados possam ter acesso à informação sobre a oferta o
anúncio preliminar é decisivo – artigo 176º impõe um conjunto de elementos que nele
devem constar. Estes elementos podem ser obrigatórios e outros que só os serão, à
data do anúncio se já então forem conhecidos – exemplo intermediário financeiro. Isto
permite aproximar mais o momento da tomada de decisão com o do anúncio preliminar.
 O Anúncio preliminar é assim um texto muito simples onde constam os
elementos essenciais – e mesmo que esses não estejam integralmente reunidos.
Admite-se que desde que seja determinável e que os critérios estejam expressos. JBP dá
alguns critérios de determinabilidade: a informação constante do anúncio deverá ser
concreta às circunstâncias a que é aplicável, tão determinado quanto possível,
informação prestada em termos claros, de modo a que a determinabilidade não
dependa de fatores externos. A CMVM deve analisar a informação e garantir que está
tão completa e percetível quanto possível. Faz ainda uma análise de adequação e
determinabilidade.
 O anúncio preliminar além de ser publicado deve ser enviado à CMVM- para que
esta tome conhecimento imediato, à sociedade visada, para o mesmo efeito, às
entidades gestoras do mercado, para que esta tome medidas quanto à negociabilidade
dos títulos se assim o entender, nos termos do artigo 175º. Assume assim propósitos
estritamente informativos. A própria CMVM limita-se a receber sem praticar qualquer
outro ato.
 Conforme se disse este anúncio desencadeia o processo da OPA – apesar de a
oferta não estar lançada, é o início da tramitação que aí se espera vir a concluir. Produz
alguns efeitos jurídicos: cessa o dever de segredo, 175/2 – obriga a que a oferta final
não seja inferior à anunciada; e a registar a oferta. Desencadeia ainda efeitos nos valores
mobiliários que correspondam ao seu objeto, e à sociedade visada – obrigações do
artigo 181º e limites do 182º. Por último qualquer OPA lançada sobre valores mobiliários
da mesma categoria passa a ser tida como OPA concorrente que detém um regime
específico.
 Para que se aceite um limite mínimo e máximo de valores a adquirir é necessário
que conste do anúncio preliminar de acordo com o artigo 176º/2.
 A publicação deste anúncio obriga a pedir o registo em 20 dias em termos não
menos favoráveis- princípio da estabilidade da oferta – o conteúdo está limitado, e as
alterações também.
 O artigo 124/3 e 4 estipula que as condições têm de cumprir cumulativamente
os seguintes requisitos: ser um interesse legítimo do adquirente; não afetarem o
mercado (em razoável equilíbrio com a anterior), a sua verificação não depender do
oferente, doutra forma o oferente poderia ainda determinar o sucesso da oferta, bem
como modifica-la.

3.4. Transações na pendência da OPA


 Sendo a oferta incidente sobre valores mobiliários transacionados em mercados,
estes poderão continuar a sê-lo em absoluta normalidade. As transações ditam o
sucesso ou insucesso da OPA em grande medida – por exemplo se forem transacionadas
a um preço superior ao oferecido.
 Por essa razão há algumas preocupações: oferente e pessoas em relação prevista
no artigo 20º, e de acordo com o artigo 180º estes não poderão negociar fora de bolsa
ações sobre os quais a oferta incide exceto se com autorização da CMVM, com parecer

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prévio da sociedade visada. Razões: equidade no pagamento das contrapartidas,
transparência no mercado. As mesmas entidades devem informar diariamente a CMVM
sobre as transações realizadas. Todas as ações que vier a adquirir contam para efeitos
de quantidade mínima como se fossem aceites na oferta.
 Se a contrapartida inicial não se mostrar equitativa face aos valores pagos
durante a pendência da oferta, esta pode ser revista pela CMVM – bastante relevante
na OPA obrigatória – artigo 188/1. Fora desses casos só por promoção e decisão da
CMVM.
 No que respeita à sociedade visada e aquelas que se encontrem numa relação
prevista no artigo 20º, estas podem adquirir valores mobiliários, desde que cumpram a
disposição do artigo 181º/2a) tendo de informar diretamente a CMVM. 12

3.5. A posição da sociedade visada na vigência da OPA


 O artigo 182º/1 dispõe que a partir do momento em que toma conhecimento da
decisão de lançamento da OPA13 que incida sobre mais de 1/3 dos valores mobiliários
da respetiva categoria e até ao apuramento do resultado ou à cessação do processo, o
órgão de administração da sociedade não pode praticar atos suscetíveis de alterar de
modo relevante a situação patrimonial da sociedade visada, que não se reconduzam à
gestão normal, ou que possam afetar de modo significativo os objetivos do oferente. No
número 3 exceciona-se a aplicação do regime se as obrigações assumidas forem
anteriores ao conhecimento do lançamento da oferta, ou quando os atos sejam
autorizados por deliberação da AG convocada especialmente para o efeito. 14
 Há algumas situações especificas a ter em conta. Em primeiro lugar se o oferente
está a estudar a aquisição, mas ainda não há anúncio preliminar – não há limitação. Por
outro lado, se apesar de já estar formada a vontade ainda estiverem por verificar
algumas condições prévias – para JBP seria contra o espírito do legislador não estender
a esse período- sobretudo porque há a pretensão de antecipar o momento em relação
ao anúncio preliminar. Ainda assim tem de ser um conhecimento fundamentado, firme
na vontade de formar a proposta, bem como da sua iminência. Verificados os requisitos
deve-se antecipar o momento em que os poderes estão limitados. Terceira hipótese em
que não há dúvidas quanto ao lançamento, e há conhecimento completo, simplesmente
ainda se está a preparar o anúncio preliminar, aqui também se deve antecipar. Estas
limitação não se estendem às sociedades do grupo- levanta a hipótese de frustração da
OPA.1516

12
O regime anterior proibia as aquisições – justificava-se um pouco pela ausência de supervisão.
13
Antes era do anúncio preliminar.
14
No CMVM previa-se ainda a possibilidade de atos serem praticados com a autorização da CMVM a
requerimento da administração da sociedade visada.
15
JBP e EA entendem que se houver possibilidade de afetar sociedades dependentes, também sobre as
segundas, incide a limitação.
16
A não aplicação do regime justifica-se por um lado, a possibilidade de incorrer em responsabilidade
civil, uma vez que as obrigações já estavam assumidas. As obrigações também de ter o vencimento antes
da oferta. Doutra forma poderiam ser usadas pela Administração para frustrar as expetativas do oferente.
A segunda justificação relaciona-se com o sucesso ou insucesso da OPA já estar atado à vontade dos
acionistas, logo também detêm poder para autorizar a Administração ainda que isso possa comprometer
a oferta. Exige-se que já tenham a oferta concreta- isto é, durante o prazo da oferta, e ainda
suficientemente representativos da estrutura acionista, isto é, que cumpram a maioria qualificada exigida
para a alteração dos estatutos.

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 Os objetivos finais da aquisição de valores mobiliários podem ser muito variados
vontade de potenciar um crescimento rápido, ou integrar verticalmente, mas também
poderá ser apenas um meio para aplicar o regime de inibição – face a isto o CVM vem
estipular duas regras: tem de ser superior a um terço, e, nos termos do artigo 182º/5 o
oferente torna-se responsável pelos danos causados se o objetivo for a aplicação da
inibição.

3.6. Revisão voluntária da oferta


 O processo da OPA poderá ter uma grande extensão no tempo. Por essa razão é
normal que ao longo do processo, devido às condições externas do mercado ou do
próprio oferente, se alterem e, por conseguinte, que este possa querer rever as
condições que inicialmente foram estabelecidas por si. O artigo 184º vem confirmar isso
mesmo, prevendo que pode haver alteração até 5 dias antes do início do prazo da oferta
– mas tem de ser mais favorável em pelo menos 2%, tendo ainda de se prorrogar o prazo
de acordo com o artigo 184º/3. Tem especialidades em caso de OPA concorrente – 185º.
 Este regime de revisão voluntária da oferta cria alguns problemas – o primeiro
prende-se com o facto de vigorar apenas para revisão de ofertas subsequentes ao seu
lançamento – porque não antes do registo? O artigo 184º não se deve aplicar. Desde
que seja mais favorável que no anúncio preliminar não há problema. Uma outra questão
é a limitação da revisão à contrapartida oferecida (isso apenas até ao anúncio
preliminar). Ao contrário do que acontecia no CMVM não há limites ao número de
revisões. Há alguns argumentos ainda assim a favor de à semelhança do que ocorria no
CMVM que só podia ser revisto uma vez: argumento sistemático (184º com 185º),
histórico, e o princípio da estabilidade do conteúdo da oferta – 124º.

3.7. Ofertas concorrentes


 Caso após a publicação do anúncio preliminar de uma oferta seja lançada outra
OPA segue o regime da OPA concorrente – artigo 185º. Há algumas limitações: não
podem lançar oferta concorrente as pessoas que estejam com o oferente inicial ou com
o oferente concorrente anterior em algumas das situações do 20º/1, salvo autorização
da CMVM. Em segundo lugar, a oferta concorrente não poderá incidir sobre quantidade
de valores mobiliário inferior. Em terceiro lugar tem de ser mais favorável. Em quarto
lugar não pode depender a sua eficácia de uma percentagem superior de aceitações por
titulares.
 A regra geral, portanto, é que a oferta concorrente tem de ser mais favorável
para os seus destinatários do que a oferta inicial – se não fosse assim não havia
justificação para a perturbação que iria provocar. Nem sempre a comparação entre
ofertas é fácil – daí que o código procure facilitá-la no preço e na condição de aceitação
da oferta. No que toca às demais condições das ofertas cabe à CMVM fazer a
comparação. Além destes critérios não é muito fácil determinar em abstrato as
opções.17
 O artigo 185-A/1 estipula que a oferta concorrente deve ser lançada até ao
quinto dia anterior aquele que termine o prazo da oferta inicial. Está em causa aqui o

17
Anteriormente a lei apenas referia a necessidade de melhorar a oferta, e em 5% caso fosse
relativamente à contrapartida. O que parecia não ser forçoso. Esta solução apontava enormes dúvidas
quanto à praticabilidade de vir a considerar mais ou menos favorável. Face a isto, as demais não
poderão ser diminuídas, apenas melhoradas.

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lançamento e não o anúncio preliminar da oferta. Ou seja, tem de ser anunciada a tempo
de o lançamento poder ocorrer até então. Há aqui três situações possíveis: i) o anúncio
preliminar da oferta concorrente ser publicado em momento anterior ao registo na
CMVM da oferta inicial – e aí os prazos não se alteram, ii) se o anúncio da concorrente
for lançado antes do registo da inicial, e aí há redução dos prazos do 175º e 181º, para
permitir que acabe a tempo, iii) por fim quando já não seja possível de todo, e aí deve
ser indeferido o pedido de registo. Além disto, a oferta concorrente tem de poder
terminar em data coincidente com a oferta inicial, que pode não ser a originalmente
fixada – podendo ser prorrogado o prazo pela CMVM.
 O lançamento de uma oferta concorrente tem sempre como consequência a
possibilidade do autor da oferta inicial a rever, de acordo com o artigo 185º-B,
independentemente de o ter feito nos termos do artigo 184º ou não. Devem ser mais
favoráveis em 2%. Segundo a CMVM fazendo-o perde o direito de o fazer nos termos do
artigo 184º. O oferente concorrente não tinha direito a uma nova revisão – havia um
favorecimento da oferta inicial em detrimento da oferta concorrente. Hoje isso já não
acontece. Pode haver uma verdadeira licitação entre os oferentes. Tendo isso em vista,
também faz sentido que os destinatários possam revogar a sua aceitação até ao último
dia.

4. OPA obrigatória
4.1. Enquadramento
 Figura criada no direito inglês exatamente pelas mesmas razões que é
consagrada hoje. Por várias vezes foram adquiridos controlos fora de mercado, sem que
esse prémio fosse partilhado por todos os acionistas. Em 1972 já era obrigatória para
quem detivesse 40% dos direitos de voto, tendo sido posteriormente reduzido para 30%.
 Em Portugal no projeto de CSC da autoria de Raúl Ventura começam as
abordagens ao problema. Ainda assim era irrelevante dado a inexistência de OPAs.
Depois quando apareceram foram incluídas no CSC. Posteriormente passou para o
CMVM, e com a entrada em vigor do CVM houve uma nova reforma do regime.

4.2. Delimitação da obrigação no que respeita à sociedade emitente


 Nos termos do artigo 187º/1 a OPA obrigatória diz sempre respeito a
participações em sociedades abertas ao investimento público, e não apenas a
participações em sociedades emitentes de valores mobiliários admitidos à negociação
em mercado. Daí que seja uma importante consequência da qualificação como
sociedade aberta.

4.3. Limites de aquisição e/ou detenção geradores da obrigação


 Não basta que a sociedade visada seja aberta. Nos termos do artigo 187º/1 o
dever de lançamento depende se a participação numa sociedade aberta ultrapasse,
diretamente ou nos termos do artigo 20º, um terço ou 50%. São cumulativos e não
alternativos – se ultrapassar os 50% derroga-se o dever de lançar a segunda OPA- artigo
189/1a).
 Em geral há correspondência entre a % de capital social e a % de direitos de voto,
mas há algumas situações excecionais a considerar:
i) Em primeiro lugar as ações de voto plural estão proibidas. Contudo, antes da
entrada em vigor do CSC não o estavam. E apenas produzindo efeito para futuro poderá

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ocorrer que essa situação ainda se verifique hoje em dia. Quer estejam na dependência
de ações detidas ou não se justifica a sua contagem. O esquema da obrigatoriedade
depende essencialmente do voto, daí que faça todo o sentido.
ii) A segunda situação a considerar é a existência de direitos de voto, isto é, se
existir um vote cap prevista no artigo 384/2 do CSC. Aqui podem existir mais problemas
no caso de um acionista deter uma percentagem do capital social que obrigue ao
lançamento da OPA, mas que detenha direito de voto inferiores a essa mesma
percentagem.
iii) A terceira situação a analisar é a existência de ações preferenciais sem voto.
Numa primeira abordagem poderia dizer-se que estes instrumentos não conduziriam a
qualquer alteração em termos de contagem de votos para a obrigatoriedade do
lançamento da OPA. O problema é que estas ações podem vir a conferir direito de voto,
nos termos do artigo 342º/3 do CSC – perante o não pagamento em dois exercícios
sociais dos dividendos prioritários a que tem direito. Perante a mera possibilidade de
isso acontecer não parece razoável contabilizar. O mesmo pode não ocorrer no caso
de, entretanto se materializar em direitos de voto – Raúl Ventura vem dizer que essa
detenção de direitos de voto é meramente transitória, ao contrário da obrigação de
lançar a OPA o que poderá ser demasiado oneroso.
iv) Por último uma situação especial que merece a nossa atenção é a existência de
ações próprias afeta de forma distinta a obrigatoriedade de lançamento da OPA. Para
ALAIN VIANDIER não devem ser suprimidos do conjunto total de direitos de voto – por
um lado porque essa suspensão do exercício do direito de voto, resultante de a
sociedade deter ações próprias é temporária, e por outro lado porque é da natureza do
titular e não do título que resulta a suspensão. JBP discorda- direitos de votos reais não
incluem aqueles que estão suspensos pelas ações próprias.

4.4. As derrogações e a suspensão do dever de lançamento


 O artigo 189º consagra exceções ao efeito do dever de lançar a OPA, havendo
razões concretas para que tal ocorra. Há três formas de regime que obstam à verificação
do efeito de dever de lançamento:
i) O primeiro regime é o das dispensas – sempre com análise prévia da CMVM –
feita uma ponderação de interesses. Aqui há uma obrigação e a CMVM dispensa essa
prestação.
ii) O segundo regime a ter em conta é o das derrogações – estas funcionam de
modo automático e sem dependência de qualquer declaração não deixam margem de
discricionariedade à autoridade. Assim, indica o artigo 189º que o disposto no artigo
187º não se verifica perante o facto de a obrigatoriedade resultar de um dos factos aí
previstos- assim a derrogação equivale a uma não obrigação.
A primeira situação de derrogação é a ultrapassagem resultar de uma OPA sobre a
totalidade dos valores mobiliários, desde que cumpra as obrigações da OPA obrigatória
em termos de preço, por exemplo. A segunda situação prevista é a decorrência de um
plano de saneamento financeiro. A terceira é se a ultrapassagem do limite resultar de
fusão de sociedades, se constar que da deliberação da AG que resultaria no lançamento
da OPA. Tem em vista aliviar o processo de fusão que já de si é longo e demorado,
rodeada de transparência e publicidade que permitem aos sócios formarem a sua
vontade. Ainda assim exige-se conhecimento expresso que se não fora a sua autorização
havia lugar à OPA. Há ainda suspensão do dever de lançar a OPA se a sociedade se

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obrigar a pôr termo à situação em 120 dias – quando há razões circunstâncias que
provocaram a ultrapassagem do limite pode-se justificar. Se não cumprir deve lançar a
OPA em condições não menos favoráveis que as que lançaria antes da suspensão.
iii) O terceiro grupo é misto – integra tanto dispensas como derrogações. Vigorou
apenas antes da entrada em vigor do CVM.

4.5. A contrapartida
 Para não esvaziar o conteúdo útil de uma OPA obrigatória também é necessário
regular as contrapartidas mínimas a oferecer – doutra forma era muito fácil não o
efetivar. O 188º também impõe regras quanto à contrapartida.
 Assim, a contrapartida da oferta será em dinheiro, ou mesmo que em valores
mobiliários ser acompanhada de uma alternativa em dinheiro, e nesse caso deve haver
equivalência.
 A contrapartida também não pode ser inferior aos seguintes montantes – maior
preço pago pelo oferente nos seis meses anteriores ou do preço médio ponderado
desses valores apurado em mercado regulamentado durante o mesmo período.
 Se a contrapartida não puder ser determinada com recurso aos critérios ou se a
CMVM entender que a contrapartida não é justa ou equitativa, essa entidade deve
nomear auditor independente para fixar.18

4.6. Incumprimento do dever de lançamento da oferta


 Perante o incumprimento do dever de lançamento da OPA há consequências em
três níveis diferentes:
i) Inibição de direitos de voto e de direitos a dividendos inerente a ações: tem como
objetivo reproduzir a situação que existia na ausência das aquisições que geraram a
obrigação de lançamento. Não afetam outros direitos societários. Esta sanção tem
caráter automático. Vigora por um prazo de 5 anos, cessando com a publicação de
anúncio preliminar, não podendo a contrapartida ser inferior àquela que seria prestada
caso fosse cumprida. A cessação do dever de lançamento com a venda dos títulos não
obsta à responsabilidade civil.
Caso resulte de uma relação prevista no artigo 20º poderá não ser suficiente inibir as
ações do próprio titular. Podendo por exemplo estender ao sócio em acordo parassocial.
ii) Nos termos do artigo 193º do CVM ainda responde civilmente pelos danos
causados- sobretudo aos titulares das ações, mas faz sentido que por exemplo também
deva indemnizar as pessoas que por não ter lançado a OPA viram os seus direitos ser
inibidos (se numa relação do artigo 20º). Geralmente o dano é a diferença entre a
contrapartida mínima e o valor pelo qual alienou os valores mobiliários. Se for um mero
atraso pagará um juro.
iii) Responsabilidade contraordenacional nos termos do artigo 393º.

5. Aquisição tendente ao domínio total


5.1. Aquisição potestativa

18
Pode acontecer quando por exemplo, não esteja admitido em mercado regulamentado, ou não haja
transações.

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 Está em causa a existência de domínio qualificado – 90% do capital social na lei
societária e os respetivos 90% dos direitos de voto – assim podem forçar a aquisição ou
a alienação.
 Relaciona-se com a OPA obrigatória – pois só pode ocorrer depois de feita uma
OPA geral.

5.2. Alienação potestativa


 196º- Convite a contratar pelo sócio que desencadeia efeitos peculiares – pode
haver requerimento à CMVM para determinar contrapartida, por exemplo.

5.3. Confronto com o artigo 490º CSC.


 O CSC regula a questão numa perspetiva de grupos, a operação insere-se no
regime de coligação de sociedades. Por esse motivo, não é aplicável às sociedades
abertas.
 Neste regime não há qualquer indicação quanto à contrapartida – exigindo
redobrada independência ao auditor.
 Ocorre com sentença judicial.
 Deve haver prestação de informação- designadamente a comunicação à
sociedade de que se ultrapassou os 90%.
 Diz respeito ao capital social e não aos direitos de voto.
 TC já entendeu que não é inconstitucional porque é um limite imanente da
titularidade da participação social, não viola igualdade porque há alienação potestativas,
não ofende a proporcionalidade porque os benefícios em regra são superiores, respeita
a tutela da confiança porque só se aplica para futuro.

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