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ok METODOLOGIA DA CU@NCHe | Apresentagao Imaginem uma situacSo corriqueira de orientacdo de pesquisa: uma sala com trinta alunos reunidos, os quais realizam 15 pesquisas com os mais diversos temas e com diferentes abordagens dentro de uma area de conhecimento. Varios alunos falam ao mesmo tempo, com a vitalicdacde dos jovens - “o que € pesquisa’ ‘como eu devo fazer o projeto?"; “professor, este livro é cientifico?"; “onde encontro bibliografia que fale de fanatismo no futebol?”; “come eu faco esta Citagdo?"; “mas este problema de pesquisa nao é muito simples?”; “quan- tas paginas 0 projeto tem que ter”; “professor, € 0 cronograma, como cu faco?*; “com que letra eu escrevo?”; “eu devo usar normas da ABNT, mas 0 arti- go que li tem as referéncias escritas de outro jeito!”; “professor, eu quero usar entrevista,", “mas, Maria, vocé ainda nao definiu o problema de pesquis Além disso, na maioria das vezes, sio alunos que estudam a noite € tra- balham durante o dia. O orientador leva pilhas e pilhas de livros e artigos sobre metodologia cientifica para encontrar respostas para todas as questdes Ha um problema adicional; nao sic todos os livros que podem ser encontra- dos na biblioteca e, se o forem, nao ha um numero suficiente de exemplares para todos. E nao se pode pedir aos alunos que comprem todas as obras, pois nao tém poder aquisitivo para tal. Entao, o orientador carrega a montanha de livros, que acabam sendo emprestados aos alunos, pois, em virtude da prote- Go aos direitos autorais, ndo se pode tirar cépias reprograficas. Assim, o que geralmente ocorre é que, ao final do semestre, o acervo do professor dimi- nuiu pela metade. Bem, © leitor, se me fiz claro, pode ter uma ideia da situacdo complexa que € orientar um grupo de alunos na elaboragio de suas pesquisas e das viii METODOLOGIA Da crENCIA varias outras atividades académicas que o orientador tem, além das orienta- cdes, internet, nas madrugadas, sAbados ¢ domingos. E - mais um agra- vante — 0 tempo é limitado para que o trabalho esteja pronto e, por fim, seja avaliado por uma banca piblica com trés professores - situagio que faz com que © orientador se sinta um verdadeiro malabarista do Cirque du Soleil. Fi uma questio: 0 orientador deve favorecer a construgio de um pensa- mento, uma obra de autoria dos alunos, ou pode ajudar a apagar pequenos incéndios nas rias decisoes que fazem parte da trajetria de uma pescquisa? E nesse ponto que este livro chega como um alento. Uma obra que, sem descuidar dos aspectos epistemoldgicos, além de uma postura critica, nos da de forma sintética e objetiva pistas claras que, com certeza, auxiliario o pes- quisador iniciante nas centenas de decisées que teri de tomar para res ¢ um trabalho com qualidade, Mais que isso, permite que o pesquisador va encontrando trilhas para um aprofundamento em cada aspecto da pesquisa com a farta bibliografia que oferece. E um trabalho corajoso, de folego, e muito bem-vindo para ajudar o professor orientador nas situagdes concretas como as descritas. Enfim, trata-se de uma obra de grande valor que, com certeza, estimula- 1 Muitos pesquisadores a sentirem prazer com a atividade de pesquisar, pois 0 texto é claro, didiitico, bem escrito, obj Com certeza, seri de grande auxilio para professores de metodologia cientifica, pesquisadores, orientadores de pesquisas em iniciacdo cientifica, trabalhos de conclusao de curso ¢ de pés-graduagao, ivo e con Creio ser um trabalho que se tornara uma referéncia. Quando estiver no olho do furacao, como as situagdes vividas que descrevi, poderei, enfim, res- ponder ao aluno; “Va ao ‘Appolinario’ que vocé encontraré respostas”. Prof. Dr. Ricardo Franklin Ferreira Docente do programa de mestrido em Psicologia da Unive: sidade Sao Marcos Coordenador do curso de graduacao em Psicologia da Universidade S40 Marcos Xl Parte | — Aspectos Gerais da Filosofia da Ciéncia Capitulo I — Ciéncia: Uma Visdo Geral 2.0.00... ee eee Capitulo 2 - Evolucdo das Ideias Cientificas: Dos Gregos AO POSILIVISMO ....... eccentric Capitulo 3 — Os Grandes Debates da Ciéncia Contemporinea .............-...29 Parte Il - A Pratica da Pesquisa Capitulo 4 — © Sistema de Producao Cientifica ...... Capitulo 5 - As Dimensdes da Pesquisa... eect eee ee ceetee eee OD Capitulo @ — As Etapas do Trabalho Cientifice Capitulo 7 — As Partes de um Trabalho Cientifico.....0....cccccceceeeeeeee Capitulo 8 — O Discurso Cientifico eee IS X METODOLOGIA DA CIENCIA Capitulo 9 — Variaveis ¢ Niveis de Mensuracao..... .107 Capitulo 10 — Delineamentos de Pesquisa .................:ces cece seeeceeeseeee LDF Capitulo Ul — AmOstra gen .....fececscessessnssecsesorenstenvassessavesencenseens 129 Capitulo 12 — Coleta ¢ Tabulacio de Dados Quantitativos ..... 137 Capitulo 13 - Introducao a Andlise Quantitativa de Dados ......0.0.0c0 149 Capitulo 14 — Introducao 4 Andlise Qualitativa de Dados ............0..00......163 Capitulo 15 — Juntando Tudo: Um Exemplo Pratico de Pesquisa ............173 Referéncias .. ApGndice A — Websites de Busca Cientifica 020 eee OF Apéndice B — Modelos Diversos .........0: Apéndice C - Referéncias Padrao ABNT........... Apéndice D — Referéncias Padrao Vancouver «0.0.0... cece eceee ee 21S Prefdcio Apos muitos anos lecionando disciplinas relacionadas 4 metodologia cientifica, pude constatar uma verdade bisica: se os alunos nao compreenderem e expe- rimentarem © prazer da producio cientifica, essa drea particular do conheci- mento tem enorme potencial para se tornar um tormento insuportavel. Acredito que uma parte importante do problema esteja relacionada a duas questdes basi- cas: primeira, a falta de aplicabilidade dos contetidos da disciplina em projetos que sejam interessantes para os alunos e, segunda, a desorganizacao dos mate- tiais diddticos disponiveis para 0 aprendizado — fato que reflete a prépria diver- sidade nas formas de produgio do conhecimento cientifico. Uma das razées que me levaram a escrever uma obra como a que 0 lei- tor tem em mos foi tentar suprir - na medida do meu entendimento — essa segunda necessidade. E fruto de muitas experiéncias em salas de aula, incluin- do-se af a sequéncia em que a matéria deve ser desenvolvida, a: provimento de exemplos que realmente ajudem os alunos a compreender mais rapidamente o que o professor esta tentando lhes indicar. A obra esta dividida em duas partes independentes e complementares. Na primeira parte, dedico trés capitulos ao exame dos conceitos de ciéncia conhecimento cientifico, tal como foram desenvolvidos historicamente = dando especial atengdo aos movimentos da filosofia da ciéncia, notadamente no que se refere as discussGes contemporineas no seio das ciéncias humanas sociais. A segunda parte é essencialmente voltada para as quest6es priticas da producao do conhecimento cientifico: pode-se comeg¢ar a trabalhar com o livro a partir desse ponto, se assim © leitor desejar. Os Capitulos 4 e 5 foram eseri- tos com o intuito de levar o estudante a compreender melhor o mundo da im como oO aii METOMOLOGIA Da CIENCIA ciéncia, scus personagens e€ tipos de producdes. O Capitulo 6 - provavelmen- te o mais importante da obra — apresenta a sequéncia de passos necessdria para a producio de pesquisas cientificas, servindo de indice para os assuntos que serio tratados em detalhes nos capitulos subsequentes. © Capitulo 7 apresenta ao leitor as diferentes partes de um trabalho de pes- quisa, concernentes 4s modalidades vistas nos capitulos anteriores. Em seguida, no Capitulo 8, discutem-se as particularidades do discurso cientifico, suas carac- teristicas, normatizagdes ¢ dificuldades. Os Capitulos 9, 10 ¢ 11 sic dedicados ao estudo das varidveis e seus niveis de mensuracao, os delineamentos possi- veis em pesquisas cientificas e as técnicas de amostragem, respectivamente Os Capitulos 12 € 13 sao dedicados 4 exploragio das questées referentes a coleta, tabulagio e andlise de dados quantitativos, contemplando-se inclus ve uma breve revisio acerca dos principais t6picos das estatisticas desc iva e inferencial utilizadas em pesquisas. Como contraponto, @ Capitulo 14 desen- volve algumas das principais ideias envolvidas na andlise qualitativa de dados, discutindo especificamente 0 uso das técnicas da andlise do contetido e oa método fenomenolégico Finalmente, no Capitulo 15, é apresentado um exemplo completo de pes- quisa, que serve como base e modelo aos diversos aspectas ledricos vistos em todos os capitulos anteriores. A obra traz ainda quatro apéndices contendo a ista dos principais sites de busca cientifica na internet, uma série de modelos de partes das pesquisas, inclusive e projetos de pesquisa, ¢ as normas atuali- zadas da ABNT (NBR 6.023) e Vancouver para elaboragio de referéncias. Para concluir, gostaria de frisar que este livro nao teria sido escrito s valiosa ajuda de muitas pessoas que gentilmente tiveram a paciéncia de ler e criticar os originais, sem o que a obra nao obteria o grau de confiabilidade desejado para o uso em sala de aula. Assim, desejo expressar meus sinceros agradecimentos aos professores Manuel José Nunes Pinto, Luiz Fernando Viti, Dirceu da Silva, Anténio Benedito Silva Oliveira e Lilian Domingues Graziano, pelas observagées, corregdes ¢ melhorias acrescentadas ao texto, AO mestre € amigo Ricardo Franklin Ferreira, um agradecimento especial pela carinhosa e inspirada apresentacao feita 4 obra. Finalmente, nao posso deixar de mencio- nar o apoio e a dedicacio de toda a equipe da Cengage Learning. A todos, meus sinceros agradecimentos ma O autor. Aspectos Gerais da Filosofia da Ciéncia Ciéncia: Uma VisGo Geral Assim como casas sao feitas de pedras, a ciéncia ¢ feita de fatos. Mas uma pilha de pedras nao é uma casa e uma colegio de fatos no é, necessariamente, ciéncia. Jules Henri Poincaré A ciéncia talvez seja o mais novo dos empreendimentos intelectuais huma- nos, se considerarmos que, em seu formato atual, surgia apenas no século XVIL Todavia, encontramo-nos hoje totalmente imersos em suas referéncias subprodutos (os artefatos tecnoldgicos), Compreender a ciéncia significa compreender um pouco do nosso mundo contemporings = incluindo ai sua subjetividade inerente. Muito embora a maioria de nés néio pretenda se transformar em um cien- tista propriamente dito, consideramos fundamental compreender minimamente como essa forma de conhecimento funciona ¢ como influencia nossa vida coti- diana, O objetive deste capitulo é buscar uma primeira aproximagio com 9 con- ceito e o universo da ciéncia, em s s diversas acepcdes, A Melhor Calga Jeans do Brasil Imagine a seguinte situacdo: voce deseja comprar uma calea jeans nova. Mas vocé decide utilizar um procedimento cientifico, ja que pretende alcangar | METODOLOGIA DA CTENCIA > resultado mais preciso ¢ correto possivel. Bem, para que isso se concreti- ze, primeiro precisaremos de dinheiro — algo em torno de R$ 350 mil sé para ~ comecar (toda pesquisa cientifica deve ter um orgamento). O primeiro passo sera descobrirmos, por meio de um levantamento de mercado, os modelos e fabricantes disponiveis, para que possamos efetuar comparagdes, Assim que soubermos quantos modelos vamos testar, podemos planejar as fases seguintes da nossa pesquisa. Digamos que concluimos, apés um levantamento que durou 30 dias, que hi 600 modelos diferentes de cal- cas, incluindo ai todas as variacdes de lavagens, tecidos, modelagens e fabri- ‘antes. O préximo passo sera adquirirmos, preferencialmente pelo menor prego possivel, um exemplar de cada modelo — nado nos esquecendo de ano- tar 0 preco e os dados bisicos dos fornecedores em uma planilha, para ana- lise futura. Teremos, entdio, de submeter essas 600 calgas a uma série de testes. Por exemplo: o teste do “caimenta”, Vamos convidar cinco especialistas em moda — trés estilistas e dois jornalistas especializados — para que possam avaliar esse que- sito, atribuindo-lhe uma nota de zero a dez, enquanto vocé desfila elegantemen- te em uma passarela, com cada um dos 600 modelos, é claro. Com uma média de 40 modelos por dia, essa etapa levard cerca de 15 dias para ser completada. Depois, passamos ao segundo teste: montamos um laboratéric com 60 méquinas de lavar ¢ 60 secadoras de roupa. Lavamos e secamos continuamen- te cada pega pelo menos 20 vezes. Analisamos dois itens nessa etap: de desbotamento da tintura (a cada lavagem) e a taxa de desagregacio pro- gressiva do tecido, quando analisado por meio de microscépios. Considerando um tempo (estimado) de uma hora para lavar, 40 minutos para secar ¢ uma hora e 20 minutos para analisar cada pega entre cada operagao de “lavagem- secagem-anilise”, teremos 300 horas de trabalho por peca. Como sao 60 mi- quinas realizando o servico simultaneamente, podemos considerar um total de trés mil horas de trabalho. Uma vez que no: laboratério conta com a co- laboragao de dezenas de diligentes assistentes de pesquisa, que tabalham 12 horas por dia, podemos estimar que essa fase levard uns 250 dias. Para encurtar 0 processo (ou entao gastaremos toda a nossa verba), con- comparando todas essas varidveis (prego, estilo, qua- jizando algumas técnicas especiais da estatistica ¢, a0 lidade do tecido) util CIENCIA: UMA VISAG GERAL 5 final de aproximadamente dez meses, chegamos 4 conclusio perfeitamente cientifica de que a melhor calga jeans do Brasil é a... Bem, nao vamos revelar essa informagao confidencial de altissimo valor comercial. Muito bem. A essa altura, vocé deve estar pensando: é invidvel tentar resol- ver todos os problemas por meio de procedimentos “cientificos”. No caso da nossa calga, talvez o melhor mesmo seja consultar aquela nossa amiga que ja tem opinido formada sobre o assunto e, entdo, baseando-nos em sua experién- cia, podemos concluir alguma coisa sobre o tema — s6 que de forma rapida e grat A esse segundo procedimento damos o nome de senso comum. O senso comum talvez. seja a primeira forma de conhecimento a ter surgi- do sobre a face da Terra, juntamente com o Homo sapiens, ha cerca de 40 mil anos. E essa forma de conhecer o mundo é extremamente importante: sem ela, nao poderiamos resolver os problemas mais banais do nosso dia a dia — como. © problema de descobrir a melhor calga jeans entre todas as que existem no mercado brasileiro. A todo instante precisamos tomar decisdes: a melhor marca de creme dental, a melhor combinagao de cores para a roupa que vamos usar em uma entrevista de emprego, o aparelho celular que devemos comprar (e também qual operadora de telefonia celular e plano de assinatura sic os melhores para nds) etc. Baseando-s eno ‘xemplo da calea, vocé ja imaginou se féssemos nos me- ter a utilizar procedimentas cientificos para cada decisao dessas? E 6bvio que nao podemos fazer isso, pois nao teriamos nem o tempo nem os recursos neces- Sdrios para tanto. E é precisamente por isso que © senso comum € muito valio- so: ele nos permite tomar centenas de decisSes diariamente, sem que tenha- mos de mover “céus e terra: Por outro lado, acreditamos ter se tornado perfeitamente Gbvio também que © conhecimento adquirido por meio de um “método cientifico” parece ser bem mais preciso que o obtido por meio do senso comum. No caso do nosso exem- plo, pode até ser que os dois processos conduzissem As mesmas conclusées (embora isso seja improvivel), porém o processo cientifico é muito mais digno de confianca Assim, podemos estabelecer as bases para uma primeira comparacdo en- te os dois processos: CIENCIA: UMA VISAO GERAL 7 Portanto, um método é um procedimento ou um Conjunto de passos que se deve realizar para atingir determinado objetivo. Nesse sentido, podemos encontrar 0 método na culindria (o método para produzir um delicioso pavé de chocolate esti especificado em sua receita), na arte (os diversos métodos para produzir uma escultura ou uma pintura também so bem-cefinidos) e até mesmo na reli- gido (ha métodos, por exemplo, para a realizacdo de ceriménias religiosas, ora- gdes etc). Como vemos, 0 método, como processo organizado, légico ¢ sistematico, esti presente em todos os Aimbitos da experiéncia humana. O método cientifi- co seria, portanto, apenas um caso particular dos diversos tipos de métodos e de algumas etapas bem-cefinidas, como: identificagdo de um fend- meno no universo que peca explicagio (observacdo); produgao de uma expli- cacao provisoria que desvende esse fendmeno (geraigdo de hipdteses), execugaa de um procedimento que possa testar essa explicagdo, para verificar se ela € ver- dadeira ou falsa (experimentacdo); analise ¢ conclusio, visando estabelecer se a hip6tese pode ser considerada verdadeira também em outros contextos, dife- rentes daquele do experimento original (generalizagdo), consisti Por exemplo: um pesquisador na drea de educagdo observa que seus alu- nos parecem obter melhor desempenho académico quando tém acesso ao mate- rial de estudo antes da aula (observagao). Dessa forma, ele supde que isso ocor- fa porque, ao ler o material com antecedéncia, os alunos assistem as aulas mai relaxados e podem fazer perguntas de melhor qualidade (geracdo de bipdteses O pesquisador decide, entio, testar essa suposicao da seguinte forma: distribui seus alunos em dois grupos. © primeiro teri acesso ao material antes da aula, ao passo que o segundo, nado. Ao longo de seis meses de aulas, o pesquisador aplica provas de conhecimentos para acompanhar o desenvolvimento da com- preensao dos alunos sobre o tema ensinado e observa o seu comportamento em sala de aula, o tipo de pergunta que fazem etc. (experimentagdo). Ao fi- nal de todo o processo, ele compara as notas dos alunos dos dois grupos e verifica que sua suposicao estava correta: “alunos que tém acesso ao material instrucional com antecedéncia apresentam desempenho académico superior, pois assistem as aulas mais relaxados e fazem perguntas de melhor qualida- de" (generalizacdo). Ja temos uma nogao do que é o método cientifico, mas e a ciéncia, 0 que seria? Diversos autores tém tentado defini-la e, nos pr6ximos capitulos da 8 METOpOLOGIA DA NIA primeira parte deste livro, vamos investigar em detalhes sua histéria ¢ prin- Cipais conceitos. Mas, por ora, vejamos a etimologia da palavra: ciéncia vem do latim scientia (ou episteme, em grego), que, por sua vez, tem sua origem no termo seire, cujo significado @ “aprender, conhecer” (APPOLINARIO, 2004). Vejamos o que dizem alguns autores importantes sobre a ciéncia: Quadro 1.2 Algumas definicdes de ciéncia Ander-Egg Marx & Hillix Karl Popper ‘Newton da Costa “Conjunto de conhe- cimentos racionais, certos ou provavei obtidos metodicamente, sistematizados e verificdveis, que fazem referéncia a objetos de uma mesma natureza” (ANDER- EGG, 1978, p, 15). “Atividade pela qual os homens adqui- rem um conhecimento ordenado dos fend- menos naturals, traba- thande com uma, metodologia particular (observagao controla- da e anilise) e um conjunto de atitudes (ceticismo, objetivida- de etc.)" (MARX; HILLIX, 1978, p19). “Um cientisea, seja tedrico ou experimen- tal, formula enuncia- dos ou sistemas de enuneiados e verifica- -05 um a um. No campo das cigncias empiricas, ele formula hipéteses e submete- -as a testes, confron- tando-as com a expe- riéncia, através de recursos de observa- sae e experimenta- G30” (POPPER, 1974, p27. “A cléncia consiste essenciaimence em sis- temas de cenhecimen- 08 aleangades por caminho racional. Seu propésito: o conheci- mento cientifico, iste é, uma série de cren- gas verdadeiras e justi- ficadas, dentro das fronteiras da racionali dade (...) poder-se-ia dizer que a razio sori nha conduz, em princi- mais; razio mais expe- rigncia, as reais” (COSTA, 1999, p. 41). Como se pode observar por meio dessas definig6es, a ciéncia parece pos- sl © senso comum, algumas caracteristi as particulares especiais que outras formas de conhecimento, como a arte, a religia im, caro leitor, existem mesmo diversas formas de conhe- cimento. Vejamos cada uma delas com is detalhes. a diferenciam de (0, a filosofia e, € claro, O Conhecimento Religioso (ou Teoldgico) Desde os primérdios da ilizagao, existe a crenga em uma forga superior, divina, que rege os destinos do universo. Essa crenga, produto da fé e da transcendéncia, permitiu ao ser humano explicar e organizar uma realidade muitas vezes ameacadora e perigosa. Por exemplo: quando perdemos um ente querido, a ciéncia nao pode nos consolar, mas as matrizes explicativas religiosas nos trazem conforto e nos ajudam a suportar melhor a perda. A GIENGIA; UMA VISAO GERAL 9 ria de nos jd se sentiu ligada, de alguma forma, a essa forca divina que, em cada religiio em particular, assume uma manifestagio especifica, como Buda para os budistas, Jesus Cristo para os cristios ou o deus Ra para os anti- gos egipcios. O conhecimento religioso, em seu sentido mais amplo, refere-se a qualquer conhecimento que nao possa ser questionado ou testado, adquirindo, portan- to, um carater dogmatico. O dogma € uma afirmacao que nao pode ser con- testada e, por isso, acaba se constituindo na base da maioria das religioes. Por exemplo: se vocé for catGlico apostdlico romano, deve, necessariamente, acre- ditar no “dogma da infalibilidade papal", que afianga ser impossivel que o papa se engane sobre qualquer assunto, uma vez que ele seria, supostamente, o legi- timo representante de Deus na Terra. Outra caracteristica interessante do conhecimento religioso refere-se a0 seu cardter pessoal: a fé de uma pessoa nio pode ser comunicada totalmente 4s ou- tras, Ou seja, a “experiéncia religiosa” é muito pessoal, ¢ essa *reconexio” (a pala~ vra religido é derivada do termo latino religare — ligar novamente, ou seja, re- conectar algo que ja foi ligado em eras passadas: Deus e 0 homem) pode se dar tanto em uma cerim6nia religiosa como em outras situagGes inusitadas — na observacao de um lindo pér do sal, por exemplo. Dessa forma, 0 “meu” Deus nao € € nunca sera igual ao “seu” Deus. O Conhecimento Artistico O conhecimento artistico é embasado na emocio e na intuigio, Quando entra- mos em contato com uma obra de arte, seja ela uma pintura, uma escultura, uma misica ou uma poesia, por exemplo, muitas vezes ndo conseguimos “colo- car em palavras” © que estamos experienciando, Isso ocorre porque a informa- cdo veiculada pela manifestagdo artistica é preponderantemente de natureza emocional. Observamos um quadro e ele nos “suscita” algo: uma irritacdo, uma sensa¢ao de paz, uma alegria indefinivel etc. E uma forma de conhecimento essencialmente nao racional e dificil de ser capturada pela légica. Alids, o conhecimento artistico pode ou nao assumir uma légica similar ao senso comum e 4 ciéncia. A arte pode, na realidade, assumir qualquer forma, uma vez que o que vale é a relacdo especial que se estabele- ce entre o observador € 0 fendmeno observado. Por exemple: podemos olhar para uma equacdo escrita em um quadro-negro € pensé-la sob a 6tica da mate- mitica (ciéncia) ou da estética (0 equilibrio dos termos, a cor do giz, a sono- ridade de seus elementos etc.), 0 METODOLOGIA Da CIENCIA Outras duas caracteristicas importantes do conhecimento artistico s4o: primei- a, essa forma de conhecimento é inesgotavel. ou seja, a informa¢ao estética con- ida em uma obra de arte sera encarada de forma diferente por varias pessoas € ambém de varios modos por uma Unica pessoa, em momentos diferentes. Certamente voce ja teve a experiéncia de ler varias vezes um livro ou assistir diver- $aS vezes ao mesmo filme, sempre observando elementos novos e tendo insights diferentes acerca da obra. Segunda, a informagio estética nao pode ser traduzida para outras linguagens sem percla de informagao relevante. Por exemplo: tente des- crever em palavras a obra Mona Lisa, de Leonardo cla Vinci, para uma pessoa que jamais a tenha visto e vocé entender o que estamos dizendo. O Conhecimento Filosdfico Pitagoras (século VI a.C.), por seus enormes conhecimentos, era frequente- cipulos. Quando isso acontecia, cle iste em reconhecer minha propria igno- bio, mas antes de amante da sabe- mente chamado de “s4bio” por seus retrucava: “Minha Unica sabedoria consi rancia. Assim, nado devo ser chamado de s doria”. E é exatamente isso 0 que significa a palavra_filosofia, juncado dos ter- mos gregos philos (amor) e sdfia (sabedoria). Tentar definir em termos absolutos essa grandiosa area do conhecimento humano seria, no minimo, um ato arrogante e destituide de propdsite. Vamos fazer diferente: ao explorarmos um pouco o conceito, pelo menos caminhare- mos na direcao de uma compreensdo aproximada acerca das diferencas fun- dament: ssa forma de conhecimento e as outras. Para isso, pediremos auxilio a um dos maiores pensadores do século XX, o filésofo britanico Bertrand Russell (1872-1970): entre A “filosofia”, no meu entender, é algo intermediério entre a religio & a ciéncia. Semelhantemente a religido, a filosofia consiste de especulacées sobre assuntos, com respeito aos quais nde foi ainda possivel obter conhecimenio definido. Mas semelhaniemenie 4 ciancia, c filosofia apela & razéo humana, e néo a uma autoridade, seja essa a autoridade da tradigao ou da revelacde. Tede conhecimento definido, é a tese que defendo, pertence & ciéncia; todo dogma a respeite daquile que jaz além do conhecimento definida pertence a religido. Mas entre a religido 6 a ciéncia hé uma terra de ninguém que esté aberta a ataques de ambos os lados: essa terra de ninguém é a filosofia. (RUSSELL, 1945) GEENCIA: UMA VISAO GERAL 11 Podemos dizer, entao, que um dos mais fortes componentes presentes na filosofia é a razao. Naturalmente isso também ocorre na ciéncia, mas a dife- renga basica entre elas parece residir no método para a producao do conhe- cimento: a filosofia baseia-se fundamentalmente na razio, tanto como a cién- cia, mas, ao buscar comprovagGes empiricas acerca dos fatos, a ciéncia produz conhecimentos verificaveis. O fil6sofo norte-americano Richard Rorty disse algo muito elucidativo a esse respeito: filosofia é a disciplina por meio da qual se busca o conhecimento, porém sé se obtém a apiniado” (RORTY, 1982, p. 57). Comparando as Formas de Conhecimento Podemos considerar, 2 guisa de conclusio, que no mundo contemporineo to- das essas formas de conhecimento coexistem. Quando entramos em contato com um fenémeno qualquer, por exemplo, podemos pensd-lo por meio dessas cinco matrizes de compreensao. Assim, dependendo do ponto de vista, construiremos significados diferentes, dependendo da matriz de compreensao escolhida. Digamos, por exemplo, que, enquanto vocé esta aguardando o semé ro abrir, observa do seu automdvel a seguinte c uma pessoa, ao tentar atravessar distraidamente a rua, por pouco nao é atropelada por um carro que consegue frear a tempo. Apesar do enorme susto, ela escapa ilesa e levanta as maos para cima, gesticulando ¢ murmurando alguma coisa que vocé nao consegue ouvir. Ao refletir posteriormente sobre essa cena, vocé pode pensé-la sob diversos angulos: * Deus deve ter dado outra chance 4quela pessoa. Parece que o “recado” foi bem compreendido, pois ela agradeceu, comovida, pela protecdo con- cedida pelos designios divinos [conhecimento religiosol: * é impressionante como as pessoas andam cada vez mais dist s hoje em dia: quem nao sabe que se deve olhar para os dois lados da via an- tes de atravessar? [conhecimento de senso comuml, * de fato, se os pneus nao estivessem novos e calibrados ¢ o automével nado contasse com freios ABS, nao teria sido possivel fred-lo 4 velocida- de de 60 km/h a uma distancia de 20 m, como o motorista fez [conhe- cimento cientifico]; * a vida é realmente um fenémeno efémero. Se é verdade que todas pode- mos morrer a qualquer hora, ndo convém perder tempo com futilidades [conhecimento filosafica]; 12) METODOLOGIA Da CIENCIA * foiuma cena dantesca. O rufdo do freio, 0 grito da mulher — aquela ima- gem produziu em mim uma emogcio devastaclora [conhecimento artis col. Est certo, concordamos plenamente que no € tao facil assim isolar as for- mas de conhecimento umas das outras. Nas frases citadas, nota-se claramente a dificuldade em estabelecer a diferenca entre o conhecimento filosGfico e o de senso comum, por exemplo. Mas observe com cuidado: no primeiro caso, exis- te um raciocinio légico (“se a vida é efémera, todos vamos morrer um dia; por- tanto nao devemos gastar nosso tempo com bobagens”), enquanto, no segun- do, ha uma afirmacdo de carater empirico ¢ pessoal (“as pessoas andam cada vez mais distraidas hoje em dia”). No universo do discurso, s multaneamente produzimos e consumimos co- nhecimento em todas essas formas. De fato, dificilmente podemos isclar uma forma de conhecimento da outra, uma vez que todas est”io amalgamadas em nossa atividade linguistica. Por exemplo: 0 cientista também tem sua dimensio religiosa, espiritual. Além disso, ele nao vai utilizar 0 raciocinio cientifico durante as 24 horas do dia, pois, como qualquer ser humano comum, também lida com problemas e situacdes cotidianas que Ihe exigem decisdes baseadas no senso comum, na légica filosGfica, na estética etc. De qualquer forma, como podemos observar no Quadro 1.3, o conheci- mento cientifico difere das outras formas de conhecimento em alguns aspec- tos, porém assemelha-se em outros. Mas, para efeitos desta introducdo, vamos A sua ess@ncia: trata-se de um conhecimento concreto, real (vem dos fatos), organizado e sistematizado, obtido por meio de um processo bem-definido: Gnétodo cientifico) € que pode ser replicado (outros pesquisadores, em qual- quer parte do mundo, se repetirem as mesmas experiéncias e observagées, de- vem chegar as mesmas conclusées do estuclo original). Possui, ainda, duas ca- racteristicas fundamentais, que serio analisadas nos proximos capitulos: a verificabilidade (para ser cientifico, 0 conhecimento deve ser passivel de comprovacdo) e a falseabilidade (nao se trata de um conhecimento definiti- vo: sempre pode vir a ser contestado no futuro, em funcdo de novas pesqui- sas e descobertas), CIENCIA: UMA VISAG GERAL 13 Quadro 1.3 Comparacio entre as diversas formas de conhecimento Formas de conhecimento etd Artistico | Religioso | Filoséfico | Cientifico comum Valorative | Valorative | Valorative | Valorative | Factual Tradigio oral, | ‘Observario Origen ebservacio © | Inspiragio Fé/Inspiragao | Razio experimentagio reflexio sistemética ‘Ocerréncia Assistematico | Assistemdtico | Sistemiitico | Sistemdtice | Sistemitico ‘Compreba- Nao Nio Nao , bilidade Verificivel | verificivel | verifcivel | verificivel | “@r""ctve! Eficiéncia Falivel Infalivel Infalivel Infalivel | Falivel 7 " ‘Aproximada- Precisio Inexato Nao se aplica | Exato Exato oe Finalmente, para completarmos esta introdugao, valeria a pena mencionar que as ciéncias encontram-se divididas em ciéncias formais, naturais e sociais. Ha outras propos Srias diferentes, mas essa parece ser uma visao de razoavel consenso, Assim, as ciéncias form: eriam as que lidam unicamente com abstracdes, ideias € estruturas conceituais no necessariamente ligadas aos fatos, como a matematica ¢ a ldgica. As ciéncias naturais como a biolo; sica € a quimica estudam os fenémenos naturais (a vida, o ambiente etc.). E, por fim, as ciéncias sociais dedicam-se 4 investigacdao dos fenémenos humanos sociait i, a sociologia e a economia s classifica como a psicolog Fonai] Estudam as relages abstratas e simbélicas. Exemplos: logica e matemdtica. Estudam os fendmenos naturais. ial psesurals Exemplos: fisica, biologia, quimica etc. L—_ Esuudam os fendmenos humanos e socials. {Sociais_| Exemplos: psicclogia, sociologia, economia ete. Figura 1.1 Proposta de classificacao geral das ciéncias (APPOLINARIO, 2004) 14 METODOLGSIA DA CLENCLA O objetivo deste capitulo foi apresentar ao leitor uma ideia geral introdu- téria do campo cientifi senvolvimento da concep¢ao cientifica acerca do mundo e do universo e por que ela é tao importante nos dias atuais. ‘0. Nos préximos capitulos, veremos como se deu o de- Conceitos-Chave do Capitulo Ciéncia Conhecimento filoséfico Clénetas naeurals Método Conhecimento religioso Cléncias socials Métoda cientifico Conhecimento artistico Senso comum Ciencias formais Leitura Cornplementar Recomendada ALVES, R. Filosofia da ciénci introdusio a0 jogo e suas regras. Sao Paulo: Loyola, 2000. Escrevendo de forma espirituosa, Rubem Alvar nos conduz pelo mundo do raciocinio cientifico e da filosofia da ciéncia de uma maneira ao mesmo tempo sistemitica ¢ agraddvel, Repleta de exemplos ¢ cimagBes de auta- res consagrados da ciéncia ¢ da filosofia, a obra explora com propriedade critica as franteiras entre o conhé= cimento cientifico © as outras formas de conhecimento. SAGAN, C.0 mundo assombrado pelos demdnios'a cléncia vista como uma vela ne escuro, Sic Paulo: Companhia das Letras, 1997, Nessa excelente obra, o astrénomo Cari Sagan faz uma defesa apaixonada da clénela, denunelands © virus do analfabetismo cientifico que assola a cabesa da malaria das pessoas e desfazendo mal-entenddidos comuns acer~ ea do que seja ou no cléncia, Evolucdo das Ideias Cientificas: Dos Gregos ao Positivismo ‘ F dificil determinar com certeza, mas ha indicios de que o homem tenha sur- gido sobre a Terra ha aproximadamente 40 mil anos'. E, com esse evento, teve inicio o lento processo de constituigéo da linguagem e da cultura. Sabemos também que, desde tempos imemoriais, o homem, por meio da linguagem ¢ do pensamento, desenvolve representagdes (na forma de ideias, creneas e conceitos) sobre o ambiente ¢ sobre si mesmo, sem o que nao seria possivel desenvolver a chamada “cultura”. Isso ocorre porque o homem nao foi dotado de mecanismos biolégicos ordenadores, que permi- tiram aos animais uma adaptagdo rapida ¢ eficiente ao meio que os cercava. Em vez disso, ele desenvolveu a capacidade de construir modelos ment sobre a realidade, a partir dos quais tornou possivel a sua interagdo com essa mesma realidade, Esse processo de construcao social da realidade (BERGER; LUCKMANN, 2002) foi adquirindo caracteristicas modeladoras diferentes ao longo do tempo. Assim, na chamada Antiguidade, o homem organizava suas referencias em toro dos mitas transmitidos pela wadicio oral. A partir da Idade Média, no entanto, essas referéncias passaram a tomar como base o conhecimento teoldgico, que, Os primeiros hominideos surgiram na Terra provavelente hd cerca de 4 milhdes de anes (os Australopithecos). O Homo erectus surgiu ha cerca de 1,6 milhdo de anos, 0 Homo sapiens nean- derthatensis hii 200 mil anos e, finalmente, © Homo sapiens sapiens ba 40 mil anos (GOTTSCHALL, 20083). 6 METODOLOGIA DA CIENCIA 1egando © mito, tornou-se a matriz dominante de explicacao da realidade. Por ‘alta do século XIV, no mundo ocidental, comecou a surgir um movimento ovo, em decorréncia da grande dificuldade apresentacla pelos modelos teold- 3icos em explicar uma realidade mais complexa, fruto do contato de homem curopeu com as outras culturas do planeta. Esse movimento, chamado de Renascimento, ensejou o uso privilegiado da consciéncia critica e a necessida- de de desenvolver maior controle humano sobre a natureza (FERREIRA, 1996) O Renascimento permitiu finalmente que, a partir do século XVI, um nove empreendimento humano tomasse uma forma mais definida: a ciéncia. Com a derrocada da religiao come principal insténcia organizadora da realida- de social, © pensamento cientifico tomou o seu lugar & passa a ser a mais importante referéncia legitimadora da realidade vigente. Vocé, entio, pode se perguntar: mas a religiao nao é uma parte essencial da vida e da subjetivida- de do homem contemporineo? A resposta para essa pergunta seria sim e nao. Explicando melhor: quando dizemos que, durante a Idade Média, a religido constituia-se na principal matriz organizadora da realidade, queremos dizer que, se um individuo qualquer necessitasse de uma referéncia de verdade a partir da qual pudesse se comportar, ele se voltaria para a religido € seus represen- tantes: os sacerdotes. Por exemplo: se um aldeao desejasse casar sua filha, primeiro pediria a opiniao do sacerdote da aldeia. Alids, naquela époea, o sacerdote (represen- tante legitimo do pensamento religioso) ditava as regras ¢ normas acerca de praticamente todos os assuntos: satide. alimentagdo, vida, morte e qualquer aspecto da vida prdtica do dia a dia, incluindo-se af os padrées de comporta- mento e convivéncia social Por outro lado, nos dias de hoje, quando ficamos doentes, consultamos um médico; se precisamos construir uma casa, procuramos um arquiteto ou um zngenheiro; se temos dificuldades emocionais, podemos recorrer a um psi- ~Glogo; se nossa empresa precisa melhorar seus processos de gestio, con- ratamos administradores, contadores e economistas. Procuramos sempre oor profissionais que detenham, entre outras coisas, conhecimentos cientificos por isso, podemos dizer que, desde o Renascimento até os dias de hoje, 1 principal instincia legitimadora da verdade é a ciéncia e nao a religiado. Se iinda nao estiver convencide disso, considere que o livro que vocé tem em naos foi produzido pela tecnologia (uma das filhas diletas da ciéncia). Ou ieja: sem O pensamento cientifico, ndo teriamos o automével, a luz elétrica, » forno de micro-ondas, 0 cartéo de crédito etc. EVOLUGAO DAS IDEIAS CIENTiFICAS... 17 Isso significa dizer que o conhecimento religioso nao existe mais? De forma alguma. O senso comum, a arte, a religiao, a filosofia, o mito e a ciéncia — todas as formas de conhecimento - convivem (nem sempre de forma pacifica) na mente do homem contemporaneo. A tese aqui apenas assevera o fato de que é em torno principalmente da ciéncia que organiza- mos noss idas ¢ a sociedade - embora a subjetividade humana seja constituida de representantes de todas as formas de conhecimento vistas no capitulo anterior. Quadro 2.1 Alguns autores ¢ aspectos de suas obras Antiguidade Classica (cerca de 600 0.C.— 300 d.C.) 625-548 aC. Tales de Mileto Considerado um dos primeiros filésofos do Ocidente, ineroduriu a matemética na Grécia. Partindo da observacio dos fenémenos da natureza, elaborau conceitos que podiam ser generalizados. 570-500 aC. | Pitigoras ‘Acreditava que o universo e todos os seus fenémenos podiam ser representados matematicamente. Considerava o pensamento uma fonte mals poderosa de conhecimenta do que os sentidos. 460-370.C. | Demédcrito Idealizador do “atomismo”: 9 universo seria composta por corpisculos indivisiveis - os dtomos. Advogava a favor da validade dos sentidos (percep¢ao). 469-399 aC. | Socrates Sua filosofia estava voltada néo para a natureza, mas para o homem e a sociedade, Acreditava na supremacia da argumentagio « do didlogo. 427-347 ac. | Platio Proponente do “idealismo”: 0 mundo das idelas, do intelecto e da razio constituia-se na verdadeira realidade. 384-322 aC. | Aristdteles Desenvolveu a légica, defendendo o intelecta e a reflexio: ‘como as fontes principals do conhecimento. 342-270 aC. | Epicuro Retomou 6 atomismo de Demdcrito e defendeu a de que o conhecimento era fruts da sensago, obtida por meio do contato dos sentides com os fenémenos. Idade Média (cerca de 300 ~ 1350) 354-430 Santo Agestinha | Uxilizou o racionalismo de Platio e Aristételes para. defender a doutrina crista: Deus conduzia tudo o que acontecia no universo, tendo também © dominio do conhecimento, que sé podia ocorrer pela iluminacao. 1214-1292 Roger Bacon Reafirmou a logica de Aristoteles ¢ antecipou a importincia da observacio aliada 4 experimentacio. (continua) 18 METODOLOGIA DA CIENCIA, Quadro 2.1 Alguns autores e aspectos de suas obras (continuagio) 1225-1274 Idade Média (cerca de 300 = 1350) Sao Tomas de Aquino ‘Admitiu ser possivel chegar a cartas verdades por meio a razio e dos sentidos, além da iluminagio divina, Para ele, o homem é livre porque é racional — © que o distingue de todos os outras seres, 1266-1308 Duns Scotus Postulava a ideia da tébula rasa, isto &: a mente dos recém-nascidos encontrava-se em branco, devendo ser preenchida a partir dos sentidos ~ de onde vem toda 0 conhecimenta. Renascenga (cerca de 1350 ~ 1650) 1467-1536 Erasmo Humanista, pregava a necessidade de integrar a razio e a | espirituslidade, relativizando os dogmas. 1561-1626 Francis Bacon Propés a indugio como principal motor para a produsio de novos conhecimentos, Elaberou uma teoria do erro (os “idolos" impediam @ avango da ciéncia).. 1564-1642, Galileu Galilei Considerado por muitos o primeira cientista, uniu racionalismo € empirismo em seu método cientifico, ‘Afirmava que nfo se podia conhecer a esséncia das coisas © que a cigncia devia se ocupar apenas com os fatos observiveis. Marcou o rompimento definitivo entre a cineia ea Filosofia, 1596-1650 René Descartes Estabeleceu a ideia do dualismo mente-corpo eo métado da divida no questionamento de todas as coisas, particularmente do que era proveniente dos sentides. Adotou 0 raclocinio matematico como modelo para chegar a novos conhecimentos. 1588-1679 Thomas Hobbes | Empirista € racionalista. Acreditava que © conhecimento possivel devide A sensagio, & imaginacio € a razio. 1642-1727 Isaac Newton Proponente da lei da gravitagao universal, criou um modelo de ciéncla pautado na utilizagio da andlise e da sintese, por meio da Induce, para explicar os eventos naturais, Utilizou a observagio dos fenémenos para construir as hipoteses que seriamn testadas. Huminismo (cerca de 1650 ~ 1800) 1685-1753 | George Berkeley Idealista radical, argumentou que nia era passivel pressu- por a existéncia das coisas, apenas a das percepcées. Para le,“ser é ser percebldo” I711-1776 1713-1784 1957 EVOLUCAQ DAS IDEIAS CIENTIFICAS.. 19 Muminisma (cerca de 1650 - 1800) David Hume Expoente do empirisma e forte critico do racionalismo, defendew a idela de que todos os nossos conhecimentos provim dos sentides. Para ele, nossas ideias acerca do mundo eram meras consequéncias da associagio mental e da organizacio das nossas percepges, Denis Diderot Editor da maior enciclopédia ja produzida até entdo, langou uma concepsio de conhecimento e aprendizagem baseada na ciéncia, que viria a se tornar tipica da modernidade, Modernidade (cerca de 1800 - 1945) ‘Auguste Comte ‘Criador do positivisma, doutrina segundo a qual somente. ‘© conhecimento cientifico & valide ¢ genuina. Assinalou ‘quatro acepedes para a palavra “positive”: real (em oposigio a fantasioss), util (em opasigae a ociosa}, certo (em oposigao a indeciso) & preciso (em oposigio a vago). 1929-1937 Circulo de Viena Grupo de filésofos e cientistas que criou a doutrina do empirismo légico ¢ do principio da verificabilidade, segundo © qual sé & considerado verdadeiro 0 que pudesse ser empiricamente verificado, ou seja, central aqui reside na diferenga entre as palavras “descrever” ‘a pesquisa descritiva, o pesquisador descreve, narra algo que AS DIMENSGES DA PESQUISA 63 acontece, ao passo que, na pesquisa experimental, tenta explicar por gue algo acontece, ou seja, busca determinar a causa dos eventos. Para termos uma pesquisa experimental, é necessario haver um experimento, Por exemplo: queremos testar a eficdcia de um novo medicamento para a cura de uma doenca. Selecionamos, entéo, 200 pacientes de um hospital, todos acometidos pela tal doenga, Dividlimos os pacientes em dois grupos, A e B, cada um com igual ntimero de pessoas. Aos individuos do grupo A, ministramos o novo medi- camento que desejamos testar, para os individuos do grupo B, damos o medi- camento utilizade atualmente para a doenga. Ao final de certo tempo (supo- nhamos, duas semanas), comparamos a melhora dos sintomas da doenca nos integrantes dos dois grupos, para determinar qual medicamento apresenta maior eficdcia Dessa forma, podemos definir 0 experimento como um processo pelo qual provocamos deliberadamente algumas mudan¢as enquanto observamos os resultados, com a finalidade de aumentar nosso conhecimento sobre o unto (BUNGE, 1985) ou, dizendo de outra maneira, manipulamos certas var- idveis para observar 0 que acantece com as outras, sdo diferentes: nao ocorre a presenca do experimento. Por exemplo: em determinada pesquisa, deseja- se conhecer os padroes de comportamento dos moradores da periferia de uma grande cidade em relacdo aos seus habitos de lazer. O pesquisador entrevista, digamos, 500 moradores dos bairras da periferia e coleta uma série de dados de cada um, como sexo, idade, nivel de escolaridade ¢, obvi- amente, informacées referentes aos seus habitos de lazer. Ao final do estu- do, 0 pesquisador resume esses dados em tabelas € grificos, descrevendo o que descobriu Os estudos descritivos (ou observaciona Entao, vejamos: no primeiro exemplo, o objetivo do pesquisador é deter- minar se o uso de certo medicamento causa a remissio dos sintomas da doenga, enquanto, no segundo exemplo, o pesquisador deseja apenas descre- ver os habitos de lazer da populagao (e nao determinar por que as pessoas tém esses habitos). No Capitulo 10 exploraremos em detalhes 0 conceito de experimento e suas diversas modalidades. Estratégias de Pesquisa Quando nos referimos 4s estratégias de pesquisa, é muito importante consi- derar a existéncia de dois grupos principais: as estratégias em relagio ao focal i) METODOLOGIA DA CIENCIA 'e coleta de dados ¢ as estratégias em relacao a fonte de informagdo utilizada a pesquisa. Pensando no primeiro grupo, teremos dois tipos de estratégias: le campo e de laboratério. Em relacdo as fontes de informagao, podemos ter desquisas de campo ou documentais E aqui reside o principal problema: o termo “pesquisa de campo" é fre- quentemente ambiguo, pois pode se referir a duas coisas muito diferentes, romo se vera adiante. Vamos explorar esses dois grupos separadamente. Estratégias de Pesquisa em Relagao ao Local da Coleta de Dados Antes de mais nada, convém definir o termo coleta de dados, Coletar dados sig- nifica obter as informagOes necessarias para a pesquisa. A coleta de dados & tealizada mediante 0 uso de alguma técnica ou insfrmenio de pesquisa, Por exemplo: podemos coletar nossos dados por meio de um questiondrio, uma entrevista, um microscopio, uma observaca soas, um tomdgrafo computadorizado etc. Assim, instrumento de pesquisa € um dispositivo ou processe por meio do qual mensuramos ou observamos determinado fendmeno ‘0 direta do comportamento de pes- Outro conceito fundamental, antes de continuarmos a explorar as estraté- gias, 6 o de swjeito da pesquisa, o qual se refere, basicamente, 4 unidade do que € pesquisado. Normalmente, utilizamos esse termo para nos reportar as pessoas pesquisadas, mas ele é mais amplo: pode significar um animal, uma empresa, uma cidade etc, De fato, os termos mais corretos seriam unidade abservacional (quando a pesquisa for do tipo descritiva) e unidade experi- mental (quando a pesquisa for do tipo experimental), porém o termo “sujei 0” jé se encontra consagrado pelo uso Voltemos 4 questio da estratégia de pesquisa em relagdo ao local da coleta; quando os dados sao coletados em uma situacio controlada (por sxemplo, em sutra forma, quando os dados sio coletados em uma situagao na qual nao. vium controle rigido, chamamos essa modalicade de pesquisa de campo. A questao-chave, aqui, € compreender que conirole significa o monitoramento, m experimento), trata-se de uma pesquisa de laboratério. De dor parte do pesquisacor, das varidveis ambientais envolvidas que podem olerferir na situacao de coleta. Assim, em um experimento, necessita-se de porque, de outra forma, ele ndo gerard esultados valicos, Imagine, por exemplo, se no experimento sobre a eficdcia e determinado medicamento, descrito na secio “Tipo de Pesquisa", os pes- uisadores niio controlassem se os sujeitos ingeriam outros remédios quan- im grande controle das variivei AS DIMENSOES DA PESQUISA 65 do estivessem em casa; os resultados do experimento estariam comprome- tidos, uma vez que nao seria possivel determinar se os sujeitos melhoraram ou pioraram dos sintomas por causa do medicamento em teste ou de outros medicamentos que eles estivessem tomando sem o conhecimento dos pesquisadores termo “laboratério” designa, entdo, um local qualquer onde seja possivel desenvolver esse tipo de controle, em oposic¢io ao termo “campo”, ou seja, um local onde nao seja possivel ou necessdrio estabelecer um controle das varidve pesquisadas. © termo “campo”, dessa forma, costuma estar associado a locais ou situagdes nas quais os sujeitos encontram-se naturalmente (por exemplo: na rua, nas residéncias, nos locais de trabalho etc.). Lembre-se: local de coleta designa o local onde o sujeito se encontra (e no 0 pesquisador). Uma coleta de dados realizada por telefone ou pela internet, por exemplo, é considerada uma pesquisa de campo, uma vez que, embora o pesquisador possa estar em um “laboratério”, 0 sujeito encontra-se em uma situacio nao controlada (ele pode estar atendendo 4 ligacdo ou acessando a internet de qualquer local). Estratégias de Pesquisa em Relacao a Fonte de Informagao Podemos coletar dados de sujeitos (pessoas ou animais), fendmenos (eventos S, minerais, substancias quimicas etc.) — por isso, os termos “unidade observacional” e “unidade experimental”, mencionados anteriormente, sio mais adequados, pois so mais genéricos sociais, fisicos) ou objetos (estrelas e plan: que o termo “sujeito”. Quando a unidade do que € pesquisado é um docu- mento (livros, revistas, filmes em VHS ou DVD, CDs ou fitas de audio, pron- tuarios arquivados, jos manuscritos, mapas, fotografias etc.), chamamos o estudo de pesquisa documental. Quando a unidade pesquisada € um sujeito, fendmeno ou objeto (exceto se es estudo de pesquisa de campo. objeto for um documento), chamamos o Esse item, aparentemente simples, também causa certa confusio. E sem- pre bom lembrar que toda pesquisa tem uma fase documental, ou seja, 0 que alguns autores denominam marco teérico ou revisao bibliogrifica — a parte da pesquisa na qual o pesquisador descreve o que outros autores impor- tantes da area tém publicado acerca do tema. Entdo, € claro que toda pesquisa se ini por uma contextualizacao do tema estudado, ¢ isso se faz por meio de uma série de citagdes de autores e trabalhos realizados antes do estudo em questao. Mas isso nao faz da pesquisa, necessariamente, um trabalho docu- mental. Basta lembrar que, se a unidade utilizada para a coleta de dados for METODOLOGIA DA CIENCIA n sujeito, objeto ou fenémeno, essa sera uma pesquisa de campo (embora mbém utilize documentos). Por outro lado, considere o seguinte exemplo: um pesquisador resolve zer um levantamento de tudo que ja foi pesquisado sobre determinado tema digamos, os vulcdes no arquipélago do Japao. Entio, fard um extenso levan- mento histGrico dos artigos ¢ livros publicados nos tiltimos 30 anos ¢ desen- olverd um estudo que resuma as principais ideias e conceitos sobre o tema, a volugio desses conceitos etc. Esse tipo de trabalho, muito comum inclusive, astuma ser conhecido como estudo de revisio bibliogriifica. Todavia, as pes- uisas documentais nao se restringem as revises bibliograficas: uma pesquisa ue visa determinar a causa mortis dos ex-pacientes de um hospital nos tlti- 10s wés anos, tomando por base os prontudrios arquivados desses individuos, imbém € uma pesquisa documental, pois a fonte de informacdo primordial é onstituida por documentos, sejam eles em fontes impressas, sejam eletrOnicas. Para finalizar, lembra-se de que mencionamos anteriormente algo sobre confusao que existe em relagdo ao termo “pesquisa de campo"? Pois bem, is 0 motivo: quando dizemos “pesquisa de campo”, podemos estar nos refe- indo estratégia de pesquisa em relacao 4 fonte de informagao ou ao local a coleta de dados. Por isso, sempre é conveniente explicar melhor o que 2almente queremos dizer com a palavra “campo” tuadro 5.3 Estratégias de coleta de dados Quanto ao local da Quanto a fonte coleta de dados de informagao Estratégias de coleta de dados Carig Caines Laboratério Documental emporalidade da Pesquisa: ongitudinal versus Transversal iponha que um pesquisador deseje analisar como as percepgdes dos intes universitarios sobre as perspectivas profissionais de suas areas se alte- ram ao longo de seu periodo de formacao. O pesquisador tem duas formas : realizar essa pesquisa, Na primeira possibilidade, ele pode entrevistar os anos (por meio do questiondrio Q,), enquanto estao cursando a primeira tie do curso, no ano de 2008. No ano seguinte, cle coleta novamente os AS DIMENSOES Da PESQUISA 67 dados, com os mesmos alunos, ¢ assim procede nos préximes dois anos, Ao final de quatro anos (supondo que seja um curso com essa dura¢do), o pes- quisador analisa os dados coletados e, finalmente, pode comparar como a percepcao dos alunos evoluiu ao longo do tempo. Essa pesquisa, em relagao 4 temporalidade, é denominada pesgitiser Jongitu- dinal — acompanha-se 0 comportamento das varidveis estudadas em um mesmo grupo de sujeitos, durante certo periodo de tempo. No nossa exemple, pesquisa clemorou quatro anos para ser realizada (ver Quadro 5.4) Quadro 5.4 Esquema-exemplo de uma pesquisa longitudinal Coleta Coleta2 | Coleta3 Coleta 4 (Jan./2008) | (jan./2009) | (jan./2010) | (jan./2011) Grupo de | sujeitos tnico 2 & | a a Mas suponha, por outro lado, que o pesquisador nia disponha de quatro anos para reali transversal, que pode ser realizada da seguinte forma; em vez de entrevistar os alunos ao longo do seu tempo de formacao, ele pode realizar um “corte tansver- sal” na amostra pesquisada, de forma a entrevistar, digamos, no prazo de apenas ar €88a pesquisa. Se for esse o caso, ele tem outra opcao: a pesepeises uma semana, alunos diferentes ct primeira, segunda, terceira ¢ quarta séries. Dessa forma, ele completaria a pesquisa em um prazo muito menor (ver Quadro 3.5) Quadra 5.5 Esquema-exemplo de uma pesquisa transversal ‘Coleta dnica (jan./2011) Grupo de sujeitos | (I* série) Q, Grupe de sujeitos 2 (2* série) Q Grupo de sujeitos 3 (3* série) | a, Grupo de sujeitos 4 (4" série) Q, Como podemos ver, em certas situagdes de pesquisa € possivel realizar a estude de forma longitudinal ou transversal, dependendo das condiedes e abje- tivos do pesquisador, No caso exemplificado, a pesquisa longitudinal tem como desvantagem 0 tempo de realizacao (quatro anos), embora apresente uma gran- de vantagem; como trabalha sempre com os mesmos sujeitos, trata-se de uma pesquisa muito fidedigna, isto é, seus dados so muito precisos,

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